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Didática do Contar Histórias - Resumo dos Temas 1 a 8

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Matéria: Didática do Contar Histórias 
Assunto: Temas 1 ao 8 
Curso de Pedagogia 
Licenciatura – 4º Período 
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Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 2 de 72 
 
Contar história é um ato encantado! Um contador de histórias compenetrado 
modula sua voz e gesticula dramaticamente; à sua volta veremos, invariavelmente, 
crianças hipnotizadas, sorvendo suas palavras uma a uma e ávidas pelo que está por 
vir. Toda essa atenção dedicada às crianças não pode ser desperdiçada, por isso, é 
preciso ver as histórias como um meio de comunicação privilegiado e considerar, 
com muito cuidado, a mensagem que cada história transmite. 
A mensagem de cada história foi elaborada pelo seu autor, mas o contador é muito 
mais do que um intérprete. À medida que escolhe a história, ele define a mensagem 
que deseja transmitir, ciente da reflexão que irá provocar nas crianças, define 
também a forma como irá contá-la, escolhendo os recursos necessários para 
potencializar a mensagem escolhida. 
É das histórias como um meio de comunicação que iremos tratar neste tema. 
As Histórias como Meio de Comunicação 
Contar histórias é uma prática que sempre existiu, todos contam histórias. Uns 
contam bem, atraem pessoas e as mantêm cativas com os seus relatos, outros 
contam mal, suas histórias são enfadonhas, têm pouco colorido, mas, nem por isso, 
deixam de contá-las, ou ainda, como seria natural, deixam de ter ouvintes. 
Mas não iremos avançar nesse momento nas técnicas de encantamento de um bom 
contador de histórias, pois o que queremos enfatizar inicialmente é a história como 
um meio de comunicação de todos os tempos que traz no seu corpo uma mensagem. 
A mensagem contida na história, por estar situada em um contexto e ser vivida por 
um personagem, é mais bem compreendida. Assim, por meio das histórias, podemos 
comunicar conceitos, exemplos, valores que seriam muito difíceis de serem 
transmitidos isoladamente. 
Isso é especialmente verdade quando estamos nos referindo a crianças. As pequenas 
têm um baixo nível de compreensão, seu raciocínio, como ensinou Piaget (1978), 
não faz relação de causa e efeito, por isso as mensagens, ordens ou conselhos que são 
ditos fora do contexto não fazem sentido para ela. Porém, ao acompanharem o herói 
de uma história que vence o inimigo pela sua coragem, astúcia, ou mesmo bondade, 
tudo faz sentido, gerando a reflexão pretendida. 
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Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 3 de 72 
Pretendida é a palavra que queremos enfatizar, pois o contador, seja professor ou pai, 
que conta uma história porque é a primeira que se lembra ou que achou mais fácil 
está comunicando aquilo que o autor da história quer, ou seja, uma comunicação não 
escolhida por ele e que pode não ser a mais adequada para aquela criança ou para 
aquele momento. 
Assim, a escolha da história adequada para o público certo no momento certo faz 
com que o contador assuma o protagonismo da ação. Mesmo não sendo o autor da 
história, ele define a comunicação e, portanto, a mensagem que irá transmitir. É isso 
que faz o educador, uma vez que essa mensagem está dentro do seu plano de ensino, 
encadeada com outras e é fruto do diagnóstico feito com suas crianças, que 
determina o que, como e quando certo conceito deve ser inserido. 
Assim, o fantoche brincalhão, a professora vestida de fada ou a dobradura de dragão 
que urra dentro da caverna feita de papelão pode representar muito mais do que 
aparenta, suas falas podem acessar estruturas mentais da criança que a levarão a 
conclusões marcantes para toda a sua vida. E tudo depende de você, daquilo que irá 
escolher e de como irá apresentar, para, além de encantar as crianças, auxiliar de 
forma marcante o seu desenvolvimento. Assim, ser um contador educador não é 
tarefa simples, mas, certamente, é muito prazeroso e vale cada minuto de 
preparação e dedicação. 
Iniciaremos nosso estudo compreendendo melhor os fenômenos comunicativos 
que envolvem a contação de histórias. 
As Histórias como Mídia 
Vivemos hoje em um mundo atolado de comunicações, que usa as mais diversas 
ferramentas, merecendo maior destaque a comunicação de massa, como a televisão, 
que atinge milhões de pessoas simultaneamente, e a comunicação digital, que muda 
muito as relações entre as pessoas. São notáveis também os meios de comunicação 
combinados que usam diversas plataformas, a televisão que se entrelaça com o 
smartphone, a revista lida no tablet, a loja que utiliza sons para comunicar a sua 
marca, etc. 
Dentro deste emaranhado de situações de comunicação, conhecidas, desconhecidas 
e “por vir a conhecer”, muitas vezes o homem esquece, ou até nem percebe, que o seu 
próprio corpo é um meio de comunicação. 
Em toda a comunicação temos três elementos básicos para a transmissão da 
intenção da mensagem: o emissor, o receptor e a mídia. 
 
 
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Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 4 de 72 
Mas o que é a mídia? 
 É o suporte da mensagem. A mídia pode ser uma revista, ela apoia a mensagem entre 
o editor e o leitor, a televisão também é uma mídia, apoia a mensagem entre o 
produtor e o telespectador. 
Harry Pross (1971 apud BAITELLO, 2000), semioticista da cultura alemão, 
categoriza a mídia em três níveis, chamados: 
- mídia primária (em que se comunica através, e tão somente, do próprio corpo), 
- secundária (em que o emissor precisa fabricar registros para se comunicar) e o 
- terciário (em que emissor e receptor precisam de elementos externos para se 
comunicarem). Este pensador tem sido muito usado nas reflexões sobre as questões 
culturais e sociais. Assim diz Pross: 
Toda comunicação humana começa na mídia primária, na qual os participantes 
individuais se encontram cara a cara e imediatamente presentes com seu corpo; toda 
comunicação humana retornará a este ponto. (PROSS, 1971 apud BAITELLO, 2000, 
p. 2). 
Assim, na contação de histórias estamos diante de um antigo, eficaz e fascinante uso 
dessa mídia primária: o corpo, no uso da voz (em suas diversas modulações e 
tonalidades), da postura (no gesto e na dança) e da expressão facial como meio de 
comunicação. Então, pode-se imaginar pessoas contando histórias antes mesmo de 
desenharem nas cavernas. 
E por que o homem desenhou nas cavernas? Porque ele percebeu que o registro 
poderia ir além de sua própria pessoa. 
Na caverna ele percebeu a possibilidade de deixar suas emoções, de poder contar 
suas histórias. Nasce então o que Pross (1971 apud BAITELLO, 2000) chama de mídia 
secundária, que são as diversas formas de registros exteriores ao corpo. Nesse 
sentido, o comunicar foi evoluindo até chegar aos livros e revistas, que nos 
permitem dialogar com Aristóteles ou Pestalozzi, pessoas vizinhas e do outro lado 
do planeta, porque eles deixaram as suas marcas através desse registro. 
Na mídia terciária o transmissor, como na secundária, precisa de um elemento 
externo ao seu corpo, o mesmo acontecendo com o receptor. Nesta situação é 
necessária maior tecnologia, como o rádio, a televisão e a internet, mais 
recentemente. 
Cada vez mais a tecnologia avança e permite formas mais cômodas na comunicação, 
que facilitam e trazem formatações sociais diferentes, uma vez que as pessoas não 
se agrupam mais por comodidade geográfica, mas por afinidades e interesses. O que 
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Anhanguera – Curso de Pedagogia – Didática do Contar Histórias – Temas 1 ao 8 .............. Página 5 de 72 
é bom de um lado, mas de outro traz a preocupação de que as pessoas vão perdendo 
o convívio, vão perdendoo “corpo a corpo”, e na medida que o seu corpo fica 
“esquecido”, sobrepujado pelas máquinas, corre-se o risco de atrofiá-lo, havendo 
apenas a preocupação na aquisição de tecnologias cada vez mais potentes. 
Atrofiando o corpo, o homem atrofia as suas relações sociais, e este atrofiamento das 
relações sociais não pode acontecer sem causar fortes impactos na cultura. 
Voltando às histórias, a mídia terciária está entre o contador de história e do ouvinte 
(a criança). É neste ponto que as coisas podem ter uma conotação diferente: se o 
contador lê uma história escrita em um livro e ao contá-la não se envolve, o emissor 
passa a ser o autor do livro e o receptor é a criança. Assim, quem comunica é o autor! 
Agora, quando o contador escolhe uma história, após ter refletido naquilo que deseja 
comunicar, ele passa a ter um papel de protagonista no processo. Por exemplo: o 
contador escolhe uma história falando bem da cultura japonesa porque está diante 
de um caso de um aluno que está sendo discriminado por ser oriental. A proposta 
educacional foi definida pelo contador, a história é somente o veículo que apoia o 
conceito de pluralidade cultural que ele deseja trabalhar. 
E ainda, quando, durante a narração da história, o contador reforça a nobreza de 
caráter desse personagem, ele está colocando a sua pessoalidade, aquilo que ele 
pensa, está sendo o emissor, e a história é a mídia. Às vezes esta “nobreza” de 
determinado personagem pode passar despercebida por outros leitores, e até mesmo 
não ter sido o foco principal de comunicação que o autor enfocou, mas aquele que 
quer comunicar encontrou neste ponto o apoio que necessita para passar uma 
mensagem que ele já tinha em mente no seu papel de educador. 
Bruno Bettelheim (2007) é categórico quanto à polêmica se a história deve ser lida 
ou interpretada com suas próprias palavras, 
Para atingir integralmente suas propensões consoladoras, seus significados 
simbólicos e, acima de tudo, seus significados interpessoais, o conto de fadas deveria 
ser contado em vez de ser lido. Se ele é lido, deve ser lido com um envolvimento 
emocional na estória e na criança, com empatia pelo que a estória pode significar 
para ela. 
Contar é preferível a ler porque permite uma maior flexibilidade. (BETTELHEIN, 
2007, p. 185) 
Isso porque em seu livro Psicanálise dos contos de fadas, Bettelheim (2007) exalta a 
importância das histórias de fadas para o desenvolvimento emocional da criança, 
pois elas falam de maneira simbólica a linguagem da criança, dão explicações 
simples para fatos que ela não conseguiria entender. 
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De uma maneira geral, os monstros, as bruxas e os personagens temíveis não são 
mais do que projeções imaginárias dos fantasmas que as crianças trazem consigo: 
medo de ser abandonada por seus pais, medo de ser devorada, medo da rivalidade 
fraterna (BETTELHEIM, 2007). 
Esse autor defende a apropriação do contador de cada história que irá contar, ele 
acredita que o adulto necessita entender perfeitamente a mensagem e os níveis de 
significado da história não somente para transmiti-la aos seus ouvintes, mas 
também para preparar a apresentação de forma que a criança possa aproveitar da 
melhor maneira o seu conteúdo, para aplacar os seus temores, anseios, e obter 
conforto emocional. 
Nunca se deve “explicar” os significados dos contos para as crianças. Todavia, a 
compreensão do narrador quanto à mensagem do conto de fadas é importante para 
a mente pré-consciente da criança. A compreensão do narrador sobre os vários 
níveis do significado da estória facilita à criança extrair pistas dessas estórias para 
melhor entender a si própria. Cabe à sensibilidade do adulto selecionar as estórias 
mais apropriadas ao estado de desenvolvimento da criança, e às dificuldades 
psicológicas específicas com que ele se defronta no momento. (BETTELHEIN, 2007, 
p. 190) 
Em suma, usando-se os conceitos de comunicação anteriormente descritos, temos 
que quando se lê uma história o emissor é o autor, quando se conta uma história o 
emissor é o contador, ele é o protagonista. E qual é a melhor forma? 
Sem desmerecer a leitura de uma história, a contação é muito mais rica, ela permite 
interpretação, ela traz toda a pessoalidade do contador à comunicação. Isso pode ser 
mais bem entendido na música, dois intérpretes da mesma canção de um 
determinado compositor podem causar emoções diferentes na plateia, de acordo 
com o seu estilo, sua modulação de voz e expressões faciais e corporais. 
Outro fator a ser considerado é que o contador poderá enfatizar ou simplificar 
aspectos da história, de acordo com a faixa etária de seus ouvintes, e talvez dar um 
toque de humor, como também eliminar passagens de pouco interesse, desde que 
não prejudique a compreensão da história. Uma história pode ser estritamente 
realista para uma criança de cinco anos e não ser para uma de doze. E o contrário 
também é verdade: a saga de uma pessoa que luta por determinados direitos, por 
uma causa ecológica, por exemplo, pode ser incompreensível para o pequeno 
ouvinte. 
De toda forma, a fonte de onde se recolhe a história precisará ser trabalhada para que 
esta se torne agradável e entendível para o grupo de crianças ou jovens a que se 
destina. Deve-se enriquecê-la com alguns detalhes e introduzir na narração 
explicações que permitam um melhor entendimento. Por exemplo, uma descrição 
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do personagem, que justifique o seu envolvimento com a causa, pode ser 
interessante. 
 
