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DIDÁTICA DO ENSINO E AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA W BA 06 25 _v 1. 1 © 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Danielle Leite de Lemos Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Mariana Ricken Barbosa Priscila Pereira Silva Coordenador Danielle Leite de Lemos Oliveira Revisor Susana Irion Dalcol Editorial Alessandra Cristina Fahl Daniella Fernandes Haruze Manta Flávia Mello Magrini Hâmila Samai Franco dos Santos Leonardo Ramos de Oliveira Campanini Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Santos, Rosemeire Rodrigues dos S237d Didática do ensino e avaliação da aprendizagem em língua portuguesa / Rosemeire Rodrigues dos Santos. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. 115 p. ISBN 978-85-522-0782-5 1. Didática. 2. Avaliação. I. Santos, Rosemeire Rodrigues dos. II. Título. CDD 370 Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2018 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ 3 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa DIDÁTICA DO ENSINO E AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA SUMÁRIO Apresentação da disciplina 4 Tema 01 – Concepção de linguagem 5 Tema 02 – Teorias de aquisição da linguagem 28 Tema 03 – Reflexão sobre produção e recepção textual 51 Tema 04 – Gêneros textuais na prática pedagógica 71 Tema 05 – Metodologias de ensino de alfabetização e língua portuguesa 92 Tema 06 – Didática do ensino de língua portuguesa na educação básica 112 Tema 07 – Variação linguística e o ensino de língua portuguesa 134 Tema 08 – Avaliação da aprendizagem em língua portuguesa na educação básica 156 4 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa Apresentação da disciplina Nos últimos quarenta anos, o ensino de Língua Portuguesa tem passado por uma “virada linguística” que tem exigido mudanças, tanto nas orien- tações curriculares institucionais, quanto nas práticas docentes de sala de aula e elaboração de livros didáticos. Esse contexto histórico e educacio- nal exige dos professores e demais profissionais que atuam com o com- ponente curricular “Língua Portuguesa na educação básica”, uma atitude responsiva e uma tomada de posição consciente, as quais só são possí- veis mediante a mobilização de conhecimento historicamente produzido ao longo desses anos. Dessa forma, essa disciplina propõe analisar os pressupostos teóricos, as tipologias e aplicabilidade de práticas didáticas e a avaliação de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa na educação básica. Para consecução desse objetivo geral, serão mobilizados saberes, reflexões, exemplificações, entre outras estratégias, a fim de que você possa se apropriar dessas dis- cussões e redimensionar as suas práticas docentes em sala de aula. Você participará de discussões sobre as diferentes concepções de lingua- gem que embasam e embasaram o ensino de Língua Portuguesa. Como extensão dessa discussão, poderá compreender as teorias de aquisição de linguagem e a relação com as concepções estudadas. Com base nos pressupostos teóricos, será oportunizado a você refletir sobre a produ- ção e recepção textual, assim como os diferentes gêneros textuais e sua transposição didática na prática pedagógica. Também, conhecerá as vá- rias abordagens metodológicas do ensino de Língua Portuguesa, nos ei- xos de leitura, escuta, escrita, fala e conhecimentos linguísticos. Por fim, você poderá conhecer e refletir sobre os tipos de avaliação, com enfoque na formativa, como se alinham e os instrumentos de avaliação pertinen- tes a cada um deles. Boa reflexão! 5 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa TEMA 01 CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM Objetivos • Conhecer as diferentes concepções de linguagem que embasam o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa na educação básica. • Relacionar as concepções de linguagem com as dife- rentes metodologias de ensino de língua materna no Brasil nos últimos cinquenta anos. • Refletir sobre os conceitos subjacentes às concep- ções de linguagem como o caráter da língua; o papel dos sujeitos na enunciação; os objetivos de ensino; a unidade básica de análise; os sentidos do texto; a gramática; a leitura; a produção escrita; a oralidade; a norma da língua e as variações linguísticas. 6 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa Introdução Refletir sobre as diferentes práticas didáticas no ensino de qualquer disci- plina, sobretudo no de Língua Portuguesa, pressupõe compreender qual ou quais concepções teórico-metodológicas as embasam. Essas concep- ções orientam os agentes envolvidos quanto aos papéis de aluno e de professor, aos conteúdos a serem ensinados, às estratégias de ensino e às formas e aos instrumentos de avaliação. Segundo Geraldi (2006 [1984], p. 42), “qualquer metodologia de ensino arti- cula uma opção política – que envolve uma teoria de compreensão e inter- pretação da realidade”. Nessa direção, há a necessidade de compreensão e reflexão, por parte professores de Língua Portuguesa e demais profissionais de ensino, sobre as concepções de linguagem e de educação, de forma ar- ticulada, a fim de dar conta dos elementos que envolvem a prática didática. No caso de Língua Portuguesa, compreender as concepções de lingua- gem possibilita ao profissional de educação realizar escolhas teórico-me- todológicas em relação aos conceitos subjacentes a esses pressupostos, como: função da língua e da linguagem; o caráter da língua; o papel dos sujeitos na enunciação; os objetivos de ensino; ponto de partida e unida- de básica de análise; sentidos do texto; gramática; leitura; produção escri- ta; oralidade; norma da língua e variações linguísticas. Ao analisar o caráter dinâmico da linguagem em contextos situados, Bakhtin/Volochinov (1992 [1929]) apresentam três paradigmas concei- tuais que são: Subjetivismo Idealista, Objetivismo Abstrato e Concepção Dialógica de linguagem. Com base nesses pressupostos adaptados ao en- sino de Língua Portuguesa, Geraldi (2006 [1984]), Travaglia (1996) e Soares (1998) apresentam três concepções vigentes nas práticas em sala de aula, nos materiais didáticos e nos documentos institucionais ao longo do tem- po: a linguagem como expressão de pensamento; a linguagem como ins- trumento de comunicação; e a linguagem como interação. Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 7 Neste material, você poderá conhecer as três concepções que embasam o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa na educação básica, relacionar as diferentes concepções com as metodologias de ensino de língua materna no Brasil e os conceitos subjacentes a cada uma delas. 1. Concepções de linguagem Durante sua vida escolar, certamente, as aulas de Língua Portuguesa das quais participou enfocavam o estudo da gramática normativa, para con- ceituar, classificar, entender e seguir prescrições quanto aos diferentes conhecimentos linguístico-gramaticais (PERFEITO, 2005). Ou talvez, você tenha aprendido normas gramaticais com o uso de textos, porém sem nenhuma relação com a situação sociocomunicativa de produção deles (GERALDI, 2006 ,1984). As situações apresentadastêm relação com as diferentes concepções de linguagem e ensino de Língua Portuguesa. De acordo com Travaglia (1996, p. 21)“o modo como se concebe a natureza fundamental da língua altera em muito o como se estrutura o trabalho com a língua em termos de ensino. A concepção de linguagem é tão importante quanto à postura que se tem relativamente à educação”. Neste sentido, as metodologias de ensino trazem em si um conjunto de normas, procedimentos, valores, regras sociais, ideologias, relações de poder, que podem direcionar a constituição do sujeito que se almeja edu- car. Tais escolhas metodológicas podem ter como consequências inclu- são e respeito às diferenças, ou padronização e exclusão social. Segundo Moita Lopes e Rojo (2004, p. 46), os modos de ensinar podem atuar sobre as incertezas e as diferenças, para compreender os usos sociais da língua e como a linguagem funciona no mundo, por meio de práticas de letra- mento para cidadania, ou sobre verdades incontestáveis e padronização, que podem levar à exclusão social e à evasão escolar. 8 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa Diante desse quadro, é essencial compreender nessas diferentes concep- ções as respostas que os aportes teórico-metodológicos podem dar às seguintes questões: O que é língua e qual sua função? O que é linguagem e qual é sua função? Para que ensinar a língua materna? Como ensiná- -la? Para que aprendê-la? Em quais contextos sócio-históricos e escolares, professores e alunos estão inseridos? Você verá a seguir a concepção de linguagem como expressão de pensamento. 