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Aluna: Líbia Gomes de O. Vaz / Mat.: 600811966 Resumo capítulo 7: Preconceito, estereótipos e discriminação. Definição e exemplos históricos: Em psicologia social, preconceito é uma atitude negativa dirigida a um grupo e aos que dele fazem parte. O preconceito é tão velho quanto à humanidade e, por isso, de difícil erradicação. Em uma parte da historia os alemães foram retratados por americanos como extremamente pontuais e poucos amistosos, fanáticos por cerveja e muito conformados a regras, leis e regulamentos. Estes exemplos nos entanto, não fornecem a dimensão acurada dos males profundos que se escondem por trás do preconceito e de suas consequências, ora sutis, ora extremamente violentas. Assistimos nos meados de 1990 a verdadeira face do preconceito, com massacres perpetrados em nome de etnias, posse de territórios e poder. Aprendemos que “Iugoslávia” era uma espécie de ficção nacional, um sentimento de ódio renitente entre sérvios, croatas, bósnios e montenegrinos, ou ainda, entre católicos e mulçumanos. Algo bem semelhante ocorreu no Iraque. Uma vez que liberados do controle rígido de Saddan Hussein, xiitas, sunis e curdos se mostraram pouco dispostos a uma conciliação nacional e as cenas de violência assumiram proporções de uma verdadeira guerra civil. Na África, agrupamentos distintos ganham de tempos em tempos manchetes dos jornais por suas crueldades e agressões. No meio do século XX, talvez o exemplo mais estarrecedor de todos: O Holocausto, quando milhões de judeus foram massacrados na Europa. Extermínio de populações judaicas inteiras, atos de crueldade organizados e sistemáticos, operações premeditadas de matança com requinte de crueldade, muitas vezes as palavras se mostram débeis para retratar o horror do que realmente significou o Holocausto. Os efeitos do preconceito podem apresentar níveis distintos em termos de agressividade exibida. No Brasil, a escravidão teve consequências obvias na convivência entre brancos e negros. Por um lado, a maioria dos brancos aqui aportou por escolha própria; por outro lado, os negros vieram como escravos, trazidos à força da África para viverem aqui no Brasil condições desumanas. “Preconceitos contra a cor de parte de uns; contra a origem escrava, de parte de outros” (FREYRE, 1984). Na verdade, qualquer grupo social e não apenas as minorias pode ser alvo de preconceito. A ideia de se encarar o preconceito como objeto de estudo cientifico emergiu apenas ao longo do ano de 1920, até então, basicamente durante o século XIX quase toda a comunidade cientifica americana e europeia não se preocupava com a questão porque partia da premissa de que realmente havia diferenças entre as raças e que seriam umas inferiores as outras. Sendo assim, falar de preconceito racial não tinha nenhum significado especial. As teorias da época preocupavam-se em explicar a suposta inferioridade dos negros, atribuindo a um atraso evolutivo, a limitações na capacidade intelectual e a um excessivo ímpeto sexual, entre outras causas das supostas diferenças. Foi na década de 1930 em diante que se fizeram sentir mudanças na visão do preconceito, passou a ser encarado como irracional ou injustificado. Uma ocasião de polêmica levantada em 1994 em função da publicação do livro The Bell Curve, de Herrnstein e Murray, que sugeria que as diferenças encontradas entre os desempenhos acadêmicos entre negros e brancos nos Estados Unidos poderiam se dever a uma base genética. O que vem a acrescentar claramente a necessidade de se concentrar esforços na busca de elucidação para os processos psicológicos subjacentes à chamada natureza do preconceito, bem como as possíveis maneiras de diminui-lo. Estereótipos: a base cognitiva do preconceito Na base do preconceito estão as crenças sobre características pessoais que atribuímos a pessoas ou grupos, chamada de estereótipos. O termo foi utilizado de forma não muito precisa, pelo jornalista americano Walter Lippman (1922), para se referir a imputação de certas características a pessoas pertencentes a determinados