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Matéria: Didática do Contar Histórias Assunto: Temas 1 ao 8 Curso de Pedagogia Licenciatura – 4º Período Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 2 de 72 Contar história é um ato encantado! Um contador de histórias compenetrado modula sua voz e gesticula dramaticamente; à sua volta veremos, invariavelmente, crianças hipnotizadas, sorvendo suas palavras uma a uma e ávidas pelo que está por vir. Toda essa atenção dedicada às crianças não pode ser desperdiçada, por isso, é preciso ver as histórias como um meio de comunicação privilegiado e considerar, com muito cuidado, a mensagem que cada história transmite. A mensagem de cada história foi elaborada pelo seu autor, mas o contador é muito mais do que um intérprete. À medida que escolhe a história, ele define a mensagem que deseja transmitir, ciente da reflexão que irá provocar nas crianças, define também a forma como irá contá-la, escolhendo os recursos necessários para potencializar a mensagem escolhida. É das histórias como um meio de comunicação que iremos tratar neste tema. As Histórias como Meio de Comunicação Contar histórias é uma prática que sempre existiu, todos contam histórias. Uns contam bem, atraem pessoas e as mantêm cativas com os seus relatos, outros contam mal, suas histórias são enfadonhas, têm pouco colorido, mas, nem por isso, deixam de contá-las, ou ainda, como seria natural, deixam de ter ouvintes. Mas não iremos avançar nesse momento nas técnicas de encantamento de um bom contador de histórias, pois o que queremos enfatizar inicialmente é a história como um meio de comunicação de todos os tempos que traz no seu corpo uma mensagem. A mensagem contida na história, por estar situada em um contexto e ser vivida por um personagem, é mais bem compreendida. Assim, por meio das histórias, podemos comunicar conceitos, exemplos, valores que seriam muito difíceis de serem transmitidos isoladamente. Isso é especialmente verdade quando estamos nos referindo a crianças. As pequenas têm um baixo nível de compreensão, seu raciocínio, como ensinou Piaget (1978), não faz relação de causa e efeito, por isso as mensagens, ordens ou conselhos que são ditos fora do contexto não fazem sentido para ela. Porém, ao acompanharem o herói de uma história que vence o inimigo pela sua coragem, astúcia, ou mesmo bondade, tudo faz sentido, gerando a reflexão pretendida. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 3 de 72 Pretendida é a palavra que queremos enfatizar, pois o contador, seja professor ou pai, que conta uma história porque é a primeira que se lembra ou que achou mais fácil está comunicando aquilo que o autor da história quer, ou seja, uma comunicação não escolhida por ele e que pode não ser a mais adequada para aquela criança ou para aquele momento. Assim, a escolha da história adequada para o público certo no momento certo faz com que o contador assuma o protagonismo da ação. Mesmo não sendo o autor da história, ele define a comunicação e, portanto, a mensagem que irá transmitir. É isso que faz o educador, uma vez que essa mensagem está dentro do seu plano de ensino, encadeada com outras e é fruto do diagnóstico feito com suas crianças, que determina o que, como e quando certo conceito deve ser inserido. Assim, o fantoche brincalhão, a professora vestida de fada ou a dobradura de dragão que urra dentro da caverna feita de papelão pode representar muito mais do que aparenta, suas falas podem acessar estruturas mentais da criança que a levarão a conclusões marcantes para toda a sua vida. E tudo depende de você, daquilo que irá escolher e de como irá apresentar, para, além de encantar as crianças, auxiliar de forma marcante o seu desenvolvimento. Assim, ser um contador educador não é tarefa simples, mas, certamente, é muito prazeroso e vale cada minuto de preparação e dedicação. Iniciaremos nosso estudo compreendendo melhor os fenômenos comunicativos que envolvem a contação de histórias. As Histórias como Mídia Vivemos hoje em um mundo atolado de comunicações, que usa as mais diversas ferramentas, merecendo maior destaque a comunicação de massa, como a televisão, que atinge milhões de pessoas simultaneamente, e a comunicação digital, que muda muito as relações entre as pessoas. São notáveis também os meios de comunicação combinados que usam diversas plataformas, a televisão que se entrelaça com o smartphone, a revista lida no tablet, a loja que utiliza sons para comunicar a sua marca, etc. Dentro deste emaranhado de situações de comunicação, conhecidas, desconhecidas e “por vir a conhecer”, muitas vezes o homem esquece, ou até nem percebe, que o seu próprio corpo é um meio de comunicação. Em toda a comunicação temos três elementos básicos para a transmissão da intenção da mensagem: o emissor, o receptor e a mídia. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 4 de 72 Mas o que é a mídia? É o suporte da mensagem. A mídia pode ser uma revista, ela apoia a mensagem entre o editor e o leitor, a televisão também é uma mídia, apoia a mensagem entre o produtor e o telespectador. Harry Pross (1971 apud BAITELLO, 2000), semioticista da cultura alemão, categoriza a mídia em três níveis, chamados: - mídia primária (em que se comunica através, e tão somente, do próprio corpo), - secundária (em que o emissor precisa fabricar registros para se comunicar) e o - terciário (em que emissor e receptor precisam de elementos externos para se comunicarem). Este pensador tem sido muito usado nas reflexões sobre as questões culturais e sociais. Assim diz Pross: Toda comunicação humana começa na mídia primária, na qual os participantes individuais se encontram cara a cara e imediatamente presentes com seu corpo; toda comunicação humana retornará a este ponto. (PROSS, 1971 apud BAITELLO, 2000, p. 2). Assim, na contação de histórias estamos diante de um antigo, eficaz e fascinante uso dessa mídia primária: o corpo, no uso da voz (em suas diversas modulações e tonalidades), da postura (no gesto e na dança) e da expressão facial como meio de comunicação. Então, pode-se imaginar pessoas contando histórias antes mesmo de desenharem nas cavernas. E por que o homem desenhou nas cavernas? Porque ele percebeu que o registro poderia ir além de sua própria pessoa. Na caverna ele percebeu a possibilidade de deixar suas emoções, de poder contar suas histórias. Nasce então o que Pross (1971 apud BAITELLO, 2000) chama de mídia secundária, que são as diversas formas de registros exteriores ao corpo. Nesse sentido, o comunicar foi evoluindo até chegar aos livros e revistas, que nos permitem dialogar com Aristóteles ou Pestalozzi, pessoas vizinhas e do outro lado do planeta, porque eles deixaram as suas marcas através desse registro. Na mídia terciária o transmissor, como na secundária, precisa de um elemento externo ao seu corpo, o mesmo acontecendo com o receptor. Nesta situação é necessária maior tecnologia, como o rádio, a televisão e a internet, mais recentemente. Cada vez mais a tecnologia avança e permite formas mais cômodas na comunicação, que facilitam e trazem formatações sociais diferentes, uma vez que as pessoas não se agrupam mais por comodidade geográfica, mas por afinidades e interesses. O que Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 5 de 72 é bom de um lado, mas de outro traz a preocupação de que as pessoas vão perdendo o convívio, vão perdendoo “corpo a corpo”, e na medida que o seu corpo fica “esquecido”, sobrepujado pelas máquinas, corre-se o risco de atrofiá-lo, havendo apenas a preocupação na aquisição de tecnologias cada vez mais potentes. Atrofiando o corpo, o homem atrofia as suas relações sociais, e este atrofiamento das relações sociais não pode acontecer sem causar fortes impactos na cultura. Voltando às histórias, a mídia terciária está entre o contador de história e do ouvinte (a criança). É neste ponto que as coisas podem ter uma conotação diferente: se o contador lê uma história escrita em um livro e ao contá-la não se envolve, o emissor passa a ser o autor do livro e o receptor é a criança. Assim, quem comunica é o autor! Agora, quando o contador escolhe uma história, após ter refletido naquilo que deseja comunicar, ele passa a ter um papel de protagonista no processo. Por exemplo: o contador escolhe uma história falando bem da cultura japonesa porque está diante de um caso de um aluno que está sendo discriminado por ser oriental. A proposta educacional foi definida pelo contador, a história é somente o veículo que apoia o conceito de pluralidade cultural que ele deseja trabalhar. E ainda, quando, durante a narração da história, o contador reforça a nobreza de caráter desse personagem, ele está colocando a sua pessoalidade, aquilo que ele pensa, está sendo o emissor, e a história é a mídia. Às vezes esta “nobreza” de determinado personagem pode passar despercebida por outros leitores, e até mesmo não ter sido o foco principal de comunicação que o autor enfocou, mas aquele que quer comunicar encontrou neste ponto o apoio que necessita para passar uma mensagem que ele já tinha em mente no seu papel de educador. Bruno Bettelheim (2007) é categórico quanto à polêmica se a história deve ser lida ou interpretada com suas próprias palavras, Para atingir integralmente suas propensões consoladoras, seus significados simbólicos e, acima de tudo, seus significados interpessoais, o conto de fadas deveria ser contado em vez de ser lido. Se ele é lido, deve ser lido com um envolvimento emocional na estória e na criança, com empatia pelo que a estória pode significar para ela. Contar é preferível a ler porque permite uma maior flexibilidade. (BETTELHEIN, 2007, p. 185) Isso porque em seu livro Psicanálise dos contos de fadas, Bettelheim (2007) exalta a importância das histórias de fadas para o desenvolvimento emocional da criança, pois elas falam de maneira simbólica a linguagem da criança, dão explicações simples para fatos que ela não conseguiria entender. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 6 de 72 De uma maneira geral, os monstros, as bruxas e os personagens temíveis não são mais do que projeções imaginárias dos fantasmas que as crianças trazem consigo: medo de ser abandonada por seus pais, medo de ser devorada, medo da rivalidade fraterna (BETTELHEIM, 2007). Esse autor defende a apropriação do contador de cada história que irá contar, ele acredita que o adulto necessita entender perfeitamente a mensagem e os níveis de significado da história não somente para transmiti-la aos seus ouvintes, mas também para preparar a apresentação de forma que a criança possa aproveitar da melhor maneira o seu conteúdo, para aplacar os seus temores, anseios, e obter conforto emocional. Nunca se deve “explicar” os significados dos contos para as crianças. Todavia, a compreensão do narrador quanto à mensagem do conto de fadas é importante para a mente pré-consciente da criança. A compreensão do narrador sobre os vários níveis do significado da estória facilita à criança extrair pistas dessas estórias para melhor entender a si própria. Cabe à sensibilidade do adulto selecionar as estórias mais apropriadas ao estado de desenvolvimento da criança, e às dificuldades psicológicas específicas com que ele se defronta no momento. (BETTELHEIN, 2007, p. 190) Em suma, usando-se os conceitos de comunicação anteriormente descritos, temos que quando se lê uma história o emissor é o autor, quando se conta uma história o emissor é o contador, ele é o protagonista. E qual é a melhor forma? Sem desmerecer a leitura de uma história, a contação é muito mais rica, ela permite interpretação, ela traz toda a pessoalidade do contador à comunicação. Isso pode ser mais bem entendido na música, dois intérpretes da mesma canção de um determinado compositor podem causar emoções diferentes na plateia, de acordo com o seu estilo, sua modulação de voz e expressões faciais e corporais. Outro fator a ser considerado é que o contador poderá enfatizar ou simplificar aspectos da história, de acordo com a faixa etária de seus ouvintes, e talvez dar um toque de humor, como também eliminar passagens de pouco interesse, desde que não prejudique a compreensão da história. Uma história pode ser estritamente realista para uma criança de cinco anos e não ser para uma de doze. E o contrário também é verdade: a saga de uma pessoa que luta por determinados direitos, por uma causa ecológica, por exemplo, pode ser incompreensível para o pequeno ouvinte. De toda forma, a fonte de onde se recolhe a história precisará ser trabalhada para que esta se torne agradável e entendível para o grupo de crianças ou jovens a que se destina. Deve-se enriquecê-la com alguns detalhes e introduzir na narração explicações que permitam um melhor entendimento. Por exemplo, uma descrição Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 7 de 72 do personagem, que justifique o seu envolvimento com a causa, pode ser interessante. Os Códigos que Compõem a Comunicação Umberto Eco, no livro Lector in Fábula (2004), também aborda os aspectos comunicacionais da história e se restringe aos códigos utilizados nessa transmissão. O que são os códigos? São o conjunto de signos que serão utilizados para transmitir a mensagem. Eles são principalmente palavras e ilustrações, mas também a diagramação do livro, a capa, as cores de fundo e as fontes utilizadas. Esse conjunto de signos possibilita a interpretação do conteúdo. Assim, Eco (2004) enfatiza que o autor deve levar em consideração a competência do leitor para definir os códigos de comunicação que deseja utilizar para a transmissão da mensagem escolhida. Vale lembrar que não se exclui a possibilidade de haver autores infantis mais preocupados com a contemplação estética do que com a mensagem transmitida, o que não torna os seus livros inúteis, pelo contrário, cumprem sua função artística e linguística, ressalvando apenas à condenação aqueles casos em que a mensagem é negativa ou perniciosa. Dos conceitos de Eco (2004) podem se depreender algumas variáveis: a primeira é se o autor escreveu para crianças lerem o seu livro; neste caso, ele se preocupou em considerar signos que possam ser captados pela criança sozinha, e o adulto até pode aparecer no processo, mas como um auxiliar, como um facilitador da interpretação que é feita pela criança. E, nesse caso, ficamos com uma terceira indagação: quem irá ler o livro, a criança ou o adulto que irá ler para ela? Se um livro tem um conjunto de códigos compostos pelas palavras, pelas ilustrações, pelo formato e, em alguns, até pelo cheiro, a criança não poderá se apropriar do conjunto quando o adulto ler para ela. Muitas vezes vemos situações nas quais o adulto-leitor lê a história e interrompe para mostrar as figuras às crianças que se aboletam umas em cima das outras para verem melhor, o que torna o processo um verdadeiro desastre. E mesmo que não fosse, a criança deixaria de se apropriar dos outros signos utilizados pelo livro. Enfim, Ler ou Contar? A decisão de contar, ler ou deixar a criança ler sozinha deve sebalizar nos seguintes critérios: Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 8 de 72 A Criança Lê Sozinha Pode-se deixar a criança ler sozinha quando o livro tem linguagem clara, adequada à sua faixa etária, é farto em figuras e usa de outros meios de expressão (relevo, cheiro, movimento). Esta prática estimula a formação do adulto leitor, desde que o livro seja absolutamente do agrado, portanto, a sua escolha deve ser criteriosa. Escolhas malfeitas de livros que estão além da compreensão da criança e de sua capacidade de atenção podem levar ao efeito contrário. A leitura estimula a observação e a relação entre os signos à medida que a criança faz as ligações entre o texto e as figuras, e vê significados nas demais formas de expressão. Estimula a criatividade porque traz referências tanto no contexto como nas ilustrações. O Professor Lê para a Criança O livro deve ser lido quando o autor é reconhecidamente de boa qualidade, a ponto de o professor não encontrar qualquer acréscimo, retirada ou explicação que poderia fazer. Além disso, o texto deve ser adequado à faixa etária. Esta prática estimula a formação do leitor, mas tem, por um lado, uma desvantagem em relação à pratica anterior (criança lê o livro), pois não encerra o desafio da descoberta. Essa prática causa menor estímulo à criatividade, porque o adulto leitor não conseguirá compartilhar os signos que fazem parte do livro na sua totalidade. Por outro lado, pode também ter vantagens, especialmente quando os textos são mais longos, o que deixaria a criança cansada. O Professor Conta a História É a prática que oferece maior flexibilidade para o professor, pois desenvolve a observação, a imaginação e a criatividade de seus ouvintes. É possível ser adaptada, enfatizando os objetivos educacionais pretendidos. Outro aspecto é que, ao usar as suas próprias palavras, ele dá mais confiabilidade a elas, mostra mais comprometimento com o seu conteúdo e isso potencializa os benefícios. E como tudo isso é mágico: a voz, apenas com entonações mais agudas ou graves, a variação do seu volume e da velocidade podem levar as crianças a reinos mágicos, construídos pela sua própria imaginação. E ainda temos à nossa disposição, para aumentar a magia, desenhos, fantoches, bonecos, teatro de sombras e tantas outras técnicas. Sem dúvida é a mais gratificante, porém a mais trabalhosa. FINALIZANDO Contar histórias é um grande meio de comunicação com crianças, pois histórias são um veículo que podem apoiar importantes mensagens. As histórias dão às situações Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 9 de 72 abstratas (especialmente àquelas que os pais e professores gostariam de transmitir) um contexto simples, lúdico, fácil de entender. Para as crianças envolvidas nesta bolha de magia, as mensagens fazem sentido e, mais do que isso, provocam a reflexão e a absorção do conteúdo. Ler histórias para as crianças é muito desejável, amplia seus horizontes, traz novas perspectivas de vida e instaura o hábito de leitura, porém, contar histórias pode ser um ato mais forte do que ler histórias. Isso porque, quando o contador narra as histórias com as suas próprias palavras, ele dá mais confiabilidade a elas, mostra mais intimidade com o seu conteúdo e cria um vínculo mais forte com os seus ouvintes. E como tudo isso é mágico: a voz, apenas com entonações mais agudas ou graves, a variação do seu volume e da velocidade podem levar as crianças a reinos fantásticos construídos pela sua própria imaginação. E ainda, temos à nossa disposição, para aumentar o encanto, desenhos, fantoches, bonecos, teatro de sombras e tantas outras técnicas. É por tudo isso que as