1.1 Linguagem como expressão de pensamento Você certamente já ouviu em aulas de Língua Portuguesa ou em conver- sas sobre língua e linguagem, alguma dessas frases ou semelhantes a elas: “não sei falar o português direito”; “não sabe nem escrever direito, como quer emitir opinião”; “só expressei meu pensamento”; “o que vale é o meu pensamento, não a situação”; “não sei colocar o meu pensamento no papel para escrever”, entre outras. Nessas frases, além de reproduzir ideias e valores de determinada con- cepção, não diferenciam os conceitos de língua e linguagem. Segundo Petter (2003), a língua é um conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitam a comunicação. Ainda de acordo com autora, a linguagem consiste na capacidade dos seres humanos para produzir, de- senvolver e compreender a língua e outras manifestações culturais. Essas frases podem representar a concepção de “linguagem como expres- são do pensamento” (GERALDI, 2006 [1984]; TRAVAGLIA, 1996) ou a orien- tação linguístico-filosófica, nomeada por Bakhtin/Voloshinov (1992 [1929]) de Subjetivismo idealista. De acordo com Perfeito (2005), essa concepção é “um princípio sustentado pela tradição gramatical grega, passando pe- los latinos, pela Idade Média e Moderna e, teoricamente, só rompida no início do século XX, de forma efetiva, por Saussure” e fundamenta os es- tudos tradicionais da língua. Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 9 De acordo com Bakhtin/Voloshinov (1992 [1929])essa concepção tem como base os estudos sobre a interdependência entre palavra e pensa- mento do linguista prussiano Wilhelm Von Humboldt. Nas discussões so- bre o Subjetivismo idealista, Bakhtin/ Voloshinov (1992[1929]) sintetizam essa orientação linguístico-filosófica da em quatro pressupostos: 1. A língua é uma atividade, um processo criativo ininterrupto de construção (“energia”), que se materializa sob a forma de atos individuais de fala. 2. As leis da criação linguística são essencialmente as leis da psicologia individual. 3. A criação linguística é uma criação significativa, análoga à criação artística. 4. A língua, enquanto produto acabado (ergon), enquanto sistema estável (léxico, gramática, fonética), apresenta-se como um depósito inerte, tal como a lava fria da criação linguística, abstratamente construída pelos linguistas com vistas à sua aquisição prática como instrumento pronto para ser usado. (BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1992 [1929], p. 72) Nesse sentido, a língua é compreendida, então, como exteriorização do pensamento, invariável e homogênea, materializada como ato individual da fala. Também a língua é compreendida como um sistema pronto e abstrato, formado por módulos, como o fonético, morfológico (léxico) e as demais partes da gramática, tendo relação com os usos efetivos. O texto é também compreendido como expressão do pensamento, materializado pela linguagem, e depende, exclusivamente, da capacidade de criativida- de individual daquele que o produziu, ao exteriorizar um sentido próprio e único. Segundo Travaglia (1996), nessa concepção: A expressão se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas uma tradução. A enunciação é um ato monológico, individual, que não é afetado pelo outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação acontece. [...] Presume-se que há regras a serem seguidas para a organização lógica do pensamento e, con- sequentemente, da linguagem, são elas que se constituem nas normas gramaticais do falar e escrever bem. (TRAVAGLIA, 1996, p. 21) Conforme apresentado na introdução, essa concepção e outras embasaram a legislação brasileira quanto aos objetivos de ensino de língua materna e, 10 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa consequentemente, aos currículos oficiais, livros/manuais didáticos e prá- ticas de sala de aula. Essa concepção, conforme reflexões apresentadas por Travaglia (1996) na citação acima, foram vigentes no ensino de Língua Portuguesa, sem questionamentos, até os anos de 1960, inclusive respal- dada pela Lei de Diretrizes de Bases da Educação - LDB 4024/61- (SOARES, 1998), embora ainda tenha repercussões no ensino até hoje. Até meados dos anos de 1950, de acordo com Soares (1998), o ensino destinava-se, quase exclusivamente, às camadas mais privilegiadas da população, de modo que os estudantes chegavam às aulas de Língua Portuguesa com bom domínio da variedade de prestígio ou norma pa- drão culta. Assim, segundo a autora, os objetivos do ensino eram, funda- mentalmente, reconhecer e seguir normas e regras de funcionamento da norma padrão culta e tomar contato com textos literários, por meio dos quais se desenvolvia as habilidades de ler, escrever e falar, com clareza e precisão, uma variedade de língua já dominada. O ensino de Língua Portuguesa, nessa concepção, tem como unidade básica a palavra e o seu núcleo, a gramática normativo-prescritiva, cujas regras devem ser seguidas para garantia de êxito na escrita e na fala (TRAVAGLIA, 1996; PERFEITO, 2005). Esse enfoque de ensino desconside- ra as variedades não-padrão, pois tudo o que foge às regras que regem a norma padrão culta é considerado errado e deficiente, como por exem- plo, as variantes linguísticas regionais e sociais (POSSENTI, 1996). Nesse sentido, as principais atividades de ensino são a classificação de pa- lavras, análise lógica e memorização das regras gramaticais, desconecta- das das atividades de leitura e produção de textos orais e escritos (KOCH, 2003). As atividades de leitura relacionam-se com o reconhecimento ime- diato dos sinais linguísticos e as de produção textual restringem-se em traduzir o pensamento na forma de linguagem verbal escrita, seguindo as regras estabelecidas pela gramática tradicional ou normativa- prescritiva (GERALDI, 2006 [1984]). Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 11 PARA SABER MAIS A gramática tradicional, de acordo com Lyons (1981)surgiu na Grécia Antiga, como parte do estudo da Lógica e da Filosofia. No ano II a.C, Dionísio da Trácia publicou a primeira gramática de uma língua no mun- do ocidental (grego ático), cujo objetivo era oferecer padrões linguísti- cos das obras de escritores gregos consagrados. Essa gramática serviu de modelo para a tradição gramatical do Ocidente existente até hoje. Na próximaseção, você verá a segunda concepção de linguagem que pre- conizou o ensino de Língua Portuguesa no Brasil. 1.2 Linguagem como Instrumento de Comunicação Nos livros didáticos de Língua Portuguesa, entre as décadas de 1980 e 1990, o conteúdo recorrente era o esquema de comunicação postulado por Roman Jakobson, com seus seis elementos e suas respectivas funções de linguagem: emissor/remetente (emotiva ou expressiva), destinatário/ receptor (conativa ou apelativa), referente ou contexto (referencial ou de- notativa), mensagem (poética), canal (fática) e código (metalinguagem): Figura1 - Esquema de Comunicação CONTEXTO DESTINATÁRIO MENSAGEM REMETENTE ............................... CONTATO CÓDIGO Fonte: Jakobson (1969, p. 123), adaptado pela autora. 12 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa A teoria da Comunicação de Jakobson vem como caudatária do estrutura- lismo, cujo pensamento filosófico-linguístico é caracterizado por Bakhtin/ Voloshinov (1992 [1929]) como Objetivismo abstrato. De acordo com Perfeito (2005), a ruptura do “subjetivismo individualista” ou “a lingua- gem como expressão do pensamento” é observada pelas discussões de Saussure, no início do século XX, nas quais estabelece a dicotomia “Langue/ Parole” (Língua/Fala), e elege a língua como objeto de estudo, em suas re- lações internas em um determinado tempo, ou seja, de forma sincrôni- ca. Nesse sentido, Saussure preconiza o domínio da estrutura linguística sobre o sujeito, pois é um sistema arbitrário que não pode ser modifica- do individualmente, mas pela sua comunidade de falantes. Segundo essa orientação, a língua é um sistema composto por signos que servem como instrumento para a comunicação entre os sujeitos. PARA SABER MAIS O Estruturalismo em Linguística é uma corrente de pensamento do início do século XX, fundamentada pela discussão de Ferdinand de Saussure de que “a língua não é um conglomerado de elementos hete- rogêneos; é um sistema articulado, onde tudo está ligado, onde tudo é solidário e onde cada elemento tira seu valor de sua posição estrutu- ral” (Saussure, citado em Leroy, 1971, p. 109). De acordo com Travaglia (1996, p. 22), nessa concepção de linguagem a língua “é vista como um código, ou seja, um conjunto de signos que se combinam segundo regras e que é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um emissor a um receptor”. Além disso, de acordo com o autor, o sujeito é compreendido de forma separada do seu contexto social, por se limitar ao estudo do funcionamento interno da língua, sem relação com a sua evolução na história. Essa concepção passou a ser a base do ensino de língua materna a partir da década de 1970, fundamentado na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), lei Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 13 nº 5692/71, conforme discutido por Soares (1998, p. 56 - 57). Sua denominação Português ou Língua Portuguesa foi substituída por Comunicação e Expressão, nas quatro primeiras séries do então criado ensino de 1º grau, e Comunicação em Língua Portuguesa, nas quatro últi- mas séries desse grau (só no 2º grau manteve a disciplina a denominação “Língua Portuguesa”, acrescida de “Literatura Brasileira”: Língua Portuguesa e Literatura Brasileira). De acordo com Soares (1998), com a democratização do acesso à escola, as classes mais populares trouxeram padrões culturais e variantes linguísticas diferentes, houve questionamento sobre o ensino de uma variedade culta de excelência. Com o advento da LDB de 1971, passa a ser estabelecido que “à língua nacional se deveria dar especial relevo como instrumento de comunicação e como expressão da cultura