grupos, aos quais se atribuem determinados aspectos típicos. Antes dos psicólogos sociais, os psiquiatras já usavam a palavra “estereotipia“ para descrever a frequente e quase mecânica repetição de um mesmo gesto, postura ou modo de falar, comuns em certos tipos de distúrbios mentais graves. Mas especificamente, podemos dizer que a partir de uma representação mental de um grupo social e de seus membros tendemos enfatizar o que há de similar entre as pessoas, não necessariamente similares, e a agir de acordo com essa percepção. Os psicólogos sociais contemporâneos identificam o estereótipo como base cognitiva do preconceito. É verdade que, para alguns teóricos, esta divisão não se faria necessária, com termo preconceito significando mais uma atitude intergrupal que englobaria naturalmente esses três componentes. Mas a maioria dos estudiosos prefere analisar a questão em separado, examinando distintamente os estereótipos, o preconceito e a discriminação. Em um estudo experimental, cuja finalidade foi verificar como os estudantes de psicologia eram vistos por seus colegas. Uma lista de aproximadamente 90 adjetivos foi apresentada a uma amostra de estudantes, sendo-lhes solicitado em seguida que dissessem quais deles mais se aplicaria a estudantes de psicologia. Com os resultados fornecidos pelos 60 participantes da amostra foi construída uma tabela de frequências com os cinco adjetivos que, segundo a opinião de cada sujeito, melhor caracterizam os alunos do curso de psicologia. Problemáticos (18) Pesquisadores (18) Idealistas (18) Observadores (17) Humanos (16) Contrariamente ao esperado pelos autores, estudantes do Curso de Psicologia foram categorizados pelos demais alunos da universidade simplesmente com alguns poucos adjetivos, a maioria de conotação positiva. De qualquer forma, existe um estereótipo acerca do estudante de Psicologia que o faz ser visto como dotado de certas características bem marcantes. No estudo original de Katz e Braley, por exemplo, alunos da Universidade de Princeton foram solicitados a escolher cinco dentre 84 adjetivos que melhor descreveriam diferentes grupos sociais ou étnicos. 75% dos estudantes brancos selecionaram com os adjetivos que melhor retratariam os negros as palavras: preguiçosos, supersticiosos, ignorantes, musicais e imprevidentes. Quando se referiam a si mesmos, a descrição era outra: trabalhadores, inteligentes, materialistas, empreendedores e progressistas. Este tipo de estudo permite avaliar o conteúdo de estereótipos sociais, além do grau de consenso em torno dele, bem como do preconceito igualmente envolvido. Ao considerar essas e outras pesquisas, eles afirmam que hoje em dia o preconceito no que diz respeito aos estereótipos, estaria sendo expresso não mais pela atribuição de traços negativos e sim pela negação de atributos positivos a um grupo-alvo. Outros ainda usam atribuições de causalidade como forma de detectar preconceito. Deaux e Emsweilwer (1974) verificam, por exemplo, que o sucesso de um homem branco é geralmente atribuído a sua capacidade, enquanto que o sucesso de um homem negro é geralmente atribuído ao seu esforço. Estereótipos, pois, podem ser corretas ou incorretas e também positivas, neutras ou negativas. O fato de, num primeiro momento, facilitar em nossas reações frente ao mundo esconde a realidade de que, na maioria das vezes, estereotipar pode levar a generalizações incorretas ou e indevidas, principalmente quando não se consegue “ver” um indivíduo com suas idiossincrasias e traços pessoais por trás do véu aglutinador do estereótipo. Devine (1989) faz uma distinção entre o que chamou de ativação automática e ativação controlada de estereótipos. Define chamou de ativação controlada o que poria um freio no processo de discriminação, impedindo-o de prosseguir adiante.Banaji e Hardin (1996) e Monteith (1993) são outros autores que, referendando a distinção anteriormente proposta, vem pesquisando fórmulas de enfraquecer ou de contrabalançar as ações fruto da ativação automática. Rotulação O ato de rotular as pessoas é um processo bastante similar à