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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 5 2 FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL .................................... 6 3 HISTÓRICO DA PSICOFARMACOLOGIA ................................................. 8 3.1 CEBRID .............................................................................................. 10 4 PSICOFARMACOLOGIA .......................................................................... 11 5 FARMACOCINÉTICA ............................................................................... 12 5.1 Principais vias de administração ........................................................ 13 5.2 Distribuição ......................................................................................... 17 5.3 Metabolização .................................................................................... 18 5.4 Excreção ............................................................................................ 19 5.5 Interação entre fármacos .................................................................... 19 6 FARMACODINÂMICA............................................................................... 21 7 A NEUROPSICOFARMACOLOGIA .......................................................... 22 8 NEUROTRANSMISSORES ...................................................................... 25 8.1 Serotonina (5ht) .................................................................................. 27 8.2 Noradrenalina (NA) ............................................................................ 27 8.3 Dopamina (DA)...................................................................................... 28 8.4 Acetilcolina (ACh) .................................................................................. 29 8.5 Glutamato .............................................................................................. 30 8.6 GABA .................................................................................................... 31 8.7 Receptores de neurotransmissores ....................................................... 32 9 AGONISTAS E ANTAGONISTAS COLINÉRGICOS ................................ 33 9.1 Agonistas e antagonistas colinérgicos naturais .................................. 34 10 CATECOLAMINAS ................................................................................ 35 10.1 Catabolismo da catecolamina ......................................................... 35 3 10.2 Neurotransmissores x neuromoduladores....................................... 36 10.3 Identificação dos neurotransmissores ............................................. 37 10.4 Regulação neural ............................................................................ 37 10.5 Etapas da neurotransmissão ........................................................... 38 11 PEPTÍDEO ............................................................................................ 38 11.1 Função biológica ............................................................................. 39 11.2 Fármacos que atuam SNC .............................................................. 40 11.3 Fase de absorção ........................................................................... 41 11.4 Processo de biotransformação ........................................................ 41 12 FATORES ENVOLVIDOS NA ABSORÇÃO .......................................... 42 12.1 Ligados ao fármaco ......................................................................... 42 12.2 Ligados ao organismo ..................................................................... 42 12.3 Fase de distribuição ........................................................................ 43 12.4 Fase de eliminação/excreção .......................................................... 43 12.5 Psicoestimulantes ........................................................................... 44 13 TIPOS DE FORMULAÇÃO DOS PSICOESTIMULANTES ................... 46 13.1 Ritalina ............................................................................................ 46 13.2 Anfetamina ...................................................................................... 47 13.3 Dextroanfetamina ............................................................................ 48 13.4 Metanfetamina ................................................................................ 49 13.5 Piracetam® ..................................................................................... 50 13.6 Reguladores ou estabilizadores de humor ...................................... 51 13.7 Depressores .................................................................................... 52 13.8 Hipnóticos ....................................................................................... 54 13.9 Antidepressivos ............................................................................... 59 13.10 Mecanismo fisiopatológico da depressão ....................................... 61 13.11 Inibidores da monoaminoxidase (MAO) .......................................... 62 4 13.12 Antidepressivos tricíclicos (ADT) .................................................... 63 13.13 Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ssri) .................. 63 13.14 Inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina (SNRI)............................ ........................................................................................ 64 13.15 Inibidores da recaptação neuronial da dopamina ........................... 65 13.16 Terapêuticas de combinação .......................................................... 65 13.17 Antidepressivos tricíclicos (ADT) e inibidores da MAO ................... 65 13.18 SSRI’s e antidepressivos tricíclicos (ADT) ...................................... 66 13.19 SSRI’S e bupropiom ....................................................................... 66 13.20 SSRI’s/ SNRI’s e mirtazapina ......................................................... 66 13.21 O papel do farmacêutico ................................................................. 67 14 FARMACODEPENDÊNCIA ................................................................... 67 14.1 Sinais do vício em medicamentos ................................................... 68 14.2 Diagnóstico de dependência ........................................................... 69 14.3 Como ocorre o tratamento .............................................................. 69 15 SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ............................................................. 71 15.1 Conceito .......................................................................................... 71 16 O CID - CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS........ ......................................................................................................... 73 16.1 A nova CID ...................................................................................... 75 17 PSICOTERAPIA .................................................................................... 77 17.1 Terapia ocupacional: interferência dos psicofármacos no tratamento................ .............................................................................................. 78 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 80 19 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ....................................................... 88 5 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comumé que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Fonte: decaturlegal.com O tecido nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O sistema nervoso periférico é dividido em gânglios, nervos e receptores. Esse sistema é capaz de conduzir os estímulos do sistema nervoso central até os órgãos. O sistema nervoso central é o sistema que sente, pensa e, em geral, controla nosso organismo. Ele é dividido em medula espinhal e encéfalo, que por sua vez é composto por três partes: cérebro, cerebelo e tronco encefálico, enquanto o tronco também possui três subdivisões: mesencéfalo, ponte e bulbo. Principais funções do SNC: • Função sensorial; • Função integrativa (pensamento e memória); • Função motora. A unidade funcional desse sistema é o neurônio, que pode ser aferente ou sensitivo (conduz o impulso ao sistema nervoso central), eferente ou motor (conduz as informações do sistema nervoso central aos músculos e glândulas). Esses neurônios, quando não estão conduzindo estímulos, estão no que chamamos de potencial de repouso. Isso significa que o interior da célula está eletricamente negativo em relação ao meio extracelular, caracterizando uma diferença 7 no potencial nas faces das membranas, graças a esse potencial nas faces interna e externa durante a condução do impulso nervoso é que temos o potencial de ação. O neurônio é composto por corpo celular, axônio e dendritos. Corpo celular é a principal parte do neurônio, a qual contém o núcleo, ribossomos, retículo endoplasmático e a mitocôndria. Se o corpo celular morrer, o neurônio também morre. Os dendritos ou terminação nervosa são prolongamentos oriundos do corpo celular, responsáveis por transmitir os impulsos nervosos (mensagem eletroquímica) de outras células ao corpo celular. O principal componente do sistema nervoso central é o neurônio, também temos o dendrito que é a recepção de informação do neurônio e o que transmite informações é o axônio ele transmite informações para todas as outras células (KLEIN 