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04/07/2021 Contação de histórias: aspectos pedagógicos
estacio.webaula.com.br/Classroom/index.asp?191C757E76=4842223E234CBAF19DC5C27A057D5F6057FE99CD56DDA4EA2F27A0628B0734D69FBBC6320A39EDA57AAD26FC9A8DFFD2FF280B8A676DA66… 1/59
DESCRIÇÃO
A arte de contar histórias na educação infantil, seus aspectos fundamentais e possíveis desdobramentos.
PROPÓSITO
    

04/07/2021 Contação de histórias: aspectos pedagógicos
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PROPÓSITO
Compreender a importância da arte de contar histórias na educação infantil, e a necessidade do processo criativo
do educador para os desdobramentos dos contos, identi�cando como a narração de histórias dialoga com a
BNCC.
PREPARAÇÃO
Tenha em mãos a BNCC, especialmente as Etapas da Educação Infantil e seus Campos de Experiência.
OBJETIVOS
Módulo 1
Identi�car a relevância da
narração de histórias
Módulo 2
Identi�car a maneira como
opera a tecnologia das histórias
Módulo 3
Reconhecer a importância do
envolvimento do educador para
a narração de histórias
Módulo 4
Identi�car como a narração de
histórias de tradição oral se
relaciona intimamente com o
processo de aprendizagem e
com os Campos de
Experiências da educação
infantil apresentados na BNCC
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 Fonte: Kaylee Brendel | Shutterstock
INTRODUÇÃO
A arte de contar histórias é uma das formas artísticas e de comunicação mais antigas de que se tem
notícia na história da humanidade. Há algum tempo, essa arte tem assistido a um verdadeiro renascer no
mundo ocidental.
Exemplo
A profusão de encontros e festivais de contadores de histórias, no
Brasil e no mundo, além de inúmeras publicações sobre o tema.
A prática de contar histórias para crianças tem sido difundida tanto dentro quanto fora das escolas. Como
veremos neste tema, é uma atividade com um grande potencial de aprendizagem em vários níveis e uma
vastidão de possibilidades e desdobramentos pedagógicos.
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 Fonte: Evgeny Atamanenko | Shutterstock
Abordaremos a questão por diferentes ângulos, com diversos objetivos de aprendizagem, da seguinte
forma:
Visão geral sobre a
relevância das
narrativas em nossa
vida

Introdução ao tema
das histórias de
tradição oral 
O trabalho do
educador como
narrador de histórias
e suas implicações
Por �m, estudaremos as relações que podem ser estabelecidas entre a arte de contar histórias para
crianças e os campos de experiências da educação infantil propostos pela atual Base Nacional Comum
Curricular.
Por meio da exposição e análise de alguns aspectos da arte de contar histórias no contexto escolar, você
chegará às suas próprias re�exões a partir de sua experiência pessoal e de suas inquietações relacionadas
a este tema.
MÓDULO 1
 Identi�car a relevância da narração de histórias
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04/07/2021 Contação de histórias: aspectos pedagógicos
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POR QUE GOSTAMOS TANTO DE HISTÓRIAS?
No vídeo a seguir, conheça a narração de histórias. Vamos assistir!
08:04
Clique nas setas para ver o conteúdo.
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Você já reparou que, quando alguém começa a contar uma história, imediatamente prende a nossa atenção?
Repare nos TED Talks com maior número de visualizações, em como os palestrantes sempre contam pelo menos
uma história ao longo da apresentação.
Você pode parar diante de uma televisão em que passe um �lme indiscutivelmente bobo e �car capturado
querendo saber o que vem a seguir, simplesmente porque estão te contando uma história.
 Fonte: Uranium | Shutterstock
Uma cena comum de se ver nas escolas de educação infantil é a da rodinha de histórias. A professora, c
ou sem o livro aberto, e as crianças em roda ouvindo uma história. Quando pensamos em narração de
histórias no contexto pedagógico, é isso o que nos vem à mente em primeiro lugar.
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Nós adoramos ouvir histórias, seja do jeito que for, porque nossas vidas são todas feitas de histórias;
nós somos feitos de histórias! Mais do que simplesmente gostarmos, somos atraídos por elas porque,
de certa forma, nossas próprias vidas funcionam com o mesmo mecanismo das histórias.
A imagem de pessoas reunidas ao redor do fogo, ou simplesmente ao redor do contador de histórias, acompanha
a humanidade desde os seus primórdios. Na cultura judaico-cristã, a imagem de Santa Ana, mãe de Maria,
inaugura o imaginário da avó contadora de histórias, em torno de quem as crianças se reúnem para ouvir. Contar
histórias é uma das atividades humanas e uma das artes mais antigas de que se tem notícia.
 Sob a inscrição Contos da Mamãe Gansa, uma velha serva conta histórias para as crianças da família, Gustave Doré, 1866.
Saiba mais
Em 2007, foi publicado um livro – ainda inédito em português –
chamado Story Proof – The science behind the startling power of
story, de Kendall Haven.
A tradução aproximada do título seria A Prova das Histórias – A
ciência por trás do surpreendente poder de uma história. Nesse livro,
a autora a�rma que o desenvolvimento das mentes humanas
continua fazendo parte de nossas vidas na construção de
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signi�cados, recordações e planejamentos. As histórias são mais do
que um divertimento, pois, ainda que cumpram esse papel, elas
formam uma estrutura.
Mas nós, adultos, e mesmo os adolescentes, entre �lmes, novelas, desenhos animados, matérias de jornal e
mesmo games, muitas vezes podemos nos esquecer de que gostamos de acompanhar uma boa história.
 Fonte: Evgeny Atamanenko | Shutterstock
Já as crianças pequenas gostam e sabem que gostam de histórias. Elas pedem para lhes contarmos histórias,
frequentemente a mesma narrativa, várias vezes. Querem assistir, dez, vinte vezes, ao mesmo �lme, como se o
estudassem em seus detalhes.
E se nós, adultos, somos também “famintos” por histórias, as crianças o são ainda mais. Não é à toa que isso é
assim: uma série de coisas muito importantes acontece quando contamos histórias para crianças. Quando o
fazemos num contexto pedagógico, conscientes da importância desse ato, esses aspectos podem ser
enormemente potencializados.
EXPANDINDO A VISÃO SOBRE O RECURSO QUE É CONTAR
HISTÓRIAS
Voltemos, então, à nossa cena clássica das escolas de educação infantil, da roda de histórias, em que a professora
compartilha uma história com as crianças, com ou sem o anteparo de um livro. Em muitas salas de aula, isso
acontece todos os dias, como um momento de descontração e contato afetuoso dentro da rotina escolar.
No entanto, ao consultar a atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na parte que se refere ao eixo da
oralidade, que “compreende as práticas de linguagem que ocorremem situação oral com ou sem contato face a
face”, na área de Língua Portuguesa, na etapa do ensino fundamental, vemos que “contação de histórias” encontra-
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se no �nal de uma lista de vários exemplos, atrás de “spot de campanha, jingle, seminário, programa de rádio” etc.
Atenção
Embora o ato de contar histórias seja uma das práticas humanas
mais antigas de que se tem notícia e esteja presente na rotina de
praticamente toda comunidade escolar de educação infantil, seu
posicionamento na BNCC suscita questionamentos.
Talvez um dos motivos para esse posicionamento no �m da lista seja o fato de que a “contação de histórias” nas
escolas tenha �cado condenada a algo mecânico, na maioria das vezes, que nem de longe chega a alcançar o
potencial pedagógico que essa atividade pode ter.
 Fonte: wavebreakmedia | Shutterstock
Muitas vezes, os professores de educação infantil e ensino fundamental não são tão fascinantes quanto os
professores contadores de histórias “à paisana” do ensino médio. Veja uma possível explicação a seguir:
Clique nas informações a seguir.
Professores do ensino médio Professores de educação infantil e ensino fundamental
Os educadores da educação infantil e do ensino fundamental, muitas vezes, abordam as histórias como
“mediação de leitura”. Os mediadores de leitura são:
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(...) pessoas que estendem pontes entre os livros e os leitores… que
criam as condições para fazer com que seja possível que um livro e
um leitor se encontrem.
(REYES, 2014)
Atenção
Trata-se de uma atividade importantíssima, sobretudo num país
como o nosso, em que a formação de leitores representa um dos
grandes desa�os da educação. Um trabalho bem desenvolvido com
narração de histórias também pode, como resultado indireto,
despertar o interesse pela leitura. Mas, quando se aborda esse tema
apenas como mediação de leitura, temos uma redução signi�cativa
do campo de possibilidades que essa atividade realmente nos abre.