estereotipia. Poderíamos mesmo dizer que a rotulação seria um caso especial dentro do ato de estereotipar. Em nossas relações interpessoais, facilitamos nosso relacionamento com os outros se atribuímos a eles determinados rótulos capazes de fazer com que certos comportamentos possam ser antecipados. Assim, por exemplo, quando um gerente rotula um empregado de “preguiçoso”, ele “prevê” determinado comportamentos que este empregado deverá exibir frente a certas tarefas. A atribuição de um rótulo a uma pessoa nos predispõe a pressupor comportamentos compatíveis com rotulo imputado; nossas percepções são distorcidas e isto pode acarretar uma ou duas consequências importantes: (A) Em virtude de nossas tendências a consistência cognitiva, faz com que comportamentos que não se harmonizem como rotulo imposto. (B) As expectativas ditadas pelo rotulo podem nos fazer agir não consciente e consistentemente, de modo a induzir o rotulado a se comportar de maneira que esperamos. O famoso experimento levado a cabo por Rosenhan (1973) este estudo já considerado um clássico, mostrou claramente a impressionante influencia da rotulação nas percepções do comportamento da pessoa rotulada. Tal tendência, embora comum, é perigosa e pode levar a injustiças e erros de julgamento grave. Um bom exemplo para o entendimento dos estereótipos esta em uma história que diz o seguinte: Um pai e um filho sofreram um acidente grave. O pai morreu na hora, e o filho gravemente ferido é levado ao hospital. Chegando lá ele vai direto para o centro cirúrgico. A equipe medica chega para realizar a operação, então a pessoa que ia operar quando viu o garoto grita “NÃO POSSO OPERA-LO! ELE É MEU FILHO!” Como isto é possível sendo que o pai morreu? A resposta é simples e sem erro nenhum, a mãe dele iria operá-lo. O único erro esta na educação que recebemos que nos impede de ver homens e mulheres cumprindo papeis sociais rígidos e distintos, que nos impede de ver mulheres exercendo atividades que não foram impostas culturalmente. Para Daryl e Sandra Bem (1970), falsos enigmas como citado, revelam o que eles chamaram de ideologia inconsciente, conjunto de crenças que aceitamos implícita e não conscientemente, por que não conseguimos sequer perceber a possibilidade de concepções alternativas. No meio cultural em que vivemos, apesar de todo movimento em direção à igualdade resultante das pressões exercidas pelo movimento de emancipação feminina, ainda consideramos certos papeis e funções como uma exclusividade de um dos sexos. Estereótipos e gêneros Há uma serie de experimentos já clássicos que são levados a cabo periodicamente e que continuam ilustrando o fenômeno em questão. Em um deles, Goldberg (1968) solicitou a alunas universitárias que avaliassem artigos acadêmicos. Para algumas participantes o artigo era assinado por uma mulher, e para outras, por um homem. Apesar de o artigo ser o mesmo para os dois grupos, aquele assinado por uma mulher era invariavelmente menos elogiado que o supostamente escrito por um homem. Apesar de o artigo ser os mesmos para os dois grupos, aquele assinado por uma mulher era invariavelmente menos elogiado que o suspostamente escrito por um homem. Um estudo da universidade de Havana, que relata a partir de sua experiência com “Grupos de reflexão para homens”, como o estereótipo ligando os homens às funções de “herói” e as mulheres às de “mães”. A norma genética dominante ainda exige dos homens que sejam machistas, narcisistas, onipotentes, impenetráveis e ousados. Qualquer desvio em relação a esta norma pode significar fracasso, debilidade ou sinal de homossexualidade. Outro famoso experimento, conduzido por Clark e Clark (1947) nos Estados Unidos, mostrou que crianças negras já aos três anos exibiam preferencia por bonecas de cor branca. Neste experimento, especificamente, pedia-se às crianças que indicassem, por exemplo, qual a boneca mais bonita, a branca ou a preta. A maioria das crianças optou pela branca. Desta maioria, cerca de 70% eram crianças negras. Quando o oposto solicitado – qual boneca feia ou má – quase 80% das crianças negras apontavam