Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Teoria geral da administração Augusto Nishimura E-book 2 Objetivos de aprendizagem • Compreender as ideias de Max Weber sobre burocracia; • Conhecer as visões dos pesquisadores que de- ram ênfase às pessoas, quais sejam: � Mayo e a Teoria das Relações Humanas; � Maslow e a Hierarquia das Necessidades; � Herzberg e a Teoria dos dois fatores; Mc- Gregor e as Teorias X e Y. Teoria geral da administração E-book 2 2 Neste E-book: Introdução ���������������������������������������������������4 Afinal, a Burocracia é boa ou ruim? ���� 5 O lado bom da Burocracia ���������������������� 6 As pessoas importam! ���������������������������� 14 O avanço dos estudos com ênfase nas pessoas: A Teoria Comportamental ��������������������������������������20 Podemos motivar alguém? ������������������ 22 E a Motivação no Ambiente de Trabalho? ���������������������������������������������� 25 Quais são as visões dos gestores sobre os seres humanos?����������������������28 Quais são as críticas às Teorias Comportamentais? ���������������������������������29 Considerações finais�������������������������������30 Síntese ����������������������������������������������������������31 3 INTRODUÇÃO Olá! Até aqui, você conheceu os princípios adotados por Taylor, Ford e Fayol, que buscaram melhorar a eficiência das organizações e alcançaram grandes resultados em sua época. Além disso, suas ideias fo- ram tão significativas que se espalharam pelo mundo e influenciaram as organizações até os dias atuais. Você reparou que cada um desses pensadores partiu de perspectivas e contextos diferentes, idealizando soluções para alcançar o mesmo objetivo, que era o aumento da eficiência das indústrias? O conheci- mento é incremental e as ideias se intercruzam, se rearranjam e avançam, tornando complexa e bela a construção desse conhecimento. Note que, ao compreendermos os conceitos, esta- mos potencializando também a nossa capacidade de fazer a leitura dos fenômenos que ocorrem nas organizações! Você consegue perceber como essas ideias desenvolvidas estão sendo aplicadas nas or- ganizações da atualidade? Agora, convido você para irmos além, e conhecer outras visões que foram surgindo ao longo do tempo. Vamos juntos! 4 AFINAL, A BUROCRACIA É BOA OU RUIM? Você já ouviu, alguma vez, que burocracia é sinôni- mo de ineficiência? Essa conotação negativa estaria associada à proliferação de normas, regulamentos e procedimentos que criariam obstáculos e tornariam as atividades mais difíceis e levariam mais tempo para serem concluídas (quando são concluídas!). O excesso dessa burocracia é que tornariam ineficien- tes as repartições públicas e também as atividades empresariais. Pois bem, do ponto de vista informal e popular, esse é o entendimento sobre a burocracia. Mas, você sabia que esse termo foi estabelecido por um importante pensador e que seu significado era justamente o oposto? Que tal analisar as suas ideias e como a Teoria da Burocracia contribuiu para a construção do conhecimento em Administração? 5 O LADO BOM DA BUROCRACIA Max Weber (1864-1920) foi o idealizador da Teoria da Burocracia. Ele entendia que uma organização moderna e formalmente estruturada deveria estar baseada em leis. Por que as leis seriam tão impor- tantes? Pois, por meio delas, o foco estaria no inte- resse coletivo da organização, não havendo espaço para imposição de interesses individuais sobre os objetivos coletivos. As pessoas, portanto, seriam regidas a partir de regras e elas aceitariam serem conduzidas por uma figura de autoridade. “Qualquer sociedade, organização ou grupo que se baseie em leis racionais é uma burocracia, de acordo com Weber. Assim, a palavra burocracia não tem nenhuma conotação negativa, na concepção de Weber. A burocracia é uma base para organizar as coletividades”. Fonte: Maximiano (2018) Saiba mais Conheça a biografia de Max Weber. 6 A Burocracia seria, na visão de Max Weber, a base que sustenta a organização da sociedade e está fun- damentada em três pilares: formalidade, profissio- nalismo e impessoalidade. Figura 1: Maximiano (2018). As organizações burocráticas são, portanto, basea- das em normas, operadas por funcionários e geren- 7 ciadas com base em méritos, e possuem estruturas formadas por cargos. Com base nessa explicação, você consegue estabelecer relações com as orga- nizações da atualidade? Pois bem, para ajudá-lo(a) nessa reflexão, analise as imagens a seguir: Figura 2: Normas ISO 9000. Figura 3: Meritocracia. www.endeavor.org (2018). 