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MARCOS PARA UMA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO 1 – A PRÉ-HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA: Com as grandes navegações e a descoberta de novos povos, o europeu obteve choque ideológico que reflete até hoje em nossas sociedades miscigenadas. Essa fase histórica foi primordial para repensar a forma da cultura ocidental. a figura do mal selvagem e do bom civilizado. Dentro da cultura ocidental, os gregos já diferenciavam-se dos demais através do termo “bárbaro”, que definia todos que não pertenciam aos povos helenos. Nos séculos XVII e XVIII, durante o renascimento, a designação é feita por naturais ou selvagens, separando entre humanidade e animalidade. Já no século XIX “primitivos” será a preferência, que decaí para a atualidade com o termo “subdesenvolvido”. A caracterização das sociedades primitivas era feita através da religião, aparecia física (nudez ou peles de animais), alimentação -e toda a polêmica da carne crua e canibalismo-, linguagem considerada inteligível. Existindo pensamentos de preconceito como embrutecimento dos americanos, hemisfério sul como inferior, pela incompreensão do novo mundo. Hegel demonstra horror ao Estado de Natureza vivido pelos povos, e condena-os a sombra da história e de desenvolvimento humano. Ainda com o raciocínio fechado, em um contexto racista, classifica negros como objetos sem valor. A figura do bom selvagem e do mal civilizado. A partir do século XVIII, as sociedades primitivas passam a ser consideradas puras e admiráveis com o rousseauísmo e o Romantism, consolidando a imagem de um ideal humano no século XX. Lery considera em seus estudos que o homem europeu é mais cruel, e Montaigne complementa que as barbáries cometidas pelos ditos civilizados ultrapassa completamente a sociedade primitiva, constituindo progressivamente um saber antropológico baseado na observação direta de um objeto distante e sua reflexão sobre o mesmo respectivamente, fundamentando um saber pré-antropológico. 2 – O SÉCULO XVIII: A invenção do conceito de homem Com o fim do renascimento, Cogito, fundador do pensamento clássico, excluiu da razão louco, crianças e selvagens das figuras de anormalidades. Já a ciência positiva do homem só surgirá no século XVIII, superando a interrupção do século XVII. Ou seja, somente no século XVIII é que encontramos condições históricas, culturais e epistemológicas daquilo que fundamenta a base preparatória da ciência antropológica. Esse projeto antropológico tem por características: 1- A construção de um certo número de conceitos (ex: homem como objeto do saber) 2- A constituição de um saber que não seja apenas de reflexão, e sim de observação (saber empírico) 3- Uma problemática essencial: a da diferença. Com a crise da identidade humanística a sociedade europeia busca referências em culturas distantes. 4- Um método de observação e análise – o Método Indutivo: surge o conceito de grupo social organicista, onde com a observação de fatos, extraímos princípios gerais. A perspectiva deixa de ser cosmográfica e passa a ser etnográfica com a observação. O foco do objeto de estudo muda para a atividade epistemológica. Surge então a etnologia. Os obstáculos que impediam o surgimento da antropologia de fato eram: 1- A distinção entre saber cientifico e o filosófico. 2- A não separação do discurso antropológico do século XVIII da história natural. 3 – O TEMPO DOS PIONEIROS: Os pesquisadores-eruditos do século XIX Com a Revolução Industrial Inglesa e a Revolução Francesa, a sociedade passa por uma mudança estrutural que mudou o mundo completamente. O século XIX é também o século do Imperialismo Colonial, o que possibilita um campo de estudo vasto para a antropologia. A Teoria Evolucionista surge nesse contexto, dando atenção à: 1- Sociedade aborígene australiana, que se caracteriza como a “mais arcaica” 2- Ao estudo do parentesco 3- Ao estudo da religião. Principalmente das não cristãs. Eram utilizados para exemplificar cada estágio dos costumes. A etnografia contemporânea busca analisar o significado de um fato minúsculo recolhido de uma única sociedade em função das relações sociais. Esse século foi muito rico na quantidade de produção científica e preservação de dados. A antropologia busca explicar a pluralidade de sociedades através do resultado das situações técnicas e econômicos, por isso surge o anti-racismo proeminente na teoria evolucionista. A mesma teoria foi responsável por torna-se o paradigma essencial, pois servirá de impulso para que a ciência antropológica encontre seu caminho atual. 4 – OS PAIS FUNDADORES DA ETNOGRAFIA: Boas e Malinowski A etnografia só existe de fato quando o pesquisador percebe que ele mesmo deve efetuar a pesquisa de campo e esse trabalho é apenas parte do processo. BOAS (1858-1942) Responsável pela grande virada da prática antropológica. Foi pioneiro em pesquisa de campo. Deu especial enfoque ao estudo da língua da cultura estudada, que para o mesmo era essencial no reconhecimento. MALINOWSKI (1884-1942) 1- Radicalizou o estilo da pesquisa de campo, vivendo nas ilhas Trombriand por longos períodos, absorvendo a cultura e vivenciando-a. Observação participante. 2- Considerava que o estudo da sociedade deveria ser feito no conceito de totalidade, rompendo assim com a história conjetural e a geografia especulativa. Tornou então, a antropologia, uma ciência altera. Abriu precedente para a quebra de diversos preconceitos e inferiorizações feitos por estudiosos anteriores. 3- Elaborou o Funcionalismo, que a cultura tem como função satisfazer as necessidades fundamentais do indivíduo. 4- Estudou o homem pela tripla articulação do social, do psicológico e do biológico. 5 – OS PRIMEIROS TEÓRICOS DA ANTROPOLOGIA: Durkheim e Mauss DURKHEIM Sua preocupação maior era demonstrar a especificidade do social, emancipando sociologia dos outros discursos sobre o homem. A causa determinante do fato social deve ser buscada nos fatos sociais anteriores e não na consciência individual. Transforma os fatos sociais em “coisas” que só podem ser explicadas quando relacionadas a outros fatos sociais. MAUSS Sobrinho de Durkheim, faz contribuições próximas e diferentes das do tio. Juntos em fundar a autonomia do social, separam-se no que convém a atribuir a antropologia e na exigência epistemológica, hoje qualificada como pluridisciplinar. O fenômeno social total, formado por ele é a integração dos aspectos biológico, econômico, jurídico, histórico, religioso... que constituem a dada realidade social que compreendem a integridade. Observando sempre o comportamento dos seres totais. O que caracteriza o modo de conhecimento próprio das ciências do homem, é que o observador-sujeito, para compreender seu objeto, esforça-se para viver nele mesmo a experiência deste, o que só é possível porque esse objeto é, tanto quanto ele, sujeito.
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