2006 apud; MENDONÇA, 2008). Cada neurônio possui um axônio, que também recebe o nome de fibra nervosa. Seu tamanho é variável e sua função é transmitir os impulsos nervosos do corpo celular para a célula seguinte no cérebro. Dependendo do neurônio, esse axônio pode ser coberto por uma fina camada denominada mielina, e sua função consiste em acelerar a transmissão do impulso nervoso. A comunicação entre um neurônio e outro ocorre por meio das sinapses, as quais são responsáveis pela transmissão do impulso nervoso de um neurônio a outro; nessa região ocorre a liberação das substâncias transmissoras (neurotransmissores) que podem ser excitatórias ou inibitórias, responsáveis pela estimulação ou inibição do outro neurônio. Fonte: researchgate.net 8 3 HISTÓRICO DA PSICOFARMACOLOGIA O uso de psicofármacos no tratamento dos transtornos mentais, a partir dos anos 50, mudou radicalmente a falta de perspectivas que até então prevalecia no campo da psiquiatria e da saúde mental, provocando uma ampla reformulação das concepções e práticas vigentes, de tal forma que na atualidade, conhecer os medicamentos existentes, as evidências que embasam seu uso, são essenciais para um efetivo trabalho nestas áreas, mesmo para aqueles profissionais que se dedicam preferentemente à prática psicoterápica. A decisão de utilizar ou não um psicofármaco depende antes de tudo do diagnóstico que o paciente apresenta, incluindo eventuais comorbidades. Pode-se dizer que a psicofarmacologia emergiu empiricamente. Por exemplo, a origem dos antidepressivos inibidores da monoaminoxidase (IMAO) foi a partir da observação de que a iproniazida, usada no tratamento da tuberculose, era capaz de produzir elevação de humor e euforia. A iproniazida foi introduzida no tratamento de pacientes hospitalizados com depressão após os estudos iniciais de Crane e Kline, de 1956 e 1958, respectivamente. Quase simultaneamente à introdução dos IMAO, a pesquisa de novos compostos anti-histamínicos conduziu ao aparecimento da imipramina (1958), que foi o primeiro de uma série de antidepressivos tricíclicos (REVISTA BRASILEIRA PSIQUIATRA, 1999 apud; SCAVONE, 2010). Nos anos seguintes, o uso de psicofármacos se disseminou amplamente, e o número de drogas também aumentou progressivamente, muito embora em termos de eficácia, os compostos mais recentes pouco se diferenciavam dos originais. Um ponto que evoluiu marcantemente foi a seletividade do fármaco. Um fármaco seletivo é aquele que atua especificamente sobre um local desejado; os efeitos colaterais que os fármacos apresentam estão diretamente relacionados à sua seletividade, ou seja, quanto menor a seletividade, maior a ligação do fármaco a outros receptores, e isso pode acarretar um efeito não desejado no organismo. Avançando no tempo, na década de 1960 surgiram várias teorias para a origem da depressão, assim como da esquizofrenia; essas teorias embasam a indústria farmacêutica até os dias de hoje no desenvolvimento de novos fármacos. Mas a decisão de se utilizar ou não um psicofármaco depende do quadro clínico que o paciente apresenta. 9 Para muitos transtornos mentais, os medicamentos são o tratamento preferencial, como no caso de esquizofrenia, transtorno bipolar, depressões ou ataques de pânico. Em outros, como nas fobias específicas - por exemplo, aracnofobia (medo de aranhas) - e transtornos de personalidade, as psicoterapias podem ser a primeira opção. Também existem situações nas quais o melhor tratamento consiste na associação de terapia e medicamentos. O médico é o profissional habilitado para decidir qual melhor tratamento para cada paciente. Os psicofármacos são constituídos de substâncias, que têm seu uso controlado e restrito, apenas quem possui um receituário médico pode comprar essas medicações, segundo as especificações da Portaria nº 344/1998 de 12 de maio de 1998. Aprova o regulamento técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Todo esse controle ocorre principalmente porque essas medicações apresentam um alto risco de causar dependência química. Classificação dos psicofármacos A maneira mais aceita e difundida de classificação dos psicofármacos é a divisão em três grandes grupos: Estimuladores aumentam ou ativam o funcionamento do cérebro, enquanto depressores diminuem ou inativam as funções cerebrais. Já os perturbadores causam confusão e alucinações no sistema nervoso central. Grupo 1: estimulantes do sistema nervoso central Estimulantes do sistema nervoso central são amplamente conhecidos como psicoanalépticos, noanalépticos, timolépticos. Esses estimulantes são fármacos que produzem um estado de alerta e aumento da vigília. Fazem com que as pessoas fiquem “ligadas”, “elétricas”. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), esses fármacos produzem alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora, sendo, portanto, passíveis de autoadministração (indivíduos usam para o seu próprio prazer, sem indicação médica). Em outras palavras, essas drogas levam à dependência química. Exemplos: anfetamina,cocaína e cafeína. Grupo 2: depressores do sistema nervoso central 10 Depressores ou psicolépticos são fármacos que diminuem ou inibem a atividade do sistema nervoso central. Fazem com que as pessoas fiquem “lentas”, “desligadas”. Geralmente estão associados a alguma ação analgésica. Exemplos: álcool, tranquilizantes ou calmantes, soníferos, inalantes, solventes (cola de sapato, tinta, removedores) e opiláceos (morfina). Grupo 3: perturbadores do sistema nervoso central Perturbadores do sistema nervoso central, psicoticomiméticos, psicodélicos ou psicometamórficos, não alteram o cérebro de forma quantitativa, não ativam e nem inibem o sistema nervoso central; eles promovem uma mudança qualitativa do funcionamento do sistema, provocam uma ação perturbadora e o cérebro passa a funcionar de maneira desordenada. Exemplos: mescalina, ecstasy e maconha. CEBRID O CEBRID é o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas e está localizado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Iniciou suas atividades em 1978, e desde então vem contribuindo com levantamentos sobre o consumo de drogas pela população brasileira. No CEBRID também existe uma divisão de estudos sobre plantas medicinais, visando, quem sabe, a descoberta de medicamentos fitoterápicos capazes de substituir drogas indutoras de dependência química. 11 4 PSICOFARMACOLOGIA Fonte: mind.tpkit.ru A psicofarmacologia é o ramo da farmácia que trata de substâncias conhecidas como psicotrópicas. As drogas psicotrópicas ou psicofármacos atuam de forma seletiva no sistema nervoso central (SNC), sendo também conhecidas como agentes psicoativos ou psicoterápicos. Desta forma, incluem nesta classe os fármacos que deprimem ou estimulam seletivamente as ações do SNC, que devido a tais propriedades, fizeram reduzir de forma considerável o número de internações em hospitais psiquiátricos (KOROLKOVAS, 1988 apud PIRES, 2010). A palavra psicotrópica, amplamente utilizada quando nos referimos aos psicofármacos, pode ser mais bem compreendida se dividirmos a palavra em duas partes: psico e trópico. Psico, de origem grega, refere-se ao nosso psiquismo (o que pensamos, sentimos); já a palavra trópico significa ter tropismo por algo, ou seja, ter atração por algo. Juntando os conhecimentos definimos drogas psicotrópicas como aquelas que atuam no nosso cérebro e o alteram. Essas drogas de ação central estão entre as primeiras descobertas pelos seres humanos primitivos e ainda nos dias de hoje constituem um dos grupos farmacológicos mais amplamente utilizados no mundo. Seu grande valor clínico se deve a diferentes áreas de atuação para aliviar a dor, suprimir movimentos desordenados, induzir o sono ou o despertar, reduzir a vontade de comer, auxiliar no tratamento e na melhora da qualidade de vida de 12 pacientes portadores de doenças neurodegenerativas ou até mesmo de dependentes químicos. Além do uso terapêutico, essas substâncias são o maior grupo de substâncias usadas por pessoas que se automedicam por motivos não terapêuticos, apenas para benefício próprio. São exemplos a maconha, a cocaína e até mesmo o café. Muito embora apresentem significados distintos, droga e fármaco são amplamente utilizados como sinônimos na classe médica. Droga: o termo tem sua origem na palavra droog, que significa folha seca, pois antigamente a maioria dos medicamentos era feita à base de vegetais. Atualmente, o termo pode ser definido como qualquer substância capaz de promover alterações fisiológicas ou farmacológicas, ou ainda, modificação de quadros patológicos, com ou sem a intenção de beneficiar o indivíduo. Exemplo: álcool. Medicamento ou fármaco: droga de ação preventiva, paliativa ou curativa no organismo doente. Exemplo: diazepam. Remédio: tudo o que provoca alívio de um sinal e/ou sintoma. Exemplo: acupuntura. 5 FARMACOCINÉTICA A farmacocinética é o estudo quantitativo do desenvolvimento temporal dos processos de absorção, distribuição, metabolização ou biotransformação e excreção dos fármacos. Esses fatores farmacocinéticos dependem do seu transporte através das membranas plasmática, das células até chegar ao seu referido local de ação. Os mecanismos básicos de transporte da membrana são: • Difusão passiva: difusão simples de um soluto através da membrana plasmática; • Difusão facilitada: difusão facilitada por um transportador de membrana. A maioria dos fármacos são ácidos ou bases fracas, presentes em solução sob as formas ionizadas e não ionizadas. Em geral, as moléculas não ionizadas são mais lipossolúveis, e por isso podem difundir-se facilmente pela membrana celular. Por outro lado, as moléculas ionizadas geralmente não conseguem penetrar na membrana lipídica por apresentar pouca lipossolubilidade. 