8 Figura 4: Dutra (2017). Exemplo de estrutura de carreiras, cargos e trajetória nas organizações. Conforme analisamos nas figuras, as normas, a ideia de meritocracia, a estrutura de cargos, dentre ou- tros aspectos, são objetos de debate e estudo, na atualidade. Então, você consegue perceber que a ideia de burocracia defendida por Max Weber ainda está presente nas organizações contemporâneas? Portanto, aqui vemos o “lado bom” da Burocracia! Agora, que tal aprofundarmos um pouco mais a nos- sa discussão? A Teoria da Burocracia emergiu na década de 1940. Defendia-se, naquela época, que os processos admi- nistrativos deveriam ser pautados na racionalidade para que a organização pudesse alcançar maiores ní- veis de eficiência. Quais eram as características das organizações formais? Os planejamentos deveriam 9 ser detalhados; a estrutura hierárquica, bem definida; as normas, seguidas; a autoridade formal, respeitada; a divisão do trabalho, estabelecida; a seleção formal dos trabalhadores, realizada; e a impessoalidade na condução das questões, valorizada. Mas, por que essa teoria foi desenvolvida? As organizações, até então, eram vistas de maneira mais restrita. Enfatizava-se a eficiência no nível das tarefas executadas pelos operários (ideias de Taylor) e na produtividade da produção em massa (ideias de Ford). Surgiu, portanto, a necessidade de se analisar as organizações de uma maneira mais ampla, que as considerassem em sua totalidade. Além disso, essas organizações estavam tornando-se mais complexas, assumindo novas estruturas, elevando a capacidade produtiva e integrando maior número de trabalha- dores. As ideias de Taylor e Ford, que focavam a produção industrial, mostravam as suas limitações, e não conseguiam dar conta de outros problemas que foram emergindo ao longo do tempo. Reflita As teorias não são perfeitas! O que são lacunas do conhecimento? Agora, vamos detalhar alguns aspectos que eviden- ciam ainda mais as organizações burocráticas da atualidade. 10 As normas são essenciais para as organizações burocráticas. Conforme as organizações crescem e se tornam cada vez mais complexas, as listas de procedimentos se estendem e se aprofundam em níveis de detalhe. Isso vale também para a comuni- cação interna, que passa a ser realizada conforme procedimentos formais e documentados. Quanto à divisão do trabalho, os funcionários co- nhecem claramente quem são os comandantes, os limites, autoridades de cada um, estabelecendo as atribuições de cada funcionário. Os cargos são os elementos que definem as estruturas dentro das or- ganizações, e não as pessoas que os ocupam. Em outras palavras, a autoridade está relacionada ao cargo, é impessoal e tem mais importância que as próprias pessoas que ocupam. Isso dá a noção tam- bém de previsibilidade nas atividades a serem exer- cidas pelas pessoas. Os regulamentos estabelecem os limites de atuação de cada cargo, evitando sobre- posições que impedem que os funcionários exerçam atividades que não fazem parte de seu escopo. Além disso, os controles são exercidos pelos profis- sionais que ocupam cargos superiores, facilitando a hierarquização dos cargos, estabelecendo autori- dade entre os cargos, com normas bem definidas; a seleção de profissionais leva em consideração os critérios objetivos e técnicos dos profissionais e re- lacionados às eficiências, e as regras de desenvolvi-mento profissional são universais e incluem processo de avaliação dos funcionários. 