brasileira” (SOARES, 1998, p. 57). Quanto ao objeto de ensino da língua materna, Perfeito (2005, p. 29) afirma: O estudo da língua, apesar de proposição de inovações, ainda tende ao ensino gramática e embora a leitura e a produção textual comecem a ganhar maior relevância na escola, ao lado dos elementos da teoria da comunicação [...] inclusive, que livros didáticos do ensino médio acabam abordando superficialmente, ao lado da literatura, da produção de “técni- cas de redação” e do ensino teórico gramatical, as “funções da linguagem”. Geralmente, destacam apenas a função predominante do texto, sem evi- denciar a possibilidade de entrelaçamento das funções, como numa poesia lírica em que, juntamente à função poética, apresenta-se a emotiva. Nesse sentido, essa concepção preconiza a língua como código homogê- neo e invariável, estudada em suas relações internas, e a linguagem como instrumento para a transmissão da mensagem do emissor ao receptor. O ensino de língua materna fundamenta-se na apropriação do código e o papel do professor, nesse contexto, é garantir o conhecimento do sistema alfabético e a gramática, para que se garanta a transmissão da mensagem (SOARES, 1998). De acordo com Travaglia (1996), a gramática é compreendida como des- critiva, pois se centra na descrição de um conjunto de regras que devem 14 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa ser seguidas pelo sujeito, individualmente, em busca de código adequado à situação de comunicação (TRAVAGLIA, 1996). Tal perspectiva de ensino de gramática centra-se nas estruturas da língua, tendo como unidade básica de análise a frase, com atividades que orientam a seguir um modelo, preencher lacunas, repetir e treinar (KOCH, 2003). As atividades de leitura centram-se no reconhecimento do código de comu- nicação e estabelecimento de relações unidirecionais e monológicas entre emissor e receptor como perguntas facilmente identificadas no texto; con- sulta ao dicionário; leitura em voz alta, como exercício mecânico; atividades nas quais “o texto torna-se pretexto para a proposição de atividades grama- ticais, como modelo a ser seguido (MENEGASSI; ANGELO, 2005, p. 19-20). A produção de texto enfoca modelos já existentes a serem seguidos, baseados nas tipologias textuais: narração, descrição e dissertação (TRAVAGLIA, 1996). Você verá a seguir a discussão da “linguagem como interação” ou “con- cepção dialógica da linguagem”. 1.3 Linguagem como interação Você verificou que na primeira concepção discutida acredita-se que os sujeitos empregam a língua e constituem a sua linguagem para expressar pensamento. Na outra concepção, você viu que outros estudiosos con- ceituaram a língua como um código e a linguagem como um instrumento para transmitir conhecimentos (mensagens). Diferentemente dessas orientações linguístico-filosóficas, a concepção dialógica da linguagem concebe a linguagem como um instrumento pelo qual o sujeito age e atua sobre o outro e sobre o mundo, constituindo-se e transformando tudo a sua volta (GERALDI, 2006 [1984]). Nas relações sociais estabelecidas pela linguagem, a língua é colocada em movimento, em transformação, em mudança, graças ao papel empreendido pelos fa- lantes no uso diário e a cada instante de sua vida em sociedade (BAGNO, Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 15 2014). Desse modo, segundo Bagno (2014), essa perspectiva valoriza as variedades linguísticas que decorrem do uso efetivo e diário da língua, considerando-as como elementos formadores de identidade individu- al e social, assim como patrimônio cultural de um país. Nas palavras de Bakhtin/Voloshinov (1992 [1929], p. 125, grifos do autor), a língua: Não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a rea- lidade fundamental da língua. O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das formas é verdade que das mais impor- tantes, da interação verbal. Mas pode-se compreender a palavra “diálogo” num sentido amplo, isto é, não apenas como a comunicaçãoem voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de qual- quer tipo que seja. Em tal perspectiva, a linguagem verbal se realiza por meio da língua, só existente na interação social, na qual a produção de sentido ocorre em decorrência de seu uso efetivo, ou seja, no momento da fala e da escrita. Tal concepção considera a língua como entidade concreta, pelo seu uso efetivo na forma de discursos, que se moldam segundo as convenções dos múltiplos gêneros textuais que circulam em diferentes esferas da so- ciedade (BAGNO, 2014). Na mesma direção, Brait (2000), compreende a linguagem como um processo de interlocução em que se realizam as mais diversas práticas sociais, num determinado contexto histórico e em dada situação socio- comunicativa, envolvendo diferentes sujeitos, que falam e escrevem em determinado gênero textual. Assim, o gênero textual se materializa em texto, numa situação sociocomunicativa, cujos fatores são o lugar (qua- dro espaço-temporal), o propósito comunicativo (objetivos da interação), os participantes (interlocutores- produtor e coprodutores/receptor) e o próprio gênero ou um conjunto de gêneros textuais (CAVALCANTE, 2014). 16 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa A concepção de linguagem como interação passou a ser discutida e pesquisada por diferentes campos de estudos como: a Linguística, a Linguística Aplicada, a Sociolinguística, a Psicolinguística, a Linguística Textual, a Pragmática, a Análise do Discurso, entre outras, na segunda metade dos anos de anos 1980 e nos anos 1990. De acordo com Soares (1998, p. 59) é: ASSIMILE De acordo com Bakhtin (1997 [1952-1953]), todo texto é pertencente a um gênero, sendo impossível a comunicação verbal a não ser por um gênero. Segundo Marcuschi (2008), os gêneros textuais se cons- tituem como ações sóciodiscursivas para agir e dizer sobre o mundo, constituindo sócio-historicamente. Ainda, segundo o autor, o gênero textual se materializa em textos pelos quais os sujeitos interagem na vida diária, em situações sociocomunicativas. Uma concepção que vê a língua como enunciação, discurso, não apenas como comunicação, incluindo as relações da língua com aqueles que a utilizam, com o contexto em que é utilizada, com as condições sociais e históricas de sua utilização. Esse movimento de “virada linguística” culminou em configurar ensino de língua materna como “língua Portuguesa”, na LDB (9394/96), e em trans- formação nas concepções de linguagem nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): O domínio da linguagem, como atividade discursiva e cognitiva, e o domí- nio da língua, como sistema simbólico utilizado por uma comunidade linguística, são condições de possibilidade de plena participação social. Pela linguagem os homens e as mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam e defendem pontos de vista, partilham ou cons- troem visões de mundo, produzem cultura. (BRASIL, 1998, p.19) Nessa perspectiva teórico-metodológica de ensino, o papel atribuído ao Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 17 sujeito é o de interlocutor ativo na produção de sentidos polissêmicos e multivocais, construído na e pela linguagem, e ocupando posições socio- culturais e históricas determinadas BAKHTIN/VOLOSHINOV (1992 [1929]). Por meio de diálogo entre os diferentes sujeitos é que ocorrem as trocas de experiências e conhecimentos e a construção de diferentes saberes. O caráter da língua, nesse sentido, é heterogêneo e variável, de modo que as variações linguísticas são compreendidas e consideradas, levando- -se em conta o contexto, os objetivos e as circunstâncias da interlocução (POSSENTI, 1996; PERFEITO, 2005). A partir da publicação dos PCN, os gêneros são tomados como objetos de ensino e aprendizagem de língua materna nas escolas brasileiras de edu- cação básica (BRASIL, 1998). De acordo com Fuza, Ohuschi e Menegassi (2011, p. 490): Nesta concepção, a preocupação básica do ensino da língua materna é levar o aluno não apenas ao conhecimento da gramática de sua língua, mas, sobretudo, ao desenvolvimento da capacidade de refletir, de manei- ra crítica, sobre o mundo que o cerca e, em especial, sobre a utilização da língua como instrumento de interação social Em consecução a essas discussões, as principais atividades de ensino passaram a centrar-se na leitura, na escuta, na produção de diferentes gêneros discursivos e na análise e reflexão linguística produtiva dessas práticas de linguagens. Assim, as diferentes atividades de ensino preci- sam enfocar leitura, escuta, escrita, fala, de modo adequado aos contex- tos enunciativos, favorecendo que os estudantes possam se manifestar para ler, ouvir, produzir textos (orais ou escritos), escutar, saber, conven- cer, dominar, persuadir, pedir, ordenar, concordar, discordar, negociar e interagir (BRASIL, 2017). Segundo Fuza, Ohuschi e Menegassi (2011, p. 491), o fato de colocar o texto como objeto de estudo da língua portuguesa ocasionou, inicialmen- te, “uma má interpretação das propostas, muitos acreditaram que não se 18 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa podia mais ensinar a gramática”. Nessa perspectiva, a gramática é com- preendida como internalizada e contextualizada, pois leva em considera- ção o conjunto de regras que o falante domina e utiliza para interagir com EXEMPLIFICANDO Como seria, então, uma aula de Língua