histórias são mágicas e propiciam momentos de encantamento, porque existem crianças, mas também porque existem, e sempre existirão, homens e mulheres “crianças” que gostam de estrelas cintilantes, que se emocionam com coisas simples, que praticam o amor e acreditam em fadas. Códigos: são os signos que compõem a mensagem, um conjunto de sinais estabelecidos por uma regra comum, que têm relação entre si e que fazem sentido. Um código pode ser a linguagem, um sistema de cores, sons. Um código só é eficaz quando é de conhecimento de todos os envolvidos na comunicação (emissor e receptor). Comunicação: deriva do latim “communicare”, que significa “partilhar, participar algo, tornar comum”. É o processo mediante o qual uma pessoa, ou um grupo de pessoas, transmite seus pensamentos para outros utilizando um sistema de códigos. Emissor: aquele de onde se origina a mensagem, quem emite a mensagem. Mídia: a palavra mídia vem da palavra inglesa media, que por sua vez vem do latim, sendo o plural da palavra médium que significa “aquele que está a meio”. Como em inglês soa como “mídia”, “abrasileirou-se” a grafia e ficamos com mídia. Em comunicação, mídia é bem entendida como “aquela que está no meio de Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 10 de 72 comunicação”, porém, de forma usual e rotineira, essa palavra pode designar o próprio suporte (a revista, a televisão), ou mesmo algo que se tornou público quando falamos “está na mídia”. Receptor: aquele que é o destinatário da mensagem, quem recebe a mensagem. Semioticista: aquele que trabalha com semiótica, que é o estudo dos signos. Signos: tudo aquilo que tem significado em uma comunicação. Os signos podem ser palavras, cores, formas, aromas, expressões, enfim, tudo aquilo que é usado por um emissor para dar significado em uma comunicação. O brincar é visto indiscutivelmente como uma atividade para crianças, mas, pensando assim, por que ele é tão pouco usado na educação? As teorias modernas apontam para a construção do aprendizado pelo aluno, para o aluno como protagonista do seu aprendizado e para o aprendizado significativo. Assim, será que a configuração em que os alunos ficam sentados em suas carteiras, ouvindo passivamente os ensinamentos de outrem, traz resultado? Certamente que sim, mas fica a pergunta: trará o melhor resultado? Quando se trata de desenvolvimento pessoal e social, o brincar tem um papel fundamental de colocar a criança no centro da ação, fazer com que ela sinta desafios, teste suas potencialidades, procure fazer alianças com outros aprendendo a conviver. As histórias fazem parte da brincadeira, e se engana quem pensa que as crianças a recebem passivamente, ao vê-las sentadas atentas, quase imóveis, pois, dentro de suas cabecinhas, há um turbilhão de ideias provocado pelo enredo, ideias essas que se juntaram às outras que possuem, gerando uma terceira, e que responderão a indagações e despertarão para novos cenários. As histórias são um verdadeiro “abre-te sésamo” para um mundo encantado do imaginário de cada um, que torna quem as ouve mais experiente e mais forte para viver nesse nosso mundo real. O Valor Educacional das Histórias As histórias são um importante instrumento de ludoeducação. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 11 de 72 A ludoeducação é tida como uma coisa nova, e isso merece alguma reflexão. O brincar não é novo, todos sabem que a criança brinca e o adulto respeita isso, sabendo que faz parte da natureza dela. Agora, o conceito que podemos chamar de novo é o conceito de ensinar por meio do brincar. Autores como Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Froebel esboçaram ideias que, de forma até tímida, já reconheciama importância de aliar esta atração da criança pelo brincar ao ato de ensinar. Do primeiro pensador que refletiu sobre este assunto já se passaram três séculos e ainda existem muitas resistências em se aceitar isso, ainda existe um preconceito muito grande. O jogo se constitui em um fim para a criança, pois dele ela obtém prazer. Para os adultos que desejam usar o jogo com objetivos educacionais, este é visto como um meio, um veículo capaz de levar até a criança uma mensagem educacional. Para Gilles (1998), a criança tem uma necessidade irresistível de brincar, todas as vezes que ele se submete a um jogo com objetivos educacionais ela satisfaz essa necessidade e, ao mesmo tempo, aprende. Segundo Piaget (1994), os jogos funcionam como uma oportunidade de conviver com regras, e este convívio não se limita à aceitação e à obediência, mas também leva à criação de uma normatização e até de uma jurisprudência. O jogo é a maneira natural de as crianças interagirem umas com as outras, vivenciarem situações, manifestarem indagações, formularem estratégias, verificarem seus acertos e erros e poderem, através deles, reformularem, sem qualquer punição, seu planejamento e as novas ações. Devries (1991) indica que a participação ativa da criança em um jogo vai determinar a sua capacidade de envolvimento e, portanto, o seu nível de desenvolvimento. Por essas questões, o jogo em sala de aula tem sido recomendado por diversos autores e tem se tornado prática crescente no ensino infantil e fundamental. Para Gilles (1998), a expressão “jogo educativo” é a conciliação entre o respeito à autonomia da criança, o seu desejo de brincar e a necessidade de continuar a disciplinar o processo educativo. E qual o interesse que o educador tem neste mergulho no mundo lúdico? É que este se apresenta como uma oportunidade de pesquisa, experimentação, troca de ideias, atitudes cooperativas, inferições e deduções, típicas de um ensino ativo, centrado no próprio aluno, tornando-o capaz de construir o seu próprio conhecimento. O papel do professor é preparar este “cenário”, elegendo quais pontos devem ser focados e como abordá-los, seguindo como um agente motivador, às vezes árbitro, mas, principalmente, observador da atuação de cada um para poder compreender cada criança em suas potencialidades e dificuldades. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 12 de 72 E nesta tarefa é importante ter atenção a dois objetivos: primeiro, o jogo tem que ser atraente, do gosto da criança, deve causar verdadeira diversão, e segundo, deve ter um conteúdo educacional de boa qualidade, adequado ao plano de ensino e seus objetivos. Assim, ensinar brincando pode ser muito mais eficiente e produtivo do que os métodos tradicionais e, acima de tantas explicações metodológicas e didáticas, muito simples. Ensinamos crianças e como crianças devemos tratá-las, esta é, talvez, a única forma de sermos totalmente compreendidos por elas. O Jogo e a História A palavra jogo é tida aqui no seu sentido amplo, ela aparece aqui como uma tradução do inglês play, que tem um sentido muito mais amplo do que a palavra jogar tem para nós. Play, além de jogo, significa “tocar um instrumento, dramatizar uma peça teatral, brincar”, poderíamos dizer que é um “faz de conta”. Para Huizinga (2000), o jogo é uma espécie de “bolha lúdica”, um espaço que se abre no cotidiano, onde as pessoas (adultos e crianças) entram voluntariamente e lá vivem situações que têm regras e fins próprios. É um espaço temporário, onde se dá o direito de viver situações inusitadas. Pensando assim, o “faz de conta” proporcionado pelas histórias fica muito bem representado na bolha lúdica, caracterizando as histórias como prioritariamente lúdicas, um espaço maravilhoso onde é permitido sonhar e de onde se pode sair quando quiser, sendo que a única coisa que se pode trazer são as reflexões que nos foram proporcionadas nestes momentos. Ludoeducação é um termo que se origina da junção de duas palavras (lúdico e educação), é como levar a mensagem educacional dentro do lúdico. Bem, para que aqui essa mensagem seja bem recebida ela tem que ser agradável, gostosa, bela, porém, pensando-se somente nisso, pode-se tornar-se um bom recreacionista. Já para ser um ludoeducador, é necessário ter compromisso com a mensagem, ela tem que estar de acordo com os objetivos educacionais propostos por cada um, de acordo com o projeto educativo no qual o programa está inserido, de acordo com a mensagem que cada um julga importante deixar. Enfim, não se pode pensar somente em uma coisa, pois pensando só no lazer não promoveremos a educação e pensando só na educação corremos o risco de fazer algo chato, pouco atrativo. Assim, o ludoeducador contador de histórias deve saber conciliar as duas coisas, ele precisa saber encantar, ter a habilidade para abrir as portas de um mundo mágico e conduzir cada um pela mão, mas também necessita ter compromisso com aquilo que está comunicando. Entendendo as histórias como um meio de comunicação e entendendo que este meio é capaz de comunicar educação, o contador precisa saber que tipo de mensagem educacional sua história Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 13 de 72 está conduzindo, se ela é adequada à faixa etária e aos objetivos educacionais, se ela exprime uma mensagem que bate com seus valores pessoais. Contar histórias sempre é positivo, tem uma série de coisas importantes, mas este momento pode ser potencializado se, através da história, transmite-se um valor, um modo de vida, um exemplo a ser seguido. Assim, quando o contador de história se envolve com a mensagem que está transmitindo e, principalmente, quando