11 Diante do que vimos até aqui, podemos sintetizar como vantagens da Burocracia: • As decisões podem ser tomadas de maneira ágil, em função das regras preestabelecidas. • Há um ganho de eficiência com a padronização dos processos, pois há diminuição de perdas, as rotinas formais possibilitam ganhos em função da especia- lização e geram maior segurança e estabilidade nas atividades, possibilitando realização de previsões. • Maior clareza nas comunicações, com o estabele- cimento de relações formais entre cargos. Com os cargos bem definidos, o estímulo está associado ao que o cargo designa e os funcionários sabem exatamente o que fazer. • Como as regras são universais e comunicadas for- malmente para todos os funcionários, diminui espaço para mal entendido e são compartilhadas com todos. • No processo de seleção de funcionários, há maior percepção de eficiência e justiça, por levar em conta os aspectos técnicos e objetivos das competências dos candidatos. Então, quais seriam as críticas a essa Teoria? A previsão dos processos nem sempre era possível a todas as organizações. Como o modelo dependia dos funcionários para que o sistema funcionasse, apesar das regras claras estabelecidas para os car- gos, estava sujeito às decisões individualizadas, po- dendo gerar imperfeições, desvirtuando o alcance dos objetivos. 12 Além disso, pelo fato de a ideia estar estruturada e enfatizada no cargo, havia a despersonalização do re- lacionamento entre os funcionários, valorizando mais os aspectos objetivos e não levando em considera- ção os aspectos subjetivos e sociais das relações. No que diz respeito às leis, quando se dava excessiva importância às normas e aos processos, perdiam-se de vista os objetivos reais da organização, induzindo os indivíduos a trabalhar somente em função desses procedimentos. Isso está vinculado ao formalismo extremo e ao excesso de “papelada”, havendo perda da eficiência, por conta da valorização dos procedi- mentos de controle, ao invés da eficácia das opera- ções. Ao se preocupar com os controles, procedi- mentos, documentações, haveria pouco espaço para criação e desenvolvimento de novas ideias, deixando de lado os interesses da empresa. Podcast 1 13 AS PESSOAS IMPORTAM! Até agora, vimos que a ênfase estava na eficiência das organizações. Você percebeu que, até aqui, pou- co falamos sobre os indivíduos, suas motivações, expectativas e necessidades? Pois bem, vamos agora estudar a partir do ponto de vista das pessoas. O enfoque comportamental dá ênfase às pessoas e também aos grupos sociais, ou seja, nas interações entre as pessoas. O sistema técnico que vimos até aqui é a parte visível, enquanto que o sistema social, que veremos adiante, é a parte invisível e, por isso, muito mais complexa! 14 Figura 5: Maximiano (2018) Parte visível e invisível da organização. A preocupação com os indivíduos e interações gru- pais nas organizações não é recente e vem desde a revolução industrial. Um dos acontecimentos mais marcantes da história que impulsionou o en- foque comportamental foi a chamada Escola de Relações Humanas. Para buscar respostas às questões humanas, o pesquisador Elton Mayo coordenou, em 1927, uma pesquisa que foi realizada na fábrica da Western Eletric Company, no bairro de Hawthorne, na cidade 15 de Chicago, nos Estados Unidos. Esse estudo foi tão importante que influenciou os estudos sobre o comportamento individual e grupal. Nessa época, o mundo estava vivendo uma enorme depressão econômica, que assolava os países e levava muitas pessoas a questionarem o modelo vigente. E, qual era esse modelo vigente? Era justamente o modelo que recebia grande influência das ideias de Taylor, Ford e Fayol. Reflita Como era a situação da época, vivida pelos tra- balhadores? Como era a situação econômica da época? Como ela influenciava as pesquisas da época? Aqui você conhece mais sobre a época. Conhecida como experiência de Hawthorne, os pes- quisadores buscaram identificar se havia relação entre a alteração da luminosidade do local de tra- balho e a eficiência dos trabalhadores na fábrica. Agora, vamos fazer uma reflexão: em sua opinião, se a luminosidade diminuísse, qual seria o efeito na produtividade dos trabalhadores? Iria aumentar ou diminuir? Pois bem, apesar das hipóteses, os pesquisadores não conseguiram identificar a existência da influên- cia da luminosidade sobre a produtividade. Então, a resposta mais provável era de que a influência de fatores externos não era importante na produtividade dos trabalhadores. Em outras palavras, os fatores 16 ambientais (extrínsecos) não eram determinantes, mas sim os psicológicos (intrínsecos) das pessoas! Saiba mais Aqui você conhece mais sobre os aspectos ex- trínsecos e aspectos