Portuguesa do 6º ano do Ensino Fundamental, por exemplo? O professor e os alunos decidem criar um jornal mural para divulgar as notícias sobre as etapas do projeto am- biental desenvolvido pela escola para a comunidade escolar. Os alu- nos, com a mediação do professor, irão analisar o portador de texto jornal e os recursos gráfico-visuais. Também, realizarão a leitura de notícias, quando devem mencionar e refletir sobre as características composicionais e linguístico-discursivas do gênero, primeiro em inter- câmbio oral com colegas e professores e, posteriormente, por escrito. Os alunos podem, em equipe ou individualmente, escolher um dos assuntos relacionados às etapas do projeto ambiental da escola para produzir uma notícia. Para tanto, realizarão a produção de texto no- tícia em etapas: planejamento da escrita (pesquisa do conteúdo e es- tabelecimento de contexto enunciativo); primeira versão (escrita e or- ganização da composição e linguagem); revisão e reescrita (retomada dos elementos do planejamento e das características linguístico-dis- cursivas e composições do gênero); edição e divulgação (uso de recur- sos tecnológicos para a diagramação da notícia) e divulgação no mural das escolas ou redes sociais. os demais interlocutores nas situações reais de comunicação e o critério de avaliação é o de adequação ou inadequação à situação de uso da lín- gua. (PERFEITO, 2005; POSSENTI, 1996) Assim, as orientações curriculares vigentes embasam-se na concepção de linguagem como interação e a Base Nacional Curricular Comum- BNCC (BRASIL, 2017) apresenta, como metas de ensino e aprendizagem, que o estudante brasileiro desenvolva capacidades de: Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 19 • leitura e escrita, construindo sentidos coerentes para os textos escri- tos e orais, em práticas de letramento; • escrever e falar, produzindo textos (gêneros textuais) em situações de interação diversas; • apropriar-se dos conhecimentos e recursos linguísticos –textuais, discursivos, expressivos e estéticos – que contribuam para o uso adequado e produtivo da língua oral e da escrita na diversidade das situações das quais participam. Com base na concepção de linguagem como interação, a BNCC (2017) pre- coniza que o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa estejam volta- dos para a expansão das práticas de linguagem em suas diferentes mani- festações, em diferentes portadores tecnológicos (multimídia) e múltiplas modalidades, pois o acessoaos saberes linguísticos é condição necessária para a participação social e o exercício da cidadania a todos os alunos. 2 Considerações finais • O modo como se concebe a linguagem tem estreita relação com a as escolhas metodológicas no ensino de língua materna e na postura Como você viu nas discussões apresentadas, o modo como se concebe a linguagem tem total relação com o modo como o educador ou escri- tor de livro didático estrutura o trabalho com o ensino de Língua ma- terna. Quais dessas concepções mais embasam ou embasaram o seu trabalho com o ensino de língua? De que forma a compreensão dessas concepções pode impulsionar mudanças em sua prática didática? QUESTÃO PARA REFLEXÃO 20 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa em relação à educação. Essas escolhas metodológicas podem ter como consequência o uso da língua e as práticas de linguagem na construção da cidadania, ou como padronização e exclusão social. As três concepções vigentes no ensino de Língua Portuguesa são: a linguagem como expressão de pensamento; a linguagem como ins- trumento de comunicação; e a linguagem como interação. • A linguagem como expressão do pensamento: a linguagem é construída na mente do indivíduo como um ato individual e mono- lógico, sendo sua exteriorização apenas a tradução do pensamento. O ensino da Língua Portuguesa centra-se na gramática normativo- -prescritiva, cujo conjunto de regras deve ser seguido, para garantia de que o sujeito possa falar e escrever bem, usando a variedade padrão culta da língua. • A linguagem como instrumento de comunicação: a língua é com- preendida como código, homogêneo e invariável, estudado em suas estruturas internas, e a linguagem como instrumento para a transmissão da mensagem do emissor ao receptor. O ensino de lín- gua materna fundamenta-se na apropriação do código e o papel do professor, nesse contexto, é garantir o conhecimento do siste- ma alfabético e a gramática, para que se garanta a transmissão da mensagem. • A linguagem como interação: a linguagem é compreendida como um lugar de interação humana ativa na produção de senti- dos diversos, por meio da qual o sujeito se constitui e produz novos significados. O caráter da língua, nesse sentido, é heterogêneo e variável, de modo que as variações linguísticas são compreendidas e consideradas, levando-se em conta o contexto, os objetivos e as circunstâncias da interlocução. O ensino de Língua Portuguesa tem como unidade básica de análise o texto real, que se organiza dentro de um determinado gênero discursivo. Assim, as principais ativida- des de ensino se centram no tratamento didático de leitura, escuta Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 21 e produção de diferentes gêneros discursivos e análise e reflexão linguística produtiva dessas práticas de linguagens. Glossário • Interação verbal: os interlocutores agem uns sobre os outros, de modo a orientar a sua produção discursiva pela imagem que cons- trói antes e durante a situação comunicativa. (TRAVAGLIA, 2014) • Gramática internalizada: é o conhecimento internalizado de todo falante de uma língua, o qual permite usá-la, automaticamente, tanto para dizer, ou escrever o que queremos, como para com- preender o que lemos ou o que os outros nos dizem. (TRAVAGLIA, 2014) • Situação Comunicativa: contexto imediato que o texto se mate- rializa em gênero textual. Os fatores que a configuram são o lugar (quadro espaço-temporal), o propósito comunicativo (objetivos da interação), os participantes (interlocutores- produtor e coproduto- res/receptor) e o próprio gênero ou um conjunto de gêneros textu- ais (CAVALCANTE, 2014). 22 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa VERIFICAÇÃO DE LEITURA TEMA 01 1. Koch (2003), na discussão sobre linguagem como expressão de pensamento, afirma que o “texto é visto como um produ- to – lógico – do pensamento [...] do autor, nada mais caben- do ao leitor/ouvinte senão ‘captar’ essa representação men- tal, juntamente com as intenções (psicológicas) do produ- tor, exercendo, pois, um papel essencialmente passivo [...]” (KOCH, I. G. V. Desvendando os Segredos do Texto. São Paulo: Cortez, 2003 p. 16). Com base no texto e na compreensão sobre a concepção de linguagem como expressão do pensamento, é corre- to AFIRMAR que: a) O texto é o lugar da interação, no qual se coloca a capa- cidade coletiva de produzir significados polissêmicos, conforme a situação comunicativa. b) O texto depende da capacidade individual e única do autor/sujeito de representar o seu pensamento. c) O texto é um modelo a ser seguido, a fim de ser trans- mitido num processo de comunicação entre emissor e receptor. d) Os textos se relacionam entre si, em diferentes contex- tos, num processo de coprodução de sentidos. e) O texto é um conjunto de signos, pelos quais é possível reconhecer uma língua como código de comunicação. 2. Na concepção da linguagem como instrumento de comuni- cação a informação é transmitida em “código (codificação) e a remete para o outro através de um canal (ondas sono- ras ou luminosas). O outro recebe os sinais codificados e Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 23 os transforma de novo em mensagem (informações). É a decodificação”. (TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1996, p. 22-23). Sobre o texto e a concepção de linguagem como instru- mento de comunicação, considere as afirmações a seguir: I - O sujeito (emissor), ao codificar sua mensagem, espe- ra que seu receptor decodifique-a exatamente da maneira que foi intencionada por ele. II - A produção de sentidos diversos depende da situação comunicativa e seu contexto enunciativo. III- O sentido da mensagem é, exclusivamente, do autor do texto, pois é sua representação mental. IV – O processo de comunicação é compreendido como um modelo, em que um emissor busca transmitir uma mensagem a um receptor, usando um código (língua) em determinado contexto. Assinale a alternativa em que todas as afirmações estão corretas: a) I, II e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) I e IV. 3. Bakhtin /Voloshinov (1992 [1929]) numa situação sociocomunicativa: “O ouvinte que recebe e compreende a significação de um discurso adota para com este discurso uma atitude respon- siva ativa: ele concorda ou discorda,completa, adapta [...]. 