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SOBRECARGAS Ao falarmos de sobrecargas no ECG, podemos nos referir tanto à hipertrofia quanto à dilatação das câmaras cardíacas, uma distinção que só será confirmatória pelo ecocardiograma. A hipertrofia refere-se a um aumento da massa muscular, sendo a maioria causada por sobrecarga de pressão, quando o coração é forçado a bombear sangue contra uma resistência aumentada, como nos pacientes com hipertensão sistêmica. Já a dilatação se refere ao aumento de uma câmara em particular, geralmente, por uma sobrecarga de volume, no qual a câmara se dilata a fim de comportar o volume aumentado de sangue, como em insuficiências valvares. Essas duas condições frequentemente coexistem, visto que ambas representam mecanismos que o coração encontra para aumentar o débito cardíaco. As alterações de sobrecarga no ECG podem ser visualizadas de três formas possíveis: A câmara pode levar mais tempo para se despolarizar, aumentando a duração da onda.- A câmara pode gerar mais corrente, aumentando assim a amplitude da onda.- Uma maior quantidade de corrente pode se movimentar através da câmara, desviando o eixo da onda (vetor elétrico médio).- SOBRECARGA ATRIAL Como a onda P representa a despolarização atrial, ela é utilizada para avaliar a sobrecarga atrial. Lembre-se que, as derivações que melhor analisam a onda P são DII e V1. Na despolarização atrial, normalmente o átrio direito despolariza primeiro (primeiro componente da onda P), seguido pelo átrio esquerdo (segundo componente da onda P), algumas vezes levando a um entalhamento fisiológico leve da onda P. O atraso na ativação dos átrios, levam a uma alteração no traçado da onda P. Atraso na condução atrial direita, devido à sobrecarga, pode levar a um aumento de amplitude; enquanto o atraso na condução atrial esquerda, aumento na duração, com a presença de uma onda P mitrale, pelo aumento da voltagem na porção terminal do componente da onda P. SOBRECARGA ATRIAL DIREITA SAD Ocorre aumento da amplitude, já a largura não se altera, visto que ocorreria pelo componente terminal da onda P que possui origem no átrio esquerdo. O quadro clássico de sobrecarga atrial direita é visto nas derivações DII e V1 e foi chamado de P pumonale, por ser causada, frequentemente, por acometimentos pulmonares graves. LARISSA RODRIGUES SANTOS ECG: SOBRECARGAS E BLOQUEIO DE RAMOS sexta-feira, 24 de setembro de 2021 14:06 Página 1 de CARDIOLOGIA Outro critério que pode se utilizar, menos sensível, mas mais específico, é a parte positiva da onda P em V1 > 1,5 mm de amplitude. Na sobrecarga atrial direita também podemos observar desvio de eixo para a direita. A causas para esse tipo de sobrecarga são: cardiopatias congênitas, como persistência do canal atrial, cor pumonale ou hipertrofia/dilatação do VD. Exemplo: Página 2 de CARDIOLOGIA Outro sinal indireto: Página 3 de CARDIOLOGIA - Aumento da amplitude do QRS em V2 em relação ao V1. SOBRECARGA ATRIAL ESQUERDA - SAE Essas alterações no ECG são mais aparentes nas derivações inferiores. Nesse quadro, a onda P é chamada de P mitral, devido a doença de válvula mitral ser a causa mais comum. O aumento da duração, expresso pelo alargamento da onda será observado em sobrecargas atriais esquerdas. Página 4 de CARDIOLOGIA Não é visto nenhum desvio significativo do eixo porque o átrio esquerdo é eletricamente dominante. Um sinal importante: - Avaliar em V1 a onda P, que fica com uma fase positiva podendo ser apiculada se tiver SAD, e na fase negativa se vê o sinal d e SAE, pois ela é Página 5 de CARDIOLOGIA - Avaliar em V1 a onda P, que fica com uma fase