Os Códigos que Compõem a Comunicação 
Umberto Eco, no livro Lector in Fábula (2004), também aborda os aspectos 
comunicacionais da história e se restringe aos códigos utilizados nessa transmissão. 
O que são os códigos? 
São o conjunto de signos que serão utilizados para transmitir a mensagem. Eles são 
principalmente palavras e ilustrações, mas também a diagramação do livro, a capa, 
as cores de fundo e as fontes utilizadas. Esse conjunto de signos possibilita a 
interpretação do conteúdo. 
Assim, Eco (2004) enfatiza que o autor deve levar em consideração a competência do 
leitor para definir os códigos de comunicação que deseja utilizar para a transmissão 
da mensagem escolhida. Vale lembrar que não se exclui a possibilidade de haver 
autores infantis mais preocupados com a contemplação estética do que com a 
mensagem transmitida, o que não torna os seus livros inúteis, pelo contrário, 
cumprem sua função artística e linguística, ressalvando apenas à condenação 
aqueles casos em que a mensagem é negativa ou perniciosa. 
Dos conceitos de Eco (2004) podem se depreender algumas variáveis: a primeira é se 
o autor escreveu para crianças lerem o seu livro; neste caso, ele se preocupou em 
considerar signos que possam ser captados pela criança sozinha, e o adulto até pode 
aparecer no processo, mas como um auxiliar, como um facilitador da interpretação 
que é feita pela criança. 
E, nesse caso, ficamos com uma terceira indagação: quem irá ler o livro, a criança ou 
o adulto que irá ler para ela? 
Se um livro tem um conjunto de códigos compostos pelas palavras, pelas ilustrações, 
pelo formato e, em alguns, até pelo cheiro, a criança não poderá se apropriar do 
conjunto quando o adulto ler para ela. Muitas vezes vemos situações nas quais o 
adulto-leitor lê a história e interrompe para mostrar as figuras às crianças que se 
aboletam umas em cima das outras para verem melhor, o que torna o processo um 
verdadeiro desastre. E mesmo que não fosse, a criança deixaria de se apropriar dos 
outros signos utilizados pelo livro. 
Enfim, Ler ou Contar? 
A decisão de contar, ler ou deixar a criança ler sozinha deve sebalizar nos seguintes 
critérios: 
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A Criança Lê Sozinha 
Pode-se deixar a criança ler sozinha quando o livro tem linguagem clara, adequada à 
sua faixa etária, é farto em figuras e usa de outros meios de expressão (relevo, cheiro, 
movimento). Esta prática estimula a formação do adulto leitor, desde que o livro seja 
absolutamente do agrado, portanto, a sua escolha deve ser criteriosa. Escolhas 
malfeitas de livros que estão além da compreensão da criança e de sua capacidade de 
atenção podem levar ao efeito contrário. 
A leitura estimula a observação e a relação entre os signos à medida que a criança faz 
as ligações entre o texto e as figuras, e vê significados nas demais formas de 
expressão. Estimula a criatividade porque traz referências tanto no contexto como 
nas ilustrações. 
O Professor Lê para a Criança 
O livro deve ser lido quando o autor é reconhecidamente de boa qualidade, a ponto 
de o professor não encontrar qualquer acréscimo, retirada ou explicação que poderia 
fazer. Além disso, o texto deve ser adequado à faixa etária. 
Esta prática estimula a formação do leitor, mas tem, por um lado, uma desvantagem 
em relação à pratica anterior (criança lê o livro), pois não encerra o desafio da 
descoberta. Essa prática causa menor estímulo à criatividade, porque o adulto leitor 
não conseguirá compartilhar os signos que fazem parte do livro na sua totalidade. 
Por outro lado, pode também ter vantagens, especialmente quando os textos são 
mais longos, o que deixaria a criança cansada. 
O Professor Conta a História 
É a prática que oferece maior flexibilidade para o professor, pois desenvolve a 
observação, a imaginação e a criatividade de seus ouvintes. É possível ser adaptada, 
enfatizando os objetivos educacionais pretendidos. Outro aspecto é que, ao usar as 
suas próprias palavras, ele dá mais confiabilidade a elas, mostra mais 
comprometimento com o seu conteúdo e isso potencializa os benefícios. E como 
tudo isso é mágico: a voz, apenas com entonações mais agudas ou graves, a variação 
do seu volume e da velocidade podem levar as crianças a reinos mágicos, construídos 
pela sua própria imaginação. E ainda temos à nossa disposição, para aumentar a 
magia, desenhos, fantoches, bonecos, teatro de sombras e tantas outras técnicas. 
Sem dúvida é a mais gratificante, porém a mais trabalhosa. 
FINALIZANDO 
Contar histórias é um grande meio de comunicação com crianças, pois histórias são 
um veículo que podem apoiar importantes mensagens. As histórias dão às situações 
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abstratas (especialmente àquelas que os pais e professores gostariam de transmitir) 
um contexto simples, lúdico, fácil de entender. Para as crianças envolvidas nesta 
bolha de magia, as mensagens fazem sentido e, mais do que isso, provocam a 
reflexão e a absorção do conteúdo. 
Ler histórias para as crianças é muito desejável, amplia seus horizontes, traz novas 
perspectivas de vida e instaura o hábito de leitura, porém, contar histórias pode ser 
um ato mais forte do que ler histórias. Isso porque, quando o contador narra as 
histórias com as suas próprias palavras, ele dá mais confiabilidade a elas, mostra 
mais intimidade com o seu conteúdo e cria um vínculo mais forte com os seus 
ouvintes. E como tudo isso é mágico: a voz, apenas com entonações mais agudas ou 
graves, a variação do seu volume e da velocidade podem levar as crianças a reinos 
fantásticos construídos pela sua própria imaginação. 
E ainda, temos à nossa disposição, para aumentar o encanto, desenhos, fantoches, 
bonecos, teatro de sombras e tantas outras técnicas. 
É por tudo isso que as histórias são mágicas e propiciam momentos de 
encantamento, porque existem crianças, mas também porque existem, e sempre 
existirão, homens e mulheres “crianças” que gostam de estrelas cintilantes, que se 
emocionam com coisas simples, que praticam o amor e acreditam em fadas. 
 