24 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa A compreensão da fala de um enunciado é sempre acom- panhada de uma atitude responsiva ativa.” (BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997 [1952-1953], p. 271) Sobre o texto e a concepção de linguagem como intera- ção, considere as afirmações a seguir: I - os significados são imutáveis e estáveis, independente- mente, da atitude do interlocutor, ou seja, a relação entre o locutor e o interlocutor é fechada e objetiva. II - o significado do enunciado não está nem no texto/fala, nem na mente do leitor/autor, mas é constituído da in- teração entre eles, acompanhada sempre de uma atitude responsiva ativa entre os interlocutores. III - a palavra constitui justamente o produto da intera- ção entre os interlocutores, servindo de expressão para a construção de significação um em relação ao outro. IV - o significado na enunciação ganha o percurso do interior para o exterior, não considerando os fatores externos à comunicação, como o interlocutor. Assinale a alternativa em que todas as afirmações estão corretas a) I, II e III. b) III e IV. c) II e III. d) II, III e IV. e) I e IV. Referências bibliográficas ASSIS, J. A. Enunciação/enunciado. In: FRADE, I.C.A.S.; VAL, M.G.C.; BREGUNCI, M.G.C. (orgs). Glossário CEALE, 2014. Disponível em: <www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/ glossarioceale/verbetes/enunciacao-enunciado> , Acesso em: 30 mar. 2018. Didática do Ensinoe Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 25 BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997 [1952-1953]. BAKHTIN, M./VOLOCHINOV, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992 [1929]. BEZ, A. S.; AQUINO, C. Saussure e o Estruturalismo: retomando alguns pontos fundamentais da teoria saussuriana. Cadernos do IL. Porto Alegre, n.º 42, junho de 2011. p. 5-17. Disponível em <www.seer.ufrgs.br/cadernosdoil/>, Acesso em: 01 abr. 2018. BAGNO, M. Língua. In: FRADE, I.C.A.S.; VAL, M.G.C.; BREGUNCI, M.G.C. (orgs). Glossário CEALE. 2014. Disponível em: <www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/ verbetes/lingua>, Acesso em: 12 abr. 2018. BRAIT, B. PCNs, Gêneros e Ensino de Língua: Faces Discursivas da Textualidade. In: ROJO, R. (org.). A Prática de Linguagem em sala de aula: praticando os PCNs. São Paulo: Educ., 2000. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. 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Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 27 Questão 2 – Resposta: E Resolução: A concepção de linguagem como instrumento de co- municação a compreende como instrumento/canal para a transmis- são da mensagem do emissor ao receptor e a língua como código. O processo de comunicação é compreendido como um modelo a ser seguido, a fim de transmitir a mensagem pretendida pelo emissor. Questão 3 – Resposta: C Resolução: Na concepção da linguagem como interação, a signifi- cação é construída na interação com o outro, que possibilita uma ati- tude responsiva para escutar, convencer, persuadir, pedir, ordenar, concordar, discordar, negociar os diferentes sentidos. Assim, a pala- vra, como materialidade da significação, consiste no produto inaca- bado na interação entre os sujeitos. 28 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa TEMA 02 TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM Objetivos • Compreender as principais teorias sobre Aquisição de Linguagem; • Comparar as diferentes teorias e suas bases epistemológicas. • Estabelecer relação entre as teorias de aquisição de linguagem e as práticas didáticas. Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 29 Introdução A palavra “aquisição” significa, de acordo com o dicionário Michaelis on-line (2018), adquirir algo ou coisa adquirida. Em relação ao conceito de aquisi- ção de linguagem, Santos (2003, p. 216) afirma que o “fato de crianças, por volta dos três anos, serem capazes de fazer uso produtivo de suas línguas, suscita a questão de como essas línguas são aprendidas ou adquiridas”. Neste sentido, as teorias de Aquisição de Linguagem tentam responder a essa pergunta apresentada pela autora, em diferentes campos de estu- do, o que atribui a essa área de pesquisa o caráter interdisciplinar. Segundo Del Ré (2009), a Aquisição da Linguagem tem sido área de estudo em diferentes campos de estudo e pesquisa como Linguística, Linguística Aplicada, Língua Portuguesa, Línguas Estrangeiras, Educação, em especial em conjunto com os estudos de Letramento e Alfabetização, Psicolinguística, Psicologia da Educação, entre outros. Ainda, de acordo com a autora, a área de Aquisição da Linguagem também originou subáreas de estudo, como: aquisição de língua materna em seus componentes sintáticos, fonológicos e pragmáticos; problemas de linguagem (surdez e outros comprometimen- tos neuropsicológicos); aquisição de segunda língua em crianças e adultos, em situação formal (escola) ou informal (família); aquisição de escrita, letra- mento, alfabetização, relação fala/escrita, etc. Diante das discussões nas diferentes áreas e subáreas de estudo da Aquisição de Linguagem, essa aula se propõe a realizar um breve pano- rama das principais teorias, seus princípios e suas bases epistemológicas, buscando explicar os processos que possibilitam aos indivíduos adquirir, aprender ou apropriar-se da língua e da linguagem em contexto escolar. Assim, essa aula tem como objetivos específicos: compreender as prin- cipais teorias sobre Aquisição de Linguagem; compará-las e estabelecer relações entre essas teorias e práticas didáticas. 30 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 1. Teorias de aquisição de linguagem Conforme apresentado na introdução, muitos pesquisadores e profes- sores vêm questionando como os indivíduos, em especial as crianças, ad- quirem ou aprendem a sua língua materna (nas modalidades falada e escrita), uma segunda língua ou como se desenvolvem seus processos interativos e discursivos. Desta forma, muitas hipóteses foram levanta- das e embasaram as discussões de diferentes teorias de Aquisição de Linguagem. Certamente, você deve ter se deparado com perguntas do tipo: “Como as crianças aprendem ou adquirem a sua língua materna?”; “Qual é o papel dos pais e demais adultos para que a criança adquira a língua falada e desenvolva a sua linguagem?”; “As capacidade de aquisição de uma língua e de desenvolvimento da linguagem são inatas ou fruto das experiências humanas? Ou ambas?”; “Como essas teorias se materializam nas práticas em sala de aula?” Para responder a essas perguntas, você poderáconferir as discussões de três paradigmas epistemológicos e suas hipóteses em relação às te- orias de aquisição de linguagem: o Empirismo e a hipótese behaviorista; o Racionalismo e as hipóteses gerativista e cognitivista; o Interacionismo e as hipóteses interacionistas de Vygotsky e Bakhtin/Voloshinov. Veja a figura a seguir: Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 31 Figura 3.1.- Teorias de Aquisição da Linguagem EMPIRISMO O conhecimento e a linguagem se adquire pelas experiencias sensoriais RACIONALISMO No sujeito, há ideias universais verdadeiras que são inatas, pois nasceram com o ser humano INTERACIONISMO Busca no empirismo e no racionalismo suas raízes epistemológicas e amplia, ao considerar que a produção de conhecimento ocorre em relações mediadas e constituídas pela linguagem. Behaviorismo O conhecimento, a linguagem e o comportamento se adquire por meio de estímulo-resposta- reforço. Gerativismo Todo ser humano nasce com um gramática universal (GU), que tem principios inváriáveis (geral para todas as línguas) e parâmetros variáveis (específicos). Cognitivismo ou interacionismo lógico A linguagem é parte da cognição, assim o mecanismo responsável pelo aprendizado da língua é também responsável por outras formas de aprendizagem. Interacionismo social/ SOCIOINTERACIONISMO A linguagem é instrumento e produto da interação social,que ocorre não pelo ato psi- cológico individual, mas coletivo . Fonte: Criada pela autora (2018) 32 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa Você poderá compreender cada uma delas nos próximos tópicos. 1.1 Empirismo Você já deve ter presenciado situações, como professor ou aluno, nas quais professores afirmaram “transmitir conhecimento, por meio de estí- mulos e proporção de experiências”, ou ainda, “o professor não conseguiu transmitir conhecimento para mim”. Essas frases, embora genéricas, são os ecos de paradigma filosófico-científico denominado Empirismo, cujos fundamentos permeiam as diferentes concepções teórico-metodológicas, sejam nas ciências em geral, sejam como parte do ideário, historicamente construído e cristalizado, e das práticas humanas. De acordo com Kaodoinski (2015), o empirismo firmou-se, como paradig- ma quando Locke criticou as ideias de Descartes, filósofo inatista, reto- mando e reformulando a noção de experiência sensorial proposta por Aristóteles. Segundo Aranha (2006, p. 161), Locke afirmou que a experiên- cia sensível dá origem ao conhecimento, já que o homem é “tábula rasa”, que precisa ser preenchida. (ARANHA, 2006, p. 161) Com base nessas ideias, qualquer conhecimento, seja a aquisição da lin- guagem ou de outros saberes, é o resultado da experiência, explorada pelos órgãos do sentido, também reconhecida por meio de testes, confir- mações, verificações (POZO, 2002). Assim, no que se refere à aquisição do conhecimento, o empirismo preconiza que aprender significa reproduzir informações, num processo que ocorre por meio de associações. De acor- do com Santos (2003, p. 216), nas diferentes abordagens que se origina- ram do empirismo: Não se nega a existência da mente, nem que os seres humanos têm conhecimentos e ideias. A questão é como essas ideias foram adquiridas ou aprendidas. Para as teorias empiristas, o que é inato é a capacidade de formar associações, entre estímulos, ou entre estímulos e respostas, com base na similaridade e contiguidade. A estrutura não está no individuo, Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 33 nem é construída por ele, mas está no exterior fora do organismo. (SANTOS, 2003, p. 216) Dessa forma, o Empirismo foi a base epistemológica de B. F. Skinner, para explicar os fenômenos da comunicação linguística em termos de estímu- los observáveis e respostas produzidas pelos falantes em situações espe- cíficas (SANTOS, 2003). 