para a boneca de cor preta. A diminuição da autoestima pode começar cedo. Uma pessoa com a autoestima abalada pode se convencer de que não merece uma educação de bom nível, trabalhos e moradias descentes, além de um perverso e difuso sentimento de inferioridade que se acompanhado por sentimentos de culpa, pode levá- la a uma situação de desamparo e sofrimento. As crianças de ambas as raças continuam atribuindo características positivas a bonecos brancos e negativos aos bonecos escuros. Embora a porcentagem agora esteja em torno de 60%, não deixa de ser deplorável que, não obstante os progressos verificados em relação à questão racial. O preconceito pode ter se tornado apenas mais sutil menos explícito. Uma pesquisa feita pelo IBGE em 1998 (Pesquisa de padrão de vida) em seis grandes cidades do Brasil comparou, entre outros dados, o salario médio percebido por homens e mulheres, brancos e negros. Foi constatado que homens brancos recebiam em média, por mês, o maior salario; em segundo lugar vinham as mulheres brancas, em terceiro, os homens negros, e por fim, as mulheres negras. Nova pesquisa a cargo do IBGE (2009), comparando dados de março de 2003 a março de 2009, observou que, a renda mensal real dos negros e pardos foi de R$690,30 para R$847,70 enquanto que a dos brancos foi de R$1.443,30 para R$1.663,90 comprovando a permanência de grande desigualdade salarial entre negros e brancos. Da mesma forma, segundo estudo realizado pelo Fundo De Desenvolvimento Das Nações Unidas para a mulher, em 1992, os homens ganhavam 50% a mais que as mulheres, diferença esta que teria caído para 30% dez anos depois em 2002. Assim, apesar da significativa melhora, existe ainda um longo percurso a ser percorrido no caminho da igualdade. Para alguns autores, o que há em termos de evolução limita-se ao que chamam de racismo moderno; As pessoas podem abrandar seu comportamento discriminatório, mas, internamente, mantem seus preconceitos. Em pesquisas realizadas em 1984 e descritas mais adiante, segundo as quais os entrevistados reconhecem a existência do preconceito no Brasil, mas não se consideram preconceituosos. Estereótipos e atribuição O preconceito frequentemente contamina nossas percepções, como exemplo: dois homens veem um padre sair de um prostibulo. Um deles, protestante, comenta maliciosamente a hipocrisia de um representante da Igreja Católica; o outro, católico, responde com orgulho, argumentando que quando um membro de sua igreja está à morte, mesmo que seja num prostibulo, ele é merecedor do Sagrado Sacramento. A “moral” da anedota está no fato de, quando se defrontam com situações ambíguas, as pessoas fazem atribuições consistentes com suas crenças ou preconceitos. Além do estudo já citado sobre uma possível superioridade dos homens sobre as mulheres, e do falso enigma do “pai morto e o estereótipo sobrevivente”, tem demonstrado que diante de uma situação em que, por exemplo, somos apresentados a um bem-sucedido médico ou à sua contrapartida do sexo feminino, tendemos a atribuir o sucesso da mulher a uma maior motivação intrínseca. Pode-se depreender daí que ou as mulheres tiveram de trilhar um caminho mais cheio de obstáculos ou precisou de doses suplementares de sorte ou de motivação suplantar supostas deficiências internas. Entre nós, sabemos que chamar um aluno de “esforçado” não significa um elogio: pelo contrário, dá a entender que ele compensa uma possível inferioridade intelectual por meiode trabalho duro. No momento, apesar de todos os progressos resultantes do movimento de emancipação feminina, quando diante de um sucesso profissional, a tendência é no sentido de atribuí-lo a uma capacidade fora do comum em termos de motivação ou a uma sorte igualmente rara. Dois trabalhos realizados por Rodrigues (1984) e Rodrigues et al. (1984ª) confirmam parcialmente os achados de Yarkin, Town e Walston visto antes. O primeiro foi uma replica do experimento citado, com uma amostra de estudantes universitários cariocas e mineiros. A tarefa dos participantes era ler uma carta em que um funcionário de um banco solicitava promoção