 
Códigos: são os signos que compõem a mensagem, um conjunto de sinais 
estabelecidos por uma regra comum, que têm relação entre si e que fazem sentido. 
Um código pode ser a linguagem, um sistema de cores, sons. Um código só é eficaz 
quando é de conhecimento de todos os envolvidos na comunicação (emissor e 
receptor). 
Comunicação: deriva do latim “communicare”, que significa “partilhar, participar 
algo, tornar comum”. É o processo mediante o qual uma pessoa, ou um grupo de 
pessoas, transmite seus pensamentos para outros utilizando um sistema de códigos. 
Emissor: aquele de onde se origina a mensagem, quem emite a mensagem. 
Mídia: a palavra mídia vem da palavra inglesa media, que por sua vez vem do latim, 
sendo o plural da palavra médium que significa “aquele que está a meio”. Como em 
inglês soa como “mídia”, “abrasileirou-se” a grafia e ficamos com mídia. Em 
comunicação, mídia é bem entendida como “aquela que está no meio de 
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comunicação”, porém, de forma usual e rotineira, essa palavra pode designar o 
próprio suporte (a revista, a televisão), ou mesmo algo que se tornou público quando 
falamos “está na mídia”. 
Receptor: aquele que é o destinatário da mensagem, quem recebe a mensagem. 
Semioticista: aquele que trabalha com semiótica, que é o estudo dos signos. 
Signos: tudo aquilo que tem significado em uma comunicação. Os signos podem ser 
palavras, cores, formas, aromas, expressões, enfim, tudo aquilo que é usado por um 
emissor para dar significado em uma comunicação. 
 
 
O brincar é visto indiscutivelmente como uma atividade para crianças, mas, 
pensando assim, por que ele é tão pouco usado na educação? As teorias modernas 
apontam para a construção do aprendizado pelo aluno, para o aluno como 
protagonista do seu aprendizado e para o aprendizado significativo. Assim, será que 
a configuração em que os alunos ficam sentados em suas carteiras, ouvindo 
passivamente os ensinamentos de outrem, traz resultado? Certamente que sim, mas 
fica a pergunta: trará o melhor resultado? 
Quando se trata de desenvolvimento pessoal e social, o brincar tem um papel 
fundamental de colocar a criança no centro da ação, fazer com que ela sinta desafios, 
teste suas potencialidades, procure fazer alianças com outros aprendendo a 
conviver. 
As histórias fazem parte da brincadeira, e se engana quem pensa que as crianças a 
recebem passivamente, ao vê-las sentadas atentas, quase imóveis, pois, dentro de 
suas cabecinhas, há um turbilhão de ideias provocado pelo enredo, ideias essas que 
se juntaram às outras que possuem, gerando uma terceira, e que responderão a 
indagações e despertarão para novos cenários. 
As histórias são um verdadeiro “abre-te sésamo” para um mundo encantado do 
imaginário de cada um, que torna quem as ouve mais experiente e mais forte para 
viver nesse nosso mundo real. 
O Valor Educacional das Histórias 
As histórias são um importante instrumento de ludoeducação. 
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A ludoeducação é tida como uma coisa nova, e isso merece alguma reflexão. O 
brincar não é novo, todos sabem que a criança brinca e o adulto respeita isso, 
sabendo que faz parte da natureza dela. 
Agora, o conceito que podemos chamar de novo é o conceito de ensinar por meio do 
brincar. Autores como Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Froebel esboçaram ideias 
que, de forma até tímida, já reconheciama importância de aliar esta atração da 
criança pelo brincar ao ato de ensinar. Do primeiro pensador que refletiu sobre este 
assunto já se passaram três séculos e ainda existem muitas resistências em se aceitar 
isso, ainda existe um preconceito muito grande. 
O jogo se constitui em um fim para a criança, pois dele ela obtém prazer. Para os 
adultos que desejam usar o jogo com objetivos educacionais, este é visto como um 
meio, um veículo capaz de levar até a criança uma mensagem educacional. 
Para Gilles (1998), a criança tem uma necessidade irresistível de brincar, todas as 
vezes que ele se submete a um jogo com objetivos educacionais ela satisfaz essa 
necessidade e, ao mesmo tempo, aprende. 
Segundo Piaget (1994), os jogos funcionam como uma oportunidade de conviver 
com regras, e este convívio não se limita à aceitação e à obediência, mas também leva 
à criação de uma normatização e até de uma jurisprudência. 
O jogo é a maneira natural de as crianças interagirem umas com as outras, 
vivenciarem situações, manifestarem indagações, formularem estratégias, 
verificarem seus acertos e erros e poderem, através deles, reformularem, sem 
qualquer punição, seu planejamento e as novas ações. Devries (1991) indica que a 
participação ativa da criança em um jogo vai determinar a sua capacidade de 
envolvimento e, portanto, o seu nível de desenvolvimento. 
Por essas questões, o jogo em sala de aula tem sido recomendado por diversos 
autores e tem se tornado prática crescente no ensino infantil e fundamental. Para 
Gilles (1998), a expressão “jogo educativo” é a conciliação entre o respeito à 
autonomia da criança, o seu desejo de brincar e a necessidade de continuar a 
disciplinar o processo educativo. 
E qual o interesse que o educador tem neste mergulho no mundo lúdico? É que este 
se apresenta como uma oportunidade de pesquisa, experimentação, troca de ideias, 
atitudes cooperativas, inferições e deduções, típicas de um ensino ativo, centrado no 
próprio aluno, tornando-o capaz de construir o seu próprio conhecimento. 
O papel do professor é preparar este “cenário”, elegendo quais pontos devem ser 
focados e como abordá-los, seguindo como um agente motivador, às vezes árbitro, 
mas, principalmente, observador da atuação de cada um para poder compreender 
cada criança em suas potencialidades e dificuldades. 
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E nesta tarefa é importante ter atenção a dois objetivos: primeiro, o jogo tem que ser 
atraente, do gosto da criança, deve causar verdadeira diversão, e segundo, deve ter 
um conteúdo educacional de boa qualidade, adequado ao plano de ensino e seus 
objetivos. 
Assim, ensinar brincando pode ser muito mais eficiente e produtivo do que os 
métodos tradicionais e, acima de tantas explicações metodológicas e didáticas, 
muito simples. Ensinamos crianças e como crianças devemos tratá-las, esta é, talvez, 
a única forma de sermos totalmente compreendidos por elas. 
O Jogo e a História 
A palavra jogo é tida aqui no seu sentido amplo, ela aparece aqui como uma tradução 
do inglês play, que tem um sentido muito mais amplo do que a palavra jogar tem 
para nós. Play, além de jogo, significa “tocar um instrumento, dramatizar uma peça 
teatral, brincar”, poderíamos dizer que é um “faz de conta”. 
Para Huizinga (2000), o jogo é uma espécie de “bolha lúdica”, um espaço que se abre 
no cotidiano, onde as pessoas (adultos e crianças) entram voluntariamente e lá 
vivem situações que têm regras e fins próprios. É um espaço temporário, onde se dá 
o direito de viver situações inusitadas. Pensando assim, o “faz de conta” 
proporcionado pelas histórias fica muito bem representado na bolha lúdica, 
caracterizando as histórias como prioritariamente lúdicas, um espaço maravilhoso 
onde é permitido sonhar e de onde se pode sair quando quiser, sendo que a única 
coisa que se pode trazer são as reflexões que nos foram proporcionadas nestes 
momentos. 
Ludoeducação é um termo que se origina da junção de duas palavras (lúdico e 
educação), é como levar a mensagem educacional dentro do lúdico. Bem, para que 
aqui essa mensagem seja bem recebida ela tem que ser agradável, gostosa, bela, 
porém, pensando-se somente nisso, pode-se tornar-se um bom recreacionista. Já 
para ser um ludoeducador, é necessário ter compromisso com a mensagem, ela tem 
que estar de acordo com os objetivos educacionais propostos por cada um, de acordo 
com o projeto educativo no qual o programa está inserido, de acordo com a 
mensagem que cada um julga importante deixar. 
Enfim, não se pode pensar somente em uma coisa, pois pensando só no lazer não 
promoveremos a educação e pensando só na educação corremos o risco de fazer algo 
chato, pouco atrativo. Assim, o ludoeducador contador de histórias deve saber 
conciliar as duas coisas, ele precisa saber encantar, ter a habilidade para abrir as 
portas de um mundo mágico e conduzir cada um pela mão, mas também necessita 
ter compromisso com aquilo que está comunicando. Entendendo as histórias como 
um meio de comunicação e entendendo que este meio é capaz de comunicar 
educação, o contador precisa saber que tipo de mensagem educacional sua história 
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está conduzindo, se ela é adequada à faixa etária e aos objetivos educacionais, se ela 
exprime uma mensagem que bate com seus valores pessoais. 
Contar histórias sempre é positivo, tem uma série de coisas importantes, mas este 
momento pode ser potencializado se, através da história, transmite-se um valor, um 
modo de vida, um exemplo a ser seguido. 
Assim, quando o contador de história se envolve com a mensagem que está 
transmitindo e, principalmente, quando procura usá-la como uma ferramenta 
educacional, ele deixa de ser um mero transmissor e passa a ser um intérprete, 
adiciona à obra a sua pessoalidade, com seu modo de ver a vida, sua visão do futuro, 
seus valores. Podemos fazer um paralelo com a figura do cantor, aquele a que se 
chama intérprete, que canta uma música cuja letra já está pronta, foi feita por outro. 
Ele escolhe para cantar a música que coincide com aquilo que ele gostaria de dizer e 
com sua forma de cantar, mais contida, mais apaixonada, mais solta ou mais 
moderna, emprestando a sua pessoalidade à canção. Da mesma forma é o contador, 
ele escolhe a história, com cuidado, para encontrar a “sua história”, certamente fruto 
de boas pesquisas, e a ela ele dá a sua interpretação, manda a sua mensagem. 
Os Valores Educacionais das Histórias 
1. As Crianças Gostam 
Parece muito simples usar este argumento, porém, é bom pensar um pouco nele. 
Quando se fala em comunicação, a busca é por um veículo adequado ao público-alvo, 
capaz de atrair este público. Assim, o fato de as crianças gostarem de ouvir histórias 
vai fazer com que estas sejam um meio de comunicação privilegiado com as crianças. 
E isso todo contador pode atestar, pois no momento que ele fala “eu vou contar uma 
história”, imediatamente as crianças abrem os ouvidos e ficam com os olhos 
encravados nele, esperando ansiosas, e este é o momento que ele, além de encantar, 
pode passar uma mensagem importante para este público, o que dará exatamente o 
mesmo trabalho. 
Outro fator importante é que o fato de as crianças gostarem de ouvir histórias abre 
um importante canal de afetividade, não é a criança que precisa “crescer” para 
entender o adulto, é o adulto que vai até ela: senta-se no chão, põe um chapéu de fada, 
de pirata, engrossa a voz, dá risadas esganiçadas. Ele é um amigo da criança, que 
entende a “sua língua”. Quanto maior a afetividade, mais confiança, mais diálogo e 
mais oportunidades de educação. 
2. A Variedade de Temas é Praticamente InesgotávelGostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais 
 