1.2 Behaviorismo Em sua experiência em sala de aula, você já presenciou ou usou a ideia de oferecer uma recompensa, como estímulo, para suscitar a aprendizagem de determinado conhecimento? Você já ouviu falar sobre behaviorismo como abordagem metodológica? Será que essa abordagem é a melhor maneira para que as crianças e demais aprendizes adquiram ou apren- dam a língua materna ou estrangeira? O termo behaviorismo vem da palavra inglesa behaviore; assim foi nome- ada essa abordagem pela publicação do livro Verbal Behavior(1957) de B. F. Comportamento Verbal, na tradução em português. Segundo Santos (2003), na visão de Skinner (1957), a aquisição de linguagem era análoga a qualquer outro aprendizado, por isso previa comportamentos linguísticos e não linguísticos, por meio de estímulos, reforços e privações. Nesse sentido, Skinner preconiza que o controle do comportamento do sujeito pode ser observado por meio de suas respostas, entendendo a ideia de reforço importante, para que se torne menos provável uma nova ocorrência de certo ato (KAODOINSKI, 2015). De acordo com Santos (2003, p. 217)nessa abordagem: Um estímulo externo provoca uma resposta do organismo. Se essa res- posta for reforçada positivamente, a tendência é que o comportamento se mantenha. Se a resposta for reforçada negativamente, o comportamento é eliminado. Se não há reforço (positivo ou negativo), o comportamento também tende a desaparecer. 34 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa Quando se trata de ensino da Língua Materna, de acordo com Cezário e Martelotta (2008), a resposta física é substituída por uma resposta linguís- tica e o estímulo pode ser linguístico ou não. De acordo com Bronckart (2006), essa abordagem voltada à educação tem relação com o modelo aristotélico de produzir conhecimento, pois a aprendizagem ocorre pela memorização de regras e pela realização de exercícios, iniciando com ati- vidades simples até atingir níveis mais complexos, ocorrendo, assim, de forma “unidirecional”. Também, defende existir um “saber universal va- lidado”, acreditando que o aprendiz é como uma tábula rasa, não pos- suindo conhecimentos prévios sem experiências sensoriais. Após adquirir capacidades comportamentais, ele desenvolve outras novas por condicio- namento. (BRONCKART, 2006) No que tange ao ensino de Língua materna, essa teoria de aquisição de lin- guagem, com o entendimento apresentado por Bronckart (2006), embasa as práticas didáticas vigentes em muitas escolas brasileiras, que são os “mé- todos sintéticos”(alfabético, fônico e silábico) e analíticos (setenciação, pala- vração e global) de alfabetização, ou de aquisição de língua escrita. Nesse entendimento, métodos alfabéticos caracterizam-se pela aplicação de uma sequência fixa, baseada nos estímulos auditivos e visuais, usando a memo- rização como único recurso didático utilizado (ALMEIDA, 2008), também vin- culados à hipótese de aquisição de linguagem chamada de Associacionismo. ASSIMILE O associacionismo é uma teoria criada pelo psicólogo Edward Thorndike (1874 - 1949) e associada ao behaviorismo. Seus pressupostos são de que ideias simples podem ser vinculadas para formar ideias comple- xas. Dessa forma, propõe duas leis da associação: a semelhança e a contiguidade no tempo e no espaço. Quanto mais semelhantes e con- tíguas duas ideias, tanto mais prontamente elas se associam. As ideias complexas são construídas mecanicamente, por meio de um amálga- ma de ideias simples. Essa teoria tem sido associada aos métodos sin- téticos e analíticos de alfabetização. (GOMES; MONTEIRO, 2005) Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 35 Nessa mesma direção, você pode refletir sobre as perguntas iniciais da aula e da seção. Na hipótese behaviorista, a aquisição da linguagem oral e escrita ocorre a partir de uma cadeia de estímulo-resposta- reforço, ofe- recido pelo ambiente e pelos adultos à criança ou aprendiz. Esses estí- mulos podem ser reforços positivos – como notasboas, estrelas e apro- vação– ou negativos – como notas baixas, castigo, reprovação–, a fim de que a criança forneça as repostas, tanto pela compreensão como pela produção linguística como resultado. 2. Racionalismo ou inatismo Você já observou que muitas pessoas, ao descreverem outras, afirmam que já nasceram com aquelas características cognitivas ou herdaram, ge- neticamente, de algum familiar que, muitas vezes, não tiveram contato. A base teórico-epistemológica dessa orientação filosófica é o Racionalismo ou Inatismo, pela qual se privilegia o sujeito, deixando o objeto em se- gundo plano em relação à aquisição do conhecimento e, consequente- mente, da linguagem. (ARANHA, 2006) O pensamento filosófico que defende a existência de ideias inatas foi pre- conizado, inicialmente, nas discussões de Platão em sua obra A República. De acordo com Pozo (2002), Platão defende o inatismo, por meio da ale- goria da caverna, quando afirma que o ser humano está acorrentado aos seus sentidos, o que faz com que não consiga ver os objetos de forma di- reta, ou seja, as ideias inatas que originam o conhecimento, sendo visíveis somente projeções desses mesmos objetos em formas de sombras. Assim, “o conhecimento é sempre a sombra, o reflexo de algumas ideias inatas, que constituem nossa racionalidade humana”. (POZO, 2002, p. 42) Muito estudiosos afirmam, no entanto, que René Descartes deu origem à orientação filosófica chamada de inatista, em seus estudos sobre a teoria 36 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa do conhecimento e sua frase célebre “Penso, logo existo”. De acordo com Aranha (2006), Descartes postulou que, no sujeito, há ideias universais ver- dadeiras que são inatas, pois nasceram com o ser humano e não se origina- ram da sua experiência. Ainda pela leitura de Aranha (2006), Descartes con- sidera que a “realidade se encontra em primeiro lugar no espírito, na razão, no sujeito e se apresenta em forma de ideias.” (ARANHA, 2006, p, 161) Atualmente, os estudiosos sobre a Aquisição de Linguagem entendem que, juntamente com as experiências, as crianças/aprendizes fazem uso de alguma forma de capacidade inata, no entanto, a divergência é qual é a natureza dessas capacidades (SANTOS 2003). Ainda de acordo com Santos (2003), há duas abordagens inatistas distintas e outra que compila essas duas: hipótese gerativista, cujo entendimento é que a aquisição de linguagem é independente da cognição e de outras formas de aprendiza- do, preconizada por Chomsky; hipótese cognitivista, cujo entendimento é que “a linguagem é parte da cognição e que o mecanismo responsável pelo aprendizado da língua é também responsável por outras formas de aprendizagem” (SANTOS, 2003, p. 220), desenvolvida por Piaget. Como você pode perceber na figura abaixo: Figura 3.2 – Hipóteses racionalistas/inatistas de aquisição de linguagem RACIONALISMO Inatismo GERATIVISMO Linguagem é um processo inato independente da cogniçao COGNITIVISMO A linguagem é parte da cognição Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 37 2.1 Gerativismo Você, possivelmente, ao observar uma criança pequena falando ou fazen- do uma coisa nova, se perguntou: como ela sabe disso? Os pesquisadores gerativistas tinham essa mesma pergunta e apresentaram a seguinte res- posta para ela: o ser humano é dotado, geneticamente, da capacidade de linguagem, ou seja, é uma capacidade inata. De acordo com Chomsky (1965), uma teoria adequada sobre a aquisição da linguagem deve ser capaz de dizer quais sentenças pertencem à língua e quais não pertencem, devem fornecer uma descrição estrutural para as sentenças e devem ser um modelo de como as crianças aprendem a língua. Nesse sentido, a proposta de Chomsky é a de que o ser humano é dotado de uma gramática universal inata,ou seja, “a criança tem um dispositivo de aquisição de linguagem (DAL) que é ativado (put) e gera como resultado a gramática da língua à qual a criança está exposta”. (SANTOS, 2003, p. 220) Segundo Chomsky (1965), o dispositivo é constituído por regras de todas as línguas, porém as crianças, ao tomarem contato com as sentenças, as sele- cionam em virtude da capacidade que possuem de identificar quais delas funcionam naquela língua que estão adquirindo. De acordo com Santos (2003, p. 221): Essa proposta de aquisição está de acordo com as teorias tanto sintáticas como fonológicas da época, segundo as quais as línguas comportam uma PARA SABER MAIS René de Descartes e John Locke foram dois dos mais importantes filósofos do Iluminismo europeu. O Iluminismo tem origem com o Discurso do Método de Descartes (1637) e continuou com Locke, Newton,Hume, Voltaire e Kant, entre outros, estendendo-se ao mun- do após a Revolução Francesa. Os filósofos iluministas propunham ra- dicais mudanças nos campos da política, da sociedade, da economia, da ciência e da religião. (BRITO, 2011) 38 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa estrutura profunda que se transforma, por meio de regras, numa estrutu- ra superficial. Em 1981, Chomsky reformula a discussão sobre a gramática universal (GU) e cria a Teoria de Princípios e Parâmetros. Nessa concepção, a gramática universal é formada por princípios invariantes, que funcionam em todas as línguas, e parâmetros, cujos valores variam de uma língua para outra, sendo o trabalho da criança escolher, a partir das sentenças, o valor que um determinado parâmetro deve tomar (SANTOS 2003). Por exemplo, há como princípio que em toda língua há um sujeito na sentença, mas em português há o sujeito desinencial ou omitido, então esse parâmetro pre- cisa ser marcado; ao passo que em inglês o parâmetro a ser marcado é o de que o sujeito nunca pode ser omitido. Há, no entanto, uma série de questionamentos sobre esses princípios e parâmetros, como apresenta- do por Santos (2003, p. 221). Quantos são os parâmetros? No estado inicial da GU, um dado parâmetro já tem uma marcação específica ou não tem marcação nenhuma?