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O conhecimento detalhado da morfologia dos dentes multirradiculares e de suas posições no arco dentário é pré-requisito fundamental para a compreensão adequada dos problemas que poderão ocorrer quando esses dentes são envolvidos por uma doença periodontal destrutiva. Logo, é fundamental conhecer a anatomia e as características dos dentes multirradiculares para o correto tratamento da periodontite quando acomete esses elementos. Lesões de furca Grau de reabsorção óssea horizontal interradicular de dentes multirradiculares Terminologia O complexo radicular é subdividido em duas porções: 1. Tronco radicular: vai da JCE até o ponto de separação das raízes. 2. Cones radiculares: porções independentes das raízes propriamente ditas. Ao olhar para a região de furca de um dente multirradicular (região que conecta a entrada de todas as raízes do dente), é assim dividida em: 1. Fórnix: teto da região de furca 2. Entrada da furca: uma entrada entre as raízes mésio-vestibular e disto-vestibular, uma entrada entre as raízes disto-vestibular e palatina, e mais uma entrada entre as raízes mésio-vestibular e palatina. OBS: o número de entradas de furca é equivalente ao número de raízes do dente: - Molares superiores: 3 raízes - Molares inferiores: 2 raízes Quando pensamos em cones radiculares, devemos lembrar de 2 terminologias importantes: 1. Grau de separação: ângulo formado na junção de dois cones 2. Divergência: o quanto esses cones radiculares tendem a se afastar Anatomia dos molares superiores ● Tamanho: 1º molar > 2º molar >3º molar ● Raízes: - MV: vertical - DV: distalizada - P: palatinizada ● As raízes DV e P tendem a ter um formato mais circular e a MV apresenta formato de ampulheta (concavidade na superfície distal) Furca mesial (entre a MV e P): Em molares superiores, a lesão de furca deve ser sondada pelo lado palatino do dente, por isso deve-se saber a localização anatômica das raízes. Furca vestibular (entre a MV e DV): Em molares superiores, a lesão de furca deve ser sondada pelo lado vestibular do dente. Furca distal (entre a DV e P): Em molares superiores, a lesão de furca pode ser sondada tanto pelo lado vestibular como pelo lado palatino do dente. Anatomia dos molares inferiores ● Tamanho: 1º molar > 2º molar > 3º molar ● Raízes: - M: vertical - D: distalizada ● A raíz D tende a ter um formato mais circular e a M em formato de ampulheta (concavidade na superfície distal). Furca vestibular: A lesão de furca em molares inferiores deve ser sondada pelo lado vestibular do dente. Furca lingual: A lesão de furca em molares inferiores deve ser sondada pelo lado lingual do dente. Projeções cervicais de esmalte São projeções do esmalte que se estendem na região cervical (região da JCE). ● Prevalência de 8,6 a 28,6% dos molares ● Afetam a remoção da placa ● Complicam a RAR ● Fator local para gengivite e periodontite ● Devem ser removidas Pérolas de esmalte Estruturas em formato circunferencial em lugares inesperados, muitas vezes na região de furca. ● Complicam a RAR ● Fator local para gengivite e periodontite ● Devem ser desgastadas Diagnóstico das lesões de furca As lesões de furca são classificadas em 3 classes: ● Classe I: perda horizontal de até 3mm ● Classe II: perda horizontal excedendo 3 mm, não abrangendo a largura total ● Classe III: destruição horizontal de um lado a outro. Radiografias Sempre devem ser obtidas para confirmar os achados feitos durante a sondagem em dentes com envolvimento de furca, além de possibilitar a visualização de defeitos ósseos. ● R. Periapicais ● R. Interproximais Diagnóstico diferencial A lesão de furca faz diagnóstico diferencial com outras 2 patologias: Patologia pulpar: patologia que acomete a polpa dentária levando à necrose da mesma, podendo ser ocasionado por lesão de cárie ou trauma pulpar. ● Apresenta teste de vitalidade pulpar negativo. ● O tratamento endodôntico deve preceder a terapia periodontal. ● Observar se há cicatrização do defeito após 2 meses. Trauma oclusal: quando as forças incidem de forma exagerada sobre o dente, promovendo o trauma, podendo ser uma força excessiva sobre um dente com periodonto regular, ou uma força normal sobre um dente com periodonto reduzido (perdeu suporte periodontal). ● O dente pode apresentar mobilidade aumentada. ● À sondagem não se detecta o envolvimento de furca (o trauma sozinho não tem capacidade de promover perda óssea). ● Ajuste oclusal precede terapia periodontal. ● Após algumas semanas o dente estabiliza e os defeitos desaparecem. Objetivos da terapia periodontal ● Eliminação da placa microbiana das superfícies expostas do complexo radicular. ● Estabelecimento de anatomia das superfícies afetadas que facilite o auto controle de placa. Terapia periodontal das lesões de furca Terapia da LF Classe I: Raspagem e alisamento radicular Terapia da LF Classe II: Incisão + retalho, RAR, plastia de furca (indicado para Classe I e Classe II), odontoplastia, osteoplastia. Tunelização: é um procedimento ressectivo que tem como objetivo a remoção de defeitos inter-radiculares, restabelecendo a arquitetura óssea e a exposição da área de furca. Desta forma, melhora o acesso para higienização e mantém a dentição saudável e funcional, sendo indicada para LF classe II e classe III. Regeneração: procedimento que pressupõe a regeneração dos tecidos de suporte perdidos utilizando uma membrana, incluindo novo osso, novo cemento acelular aderido à superfície radicular e novo ligamento periodontal com fibras de colagéneo funcionais, corretamente orientadas e inseridas tanto no novo cemento como no novo osso alveolar. É indicada para LF classe II. OBS: algumas situações são mais favoráveis ao uso da técnica de regeneração guiada: ● Classe II em molares inferiores ● Osso interproximal próximo a JCE (defeito “buraco de fechadura”) Hemissecção radicular: procedimento que realiza separação do complexo radicular mantendo todas as raízes, sendo utilizado em LF classe II e classe III. Ressecção radicular: procedimento que além de realizar a separação do complexo radicular, realiza a remoção de uma ou mais raízes, sendo utilizado em LF classe II e classe III. A hemissecção e a ressecção são indicadas a partir de algumas observações: ● O comprimento do tronco radicular tem que ser um comprimento razoável, não podendo ser muito longo, uma vez que os cones radiculares remanescentes precisam ter um tamanho de proporção 1:1. ● Deve-se avaliar a divergência dos cones radiculares, o comprimento, a forma e a fusão dos cones radiculares. ● Pensar no suporte remanescente, uma vez que as raízes que irão permanecer necessitam de suporte compatível com a sua estrutura de suporte remanescente ● Pensar na estabilidade dos cones radiculares ● Permitir o acesso para a higiene oral na região. OBS: por serem procedimentos não conservadores, atualmente, com o advento dos implantes, não são muito utilizados. “Durante muitos anos a presença de um envolvimento de furca significava ao dente um prognóstico desfavorável em longo prazo.” Hoje se sabe que o sucesso a longo prazo envolve: ● Diagnóstico completo ● Seleção dos pacientes com boa higiene oral ● Excelência da terapia não cirúrgica ● Realização cuidadosa dos procedimentos cirúrgicos e restauradores.
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