procura usá-la como uma ferramenta educacional, ele deixa de ser um mero transmissor e passa a ser um intérprete, adiciona à obra a sua pessoalidade, com seu modo de ver a vida, sua visão do futuro, seus valores. Podemos fazer um paralelo com a figura do cantor, aquele a que se chama intérprete, que canta uma música cuja letra já está pronta, foi feita por outro. Ele escolhe para cantar a música que coincide com aquilo que ele gostaria de dizer e com sua forma de cantar, mais contida, mais apaixonada, mais solta ou mais moderna, emprestando a sua pessoalidade à canção. Da mesma forma é o contador, ele escolhe a história, com cuidado, para encontrar a “sua história”, certamente fruto de boas pesquisas, e a ela ele dá a sua interpretação, manda a sua mensagem. Os Valores Educacionais das Histórias 1. As Crianças Gostam Parece muito simples usar este argumento, porém, é bom pensar um pouco nele. Quando se fala em comunicação, a busca é por um veículo adequado ao público-alvo, capaz de atrair este público. Assim, o fato de as crianças gostarem de ouvir histórias vai fazer com que estas sejam um meio de comunicação privilegiado com as crianças. E isso todo contador pode atestar, pois no momento que ele fala “eu vou contar uma história”, imediatamente as crianças abrem os ouvidos e ficam com os olhos encravados nele, esperando ansiosas, e este é o momento que ele, além de encantar, pode passar uma mensagem importante para este público, o que dará exatamente o mesmo trabalho. Outro fator importante é que o fato de as crianças gostarem de ouvir histórias abre um importante canal de afetividade, não é a criança que precisa “crescer” para entender o adulto, é o adulto que vai até ela: senta-se no chão, põe um chapéu de fada, de pirata, engrossa a voz, dá risadas esganiçadas. Ele é um amigo da criança, que entende a “sua língua”. Quanto maior a afetividade, mais confiança, mais diálogo e mais oportunidades de educação. 2. A Variedade de Temas é Praticamente InesgotávelGostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 14 de 72 Tomando-se as histórias como um meio de comunicação, que tipo de comunicação se deseja passar? Uma visão esperançosa? Valorizar determinada cultura para minimizar uma situação de discriminação vivida na classe? As histórias fornecem um repertório variado para se trabalhar com os mais diversos aspectos educacionais, e a quantidade de livros que temos à nossa disposição se torna uma encantadora fonte de pesquisa para aquele que acredita na importância do seu trabalho. E, caso alguém não encontre a história apropriada, o que seria muito difícil, não tem importância, ele poderá criar suas próprias histórias e através delas encaixar exatamente aquele recado que gostaria de dar, de uma forma que a criança possa entender. 3. Pouca Exigência de Recursos Materiais As histórias são um meio de comunicação que usa a mídia primária. Por mídia primária, entendemos o uso do próprio corpo, tanto do emissor como do transmissor. É evidente que, para contar uma história, pode-se usar um fantoche, um bocão, pode-se ter um teatro, uma verdadeira parafernália de coisas, as crianças vão gostar, mas a base central é o contador, sozinho. Então, de uma escala de 0 a 10 de satisfação, em que se atinge 10 com um fantoche, pode-se alcançar 9 sem nada, somente o contador com o seu corpo, sua voz, sua expressão facial e corporal. E é claro que se deve levar em consideração o repertório que cada contador tem, a forma como ele sabe organizar a sua mensagem. Isso será extremamente útil e estará sempre “à mão” em todos os momentos, inclusive naqueles em que não se sabe o que falar, nos momentos de grandes alegrias, momentos difíceis que as palavras faltam, nos quais afloram sentimentos profundos, abstratos e difíceis de se comunicar. O Desenvolvimento que todas as Histórias Propiciam No livreto A história como meio de comunicação, escrito por Vania Dohme, em 2003, a autora afirma que toda história, contada seja de que forma for, acarreta um desenvolvimento educacional na criança, seja pela mensagem específica que encerra, seja pela atenção e exercício do imaginário que ela provoca. Nas suas palavras: “De forma genérica, as histórias contribuem com diversos aspectos da formação de crianças e de jovens. Esses aspectos podem variar de intensidade de uma história para outra” (DOHME, 2003, p. 13) e continua estabelecendo que, de maneira geral, todas as histórias propiciam o desenvolvimento dos seguintes aspectos: • Atenção e raciocínio. • Senso crítico. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 15 de 72 • Imaginação. • Criatividade. • Afetividade. Vejamos cada um deles. Atenção e Raciocínio Como já foi trabalhado por Eco (2004), a competência que a criança tem para entender uma história é limitada, dado o seu baixo poder de concentração, mas, como gostam de histórias, ficam mais motivadas e com isso desenvolvem sua capacidade de atenção. Mesmo que com um enredo muito simples, ela será desafiada a deduzir o que virá a seguir - qual desfecho está por vir? Outro fato importante é que a relação de causa e efeito, como ensina Piaget (1994), ainda está em amadurecimento nessa fase, assim, os enredos provocam o exercício de estabelecer essa relação, pois “se o ratinho fosse por outro caminho não encontraria o gato...”, mas, uma vez que o encontrou, “teve que se disfarçar para não ser caçado...”. Como diz Dohme (2003, p. 13). As histórias têm o poder mágico de prender a atenção das crianças. Isso por si só já é um exercício, mas as histórias provocam muito mais do que isso. As crianças acompanham os fatos e fazem conjecturas: como será que o herói se saíra dessa situação? Será que o ratinho, por gostar somente de queijo, rejeitará o chocolate? A princesa encontrará o príncipe e será feliz novamente? Ao tomarem conhecimento do desfecho do enredo, irão compará-lo com as suposições que fizeram. Isso fará com que elas exercitem a relação de causa e efeito, que faz parte do seu amadurecimento. É de se notar que as crianças gostam de ouvir a mesma história várias vezes, e a explicação está ligada ao fato de que ela quer ter certeza de que entendeu bem, de que as consequências de cada fato narrado continuarão sendo iguais, “elas querem ter certeza de que o mal foi derrotado e de que tudo acaba bem no fnal” (DOHME, 2003, p. 13). Senso Crítico O senso crítico é uma capacidade importante para a participação na comunidade e para o próprio desenvolvimento, mas do que se trata? Ter senso crítico é ter uma opinião própria sobre os fatos que nos cercam, é ter a capacidade de analisar os prós e contras de cada situação, o que está de acordo com os seus princípios e o que não está, enfim, é tomar decisões fundamentadas em suas próprias convicções. Isso nem sempre é fácil, pois vivemos em uma sociedade massificada, com muitas informações se cruzando, dizendo “o que devemos fazer” ou “o que não devemos Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 16 de 72 fazer”, o que devemos comprar, assistir, comer, ouvir e assim por diante. E como as inocentes histórias podem nos ajudar a desenvolver o senso crítico em nossas crianças? É muito simples, as histórias dão contextos a situações que podem ser discutidas com as crianças fazendo com que elas vejam as situações sob outros pontos de vista. Dohme (2003, p. 14) explica isso muito bem: As crianças pequenas ficaram encantadas quando Cinderela apaixona-se imediatamente pelo príncipe. Mas, as mais velhas poderão ser questionadas se somente o fato de ser bonito, rico e poderoso é suficiente para alguém se apaixonar. E será que o Patinho Feio não seria mais feliz continuando feio, porém filho de sua mãe pata e irmão dos patinhos, do que se transformar em um cisne belo, no entanto sozinho? Quando o professor escolhe a história de acordo com a mensagem que deseja transmitir, não tem qualquer dificuldade em abordar esse contexto de forma mais ampla, após o término da história, forçando a reflexão. Mas, cuidado! Não tente interpretar pelas crianças, somente as provoque a pensar! Deixe que troquem opiniões entre si, jamais direcione e lembre-se sempre de que a maturidade do adulto é bem diferente da maturidade das crianças, o importante é que elas reflitam. Creia, essas conclusões poderão vir muitos anos depois. Imaginação Quem escreve uma história utiliza signos, que podem ser palavras ou imagens que tenham o poder de serem “reconhecidos” pelas crianças. E como se dá esse reconhecimento? Ele se dá quando a criança tem uma imagem mental, um registro em sua mente que corresponde àquela palavra ou imagem que lhe foi dita. Mas a narrativa pode trazer elementos novos que ela vai construir em sua mente, ampliando, assim, a sua imaginação, por exemplo: uma criança pode não ter estado em um castelo, mas a descrição de um deles vai fazer com que ela o desenhe na sua mente, passando agora a ter o seu registro. À medida que ela vai tendo contato com algo similar, que não precisa ser exatamente um castelo, mas apenas algo que o componha, como uma escadaria, um tapete ou um lustre suntuoso, ela vai redesenhando o “seu” castelo e, consequentemente, aumentando seus registros mentais. E assim as histórias vão aos desertos, navegam embaixo do mar com os peixinhos e vão até além das nuvens, visitam outras culturas, podendo ir ao passado e ao futuro. “A descrição detalhada fará com