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Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 Módulo 1: Medicina Coletiva e Políticas Públicas de Saúde QUARTA TUTORIA – OBJETIVOS: 1. Analisar a Estratégia de Saúde da Família (ESF) dentro da Atenção Primária de Saúde. 2. Analisar o processo da Territorialização. 3. Analisar a atuação do Agente Comunitário na promoção de saúde. 4. Descrever o cadastramento do usuário pelo SUS (e-SUS AB). 5. Explicar o processo de Referência e Contra-Referência. OBJETIVO 1 Antecedentes Na década de 70 e 80, funcionava no Brasil os Centros De Saúde. Eles foram importantes por muito tempo, pois focavam nos problemas de saúde da época, como mortalidade materno- infantil, doenças infecciosas e agudas. Em seus Centros existiam equipes de saúde com especialidades focais, como pediatras e ginecologistas, que trabalhavam sob uma lógica de atendimento passiva, ou seja, as pessoas buscavam atendimento quando tinham algum problema de saúde. Os problemas que exigiam os profissionais disponíveis no Centro eram resolvidos. Caso contrário, eram encaminhados para outros serviços (às vezes até em outras cidades). Contudo, as pessoas que tinham problemas crônicos (que exigem um atendimento integral da equipe de saúde) não eram assistidas da maneira devida. É daí que surge a Estratégia de Saúde da Família. A Estratégia de Saúde da Família Ela aprimorou uma série de indicadores de saúde nos últimos anos e a abrangência do atendimento, se tornando resolutiva em 85 a 90% dos problemas de saúde (procedimentos menos comuns são encaminhados para outros níveis de atenção). Conseguimos visualizar essa estratégia através dos postos de saúde, onde se consegue trazer um vínculo entre o profissional e o usuário através da estratégia central de Territorialização, procurando reorganizar o trabalho em saúde mediante operações intersetoriais. A sua ação na Atenção Básica, principal porta de entrada do sistema de saúde, se inicia com o ato de acolher, escutar e oferecer resposta resolutiva para a maioria dos problemas de saúde da população, diminuindo danos e se responsabilizando pela integralidade do cuidado. Para isso, é necessário que o trabalho seja realizado em equipe, de forma que os saberes se somem e possam garantir a resolutividade das ações de saúde e a longitudinalidade do atendimento. A ESF é formada por médicos (que podem ser especializados em Saúde da Família), enfermeiros, técnicos de enfermagem, dentistas, técnicos em saúde bucal e agentes comunitários de saúde. Essa equipe tem a responsabilidade de reconhecer os problemas de saúde mais comuns em sua área de abrangência e principalmente acompanhar esses usuários ao longo do tempo; NASF A população apresenta uma pluralidade de agravos à saúde - como os problemas de violência, de saúde mental, pobreza, uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas e acidentes externos - e uma realidade tão complexa necessita de um olhar multifacetado, em que diferentes profissionais possam garantir a continuidade e a integralidade da atenção. Dentro desse contexto, foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), compostos por profissionais de diferentes áreas que atuam de maneira integrada com as ESF nas ações de prevenção e promoção da saúde na atenção básica. A integralidade se concretiza principalmente pelo aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde – tanto clínicos quanto sanitários –, por meio da responsabilização compartilhada entre a equipe do NASF e as ESF. A composição do NASF é definida pelo gestor municipal, a partir dos dados epidemiológicos, das necessidades locais e das equipes de saúde que serão apoiadas. Pode ser formado por: Médico Acupunturista; Assistente Social; Profissional de Educação Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Ginecologista/Obstetra; Médico Homeopata; Nutricionista; Pediatra; Psicólogo; Psiquiatra; Terapeuta Ocupacional; Geriatra; Médico Internista (clínica médica); Médico do Trabalho; Veterinário; e profissional de saúde sanitarista. Diferentes arranjos da Atenção Básica em Saúde Equipes de Consultórios de Rua – Foram criadas com o objetivo de fornecer maior acesso e cuidado integral às pessoas em situação de rua. Elas desenvolvem ações na rua, de forma itinerante, na unidade móvel e/ou nas UBS do território, devendo cumprir carga horária semanal de 30 horas, sendo que o atendimento pode ocorrer no período diurno e/ou noturno em todos os dias da semana. Sua ação exige articulação com outras equipes do território como o NASF e instituições ligadas ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Naqueles municípios ou áreas, sem consultórios de rua, o cuidado integral das pessoas nessa situação deve ser de responsabilidade das equipes da UBS e dos NASF do território onde elas estão concentradas. Equipe de Saúde da Família Ribeirinha e Equipes de Saúde da Família Fluviais – São responsáveis pelo atendimento da população ribeirinha da Amazônia Legal e Pantanal Sul-mato- grossense. Ambas devem apresentar uma equipe de profissionais semelhante às ESF comuns, sendo que a Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 Ribeirinha deve contar com um microscopista, nas regiões endêmicas, e as Fluviais devem contar com um técnico de laboratório e/ou bioquímico na constituição da equipe multiprofissional, sempre associada à realidade epidemiológica e às necessidades de saúde da população. Serviços ofertados na APS Acesso a ações de promoção, prevenção e tratamento relacionadas a saúde da mulher, da criança, saúde mental, planejamento familiar, prevenção a câncer, pré-natal e cuidado de doenças crônicas como diabetes e hipertensão. Também são realizados curativos, inalações, aplicação de vacinas, oferta de medicação básica, coleta de exames laboratoriais, tratamento odontológico e encaminhamento para atendimentos com especialistas. OBJETIVO 2 Territorialização em saúde é o processo de reconhecimento do território; É uma técnica de obtenção e análise de informações que possibilita o reconhecimento do ambiente, das condições de vida e da situação de saúde da população de determinado território, assim como o acesso dessa população a ações e serviços de saúde, viabilizando o desenvolvimento de práticas de saúde voltadas à realidade cotidiana das pessoas. Esse processo é realizado em 3 etapas (que não ocorrem necessariamente de maneira linear): 1. Fase preparatória ou de planejamento: requer planejamento prévio para estabelecer o que se deseja saber e como será a melhor maneira de obter essas informações. Nessa fase ocorre a definição dos dados que serão coletados, quem coletará, como coletará e o prazo para essa coleta seja realizada. É feita também a definição das responsabilidades de cada membro da equipe em cada uma das fases do processo. 2. Fase de coleta dos dados/informações: É feita através de observações in loco, entrevistas com as pessoas que residem no território, leitura dos prontuários dos usuários da unidade de saúde ou com a coleta de dados no Sistema de Informação à Saúde (SIS); 3. Fase de análise dos dados: Também chamada de Análise Situacional em Saúde; É a parte mais trabalhosa e deve ser discutida em conjunto com a equipe. É o momento de analisar os dados que a equipe coletou na territorialização e transformá-los em informações, para compreender a situação de saúde da população e, a partir dessa compreensão, desenvolver o planejamento de práticas de saúde voltadas à realidade cotidiana das pessoas. Também é realizada a divisão desses dados em blocos relativos ao que se refere cada um e em seguida é feita a relação entre eles; Ex: Dados demográficos, epidemiológicos, políticos, ambientais, aspectos socio- econômicos, acessibilidade aos serviços de saúde e infraestrutura do território; Além dessa análise, os dados são mapeados no território, para que a equipe possa compreender a distribuição geográfica dos aspectos citados, fazendo as relações necessárias entre as informações. Há muitas maneiras de se fazer o mapa, desde mapas produzidos à mão até a utilização de programas de geoprocessamento (GoogleMaps e Earth). A melhor maneira é aquela que é possível de realizar, de acordo com o conhecimento dos membros da equipe e do acesso que têm aos recursos necessários para sua confecção. OBJETIVO 3 Em 1991 o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde (PNACS) baseado na experiência realizada no estado do Ceará em 1987, onde o objetivo era melhorar através dos ACS a capacidade da população de cuidar da sua saúde, transmitindo-lhes informações e conhecimentos e contribuir para a construção e consolidação dos sistemas locais de saúde; O agente comunitário de saúde (ACS) exerce o papel de “elo” entre a ESF e a comunidade, pois vivencia o cotidiano das pessoas com mais intensidade em relação aos outros profissionais. Ele realiza visitas domiciliares na área adscrita, produzindo dados capazes de dimensionar os principais problemas de saúde de sua microárea. A esses profissionais cabe cadastrar todas as pessoas do território, mantendo esses cadastros sempre atualizados, orientando as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis. Devem acompanhá-las, por meio de visitas domiciliares mensais e ações de educação em saúde, buscando sempre a integração entre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS. Devem desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e de vigilância à saúde dentro dos domicílios, mantendo como referência de 400 a 750 pessoas por ACS e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família. Responsabilidades: - Conhecer a sua microárea através da coleta de dados; - Deve morar no território em que atua; - Identificar os agravos mais comuns daquela comunidade para direcionar os trabalhos da ESF; - Analisar o contexto social e econômico das famílias cadastradas; - Observar a frequência dos usuários nas consultas, fazendo busca ativa dessas pessoas; - Interagir sobre os assuntos de saúde e incentivar a participação popular; - Encaminhar os pacientes quando necessário para a UBS; - Mobilização da comunidade em campanhas de vacinação; - Orientar e acompanhar os usuários, principalmente em casos mais vulneráveis e situações de risco; Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 