 Yuganov Konstantin | Shutterstock
Neste tema, apresentaremos os aspectos pedagógicos que o ato de contar histórias pode ter, em todo o seu
potencial, no contexto escolar. Como nas próprias histórias maravilhosas, ou nos contos de fadas, em que os
animais falam, os personagens aprendem sonhando e uma palavra mágica pode abrir um novo mundo, esses
aspectos são extraordinários e vão além do que podemos imaginar quando pensamos sobre isso pela primeira
vez.
HISTÓRIAS DE TRADIÇÃO ORAL: PATRIMÔNIO CULTURAL
IMATERIAL DA HUMANIDADE
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Tratamos, até aqui, da narração de histórias para crianças em contexto escolar. Sobretudo, referimo-nos às
histórias de tradição oral. O trabalho que se pode fazer com histórias de autores é, certamente, um trabalho
válido, mas terá sempre o livro como referência direta.
Ao abordar os aspectos pedagógicos da narração de histórias, referimo-nos ao ato de contar, que é um
acontecimento oral por excelência, e consideramos os contos de tradição oral, ou contos tradicionais.
E quais são esses contos? Onde os encontramos?
Trata-se de contos cuja autoria não é conhecida. Contos que foram e são registrados por pessoas que se dedicam
a catalogar histórias passadas oralmente e que, ao fazer isso, vão escrevê-las com o seu próprio tom e tempero,
ou da pessoa que lhes contou – mas os compiladores não são autores desses contos.
Alguns exemplos de compiladores de contos da tradição oral são, entre muitos outros:
Irmãos Grimm
Alemanha
Charles Perrault (1628-
1703)
França
Luís da Câmara Cascudo
(1898-1986) e Silvio
Romero (1851-1914)
Brasil
Quando nos aventuramos a pesquisar, descobrimos que, em cada país e cultura, sempre existiram
pessoas que recolhiam e registravam os contos daquele lugar, e há uma vasta relação de histórias de
tradição oral dos mais variados lugares do mundo.
Exemplo
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Famosas compilações de histórias, como As Mil e uma Noites,
também não têm uma autoria de�nida. Foi um trabalho feito por
muitas mãos, ao longo de anos, que envolveu o ato de compilar – e
criar! – aquelas histórias e compô-las dentro da moldura de
Scheherazade contando histórias para o sultão e sua irmã.
Podemos observar caso semelhante nas Fábulas de Bid Pai, em sânscrito, do século III, que deu origem ao
Panchatantra e à versão árabe, Kalila e Dimna, e �nalmente ao Tuti-Nama (Histórias de um papagaio), em persa,
no século XIV.
 Grá�co da obra Acordais: Fundamentos Teórico-Poéticos da Arte de Contar Histórias
A trajetória dessas coletâneas de histórias da tradição oral nos dá um pequeno vislumbre de como elas têm
percorrido o mundo ao longo do tempo.
Quando discorremos sobre a narração de histórias no contexto pedagógico, são a esses contos que
nos referimos. Quando um professor opta por trabalhar com contos de tradição oral, é importante que
saiba fazer essa distinção e esteja consciente de que está trabalhando com histórias que são
patrimônio cultural imaterial da humanidade. Não só elas não têm um autor, como também, a cada vez
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que são contadas, o são de maneiras diferentes. Não pertencem a uma única cultura, e sim a todas – ou
ainda, a nenhuma.
EXTRAORDINÁRIA RECORRÊNCIA DAS HISTÓRIAS
No percurso das histórias de tradição oral que são recontadas pelo mundo, muitas vezes são encontradas
histórias semelhantes em diferentes épocas e lugares – às vezes, é possível rastrear o caminho percorrido pelo
conto; outras vezes, não. Veja dois exemplos a seguir:
Clique nas barras para ver as informações.
CINDERELA 
BOI LEIÇÃO 
Câmara Cascudo (1898-1986), em sua compilação Contos Tradicionais do Brasil, dedica uma farta nota de rodapé
a cada história, em que relata as recorrências dos chamados “motivos” de cada conto, conforme pesquisados
pelos folcloristas da escola escandinava Antti Aarne (1867-1925) e Stith Thompson (1885-1976), que estudaram
os inúmeros motivos que compõem os contos tradicionais.
Exemplo
O Motivo 432 é o de um príncipe que se transforma em pássaro,
presente em várias histórias.
Há muitas pesquisas em torno desse assunto, mas nunca se chegou a uma resposta para o enigma de
como a mesma história pode existir no Tibete e no norte do Brasil.
Por isso, o livro World Tales, do contador de histórias de origem afegã Idries Shah (1924-1996), tem o subtítulo “A
extraordinária coincidência de histórias contadas em todo o mundo, em todos os tempos”. Há, de fato, algo de
extraordinário e indecifrável nessa recorrência.
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CONTOS TRADICIONAIS
Entre os contos de tradição oral, há diversos tipos de contos. Câmara Cascudo, em seu Contos Tradicionais do
Brasil, organiza os contos em capítulos por tipos, entre outros, como:
Contosde
Encantamento
Contos de Exemplo Contos de Animais Contos Religiosos
Aqueles que Câmara Cascudo chama de Contos de Encantamento são os que também se costuma chamar de
Contos Maravilhosos ou Contos de Fadas.
Atenção
É importante ressaltar aqui a natureza desses contos, principalmente
para elucidar uma possível confusão que se pode vir a fazer a partir
do termo “contos de fadas”. Trata-se, portanto, de contos que nos
transportam para um mundo de encantamento.
Em seu ensaio intitulado Sobre contos de Fadas, o autor J.R.R. Tolkien (1892-1973) dedica-se a considerar a
natureza dessas histórias:
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 J. R. R. Tolkien, autor desconhecido, 1940. Fonte: The Hydrophilian.
Ele as de�ne como aquelas que se passam em Faërie – o termo foi traduzido na
edição brasileira de seu texto como “O Belo Reino”. O que de�ne, para Tolkien, o que
são essas histórias é, em primeiro lugar, a noção de um encantamento que não se
explica. E ele insiste sobre o fato de que não são fadas, elfos ou outros seres mágicos
que caracterizam essas histórias, mas sim a presença de seres humanos, “quando
estamos encantados” (TOLKIEN, 2006).
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Quando alguém decide se aventurar pelo mundo das histórias tradicionais, descobre que há uma vastidão de
caminhos a seguir:
Há, ainda, os contos de tradição oral indígena do Brasil, com muitos contos maravilhosos e "etiológicos", ou de
origem, que explicam o surgimento dos elementos da natureza. É muito propício que esses contos sejam
trabalhados nas escolas como maneira de, entre outras coisas, estabelecer um contato, por meio da arte e da
tradição oral, com os povos originários do Brasil.
 Fonte: Laszlo Mates | Shutterstock
Para os povos de tradição oral, para os quais o que vale é a palavra falada, os contos sempre foram um importante
veículo de ensinamento para passar adiante valores e noções do que verdadeiramente importa a �m de que as
comunidades e as pessoas fossem cada vez melhores, cada vez mais humanas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. Podemos perceber que as histórias, as narrativas de um modo geral, são muito presentes nas
nossas vidas. O interesse generalizado das pessoas, por mais diferentes que sejam, por
histórias, deve-se principalmente ao fato de que:
Na nossa sociedade letrada, todos somos leitores desde crianças.A)
As narrativas, sejam em �lmes, novelas, reportagens de jornal ou mesmo games, nos são
apresentadas o tempo todo.
B)
A nossa própria vida é história, e é composta por muitas histórias, de tal maneira que a
narrativa é intrínseca à nossa experiência.
C)
Quando crianças, gostamos de ouvir várias vezes a mesma história, e assim elas se tornam
D)
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Responder
2. As histórias da tradição oral constituem um patrimônio cultural imaterial da humanidade. A
respeito dessas histórias, podemos a�rmar que:
Responder
MÓDULO 2
 Identi�car a maneira como opera a tecnologia das
histórias
parte do nosso funcionamento.
D)
As histórias de tradição oral fazem parte do nosso imaginário.E)
Cada cultura tem suas próprias histórias, e há um claro limite entre as histórias de cada
povo, pois di�cilmente encontramos histórias semelhantes em culturas diferentes.
A)
O que garante a perpetuação das histórias de tradição oral é que elas sempre têm uma
moral.