13 É por isso que a droga ácida é mais bem absorvida em meio ácido, já que fica na forma não ionizada, o que facilita a difusão entre a membrana, enquanto droga básica é mais bem absorvida em meio básico, porque fica na forma não ionizada. Absorção É a transferência do fármaco do seu local de administração para o local de ação. Fatores que influenciam a absorção de fármacos são: Fatores referentes ao fármaco: • Lipossolubilidade: quanto maior a lipossolubidade, maior a absorção, e o contrário também é verdadeiro – quanto menor a lipossolubilidade, menor a absorção. • Forma farmacêutica: fármacos líquidos são mais rapidamente absorvidos do que fármacos sólidos. Fatores referentes ao local: • Fluxo sanguíneo, visto que áreas irrigadas com maior fluxo sanguíneo favorecem a absorção. • O pH determina ou não a ionização de drogas, e já estudamos que drogas não ionizadas penetram facilmente na membrana celular. • Barreiras biológicas dificultam a passagem do fármaco. Principais vias de administração A via de administração é determinada primariamente pelas propriedades do fármaco (hidro ou lipossolubilidade, ionização) e pelos objetivos terapêuticos (necessidade de um início rápido de ação, necessidade de tratamento por longo tempo, ou restrição de acesso a um local específico). As principais vias incluem as enterais como oral, sublingual, bucal e retal e as parenterais, como endovenosa, muscular e outras (WHALE, 2016). Administração sublingual A área bucal por completa possui uma rica rede de vasos sanguíneos o que proporciona uma irrigação significativa nesta região. Os fármacos que são 14 administrados por esta via são formulados para possuir um coeficiente de partição elevado, garantindo assim um caráter lipossolúvel a molécula. A alta lipossolubilidade é que vai permitir com que o fármaco consiga atravessar, com maior facilidade, a membrana celular presente nas células dos vasos sanguíneos atingindo a circulação sistêmica. Uma das vantagens mais importantes que se tem nesta via é que o fármaco não passa pelo metabolismo hepático antes de chegar na circulação sistêmica, logo ele não sofre o metabolismo de primeira passagem (GOODMAN & GILMAN, 2012). Essa via é utilizada quando é necessária uma resposta rápida na ação do fármaco, uma vez que a região sublingual extremamente irrigada e conectada aos vasos de bom calibre, especialmente se o fármaco é instável ao pH gástrico ou é metabolizado rapidamente pelo fígado. Administração oral É a via mais comum utilizada dentre as demais vias, isso porque o ato de engolir é algo natural ao ser humano, portanto ele não necessita, na grande maioria das vezes, da ajuda de um profissional especializado para ingerir o fármaco. A via oral (VO) possui várias vantagens, porém possui também desvantagens em relação as outras vias, como por exemplo: A ação do pH estomacal sobre o fármaco, a possibilidade do fármaco sofrer metabolismo de primeira passagem, a interação com alimentos e substâncias ingeridas, dentre outras. Via de regra cerca de 75%de um fármaco oralmente administrado são absorvidos em 1-3 h. Deve-se considerar a motilidade gastrintestinal, o fluxo sanguíneo esplâncnico, o tamanho das partículas, a formulação e fatores físico-químicos. As formas de administração por via oral, como comprimidos, drágeas, cápsulas, xaropes são simples e práticos, conferindo comodidade ao usuário. Devido às necessidades terapêuticas, as preparações farmacêuticas são formuladas normalmente de modo a produzir as características de absorção desejadas. Assim, as cápsulas podem ser elaboradas de modo a permanecerem intactas por algumas horas após a ingestão, para retardar sua absorção ou os comprimidos podem ter um revestimento resistente com a mesma finalidade. Pode-se ter incluído 15 numa cápsula uma mistura de partículas de liberação lenta e rápida, para produzir absorção prolongada. Essas preparações podem reduzir a frequência de administração necessária, e diminuir os efeitos adversos relacionados com elevadas concentrações plasmáticas logo após a administração. Administração retal É a via na qual a introdução de medicamentos é realizada através do ânus, sob a forma de supositório, pomada ou creme e/ou clister medicamentoso (é a introdução de pequena quantidade de líquidos via retal, até 150ml, sendo que acima desta quantidade é chamado de enteroclisma ou lavagem intestinal). Esta via é prescrita para medicações que seriam irritativas por outras vias, para clientes inconscientes, com vômitos frequentes ou que estejam impossibilitados de deglutir. Como a absorção por esta via é incerta a equipe de enfermagem deve estar atenta à resposta do cliente à medicação (SHIROMA, 2014). Trata-se de uma via desconfortável na maioria dos casos, porém ela é extremamente útil em muitos quadros clínicos. A região retal possui poucas áreas de absorção devido à falta das vilosidades intestinais, fazendo com que a absorção seja mais lenta, porém algumas das principais veias retais (inferior e média) desembocam na veia cava inferior por intermédio da veia hipogástrica, ocasionando assim a liberação do fármaco na circulação sistêmica. A via retal também possui a vantagem de driblar quase que por completo o sistema portal hepático, evitando que aproximadamente 50% do fármaco sofra o metabolismo de primeira passagem, porém é de conhecimento clínico que parte do fármaco, mesmo quando administrado por esta via é direcionado ao fígado. Várias são as classes de fármacos que possuem administração por essa via, por exemplo: antieméticos, anticonvulsivantes e antipiréticos. A absorção por via retal muitas vezes não é confiável, mas esta via pode ser útil em pacientes incapazes de tomar medicações pela boca (apresentando vômitos, crianças, idosos, portadores de transtornos psiquiátricos ou em estado de coma). Administração cutânea Esta é utilizada principalmente quando se quer um efeito local sobre a pele. A absorção é considerável, podendo levar aos efeitos sistêmicos. Muitas drogas são mal absorvidas pela pele devido à baixa solubilidade das mesmas. 16 É uma via utilizada apenas para fármacos que não causam danos ao tecido aplicado. Em caso de administração com um fármaco que não obedeça esse critério ele poderá causar irritação, dor intensa, descamação e até necrose, logo não são todos os fármacos que possuem essa via como opção de uso. Tem-se aumentado o uso de formas de administração transdérmica, em que o fármaco é incorporado a uma embalagem presa com fita adesiva a uma área de pele fina. Essas embalagens adesivas produzem um estado de equilíbrio estável e têm diversas vantagens, especialmente a facilidade de retirada no caso de efeitos indesejáveis. Contudo, o método só é adequado para certos fármacos relativamente lipossolúveis, e essas preparações são caras. Vários anticoncepcionais estão sendo produzidos na forma de adesivos transdérmicos, promovendo um efeito prolongado. Cremes, loções e pomadas são exemplos de veículos de fármacos para uso tópico. Administração por inalação O fármaco inalado entra em contato com a superfície da membrana mucosa do trato respiratório e também do epitélio pulmonar, onde será difundido por todo o corpo. A inalação é a via usada para anestésicos voláteis e gasosos. Para esses agentes o pulmão serve como via de administração e eliminação, e as trocas rápidas que são possíveis em consequência da grande área de superfície e do grande fluxo sanguíneo permitem a obtenção de ajustes rápidos na concentração plasmática. Administração por injeção A injeção endovenosa é a via mais rápida e mais precisa para administração de um fármaco. A concentração máxima eficaz que chega aos tecidos depende fundamentalmente da rapidez da injeção. Na administração endovenosa não ocorre absorção, apenas distribuição. A injeção subcutânea ou intramuscular de fármacos produz geralmente um efeito mais rápido que a administração oral, mas a taxa de absorção depende muito do local de injeção e de fatores fisiológicos, especialmente do fluxo sanguíneo local. Os fatores que limitam a velocidade na absorção a partir do local de injeção são: difusão através 17 do tecido, remoção pelo fluxo sanguíneo local, formação de complexos entre fármacos (ex: insulina + protamina, benzilpenicilina) ou injeções oleosas (para hormônios). As drogas comumente utilizadas apresentam um tamanho molecular pequeno e, portanto, essas drogas deixam facilmente a circulação por filtração capilar, embora isso possa ser modificado pela extensão de ligação da droga às proteínas plasmáticas como a albumina. Em presença de ligação às proteínas, a concentração de droga livre é menor, a atividade farmacológica diminui, e a depuração da droga por filtração glomerular e por processos ativos também está diminuída. A proteína ligada serve como reservatório de fármaco. Uma droga extensamente ligada às proteínas plasmáticas pode ser deslocada de forma competitiva por outra droga que também apresente ligação extensa. Após absorção o fármaco se distribui nos líquidos corporais podendo ser armazenado nos tecidos, metabolizado ou excretado diretamente. O volume de distribuição é um volume aparente, pois a distribuição não se dá de forma homogênea nos líquidos corporais, e este parâmetro é definido como o volume de líquido necessário para conter a quantidade total do fármaco no corpo na mesma concentração presente no plasma. A via de administração parenteral constitui uma das mais empregadas na veiculação de fármacos e vacinas. Essa via permite a liberação da substância farmacologicamente ativa em regiões próximas à corrente sanguínea ou diretamente nela, possibilitando efeito rápido e ação que pode ser sistêmica ou localizada, dependendo do local de aplicação (BORGHETI-CARDOSO, 2013 apud PINHEIRO, 2016). A via intramuscular tem a vantagem de absorção relativamente rápida, sendo adequada para administração de volumes moderados, de veículos aquosos, oleosos, suspensão ou preparação de depósitos. Suas desvantagens são a dor e o aparecimento de lesões musculares pela aplicação de substâncias irritantes ou de pH distante da neutralidade, promovendo o aparecimento de processos infamatórios. Distribuição Depois da absorção ou administração sistêmica na corrente sanguínea, o fármaco distribui-se para todo o corpo, chegando primeiramente aos órgãos mais irrigados (maior fluxo sanguíneo) como fígado, rins e cérebro, e depois aos órgãos menos irrigados, como músculos, vísceras, pele e tecido adiposo. 