que o ouvinte sinta o cheiro das flores, visualize a Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera– Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 17 de 72 grama verdinha e se encante com o cavalo alado que dorme sossegadamente” (DOHME, 2003, p. 15). Dohme (2003) alerta que esse detalhamento não deve ser exagerado, ele deve apenas sugerir, deixando que o ouvinte complete os detalhes com suas próprias referências. Criatividade Uma imaginação rica em referências facilitará a criação de novos cenários. Por exemplo, uma história apresentou às crianças um Pégaso, que é um cavalo fantástico que voa, no caso, um cavalo alado na cor azul, salpicado de estrelas douradas. Assim, por que não será possível uma tartaruga alada na cor lilás com bolinhas amarelas? A formação de um repertório mental é algo que acontece espontaneamente em toda narrativa de uma história, mas os educadores podem tirar um pouco mais de proveito dela no desenvolvimento da criatividade pedindo para que as crianças deem um retorno por meio de um desenho, um trabalho manual ou uma apresentação teatral. A história fornece um contexto e está presa, contida, na mente de cada criança; no momento em que pedimos esse feedback forçamos que ela reflita sobre os conteúdos apreendidos e procure formas de exteriorizá-los. Fazer esse trabalho em grupo pode ser até mais proveitoso, uma vez que as crianças compartilham as imagens mentais que apreenderam, que certamente serão diferentes, o que fará com que todos ampliem os seus registros individuais. Após ouvirem uma história, podemos pedir a elas que façam um desenho da cena de que mais gostaram, ou a modelem em argila. Um grupo de crianças poderá representá-la ou, mesmo, ser convidado a fazer a sua continuação. Será necessário criar o roteiro, fazer o cenário, o figurino. Situações que ficariam difíceis de serem pedidas aleatoriamente, mas que ganham sentido dentro de uma história que acabou de ser contada (DOHME, 2003, p.15). O nosso livro-texto (DOHME, 2013) traz uma importante experiência para ser feita com as crianças, que exercita a criatividade de cada ouvinte e dá mostras preciosas para o educador de como os registros mentais são diferentes para cada pessoa. Trata- se da história Urso do final do arco-íris. Ela conta a trajetória de um grupo de pessoas em uma floresta, os ouvintes escutam a narrativa com os olhos fechados e são usados efeitos especiais para incitar mais. FINALIZANDO Na marcha cultural do homem, os mais velhos debatem-se em deixar suas vivências aos mais novos, suas experiências, pois querem ensiná-los a viver. Com o pretexto de educá-los, os mais velhos querem fincar nos seus descendentes seus valores, mas Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 18 de 72 como ensinar valores para crianças, que ainda têm um precário sistema de raciocínio abstrato? As histórias aparecem como uma solução, elas contextualizam esses valores com um exército de auxiliares: fadas, gnomos, bruxas, bonecas e animais, que emprestam seus corpos, suas falas e suas emoções para lhes dar sentido. Nesta situação, a história passa a ser o signo de mensagens que os mais velhos querem transmitir às crianças. O “contador de histórias” usa deste signo para ensinar, acalentar, encantar. Criatividade: é a capacidade de se expressar, de encontrar métodos, fazer objetos ou executar tarefas de uma maneira nova ou diferente da habitual, com a intenção de satisfazer um propósito. A criatividade envolve sempre o conceito do novo, mas é fruto do remanejamento de registros que o criador já possui. Imagens mentais: são os registros que cada um conserva em sua mente, que significam tudo o que conheceu e guardou em sua memória. Podem ser de uma pessoa ou lugar, mas também pode ser uma cor, um aroma, um som. Imaginação: é a capacidade mental para relacionar, criar, inventar ou construir imagens mentais. Lúdico: suas raízes etimológicas estão na palavra latina ludos, que pode significar “jogo, brinquedo”. Em geral, refere-se a toda atividade que tem um fim em si mesmo, diferente do cotidiano, com regras próprias e que promove interação voluntária. Ludoeducação: é a atividade lúdica que encerra um objetivo educacional. Os participantes, à medida que jogam, brincam e realizam experiências que são assimiladas e passam a fazer parte do seu conhecimento. Em outras palavras, é a construção do conhecimento por meio da atividade lúdica. Senso crítico: é a capacidade de fazer análises do seu entorno e ter uma opinião sobre ele. Está relacionado a ver os acontecimentos do mundo de forma aberta, sem se ater a paradigmas, estar atento a outros pontos de vista para, após essa colheita de diversas ideias, formar o seu próprio conceito sobre o assunto. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 19 de 72 Existe uma infinidade de mensagens possíveis de serem transmitidas em uma comunicação, portanto existem infinitas histórias que podem ser veículos dessas mensagens. E como se não bastasse, uma história pode ter várias formas de ser apresentada; algumas são mágicas, outras sensatas, outras causam medo e, é claro, a mensagem é absorvida de maneira diferente de acordo com cada uma dessas variações. É sobre isso que trata esse tema, conheceremos formas de classificação das histórias e como cada uma delas tem impacto nos seus ouvintes. Conhecer em qual classificação a história se encaixa ajuda também a definir a faixa etária que melhor irá absorver o seu conteúdo, como também dar dicas de como fazer a narração e utilizar os recursos auxiliares. A divisão clássica aponta para dois grandes grupos: histórias de fadas e fábulas, que são profundamente diversas no seu impacto comunicacional e a forma que a criança irá absorver o seu conteúdo, e a influência que ela terá em seu comportamento e forma de pensar. Classificação das histórias A literatura infantil surgiu da tradição oral de todos os tempos e de todas as épocas. Gillig (1999) conta que somente no final do século XVII é que a literatura infantil floresceu. Charles Perrault, na França, publicou em 1697 os seus contos da Mãe Gansa, descrevendo em versos os contos oriundos da tradição popular. Figura 3.1 – Charles Perrault Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 20 de 72 Na Alemanha, em 1812, os irmãos Grimm lançaram Kinder und Hausmärchen, com oitenta e seis contos coletados da cultura popular. O objetivo principal dessa iniciativa foi manter viva a poesia popular alemã e não, como é comumente dito, escrever histórias para crianças. Figura 3.2 – Irmãos Grimm O dinamarquês Andersen é considerado o primeiro escritor para crianças, tanto que o dia do seu nascimento, 2 de abril, é considerado o dia internacional do conto infantojuvenil, isto porque, embora posterior a Perrault e aos irmãos Grimm, é de sua criação a maioria dos contos que escreveu. Não obstante, há muita semelhança nos contos dos quatro autores; giram em torno de seres fantásticos, enfrentam malefícios e sempre têm desfechos felizes. Figura 3.3 – Hans Christian Andersen Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 21 de 72 Os autores que lhes sucederam são chamados por Gillig (1999) de “autores de contos modernos”, isto porque, esgotada a maioria das possibilidades de transcrições da cultura oral, esses autores partiram da sua própria imaginação e vivências para criarem suas histórias, sem, contudo, perderem as características principais dos contos de fadas.Dentre tantos outros, são eles: o italiano Collodi (1826-1890), que escreveu Pinochio; o inglês Lewis Carrol (1832-1898), de Alice no País das Maravilhas; o escocês J. M. Barrie (1860-1937), de Peter Pan; o americano L. F. Baum (1856-1919), de O Mágico de Oz; o inglês (nascido na África do Sul) Tolkien (1892- 1973) e seu amigo irlandês C. S. Lewis (1898-1963), da maravilhosa série Crônicas de Nárnia, e por que não falar da britânica J. K. Rowling (1965- ), criadora do formidável Harry Potter? Na verdade, o ponto de união dessas histórias de fadas não é a data de sua criação, mas o enredo fantástico, o que as difere de uma história como Robinson Crusoé ou das aventuras de Tom Sawyer. Fortemente contrastando com os contos de fadas estão as fábulas. Figura 3.4 – Esopo Atribui-se a Esopo, uma figura mais lendária do que histórica (que teria vivido há seis séculos a.C.) e, posteriormente, a Fedro (século I D.C.), a ideia de usar as fábulas para transmitir situações de relacionamento dos seres humanos, encerrando lições e ditames de comportamento de uma forma velada, protegida pelo fato de os protagonistas serem animais. Isso fica mais claro ao se saber que ambos eram escravos alforriados; assim, é fácil imaginar que eles usariam desta liberdade para transmitir mensagens aos demais escravos, usando os animais como proteção. Foi graças a La Fontaine (1621-1695) que as fábulas chegaram até os dias de hoje, e este Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 22 de 72 não as usou com outro objetivo. Plebeu frequentador da corte e vivendo na França em uma época de grande injustiça social, as fábulas eram um meio de falar verdades de forma alertadora e segura. A característica das fábulas se difere muito daquelas dos contos de fadas: nas primeiras, os personagens apresentam nuances de personalidade, encerrando muitas vezes estereótipos facilmente reconhecíveis e associáveis às personalidades humanas. É o caso da raposa e do lobo, ambos têm características agressivas e comem as presas de menor porte, geralmente, os carneirinhos. O lobo tem uma aparência que o declara imediatamente como perigoso, enquanto que a raposa, com aparência serena, não delata essa condição. Os pobres carneirinhos devem temer mais as raposas, pois quando se trata de lobos, elas podem detectar a ameaça e se protegerem, o que não acontece com um ataque de raposa. As analogias com pessoas do dia a dia são muito comuns e fáceis de serem feitas. Figura 3.5 – Jean de La Fontaine As fábulas acontecem em um ambiente isento de pressões externas, porque o objetivo é evidenciar as relações entre os personagens. Outro fator muito marcante é que as fábulas encerram relações sociais, geralmente apontando para decisões astutas e valorosas. Assim ficam claras as profundas diferenças entre os contos de fadas e as fábulas, o que sugere uma classificação, que não é fácil e tampouco é unânime na literatura. Em 1910, o finlandês Aarne desenvolveu um sistema de classificação dos contos de fadas que identifica os textos segundo unidades temáticas, baseado nos contos finlandeses, dinamarqueses e alemães; em 1928, Thompson ampliou e completou o sistema de classificação e, quase 40 anos depois, em 1968, Thompson encarregou-se da terceira edição, ampliando muito a catalogação, que hoje é conhecida como “Aarne/Thompson”. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 23 de 72 Matos (2015), no ensaio “Vladimir Propp e a morfologia narrativa” faz menção ao estudo: Este, que foi o primeiro catálogo sistemático dos contos, é usado até hoje como índice de classificação pelos estudiosos (o conhecido “Aarne-Thompson classification system”) e caracteriza o seu vasto repertório de contos (2.340 na edição de 1929, ampliados para 2.500 na edição de 1961) a partir de motivos ou temas, o que permite agrupá-los em sete grandes categorias: contos de animais (1–299), contos de magia (300-749), contos religiosos (750-849), contos românticos (850-999), contos de ogros estúpidos (1.000-1.199), brincadeiras e anedotas (1.200-1999), contos acumulativos (2.000-2.400), contos inclassificáveis (2.401-2.500). Gillig (1999) sugere outra divisão em: contos maravilhosos, narrativas, míticos e lendas, em que a maioria dos personagens possui uma natureza humana e sub- humana. Para este autor, a narrativa mítica relata feitos de personagens com poderes quase divinos, incomuns aos mortais. A lenda relata feitos de personagens que realmente existiram, com características de tal notoriedade, que se perpetuaram no tempo; os poderes sobrenaturais seriam fruto do imaginário de seus narradores devido à idolatria por tais feitos grandiosos. O conto se destaca dos outros dois gêneros pelo seguinte: O mais provável é que “os mesmos arquétipos”, ou seja, as mesmas figuras e situações exemplares – apareçam indiferentemente nos mitos, nas sagas e nos contos. Mas tanto no primeiro quanto no segundo caso, o herói acaba tragicamente, ao passo que no conto o desfecho quase sempre vê o herói ter êxito em sua aventura (GILLIG, 1999, p. 26). E o que é uma fábula? pergunta ainda o autor de O conto na psicopedagogia. ”Um relato também imaginário, colocando em cena animais que falam e que servem de ilustração a preceitos morais” (GILLIG, 1999, p. 26). Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 24 de 72 Vladimir Propp é um conhecido estudioso dos contos de fadas e, no livro Morfologia do Conto Maravilhoso, cita o trabalho de Aarne, e muitas vezes o critica, e classifica as histórias em três divisões fundamentais: “1 - Contos de animais; 2 - Contos maravilhosos propriamente ditos e 3 - Anedotas” (PROPP, 2006, p. 13). Esta é uma divisão bastante razoável que, levando-se em consideração tudo o que foi exposto, é ela que adotamos para essa disciplina, considerando como “Contos de Fadas” todas as histórias de cunho fantástico, maniqueístas, que envolvem magia e encantamento e que sempre terminam com um final feliz. Como fábulas, entendem-se as histórias de animais que falam e que envolvem conceitos socioculturais. Uma vez que estes dois tipos são os mais usados com crianças, apreciados e que trazem um grande potencial educacional, que é o nosso principal escopo. As histórias e a cultura As histórias, conforme demonstrado inicialmente, refletem uma cultura, isto porque são criadas pelas influências, necessidades do povo de uma determinada cultura. Porém, se com o passar de centenas e centenas de anos e contadas para os mais diferentes povos elas continuam com as mesmas características e valores, é difícil dizer por que elas não se alteram sob o impacto da cultura de cada época e região. Isto ocorre porque os contos de fadas tratam de valores profundos que são comuns a todas as pessoas, em qualquer situação e em qualquer época. Propp (2002) dá como exemplo o príncipe que sempre sai em busca de sua noiva, longe, mencionando que será um reflexo da imposição da busca por um companheiro, necessidade comum a todo o ser humano. Não fosse assim, como seria possível explicar o surgimento de histórias tão semelhantes em diversas partes do mundo incomunicáveis no amanhecer da civilização? Marie von Franz relata que “existem indícios de que alguns temas principais de contos se reportam a 25.000 anos a.C., mantendo-se praticamente inalterados (2003, p. 12). A explicação que Marie von Franz tem para a identidade de enredos surgidos em pontos distantes de tempo e espaço é que “contos de fadas são as expressões mais simples de processos psíquicosdo inconsciente coletivo. Eles representam os arquétipos na sua forma mais simples, plena e concisa” (2003, p. 9). E manifesta-se de forma muito semelhante a Propp: Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 25 de 72 Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado, obtêm-se as estruturas básicas da psique humana através da grande quantidade de material cultural. Mas nos contos de fada existe um material culturalmente muito menos específico e, consequentemente, eles oferecem uma imagem mais clara das estruturas psíquicas (2003, p. 9). Assim, se os contos de fadas estão ligados às estruturas da psique, estas estão ligadas à natureza do ser e, portanto, pouca influência sofrem da cultura. O consagrado psicólogo Bruno Bettelheim consolida este pensamento: Essa é exatamente a mensagem que os contos de fadas transmitem à criança de forma variada: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana – mas que se a pessoa não se intimida e se defronta resolutamente com as provocações inesperadas e muitas vezes injustas, dominará todos os obstáculos e ao fim emergirá vitoriosa (BETTELHEIM, 2007, p. 15). Para finalizar a questão, Franz afirma: “A linguagem dos contos de fada parece ser a linguagem internacional de toda espécie humana - de idades, raças e cultura” (2003, p. 35). Outro ponto importante a ser considerado ao se falar na influência da cultura nos contos de fadas é inspirado em Gillig (1999), ao chamar de contos modernos aqueles escritos por autores que sucederam aos irmãos Grimm, Perrault e Andersen. A resposta parece ser o fato de que os Grimms e Perrault, ao transcreverem as histórias, e mesmo Andersen, ao buscar inspiração, estavam coletando dados de fontes populares frutos de uma composição coletiva, o que faz supor que o elo dessa pluralidade de autores são os sentimentos, emoções e temores inerentes à natureza dos seres humanos. Os autores chamados modernos precisaram beber da sua própria imaginação para criar enredos inusitados, fruto de suas vivências atuais, portanto muito mais submissos às influências culturais. Este raciocínio autoriza dizer que quanto mais recente é a criação das histórias, mais ela sofre a influência da cultura e mais complexidade há em seu enredo. Diferentemente dos contos de fadas, as fábulas sofrem diretamente influência da cultura. Tomando as fábulas, conforme defne Gillig (1999), como ilustradoras de aspectos morais da sociedade, elas se diferem dos contos de fadas por sofrerem forte influência da cultura. Um exemplo claro da influência da cultura nas fábulas está na cigarra e a formiga; esta trabalha no verão, enquanto a cigarra só canta. No inverno, a formiga tem a sua casa segura e cheia de alimentos, enquanto que a cigarra está desabrigada e com fome. Ao pedir auxílio à formiga, a cigarra recebe uma negativa e acaba morrendo de inanição e frio. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 26 de 72 Contada por La Fontaine, na França do século XVII, a orientação que deveria ser dada às cigarras é: trabalhem! Não se deixem seduzir pelos prazeres trazidos pela luz e pelo calor, pois se não se cuidarem, quando precisarem não terão auxílio de ninguém. Duzentos anos depois, em 1930, no Brasil, Monteiro Lobato, através da Dona Benta, conta a mesma fábula às crianças. Emília, eterna contestadora, reclama e chama a formiga de má. Em uma época que clama por igualdade social, a solidariedade aflora e a fábula “A cigarra e a formiga” é modificada por Dona Benta, tendo ambas, a cigarra e a formiga, o mesmo comportamento no verão. No inverno, a cigarra, ao bater na porta da casa da formiga, é acolhida com prazer, e a fábula termina com a cigarra cantando para a formiga em forma de agradecimento. Millôr Fernandes completa o raciocínio desejado para esta exposição ao narrar a sua fábula, de maneira idêntica para o comportamento das duas personagens no verão, porém, surpreendendo, quando dá à cigarra um convite para estrelar na Broadway no inverno brasileiro. A história se torna aqui uma ironia à indústria cultural. Figura 3.6 – A cigarra e a formiga Assim, as fábulas têm uma maior complexidade do seu enredo, mais próximo da vida real. Esta é uma das razões que explica o porquê de as histórias de fadas serem mais bem compreendidas pelas crianças pequenas e as fábulas pelas crianças maiores, que melhor articulam o raciocínio lógico. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 27 de 72 FINALIZANDO Por todas essas razões, as histórias são uma mídia privilegiada para se comunicar com crianças das mais diversas maneiras. Através das histórias, pode-se viajar para o presente, para o futuro e, também, para o passado. Pode-se ficar bem pequeno e visitar os seres microscópicos, como também, se tornar gigante e ver o mundo de uma maneira mais ampla. Pode-se viajar sobre as nuvens e sob as águas, visitando o magnífico reino aquático. E os mais diversos assuntos podem ser abordados. Com elas se pode falar de esperança, de coragem, de felicidade, de desafios; com elas se pode sonhar com um mundo mais que encantado, com um mundo melhor. Arquétipos: Segundo Jung, são um conjunto de impressões pertencentes ao inconsciente coletivo. Ou seja, pertencente a todo o ser humano. Eles representam modelos de comportamento. Os arquétipos estão, portanto, nos bastidores de todos os nossos pensamentos, sentimentos, emoções, intuições, sensações e atitudes. Os símbolos arquetípicos são encontrados nos mitos originais, nas mais variadas religiões, em lendas que já fazem parte da bagagem cultural coletiva, os quais marcam definitivamente a consciência e particularmente a esfera do inconsciente humano. Alguns destes arquétipos: a figura materna, a imagem do pai, a criança, o herói, o divino, entre outros. Complexidade: É quando uma situação envolve muitos fatores que tornam o seu entendimento complicado. Ela pode exigir o entendimento de várias áreas do conhecimento para poder ser entendida por completo. Cultura: É um termo que tem diversos sentidos em vários níveis de profundidade e é aplicada a diversos ramos do conhecimento. Para as ciências sociais, reflete o movimento dos homens na produção do saber, da arte, dos costumes e do folclore. Em sociologia, é tudo que é aprendido e partilhado num determinado grupo de indivíduos, o que lhes dá identidade. Escravos alforriados: Diz-se daquele que era propriedade de um senhor e vivia ao seu mando, sendo posteriormente libertado formalmente. Estereótipo: São tipos definidos por meio da classificação das pessoas de acordo com seu comportamento, sua aparência, seu jeito de falar. Uma vez formado um Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 28 de 72 estereótipo, ele se aplica a qualquer pessoa que apresentar um dos elementos que compõem o tipo. Por exemplo, alguém que tem uma tatuagem pertence ao estereótipo de pessoa descolada, que não obedece às leis e que tem uma vida alternativa. Isso não corresponde à verdade, porque as pessoas são muito diferentes entre si, portanto o uso de estereótipos na vida real não é desejável. Psique: relacionada com a psicologia, e começou a ser usada com a conotação de mente. Refere-se ao conjunto dos processos psíquicos, ou emoções humanas registradas de forma consciente (que são percebidos) e inconscientes (que não são percebidos). O valor educacionalde uma história está na mensagem que ela passa, ela constitui o cerne da comunicação. As histórias dão contexto àquilo que se gostaria ou que se necessita dizer e nem sempre se sabe como. Por outro lado, elas despertam sensações, aguçam habilidades, desenvolvem o senso crítico, a imaginação, a criatividade mesmo sem o narrador perceber. Assim, se o narrador se der conta deste potencial poderá direcionar a comunicação, potencializar a mensagem, dando ênfase aos pontos que julga mais importantes ou que são mais interessantes para o momento, podendo fazer suas próprias complementações. O estudo detalhado da história irá possibilitar que se dê atenção a cada um de seus tópicos, ressaltando algum detalhe que poderia ter passado despercebido. Esse detalhamento também irá ajudar no timing da narração e na escolha dos recursos auxiliares. De forma bastante objetiva, Tahan (1961) evidencia a importância do estudo da história: O narrador que hesita, interpolando reticências inúteis entre os períodos, pode sacrificar, por completo, o êxito da narrativa. As hesitações decorrem de certas dúvidas, de pequenas falhas e as dúvidas não aparecem para aquele que conhece com “absoluta segurança o enredo”. Aquele que tiver a insensatez de tentar a narrativa de uma história, sem dominar com precisão o enredo, praticará uma leviandade (TAHAN, 1961, p. 30). A Escolha da História Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 29 de 72 O primeiro passo para um educador que usa as histórias como meio (ou para um contador que, além de encantar, quer se comunicar) é a escolha da história. É comum cada contador ter o seu próprio repertório, no qual se encontram as histórias que “dizem aquilo que ele gostaria de dizer”, que contêm mensagens nas quais ele acredita e que julga importantes. Normalmente o contador leva para este acervo as histórias que o encantam, que têm elementos capazes de seduzi-lo, de incitar a sua imaginação. Esta é a única maneira possível de seguir os ensinamentos de Tahan (1961) para “emocionar-se com a própria narrativa”. Atribuindo-se poder às histórias e entendendo este poder como capacidade privilegiada de se comunicar com crianças, pode-se concluir que as histórias certas são um “tesouro”, e este tesouro não irá “cair dos céus” como uma dádiva. Para ter um tesouro, é preciso garimpar. E nesse garimpo, as “joias” não são iguais: cada uma tem um valor específico a determinada pessoa. As pessoas são diferentes, têm valores próprios que lhes são mais significativos, têm a sua própria visão de futuro, de transformação, cada qual com o seu script de vida entende de forma diferente a “marca” que sua passagem quer deixar no mundo. Betty Coelho é clara em relação à escolha da história que se irá contar. Para ela, além da óbvia necessidade de se adequar a história ao gosto de quem irá ouvi-la, é preciso que a escolha recaia sobre uma determinada história: Às vezes leva-se algum tempo pesquisando em livros e revistas até se encontrar a história adequada à faixa etária adequada e que atenda aos interesses dos ouvintes e ao objetivo que a ocasião requer. É preciso também considerar o estilo do narrador. A história é o mesmo que um quadro artístico ou uma bonita peça musical: não poderemos descrevê-los ou executá-los bem se não o apreciamos. Se as histórias não nos despertarem a sensibilidade, a emoção, não iremos contá-las com sucesso. Primeiro é preciso gostar dela, compreendê-la, para transmitir tudo ao ouvinte. Quando me interpelam nos cursos de treinamento dizendo: Não gosto de contar histórias tristes, que devo fazer? A resposta óbvia é: “Não as conte. Escolha o que gosta de contar” (COELHO, 1986, p. 14). E isto é muito mais significativo no adulto que entende sua missão como a de ser transmissor de cultura aos seus descendentes. Nesta lide, cada um escolhe, já escolheu ou escolherá qual é o papel que deseja desempenhar na vida de seus pequenos ouvintes, e este papel inclui escolher as mensagens, as suas próprias mensagens, e verificar se elas estão nas histórias, nas histórias escolhidas que fazem parte do seu acervo. Idade Adequada Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 30 de 72 É difícil determinar em termos precisos qual é a idade adequada para uma dada história. Nosso livro base, na página 25, traz algumas dicas, e alguns livros infantis trazem indicação da faixa etária adequada, mas o principal é a sua percepção: observe a reação da sua plateia e vá “afinando” a faixa etária que mais se diverte e aproveita as mensagens educacionais da história. É importante ressaltar que não é somente a história que determina a idade de seu público, mas também a forma como ela é contada. Sendo que pode haver adaptações simplificações ou aprofundamento de acordo com a maturidade e outras características específicas das crianças. Componentes de uma História Faz parte do estudo de uma história o conhecimento aprofundado dos seus componentes principais, dentre eles, os mais importantes são os personagens, aqueles a quem se atribui as vivências que irão compor toda a trama. Posteriormente, é importante compreender o local onde a história ocorreu, uma vez que ele irá influenciar os fatos, e também a sua descrição, que irá ajudar os ouvintes na compreensão do enredo. O estudo do local será preponderante para que o contador preveja quantos cenários irá utilizar, o que é absolutamente necessário quando estiver usando recursos auxiliares, mas não é descartado quando se está apenas narrando a história, pois o contador, tendo em vista o número de “cenários” que são necessários para causar melhor compreensão da história, usa-os para estruturar a sua narrativa. Algumas histórias estão ligadas a uma determinada época e sofrem influências culturais, identificadas por determinados aspectos presentes na história que, muitas vezes, explicam e justificam certos fatos, e