B)
As histórias de tradição oral nunca são escritas, e sim passadas oralmente de uma geração
para outra.
C)
Vários estudiosos, ao longo do tempo, conseguiram rastrear o percurso das histórias de
tradição oral pelo mundo.
D)
É possível constatar uma recorrência das histórias de tradição oral, que aparecem em
diferentes roupagens, mas com semelhanças essenciais, em diversas culturas.
E)
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TECNOLOGIA DAS HISTÓRIAS
No vídeo a seguir, veja mais sobre a relação entre as estratégias e os objetivos da tradição oral. Vamos assistir!
05:03
Em seu Acordais – fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias, a pesquisadora e contadora de
histórias Regina Machado (2004) a�rma que ensinar por meio de histórias é uma estratégia arquimilenar. Assim
como as histórias acompanham a humanidade desde tempos imemoriais, o ato de transmitir sabedoria e
experiência por meio das narrativas acompanha os seres humanos desde sua origem.
Contar histórias e ensinar por meio delas é uma tecnologia muito antiga.
Ao falar em tecnologia, costuma-se pensar em algo moderno envolvendo a internet e a rapidez da comunicação.
Mas, ao analisar a fundo essa palavra, podemos encontrar no dicionário Houaiss a seguinte de�nição:
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(...) teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos,
métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da
atividade humana (ex. indústria, ciência etc.).
Etimologicamente, a palavra vem do grego tekhnología, no sentido de “tratado ou dissertação sobre uma arte,
exposição das regras de uma arte”, formada a partir dos radicais gregos:
tekhno-
de tékhnē, no sentido de “arte,
artesanato, indústria, ciência” 
-logía
de lógos, no sentido de “linguagem,
proposição”
No caso das histórias, é importante observar como funcionam – como opera essa tecnologia –, para
desenvolvermos um olhar aprofundado sobre os aspectos dessa arte na educação.
METÁFORA DA EXPERIÊNCIA HUMANA
Constatamos que há uma extraordinária recorrência dos contos tradicionais em diferentes culturas. Extraordinária,
pois não pode ser inteiramente compreendida por meios racionais ou dedutivos. Seguindo o viés da tecnologia das
histórias tradicionais, temos uma pista do porquê desse fenômeno existir; vemos que, fundamentalmente, esses
contos dizem respeito à experiência humana.
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 Fonte: Lordn | Shutterstock
Quando um conto é passado de geração em geração e segue vivo, é porque encontra eco na própria experiência e
vida daqueles que o contam e de quem o escuta.
Esses contos são desenhos metafóricos da nossa experiência na vida.
Quando vemos os seus temas, quem são e como são seus personagens, e as aventuras que atravessam ao longo
da história, podemos encontrar re�exos dessas histórias na nossa própria experiência de vida.
É assim que os grandes contadores sabem, recordam-se das histórias que contam, sem precisar decorar um
texto, palavra por palavra. É como se a experiência daquela história fosse sua própria experiência.
Costuma-se dizer, entre os contadores de histórias tradicionais da África ocidental, que:
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 Fonte: aklionka | ShutterstockA história que sai da boca chega ao ouvido, e a história que sai do coração chega ao
coração.
Com o passar dos anos, esses contos se preservam e, de certa maneira, “fazem o seu trabalho”. E que trabalho
é esse?
Justamente o de transmitir, escondida sob a pele das histórias, uma sabedoria para lidarmos com as mais
diferentes situações que a vida nos apresenta.
Haven (2007), em seu Story Proof, nos oferece a seguinte metáfora:
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Certa vez ouvi dizer que a vida é como o jogo de xadrez, e que as
histórias são como livros de célebres partidas de xadrez que
jogadores sérios estudam a �m de se preparar para o caso de algum
dia se encontrarem na mesma situação de di�culdade.
(HAVEN, 2007)
A maneira como os personagens de uma história vivenciam todo esse caminho nos oferece recursos para lidar
com a nossa própria história:
Os obstáculos e as
di�culdades
O jeito como partem
do início da história e
chegam até o �m
O �nal feliz ou não Aprender com a
estupidez de um
personagem
Talvez seja por isso que as crianças gostem tanto e até mesmo precisem ouvir várias vezes a mesma história. É
como se os acontecimentos narrados fossem gravados em sua mente para lhes servirem de recurso pela vida
afora. Vão gravando a história com seus detalhes, desde o primeiro esboço até o aperfeiçoamento do desenho, as
cores, os detalhes. Vão se familiarizando com a história à medida que a escutam.
Atenção
Um dos pontos mais importantes do funcionamento dessa
tecnologia é, portanto, o simples fato de que são histórias; e os seres
humanos gostam de ouvir histórias. Elas carregam, então, em sua
própria natureza, o que as torna atraentes. Como um pêssego doce e
suculento, que comemos por prazer, mas além disso carrega em si
uma semente, a partir da qual sua existência pode se perpetuar.
(SHAH, 2009)
ESTRANHO E MARAVILHOSO
As histórias, por vezes, são “estranhas”; trazem em si elementos que não se encaixam no nosso pensamento
condicionado. Costumam �gurar, como é o caso dos contos maravilhosos, elementos fantásticos.
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Animais que falam Objetos mágicos Capacidades
extraordinárias
Assim, a sabedoria entranhada nessas histórias chega às pessoas que as escutam sem passar pelo seu
intelecto – ou melhor, "driblando" o intelecto, como um jogador de futebol dribla o adversário. Ou, é claro, algumas
pessoas simplesmente não querem ouvir essas histórias porque são fantásticas, fantasiosas:
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 Fonte: Cookie Studio | Shutterstock
Isso é mentira, isso nunca aconteceria!
Esse tipo de reação é comum entre adultos e também em crianças na pré-adolescência, período em que
começam a duvidar de tudo. Isso faz lembrar de uma história de Nasrudin:
Nasrudin estava no departamento de patentes tentando patentear
uma varinha mágica. ‘Sinto muito’, disse o atendente, ‘mas não
patenteamos invenções impossíveis’. Então, Nasrudin agitou sua
varinha mágica e o atendente desapareceu.
(SHAH, 2016)
As crianças, até uns oito ou nove anos, ainda vivem numa realidade em que não há tantas barreiras impostas, em
que tudo é possível, tudo é vivo – a planta, o sapato, o sol, o armário, a roupa que ela veste – então, elas transitam
no mundo das histórias como um peixe nada no mar.
Nós, adultos, que tantas vezes nos espantamos com a realidade do mundo à nossa volta, podemos nos recordar,
por meio do contato com as histórias maravilhosas, que nem tudo é tão chapado, tão encaixotado como fomos
treinados para acreditar.
Exemplo
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Encontramos um bom exemplo, na a�rmação de Maxim Gorky (1868-
1936), escritor russo, de como o encantamento, esse estado de
estarmos encantados, é bem-vindo em todos os estágios da nossa
vida:
"Nos contos, as pessoas voam pelos ares em tapetes mágicos,
caminham com botas de sete léguas, constroem castelos da noite
para o dia; os contos abriram para mim um novo mundo onde reina
um poder livre e destemido, inspirando-me no sonho por uma vida
melhor." (SHAH, 1991)
TEMPO POR SOBRE O TEMPO
Um aspecto importante das histórias é a fórmula de abertura, como "Era uma vez…". Essa fórmula nos convida a
entrar na história, nos chama para outro tempo, o tempo da história – um tempo "fora do tempo".
Comentário
Em inglês, a expressão equivalente é “Once upon a time”, que se
traduz como "Uma vez por sobre o tempo", tornando mais clara a
característica de estarmos fora do tempo, em outro tempo.
No caso do "Era uma vez", em português, somos remetidos à
linguagem espontânea da brincadeira de crianças. Como na canção
de Chico Buarque, João e Maria, o verso "Agora eu era o herói…"
retrata um lugar de metáfora, do que pode ser, do que é e não é, nem
verdade nem mentira – o lugar do era.
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 Fonte: Viacheslav Nikolaenko | Shutterstock
Essas fórmulas de abertura nos conduzem para dentro da história, que é e não é a nossa própria experiência. Não
é, mas é, por tratar de uma experiência universal. É a minha experiência, a sua experiência… de todos nós. Quando
contamos uma dessas histórias, criamos um lugar de encontro, da nossa experiência comum, universal, em
formato de metáfora.
Quando nos aventuramos dentro desses contos, cada um vivencia a sua experiência pessoal.