18 Para ser transportado, o fármaco precisa se ligar às proteínas plasmáticas, sendo a albumina a primeira escolha para os fármacos ácidos, enquanto a glicoproteína ácida α1, por exemplo, é uma escolha para fármacos básicos. Essa ligação do fármaco às proteínas é reversível e pode ser afetada por fatores relacionados com doenças, como hipoalbuminemia secundária edoença hepática grave. Durante a distribuição, alguns fármacos tendem a acumular-se em locais específicos, e a este processo damos o nome de reservatório de fármacos; isso prolonga a ação do fármaco, que pode acarretar efeitos tóxicos, porém é um processo reversível. Exemplo de formação de reservatório é a tetraciclina, um antibiótico que se acumula nos ossos. Metabolização É considerado um conjunto de alterações químicas que a droga sofre no organismo, geralmente promovidas por enzimas, tendo a finalidade de facilitar a excreção do fármaco. Ocorre a incorporação de moléculas hidrofílicas que diminuem a lipossolubilidade do fármaco, preparando-o para ser eliminado do organismo. Essas enzimas responsáveis pela metabolização de substâncias estão presentes em muitos tecidos do corpo, porém em níveis mais altos no fígado e no intestino delgado. Exemplos de enzimas são as do sistema Citocromo P450. Em alguns casos, ao invés de tornar a droga inativa e facilitar sua excreção, o metabolismo promove a bioativação do fármaco, e isso quer dizer que seus metabolitos se tornam um composto ativo, que nesse caso são conhecidos como pró- fármacos. Exemplos de pró-fármacos: ciclofosfamida e azatioprina. Fatores que afetam o metabolismo de fármacos são: • Idade: tanto neonato quanto idoso têm uma diminuição da funcionalidade dessas enzimas. • Fatores genéticos: pessoas com deficiência de enzimas responsáveis pelo metabolismo dos fármacos. Exemplo: asiáticos têm uma menor quantidade da enzima responsável pelo metabolismo do álcool, fato esse que justifica a maior tendência que eles têm de sentir os efeitos tóxicos do álcool. 19 • Patologias: doenças que acometem o fígado e intestino delgado, que são os principais órgãos que realizam a metabolização, podem comprometer essa etapa da farmacocinética. • Indução ou inibição enzimática: a indução enzimática aumenta a biotransformação (lipossolubilidade para hidrossolubilidade) do fármaco. Exemplos: fenobarbital, rifampicina, fenítoina, carbamazepina e etanol (uso crônico). A inibição enzimática diminui a biotransformação dos fármacos. Exemplos de fármacos: cloranfenicol, dissulfiram e etanol (uso agudo). Excreção Ocorre quando os fármacos são eliminados sem qualquer alteração ou são convertidos em metabolitos. As vias excretórias são: renal (urina), biliar, fecal, suor, leite, lacrimal e salivar. Fatores que influenciam a excreção renal: • Patologia renal: qualquer doença que afete o rim e que pode comprometer essa etapa da farmacocinética. • ph da urina: na urina ácida, a droga ácida fica na forma não ionizada, sendo facilmente reabsorvida; já a droga básica fica ionizada, sendo facilmente excretada. Drogas ácidas são mais bem excretadas em um meio (pH) básico, porque ficam na forma ionizada. Drogas básicas são mais bem excretada em um meio (pH) ácido, porque ficam na forma ionizada. Interação entre fármacos É a ação combinada de uma ou mais drogas, administradas sucessiva ou simultaneamente, podendo induzir a efeitos benéficos ou maléficos. Essas interações podem ser do tipo sinérgica ou antagônica. Tipos de sinergismo: Adição: os efeitos de duas drogas são iguais aos efeitos de cada uma delas isoladamente (efeito AB = A + B). 20 Potencialização: cocaína inibe a captação de noradrenalina e epinefrina, a aumentando a contração muscular (efeito AB > A + B). Tipos de antagonismo Antagonismo químico: droga A e droga B interagem em solução (antes da administração) e ocorre inativação, precipitação ou diminuição do efeito de uma delas. Exemplo: quelantes se ligam aos metais pesados e diminuem sua toxicidade. Antagonismo fisiológico ou funcional: efeito da droga A é oposto ao da droga B, de modo que uma droga anula o efeito da outra. Exemplo: curare que atua como relaxante muscular, diminuindo o efeito da estricnina, que tem ação convulsivante. Antagonismo farmacológico competitivo: droga A e droga B se ligam ao mesmo receptor e competem por ele quando administradas sucessiva ou simultaneamente. Antagonismo competitivo reversível: uma droga antagonista se liga ao receptor e impede a ligação da droga agonista. No entanto, quando se aumenta a concentração do agonista, ele desloca o antagonista do receptor e se liga ao receptor. Em outras palavras, a substância com maior concentração no receptor é quem se liga e desenvolve seu efeito. Antagonismo competitivo irreversível: a droga antagonista se liga irreversivelmente ao receptor, levando ao aumento da concentração do agonista, sem deslocar o antagonista do receptor. Antagonismo farmacocinético: droga A interfere na absorção, distribuição, metabolismo ou excreção da droga B. Exemplo de interação na absorção: antiácidos como sal de frutas aumentam o pH estomacal e diminuem a absorção de drogas ácidas como ácido acetilsalicílico (AAS). Exemplo de interação na distribuição: a fenilbutazona, um anti-inflamatório, diminui a ligação da warfarina, um anticoagulante, às proteínas plasmáticas, aumentando sua distribuição e, em consequência, seus efeitos (hemorragias). Exemplo de interação no metabolismo: dissulfiram diminui o metabolismo da warfarina, reduzindo a coagulação sanguínea e favorecendo a hemorragia. 21 Exemplo de interação na excreção: bicarbonato de sódio aumenta a excreção urinária de fármacos ácidos como ácido acetilsalicílico (AAS). 6 FARMACODINÂMICA A Farmacodinâmica investiga os efeitos dos fármacos nos organismos, seus mecanismos de ação e a relação entre a dose e efeito (GOODMAN; GILMAN, 2012). É a ciência que estuda e descreve os efeitos terapêuticos de medicamentos e drogas no organismo, assim como seus efeitos colaterais. Quando o fármaco é administrado, ele atua em locais específicos do organismo, o primeiro, são o que chamamos de alvo primário de fármacos ou receptores. Estamos nos referindo a enzimas, moléculas transportadoras e, canais de íons receptores. A seguir teremos alguns exemplos: Enzimas: São proteínas essenciais para o bom funcionamento do nosso organismo. Elas possuem a função de catalisador, isso é, elas aumentam a velocidade das reações químicas que ocorrem no nosso corpo. Vale destacar que elas apenas aumentam a velocidade, mas não alteram essas reações. Fármacos da classe terapêutica dos antidepressivos como selegilina e fenelzina atuam sobre a enzima monoaminoxidase, também conhecida como MAO, resultando em melhora da depressão. Moléculas transportadoras: Também conhecidas como proteínas transportadoras, realizam o transporte de substância de um local para o outro. Em sua maioria, as substâncias transportadas têm uma origem hidrofílica e as membranas que devem atravessar têm uma origem lipofílica. Assim, o transporte não seria possível sem essas moléculas transportadoras devido a essa diferença de polaridade. Antidepressivos como amitriptilina intensificam sua ação por bloquearem a recaptação de noradrenalina por essas moléculas. Canais de íons: São proteínas que se localizam ou estão inseridas nas membranas celulares. Por esses canais passam íons do meio intracelular para o meio extracelular e o contrário também acontece, ou seja, do meio extracelular para o meio intracelular. 22 Benzodiazepínicos atuam sobre os receptores do ácido gama-aminobutírico (GABA), especificamente nos canais do íon cloreto, promovendo a abertura desses canais. Receptor é o local onde o fármaco interage e produz o efeito terapêutico. Opiáceos como a morfina se ligam no seu receptor µ e desencadeiam seu efeito analgésico. Uma substância que se liga a um receptor e produz um efeito de “ativação” é denominada substância agonista do receptor. Essa ativação se refere à capacidade que a molécula do fármaco desencadear uma resposta onde se ligou. Já uma substância que se liga ao receptor sem causar ativação, impedindo consequentementea ligação do agonista, é denominada antagonista do receptor. Eficácia x afinidade x potência Esses três termos técnicos diferenciam os tipos de fármacos utilizados na terapêutica: eficácia é a capacidade de uma droga que, uma vez ligada ao receptor, desencadeia uma resposta; afinidade é a tendência de o fármaco se ligar ao seu receptor e, por fim, potência pode ser definida como a capacidade de uma droga produzir efeitos em baixas concentrações. 