[...] A crian- ça só faz uso de sentenças ouvidas (evidência positiva) ou também leva em conta o fato de nunca ter ouvido uma sentença? (evidência negativa) [...] De acordo com Dresher (1992) apud Santos (2003), a teoria de aquisição de linguagem deve tratar tanto sobre o conhecimento a ser adquirido, quanto sobre como pode ocorrer essa aquisição, por isso essas questões se fazem pertinentes e levantam lacunas dessa hipótese. 2.2 Cognitivismo Provavelmente, você deve ter ouvido, em diferentes contextos, frases como: “Essa criança ainda está na fase de fazer de isso!”; “Esse compor- tamento é normal nessa fase”; “Já tem essa idade e ainda não sabe falar direito!”. Essas frases demonstram que há uma ideia geral e comum entre as pessoas de que há fases universais de maturação biopsicológicas. Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 39 Essa ideia é usada como base do cognitivismo ou interacionismo lógico, preconizada por Piaget (1978), que concebe o desenvolvimento cognitivo construído a partir do biológico, ou seja, os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico. Nesse sentido, os aspectos linguísticos univer- sais são reflexos das estruturas cognitivas universais; assim como o con- hecimento linguístico de uma criança, num determinado período, reflete as estruturas cognitivas que foram construídas antes e que determinam o conhecimento (SANTOS, 2003). Em consequência, a capacidade cognitiva pode construir, mentalmente, as estruturas capazes de serem aplicadas ao ambiente. De acordo com Santos (2003), o interesse de Piaget não é pela aquisição da linguagem em si, mas como a linguagem se configura como porta para a cognição e a construção do conhecimento. De acordo com Dias (2010), para Piaget a construção das capacidades cog- nitivas ocorre por períodos ou estágios, nos quais a criança desenvolve um conjunto de esquemas cognitivos que possibilita compreender o mundoe atuar sobre ele. Nesse sentido, esses estágios de desenvolvimento cog- nitivo são universais, sendo gerais e invariáveis, e em cada um a criança desenvolve capacidades necessárias para o estágio seguinte, provocando mudanças qualitativas. Trata-se de um processo descontínuo, visto que as fases são completamente diferentes umas das outras. Em suas pesqui- sas, Piaget (1978) propõe que o desenvolvimento cognitivo passa por qua- tro estágios de evolução mental: sensório-motor (zero a dezoito meses), pré-operatório (dois a sete anos), operações concretas (7 a 12 anos) e operações formais de 12 anos em diante. Veja a figura a seguir: Figura 3.3 – Estágios de desenvolvimento cognitivo sensório-mo- tor (zero aos 18 meses) pré-operatório pré-operatório (dois a sete anos) operações concretas ( 7 a 12 anos) operações formais (12 anos em diante) Fonte: Criado pela autora com base em Piaget (1978) 40 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa Para a discussão de aquisição de linguagem, é essencial apresentar os está- gios sensório-motor e pré-operatório. No estágio sensório-motor, a criança desenvolve um conjunto de esquemas de ação sobre o objeto que podem proporcionar a construção de conhecimento físico da realidade (DIAS, 2010), tendo como característica a ausência de representação semiótica. Assim, esse período é caracterizado por desenvolvimento qualitativo descontínuo, com exercícios reflexos, com a coordenação entre visão e apreensão, com a busca de objetos desaparecidos, e, por fim, com a capacidade de imitação. Esse desenvolvimento qualitativo resulta na construção de representações mentais cada vez mais complexas ao final deste período. No início do está- gio pré-operatório, encontra-se a função simbólica, pois ocorre a imitação diferida, afastada do momento e contexto da ação, o jogo simbólico, o dese- nho e as imagens mentais (PIAGET, 1978). Um dos aspectos linguísticos mais relevantes é o discurso egocêntrico, pois se caracteriza pela fala da criança com ela mesma, que ocorre até a idade pré-escolar e diminui, em torno dos sete anos, dando espaço para o discurso socializado. (PIAGET, 1978) Nessa hipótese de aquisição de linguagem, há questionamento sobre o caráter universal, invariável e cumulativo dos estágios, pois muitos estu- dos têm apresentado variações nos processos de aquisição de linguagem ou que crianças não passam por determinados estágios. (SANTOS, 2003) PARA SABER MAIS Piaget não pesquisou sobre a aquisição da leitura e da escrita. Para pre- encher essa lacuna, Ferreiro e Teberosky publicaram A Psicogênese da Língua Escrita (1985), em que descrevem hipóteses de escrita e leitura em crianças de 4 a 6 anos, com base nos estágios de desenvol- vimento cognitivo. Também, utilizaram-se das discussões de Chomsky sobre a gramática universal inata, quando trata do fato da criança, ao buscar compreender a linguagem falada ao seu redor, constrói e testa hipóteses, identifica regularidades e cria uma gramática pró- pria da qual se vale de princípios invariantes e parâmetros próprios. (ANDRADE; ANDRADE; PRADO, 2017) Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 41 2.3 Interacionismo Como você pode compreender nos estudos realizados até aqui, o Empirismo compreende a aquisição do conhecimento humano, inclusive a lingua- gem, como resultado das experiências sensoriais. Em contrapartida, o Racionalismo ou Inatismo, enfoca as capacidades inatas do sujeito como base para a produção de conhecimento humano e que a linguagem é parte da cognição. As teorias que se orientam pelo Interacionismo buscam nas fontes do empirismo e do racionalismo suas raízes epistemológicas, ou seja, compi- lam a experiência sensorial e as capacidades cognitivas dos sujeitos, para a produção de conhecimento em relações mediadas e constituídas pela linguagem. (VYGOTSKY, 1930;BRONCKART, 2006) O interacionismo se inscreve na epistemologia monista de Espinosa e na práxis concebida por Marx e Engels, ressignificadas por Vygotsky (1930) e por Bakhtin Voloshinov (1992 [1929]). A perspectiva monista espinosana considera que o universo é uma substância única e que o físico (experi- ências, objetos e corpos inscritos) e o psíquico (capacidades inatas) são duas das múltiplas propriedades dessa substância, reguladas pelo sujei- to. (BRONCKART, 2006) Na perspectiva da práxis marxista,o conhecimento se realiza nas ativi- dades humanas, porém essa se concretiza com um sujeito cognoscente, ou seja, que tenha capacidades cognitivas para a reflexão sobre as suas experiências e ações (HAGUETE, 2013). Assim, você poderá acompanhar a discussão sobre aquisição de linguagem nas perspectivas de Vygotsky e Bakhtin/ Voloshinov. 3. Interacionismo em Vygotsky e Bakhtin/ Voloshinov Na perspectiva interacionista compreendida por Vygotsky (1934), as fun- ções psicológicas têm suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral, assim como o funcionamento psicológico fundamenta-se nas re- lações sociais entre o indivíduo e o mundo exterior. Dessa forma, o pen- samento se desenvolve em seus aspectos biológicos e históricos, numa 42 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa relação mediada por instrumentos simbólicos, dos quais um deles é a linguagem, caracterizada como produto e resultado desse proces- so. (OLIVEIRA, 1993, P. 23) Para Vygotsky (1930, 2008), o pensamento sofre diversas alterações ao se transformar em fala e, diferentemente do que dizem os cognitivistas, o discurso, como produto e resultado do pensamento, é construído de fora para dentro e de dentro para fora, em movimento contínuo, pois sua natureza é determinada pelo processo sócio-histórico. Como base para essa discussão, Vygotsky (1934) cita discurso egocêntrico como a fala de si para si, na qual o locutor externaliza o pensamento, por meio da vocalização, como um monólogo coletivo, sendo mais comum em crianças em idade pré-escolar. Esse discurso egocêntrico é realizado como um monólogo coletivo e vai se transformando em discurso interno, quando este vai se individualizando e se organiza como “pensamento em palavras”, sendo um fenômeno de transição entre o funcionamento inter e intrapsíquico, da atividade social para a individual (VYGOTSKY, 1934). A fala egocêntrica, ainda de acordo com o pesquisador, evolui para um dis- curso interno e passa a organizar de forma individualizada o “pensamen- to em palavras”, sem vocalização, no isolamento do discurso de si para