É por isso que é tão redutora a ideia de uma "moral" da história. Essas narrativas abrem in�nitas possibilidades de
experiências, compreensão, insights e aprendizagem, em muitos níveis; não se limitam a uma moral externa,
imposta a elas. Como as histórias tradicionais, e sobretudo os contos de fadas, têm elementos mágicos, e por
vezes “estranhos”, somos convidados a um lugar de não saber, de experiência.
Experimentamos as histórias, vivenciamo-las entrando, nós mesmos, em um mundo de encantamento. O que
aprendemos com elas é, muitas vezes, da ordem do inexplicável, porém compartilhado com outras pessoas que
vivenciam aquela história conosco. Temos, então, um espaço de comunhão.
 Fonte: Veronica Louro | Shutterstock
É importante termos, com relação às histórias, a noção de que não chegamos a compreender
completamente um conto ou aquilo que ele nos traz. Isso gera certo respeito para com esse material,
no sentido de que, ao escolhermos trabalhar com determinado conto, não devemos interferir em sua
estrutura.
Muitas pessoas �cam em dúvida se devem manter, por exemplo, o vilão que aparece numa história contada às
crianças. É preciso atentar-se para o fato de que cada elemento do conto tem sua função e não cabe a nós
interferir.
Podemos sempre optar por não contar determinada história com a qual não nos sentimos à vontade. Mas, assim
como em nosso corpo temos a bile, que é ácida e destrói os alimentos para que possamos digeri-los, também o
vilão e a maldade têm o seu lugar no desenho de cada história.
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 Fonte: shapovalphoto | Shutterstock
E, se encontramos nas histórias uma fonte de recursos para lidar com as situações da vida, não podemos excluir
os recursos que os contos nos dão para lidar com as situações difíceis. Ao optarmos por suprimir um personagem
ou uma passagem da história, corremos o risco de ter uma história mutilada, que não pode cumprir plenamente
sua função.
FAMILIARIZAR-SE COM AS HISTÓRIAS
Há um personagem famoso das histórias do Oeste da África chamado Anansi, da história de Anansi e o Baú de
Histórias:
É o aranha-gente; ao mesmo tempo aranha e gente.
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Ele consegue trazer para a Terra o baú das histórias que, até então, �cava
guardado no �rmamento.
Quando Anansi abre o baú das histórias, ele tece, cuidadosamente, uma
teia com todas as histórias existentes. Uma teia �níssima e, ao mesmo
tempo, forte e grande o su�ciente para sustentar todo o mundo.
Para conseguir o baú de histórias, Anansi precisa cumprir algumas tarefas
praticamente impossíveis – ainda mais para uma pequena aranha! Ele
precisa ser estratégico. E é! Sua astúcia é tão grande quanto seu corpo é
pequeno.
Numa ocasião, em que essa história foi contada para um grupo de crianças e adultos, o avô de uma criança
comentou que aquela aranha era muito estratégica, e que além disso precisava conhecer bem a si mesma, para
conseguir aqueles feitos. E que a importância de conhecer a si mesmo é muito difícil de explicar para uma criança.
No caso das histórias, não é preciso explicar nada para a criança. Basta contar a história e, de
preferência, não explicar; quando se trata de histórias de tradição oral, quanto menos as
interpretarmos, melhor. Por isso, usamos a palavra familiarização. A criança se familiariza
naturalmente com a história à qual escuta ou assiste diversas vezes, absorvendo-a como uma esponja
absorve a água.
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E nós, ao nos aproximarmos desse material, podemos experimentar fazê-lo também assim, sem buscar decifrá-lo,
pois a sabedoria que as histórias carregam, passando despercebida por gerações e sob o manto das “histórias de
entretenimento”, ou “histórias para crianças”, di�cilmente poderia ser veiculada de outra maneira que não pela
metáfora desses contos. Se buscarmos destrinchá-la, provavelmente perderemos o que ela tem para nos dar em
sua forma viva, operante.
Há todo um universo a descobrir sobre a forma como as histórias funcionam entre nós, crianças e adultos, e as
possibilidades que podem abrir. Essas considerações sobre a tecnologia das histórias constituem a apresentação
de um tema muito vasto, que cada um pode descobrir à medida que se aventure por esse mundo.
 Rawpixel.com | Shutterstock
Por causa da maneira como operam e da importância que têm as narrativas de tradição oral é que elas têm sido
contadas desde sempre e, nos aventuramos a dizer, seguirão sendo contadas para sempre.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. Vimos que ensinar por meio de histórias é uma "estratégia arquimilenar". Qual das a�rmativas
abaixo condiz com a forma como opera a tecnologia das histórias?
É importante que o contador de histórias compreenda inteiramente cada aspecto do conto
que vai contar para que seus ouvintes possam também compreender.
A)
No caso das histórias de tradição oral, lidamos com um material que tange o campo do não
compreensível, por isso pensamos em termos de familiarização com esse material, mais do
que compreensão.
B)     
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Responder
2. Em português, muitas vezes as histórias tradicionais são iniciadas pela célebre fórmula de
abertura “Era uma vez…”. Em inglês, esta fórmula é “Once upon a time…”. Quanto ao "Era uma
vez", podemos a�rmar que:
Responder
Desde tempos imemoriais até os dias atuais, as histórias de tradição oral sempre foram o
principal meio de ensino na educação formal.
C)
As histórias de tradição oral, muitas vezes, contam com elementos estranhos e
surpreendentes que estão ali para nos deixarem confusos, pois, só assim, podemos
aprender alguma coisa.
D)
O contador de histórias não precisa compreender todos os aspectos de uma história, mas
deve compreender ao menos a moral de cada uma antes de contá-las.
E)
Trata-se de uma fórmula de abertura usada exclusivamente para crianças, pois conduz a um
mundo de fantasia.
A)
Foi criada a partir da letra da música de Chico Buarque, João e Maria.B)
É uma tradução incorreta da expressão em inglês "Once upon a time".C)
É uma fórmula de abertura que nos remete a um tempo muito antigo.D)
Trata-se de uma porta de entrada para a metáfora das histórias, um tempo que é e não é, o
tempo do “era”.
E)
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MÓDULO 3
 Reconhecer a importância do envolvimento do
educador para a narração de histórias
QUAL A DIFERENÇA ENTRE DECORAR E CONTAR UMA
HISTÓRIA?
No vídeo a seguir, veja mais sobre o papel da narração na educação. Vamos assistir!
08:52
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Decorar
Em sua etimologia, signi�ca saber de cor,
de coração – o que deveria ser o trabalho
fundamental de um narrador de histórias.
Mas estamos aqui optando por
considerá-la no seu sentido mais usual: a
memorização de um texto,
exclusivamente técnica.

Contar uma história
Não exclui a técnica, mas pressupõe um
trabalho sensível que caracteriza o ato da
narração como uma arte. Do contrário,
estamos tratando de repetidores e não de
contadores de histórias.
Portanto, para contar é fundamental que o conto passe pela experiência, pela sensibilidade, pelo corpo do
contador de histórias. A esse processo criativo que tece relações entre a subjetividade do educador-narrador com
uma história de tradição oral é que chamamos de envolvimento do educador.
ENVOLVIMENTO DO EDUCADOR – 
A PREPARAÇÃO E O PROCESSO CRIATIVO DO EDUCADOR-
NARRADOR
É por essa intimidade que o educador-narrador percebe os campos de possibilidades a serem abertos
a partir do conto. E, sobretudo, é essa intimidade conquistada pelo mergulho na história que
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confere uma verdade à narração, sensivelmente percebida pelas crianças.
Alguns contos tradicionais terminam com a fórmula encantatória:
“Eu estive lá no casamento do príncipe e da princesa. Trouxe doces para vocês. Mas no meio do caminho eu
tropecei e os doces caíram no chão”.
A narradora Cristiane Velasco (2018) a�rma que, se existe alguma receita para se contar histórias, ela se resume à
expressão “Eu estive lá”. Um bom transmissor de histórias, no momento da narração, precisa estar “lá”, presente na
história. É desta qualidade de verdade que se trata: a verdade de quem vive a história no momento em que a
conta.
 Fonte: Tithi Luadthong | Shutterstock
A grande habilidade do educador-contador de histórias é a de desenvolvero mergulho nessa experiência do “Eu
estive lá”. É essa presença no conto que as crianças desejam viver e, se o educador-narrador não “estiver lá” na
história, as crianças também não conseguirão estar.