positiva podendo ser apiculada se tiver SAD, e na fase negativa se vê o sinal d e SAE, pois ela é lenta, menor que 0,04s e profunda, menor que 1mm (fase negativa lenta). - Onda P bifásica com fase negativa lenta e arrastada. - Pegar duração da onda P completa e divide pelo intervalo PR (onda P até o início do segmento ST), se for maior que 1,7, apres enta sinal de SAE. - Aplica-se no paciente com FC normal. - Verificar avaliação morfológica e confirma pelo índice de Morriz! Página 6 de CARDIOLOGIA - Valvopatia mitral O que apresenta: SOBRECARGA VENTRICULAR Para diagnóstico de sobrecarga ventricular, a análise do complexo QRS deve ser feito em muitas derivações, aplicando-se critérios que serão descritos posteriormente. SOBRECARGA VENTRICULAR DIREITA (SVD) É uma condição que pode aparecer em pacientes com hipertensão pulmonar, estenose pulmonar ou doença pulmonar grave e cor pulmonale. Há vários critérios diagnósticos que podem ser aplicados, porém não possuem sensibilidade e especificidade suficientes para serem utilizados como rastreio. Um deles é: - Desvio do eixo do QRS para entre +90° e +180°. Página 7 de CARDIOLOGIA Esse desvio reflete uma nova dominância do VD, que em geral é submisso do ponto de vista elétrico. Devido a isso, nas derivações precordiais direitas (V1 e V2) há aumento da amplitude da onda R e diminuição da onda S. Entretanto, algumas outras condições também podem levar a esse aumento na relação das onda R/S e, portanto, devem ser descartadas antes do diagnóstico de SVD, são elas: Um critério que também deve ser aplicado, além do desvio de eixo, para diagnóstico de SVD é: - Onda R em V1 + S de V5 ou V6 > 10,5 mm O padrão normal da progressão da onda R, no qual a amplitude dessa onda aumenta à medida que você progride de V1 até V5, é rompido. Ao invés de aumentar a amplitude da onda R, à medida que as derivações se movem para mais perto do VE, a amplitude diminui. É possível haver uma grande onda R em V1, que fica sobre o ventrículo direito sobrecarregado, e uma pequena onda R em V5 e V6, que ficam sobre um ventrículo esquerdo normal, porém, agora, eletricamente submisso. Do mesmo modo, a onda S em V1 é pequena, e a onda S de V6 é grande. - R em V1> 6 mm - Relação R/S em V1>1 - Relação S/R em V6> 1 Página 8 de CARDIOLOGIA Outro exemplo: SOBERCARGA VENTRICULAR ESQUERDA - SVE As condições que podem levar a SVE são insuficiência mitral ou aórtica sustentada (cargas de volume), cardiomiopatia dilatada ou cardiomiopatia hipertrófica e suas variantes. Vale lembrar que a sobrecarga atrial esquerda já é um sinal para SVE. Devido à dificuldade da corrente elétrica atravessar o VE sobrecarregado, a amplitude da corrente vai estar aumentada na SVE. Assim, três critérios principais se baseiam na amplitude são eles: - Critério Sokolow-Lyon: onda S em V1 + onda R em V5 ou V6 (onde for mais alto) ≥ 35mm Página 9 de CARDIOLOGIA - Critério de Cornell: onda R em aVL + onda S em V3 > 28 mm em homens e > 20 mm em mulhere. - Escore de Romhilt-Estes: um sistema de pontuação, em que 4 pontos indica uma SVE provável, sendo diagnóstico com 5 pontos. - Eixo normal ou desvio para esquerda. - Onda S bem profunda - V6 positivo, aumenta a amplitude Página 10 de CARDIOLOGIA - Principalmente V5 e V6, as vezes D1 e aVL - Segmento ST com desnivelamento - Onda T negativa - Verificação de parede lateral - Sugestivo de SVE - Aprece em miocárdios bastante hipertróficos Representa a medida do tempo de aparecimento da deflexão intrinsecóide, ou seja, a medida, em tese, do tempo gasto para que o impulso despolarizante percorra toda a espessura do ventrículo esquerdo; estende-se do