e justificava seu pedido com base em seu excelente desempenho profissional. Era apresentado o curriculum vitae do funcionário. Ambos tinham o mesmo teor em quatro condições experimentais, variando apenas o sexo e a cor do funcionário que pleiteava a promoção (homem branco, homem negro, mulher branca e mulher negra). Pedia-se aos participantes que explicassem a causa do sucesso do funcionário em questão. Curiosamente, não foi detectada qualquer indicação de estereótipo sexual contra as mulheres; apenas na amostra mineira, leves sinais de preconceito racial: os homens negros supostamente seriam mais esforçados. Outro dado importante deste estudo foi à crença de que os brancos, mais provavelmente do que os negros conseguiriam a promoção almejada, o que pode significar a percepção de que vivemos em uma sociedade preconceituosa. O que este conjunto de trabalhos reafirma é, em primeiro lugar, a necessidade de se estudar mais e mais sobre o tema. Será que o brasileiro tem vergonha de assumir que é preconceituoso? É uma pergunta que reafirma a necessidade de serem conduzidas novas pesquisas dentro de uma área que se mostra ao mesmo tempo tão presentes, tão complexas e tão relevantes. O autor encerra essa seção do capitulo citando um experimento levado a cabo por Porter et al. (1983). Nele eram exibidas fotos nas quais aparecia um grupo de estudantes em torno de uma mesa. O grupo era que um grupo era composto por homens e mulheres, outro só homens e outro só mulheres. Um teste de primeiras impressões, perguntava quem eles achavam que seria daquele grupo, a pessoa que aparentemente estava conduzindo os trabalhos exercendo uma maior influência. Quando os grupos eram compostos por indivíduos do mesmo sexo, a pessoa sentada na extremidade central da mesa era indicada como sendo o líder dos trabalhos. A coisa muda de figura no grupo misto. Aí, ainda com as mulheres em maioria e com uma delas sentada na cabeceira da mesa, os homens eram indicados com os líderes, mesmo somando-se os pontos recebidos por todas as mulheres! Um retrato e tanto da realidade dos estereótipos! Preconceito e discriminação Se o estereótipo é a sua base cognitiva, os sentimentos negativos em relação a um grupo constituíram um componente afetivo do preconceito, e as ações, o componente comportamental. Tecnicamente, o preconceito pode ser positivo ou negativo. Não entanto, em psicologia social, o termo é usado apenas no caso de atitude negativa. Quando nos referimos à esfera do comportamento fazemos o uso do termo discriminação. Neste caso, sentimentos hostis somados a crenças estereotipadas resultam em um comportamento que pode variar de um tratamento diferenciado a expressões verbais de desprezo e a atos manifesto de agressividade. “A hostilidade se vai quando os grupos se juntam para alcançar objetivos maiores que sejam realmente importantes para a promoção do bem comum” (TROTTER, 1985). Causas do preconceito Podemos classificar as causas do preconceito em quatro grandes categorias: Espaço competição e conflitos políticos e econômicos; O papel do “bode expiatório”; Fatores de personalidade; Causas sociais do preconceito, aprendizagem social, conformidade e categorização social. O preconceito parece estar tão entranhado no âmbito das relações humanas que se torna difícil distinguir suas origens. Suas raízes parecem tão profundas e tão próximas da agressividade que, por vezes, suspeitamos estarem elas ligadas a própria natureza humana. Em certo sentido, todos nós somos preconceituosos: na melhor das hipóteses, em relação às pessoas que sabemos que são preconceituosos. Competição e conflitos econômicos A competição é um dos caminhos que mais facilmente conduzem a formação de estereótipos, preconceitos e atos discriminatórios. O status social, ao poder político e ao acesso a recursos limitados fornece fermento poderoso a esse tipo de hostilidade. Aparentemente, é mais fácil atacar, sem remorsos, um adversário, se o mesmo for dotado de características de personalidade negativas, hábitos nocivos ou se for claramente mal-intencionado. Os exemplos históricos aqui