Dica
Para contar histórias, não é preciso ser ator. É necessário que, em
seu processo criativo com a história, o educador-narrador conquiste,
no seu tempo, consciência da sua própria voz, das ressonâncias do
conto com a sua própria biogra�a; que faça desse processo criativo
uma descoberta brincante e comprometida com o seu modo de
narrar, tão único quanto as linhas da palma da sua mão.
Podemos dizer que esse processo criativo se inicia no desejo de
narrar e de encontrar uma história para contar.    
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Exemplo
Como no conto africano Por que os contadores de histórias têm boa
memória e apreciam bons vinhos, os narradores são também
buscadores de histórias. O educador-narrador é também um viajante,
que sai pelo mundo coletando histórias acompanhado de seu
pássaro escrivão, sem conhecer o seu destino �nal, uma vez que o
destino é o próprio percurso.
Para contar uma história, é preciso que o educador-contador cultive os motores que o engajam em um processo
signi�cativo com uma história:
Disponibilidade Desejo de aprender Curiosidade
Viver esse processo envolve habilidades semelhantes às que as crianças usam para aprender: intuição,
experimentação, brincadeira, curiosidade, vontade de criar.
Veja os passos a seguir:
Clique nas informações a seguir.
Passo 1 Passo 2
Fazer com que o mundo pareça aberto. Esta é uma bela imagem para
um professor: alguém que conduz a si mesmo. É também uma bela
imagem para alguém que aprende: não alguém que se converte num
sectário, mas alguém que, ao ler com o coração aberto, volta-se para
si mesmo, encontra sua própria forma, sua maneira própria. Porque
se alguém lê ou escuta ou olha com o coração aberto, aquilo que lê
ressoa nele; ressoa no silêncio que ele é, e assim o silêncio penetrado
pela forma se faz fecundo.
(BONDÍA, 2007)
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TEMPO E PROCESSO CRIATIVO DO EDUCADOR-NARRADOR
DE HISTÓRIAS
Processo signi�ca a realização contínua e prolongada de alguma atividade. Falar em processo é incluir o tempo
como uma dimensão intrínseca do trabalho. Isto é, para que o educador-contador de histórias desenvolva uma
relação sensível com um conto, é preciso tempo.
Dica
O tempo é imprescindível para o estabelecimento de uma
familiaridade com as imagens, os símbolos, as metáforas de uma
história. O tempo é necessário para desfrutar do conto. Narre
quantas vezes for necessário. Conte, mesmo para as crianças,
mesmo que seja lendo, enquanto se familiariza com o conto. Repetir
e repetir, até �car diferente, como escreveu o poeta Manoel de Barros.
É também o tempo o ingrediente que confere às histórias suas cores e a vitalidade própria do educador-narrador.
Tendo passado por um processo criativo, as palavras de um conto ganham em sentido e afeto; tornam-se
impregnadas pela experiência do educador-narrador.
 Fonte: michaeljung | Shutterstock
Resumindo
Em outras palavras, para contar, é preciso viver uma história com a
história, um percurso de aprendizagem com o conto, conforme nos
ensina a narrativa africana em que o contador de histórias bebe a
tinta das palavras escritas e transforma as histórias bebidas em
histórias sabidas.
Sabemos da realidade das escolas e da di�culdade em encontrar tempo para atender a todas as demandas. O que
colocamos é que uma história tradicional guarda tesouros de signi�cados e possibilidades pedagógicas. E,
    
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portanto, dedicar tempo para preparar um conto é dedicar-se a um conteúdo tão importante quanto os demais
conteúdos curriculares.
EXPERIÊNCIA NARRATIVA
De�nir uma experiência narrativa é uma tarefa ingrata, pois uma experiência é, em si, algo da ordem do inde�nível,
que não pode ser apreendida pela razão. Para o educador Jorge Larrosa Bondía (2002):
A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. O saber da experiência é
diferente do saber da informação; trata do encontro com algo desconhecido que só se torna
conhecido na medida em que é experimentado, vivido, provado. Como a fruta da história que precisa
ser mastigada e saboreada pelo discípulo, a experiência modi�ca os sentidos e os modos de percepção
sensíveis, inclusive o pensamento.
Em uma experiência narrativa, algo é provado e experimentado por meio das histórias. Não sabemos para onde
cada história nos levará. Se soubéssemos, não seria uma experiência. Mas podemos identi�car elementos das
histórias de tradição oral que propiciam uma experiência.
Na composição de uma experiência narrativa, junta-se a dimensão do encontro e do afeto. Juntos, apreciamos o
desenrolar de um con�ito e enxergamos para além do horizonte visível. Simultaneamente, de acordo com
Machado (2004), o instante da narração particulariza cada um de nós, pois a história se atualiza na subjetividade
de cada ouvinte. Nesse caso, de cada aluno-ouvinte de histórias.
 Fonte: Sergio Delle Vedove | Shutterstock
ESCUTA E ALUNOS-OUVINTES DE HISTÓRIAS
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 Fonte: Patrick Foto | Shutterstock
O educador-narrador que percebe as histórias de tradição oral como um campo de saber e faz desse material uma
experiência, ao contá-las aos seus alunos estará, implicitamente, convocando cada criança a imprimir e a ampliar
sua subjetividade, suas perguntas, sua imaginação por meio dos contos – os alunos-ouvintes são parte
integrante e sujeitos ativos da experiência narrativa.
Mas, diante do aluno-ouvinte, surgem questões. Nem sempre o professor encontra disponibilidade no aluno. Por
vezes, é preciso construí-la.
Vamos ouvir agora uma história que exempli�ca essa grandeza da narração:
Utilize o player abaixo para ouvir.
0:00 3:41
PORTAS PARA O TEMPO DO “ERA UMA VEZ”
Embora uma história possa ressoar por muitos anos em alguém e as consequências de uma experiência narrativa
talvez sequer tenham um �m, podemos dizer que o ciclo visível da experiência narrativa se completa quando a
história chega ao ouvinte.
O esforço do educador-narrador é para que a história chegue ao aluno-ouvinte como um acontecimento
signi�cativo.
O educador-contador de histórias que desenvolveu uma conexão com o conto é capaz de visualizá-lo. Isso
permitirá que as crianças também visualizem o conto.
Clique na �gura abaixo.    
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As histórias ativam os nossos canais de percepção – auditivo, visual e sinestésico –, incluindo a intuição. Esses
canais são uma maneira fértil de entrarmos no tempo do “Era uma vez”.
Veja algumas dicas a seguir:
Clique nas setas para ver o conteúdo.
Não há cartilhas, mas o processo criativo apontará caminhos. Daí a importância do envolvimento do educador-
narrador. Com o tempo, aprende-se a con�ar nesse processo, que é tambémintuitivo e que desenvolve, em
primeiro lugar, os canais de percepção do próprio educador-narrador de histórias.
Existem o que os estudiosos dos contos e os contadores de histórias chamam de fórmulas encantatórias para
iniciar e fechar um conto. As que apresentaremos aqui são próprias da cultura popular, embora também possam
ser inventadas. Elas indicam o momento de começar e de �nalizar a viagem pelo conto, e as crianças
Ambiente
Preparar a passagem ao tempo extraordinário e uma escuta disponível pode começar pela organização 
ambiente, optando por um espaço acolhedor, uma luz calorosa, uma vela acesa, um tapete ou almofada
Pode-se trazer a atenção das crianças para o silêncio, ou mesmo para uma música que tenha conexão c
história, ou objetos com sons diferenciados, como um molho de chaves ou um pau de chuva.
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compreendem esses códigos com rapidez.
Exemplos de fórmulas encantatórias para entrar e despedir-se do “Era uma vez”:
No tempo
em que não
havia
tempo...

No tempo
em que os
passarinhos
voavam
para trás… 
Entrou por
uma porta,
saiu por
outra, o rei,
meu
senhor, se
quiser, que
conte outra

Entrou pela
perna do
pato, saiu
pela perna
do pinto.
Quem
quiser que
conte cinco
Com esses elementos, o educador-narrador, aos poucos, prepara a escuta dos alunos e gera uma disponibilidade
para a experiência narrativa. Desse modo, e certamente por tantos outros a descobrir, as crianças começam a
identi�car a linguagem e o tempo-espaço próprio dos contos.
REPERTÓRIO DE CONTOS E O EDUCADOR-NARRADOR
Por repertório entendemos um conjunto de histórias que o educador-narrador coleciona ao longo do tempo.