 
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Tomando-se as histórias como um meio de comunicação, que tipo de comunicação 
se deseja passar? Uma visão esperançosa? Valorizar determinada cultura para 
minimizar uma situação de discriminação vivida na classe? 
As histórias fornecem um repertório variado para se trabalhar com os mais diversos 
aspectos educacionais, e a quantidade de livros que temos à nossa disposição se 
torna uma encantadora fonte de pesquisa para aquele que acredita na importância 
do seu trabalho. 
E, caso alguém não encontre a história apropriada, o que seria muito difícil, não tem 
importância, ele poderá criar suas próprias histórias e através delas encaixar 
exatamente aquele recado que gostaria de dar, de uma forma que a criança possa 
entender. 
3. Pouca Exigência de Recursos Materiais 
As histórias são um meio de comunicação que usa a mídia primária. Por mídia 
primária, entendemos o uso do próprio corpo, tanto do emissor como do 
transmissor. É evidente que, para contar uma história, pode-se usar um fantoche, 
um bocão, pode-se ter um teatro, uma verdadeira parafernália de coisas, as crianças 
vão gostar, mas a base central é o contador, sozinho. Então, de uma escala de 0 a 10 
de satisfação, em que se atinge 10 com um fantoche, pode-se alcançar 9 sem nada, 
somente o contador com o seu corpo, sua voz, sua expressão facial e corporal. 
E é claro que se deve levar em consideração o repertório que cada contador tem, a 
forma como ele sabe organizar a sua mensagem. Isso será extremamente útil e estará 
sempre “à mão” em todos os momentos, inclusive naqueles em que não se sabe o que 
falar, nos momentos de grandes alegrias, momentos difíceis que as palavras faltam, 
nos quais afloram sentimentos profundos, abstratos e difíceis de se comunicar. 
O Desenvolvimento que todas as Histórias Propiciam 
No livreto A história como meio de comunicação, escrito por Vania Dohme, em 
2003, a autora afirma que toda história, contada seja de que forma for, acarreta um 
desenvolvimento educacional na criança, seja pela mensagem específica que 
encerra, seja pela atenção e exercício do imaginário que ela provoca. 
Nas suas palavras: “De forma genérica, as histórias contribuem com diversos 
aspectos da formação de crianças e de jovens. Esses aspectos podem variar de 
intensidade de uma história para outra” (DOHME, 2003, p. 13) e continua 
estabelecendo que, de maneira geral, todas as histórias propiciam o 
desenvolvimento dos seguintes aspectos: 
• Atenção e raciocínio. 
• Senso crítico. 
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• Imaginação. 
• Criatividade. 
• Afetividade. 
Vejamos cada um deles. 
Atenção e Raciocínio 
Como já foi trabalhado por Eco (2004), a competência que a criança tem para 
entender uma história é limitada, dado o seu baixo poder de concentração, mas, 
como gostam de histórias, ficam mais motivadas e com isso desenvolvem sua 
capacidade de atenção. Mesmo que com um enredo muito simples, ela será desafiada 
a deduzir o que virá a seguir - qual desfecho está por vir? Outro fato importante é que 
a relação de causa e efeito, como ensina Piaget (1994), ainda está em 
amadurecimento nessa fase, assim, os enredos provocam o exercício de estabelecer 
essa relação, pois “se o ratinho fosse por outro caminho não encontraria o gato...”, 
mas, uma vez que o encontrou, “teve que se disfarçar para não ser caçado...”. Como 
diz Dohme (2003, p. 13). 
As histórias têm o poder mágico de prender a atenção das crianças. Isso por si só já é 
um exercício, mas as histórias provocam muito mais do que isso. As crianças 
acompanham os fatos e fazem conjecturas: como será que o herói se saíra dessa 
situação? Será que o ratinho, por gostar somente de queijo, rejeitará o chocolate? A 
princesa encontrará o príncipe e será feliz novamente? Ao tomarem conhecimento 
do desfecho do enredo, irão compará-lo com as suposições que fizeram. Isso fará 
com que elas exercitem a relação de causa e efeito, que faz parte do seu 
amadurecimento. 
É de se notar que as crianças gostam de ouvir a mesma história várias vezes, e a 
explicação está ligada ao fato de que ela quer ter certeza de que entendeu bem, de que 
as consequências de cada fato narrado continuarão sendo iguais, “elas querem ter 
certeza de que o mal foi derrotado e de que tudo acaba bem no fnal” (DOHME, 2003, 
p. 13). 
Senso Crítico 
O senso crítico é uma capacidade importante para a participação na comunidade e 
para o próprio desenvolvimento, mas do que se trata? Ter senso crítico é ter uma 
opinião própria sobre os fatos que nos cercam, é ter a capacidade de analisar os prós 
e contras de cada situação, o que está de acordo com os seus princípios e o que não 
está, enfim, é tomar decisões fundamentadas em suas próprias convicções. Isso nem 
sempre é fácil, pois vivemos em uma sociedade massificada, com muitas 
informações se cruzando, dizendo “o que devemos fazer” ou “o que não devemos 
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fazer”, o que devemos comprar, assistir, comer, ouvir e assim por diante. E como as 
inocentes histórias podem nos ajudar a desenvolver o senso crítico em nossas 
crianças? 
É muito simples, as histórias dão contextos a situações que podem ser discutidas 
com as crianças fazendo com que elas vejam as situações sob outros pontos de vista. 
Dohme (2003, p. 14) explica isso muito bem: 
As crianças pequenas ficaram encantadas quando Cinderela apaixona-se 
imediatamente pelo príncipe. Mas, as mais velhas poderão ser questionadas se 
somente o fato de ser bonito, rico e poderoso é suficiente para alguém se apaixonar. 
E será que o Patinho Feio não seria mais feliz continuando feio, porém filho de sua 
mãe pata e irmão dos patinhos, do que se transformar em um cisne belo, no entanto 
sozinho? 
Quando o professor escolhe a história de acordo com a mensagem que deseja 
transmitir, não tem qualquer dificuldade em abordar esse contexto de forma mais 
ampla, após o término da história, forçando a reflexão. Mas, cuidado! Não tente 
interpretar pelas crianças, somente as provoque a pensar! Deixe que troquem 
opiniões entre si, jamais direcione e lembre-se sempre de que a maturidade do adulto 
é bem diferente da maturidade das crianças, o importante é que elas reflitam. Creia, 
essas conclusões poderão vir muitos anos depois. 
Imaginação 
Quem escreve uma história utiliza signos, que podem ser palavras ou imagens que 
tenham o poder de serem “reconhecidos” pelas crianças. E como se dá esse 
reconhecimento? Ele se dá quando a criança tem uma imagem mental, um registro 
em sua mente que corresponde àquela palavra ou imagem que lhe foi dita. 
Mas a narrativa pode trazer elementos novos que ela vai construir em sua mente, 
ampliando, assim, a sua imaginação, por exemplo: uma criança pode não ter estado 
em um castelo, mas a descrição de um deles vai fazer com que ela o desenhe na sua 
mente, passando agora a ter o seu registro. À medida que ela vai tendo contato com 
algo similar, que não precisa ser exatamente um castelo, mas apenas algo que o 
componha, como uma escadaria, um tapete ou um lustre suntuoso, ela vai 
redesenhando o “seu” castelo e, consequentemente, aumentando seus registros 
mentais. 
E assim as histórias vão aos desertos, navegam embaixo do mar com os peixinhos e 
vão até além das nuvens, visitam outras culturas, podendo ir ao passado e ao futuro. 
“A descrição detalhada fará com que o ouvinte sinta o cheiro das flores, visualize a 
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grama verdinha e se encante com o cavalo alado que dorme sossegadamente” 
(DOHME, 2003, p. 15). 
Dohme (2003) alerta que esse detalhamento não deve ser exagerado, ele deve apenas 
sugerir, deixando que o ouvinte complete os detalhes com suas próprias referências. 
Criatividade 
Uma imaginação rica em referências facilitará a criação de novos cenários. Por 
exemplo, uma história apresentou às crianças um Pégaso, que é um cavalo fantástico 
que voa, no caso, um cavalo alado na cor azul, salpicado de estrelas douradas. Assim, 
por que não será possível uma tartaruga alada na cor lilás com bolinhas amarelas? 
A formação de um repertório mental é algo que acontece espontaneamente em toda 
narrativa de uma história, mas os educadores podem tirar um pouco mais de 
proveito dela no desenvolvimento da criatividade pedindo para que as crianças 
deem um retorno por meio de um desenho, um trabalho manual ou uma 
apresentação teatral. A história fornece um contexto e está presa, contida, na mente 
de cada criança; no momento em que pedimos esse feedback forçamos que ela reflita 
sobre os conteúdos apreendidos e procure formas de exteriorizá-los. Fazer esse 
trabalho em grupo pode ser até mais proveitoso, uma vez que as crianças 
compartilham as imagens mentais que apreenderam, que certamente serão 
diferentes, o que fará com que todos ampliem os seus registros individuais. 
Após ouvirem uma história, podemos pedir a elas que façam um desenho da cena de 
que mais gostaram, ou a modelem em argila. Um grupo de crianças poderá 
representá-la ou, mesmo, ser convidado a fazer a sua continuação. Será necessário 
criar o roteiro, fazer o cenário, o figurino. Situações que ficariam difíceis de serem 
pedidas aleatoriamente, mas que ganham sentido dentro de uma história que 
acabou de ser contada (DOHME, 2003, p.15). 
O nosso livro-texto (DOHME, 2013) traz uma importante experiência para ser feita 
com as crianças, que exercita a criatividade de cada ouvinte e dá mostras preciosas 
para o educador de como os registros mentais são diferentes para cada pessoa. Trata-
se da história Urso do final do arco-íris. Ela conta a trajetória de um grupo de pessoas 
em uma floresta, os ouvintes escutam a narrativa com os olhos fechados e são 
usados efeitos especiais para incitar mais. 
 