7 A NEUROPSICOFARMACOLOGIA 23 Fonte: foxcursoseconcursos-es.com • Neuro = Essa palavra se fez a partir do Grego NEURON, “nervo”; • Psico = Também do grego que significa, alma; • Farmaco = É uma substância química ativa, droga ou matéria-prima que tenha propriedades farmacológicas com finalidade medicamentosa, utilizada para diagnóstico, alívio ou tratamento, empregada para modificar ou explorar sistemas fisiológicos ou estados patológicos, em benefício da pessoa na qual se administra. • Logia = Que significa ciência, linguagem e razão. Um dos temas mais agudos de toda e qualquer perquirição acerca dos limites da psiquiatria e da psicoterapia, diz respeito ao estatuto de separação e/ou complementaridade das disciplinas. Neurociência é a área que se ocupa em estudar o sistema nervoso, visando desvendar seu funcionamento, estrutura, desenvolvimento e eventuais alterações que sofra. Qualquer pessoa que já teve acesso a um computador sabe que existem basicamente três componentes: a máquina propriamente dita, os programas que serão instalados (processadores de textos, planilhas, processadores de imagem) e finalmente os arquivos pessoais. De maneira sucinta pode-se dizer que o cérebro corresponde à máquina, as funções automatizáveis e susceptíveis ao desenvolvimento de bons, e às vezes maus, hábitos correspondem a programas e, finalmente, as circunstâncias históricas e contextuais constituem arquivos que gravamos nos diferentes locais da máquina e nos diferentes programas de tal sorte que constituam nossa história pessoal (NERO, 2016). Há quem defenda que somente pode haver patologia no nível físico, porém isso deixaria o problema dos hábitos, compulsões e outros problemas sem solução porque sabemos que a solução para esses casos, embora fortemente dependente de uso de drogas, requer, paralelamente, o uso de alguma estratégia psicoterapêutica interativa. Alegar que o problema dos arquivos não corresponde a qualquer patologia porque nível virtual absoluto é o mesmo que alegar que uma rede internacional de 24 pedofilia que nos chega pela Internet não pode ser patológica porque, no limite, constituída por uma série de bits e mensagens codificadas. De maneira geral o distúrbio mais ligado às funções de máquina – logo cerebralmente determinado de maneira forte – tende a apresentar ritmicidade e alguns sintomas e sinais claros: insônia, queda de atenção, rendimento físico deficitário, etc. Os problemas concernentes aos maus hábitos normalmente conjugam sinais e sintomas relatados pelos pacientes, mas também uma nítida gama de insuficiências no plano psicossocial. Os problemas ditos biográficos, embora nem sempre descritíveis como patologias puras ou claras, costumam levar a um sofrimento auto ou heteropessoal que, à despeito da ausência de ritmicidades outras e clara inclusão em patologias psiquiátricas conhecidas, não pode simplesmente ser visto como mero "jeito de ser" ou traço de personalidade. Do ponto de vista neurocientífico podem-se distinguir três instâncias que respondem de maneira mais ou menos precisa pelo dito anteriormente. As dinâmicas filogenéticas seguem-se duas dinâmicas ontogenéticas, uma lenta e outra rápida, ambas capazes de dar conta de processos maturacionais do organismo e também de gravar-lhe a experiência pretérita. Se a dinâmica lenta maturacional dá conta de fenômenos de aprendizado e de segregação funcional como o domínio da fala, escrita e modalidades de habilidades, também a dinâmica rápida de aporte de sensações e informações constitui intenso cabedal de redirecionamentos intencionalmente mediados de atos e omissões. Freud apontou para esses fatores no seu célebre projeto, abandonando-o logo em seguida e construindo uma teoria da vida mental que mais pareceria culturalista que propriamente cerebralista (NERO, 2016). A rejeição dos enunciados biológicos realizada pelos comentadores parece não se basear única e exclusivamente na leitura fiel de sua obra, mas em certa tendência interpretativa que pressupõe a existência da incompatibilidade entre diferentes disciplinas – no caso em questão, a psicanálise e a biologia. (FREUD 1894; apud MARTINS 2010). Engana-se, no entanto, quem vê no Freud do projeto uma história de insucesso já superado pelos cem anos que dele nos distanciam. Freud, ao deparar-se com a dinâmica filogenética e ontogenética lenta, pode lançar mão de variáveis extralinguísticas e tentar modelar-lhes padrões dinâmicos de 25 tipo redes neurais (não à toa seu Projeto é visto como precursor das atuais redes neurais artificiais). Porém, quando se lança a explicar a dinâmica ontogenética contextual rápida, biografia em suma, depara-se com a difícil, se não impossível, transposição de significados expressos na cadeia narrativo-discursiva e seus equivalentes neurais. Embora seu poder patogênico, somente seja, em geral, apenas acessório em relação ao da herança, há um grande interesse prático ligado ao conhecimento dessa etiologia, que dará acesso ao nosso trabalho terapêutico, enquanto a predisposição hereditária, previamente fixada para o paciente desde seu nascimento, opõe um obstáculo inabordável a nossos esforços (FREUD 1896, apud MARTINS 2010). Modelar uma história pessoal é ainda impossível dada a dificuldade, por ora esperamos, de estabelecer mapas que vão do significado às variedades neuronais. Excluídas as patologias que requerem nítida e, às vezes única, intervenção medicamentosa, e também aquelas concernentes a automatismos e hábitos em que fármacos e terapias comportamentais devem ser indicadas, sobra uma imensa gama de transtornos de dinâmica ontogenética rápida - significado em constante mutação - e que costumam dar muita "dor de cabeça" aos pacientes e circundantes e tem empobrecido o cenário da psiquiatria biológica ao se fazerem ausentes porque, aparentemente, pouco objetiváveis ou físicas (NERO, 2016). 8 NEUROTRANSMISSORES Fonte:psicologiaprevitali.com 26 O sistema nervoso é formado pelo encéfalo e medula espinhal, quando se unem formam um eixo nervoso e assim coordenam todo o organismo, permitindo-o realizar todas as funções de um corpo humano, exemplo: manipular objetos, controlar os movimentos, aprender, raciocinar e também coordenar as funções dos órgãos, glândulas e obter as sensações internas e externas em relação ao organismo (SILVA, 1991). As células que formam este sistema existem em bilhões, e são chamadas de neurônios. Os neurônios se comunicam entre si através de impulsos nervosos captados pelos sentidos do corpo. Esta função de passar e receber informação é chamada de sinapse. Para que tais impulsos consigam passar de um neurônio para outro, faz-se necessário a liberação de substâncias químicas que estimulam ou inibem o neurônio receptor. Essas sustâncias químicas, formadas e enviadas pelos neurônios, recebem o nome de neurotransmissores. (ANDRADE, 2003 apud NOGUEIRA, 2018). Os neurotransmissores são mensageiros químicos que por meio dos neurônios enviam e permitem a comunicação entre o cérebro e as demais partes do corpo, portanto a atuação correta dos neurotransmissores é essencial para as tarefas básicas do nosso organismo, tais como: a contração muscular, o palpitar do coração, o respirar dos pulmões entre outras funções (BISCAINO, 2016). As respostas dadas pelos neurônios à um estímulo vai depender da característica do neurotransmissore do receptor, essas respostas podem ser excitatórias ou inibitórias (UNIVERSIDADE BRAZ CUBAS, UBC, 2012 apud MOREIRA, 2012). Existem aproximadamente 12 neurotransmissores conhecidos ou de existência suposta no cérebro. Dentro da psicofarmacologia, é particularmente importante conhecer os seis neurotransmissores que são alvos das substâncias psicotrópicas: • Serotonina; • Noradrenalina; • Dopamina; • Acetilcolina; • Glutamato; • GABA (ácido γ-aminobutírico). 27 Serotonina (5ht) Fonte: psiqweb.med A serotonina (5-HT) além de desempenhar importantes funções no sistema nervoso, tais como a liberação de alguns hormônios, a regulação do sono, da temperatura corporal, do humor, da atividade motora e das funções cognitivas, também regula a saciedade alimentar. Alterações nos níveis de 5-HT (baixos níveis ou problemas na sinalização com o receptor) têm sido relacionadas ao aumento do desejo de ingerir doces e carboidratos. Com quantidades normais de 5-HT, a pessoa atinge mais facilmente a saciedade e consegue maior controle sobre a ingestão de açúcares. Os níveis adequados deste neurotransmissor no cérebro dependem da ingestão alimentar de triptofano (aminoácido precursor da serotonina) e de carboidratos (NAVES, 2007 apud FEIJÓ, 2010). Fora do SNC, a serotonina tem um papel importante em funções gastrointestinais e cardiovasculares (FRANCISCO, 2010). Noradrenalina (NA) A noradrenalina é um neurotransmissor sintetizado nas fibras nervosas e liberado pela medula da supra-renal, também denominada adrenal. Sendo uma catecolamina, é formada a partir da tirosina, e atua principalmente no sistema cardiovascular, e manutenção da pressão arterial estando relacionada ao aumento do influxo de cálcio em nível celular. 28 Também está relacionado com a transmissão do sistema nervoso autônomo simpático e sua sinalização neste sistema dá origem a dilatação dos brônquios, vasos sanguíneos, e pupilas, aumento dos batimentos cardíacos entre outros. 