Escolher histórias demanda pesquisa, empatia e o processo criativo a que nos referimos.
Reunir um repertório é algo tão singular como eleger as notas de uma música ou as contas de um colar. Não há
fórmulas, mas a indicação de uma disponibilidade amorosa, pois é pelas vias do afeto e do encantamento que
uma história provoca o desejo de ser contada e investigada.
 Fonte: studiovin | Shutterstock
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Veja a seguir um passo a passo simples:
Clique nas informações a seguir.
Passo 1 Passo 2
Comentário
Falar em repetir histórias pode soar estranho, já que vivemos em
uma sociedade cada vez mais veloz, que prima pelo novo e pela
novidade e que consome com voracidade. Justamente por isso, é
importante garantir o direito ao tempo expandido das histórias, que é
o tempo da contemplação. Repetir uma história, com a convicção de
que não é preciso apresentar sempre uma nova, é criar espaço para a
familiaridade com as suas imagens e seus conteúdos simbólicos,
para as perguntas e possíveis respostas que um conto pode oferecer.
Recordar uma história também sedimenta no aluno-ouvinte o repertório e a experiência narrativa. As histórias
bebidas tornam-se histórias sabidas – essa é a razão pela qual, em todos os tempos, os educadores-
contadores e os alunos-ouvintes de histórias têm boa memória.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O envolvimento do educador-narrador com uma história é um aspecto importante, pois é o
educador quem proporciona aos alunos a experiência da escuta. É na medida em que o
educador-narrador tem algum envolvimento com a narrativa que os alunos também poderão
entrar em contato com a história de maneira especial.
Acerca do envolvimento do educador-narrador com uma história, marque quais das a�rmações
abaixo condizem com o que vimos neste módulo:
I. É fundamental que o educador-narrador decore, memorize cada aspecto de
uma história para poder contá-la.
II. É a intimidade do contador com a história a ser contada que confere
“verdade” à sua narração, como se ele, de fato, tivesse estado lá, dentro
daquela história
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daquela história.
III. O envolvimento do educador-narrador com uma história deve seguir uma
orientação predeterminada.
IV. O tempo é um fator importante para que o educador-narrador desenvolva
intimidade com uma história, por meio de um mergulho na história e suas
muitas possibilidades.
Responder
2. Quando o educador-narrador vai contar uma história para seus alunos, pode utilizar alguns
recursos que favoreçam a experiência narrativa. Quais dos recursos abaixo você considera
mais adequados no sentido de garantir que essa experiência seja a mais rica possível para as
crianças que escutam a história?
Responder
Apenas a opção IV está de acordo com o que foi visto neste módulo.A)
Apenas a opção I está de acordo com o que foi visto neste módulo.B)
As a�rmativas II e IV estão de acordo com o que foi visto neste módulo.C)
As a�rmativas I e III estão de acordo com o que foi visto neste módulo.D)
As a�rmativas II, III e IV estão de acordo com o que foi visto neste módulo.E)
Preparar o espaço de uma maneira aconchegante e ter alguns objetos que despertem a
curiosidade.
A)
Ter imagens ilustrando concretamente cada um dos personagens e lugares da história.B)
Um baú com cada objeto para despertar a curiosidade e todos os objetos que aparecem na
história.
C)
Uma gravação com os sons dos lugares e personagens da história.D)
Estar fantasiado como um dos personagens da história.E)
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MÓDULO 4
 Identi�car como a narração de histórias de
tradição oral se relaciona intimamente com o
processo de aprendizagem e com os Campos de
Experiências da educação infantil apresentados na
BNCC
QUESTÕES FUNDAMENTAIS PARA O EDUCADOR-NARRADOR
DE HISTÓRIAS
Neste módulo, demonstraremos as potencialidades da narração de histórias de tradição oral como linguagem
artística que exercita os Campos de Experiências e os direitos da criança na educação infantil, ambos
apresentados pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
 Fonte: MEC
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 Fonte: MEC.
De acordo com esse documento, o desenvolvimento das crianças nessa fase tem como eixos estruturantes as
interações e a brincadeira que, por sua vez, asseguram-lhes os direitos de conviver, de brincar, de participar, de
explorar, de expressar-se e de conhecer-se. Neste módulo, cada título a seguir corresponde a um dos Campos de
Experiências da educação infantil.
O EU, O OUTRO E O NÓS E A NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS
Há algo na narração de histórias que é capaz de conectar a criança ao outro e que convoca o encontro. Sobre isso,
falaremos mais adiante. Há também algo que conecta a criança a ela mesma, permitindo que perceba mais de si
própria e construa um senso de identidade.
 Fonte: Tatiana Bobkova | Shutterstock
Quando a criança escuta uma história, entra em contato com uma série de imagens simbólicas que a ajuda a
organizar e nomear seu mundo interno, a dar forma e voz reconhecível a seus afetos e suas experiências.
Por meio das
histórias, a criança
encontra espaço e
voz, tanto para a
bruxa quanto para a

No espaço simbólico
da fantasia, as
contradições
encontram um modo
saudável de
expressão e de
convivência.
Por meio do enredo e
dos personagens, a
criança vivencia a
sua singularidade e
brinca de ser outros,
num exercício lúdico
de alteridade,
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princesa, tanto para o
lobo como para os
porquinhos.
descobrindo modos
de agir, sentir e
pensar.
Escutar uma história é ser transportado para outro tempo-espaço – o tempo acima do tempo, em que tudo é
possível. Quando uma história é contada, narrador e ouvinte, juntos, adentram no tempo do “era uma vez…”. Tempo
próprio da subjetividade, do extraordinário.
Este “lá” para onde a pessoa se transporta é o lugar da imaginação
enquanto possibilidade criadora e integrativa do homem. Quando
experimento estar no interior da história, experimento a integridade
individual de alguém que não está nem no passado nem no futuro,
mas no instante do agora onde encontro em mim não o que eu fui ou
o que eu serei, mas a minha inteireza no lugar onde a norma e a regra
– enquanto coerção da exterioridade do mundo – não chegam. Onde
eu sou rei ou rainha do reino virtual das possibilidades, o reino da
imaginação criadora. Nesse lugar, encontro não o que devo, mas o
que posso; portanto, entro em contato com a possibilidade de
a�rmação do poder criador humano, con�gurado em constelações
de imagens.
(MACHADO, 2004)
Um narrador que conta histórias de viva voz, com seu corpo e sua memória implicados nessa transmissão, torna a
experimentação da criança ainda mais potente. Contar envolve improvisação, presença e relação direta com a
criança. Contar uma história é recriá-la, é um exercício de liberdade. Aquele que conta convida a criança a
experimentar sua liberdade criativa também.
 Fonte: Joa Souza | Shutterstock
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Contar e escutar histórias é uma prática comunitária. Na interação com a história e com o grupo, brincando de
escutar e representar o conto, a criança observa outras crianças e aprende sobre modos diferentes de ser e
responder ao conto.
Resumindo
As histórias de tradição oral são oriundas de um povo. Por isso,
introduzem o contato com diferentes culturas e modos de estar no
mundo. Esse contato é formador e propicia o desenvolvimento do
respeito e do amor à diferença que constitui o ser humano.
A contadora de histórias Vivian Catenacci narra um episódio em que, após uma sessão de histórias para um grupo
de crianças, uma menina lhe perguntou:
Como cabem tantas pessoas dentro de você?
Essa pergunta esclarece a importância da história narrada oralmente no que diz respeito à
aprendizagem da diferença. Quando o educador-narrador dá vida a personagens diversos, de variadas
culturas, a criança compreende, pelo exemplo vivo, que a diferença é uma experiência de expansão: por
meio dela, tornamo-nos tão grandes que cabem muitas pessoas e vários mundos dentro de nós.
Vamos ouvir agora uma história que exempli�ca esse papel tão bonito da narração:
Utilize o player abaixo para ouvir.
0:00 2:34
CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS E A NARRAÇÃO DE
HISTÓRIAS
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A narração de histórias na educação infantil é uma arte com inúmeras possibilidades de contribuição para o
desenvolvimento da consciência corporal das crianças. A partir da escuta, a criança pode viver, no próprio corpo,
as imagens, sensações e os sentimentos suscitados pela história.
Há muitas atividades que podem ser desenvolvidas, relacionando o corpo às histórias, como:
Clique na �gura abaixo.