início do complexo QRS até o pico da onda R (figura acima e à direita). Página 11 de CARDIOLOGIA - Acima de 30mm é sinal de SVE - Não confundir com SVE, pois é um distúrbio neurológico! Página 12 de CARDIOLOGIA - Uma mistura dos dois critérios! BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR (BAV) Apesar da frequência sinusal ser normal, os BAVs podem causar bradicardia e exigir o implante de marcapasso. É diagnosticado por meio da relação entre a onda P e os complexos QRS. Ocorrem em primeiro, segundo e terceiro graus. Está no nó AV ou no feixe de His, sendo o maior problema, o atraso da condução do átrio para o ventrículo. BLOQUEIO PRIMÁRIO É um achado comum em coraçõesnormais, mas também pode ser um sinal precoce de doença degenerativa do sistema de condução. Localiza-se mais frequentemente no só AV, podendo estar associado a processos inflamatórios, isquêmicos ou farmacológicos, geralmente reversíveis. Está associado a um aumento do risco de fibrilação atrial. Para ser preciso, o bloqueio de primeiro grau é mais caracterizado como um retardo prolongado na condução pelo nó AV ou feixe de HIS (o ECG não consegue distinguir entre ambos). A onda de despolarização fica um tempo maior no nó AV, como resultado, ocorre um prolongamento do intervalo PR (tempo entre o início da despolarização atrial e a da ventricular). O diagnóstico de bloqueio AV de primeiro grau requer: - Intervalo PR > 0,02 s, fixo - Onda P sucedida por um QRS Atraso na condução da onda P, e todo estímulo do átrio vai passar para o ventrículo! Página 13 de CARDIOLOGIA BLOQUEIO DE SEGUNDO GRAU - Presença de onda P que não conduz QRS Mobitz Tipo I O fenômeno de Wenckbach é quase sempre devido a um bloqueio dentro do nó AV. tipicamente se localiza no nó AV. Seu diagnóstico exige: - Presença de onda P que não conduz QRS - Aumento gradual do intervalo PR (fenômeno de W.) - Após onda P que não conduz, PR encurta novamente - Onda P não passa para o ventrículo. Mobitz Tipo II Esse tipo de bloqueio atrioventricular é caracterizado como uma bradicardia maligna, no qual os intervalos PR são constantes, porém chega uma hora que a onda P é bloqueada. Para o diagnóstico é necessário: - Presença de onda P que não conduz QRS - Intervalos PR constantes - Caso mais avançado de bloqueio AV BAV 2:1 Nesse caso, as ondas P conduzidas e não conduzidas aparecem de forma alternada. Entretanto essa uma classificação mais difícil, pois a onda T pode acabar sendo interpretada como uma onda P. Assim, é difícil sua diferenciação de um BAVT. Para definir se esse tipo de BAV é benigno ou maligno, deve-se verificar a resposta do paciente a atropina. Caso seja reversível na presença da droga, é considerado benigna, caso não, maligna. Página 14 de CARDIOLOGIA BAV 3:1 - A cada 3 passa o estímulo BAV de alto grau ou avançado É também considerada uma bradicardia maligna. Para seu diagnóstico: - 2 ou mais ondas P não conduzidas consecutivas BLOQUEIO AV TOTAL BAVT Ocorre ausência de condução entre os átrios e os ventrículos. Porém, vale salientar que dissociação AV não é sinônimo de BAVT. A localização do bloqueio de terceiro grau é quase sempre na junção atrioventricular na forma congênita e no feixe de His e nos ramos do sistema His- -Purkinje na forma adquirida. Nos casos, “pré-hisianos”, manifesta-se com QRS estreito e frequência ventricular mais alta; nos casos “pós-hisianos” manista-se com frequência mais baixa e QRS largo. Página 15 de CARDIOLOGIA Essa condição também ocorre em taquicardia ventricular: - Nenhuma onda P conduz QRS - Intervalo entre as ondas P constantes BLOQUEIOS Alteração na condução do estímulo abaixo do Feixe de His. 1º parte: gera um vetor para direita 2º vetor: despolarização em direção apical. 