intrínsecos. Os pesquisadores identificaram que o nível de pro- dução estava mais associado às questões psico- lógicas dos trabalhadores, e não necessariamente relacionado às questões físicas e fisiológicas. Tanto os aspectos individuais quanto grupais seriam os fa- tores que influenciavam a produtividade do indivíduo. Agora, vamos fazer uma reflexão: enquanto que, para a Administração Científica, a remuneração dos tra- balhadores era um fator motivador, para a Teoria das Relações Humanas, o salário era secundário, pois o que mais importava eram as expectativas, as motivações intrínsecas, as relações grupais! O foco deixava de estar somente na estrutura da organiza- ção e na filosofia mecanicista, passando a considerar o modelo que prioriza as pessoas. 17 EFEITO HAWTHORNE LEALDADE AO GRUPO Qualidade do tratamento da gerência aos trabalhadores influencia seu desempenho. Bom tratamento incen- tiva o trabalho de grupo e o desempenho. Esse efeito fi- cou conhecido como “Efeito Hawthorne”. Sistema social formado pelos grupos determina o desempenho do indivíduo, que pode ser mais leal ao grupo do que à empresa. Alguns grupos fazem por consenso menos do que a organização espera. O efeito Hawthorne não fun- ciona em todos os casos. ESFORÇO COLETIVO CONCEI-TO DE AUTORIDADE A administração deve entender o comportamento coletivo e fortalecer as rela- ções com os grupos. É responsabilidade da administração desenvolver as bases para o trabalho em grupo, o autogoverno e a cooperação. O supervisor de primeira linha deve ser não um controlador, mas um inter- mediário entre a adminis- tração superior e os gru- pos de trabalho. O conceito de autoridade deve basear-se na coope- ração e na coordenação. Não na coerção. Tabela 1: Maximiano (2018). Principais conclusões de Elton Mayo sobre o estudo realizado. Os indivíduos, portanto, não agem de maneira isolada e sofrem influência de sua interação com o grupo. Há a existência de grupos informais, com regras internas próprias, que normatizam o comportamento social e que podem prevalecer em relação às leis gerais estabelecidas pela organização. 18 Saiba mais Aprofunde-se sobre o experimento de Elton Mayo, lendo este artigo e vendo este vídeo. Podcast 2 19 O AVANÇO DOS ESTUDOS COM ÊNFASE NAS PESSOAS: A TEORIA COMPORTAMENTAL Como vimos até aqui, a Escola de Relações Humanas quebrou um paradigma existente até então. Se, an- teriormente a ênfase estava na eficiência produti- va, agora as pessoas passaram a ser o centro das atenções. Você sabia que essa Escola influenciou o surgimento de outras ideias na área? Na gestão das organizações da atualidade, entender as necessidades dos profissionais é essencial para que as expectativas sejam atendidas. Mas, como podemos compreender essas necessidades indivi- duais? Que fatores podem influenciar a motivação individual? Você saberia dizer? Pois bem, graças a importantes estudiosos, podemos compreender melhor as necessidades individuais e como os fatores influenciam a motivação humana. Note que estamos dando um passo adiante, pois, 20a partir da lente teórica dos comportamentalistas (como são chamados os estudiosos desse campo), poderemos ir mais a fundo na leitura e na compre- ensão dos fenômenos comportamentais. Vamos desvendar a parte oculta do iceberg! Saiba mais Paradigma é um termo muito utilizado no mundo das organizações. Afinal, o que significa “quebrar paradigmas”? Descubra aqui. 21 PODEMOS MOTIVAR ALGUÉM? A motivação é um tema muito presente na atuali- dade. Você pode já ter lido ou ouvido alguém falar: “Vamos motivar nossa equipe!”, “Precisamos moti- var fulano”. Antes de darmos início às discussões, é importante deixar bem claro um aspecto: Não é possível uma pessoa motivar outra pessoa! Em termos conceituais, a motivação é intrínseca, depende do próprio indivíduo. Motivação significa “motivo para a ação”, ou seja, o indivíduo deve querer fazer algo. Mas, como o gestor pode atuar nesse assunto? Basicamente, criando condições e influen- ciado para que o indivíduo possa se motivar! Reflita Alguém pode motivar alguém? Confira aqui. Abraham Maslow (1908-1970) foi um psicólogo nor- te-americano que contribuiu, decisivamente, para a compreensão das necessidades humanas. Suas ideias foram ilustradas em uma figura no formato de pirâmide, que passou a ser conhecida popularmente como Pirâmide das Necessidades de Maslow. 