Dica
Criar e escolher as atividades mais adequadas e potentes para cada
história depende do conhecimento do conto por parte do educador-
narrador e do conhecimento da turma, em termos de suas
necessidades e seus limites.
A escuta de uma história pode proporcionar para a criança experiências de liberdade e consciência da
corporeidade, incluindo a relação com os próprios limites e com os limites do outro.
Com ludicidade, as brincadeiras com histórias ampliam o repertório de movimentos e o contato com o potencial
expressivo do corpo. Nessas brincadeiras, corpo, palavra e emoção estão integrados. O corpo é uma história viva,
em movimento.
 F R i l | Sh k
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 Fonte: Rawpixel.com | Shutterstock
TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS E A NARRAÇÃO DE
HISTÓRIAS
Os contadores de histórias tradicionais costumam dizer que há, na Terra, tantas histórias quantas estrelas existem
no céu. Cada povo, país ou região tem suas próprias histórias, que manifestam suas culturas em imagens, enredos
e sonoridades.
Apresentar um repertório de histórias de diferentes matrizes culturais proporciona experiências diversi�cadas de
cultura:
 Fonte: Heracles Kritikos | Shutterstock
A criança escuta
novos sons e novas
palavras
Ela se depara com
paisagens variadas
Conhece
personagens guiados
por valores diferentes
Esse repertório diversi�cado desenvolve um senso estético amplo que contribui para a formação de
um imaginário vasto e de sensibilidades que não apenas valoriza, mas abraça e aprende com as
diferenças.
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Escutar diferentes histórias cria desenhos variados na imaginação da criança. As crianças sentem necessidade de
expressar esses desenhos após a escuta de uma história e devem ser estimuladas a fazê-lo. É um modo
signi�cativo de elaborar os conteúdos vividos por intermédio do conto. Para isso, o educador-narrador pode
convidá-las a experimentar diferentes materialidades que, de preferência, tenham coerência com a história
narrada: argila, objetos da natureza, sucata, tinta.
O importante é a consciência de que a narração é uma arte que convida à:
Clique nas informações a seguir.
Contemplação Expressão
ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO E A NARRAÇÃO
DE HISTÓRIAS
É pelo sentido da audição que estabelecemos nossos primeiros vínculos com o mundo, desde a gestação.
Saiba mais
A palavra vínculo, de origem latina, vinculum, signi�ca laço. Ela é uma
derivação do verbo vincire, que signi�ca seduzir e encantar. Nos
caminhos cambiantes das palavras, vinculum se transformou em
brinco, que, por sua vez, deu origem ao verbo brincar.
É por meio dessa profunda e intrínseca relação entre escuta, vínculo e brincadeira que chegamos às histórias.
A criança aprende brincando. Esse modo de aprender da infância inclui as histórias: uma brincadeira com as
palavras, com os sons, com as imagens. Escutar é o primeiro passo para brincar com uma história.
O momento da escuta de uma história é, sem dúvida, uma aprendizagem da convivência, de dar espaço para a
voz do outro.
 Fonte: Robert Kneschke | Shutterstock
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Escutar histórias também contribui para que a criança desenvolva seu vocabulário, aprenda a ligar palavrasa
outras palavras, a signi�cados. Pela escuta, a criança aprende a criar discursos, a expressar desejos, necessidades
e sentimentos, a compreender, a se apropriar da linguagem que a insere na cultura e também a ser partícipe dessa
cultura.
Mas há algo na escuta das histórias contadas oralmente que não podemos perder de vista:
Escutar acorda na criança o desejo de narrar, de encontrar a sua própria palavra e voz. Por isso, é
comum crianças com di�culdade de comunicação verbal, após escutarem histórias, começarem a
se aventurar na fala. As histórias geram um movimento simbólico que a criança deseja comunicar.
Ao escutar, a criança também estabelece vínculos entre as palavras da história e as imagens que ela vê
internamente. Não à toa, as crianças pedem para repetirmos uma história muitas vezes. E pedem para desenhá-la.
Ouvir novamente e desenhar são maneiras de tornar mais nítidas essas imagens; são desejos de contato com a
imaginação.
Objeto com interação.
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Desenhar surge, também, de uma necessidade vital e fundante de inscrever uma marca no mundo, conforme
vemos ao longo da história da humanidade, desde as pinturas rupestres. O desenho imprime um traço, uma
espécie de assinatura, assim como nossa palavra e nossa voz. O desenho é, para a criança, uma experiência de
singularidade e, ao mesmo tempo, um modo de contato, de relação com a vida.
Vale lembrar também que, antes de escrever, nós desenhamos – a escrita é um desenho.
Quando as crianças já sabem escrever, há inúmeras atividades que podemos fazer envolvendo a escrita e o
desenho a partir de uma história.
 Fonte: Evgeny Atamanenko | Shutterstock
À medida que a criança escuta histórias, cria imagens e adquire repertório de palavras vinculadas a essas
imagens, começa a ler o mundo.
A leitura do mundo precede a leitura da palavra.
(FREIRE, 1989)
Ler o mundo é compreender uma expressão corporal, é identi�car sentimentos, é ler as mudanças na natureza. Ler
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é perceber a nós mesmos e o que nos cerca. Esse movimento leitor é movido pelo prazer da descoberta e pela
curiosidade; por isso, as crianças elaboram tantas perguntas:
Por que o céu é tão longe? Por que a água do mar é
salgada?
Como o sol passou a brilhar?
Como surgiram as histórias? Para onde vamos quando
morrermos?
Essas perguntas são fruto da observação e de um desejo de saber. Perguntar e imaginar são operações próximas
– os cientistas e pesquisadores sabem disso. Uma pergunta nos faz imaginar hipóteses.
Comentário
Curiosamente, para todas as perguntas acima, comumente
verbalizadas por crianças, existem histórias de tradição oral
correspondentes. São histórias de diferentes povos que nasceram
das perguntas, do imaginário e da experiência do homem na Terra;
histórias que contam a origem de formas de vida e de fenômenos
naturais por intermédio de imagens e metáforas. Elas não são
mentiras, mas narrativas que incluem o mágico, o mistério
inexplicável da vida, que a ciência mais avançada não alcança.
Saiba mais
A palavra fantasia tem raiz etimológica na palavra grega phos, que
signi�ca luz, e no verbo phaínein, que signi�ca fazer aparecer.
Portanto, fantasiar é lançar luz, tornar visível, legível. Fantasiar é uma
operação de leitura e investigação. É um jeito fértil de produzir
conhecimento.
Essa curiosidade original, quando fomentada pelo educador-narrador, conduz a criança para o desejo de
aprender a ler e escrever palavras.
ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES 
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E TRANSFORMAÇÕES E A NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS
“Era uma vez…”, fórmula que convida, imediatamente, a criança a entrar no tempo do extraordinário. Contar e
escutar histórias é, por sua natureza, uma experiência e uma aprendizagem do tempo.
O tempo é um assunto abordado pelas histórias: o dia e a noite, o início e o �m, a mudança das estações, os
cotidianos dos personagens que, de repente, ou até que um dia, vivem algo diferenciado. Essas imagens ajudam a
criança a situar-se no tempo e a desenvolver uma relação com a passagem dele.
 Fonte: Pushkin | Shutterstock
Por meio da escuta de uma história, a criança acompanha o desenrolar de uma trama ao longo do
tempo – seu desenvolvimento e seu desfecho. A estrutura de uma história organiza o tempo em início,
meio e �m. Intuitivamente, as crianças aprendem essa estrutura.
Ao “Era uma vez…” se segue “Era uma vez um reino…”. Esse reino pode ser uma aldeia, um país, uma ilha, uma
cabana; é o lugar imaginário onde se passa uma história, por onde seus personagens transitam:
Pode-se desenhar mapas, no papel ou no chão, para achar um
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 Mapa desenhado por um aluno após a
escuta de uma história. Fonte: Acervo pessoal
das autoras.
p p p p
tesouro, seguir suas pistas ou transpor seus limites;
Por meio da cartogra�a das histórias, a criança explora territórios
imaginários e concretos;
Pode aprender a geogra�a de um país, de uma rua, ou o caminho para
voltar para casa, como no conto João e Maria.
Sobre o tema da quantidade, pode-se brincar de contar quantos tijolos ergueram a casa do terceiro porquinho, ou
o número de ingredientes necessários para fazer uma poção mágica.