8.3 Dopamina (DA) A dopamina faz parte da família das catecolaminas de neurotransmissores, juntamente com a norepinefrina e epinefrina. É um inibidor e, dependendo do local onde atua, apresenta diferentes funções. A dopamina no gânglio basal (no interior do cérebro) é essencial para execução de movimentos suaves e controlados - a falta de dopamina é a causa da doença de Parkinson, a qual faz a pessoa perder a habilidade de controlar seus movimentos. A dopamina se move até o lóbulo frontal regulando o grande número de informações que vem de outras partes do cérebro. Comprometer a quantidade do neurotransmisor pode resultar em pensamentos incoerentes, como na esquizofrenia. Também é responsável pelo sentimento de euforia, assim como a endorfina. É capaz de acalmar a dor e aumentar o prazer se estiver em grande quantidade no lóbulo frontal (GUYTON,1997 apud ANDRADE, 2003). Este neurotransmissor também é responsável pelo estímulo prazeroso. A ingestão de alimentos, prática de sexo e algumas drogas de abuso são estimulantes da liberação de dopamina em regiões como o núcleo accumbens e córtex pré-frontal. Muitos outros transmissores são derivados de precursores de proteínas, os chamados” peptídeos neurotransmissores”. Cerca de 50 peptídeos diferentes têm efeito sobre as funções das células neuronal. Vários desses peptídeos neurotransmissores são derivados da proteína pré-opiomelanocortina (POMC). Os neuropeptídios são responsáveis pela mediação de respostas sensoriais e emocionais tais como a fome, a sede, o desejo sexual, o prazer e a dor. 29 8.4 Acetilcolina (ACh) A acetilcolina estimula o impulso a ser transmitido. Está envolvida na transmissão de impulsos de células nervosas, de músculos cardíacos à algumas glândulas, e de células motoras para os músculos do esqueleto. É o neurotransmissor encontrado em maior quantidade no corpo: estômago, baço, bexiga, fígado, glândulas sudoríparas, vasos sanguíneos e coração, esses são apenas alguns órgãos que este neurotransmissor controla. A acetilcolina ajuda no controle dos tônus musculares, no aprendizado, e nas emoções. Também controla a liberação do hormônio da pituitária, a qual está envolvida no aprendizado e na regulação da produção de urina (DEPAULO, 2000 apud ANDRADE, 2003). A síntese de acetilcolina pelo organismo é vital, pelo seu papel relativo aos movimentos e à memória - baixos níveis de acetilcolina contribuem para falta de concentração e esquecimento. O corpo sintetiza acetilcolina a partir dos nutrientes colina, lecitina, dimetilaminoetanol, vitaminas C, B1, B5, e B6, e minerais zinco e cálcio. Também é relacionada à performance sexual, controlando a pressão sanguínea e batimento cardíaco durante a relação sexual. Fonte: natalben.com 30 Este neurotransmissor está envolvido em muitos comportamentos dentre eles o aprendizado, a memória, e a atenção. É o neurotransmissor do sistema nervoso autônomo parassimpático e sua sinalização neste sistema dá origem a constrição dos brônquios, vasos sanguíneos, e pupilas, reduz batimentos cardíacos, produz ereção entre outros. Esse transmissor é importante para a movimentação do nosso corpo pois sua liberação em músculos promove a contração das fibras musculares. (ANDRADE R. 2003 apud; MOREIRA, 2012). A acetilcolina (ACh) é uma molécula simples sintetizada a partir de colina e acetil-CoA através da ação da colina acetiltransferase. Os neurônios que sintetizam e liberam ACh são chamados neurônios colinérgicos. Quando um potencial de ação alcança o botão terminal de um neurônio pré- sináptico, um canal de cálcio controlado pela voltagem é aberto. A entrada de íons cálcio, Ca2+, estimula a exocitose de vesículas pré-sinápticas que contém ACh, a qual é consequentemente liberada na fenda sináptica. Uma vez liberada, a ACh deve ser removida rapidamente para permitir que ocorra a repolarização; essa etapa, a hidrólise, é realizada pela enzima acetilcolinesterase. A acetilcolinesterase encontrada nas terminações nervosas está ancorada à membrana plasmática através de um glicolipídeo. Os receptores ACh são canais de cátions controlado por ligantes, composto por quatro unidades subpeptídicas. Duas classes principais de receptores de ACh foram identificadas, os receptores muscarínicos e os receptores nicotínicos. Ambas as classes de receptores são abundantes no cérebro humano. Os receptores nicotínicos ainda são divididos conforme encontrados nas junções neuromusculares e aqueles encontrados nas sinapses neuronais. A ativação dos receptores de ACh pela ligação com o ACh provoca uma entrada de Na+ na célula e uma saída de K+, provocando a despolarização do neurônio pós-sináptico e no início de um novo potencial de ação. 8.5 Glutamato O glutamato é o aminoácido livre mais abundante do sistema nervoso central (SNC), em sua maioria apresentando funções metabólicas idênticas às exercidas em outros tecidos, preponderantemente biossíntese de proteínas. Além disso, atua como principal neurotransmissor excitatório. Considera-se também sua participação no 31 desenvolvimento neural, na plasticidade sináptica, no aprendizado, na memória, na epilepsia, na isquemia neural, na tolerância e na dependência a drogas, na dor neuropática, na ansiedade e na depressão. Este aminoácido não atravessa a barreira hematoencefálica, por isso deve ser sintetizado no tecido nervoso a partir de glicose e outros precursores. As enzimas de seu metabolismo estão localizadas nos neurônios e nas células da glia (CORONA, 2005 apud VALLI, 2014). A função dos transportadores de glutamato é regular o tempo de sua concentração na fenda sináptica, muitos deles sendo ativados por uma concentração baixa desse aminoácido ou sendo levados à morte pelas altas concentrações do mesmo (10-100µM). No entanto seus papéis fisiológicos ainda são alvos de pesquisa. Atéentão não se sabe por que um organismo precisa de tantas formas de transporte para somente um substrato. 8.6 GABA O ácido gama-aminobutírico é um aminoácido de baixo peso molecular, que atua como o principal neurotransmissor inibitório em diferentes vias do Sistema Nervoso Central (SNC). Ele desempenha um papel importante na regulação da excitabilidade neuronal ao longo de todo o sistema nervoso. Seu efeito nootrópico é observado devido à sua ação sobre os denominados canais de cloro, localizados na membrana sináptica, causando hiperpolarização neuronal e reduzindo, portanto, tanto a hiperexcitabilidade, como também a ação dos neurônios inibitórios. Promove, desta forma, um equilíbrio entre excitação/inibição neuronal. Nos seres humanos, o GABA também é diretamente responsável pela regulação dos tônus musculares. O ácido gama aminobutírico (GABA), principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central. O GABA modula a atividade de vários neurotransmissores, incluindo serotonina, dopamina e noradrenalina. A síntese do GABA inicia-se pela descarboxilação de seu precursor, o glutamato. Diminuição nos níveis de GABA tem sido descrita no cérebro, líquor e plasma de pacientes bipolares. Também a maioria dos estabilizadores do humor apresenta efeitos terapêuticos mediados por modulação gabaérgica (VIEIRA, 2005) 32 GABA naturalmente estimula a produção e lançamento de hormônio de crescimento humano (HGH) da glândula pituitária. Estudos mostraram que aumento nos níveis de HGH é associado com anabolismo e ação de lipotrófica, ou a formação de músculo magro e utilização de gordura de corpo respectivamente. Além disso, GABA também é reconhecido como um analgésico efetivo e pode reduzir dor dos músculos e articulações. O neurotransmissor GABA é indicado como ativador do metabolismo cerebral no déficit de memória e na dificuldade de atenção e concentração; acidentes do SNC e suas sequelas; agitação psicomotora; nos quadros de sedação; e é anticonvulsivo em casos de epilepsia. 8.7 Receptores de neurotransmissores Fonte: ugc.kn3.net De acordo com Goldman (2010) os receptores de neurotransmissores de primeira classe são canais iônicos ativados por ligantes, também conhecidos por receptores ionotrópicos. Eles passam por uma mudança na forma quando o neurotransmissor se liga, causando a abertura do canal. Isso pode gerar um efeito excitatório ou inibitório, dependendo dos íons que possam passar pelos canais e suas concentrações dentro e fora da célula. 33 Uma vez que as moléculas do neurotransmissor são liberadas de uma célula como resultado do disparo de um potencial de ação, elas se ligam a receptores específicos na superfície da célula pós-sináptica. Em todos os casos nos quais esses receptores foram clonados e caracterizados em detalhe, demonstrou-se que existem muitos subtipos de receptores para um determinado neurotransmissor. Além de estar presente nos neurônios pós-sinápticos, os receptores são encontrados nos neurônios pré-sinápticos. Em geral agem para inibir a liberação de mais neurotransmissores. Boa parte dos receptores de neurotransmissores pertencem a uma classe de proteínas conhecida como serpentina. Essa classe exibe uma estrutura transmembrana característica, isto é, ela cruza a membrana celular, não apenas uma e sim sete vezes. A ligação entre os neurotransmissores e o sinal intracelular é realizado através da associação ou com proteínas G (pequenas proteínas que se ligam e hidrolizam a GTP ou com as enzimas proteína quinases, ou com o próprio receptor na forma de um canal de íon controlado pelo ligante (por exemplo, o receptor de acetilcolina). Uma característica adicional dos receptores de neurotransmissores é que eles estão sujeitos a dessensibilização induzida pelo ligante: isto é, eles podem deixar de responder ao estímulo em seguida a uma exposição prolongada a seus neurotransmissores (KING, 2000). 