são incontáveis. Veja por exemplo, a bem documentada oscilação das atitudes e comportamentos de brancos norte-americanos para com os imigrantes chineses ao longo do século XIX, em função do nível de competição econômica entre ambos. Brancos e chineses competiram por vagas e estes passaram a ser descritos como “desumanos, cruéis, depravados” e etc. Anos depois, ao aceitar trabalhos duros e não almejados por brancos na construção de ferrovias, os mesmos chineses passaram a ser descrito como “dirigentes, obedientes e confiáveis”. Pouco tempo depois com a volta dos soldados brancos após a guerra da secessão, congestionado, na época, um já não muito extenso mercado de trabalho e levando os chineses a serem percebidos como “criminosos, ardilosos e obtusos”. Enfim, competição e conflito são claramente capazes de provocar reações hostilidade e de criar inimigo onde antes havia paz. O papel do bode expiatório Este conceito é uma espécie de complemento da causa anterior. Uma vez despertados a raiva, a hostilidade ou a frustração, a quem dirigi-las? Muitas vezes, a causa real do sofrimento é muita vaga, ou muito grande ou poderosa. O que a história tem mostrado é que nessas ocasiões a raiva é deslocada para grupos minoritários, sem muito poder e facilmente detectáveis. Os antigos hebreus tinham o costume pelo qual o sacerdote, durante um período de expiação, pousava as mãos na cabeça de um bode e, por meio das devidas rezas, exortações e enunciação dos pecados cometidos transferia-os para um animal que depois era abandonado no deserto para morrer, levando consigo os pecados e limpando a comunidade de seus erros. O termo ficou e hoje é usado para designar aqueles que levam a culpa de algo, ainda que seja inocente. Vale a pena citar que as pesquisas vêm demonstrando que, quanto menor à distância na escala socioeconômica entre brancos e negros, tanto maior o preconceito manifestado pelos primeiros. Na Alemanha nazista onde, após a derrota na primeira guerra mundial, os judeus foram responsabilizados pela inflação, pela recessão e pelo sentimento de frustração então existente. Criou-se a crença de que, eliminando os judeus, todos os problemas estariam resolvidos. Mesmo em um nível microssocial, conforme vimos ao tratar do fenômeno de atribuição de causalidade, procuramos transferir nossos sentimentos de raiva ou de inadequação colocando a culpa de um fracasso pessoal em algo externo ou sobre os ombros de outra pessoa. Diversos experimentos vêm comprovando este fenômeno, embora, a rigor, não seja fácil distinguir o preconceito causado por competições e conflitos daqueles originados pela agressão desviada para Bodes expiatórios. A hipótese do bode expiatório postula que indivíduos, quando frustrados ou infelizes, tendem a deslocar sua agressividade para grupos visíveis, relativamente sem poder e por quem nutrem de antemão sentimentos de repulsa. Traços da Personalidade É possível dizer, a priori, que uma pessoa seja mais propensa a ser preconceituosa do que a outra? Aparentemente, sim. A ideia, desenvolvida por Adorno et al. (1950), parte do pressuposto de que algumaspessoas, em função do tipo de educação recebida, estariam mais predispostas a se tornarem, preconceituosos. Denominou de personalidade autoritária o conjunto de traços adquiridos que tornaria uma pessoa mais rígida em suas opiniões, intolerante para com quaisquer demonstrações de fraqueza em si ou nos outros, pronta a adotar valores convencionais, desconfiada, propensa a adotar ou pregar medida de caráter punitivo, aderente a princípios morais e estrita e a dedicar respeitosa submissão a figura de autoridade de seu próprio grupo e clara rejeição aos que não pertencem ao seu ciclo de relações. Na Alemanha nazista, acreditavam que pessoas enquadradas como fortemente autoritarismo estariam mais propensas a perseguir quaisquer grupos minoritários. Qual seria origem dessa configuração de personalidade? Para os pesquisadores, após extensa as entrevistas, o cenário resultante apontava para uma infância marcada pelos seguintes acontecimentos: quando crianças, as pessoas teriam sido