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Fisiologia do esvaziamento gástrico

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1 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2021.2 
Fisiologia do esvaziamento gástrico
O esvaziamento gástrico é um processo fisiológico que tem por finalidade a transferência do conteúdo alimentar do estômago para o 
duodeno. Primordialmente, ele depende da função motora coordenada do estômago, piloro e duodeno. 
O estômago está longe de ser apenas um reservatório de alimentos. 
Após uma refeição, ele expande-se de acordo com a quantidade de 
alimentos ingerida, mistura, tritura e separa as partículas menores 
que serão esvaziadas no duodeno a uma velocidade compatível com 
a capacidade de digestão do pâncreas e absorção do intestino e, 
também, de acordo com o estado físico e emocional do indivíduo. 
BOMBA PILÓRICA 
Contrações peristálticas antrais intensas durante o esvaziamento 
estomacal 
Na maior parte do tempo, as contrações peristálticas do antro são 
fracas e funcionam principalmente para misturar o alimento com as 
secreções gástricas. 
 • Entretanto, por cerca de 20% do tempo em que o alimento está no 
estômago, as contrações ficam mais intensas, começando na porção 
média do órgão e progredindo no sentido caudal não mais como 
contrações fracas de mistura, mas como poderosas constrições 
peristálticas semelhantes a anéis que promovem o esvaziamento do 
estômago 
 • Com o esvaziamento progressivo do estômago, essas contrações 
começam, cada vez mais proximalmente, no corpo do estomago, 
levando o alimento do corpo do estomago, misturando-o com o 
quimo no antro. As intensas contrações peristálticas provocam 
pressões de 50 a 70 centímetros de água, cerca de 6 vezes maiores 
que os valores atingidos nas ondas peristálticas de mistura. 
 • Quando o tônus pilórico é normal, cada intensa onda peristáltica 
força vários milímetros de quimo para o duodeno. Assim, as ondas 
peristálticas, além de causarem a mistura no estomago, também 
promovem a ação de bombeamento, denominada “bomba pilórica”. 
O PAPEL DO PILORO NO ESVAZIAMENTO GÁSTRICO 
A abertura distal do estomago é o piloro. Aí, a espessura da 
musculatura circular da parede é 50% a 100% maior do que nas 
porções anteriores do antro gástrico, e permanece em leve contração 
tônica quase o tempo todo. Por isso, o musculo circular pilórico é 
denominado de esfíncter pilórico. 
• A despeito da contração tônica normal, o esfíncter pilórico se abre 
o suficiente para a passagem de água e de outros líquidos do 
estômago para o duodeno. Por outro lado, a constrição usualmente 
evita a passagem de partículas de alimento até terem sido misturadas 
no quimo para consistência quase liquida. O grau de constrição do 
piloro aumenta ou diminui, sob influência de sinais de reflexos 
nervosos e humorais, tanto do estomago como do duodeno. 
Regulação do esvaziamento gástrico 
A velocidade/intensidade com que o estomago se esvazia é regulada 
por sinais tanto do estomago como do duodeno. Entretanto, os sinais 
do duodeno são bem mais potentes, controlando o esvaziamento do 
quimo para o duodeno com intensidade não superior à que o quimo 
pode ser digerido e absorvido no intestino delgado. 
FATORES GÁSTRICOS QUE PROMOVEM O ESVAZIAMENTO 
Efeito do volume alimentar gástrico no esvaziamento: Volume de 
alimentos maior promove maior esvaziamento gástrico. Mas esse 
esvaziamento maior, não ocorre pelas razões esperadas. Não é o 
aumento da pressão de armazenamento dos alimentos no estômago 
que causa maior esvaziamento porque, na faixa normal de volume, o 
aumento do volume não aumento muito a pressão. Ocorre que a 
dilatação da parede gástrica desencadeia reflexos mioentéricos locais 
que acentuam, bastante, a atividade da bomba pilórica e, ao mesmo 
tempo, inibem o piloro. 
Efeito do hormônio gastrina sobre o esvaziamento gástrico. A 
distensão da parede gástrica e a presença de determinados tipos de 
alimentos no estomago – particularmente, produtos da digestão da 
carne – provocam a liberação do hormônio chamado gastrina pela 
mucosa antral. Esse hormônio tem efeitos potentes sobre a secreção 
de suco gástrico muito ácido pelas glândulas gástricas. A gastrina tem 
ainda, efeitos estimulantes brandos a moderados sobre as funções 
mototras do corpo do estômago. O mais importante, a gastrina 
parece intensificar a atividade da bomba pilórica. Assim, é muito 
provável que, também, promova o esvaziamento gástrico. 
FATORES DUODENAIS PODEROSOS NA INIBIÇÃO DO 
ESVAZIAMENTO GÁSTRICO 
Efeito inibitório dos reflexos nervosos enterogástricos de origem 
duodenal 
• Quando o quimo entra no duodeno, são desencadeados múltiplos 
reflexos nervosos, com origem na parede duodenal. Eles voltam para 
o estomago e retardam ou mesmo interrompem o esvaziamento 
gástrico se o volume de quimo, no duodeno, for excessivo. 
• Esses reflexos são mediados por 3 vias: 1. Diretamente do duodeno 
para o estomago pelo sistema nervoso entérico da parede intestinal. 
2. Pelos nervos extrínsecos que vão aos gânglios simpáticos pre 
vertebrais e, então, retornam pelas fibras nervosas simpaticas 
inibidoras que inervam o estomago. 3. Provavelmente menos 
importante pelos nervos vagos que vão ao tronco encefálico, onde 
inibem os sinais excitatórios normais, transmitidos ao estômago pelos 
ramos eferentes dos vagos. 
• Esses reflexos paralelos tem dois efeitos sobre o esvaziamento do 
estômago: Primeiro, inibem fortemente as contrações propulsivas da 
“bomba pilórica”; Segundo, aumentam o tônus do esfíncter pilórico 
 • Os fatores continuamente monitorados no duodeno e que podem 
desencadear reflexos inibitórios enterogastricos, incluem os 
seguintes: O grau de distensão do duodeno; Irritação da mucosa 
duodenal em graus variáveis; O grau de acidez do quimo duodenal; O 
grau de osmolalidade do quimo; A presença de determinados 
 