9 AGONISTAS E ANTAGONISTAS COLINÉRGICOS Foram identificados numerosos compostos que agem ou como agonistas ou antagonistas dos neurônios colinérgicos. A principal ação dos agonistas colinérgicos é a excitação ou inibição de células efetoras autônomas que são inervadas pelos neurônios parassimpáticos pós-ganglionares e como tal são chamados de agentes parassimpatomiméticos. Os agonistas colinérgicos incluem os ésteres de colina (tais como a própria acetilcolina) assim como seus compostos protéicos ou alcaloides (KING, 2000). Agonista: fármacos que se ligam aos receptores fisiológicos e simulam os efeitos dos compostos endógenos. Agonistas totais / parciais: Agonistas totais são aqueles que conseguem uma resposta de 100% do receptor quando ligados ao mesmo. Enquanto os agonistas parciais, independente da 34 dose utilizada, não conseguem obter uma resposta total do receptor. Agonistas inversos: são fármacos que estabilizam o receptor em seu estado inativado. Logo, não podem ser chamados de antagonistas, pois alteram a conformação do receptor. Esta é a principal diferença deles para os antagonistas que possuem eficácia zero (não alteram a conformação do receptor – ativa ou inativa). Antagonista Competitivos: Fármacos que se ligam aos receptores bloqueando o sítio de ligação do agonista, devido a competição entre o agonista e o antagonista pelo receptor. Normalmente os antagonistas apresentam maior afinidade pelos receptores no que comparado aos agonistas do mesmo receptor. Sendo assim, os antagonistas competitivos podem deslocar o agonista correspondente de seu sitio de ligação. Vale ressaltar que no antagonismo competitivo, o aumento da concentração do agonista na biofase irá deslocar o antagonista de seu sítio de ligação, logo a concentração do agonista influência diretamente (RANG; 2011 apud, VICTOR, 2015). As respostas dos neurônios colinérgicos podem ser ampliadas pela administração de inibidores de colinesterase (ChE). Os inibidores ChE tem sido utilizado como componentes dos gases paralisantes, mas também tem significativas aplicações medicinais no tratamento de doenças como o glaucoma e a miastenia grave bem como para terminar o efeito de agentes bloqueadores neuromusculares tais como a atropina. Agonistas e antagonistas colinérgicos naturais Agonistas • Nicotina: Alcaloide predominante no tabaco. Ativa os receptores de ACh da classe nicotínica, trava o canal aberto • Muscarina: Alcaloide produzido pelo cogumelo Amanita muscaria. Ativa os receptores de ACh da classe muscarínica. • A-Latrotoxina: Proteína produzida pela aranha "viúva negra". Induz liberação maciça de ACh, talvez agindo como um ionóforo Ca2+. Antagonistas • Atropina (e compostos relacionados a escopolamina): Alcaloide produzido pela "dama da noite", Atropa belladonna, bloqueia a ação da ACh apenas nos receptores muscarinicos. • Toxina botulínica: Oito proteínas produzida pelo Clostridium botulinum inibem a liberação de ACh. • A-Bungarotoxina: Proteína produzida por cobras do gênero Bungarus, impede a abertura do canal receptor de Ach. 35 10 CATECOLAMINAS O aminoácido tirosina é o precursor de três distintos neurotransmissores aminérgicos que contém uma estrutura química denominada catecol. Estes neurotransmissores são coletivamente chamados de catecolaminas. Os neurotransmissores catecolaminérgicos são a dopamina (DA), a noradrenalina (NA) e adrenalina, também conhecida com o epinefrina. Neurônios catecolaminérgicos são encontrados em regiões do sistema nervoso envolvidas na regulação do movimento, do humor, da atenção e das funções viscerais. As catecolaminas exibem efeitos excitatórios e inibitórios do sistema nervoso periférico assim como ações no SNC, tais como a estimulação respiração e aumento da atividade psicomotora. Os efeitos excitatórios são exercidos nas células dos músculos lisos dos vasos que fornecem sangue à pele e às membranas mucosas. Afunção cardíaca também está sujeita aos efeitos excitatórios, que levam a um aumento dos batimentos cardíacos e da força de contração. Os efeitos inibitórios, ao contrário, são exercidos nas células dos músculos lisos na parede do estômago, nas árvores brônquicas dos pulmões, e nos vasos que fornecem sangue aos músculos esqueléticos. Além de seus efeitos como neurotransmissores, a norepinefrina e a epinefrina podem influenciar a taxa metabólica. Essa influência funciona tanto pela modulação da função endócrina como a secreção de insulina e pelo aumento da taxa de glicogenólise e a mobilização de ácidos graxos. As catecolaminas ligam-se a duas classes diferentes de receptores denominados receptores α e β-adrenérgicos. Catabolismo da catecolamina A epinefrina e a norepinefrina são catabolizadas em compostos inativos pela ação sequencial das enzimas catecolamine-O-metiltransferase (COMT) e monoamina oxidase (MAO). Demonstrou-se que os compostos que inibem a ação da MAO apresentam efeitos benéficos no tratamento de depressão clínica, mesmo quando os antidepressivos tricíclicos não ineficazes. A utilidade dos inibidores de MAO foi descoberta por acaso quando os pacientes submetidos a tratamento da tuberculose com isoniazida mostraram 36 melhoras em seu humor; depois descobriu-se que a isoniazida funcionava inibindo a MAO. Neurotransmissores x neuromoduladores Fonte: amazonaws.com Os neurotransmissores e neuromoduladores, são moléculas do sistema nervoso que desempenham um papel fundamental na comunicação intercelular. Quando estimulados os neurónios libertam estas moléculas que posteriormente vão atuar em receptores pré e/ou pós-sinápticos, desencadeando uma resposta biológica. Os neurônios sintetizam mediadores conhecidos como neuromoduladores cujo efeito é o modular (controlar, regular) a transmissão sináptica. Existem características para diferencia-los dos neurotransmissores: • Deve ser sintetizado dentro do neurônio; • Deve ser encontrado na terminação pré-sináptica e secretado em quantidades suficientes para agir no local de ação; • Deve imitar a ação de um transmissor endógeno, quando este for aplicado exogenamente; • Deve apresentar mecanismos específicos para sua remoção. 37 Identificação dos neurotransmissores Neurotransmissores excitatórios: Estes tipos de neurotransmissores têm efeitos excitatórios sobre o neurônio; eles aumentam a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores excitatórios incluem epinefrina e norepinefrina. Neurotransmissores inibitórios: Estes tipos de neurotransmissores têm efeitos inibitórios sobre o neurônio; eles diminuem a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores inibidores incluem serotonina e GABA. (PSICOATIVO, 2016 apud; CHERRY KENDRA 2016). Neurotransmissores ocorrem em terminais pré-sinápticos e fazem a liberação concomitante atividade neural. Aplicados nas células produzem efeitos idênticos a estimulação pré-sináptica e podem coexistir numa mesma sinapse. Os cientistas ainda não sabem exatamente quantos existem, mas mais de 100 mensageiros químicos foram identificados. Quando neurotransmissores são afetadas por doenças ou drogas, pode haver uma série de diferentes efeitos adversos no corpo. Doenças como Alzheimer e Parkinson são associadas com déficits desses elementos. Como identificar A identificação real de neurotransmissores, na verdade, pode ser muito difícil. Devido a isso, os neurocientistas têm desenvolvido uma série de diretrizes para determinar se um produto químico deve ser chamado de neurotransmissor ou não: • O produto químico deve ser produzido dentro do neurônio. • As enzimas necessárias precursoras devem estar presentes no neurônio. • Deve haver suficiente produto químico presente para realmente ter um efeito no neurônio pós-sináptico. • O produto químico deve ser liberado pelo neurônio pré-sináptico e o neurônio pós-sináptico deve conter receptores a que o produto químico se ligará. • Tem de haver um mecanismo ou recaptação de enzima presente que inibe a ação química. Regulação neural • Neurohormônios: secreção na corrente sanguínea. 38 • Neuromoduladores: secreção a partir de sítios não sinápticos, influenciam atividade. • Neuromediadores: secreção em sítios específicos celulares (mensageiros). • Fatores neurotróficos: produzidas no SNC para reparar lesões (NGF - Fator de crescimento nervoso). Etapas da neurotransmissão Consiste na síntese e armazenamento, liberação na fenda sináptica, difusão e reconhecimento pelos receptores pós-sináptico, transdução do sinal, transmissão rápida, transmissão lenta, recaptura do transmissor e desativação do neurotransmissor. 