duramente disciplinadas, com seus pais sendo muito punitivos, usando ainda do artifício de manipular manifestações de afeto para obter respostas de obediência por parte delas. Isto tornaria as crianças inseguras, dependentes e muito ambivalentes Para com os próprios pais, amando-os e odiando-os concomitantemente. Qual tipo de educação ajudaria a formar um adulto preocupado com questões de status e poder, rígido, intolerante e com dificuldades em lidar com situações de ambiguidade. É natural que crianças vejam mundo em branco e preto, tendo bem marcada em suas mentes a diferença entre mocinhos e bandidos, bons e maus. As críticas posteriormente levadas compra essa concepção não negam o seu valor e sua expressiva contribuição no que toca a gênese do preconceito. No entanto, em primeiro lugar, esta teoria não teria levado em consideração o papel desempenhado pelos pais, no que se refere aos seus próprios preconceitos. Filhos de pais preconceituosos tendem a se identificar com ele, ou, por aprendizagem, imitar o seu comportamento, independentemente ou concomitantemente ao tipo de educação recebida, qualquer que tenha sido. Em segundo lugar, uma crítica mais específica: a escala original teria uma orientação ideológica muito definida, pela quais apenas pessoas de extrema-direita se enquadrariam na tipologia preconizada. Apesar desses reparos, a verdade é que trabalhos realizados no final da década de 1980 e no início dos anos de 1990 na Rússia, na África do Sul e nos Estados Unidos, vêm confirmando a influência do autoritarismo como traço de personalidade adquirido que predispõem a manifestação de preconceitos e discriminações. Causas sociais do preconceito: a aprendizagem social, conformidade e categorização social. A Teoria Da Aprendizagem Social enfatiza que estereótipos e preconceitos fazem parte de um conjunto maior de normas sociais. Estas, por sua vez, seriam o conjunto de crenças de uma dada comunidade acerca dos comportamentos tidos como socialmente corretas, aceitáveis e permitidos. Evidentemente, o que é estranho em uma cultura pode ser encarado como normal e ajustado em outra história. Hábitos alimentares, modo de educar os filhos, moda, prática religiosa, poligamia constituem alguns exemplos de como diferentes sociedades lidam de forma diversas com aspectos similares de comportamento social humano. As normas sociais são apreendidas em casa, nas escolas, nas instituições religiosas, com colegas e a partir da mídia e das artes. Desta forma é que preconceitos persistiram em um dado momento em uma dada por toda. Basta que seja uma sociedade que acredite em certos tipos de estereótipos depreciativos ou veja como normal o trato diferenciado à determinado grupo étnicos, regionais, ou ainda, a mulheres ou a praticantes de uma religião. Como vimos no início do capítulo, ainda não é comum que mulheres detenham certas funções e papéis sociais. Ou seja, é “normal” que uma mulher seja enfermeira e um homem, neurocirurgião. A conformidade seria um caso especial do exposto anteriormente em que as pessoas, de tanto perceberem e viverem relações de desigualdade entre grupos, sexo, etc., passam a considerar tais tratamentos diferenciados como naturais. Em outras palavras, conformam-se Como a situação reinante. Na conformidade, cedemos a pressão social para sermos aceitos, não sofrermos punições por realmente acreditarmos na veracidade das teses disseminadas no meio cultural em que vivemos. Estas considerações nos levam ao papel desempenhado pela mídia e pelas artes na perpetuação de estereótipos e preconceitos. Nas novelas, programas de maior audiência da TV brasileira, negros sempre apareceram em papéis secundários e basicamente como serviçais ou bandidos. As mulheres também não tem melhor sorte; mesmo uma análise superficial dos comerciais de televisão indica que elas são basicamente retratadas como dona de casa, objetos sexuais ou como pessoas passivas, dependentes e sequiosas da aprovação de seus maridos. Evidentemente, a mídia e as artes também atuam no sentido de propagar comportamentos pró-sociais. As próprias novelas