FINALIZANDO 
Na marcha cultural do homem, os mais velhos debatem-se em deixar suas vivências 
aos mais novos, suas experiências, pois querem ensiná-los a viver. Com o pretexto 
de educá-los, os mais velhos querem fincar nos seus descendentes seus valores, mas 
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como ensinar valores para crianças, que ainda têm um precário sistema de 
raciocínio abstrato? As histórias aparecem como uma solução, elas contextualizam 
esses valores com um exército de auxiliares: fadas, gnomos, bruxas, bonecas e 
animais, que emprestam seus corpos, suas falas e suas emoções para lhes dar 
sentido. 
Nesta situação, a história passa a ser o signo de mensagens que os mais velhos 
querem transmitir às crianças. O “contador de histórias” usa deste signo para 
ensinar, acalentar, encantar. 
 
 
Criatividade: é a capacidade de se expressar, de encontrar métodos, fazer objetos ou 
executar tarefas de uma maneira nova ou diferente da habitual, com a intenção de 
satisfazer um propósito. A criatividade envolve sempre o conceito do novo, mas é 
fruto do remanejamento de registros que o criador já possui. 
Imagens mentais: são os registros que cada um conserva em sua mente, que 
significam tudo o que conheceu e guardou em sua memória. Podem ser de uma 
pessoa ou lugar, mas também pode ser uma cor, um aroma, um som. 
Imaginação: é a capacidade mental para relacionar, criar, inventar ou construir 
imagens mentais. 
Lúdico: suas raízes etimológicas estão na palavra latina ludos, que pode significar 
“jogo, brinquedo”. Em geral, refere-se a toda atividade que tem um fim em si mesmo, 
diferente do cotidiano, com regras próprias e que promove interação voluntária. 
Ludoeducação: é a atividade lúdica que encerra um objetivo educacional. Os 
participantes, à medida que jogam, brincam e realizam experiências que são 
assimiladas e passam a fazer parte do seu conhecimento. Em outras palavras, é a 
construção do conhecimento por meio da atividade lúdica. 
Senso crítico: é a capacidade de fazer análises do seu entorno e ter uma opinião sobre 
ele. Está relacionado a ver os acontecimentos do mundo de forma aberta, sem se ater 
a paradigmas, estar atento a outros pontos de vista para, após essa colheita de 
diversas ideias, formar o seu próprio conceito sobre o assunto. 
 
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Existe uma infinidade de mensagens possíveis de serem transmitidas em uma 
comunicação, portanto existem infinitas histórias que podem ser veículos dessas 
mensagens. E como se não bastasse, uma história pode ter várias formas de ser 
apresentada; algumas são mágicas, outras sensatas, outras causam medo e, é claro, 
a mensagem é absorvida de maneira diferente de acordo com cada uma dessas 
variações. 
É sobre isso que trata esse tema, conheceremos formas de classificação das histórias 
e como cada uma delas tem impacto nos seus ouvintes. 
Conhecer em qual classificação a história se encaixa ajuda também a definir a faixa 
etária que melhor irá absorver o seu conteúdo, como também dar dicas de como 
fazer a narração e utilizar os recursos auxiliares. 
A divisão clássica aponta para dois grandes grupos: histórias de fadas e fábulas, que 
são profundamente diversas no seu impacto comunicacional e a forma que a criança 
irá absorver o seu conteúdo, e a influência que ela terá em seu comportamento e 
forma de pensar. 
Classificação das histórias 
A literatura infantil surgiu da tradição oral de todos os tempos e de todas as épocas. 
Gillig (1999) conta que somente no final do século XVII é que a literatura infantil 
floresceu. Charles Perrault, na França, publicou em 1697 os seus contos da Mãe 
Gansa, descrevendo em versos os contos oriundos da tradição popular. 
 
Figura 3.1 – Charles Perrault 
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Na Alemanha, em 1812, os irmãos Grimm lançaram Kinder und Hausmärchen, com 
oitenta e seis contos coletados da cultura popular. O objetivo principal dessa 
iniciativa foi manter viva a poesia popular alemã e não, como é comumente dito, 
escrever histórias para crianças. 
 
Figura 3.2 – Irmãos Grimm 
O dinamarquês Andersen é considerado o primeiro escritor para crianças, tanto que 
o dia do seu nascimento, 2 de abril, é considerado o dia internacional do conto 
infantojuvenil, isto porque, embora posterior a Perrault e aos irmãos Grimm, é de 
sua criação a maioria dos contos que escreveu. Não obstante, há muita semelhança 
nos contos dos quatro autores; giram em torno de seres fantásticos, enfrentam 
malefícios e sempre têm desfechos felizes. 
 
Figura 3.3 – Hans Christian Andersen 
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Os autores que lhes sucederam são chamados por Gillig (1999) de “autores de contos 
modernos”, isto porque, esgotada a maioria das possibilidades de transcrições da 
cultura oral, esses autores partiram da sua própria imaginação e vivências para 
criarem suas histórias, sem, contudo, perderem as características principais dos 
contos de fadas.Dentre tantos outros, são eles: o italiano Collodi (1826-1890), que 
escreveu Pinochio; o inglês Lewis Carrol (1832-1898), de Alice no País das 
Maravilhas; o escocês J. M. Barrie (1860-1937), de Peter Pan; o americano L. F. Baum 
(1856-1919), de O Mágico de Oz; o inglês (nascido na África do Sul) Tolkien (1892-
1973) e seu amigo irlandês C. S. Lewis (1898-1963), da maravilhosa série Crônicas 
de Nárnia, e por que não falar da britânica J. K. Rowling (1965- ), criadora do 
formidável Harry Potter? 
Na verdade, o ponto de união dessas histórias de fadas não é a data de sua criação, 
mas o enredo fantástico, o que as difere de uma história como Robinson Crusoé ou 
das aventuras de Tom Sawyer. 
Fortemente contrastando com os contos de fadas estão as fábulas. 
 
Figura 3.4 – Esopo 
Atribui-se a Esopo, uma figura mais lendária do que histórica (que teria vivido há 
seis séculos a.C.) e, posteriormente, a Fedro (século I D.C.), a ideia de usar as fábulas 
para transmitir situações de relacionamento dos seres humanos, encerrando lições 
e ditames de comportamento de uma forma velada, protegida pelo fato de os 
protagonistas serem animais. Isso fica mais claro ao se saber que ambos eram 
escravos alforriados; assim, é fácil imaginar que eles usariam desta liberdade para 
transmitir mensagens aos demais escravos, usando os animais como proteção. Foi 
graças a La Fontaine (1621-1695) que as fábulas chegaram até os dias de hoje, e este 
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não as usou com outro objetivo. Plebeu frequentador da corte e vivendo na França 
em uma época de grande injustiça social, as fábulas eram um meio de falar verdades 
de forma alertadora e segura. 
A característica das fábulas se difere muito daquelas dos contos de fadas: nas 
primeiras, os personagens apresentam nuances de personalidade, encerrando 
muitas vezes estereótipos facilmente reconhecíveis e associáveis às personalidades 
humanas. É o caso da raposa e do lobo, ambos têm características agressivas e 
comem as presas de menor porte, geralmente, os carneirinhos. O lobo tem uma 
aparência que o declara imediatamente como perigoso, enquanto que a raposa, com 
aparência serena, não delata essa condição. Os pobres carneirinhos devem temer 
mais as raposas, pois quando se trata de lobos, elas podem detectar a ameaça e se 
protegerem, o que não acontece com um ataque de raposa. As analogias com pessoas 
do dia a dia são muito comuns e fáceis de serem feitas. 
 