OBJETIVO 4 O cadastro do cidadão na APS é de responsabilidade das ESF e é através dele que se pode identificar os usuários do SUS e seus domicílios de residência, auxiliando o planejamento das equipes nas ofertas de serviços e o acompanhamento das pessoas. Manter todos os dados atualizados, incluindo o endereço e telefone, é muito importante, pois facilita a localização e a busca ativa do cidadão na hora de avisar sobre exames, consultas ou campanhas da unidade de saúde; Por meio do cadastro será possível a emissão do Cartão Nacional de Saúde para os usuários e a vinculação de cada usuário ao domicílio de residência; É por meio dos dados coletados que será atribuído a cada cidadão um número único nacional, com o objetivo de identificá-lo como usuário do SUS. Todos os profissionais da ESF podem realizar o cadastramento, que pode ser feito através da Coleta de Dados Simplificada (CDS) ou diretamente no sistema do e-SUS através do Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC). O SISAB (Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica) orienta o modelo de informação para gestão da atenção básica no nível federal, estadual e municipal; Para coletar e transmitir as informações para a base nacional SISAB, é usado o software e-SUS AB, que veio para organizar o trabalho dos profissionais de saúde e melhorar a qualidade da atenção à saúde prestada à população. Através dele, é feita a digitação das fichas de Cadastro Domiciliar e Individual no sistema. O CDS é um sistema de coleta de informações de forma simplificada, estruturada por fichas de papel que possibilita o registro do atendimento do profissional ao cidadão. Esse sistema atende bem as UBS que ainda não estão informatizadas; Apesar do registro ser por fichas, essas informações também devem ser integradas ao sistema do e-SUS; Mesmo que as ESF usem o CDS, o registro vai para o histórico de atendimento do cidadão, e quando a UBS for informatizada, o histórico estará disponível no sistema. O PEC é um sistema disponível no software do e-SUS para as UBS informatizadas e usa um prontuário eletrônico como principal ferramenta para estruturar o trabalho dos profissionais de saúde. Além disso, ele auxilia todo o fluxo da UBS com ferramentas como agenda dos profissionais, marcação de consultas, lista de atendimentos, histórico de prontuário do cidadão, atenção domiciliar, relatórios, etc... OBJETIVO 5 Sistemas organizados em diferentes níveis de atenção necessitam de um efetivo sistema de referência e contrarreferência para viabilizar seus fluxos entre as diversas esferas que os compõem, a fim de se efetivar um dos principais princípios do SUS que é a integralidade. Essa integralidade é garantida através de fluxos ascendentes e descendentes de usuários acessando níveis diferenciados de complexidade tecnológica, em processos articulados de referência e contra- referência. Portanto, esse sistema se configura como uma estratégia para garantir a integralidade da atenção à saúde. A referência se caracteriza pelo encaminhamento do usuário, de um nível de atenção de menor complexidade (APS) para outro de maior grau de complexidade (UPAs e hospitais). A contrarreferência configura-se pelo retorno do usuário da média ou alta complexidade para outro de menor complexidade, ou seja, quando a continuidade do tratamento necessite de menos recursos tecnológicos e terapêuticos. Esse sistema facilitou a estratégia de funcionamento dos hospitais, pois os usuários ficavam internados por muito mais tempo, devido à questões sociais e também na intenção de garantir medicamentos, curativos, oxigênio, acompanhamento da equipe multiprofissional, tratamentos paliativos, entre outros. Atualmente, com o sistema de contrarreferência, a continuidade do tratamento é oferecida pela UBS mais próxima do domicílio do usuário, o que acaba aliviando certos problemas da assistência terciária, como a superlotação hospitalar, a alta demanda e os elevados custos da assistência. A troca de informações durante o processo de alta hospitalar e outros tipos de contrarreferência é fundamental para a continuidade da atenção ao usuário pela APS, pois possibilita que os profissionais conheçam as necessidades e complexidades que serão enfrentadas no cuidado ao usuário. Informações inadequadas ou atrasadas podem resultar em reinternações desnecessárias e até no prolongamento das internações. FONTES: “A Estratégia Saúde da Família na Atenção Básica do SUS”, Cartilha da Una-SUS, Elisabeth Niglio de Figueiredo, 2015. “Agente Comunitário de Saúde: elo entre a comunidade e a equipe da ESF?”, Otávia de Souza Fraga, 2011. “Territorialização como instrumento do planejamento local na Atenção Básica”, Claudia Flemming Colussi e Katiuscia Graziela Pereira, Cartilha da UFSC, 2016. “Referência e Contra Referência: Contribuição para a Integralidade em Saúde”, Juciane Rosa Gaio Fratini, Rosita Saupe, Aline Massaroli, 2008. “Manual Cadastramento Nacional de usuários do SUS”, Ministério da Saúde, 2001. OBJETIVO 1 OBJETIVO 2 OBJETIVO 3 OBJETIVO 4 OBJETIVO 5
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