2 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2021.2 
produtos de degradação química no quimo, especialmente de 
degradação química das proteínas e, talvez, em menor escala, das 
gorduras. 
• Os reflexos inibidores enterogástricos são especialmente sensíveis à 
presença de irritantes e de ácidos no quimo duodenal e, em geral, 
são intensamente ativados em tempos inferiores a 30 segundos. Por 
exemplo, sempre que o pH do quimo duodenal cai para menos de 3,5 
a 4, os reflexos com frequência bloqueiam a transferência adicional 
de conteúdos gástricos ácidos para o duodeno, até que o quimo 
duodenal possa ser neutralizado por secreções pancreáticas e por 
outras secreções. 
• Os produtos da digestão de proteínas também provocam reflexos 
enterogástricos inibitórios; ao diminuir-se o esvaziamento gástrico, 
assegura-se o tempo suficiente para a digestão adequada das 
proteínas no duodeno e no intestino delgado. 
• Por fim, líquidos hipotônicos e hipertônicos (especialmente os 
hipertônicos) produzem reflexos inibitórios. Dessa forma, evita-se o 
fluxo muito rápido de líquidos não isotônicos para o intestino 
delgado, prevenindo-se assim mudanças rápidas nas concentrações 
de eletrólitos, no líquido extracelular do corpo, durante a absorção 
do conteúdo intestinal. 
O FEEDBACK HORMONAL DO DUODENO INIBE O 
ESVAZIAMENTO GÁSTRICO – O papel das gorduras e do 
hormônio colecistocinina. 
• Não só os reflexos nervosos do duodeno para o estômago inibem o 
esvaziamento, mas também hormônios liberados pelo trato intestinal 
superior o fazem. 
• O estímulo para liberação desses hormônios inibidores é, 
basicamente, a entrada de gorduras no duodeno, muito embora 
outros tipos de alimentos possam, em menor grau, aumentar a 
liberação de hormônios. 
• Ao entrar no duodeno, as gorduras provocam a liberação de 
diversos hormônios pelo epitélio duodenal e jejunal, por ligação a 
“receptores” nas células epiteliais ou por alguma outra maneira. Os 
hormônios são transportadospelo sangue para o estômago, onde 
inibem a bomba pilórica, ao mesmo tempo em que aumentam a 
força de contração do esfíncter pilórico. Esses efeitos são 
importantes porque a digestão de gorduras é mais lenta quando 
comparada à da maioria dos outros alimentos. 
• Não se sabe, exatamente, quais hormônios causam o feed back 
inibitório do estomago. O mais potente parece ser a colecistocinina 
(CCK), liberada pela mucosa do jejuno em resposta a substâncias 
gordurosas no quimo. Esse hormônio age como inibidor, bloqueando 
o aumento da motilidade gástrica causada pela gástrica. 
• Outros possíveis inibidores do esvaziamento gástrico são os 
hormônios secretina e peptídeo inibidor gástrico (GIP), tambem 
chamado peptideo insulinotropico dependente de glicose. 
• A secretina é liberada principalmente pela mucosa duodenal, em 
resposta ao ácido gástrico que sai do estomago pelo piloro. O GIP 
tem efeito geral e fraco de diminuição da motilidade gastrointestinal. 
• O GIP é liberado pelo intestino delgado superior em resposta, 
principalmente, à gordura do quimo, mas em menor escla também 
aos carboidratos. Embora o GIP iniba de fato a motilidiade gástrica 
sob certas condições, seu principal efeito em concentrações 
fisiologicas é o de estimular a secreção de insulina pelo pâncreas. 
• Em suma, os hormônios, especialmente a CCK, podem inibir o 
esvaziamento gástrico, quando quantidades excessivas de quimo, em 
especial o quimo ácido ou gorduroso, chegam ao duodeno 
provenientes do estômago. 
RESUMO 
• O esvaziamento do estomago é controlado apenas, em grau 
moderado, por fatores como grau de seu enchimento e o efeito 
excitatório da gastrina sobre o peristaltismo gástrico. 
• É provável que o controle mais importante do esvaziamento resida 
em sinais de feedback inibitórios do duodeno, incluindo reflexos 
nervosos enterogástricos de feedback inibitório e feedback hormonal 
pela CCK. 
• Esses mecanismos de feedback inibitório, em conjunto, retardam o 
esvaziamento quando (1) já existe muito quimo no intestino delgado 
(2) o quimo é excessivamente ácido, contém muita proteína ou 
gordura não processada, é hipotônico ou hipertônico, ou é irritativo. 
 • Dessa maneira, a intensidade do esvaziamento é limitada à 
quantidade de quimo que o intestino delgado pode processar.

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