Figura 3.5 – Jean de La Fontaine 
As fábulas acontecem em um ambiente isento de pressões externas, porque o 
objetivo é evidenciar as relações entre os personagens. Outro fator muito marcante 
é que as fábulas encerram relações sociais, geralmente apontando para decisões 
astutas e valorosas. 
Assim ficam claras as profundas diferenças entre os contos de fadas e as fábulas, o 
que sugere uma classificação, que não é fácil e tampouco é unânime na literatura. 
Em 1910, o finlandês Aarne desenvolveu um sistema de classificação dos contos de 
fadas que identifica os textos segundo unidades temáticas, baseado nos contos 
finlandeses, dinamarqueses e alemães; em 1928, Thompson ampliou e completou o 
sistema de classificação e, quase 40 anos depois, em 1968, Thompson encarregou-se 
da terceira edição, ampliando muito a catalogação, que hoje é conhecida como 
“Aarne/Thompson”. 
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Matos (2015), no ensaio “Vladimir Propp e a morfologia narrativa” faz menção ao 
estudo: 
Este, que foi o primeiro catálogo sistemático dos contos, é usado até hoje como índice 
de classificação pelos estudiosos (o conhecido “Aarne-Thompson classification 
system”) e caracteriza o seu vasto repertório de contos (2.340 na edição de 1929, 
ampliados para 2.500 na edição de 1961) a partir de motivos ou temas, o que permite 
agrupá-los em sete grandes categorias: 
 contos de animais (1–299), 
 contos de magia (300-749), 
 contos religiosos (750-849), 
 contos românticos (850-999), 
 contos de ogros estúpidos (1.000-1.199), 
 brincadeiras e anedotas (1.200-1999), 
 contos acumulativos (2.000-2.400), 
 contos inclassificáveis (2.401-2.500). 
Gillig (1999) sugere outra divisão em: contos maravilhosos, narrativas, míticos e 
lendas, em que a maioria dos personagens possui uma natureza humana e sub-
humana. Para este autor, a narrativa mítica relata feitos de personagens com 
poderes quase divinos, incomuns aos mortais. A lenda relata feitos de personagens 
que realmente existiram, com características de tal notoriedade, que se perpetuaram 
no tempo; os poderes sobrenaturais seriam fruto do imaginário de seus narradores 
devido à idolatria por tais feitos grandiosos. 
O conto se destaca dos outros dois gêneros pelo seguinte: 
O mais provável é que “os mesmos arquétipos”, ou seja, as mesmas figuras e 
situações exemplares – apareçam indiferentemente nos mitos, nas sagas e nos 
contos. Mas tanto no primeiro quanto no segundo caso, o herói acaba tragicamente, 
ao passo que no conto o desfecho quase sempre vê o herói ter êxito em sua aventura 
(GILLIG, 1999, p. 26). 
E o que é uma fábula? 
pergunta ainda o autor de O conto na psicopedagogia. ”Um relato também 
imaginário, colocando em cena animais que falam e que servem de ilustração a 
preceitos morais” (GILLIG, 1999, p. 26). 
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Vladimir Propp é um conhecido estudioso dos contos de fadas e, no livro Morfologia 
do Conto Maravilhoso, cita o trabalho de Aarne, e muitas vezes o critica, e classifica 
as histórias em três divisões fundamentais: 
“1 - Contos de animais; 2 - Contos maravilhosos propriamente ditos e 3 - Anedotas” 
(PROPP, 2006, p. 13). 
Esta é uma divisão bastante razoável que, levando-se em consideração tudo o que foi 
exposto, é ela que adotamos para essa disciplina, considerando como “Contos de 
Fadas” todas as histórias de cunho fantástico, maniqueístas, que envolvem magia e 
encantamento e que sempre terminam com um final feliz. 
Como fábulas, entendem-se as histórias de animais que falam e que envolvem 
conceitos socioculturais. Uma vez que estes dois tipos são os mais usados com 
crianças, apreciados e que trazem um grande potencial educacional, que é o nosso 
principal escopo. 
As histórias e a cultura 
As histórias, conforme demonstrado inicialmente, refletem uma cultura, isto 
porque são criadas pelas influências, necessidades do povo de uma determinada 
cultura. Porém, se com o passar de centenas e centenas de anos e contadas para os 
mais diferentes povos elas continuam com as mesmas características e valores, é 
difícil dizer por que elas não se alteram sob o impacto da cultura de cada época e 
região. 
Isto ocorre porque os contos de fadas tratam de valores profundos que são comuns 
a todas as pessoas, em qualquer situação e em qualquer época. Propp (2002) dá como 
exemplo o príncipe que sempre sai em busca de sua noiva, longe, mencionando que 
será um reflexo da imposição da busca por um companheiro, necessidade comum a 
todo o ser humano. 
Não fosse assim, como seria possível explicar o surgimento de histórias tão 
semelhantes em diversas partes do mundo incomunicáveis no amanhecer da 
civilização? Marie von Franz relata que “existem indícios de que alguns temas 
principais de contos se reportam a 25.000 anos a.C., mantendo-se praticamente 
inalterados (2003, p. 12). 
A explicação que Marie von Franz tem para a identidade de enredos surgidos em 
pontos distantes de tempo e espaço é que “contos de fadas são as expressões mais 
simples de processos psíquicosdo inconsciente coletivo. Eles representam os 
arquétipos na sua forma mais simples, plena e concisa” (2003, p. 9). E manifesta-se 
de forma muito semelhante a Propp: 
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Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado, obtêm-se 
as estruturas básicas da psique humana através da grande quantidade de material 
cultural. Mas nos contos de fada existe um material culturalmente muito menos 
específico e, consequentemente, eles oferecem uma imagem mais clara das 
estruturas psíquicas (2003, p. 9). 
Assim, se os contos de fadas estão ligados às estruturas da psique, estas estão ligadas 
à natureza do ser e, portanto, pouca influência sofrem da cultura. 
O consagrado psicólogo Bruno Bettelheim consolida este pensamento: 
Essa é exatamente a mensagem que os contos de fadas transmitem à criança de 
forma variada: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte 
intrínseca da existência humana – mas que se a pessoa não se intimida e se defronta 
resolutamente com as provocações inesperadas e muitas vezes injustas, dominará 
todos os obstáculos e ao fim emergirá vitoriosa (BETTELHEIM, 2007, p. 15). 
Para finalizar a questão, Franz afirma: “A linguagem dos contos de fada parece ser a 
linguagem internacional de toda espécie humana - de idades, raças e cultura” (2003, 
p. 35). 
Outro ponto importante a ser considerado ao se falar na influência da cultura nos 
contos de fadas é inspirado em Gillig (1999), ao chamar de contos modernos aqueles 
escritos por autores que sucederam aos irmãos Grimm, Perrault e Andersen. A 
resposta parece ser o fato de que os Grimms e Perrault, ao transcreverem as 
histórias, e mesmo Andersen, ao buscar inspiração, estavam coletando dados de 
fontes populares frutos de uma composição coletiva, o que faz supor que o elo dessa 
pluralidade de autores são os sentimentos, emoções e temores inerentes à natureza 
dos seres humanos. Os autores chamados modernos precisaram beber da sua 
própria imaginação para criar enredos inusitados, fruto de suas vivências atuais, 
portanto muito mais submissos às influências culturais. Este raciocínio autoriza 
dizer que quanto mais recente é a criação das histórias, mais ela sofre a influência da 
cultura e mais complexidade há em seu enredo. 
Diferentemente dos contos de fadas, as fábulas sofrem diretamente influência da 
cultura. Tomando as fábulas, conforme defne Gillig (1999), como ilustradoras de 
aspectos morais da sociedade, elas se diferem dos contos de fadas por sofrerem forte 
influência da cultura. 
Um exemplo claro da influência da cultura nas fábulas está na cigarra e a formiga; 
esta trabalha no verão, enquanto a cigarra só canta. No inverno, a formiga tem a sua 
casa segura e cheia de alimentos, enquanto que a cigarra está desabrigada e com 
fome. Ao pedir auxílio à formiga, a cigarra recebe uma negativa e acaba morrendo 
de inanição e frio. 
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Contada por La Fontaine, na França do século XVII, a orientação que deveria ser dada 
às cigarras é: trabalhem! Não se deixem seduzir pelos prazeres trazidos pela luz e pelo 
calor, pois se não se cuidarem, quando precisarem não terão auxílio de ninguém. 
Duzentos anos depois, em 1930, no Brasil, Monteiro Lobato, através da Dona Benta, 
conta a mesma fábula às crianças. Emília, eterna contestadora, reclama e chama a 
formiga de má. Em uma época que clama por igualdade social, a solidariedade aflora 
e a fábula “A cigarra e a formiga” é modificada por Dona Benta, tendo ambas, a 
cigarra e a formiga, o mesmo comportamento no verão. No inverno, a cigarra, ao 
bater na porta da casa da formiga, é acolhida com prazer, e a fábula termina com a 
cigarra cantando para a formiga em forma de agradecimento. 
Millôr Fernandes completa o raciocínio desejado para esta exposição ao narrar a sua 
fábula, de maneira idêntica para o comportamento das duas personagens no verão, 
porém, surpreendendo, quando dá à cigarra um convite para estrelar na Broadway 
no inverno brasileiro. A história se torna aqui uma ironia à indústria cultural. 
 