supracitadas contribuíram para divulgação de papéis de gênero mais equilibrados ao levar para os interiores dos estados brasileiros, imagens típicas da realidade moderna das grandes cidades, onde a uma diversão menos rígida e tradicionalmente entre as funções desempenhadas por homens e mulheres. Sem dúvida, a mídia e as artes são hoje poderosos disseminadores de opiniões e verdadeiros agentes de socialização e seu peso na transmissão de estereótipos e preconceitos ainda não foi devidamente avaliado no que se refere a sua decisiva influência sobre nossos comportamentos e atitudes. Ameaça Estereotípica Steele (1992, 1997, 2004) e Steele Aronson (1995) chamaram atenção para um efeito do preconceito que, até então, não havia sido detectado. Trata-se, do que ele chama “ameaça estereotípica” e consiste, como já esboçamos anteriormente no item “estereótipos e atribuição“, no fato de pessoas de grupos alvo de atitudes preconceituosas, cientes dos estereótipos negativos que sustenta um preconceito, deixarem-se por eles influenciaram em seu desempenho. Se existe um estereótipo de que os negros apresenta um rendimento acadêmico inferior aos brancos, quando numa situação de desempenho acadêmico, as pessoas de raça negra ficam ansiosos devido ao estereótipo existente em relação a elas e acabou confirmar o estereótipo, desempenhando se de forma insatisfatória. Infelizmente, ha maneiras de neutralizar os efeitos da ameaça estereotípica. Uma delas é reforçar a ideia de que existem pessoas do grupo estereotipado que não confirmam o estereótipo. No caso dos negros de que falamos antes, chamar a atenção para existência de pessoas da raça negra que se destacaram nas artes, nas ciências e na política ajuda a diminuir o efeito da ameaça estereotípica. A Redução do Preconceito Diante do que vimos antes, é possível a criação de mecanismos eficazes para diminuir o preconceito? A resposta é sim. Acreditava-se que, aumentando-se o contato entre, por exemplo, na situação forçada de contato, acabaria prevalecendo uma interação pacífica inter-racial. O que se observou na prática, nos Estados Unidos, a partir da criação de escolas integradas em meados dos anos de 1950 (antes havia escolas só para brancos ou só para negros), foi um inesperado aumento de tensões e conflitos entre crianças brancas e negras. O curioso é que anos antes, observar uma notável diminuição do preconceito quando brancos e negros tiveram de ocupar moradias integradas. Após alguns meses de convivência, os moradores brancos desses projetos não segregados mostraram considerável aumento de atitudes positivas para com os negros. Qual a explicação para diferença entre esses dois episódios? O que se descobriu depois é que a simples interação não é suficiente. Ela tem dese dar no contexto de igualdade de status. Assim, o contato pode diminuir o preconceito, desde que se dê sob certas condições. A questão da interdependência mútua foi bastante estudada por Aronsom (1978), levando-o a criar o sistema de “quebra-cabeças” em salas de aula no início dos anos 1970. Ele desenvolveu um método de ensino que dava ênfase a cooperação. Pequenos grupos de estudos multirraciais eram organizados com suas tarefas de aprendizagem divididas como se fossem peças de um quebra-cabeça. Para aprender toda a lição, os alunos tinham de ouvir com atenção os seus colegas de grupo, já que cada um estudar e uma parte separadamente. A nota final dependia, pois, da colaboração entre todos. Após um início tumultuado, no qual as crianças tendiam a repetir seus padrões preconceituosos, sobrevinha uma mudança de rumo, no momento em que elas tomavam consciência da necessidade de ouvir o outro, em condições de igualdade e em prol de um objetivo maior. Este tipo de arranjo provoca também uma alteração perceptiva dos estereótipos. Normalmente, estereótipos já formados são bastante imunes a novas informações que os contradigam. No caso do quebra-cabeça, a partir do novo tipo de contato proposto os alunos acabavam reformulando suas percepções iniciais, desfazendo estereótipos.
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