22 Figura 6: Pirâmide de Maslow. Para Maslow, as necessidades humanas estão or- ganizadas com base em uma hierarquia, em que as necessidades da base da pirâmide precisam ser sa- ciadas antes, para que as necessidades do próximo nível possa ser objeto de atenção. Conforme explica Maximiano: Uma necessidade de uma categoria qualquer precisa ser atendida antes que a necessidade de uma categoria seguinte se manifeste. Uma vez atendida, a necessidade perde sua força motivadora, e a pessoa passa a ser motivada pela ordem seguinte de necessidades. Quanto mais elevado o nível das necessidades, mais saudável a pessoa é. O comportamento irresponsável é sintoma 23 de privação das necessidades sociais e de estima. O comportamento negativo é consequência de má admi- nistração. Há técnicas de administração que satisfazem às necessidades fisiológicas, de segurança e sociais. Os gerentes podem trabalhar no sentido de possibili- tar que as outras sejam satisfatoriamente atendidas. (Maximiano, 2018, p.257) Reflita Se uma pessoa está com salários atrasados ou está insegura, com relação à garantia do seu em- prego, em qual aspecto o gestor deve atuar para que as necessidades desse indivíduo sejam aten- didas? Segundo a visão de Maslow, seria possível atender as necessidades de estima, sem terem satisfeitas as necessidades de segurança? 24 E A MOTIVAÇÃO NO AMBIENTE DE TRABALHO? Esse foi o foco do estudo de Frederick Herzberg, que identificou dois fatores que determinam o com- portamento humano no trabalho: fatores externos (higiênicos) e fatores internos (motivacionais). Essa ideia de Herzberg é conhecida como Teoria dos dois Fatores. Por intermédio dessa teoria, o autor defende que o oposto de satisfação não é a insa- tisfação. Ou seja, a presença de um fator interno é capaz de influenciar positivamente a satisfação do indivíduo; por outro lado, a ausência desse fator mantém o indivíduo simplesmente na condição de não satisfação, uma condição neutra. Figura 7: Fatores motivacionais e fatores higiênicos. Por outro lado, a ausência de um fator higiênico é capaz de causar insatisfação ao indivíduo, enquanto 25 que a sua presença basicamente mantém o indivíduo na condição de não insatisfação. E você deve estar se perguntando: quais são os fa- tores motivacionais e quais são os fatores higiêni- cos? Os fatores motivacionais estão associados ao conteúdo do trabalho, é algo interno ou intrínseco ao indivíduo. Já os fatores higiênicos estão ligados às condições e ao ambiente de trabalho. Para facilitar a compreensão, vamos analisar o quadro abaixo que relaciona esses dois fatores. COMBINAÇÃO DE FATORES HIGIÊNI- COS MOTIVACIONAIS FATORES HIGIÊNICOS AUSENTES • Salários baixos • Não há benefícios • Condições de tra- balho precárias • Equipe sem sintonia FATORES HIGIÊNICOS PRESENTES • Salários e benefí- cios satisfatórios • Ambiente físico de trabalho agradável • Ambiente humano amigável FATORES MOTIVACIONAIS AUSENTES • Trabalho sem desafio • Não há oportu- nidades de avanço • Não se oferecem progra- mas de capacitação • Não há recompensas pelo desempenho. Ausência de fatores motivacionais e higiênicos é a pior situação, que só se aceita na absoluta falta de alternativa. O desempenho só pode ser resultante do senso de responsabilidade ou do receio da perda de emprego. Exemplos: atividades realizadas por imigrantes ilegais ou por pessoas sem qualifi- cações profissionais. Satisfação com as condições de trabalho, mas insatisfação com o trabalho em si, devido à falta de desafio ou, em outro extremo, à tensão inerente. O desempenho pode tender à medio- cridade ou levar à apo- sentadoria precoce ou a problemas de conduta. 