11 PEPTÍDEO O termo peptídeo refere-se à união de dois ou mais aminoácidos por intermédio de ligações peptídicas, que ocorrem entre o grupo carboxila de um aminoácido e o grupo amina de outro. Quando esses grupos se ligam, ocorre a formação de água (reação de desidratação) em virtude da perda de uma hidroxila do grupo carboxila e de hidrogênio do grupo amina (RANIEL, 2018). Observe o esquema de uma ligação peptídica: Fonte: uol.com.br Os peptídeos diferem-se uns dos outros pelo número de aminoácidos e pela sequência dessas moléculas. De acordo com o número de aminoácidos que possuem, podemos classificá-los em dipeptídeos, quando são formados por dois aminoácidos; tripeptídeos, quando são formados por três; tetrapeptídeos, quando são 39 formados por quatro aminoácidos, e assim por diante. Quando temos vários aminoácidos ligados, usamos a denominação polipeptídeo. Quando a molécula formada contém poucos aminoácidos ela é chamada de oligopepetídeo. Quando há muitos aminoácidos ela é chamada de polipeptídio. Como cada aminoácido de uma cadeia peptídica perdeu um átomo hidrogênio (H) ou uma hidroxila (OH), cada unidade de aminoácido é chamada de resíduo. Função biológica Os grandes peptídeos constituem proteínas, que possuem extrema importância biológica. Porém, muitos oligopeptídeos e peptídeos pequenos possuem grande importância biológica, exercendo sua função mesmo em quantidades muito pequenas. Alguns hormônios, como a insulina, glucagon e corticotrofina são compostos por menos de 50 resíduos de aminoácidos. Como peptídeos pequenos de ocorrência natural também podemos citar a ocitocina, bradicinina, tireotrofina e encefalinas. Os peptídeos estão presentes em praticamente todas as células do nosso corpo e exercem várias funções importantes. Enzimas: uma função dos peptídeos é a produção de enzimas. As enzimas são essenciais em diversos processos metabólicos, que incluem a quebra de substâncias complexas que precisam ser absorvidas pelo organismo em porções menores e mais simples. Isso inclui o metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras através da dieta. Sistema imunológico: outra função é a criação de anticorpos para o sistema imunológico. Quando a pele é desgastada por danos causados pelo sol, por lesões ou até mesmo por acnes, por exemplo, o corpo monta defesas no organismo para se preparar para uma possível invasão de microorganismos. O organismo gera então um aumento de glóbulos e peptídeos antimicrobianos para lutar contra uma possível infecção. Hormônios: os peptídeos podem aumentar a produção de hormônios que controlam processos importantes como crescimento e desenvolvimento sexual. Vários aminoácidos são necessários para produzir o hormônio do crescimento humano, por exemplo. A ocitocina e a insulina, por exemplo, são peptídeos importantes para a 40 nossa saúde, que na verdade são hormônios relacionados com a função reprodutiva feminina e com o controle dos níveis de açúcar no sangue. Fármacos que atuam SNC Os psicofármacos atuam basicamente alterando a transmissãosináptica através dos seguintes mecanismos: • Bloqueio da recaptura de neurotransmissores. O caso clássico de bloqueio da recaptura ocorre com as drogas antidepressivas tricíclicas, sendo que os tricíclicos atuam não seletivamente sobre os sistemas noradrenérgicos e serotoninérgicos, enquanto que os inibidores seletivos atuam apenas em um dos sitemas (por exemplo: fluoxetina – bloqueia a recaptura de 5-HT). Ainda outras drogas possuem o mesmo mecanismo como por exemplo a cocaína, só que o efeito é maior no sistema dopaminérgico. • Liberação de neurotransmissores (Anfetamina – libera dopamina). Na verdade, alguns desses fármacos pode também apresentar algum bloqueio da recaptura, uma vez que competem com o neurotransmissor pela proteína transportadora. • Agonistas e antagonistas dos receptores dos diferentes neurotransmissores e/ou peptídeos (por exemplo, morfina e os peptídeos opiáceos). Os receptores podem ser pós-sinápticos e/ou pré-sinápticos (exemplo de antagonistas dos receptores da dopamina são as drogas neurolépticas). • Inibidores da síntese/armazenamento de neurotransmissores (alfa-metil- paratirosina, reserpina). Os fármacos que atuam sobre o SNC o fazem sobre sistemas neurais específicos de forma aditiva ou competitiva. De acordo com Gilman, 2010 a definição para a classe desses fármacos, e suas características, seria, Classe de fármacos que produz efeitos fisiológicos e psicológicos através de vários mecanismos. Podem ser divididos em fármacos "específicos" por exemplo, aqueles que afetam um mecanismo molecular identificável próprio das células alvo, as quais apresentam receptores para aquele fármaco -- e os agentes "não específicos" que produzem efeitos em diferentes células alvo e agem através de diversos mecanismos moleculares. 41 Aqueles que apresentam mecanismos não específicos geralmente são classificados de acordo com a produção de comportamento depressivo ou estimulante. Aqueles que apresentam mecanismos específicos são classificados por local de ação ou pelo uso terapêutico específico. As condições fisiológicas dos indivíduos influenciam os efeitos de fármacos no SNC: Ex.: hipnóticos são menos efetivos em indivíduos hiperexcitados. Com relação as propriedades físico-químicas do fármaco, a forma farmacêutica e a via de administração afetam a velocidade e a extensão de absorção do fármaco. Fazem parte desta fase as etapas de desintegração e a dissolução (MOURA JUNIOR, 2015). Fase de absorção A absorção de medicamentos consiste em sua passagem para a corrente sanguínea após administração (MSD, 2018 apud Jennifer, 2018). A velocidade e a eficiência da absorção dependem da via de administração que o fármaco é administrado. Todo medicamento oral é absorvido no TGI (maioria no intestino e alguns ácidos fracos e substâncias neutras podem ser, em determinada proporção, no estômago e, através da circulação porta, vai inicialmente para o fígado, onde é submetido ao processo enzimático de biotransformação ou degradação. Processo de biotransformação Efeito de primeira passagem ou metabolismo enzimatico de primeira passagem: • É a metabolização do medicamento pelo fígado e pela microbiota intestinal, antes que o fármaco chegue à circulação sistêmica. • Após uma droga ser administrada por via oral, ela é absorvida pelo sistema digestivo e entra no sistema porta hepático. Antes de atingir outros sistemas, ela é carregada através da veia porta hepática para o fígado. 42 • O fígado metaboliza os fármacos, às vezes de tal maneira que somente uma pequena quantidade ativa é lançada a partir do fígado em direção ao resto do sistema circulatório do corpo. • Os medicamentos administrados pela via oral, sofrem essa biotransformação no fígado, diminuindo significativamente a biodisponibilidade no sangue. • Vias de administração alternativas podem ser usadas, como intravenosa, intramuscular, sublingual, transdérmica e via retal. Estas vias evitam o efeito de primeira passagem pois permitem que o fármaco seja absorto diretamente na circulação sistêmica. • A degradação do fármaco no fígado depende de sua estrutura química, pode ser completamente metabolizado ou inativado. • O fígado é o órgão que prepara a droga para a excreção, necessário para tornar as substâncias mais polares, mais hidrossolúveis para serem facilmente eliminadas pelos rins, a mais importante via de eliminação. (MOURA JUNIOR, 2015). 12 FATORES ENVOLVIDOS NA ABSORÇÃO Ligados ao fármaco • Fase farmacêutica; • Propriedades físico-químicas (lipossolubilidade, peso molecular, grau de ionização, concentração); • Via de administração. Ligados ao organismo • Vascularização do local: quanto mais vascularizado, maior a quantidade de circulação sanguínea e assim, maior a quantidade de fármaco circulante; • Superfície de contato; • Dose do fármaco a ser administrada; 43 • Concentração do fármaco na circulação sistêmica; • Concentração do fármaco no local de ação; • Enfermidades / Patologias; • Fluxo sanguíneo; • Motilidade do TGI; • Velocidade de esvaziamento gástrico; • Idade; • Sexo; • Peso corporal; • PH do meio. Fase de distribuição • Ocorre após a administração do fármaco, seja via oral ou parenteral; • Nesta etapa a droga é distribuída no organismo através da circulação; • O processamento da droga no organismo passa primeiramente nos órgãos de maior vascularização (como SNC, pulmão, coração) e depois sofre redistribuição aos tecidos de menos irrigação (tecido adiposo, por exemplo); • Após a absorção, o fármaco precisa ser distribuído para o corpo, função desempenhada pela corrente sanguínea; • É nessa etapa em que a droga chega ao ponto onde vai atuar; • O fármaco pode ser distribuído “livre” ou “complexado” a proteínas plasmáticas (MOURA JUNIOR, 2015). Fase de eliminação/excreção • Pela excreção, os compostos são removidos do organismo para o meio externo. • O principal sítio de excreção é o rim. Além dele, podemos incluir os pulmões, fezes, secreção biliar, suor, lágrima, saliva e leite materno. Retirando desta lista os pulmões para os fármacos gasosos ou voláteis, 44 os demais sítios são quantitativamente menos importantes (JUNIOR, 2015). Psicoestimulantes Substâncias psicoestimulantes são aquelas com capacidade de aumentar o estado de alerta e a motivação, além de possuírem propriedades antidepressivas, de melhora no humor e no desempenho cognitivo (KUMAR, 2008, apud MORGAN 2017). Seu efeito é considerado como semelhante à adrenalina na atividade motora, daí a denominação de adrenérgico, contudo esse não é o único mecanismo de ativação metabólica do organismo. Estimulantes do sistema nervoso central (SNC) são usados, frequentemente, para promover uma melhora cognitiva, que é definida como a ingestão de substâncias, por indivíduos saudáveis, para aumentar funções mentais como memória, atenção, concentração, vigília e/ou inteligência. Alguns podem ser empregados no tratamento de doenças e distúrbios como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), narcolepsia e apneia obstrutiva do sono. Entre os principais efeitos apreciados pelos usuários de estimulantes do SNC encontram-se aumento da concentração e da capacidade de memorização, raciocínio mais rápido e diminuição do sono noturno. A tolerância a essas drogas não foi estabelecida em estudos científicos, há, contudo, relatos sugerindo que ocorre uma diminuição na sua eficácia com o uso prolongado (DULCAN, 1990 apud; PORTAL EDUCAÇÃO, 2017). O mecanismo de ação central dos psicoestimulantes não é totalmente conhecido. Acredita-se que a dextroanfetamina aumente as atividades das catecolaminas no sistema nervoso central (SNC), sobretudo pelo aumento da disponibilidade de noradrenalina e dopamina na fenda senáptica. O metilfenidato tem uma estrutura química semelhante
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