3º vetor: voltado para esquerda e para cima e grande por conta da grande massa (vetor resultante mais importante, está ao contrário e gera uma grande onda negativa). 4º vetor: parte dorsal (isoelétrico ou pouco negativo s'). Ou seja, ela segue, direita, apical, esquerda e parte dorsal. Página 16 de CARDIOLOGIA BLOQUEIO DE RAMO ESQUERDO - BRE Nesse caso, é a despolarização do ventrículo esquerdo que está retardada. A incidência do BRE aumenta com a idade, tendo correlação com diversas cardiopatias e com subgrupos de alto risco cardiovascular. As possíveis causas são cardiopatia isquêmica, cardiopatia hipertensiva e miocardiopatia dilatada. Despolariza todo VD primeiro e depois despolariza VE tardiamente. Quando o bloqueio é muito alto, o estímulo é lento e demora demais para ocorrer a despolarização. Página 17 de CARDIOLOGIA Assim, no BRE o QRS está alargado ≥ 0,12s. O complexo QRS em condições normais, nas derivações do ventrículo esquerdo (DI, aVL, V5 e V6), apresentam as ondas R altas pela despolarização do maciço ventrículo E. No BRE, pelo retardo na despolarização, haverá um acentuado prolongamento na elevação das ondas R nas derivações do VE, provocando um topo alargado ou entalhado. Assim, pode-se visualizar um padrão R puro em V6. As derivações do ventrículo direito (V1 e V2) irão mostrar ondas S recíprocas profundas e largas, podendo aparecer o padrão rS ou qS em V1. Por ser tão dominante, o ventrículo E pode desviar o eixo para esquerda. Um exemplo: Um exemplo associado com taquicardia supraventricular: Página 18 de CARDIOLOGIA BLOQUEIO DE RAMO DIREITO Nesse tipo de bloqueio, a condução pelo ramo direito está obstruída. Pode decorrer de situações como cardiopatia isquêmica, cardiopatia chagásica associado a bloqueio divisional antero-superior (BDAS) e hipertensão pulmonar. Assim, no BRD o paciente cursa com uma despolarização ventricular direita retardada, se expressando com um QRS alargado ≥ 0,12s. No bloqueio do ramo direito, ainda é possível ver as ondas R e S iniciais quando o ventrículo esquerdo se despolariza, mas, à medida que o ventrículo direito começa a sua despolarização tardia, sem oposição pelo ventrículo esquerdo agora totalmente despolarizado e eletricamente silencioso, o eixo elétrico se desvia agudamente para a direita. Isso inscreve uma segunda onda R, chamada R’, nas derivações V1 e V2. Todo o complexo é chamado RSR’ (R-S-R linha), com uma forma parecida a de orelhas de coelho. Os critérios que podem ser analisados são: Página 19 de CARDIOLOGIA Os critérios que podem ser analisados são: - Onda S mais alargada Um exemplo: - Batida normal, bloqueio, batida normal BLOQUEIO DIVISIONAL ÂNTERO-SUPERIOR - BDAS Página 20 de CARDIOLOGIA - Não alarga o QRS, mas muda sua forma - R pequeno e S grande em D2, D3 e aVF nas derivações que exploram a parede inferior do coração - S mais profundo que D3, aVF e D2 - Em V5 e V6 se começa pelo RS, com ausência de Q - Apresentará as características dos dois bloqueios! BLOQUEIO DIVISIONAL PÓSTERO-INFERIOR BDPI Página 21 de CARDIOLOGIA - Largura do QRS dentro da normalidade - Desvio de eixo para direita, com D1 negativo - Q pequeno e R grande em D2, D3 e aVF (parede inferior) - Onda R de D3, maior que a onda R de D2 BLOQUEIO DIVISIONAL ÂNTERO-MEDIAL BDAM - QRS dentro da normalidade - Ondas R amplas e cresce de V1 a V4 e diminui de V5 a V6 (menor amplitude) - Salto da onda r em V1 para V2 (R pequeno e S grande em V1 e R grande em V2) Página 22 de CARDIOLOGIA
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