26 FATORES MOTIVACIONAIS PRESENTES • Trabalho que envolve desafio, responsabilidade e tomada de decisão • Possibilidades de cresci- mento na carreira • Reconhecimento pelo desempenho A ausência de fatores higiênicos, com presen- ça de fatores motiva- cionais, é exemplificada pelos missionários e socorristas voluntários que trabalham em condições de extrema penúria. O desempenho é resultante da motiva- ção inerente à tarefa. Numa empresa. Essa situação comprome- te o desempenho. Motivação com o tra- balho e satisfação com as condições formam a melhor combinação possível. Em tese, pode- -se esperar os melhores níveis de desempenho quando o trabalho se en- contra nessa situação. Tabela 2: Maximiano (2018). Em outras palavras, pagar salários em dia, manter condições adequadas de trabalho, possuir estrutura física adequada, dentre outros fatores externos, são elementos que evitam a insatisfação do indivíduo, quando presentes no dia a dia. Porém, quando es- ses fatores estão ausentes, são capazes de gerar insatisfação. Reflita Vamos imaginar que um profissional está com grandes perspectivas de crescimento na empre- sa em que trabalha, porém, a organização não dispõe de estrutura adequada de trabalho e ofe- rece salário abaixo do mercado. Sob o ponto de vista da teoria dos dois fatores, essa situação poderia afetar o desempenho desse profissional? 27 QUAIS SÃO AS VISÕES DOS GESTORES SOBRE OS SERES HUMANOS? A partir da visão dos gestores e da forma como ge- renciavam as pessoas, Douglas McGregor mapeou dois estilos de gestão do comportamento humano nas organizações. As ideias de McGregor são conhe- cidas como Teoria X e Teoria Y, defendendo haver uma visão positiva e outra negativa das pessoas. Segundo a Teoria X, a visão é de que as pessoas são preguiçosas, não são ambiciosas, fogem da res- ponsabilidade e não gostam de trabalhar! Para isso, os gestores devem estimulá-las, constantemente, devendo haver um sistema de controle para que os objetivos da organização sejam alcançados. Por outro lado, a Teoria Y defende o oposto, que as pessoas gostam do trabalho, assumem responsabili- dades, são criativas, desejam contribuir para o alcan- ce dos objetivos organizacionais e são autodiscipli- nadas. A gestão deve ser democrática, estimulando a delegação de responsabilidades, participação no processo decisório e enriquecimento no trabalho. 28 QUAIS SÃO AS CRÍTICAS ÀS TEORIAS COMPORTAMENTAIS? De fato, houve grandes avanços quando o compor- tamento humano passou a ser objeto de estudo e preocupação por parte dos estudiosos. Entretanto, quando o foco estava restrito às questões humanas e não levava em consideração o contexto geral das organizações, o objetivo da própria organização era negligenciado. Em outras palavras, a ênfase dema- siada nas questões comportamentais, colocada de forma absoluta, sem levar em consideração outros aspectos organizacionais,era uma limitação aponta- da pelos críticos. Mas, vale lembrar que tais críticas não invalidam ou desmerecem as contribuições que a Teoria Comportamental trouxe para a gestão das organizações, que prevalece até os dias atuais! 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nós estudamos que a Teoria da Burocracia tem seu lado “bom”. Segundo Max Weber, leis, normas, hie- rarquia, autoridade, ênfase no cargo, dentre outros aspectos, são a base para que as atividades pos- sam ser estruturadas em torno de um objetivo da organização. Também compreendemos que as teorias que enfati- zam as pessoas surgiram em função das limitações das teorias que buscavam a eficiência produtiva. Elton Mayo contribuiu ao identificar que fatores intrínsecos e as relações grupais determinavam a produtividade no trabalho. Maslow trouxe, em sua pirâmide, a hierarquia das necessidades, em que se- ria necessário saciar primeiramente as necessidades mais básicas para que surjam as necessidades de níveis superiores. Herzberg defendeu haver dois fatores: os motivacionais, que na sua presença, se- riam capazes de gerar satisfação; e os higiênicos, que, na sua ausência, poderiam causar insatisfação. E McGregor defendeu haver duas visões distintas sobre as pessoas: a Teoria X considerava que as pessoas não gostavam do trabalho e necessitavam ser estimuladas e controladas; e a Teoria Y afirmava que as pessoas gostavam do trabalho e, portanto, a gestão democrática, participativa e dinâmica estaria mais alinhada a esse perfil. 30 Síntese Referências DUTRA, Joel Souza. Gestão de Carreiras: a pessoa, a organização e as oportunidades. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução di- gital. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018. ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
Compartilhar