Figura 3.6 – A cigarra e a formiga 
Assim, as fábulas têm uma maior complexidade do seu enredo, mais próximo da 
vida real. Esta é uma das razões que explica o porquê de as histórias de fadas serem 
mais bem compreendidas pelas crianças pequenas e as fábulas pelas crianças 
maiores, que melhor articulam o raciocínio lógico. 
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FINALIZANDO 
Por todas essas razões, as histórias são uma mídia privilegiada para se comunicar 
com crianças das mais diversas maneiras. Através das histórias, pode-se viajar para 
o presente, para o futuro e, também, para o passado. Pode-se ficar bem pequeno e 
visitar os seres microscópicos, como também, se tornar gigante e ver o mundo de 
uma maneira mais ampla. Pode-se viajar sobre as nuvens e sob as águas, visitando o 
magnífico reino aquático. E os mais diversos assuntos podem ser abordados. Com 
elas se pode falar de esperança, de coragem, de felicidade, de desafios; com elas se 
pode sonhar com um mundo mais que encantado, com um mundo melhor. 
 
Arquétipos: Segundo Jung, são um conjunto de impressões pertencentes ao 
inconsciente coletivo. Ou seja, pertencente a todo o ser humano. Eles representam 
modelos de comportamento. Os arquétipos estão, portanto, nos bastidores de todos 
os nossos pensamentos, sentimentos, emoções, intuições, sensações e atitudes. 
Os símbolos arquetípicos são encontrados nos mitos originais, nas mais variadas 
religiões, em lendas que já fazem parte da bagagem cultural coletiva, os quais 
marcam definitivamente a consciência e particularmente a esfera do inconsciente 
humano. Alguns destes arquétipos: a figura materna, a imagem do pai, a criança, o 
herói, o divino, entre outros. 
Complexidade: É quando uma situação envolve muitos fatores que tornam o seu 
entendimento complicado. Ela pode exigir o entendimento de várias áreas do 
conhecimento para poder ser entendida por completo. 
Cultura: É um termo que tem diversos sentidos em vários níveis de profundidade e 
é aplicada a diversos ramos do conhecimento. Para as ciências sociais, reflete o 
movimento dos homens na produção do saber, da arte, dos costumes e do folclore. 
Em sociologia, é tudo que é aprendido e partilhado num determinado grupo de 
indivíduos, o que lhes dá identidade. 
Escravos alforriados: Diz-se daquele que era propriedade de um senhor e vivia ao seu 
mando, sendo posteriormente libertado formalmente. 
Estereótipo: São tipos definidos por meio da classificação das pessoas de acordo com 
seu comportamento, sua aparência, seu jeito de falar. Uma vez formado um 
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estereótipo, ele se aplica a qualquer pessoa que apresentar um dos elementos que 
compõem o tipo. Por exemplo, alguém que tem uma tatuagem pertence ao 
estereótipo de pessoa descolada, que não obedece às leis e que tem uma vida 
alternativa. Isso não corresponde à verdade, porque as pessoas são muito diferentes 
entre si, portanto o uso de estereótipos na vida real não é desejável. 
Psique: relacionada com a psicologia, e começou a ser usada com a conotação de 
mente. Refere-se ao conjunto dos processos psíquicos, ou emoções humanas 
registradas de forma consciente (que são percebidos) e inconscientes (que não são 
percebidos). 
 