 Fonte: Maya Kruchankova | Shutterstock
Podemos considerar também que “Era uma vez” é o acesso ao reino in�nito da imaginação. Nesse reino,
possuímos um bolso mágico de onde pode sair a quantidade que desejarmos de �gos, ou um moinho mágico que
realiza nossos desejos ad in�nitum, até que saibamos dizer a palavra mágica que o fará parar.
Contar histórias tradicionais para as crianças é uma maneira de convidá-las a desenvolver uma relação com seu
próprio in�nito, com a sua criatividade. E, por isso, é importante que sejam contadas de viva voz, de coração, pois
essas são as histórias que têm morada na memória e no in�nito do educador-narrador.
As transformações são, também, um tema próprio das histórias. Pode-se pensar nas metamorfoses dos
personagens:
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 Fonte: Syda Productions | Shutterstock
O sapo se transforma
em príncipe
Uma abóbora numa
carruagem
A mágica dos contos recorda nossa própria plasticidade. Podemos nos transformar como os personagens. Nós
também sofremos transformações físicas e subjetivas. Tudo o que vive se transforma.
No vídeo a seguir, veja mais sobre o papel da BNCC na Educação e na contação de histórias. Vamos assistir!
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07:01
As histórias são um modo metafórico de a criança se familiarizar com as transformações próprias da
vida.
Os mistérios que as histórias apresentam podem ser caminhos para instigar sua curiosidade. Escutar histórias é
um jeito fértil de explorar possibilidades, levantar hipóteses, aprender a perguntar. Essas perguntaspodem levar a
respostas para explicar o nosso mundo físico, mas também a investigações �losó�cas, do campo da imaginação,
da subjetividade e da poesia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. Vimos que é possível estabelecer uma íntima conexão entre a arte de contar histórias no
contexto escolar e os Campos de Experiências da educação infantil, da Base Nacional Comum
Curricular. No Campo de Experiências "O eu, o outro e o nós", somos remetidos aos diferentes
tipos de encontros que ocorrem quando um educador-narrador conta uma história para uma
turma. Acerca disso, leia as a�rmativas abaixo e selecione as que estão de acordo com o que
foi visto neste módulo.
I. A partir da experiência narrativa de um conto de tradição oral, há um
encontro signi�cativo entre a criança e o educador-narrador.
II. A partir da experiência narrativa de um conto de tradição oral, é como se a
criança saísse dela mesma e entrasse no universo da história.
III. Pode haver, a partir de uma história, um encontro entre as crianças e uma
realidade diferente da sua, de outra cultura, de onde vem a história que foi
contada.
IV. Podemos a�rmar que há, a partir da experiência de escuta de um conto de
tradição oral, um encontro da criança com ela mesma, ao entrar em contato
com imagens simbólicas de seu mundo interno.
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Responder
2. O trecho da BNCC que se refere à etapa da educação infantil já começa a levar em conta o
despertar do interesse pela leitura e escrita, a relação da criança com a linguagem, embora a
alfabetização propriamente dita só ocorra o�cialmente no primeiro ano do ensino fundamental.
Vimos, neste módulo, que a arte de contar histórias pode contribuir signi�cativamente para
esse despertar. Dentre as opções abaixo, assinale as que estão de acordo com a relação que foi
estabelecida aqui entre a narração de histórias e o despertar do interesse pela leitura e escrita
entre as crianças.
Responder
Apenas a opção IV está de acordo com o que foi visto neste módulo.A)
As opções I, II e III estão de acordo com o que foi visto neste módulo.B)
As opções I, II e IV estão de acordo com o que foi visto neste módulo.C)
Apenas a opção III está de acordo com o que foi visto neste módulo.D)
Apenas as opções I e II estão de acordo com o que foi visto neste módulo.E)
A escuta de histórias pelas crianças desenvolve nelas o desejo de desenhar e expressar as
imagens que a história suscitou, e expressar-se pelo desenho é um passo no caminho para
expressar-se pela escrita.
A)
Ao ter o hábito de escutar histórias, as crianças vão se acostumando a ligar palavras a
outras palavras e formar signi�cados.
B)
Escutar histórias pode gerar um signi�cativo aumento no repertório vocabular das crianças.C)
O ato de escutar histórias desperta nas crianças o desejo por contarem, elas mesmas,
histórias.
D)
Quando as crianças ouvem uma história, é muito bom aproveitar para ensinar-lhes a
escrever os nomes de todos os personagens, ou pelo menos de alguns.
E)
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CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compartilhamos alguns aspectos centrais da arte de contar histórias a �m de que estejam presentes na
construção do pensamento sobre a arte narrativa no contexto escolar.
Trata-se de um campo vasto e cheio de descobertas a serem feitas por quem nele se aventura. Ao mesmo tempo,
conforme estudamos, as histórias tradicionais podem ser vistas como simples “historinhas” para crianças, que
servem para entreter e nada mais, ou para inculcar uma moral, ou para gerar interesse pela leitura. De certa
maneira, pelo fato de serem tantas vezes assim consideradas, essas histórias têm atravessado gerações
passando incólumes pela interpretação excessiva, pela censura e pelo mal entendimento.
O universo das histórias de tradição oral é um universo do qual nos aproximamos “sabendo que não sabemos”, e
que vamos explorá-lo não para encontrar respostas, mas para nos abrirmos a possibilidades e expandirmos o
nosso jeito de ver o mundo.
Se esses contos puderem ser levados às crianças em um contexto escolar, tendo em vista essa perspectiva; se
alguns educadores aceitarem a aventura de se envolver com essas histórias, visitando a sua própria história nesse
processo; se alguns, ainda que poucos, educadores puderem vivenciar o espaço do “Era uma vez” de forma
genuína, na mais pura verdade da fantasia, com crianças de educação infantil, deixando-se juntos permear-se
pelos contos de tradição oral, a teia dourada das histórias de Anansi se fortalece e o mundo ganha mais
sustentação.
PODCAST
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Agora com a palavra o professor Rodrigo Rainha, conversando sobre a
contação de história e seus aspectos pedagógicos. Vamos ouvir!
0:00 27:22
REFERÊNCIAS
CASOY, R. Poranduba – Roda de Histórias Indígenas. Rio de Janeiro: NAU, 2009.
BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. (Conferência). Tradução de João Wanderley
Geraldi. São Paulo: Revista Brasileira de Educação, 2002.
BONDÍA, J. L. Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. São Paulo: Autêntica, 2007.
FREIRE, P. A importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados -
Cortez, 1989.
GOUGAUD, H. L'Abre aux Trèsors. Paris: Éditions du Seuil, 1987.
HAVEN, K. Story Proof: The science behind the startling power of story. Tradução livre. Connecticut: Libraries
Unlimited, 2007.
MACHADO, R. S. B. Acordais – fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias. São Paulo: DCL, 2004.
REYES, Y. Mediadores de leitura. In: FRADE, I. C. A. S.; VAL, M. G. C., BREGUNCI, M. G. C. (orgs). Glossário Ceale:
termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2014.
SHAH, I. As sutilezas do inimitável Mulá Nasrudin. Rio de Janeiro: Tabla, 2016.
SHAH, I. World Tales. Londres: Octagon Press, 1991.
SHAH, T. Nas noites árabes – uma caravana de histórias. Rio de Janeiro: Roça Nova, 2009.
TOLKIEN, J.R.R. Sobre histórias de fadas. Tradução de Ronald Kyrmse. São Paulo: Conrad, 2006.
VELASCO, C. Histórias de boca – o conto tradicional na educação infantil. São Paulo: Panda Educação, 2018.
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http://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/contacao_de_historias_aspectos_pedagogicos/index.html
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Assista aos �lmes:
Peixe Grande (2003), dirigido por Tim Burton, trata das implicadas relações entre a biogra�a de um contador
de histórias e os enredos e personagens de seu repertório.
A encantadora de baleias (2002), dirigido por Niki Caro, relaciona as narrativas míticas da tribo Maori, que vive
no leste da Nova Zelândia, e a força de uma menina de 11 anos que dá seguimento à tradição desse povo.
Baba Aziz – o príncipe que contemplava a sua alma (2006), dirigido por Nacer Khemir, narra o encontro de um
dervixe cego com sua neta pelo deserto. Lá ele lhe conta histórias fantásticas e encontra viajantes, também
contadores de histórias.
Leia os livros:
O Guerreiro Invisível e outros contos do tempo – uma antologia da tradição viva, de Julia Grillo e Nícia Grillo.
Uma história e uma história e uma história – contos dos contos da tradição oral, de Ana Gibson e Juliana
Franklin.
O ensaio “O

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