que indicarão o que deve ser esclarecido aos seus ouvintes, promovendo uma melhor compreensão e uma maior contribuição cultural ao processo de comunicação focado na contação de histórias. Malba Tahan (1961) ensina, para este aspecto em particular, que se deve “verificar se a história exige, para ser contada, alguma explicação prévia” e dá um pitoresco e delicioso exemplo: Pode acontecer que no enredo da história apareça alguma alusão a um nome (moeda, planta, acidente geográfico, estrela, animal exótico, etc.) que os ouvintes desconheçam. Em certos casos é interessante elucidar previamente o auditório: “Vou contar, para vocês, uma estranha aventura ocorrida em Itaberaí. Itaberaí é uma próspera e pitoresca cidade de Goiás. A palavra Itaberaí significa ‘rio das pedras que brilham’. Essa cidade...” (Seguem-se as indicações curiosas sobre a cidade que vai servir de cenário para a narrativa) (TAHAN, 1961, p. 53). Personagens Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 31 de 72 São os elementos mais importantes da história. É preciso entender quem são e qual a importância de cada um deles. Toda história é composta de personagens principais, secundários e supérfluos. Os personagens principais são aqueles que têm importância vital na história, sem eles ela não aconteceria. Toda história tem como personagens principais um herói e um vilão. Muitas vezes o personagem do herói é duplo, apresentando o masculino e o feminino. Assim, deve-se entender quem são eles para poder dar-lhes uma ênfase maior. Este destaque será dado na narração, em que se deve dar maiores detalhes da sua personalidade, da sua aparência física, da suavestimenta. Se a história for narrada com recursos auxiliares, como fantoches ou marionetes, esses personagens deverão ser os mais elaborados e não poderão jamais faltar. É importante que o narrador saiba mais dos personagens do que ele irá descrever, ele deve imaginar como é o seu porte físico, seu tom de voz e sua personalidade, isso fará com que seja mais fácil dar colorido em cada passagem que o personagem está envolvido, como também imaginar como seria a reação do encontro do herói com sua amada ou com o terrível vilão. O autor de Ouvidos dourados, o famoso contador de histórias Jonas Ribeiro, tem uma opinião sobre o assunto: Pode até parecer estranho ficar pensando na cor do vestido da princesa, viajando no dorso do cavalo Rondó e ficar experimentando a garra do leão, o bigode do cão, a pena de águia e a patinha da formiga. E daí? Não importa quão estranho isso possa parecer, importa sim que esse brincar com a história faz parte do ofício do contador de histórias. (RIBEIRO, 2001, p. 80) Os personagens secundários também são importantes, costuma-se dizer que são o amigo do herói e o inimigo do herói, ou o amigo do vilão. Sua importância está no fato de que eles dão sentido às falas dos personagens principais e é através do diálogo com seu amigo que se conhece as intenções do herói ou os planos do vilão. Usar ou não os personagens secundários, vai depender das condições, porém, a estes se dará sempre menor ênfase, mesmo porque isso será importante para o entendimento da história. Se o narrador dedicar o mesmo tempo para descrever o herói (personagem principal) e o amigo do herói (personagem secundário), ele confundirá a sua plateia. Já quando se trata do uso de recursos auxiliares, alguns deles proíbem o uso de muitos personagens, como ocorre com os fantoches, por exemplo, pois o uso de mais do que quatro personagens torna o manuseio inviável. Neste caso, pode-se dispensar um personagem secundário, fazendo-se menção a ele apenas através de um diálogo em que o personagem não aparece. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 32 de 72 E, finalmente, os personagens supérfluos são aqueles que não têm absolutamente importância alguma: tê-los ou não tê-los não irá fazer a menor diferença. Os pais da Bela Adormecida, por exemplo, apesar de serem reis e progenitores da personagem principal não fazem diferença alguma no enredo, assim eles podem ser citados em apenas uma linha da narração e a compreensão da história será a mesma. Por outro lado, com um grupo grande de crianças em que se queira narrar a história de forma interativa, ou se a história for utilizada para uma dramatização, o uso dos personagens supérfluos será interessante para dar um papel a todos. Local O contador irá se valer das imagens mentais para poder relatar aquilo que “ele mesmo vê”. Assim, conhecer o local onde a história se desenrola irá alimentar sua imaginação, que elaborará essas referências juntamente com outras que ele já possui, gerando a inspiração necessária para dar esteio à sua narração. As histórias geralmente encerram um ambiente envolvente: trata-se de um cenário marítimo, uma floresta cheia de mistérios ou um castelo com seus diversos aposentos, e a pesquisa desses aspectos poderá ser muito fascinante. Muitas vezes o narrador irá pesquisar para ter elementos que enriqueçam a sua descrição. É útil se chegar à especificação do país, se isto for significativo na história. Certamente aquele que não conhecer as “estepes da Índia” não poderá descrevê-las com riqueza, mas talvez tenha prazer em conhecê-las, em estudá-las melhor e, com isso, além de ter um grande prazer pessoal e intelectual, ele estará aumentando os seus horizontes de detalhes e, assim, conseguirá se expressar muito melhor. O conhecimento exato do local onde se passa a história evita erros grosseiros, que às vezes são cometidos na atribuição de costumes errados a povos, na colocação de elementos de fauna e flora em áreas geográficas erradas. Um ambiente pode se desenvolver através de vários cenários e o bom narrador deverá dar detalhes de cada um deles. Assim, uma história que apresenta muitos cenários irá exigir mais do narrador, que deverá dar detalhes suficientes para que cada ouvinte “sinta” cada cenário sem, contudo, cansar-se. Muitas informações poderão também confundir os ouvintes. Outro aspecto importante é que se deve dar “um espaço” para a criança criar o seu próprio cenário, ou seja, o narrador dá a abertura, descreve os elementos principais e deixa que cada um complete o cenário e outros elementos cenográficos com sua própria imaginação. Um castelo é sempre um lugar de riqueza e fartura, não há necessidade de descrever detalhadamente cada um de seus elementos, bastam poucos detalhes para ressaltar o ambiente desejado, por exemplo: “o castelo era muito rico, muito mais do que Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 33 de 72 qualquer rei ou rainha pudesse pensar, imaginem que suas escadarias eram de puro ouro e os lustres feitos de diamantes!”. Essa descrição já foi suficiente para que cada ouvinte tenha sua própria visão desse castelo muito rico e pense em outros elementos, próprios de sua imaginação, que o ajudarão a se deleitar com os fatos do enredo. Mas fique atento: se o narrador não imaginou o “seu” castelo, como iria descrever “escadas de puro ouro e lustres feitos de diamantes”? A natureza também oferece cenários estereotipados que facilitam a compreensão da história. O sol, radiante e brilhante, é que gera um clima positivo de esperança e renovação. Um repentino anoitecer ou um lugar onde ninguém sabe por que é sempre noite traz um clima de que “algo mau está para acontecer”. A floresta leva à presunção de liberdade e exercício da autonomia, o “viver por si só”, o “superar-se”. De forma análoga aos personagens, o narrador certamente possui mais detalhes sobre o ambiente do que aqueles que irá contar, que idealizou no seu convívio com a história, os quais, embora não vá transmiti-los aos seus ouvintes, formam um repertório de imagens mentais que servirão de suporte à narração. A imaginação exerce um papel importantíssimo na narração e pode não aparecer espontaneamente em uma pessoa, porém pode ser treinada e desenvolvida: A imaginação dotada de iniciativa própria pode desenvolver-se sem qualquer esforço especial e trabalha, constante e incansavelmente, quer você esteja dormindo, quer acordado. Depois há aquela que não tem iniciativa, mas é fácil de despertar e continua agindo logo que lhe sugerem alguma coisa. A imaginação que não reage às sugestões cria um problema mais difícil. Com ela o ator recebe as sugestões de um modo apenas exterior e formal. Assim equipado, o seu desenvolvimento está crivado de dificuldades e há pouquíssimas esperanças de êxito, a não ser que ele faça um esforço enorme. (STANISLAVSKI , 2002, p. 90) Época, Aspectos Culturais Existem histórias que não têm época e, quando se conta uma história desse tipo, o ouvinte tem a impressão de que aquele enredo poderia estar acontecendo com ele, naquele momento, como é o caso das histórias de fadas. Porém, quando a história tem uma época, certamente isso terá influência nos costumes e em como o seu enredo se desenrolará. Existem fatos que adquirem significância própria dentro do contexto da época e compreendê-los será importante para fazer analogias com a época atual ou para compreender outros fatos na mesma época. Desconhecer essas peculiaridades ou fazer confusão com elas poderá ter consequências prejudiciais, afetando a veracidade com que a história é recebida, agindo como um ruído de comunicação, e fornecendo informações erradas. Gostou? Então CLICA
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