si, mas construído pela palavra do outro. Para Bakhtin/Voloshinov (1992 [1929]), no campo dos estudos enunciati- vos, a linguagem é instrumento e produto da interação social, que ocorre não pelo ato psicológico individual, mas coletivo; nem como um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, mas como ato, como fenômeno social realizado por meio da enunciação ou das enunciações dialógicas e plurissignificativas. Nesse sentido, sobre a visão de Bakhtin/Voloshinov, Souza (2002) afirma: A visão bakhtiniana da linguagem como fenômeno social tem uma relação direta com a construção do sujeito; para Bakhtin, o sujeito se constitui ouvindo e assimilando as palavras e os discursos do outro (sua mãe, seu Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 43 pai, seus colegas, sua comunidade, etc.), fazendo com que essas palavras e discursos sejam processados de forma que se tornem as palavras do sujeito e, em parte, as palavras do outro. Todo discurso, segundo Bakhtin, se constitui na fronteira entre aquilo que é seu e aquilo que é do outro. (SOUZA, 2002, p. 21) O processo pelo qual a criança assimila sua língua materna é o de integra- ção progressiva dela com a comunicação verbal, pois à medida que essa se realiza, sua consciência é formada e produz seu conteúdo (BAKHTIN/ VOLOSHINOV, 1992 [1929]). Desse modo, a criança se constitui como su- jeito, por meio de discursos quese materializam em enunciados relativa- mente estáveis, ou seja, pelos gêneros discursivos (Bakhtin, 1997 [1952- 1953]), ao mesmo tempo em que se apropria deles e os reconstrói ao produzir a linguagem. 4. Considerações finais • As teorias que estudam a Aquisição de Linguagem buscam compre- ender o fato de crianças, por volta de três anos, serem capazes de EXEMPLIFICANDO O trabalho com aquisição de linguagem, baseado nos gêneros discur- sivos, pode ser realizado em todas as etapas de escolarização. Na edu- cação infantil, o professor em interação com bebês de até um ano e meio pode propor atividades em que possam usar movimentos, ges- tos, balbucios, fala e outras formas de linguagem. Na interação com crianças de 2 a 4 anos, o professor pode propor rodas de contação de histórias, para que as crianças possam produzir relatos e narra- tivas orais, realizar intercâmbio de ideias, em situações com função social significativa, ou seja, mais próximo de contextos fora da escola. (BRASIL, 2017). 44 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa fazer uso produtivo de suas línguas. Essas teorias fazem partes de três bases epistemológicas: Empirismo, Racionalismo e Interativismo. • Empirismo é a retomada e reformulação do filósofo iluminista Locke sobre a noção de experiência sensorial proposta por Aristóteles, como base para a produção de conhecimento, sendo o sujeito uma “´tabula rasa”. A principal hipótese de aquisição de linguagem, cujas bases estão no Empirismo, é o behaviorismo, que concebe a apren- dizagem como um esquema de estímulo-resposta-reforço. • Racionalismo é a corrente de pensamento filosófico que defende a existência de ideias inatas, que foi preconizado, inicialmente, nas dis- cussões de Platão e reformulada pelo filósofo iluminista Descartes. Dessa base epistemológica, as duas principais hipóteses de aquisição de linguagem são o gerativismo de Chomsky e o cognitivismo de Piaget. • O gerativismo defende a ideia de que o ser humano é dotado de uma gramática universal inata, com princípios universais, existentes em todas as línguas, e parâmetros variáveis e específicos. O cogniti- vismo de Piaget concebe o desenvolvimento cognitivo construído a partir do biológico e sua adaptação ao meio físico. A construção das capacidades cognitivas ocorre por períodos ou estágios, nos quais a criança desenvolve um conjunto de esquemas cognitivos que possi- bilita a ela compreender o mundo e atuar sobre ele, • As teorias que se orientam pelo Interacionismo buscam nas fontes do empirismo e do racionalismo suas bases epistemológicas, ou seja, compilam a experiência sensorial e as capacidades cognitivas dos sujeitos, para a produção de conhecimento em relações mediadas Com base nas discussões das diferentes teorias de linguagem, qual (is) delas se aproxima (m) mais das suas práticas em sala de aula? Em quais situações efetivas essa (s) teoria (s) se revela (m)? QUESTÃO PARA REFLEXÃO Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 45 e constituídas pela linguagem. As suas bases epistemologias estão no monismo de Espinosa e na práxis de Marx, ressignificadas por Vygotsky e Bakhtin/Voloshinov. Glossário • Epistemologia: “Conjunto de conhecimentos sobre a origem, a na- tureza, as etapas e os limites do conhecimento humano; teoria do conhecimento”. (MICHAELIS, 2018) • Monismo: “Doutrina ou teoria segundo a qual há unidade das forças da natureza e a realidade se reduz a um princípio único”. (AURÉLIO, 2017) • Paradigma: “Segundo o filósofo americano Thomas Kuhn (1922- 1996), qualquer campo de investigação e de experiência que está na origem da evolução científica”. (MICHAELIS, 2018) • Práxis: uma ação informada e comprometida que leva em consi- deração tanto o pensamento quanto a ação. (LIBERALI, 1999) VERIFICAÇÃO DE LEITURA TEMA 02 1. Na hipótese behaviorista, a aquisição da linguagem oral e escrita se dá pela experiência sensorial, a partir de uma cadeia de estímulo-resposta-reforço, oferecido pelo 46 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa ambiente e pelos adultos à criança ou aprendiz. (SANTOS 2013) Assim é possível afirmar que: a) Esses estímulos podem ser reforços positivos, como notas altas, ou negativas, como notas baixas, a fim de que a criança forneça a resposta como transmitida pelo professor. b) Esses estímulos vão acionar as capacidades cognitivas, a fim de que a criança possa desenvolver e produzir linguagem. c) Esses estímulos têm dupla função, que são interagir pela linguagem e depois criar instrumentos linguísticos para a produção de conhecimento. d) Esses estímulos correspondem à interação do indiví- duo com o meio, em ações mediadas pela linguagem. e) Esses estímulos são sempre positivos, pois mesmo com baixas notas a criança se conscientizará que preci- sa aprender. 2. Segundo Aranha (2006), Descartes postulou que no su- jeito há ideias universais verdadeiras que são inatas, pois nasceram com o ser humano e não se originaram da sua experiência. Essa orientação filosófica é chamada de Racionalismo ou inatismo. Nos estudos de aquisição de linguagem, há duas hipóteses distintas, mas que emba- sam as práticas de ensino na educação básica. Essas duas concepções inatistas são; a) behaviorismo e interacionismo social. b) behaviorismo e cognitivismo. c) gerativismo e cognitivismo. d) gerativismo e behaviorismo. e) interacionismo social e racionalismo. Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa 47 3. As teorias que se orientam pelo Interacionismo compilam a experiência sensorial e as capacidades cognitivas dos sujeitos, para a produção de conhecimento em relações mediadas e constituídas pela linguagem (VYGOTSKY, 1930; BRONCKART, 2006). Assim pode-se compreender que o Interativismo: I – Considera, pelos estudos de Vygotsky, que a aquisição da linguagem fundamenta-se tanto nas funções psicológicas quanto nas sociais na relação entre os indivíduos e o mundo exterior e são desenvolvidas no processo histórico. II - Considera a linguagem como instrumento e produto da interação social, que ocorre não pelo ato psicológico indivi- dual, mas coletivo, porque a palavra do sujeito é sempre a palavra ressignificada do outro. III – Considera capacidades cognitivas universais que se de- senvolvem em estágios gerais e invariáveis, nos quais a crian- ça desenvolve um conjunto de esquemas cognitivos. Assinale a alternativa que todas as afirmações relacionam-se ao interativismo: a) Apenas a I. b) Apenas a II. c) I e III. d) II e III. e) I e II. Referências bibliográficas ALMEIDA, M.A.P.Métodos alfabetizadores: reflexões acerca da prática pedagógica de uma professora de 1ª série do ensino fundamental. Anais do II Congresso Nacional de Educação - Educere. Curitiba: PUC-PR 2008. Disponível em: <www.pucpr.br/even- tos/educere/educere2008/anais/pdf/344_948.pdf>. Acesso em: 06 mar. 2018. 48 Didática do Ensino e Avaliação da Aprendizagem em Língua Portuguesa ANDRADE, P.E; ANDRADE, O.V.C.A; PRADO, P.S.T. Psicogênese da Língua Escrita: uma análise necessária. Cadernos de Pesquisa v.47 n.166 p.1416-1439 out./dez. 2017. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/cp/v47n166/1980-5314-cp-47-166-1416.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2018. ARANHA, M. L. A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 2006. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997 [1952-1953]. BAKHTIN, M./VOLOCHINOV, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992 [1929]. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasilia: MEC- Secretaria de Educação Básica, 2017. BRITO, Q.R.M. Descartes e Locke: possibilidades, limites e alcance do conhecimen- to humano. Revista Pandora Brasil, nº 34, Set. 201, p. 198-211. BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, discurso e desenvolvimento humano. Campinas: Mercado de Letras, 2006. CHOMSKY, N. Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge: MIT Press, 1965. ___________. Lectures on
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