 
O valor educacionalde uma história está na mensagem que ela passa, ela constitui o 
cerne da comunicação. As histórias dão contexto àquilo que se gostaria ou que se 
necessita dizer e nem sempre se sabe como. Por outro lado, elas despertam 
sensações, aguçam habilidades, desenvolvem o senso crítico, a imaginação, a 
criatividade mesmo sem o narrador perceber. Assim, se o narrador se der conta deste 
potencial poderá direcionar a comunicação, potencializar a mensagem, dando 
ênfase aos pontos que julga mais importantes ou que são mais interessantes para o 
momento, podendo fazer suas próprias complementações. 
O estudo detalhado da história irá possibilitar que se dê atenção a cada um de seus 
tópicos, ressaltando algum detalhe que poderia ter passado despercebido. Esse 
detalhamento também irá ajudar no timing da narração e na escolha dos recursos 
auxiliares. 
De forma bastante objetiva, Tahan (1961) evidencia a importância do estudo da 
história: 
O narrador que hesita, interpolando reticências inúteis entre os períodos, pode 
sacrificar, por completo, o êxito da narrativa. As hesitações decorrem de certas 
dúvidas, de pequenas falhas e as dúvidas não aparecem para aquele que conhece com 
“absoluta segurança o enredo”. 
Aquele que tiver a insensatez de tentar a narrativa de uma história, sem dominar 
com precisão o enredo, praticará uma leviandade (TAHAN, 1961, p. 30). 
A Escolha da História 
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O primeiro passo para um educador que usa as histórias como meio (ou para um 
contador que, além de encantar, quer se comunicar) é a escolha da história. É comum 
cada contador ter o seu próprio repertório, no qual se encontram as histórias que 
“dizem aquilo que ele gostaria de dizer”, que contêm mensagens nas quais ele 
acredita e que julga importantes. Normalmente o contador leva para este acervo as 
histórias que o encantam, que têm elementos capazes de seduzi-lo, de incitar a sua 
imaginação. Esta é a única maneira possível de seguir os ensinamentos de Tahan 
(1961) para “emocionar-se com a própria narrativa”. 
Atribuindo-se poder às histórias e entendendo este poder como capacidade 
privilegiada de se comunicar com crianças, pode-se concluir que as histórias certas 
são um “tesouro”, e este tesouro não irá “cair dos céus” como uma dádiva. Para ter 
um tesouro, é preciso garimpar. 
E nesse garimpo, as “joias” não são iguais: cada uma tem um valor específico a 
determinada pessoa. As pessoas são diferentes, têm valores próprios que lhes são 
mais significativos, têm a sua própria visão de futuro, de transformação, cada qual 
com o seu script de vida entende de forma diferente a “marca” que sua passagem 
quer deixar no mundo. 
Betty Coelho é clara em relação à escolha da história que se irá contar. Para ela, além 
da óbvia necessidade de se adequar a história ao gosto de quem irá ouvi-la, é preciso 
que a escolha recaia sobre uma determinada história: 
Às vezes leva-se algum tempo pesquisando em livros e revistas até se encontrar a 
história adequada à faixa etária adequada e que atenda aos interesses dos ouvintes e 
ao objetivo que a ocasião requer. É preciso também considerar o estilo do narrador. 
A história é o mesmo que um quadro artístico ou uma bonita peça musical: não 
poderemos descrevê-los ou executá-los bem se não o apreciamos. Se as histórias não 
nos despertarem a sensibilidade, a emoção, não iremos contá-las com sucesso. 
Primeiro é preciso gostar dela, compreendê-la, para transmitir tudo ao ouvinte. 
Quando me interpelam nos cursos de treinamento dizendo: Não gosto de contar 
histórias tristes, que devo fazer? A resposta óbvia é: “Não as conte. Escolha o que 
gosta de contar” (COELHO, 1986, p. 14). 
E isto é muito mais significativo no adulto que entende sua missão como a de ser 
transmissor de cultura aos seus descendentes. Nesta lide, cada um escolhe, já 
escolheu ou escolherá qual é o papel que deseja desempenhar na vida de seus 
pequenos ouvintes, e este papel inclui escolher as mensagens, as suas próprias 
mensagens, e verificar se elas estão nas histórias, nas histórias escolhidas que fazem 
parte do seu acervo. 
Idade Adequada 
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É difícil determinar em termos precisos qual é a idade adequada para uma dada 
história. Nosso livro base, na página 25, traz algumas dicas, e alguns livros infantis 
trazem indicação da faixa etária adequada, mas o principal é a sua percepção: 
observe a reação da sua plateia e vá “afinando” a faixa etária que mais se diverte e 
aproveita as mensagens educacionais da história. 
É importante ressaltar que não é somente a história que determina a idade de seu 
público, mas também a forma como ela é contada. Sendo que pode haver adaptações 
simplificações ou aprofundamento de acordo com a maturidade e outras 
características específicas das crianças. 
Componentes de uma História 
Faz parte do estudo de uma história o conhecimento aprofundado dos seus 
componentes principais, dentre eles, os mais importantes são os personagens, 
aqueles a quem se atribui as vivências que irão compor toda a trama. 
Posteriormente, é importante compreender o local onde a história ocorreu, uma vez 
que ele irá influenciar os fatos, e também a sua descrição, que irá ajudar os ouvintes 
na compreensão do enredo. O estudo do local será preponderante para que o 
contador preveja quantos cenários irá utilizar, o que é absolutamente necessário 
quando estiver usando recursos auxiliares, mas não é descartado quando se está 
apenas narrando a história, pois o contador, tendo em vista o número de “cenários” 
que são necessários para causar melhor compreensão da história, usa-os para 
estruturar a sua narrativa. 
Algumas histórias estão ligadas a uma determinada época e sofrem influências 
culturais, identificadas por determinados aspectos presentes na história que, 
muitas vezes, explicam e justificam certos fatos, e que indicarão o que deve ser 
esclarecido aos seus ouvintes, promovendo uma melhor compreensão e uma maior 
contribuição cultural ao processo de comunicação focado na contação de histórias. 
Malba Tahan (1961) ensina, para este aspecto em particular, que se deve “verificar 
se a história exige, para ser contada, alguma explicação prévia” e dá um pitoresco e 
delicioso exemplo: 
Pode acontecer que no enredo da história apareça alguma alusão a um nome (moeda, 
planta, acidente geográfico, estrela, animal exótico, etc.) que os ouvintes 
desconheçam. Em certos casos é interessante elucidar previamente o auditório: 
“Vou contar, para vocês, uma estranha aventura ocorrida em Itaberaí. Itaberaí é uma 
próspera e pitoresca cidade de Goiás. A palavra Itaberaí significa ‘rio das pedras que 
brilham’. Essa cidade...” (Seguem-se as indicações curiosas sobre a cidade que vai 
servir de cenário para a narrativa) (TAHAN, 1961, p. 53). 
Personagens 
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São os elementos mais importantes da história. É preciso entender quem são e qual 
a importância de cada um deles. Toda história é composta de personagens 
principais, secundários e supérfluos. Os personagens principais são aqueles que têm 
importância vital na história, sem eles ela não aconteceria. Toda história tem como 
personagens principais um herói e um vilão. Muitas vezes o personagem do herói é 
duplo, apresentando o masculino e o feminino. 
Assim, deve-se entender quem são eles para poder dar-lhes uma ênfase maior. Este 
destaque será dado na narração, em que se deve dar maiores detalhes da sua 
personalidade, da sua aparência física, da suavestimenta. Se a história for narrada 
com recursos auxiliares, como fantoches ou marionetes, esses personagens deverão 
ser os mais elaborados e não poderão jamais faltar. 
É importante que o narrador saiba mais dos personagens do que ele irá descrever, ele 
deve imaginar como é o seu porte físico, seu tom de voz e sua personalidade, isso fará 
com que seja mais fácil dar colorido em cada passagem que o personagem está 
envolvido, como também imaginar como seria a reação do encontro do herói com 
sua amada ou com o terrível vilão. 
O autor de Ouvidos dourados, o famoso contador de histórias Jonas Ribeiro, tem 
uma opinião sobre o assunto: 
Pode até parecer estranho ficar pensando na cor do vestido da princesa, viajando no 
dorso do cavalo Rondó e ficar experimentando a garra do leão, o bigode do cão, a 
pena de águia e a patinha da formiga. E daí? Não importa quão estranho isso possa 
parecer, importa sim que esse brincar com a história faz parte do ofício do contador 
de histórias. (RIBEIRO, 2001, p. 80) 
Os personagens secundários também são importantes, costuma-se dizer que são o 
amigo do herói e o inimigo do herói, ou o amigo do vilão. Sua importância está no 
fato de que eles dão sentido às falas dos personagens principais e é através do diálogo 
com seu amigo que se conhece as intenções do herói ou os planos do vilão. 
Usar ou não os personagens secundários, vai depender das condições, porém, a estes 
se dará sempre menor ênfase, mesmo porque isso será importante para o 
entendimento da história. Se o narrador dedicar o mesmo tempo para descrever o 
herói (personagem principal) e o amigo do herói (personagem secundário), ele 
confundirá a sua plateia. Já quando se trata do uso de recursos auxiliares, alguns 
deles proíbem o uso de muitos personagens, como ocorre com os fantoches, por 
exemplo, pois o uso de mais do que quatro personagens torna o manuseio inviável. 
Neste caso, pode-se dispensar um personagem secundário, fazendo-se menção a ele 
apenas através de um diálogo em que o personagem não aparece. 
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E, finalmente, os personagens supérfluos são aqueles que não têm absolutamente 
importância alguma: tê-los ou não tê-los não irá fazer a menor diferença. Os pais da 
Bela Adormecida, por exemplo, apesar de serem reis e progenitores da personagem 
principal não fazem diferença alguma no enredo, assim eles podem ser citados em 
apenas uma linha da narração e a compreensão da história será a mesma. Por outro 
lado, com um grupo grande de crianças em que se queira narrar a história de forma 
interativa, ou se a história for utilizada para uma dramatização, o uso dos 
personagens supérfluos será interessante para dar um papel a todos. 
Local 
O contador irá se valer das imagens mentais para poder relatar aquilo que “ele 
mesmo vê”. Assim, conhecer o local onde a história se desenrola irá alimentar sua 
imaginação, que elaborará essas referências juntamente com outras que ele já 
possui, gerando a inspiração necessária para dar esteio à sua narração. 
As histórias geralmente encerram um ambiente envolvente: trata-se de um cenário 
marítimo, uma floresta cheia de mistérios ou um castelo com seus diversos 
aposentos, e a pesquisa desses aspectos poderá ser muito fascinante. 
Muitas vezes o narrador irá pesquisar para ter elementos que enriqueçam a sua 
descrição. É útil se chegar à especificação do país, se isto for significativo na história. 
Certamente aquele que não conhecer as “estepes da Índia” não poderá descrevê-las 
com riqueza, mas talvez tenha prazer em conhecê-las, em estudá-las melhor e, com 
isso, além de ter um grande prazer pessoal e intelectual, ele estará aumentando os 
seus horizontes de detalhes e, assim, conseguirá se expressar muito melhor. O 
conhecimento exato do local onde se passa a história evita erros grosseiros, que às 
vezes são cometidos na atribuição de costumes errados a povos, na colocação de 
elementos de fauna e flora em áreas geográficas erradas. 
Um ambiente pode se desenvolver através de vários cenários e o bom narrador 
deverá dar detalhes de cada um deles. 
Assim, uma história que apresenta muitos cenários irá exigir mais do narrador, que 
deverá dar detalhes suficientes para que cada ouvinte “sinta” cada cenário sem, 
contudo, cansar-se. Muitas informações poderão também confundir os ouvintes. 
Outro aspecto importante é que se deve dar “um espaço” para a criança criar o seu 
próprio cenário, ou seja, o narrador dá a abertura, descreve os elementos principais 
e deixa que cada um complete o cenário e outros elementos cenográficos com sua 
própria imaginação. 
Um castelo é sempre um lugar de riqueza e fartura, não há necessidade de descrever 
detalhadamente cada um de seus elementos, bastam poucos detalhes para ressaltar 
o ambiente desejado, por exemplo: “o castelo era muito rico, muito mais do que 
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qualquer rei ou rainha pudesse pensar, imaginem que suas escadarias eram de puro 
ouro e os lustres feitos de diamantes!”. Essa descrição já foi suficiente para que cada 
ouvinte tenha sua própria visão desse castelo muito rico e pense em outros 
elementos, próprios de sua imaginação, que o ajudarão a se deleitar com os fatos do 
enredo. Mas fique atento: se o narrador não imaginou o “seu” castelo, como iria 
descrever “escadas de puro ouro e lustres feitos de diamantes”? 
A natureza também oferece cenários estereotipados que facilitam a compreensão da 
história. O sol, radiante e brilhante, é que gera um clima positivo de esperança e 
renovação. Um repentino anoitecer ou um lugar onde ninguém sabe por que é 
sempre noite traz um clima de que “algo mau está para acontecer”. A floresta leva à 
presunção de liberdade e exercício da autonomia, o “viver por si só”, o “superar-se”. 
De forma análoga aos personagens, o narrador certamente possui mais detalhes 
sobre o ambiente do que aqueles que irá contar, que idealizou no seu convívio com a 
história, os quais, embora não vá transmiti-los aos seus ouvintes, formam um 
repertório de imagens mentais que servirão de suporte à narração. 
A imaginação exerce um papel importantíssimo na narração e pode não aparecer 
espontaneamente em uma pessoa, porém pode ser treinada e desenvolvida: 
A imaginação dotada de iniciativa própria pode desenvolver-se sem qualquer 
esforço especial e trabalha, constante e incansavelmente, quer você esteja 
dormindo, quer acordado. Depois há aquela que não tem iniciativa, mas é fácil de 
despertar e continua agindo logo que lhe sugerem alguma coisa. A imaginação que 
não reage às sugestões cria um problema mais difícil. Com ela o ator recebe as 
sugestões de um modo apenas exterior e formal. Assim equipado, o seu 
desenvolvimento está crivado de dificuldades e há pouquíssimas esperanças de 
êxito, a não ser que ele faça um esforço enorme. (STANISLAVSKI , 2002, p. 90) 
Época, Aspectos Culturais 
Existem histórias que não têm época e, quando se conta uma história desse tipo, o 
ouvinte tem a impressão de que aquele enredo poderia estar acontecendo com ele, 
naquele momento, como é o caso das histórias de fadas. 
Porém, quando a história tem uma época, certamente isso terá influência nos 
costumes e em como o seu enredo se desenrolará. Existem fatos que adquirem 
significância própria dentro do contexto da época e compreendê-los será importante 
para fazer analogias com a época atual ou para compreender outros fatos na mesma 
época. Desconhecer essas peculiaridades ou fazer confusão com elas poderá ter 
consequências prejudiciais, afetando a veracidade com que a história é recebida, 
agindo como um ruído de comunicação, e fornecendo informações erradas. 
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