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Anne Karen Reis IMUNOLOGIA Imunologia da Sepse INTRODUÇÃO Disfunção orgânica potencialmente fatal causada por uma resposta inflamatória desregulada a uma infecção. Ou seja, a sepse não é a infecção em si, mas sim um quadro que se instaura a partir de uma resposta imune exagerada que gera disfunções de forma sistêmica. Sepse grave não existe. Choque séptico → sepse com quadro clínico desbalanceado mesmo após reposição volêmica adequada. A ocorrência de sepse depende da predisposição do paciente, do agente infeccioso, da resposta inflamatória inadequadamente modulada e, por conseguinte, da instauração da disfunção orgânica. Além dessa predisposição individual, favorecem o aparecimento do quadro séptico infecções que atingem os órgãos vitais e se disseminam pelo corpo, além de situações de pacientes em quimioterapia, intubados, internados em UTI e que possuem as comorbidades relacionados ao qSOFA. Qualquer agente infeccioso pode desencadear um quadro séptico. DIAGNÓSTICO DA SEPSE Infecção provável ou presumida + disfunção orgânica. Disfunção orgânica → 2 ou mais pontos na SEQUENTIAL ORGAN FAILURE ASSESSMENT ou SOFA. Foi criado um outro score mais específico e menos sensível para fins de triagem, o Quick SOFA. QSOFA • Frequência respiratória maior ou igual 22 irpm; • Alteração do nível de consciência com escala de coma de Glasgow menor ou igual a 13; • Pressão arterial sistólica (PAS) menor ou igual a 100 mmHg. Sepse = Infecção + 2 ou mais pontos OU Infecção + 1 + comorbidade (acima de 65 anos, ICC, DPOC, IRA ou imunossupressão). Se qSOFA der zero, mas o paciente tem sinais de gravidade clínica, como toxemia intensa, má perfusão, hipotensão sem causa aparente, oligúria, etc., deve ser tratado como se fosse sepse até que se prove o contrário. OU SEJA Sepse = infecção comprovada ou presumida + qSOFA maior ou igual a 2 ou 1 com comorbidade ou zero com sinais claros de gravidade clínica. O SOFA deve ser feito após isso. CHOQUE SÉPTICO • Pacientes que tem maior risco de morte; • São aqueles que mesmo com intensa reposição volêmica, se mantém com PAM abaixo de 65 mmHg e/ou lactato acima de 2 mmol/L, necessitando de vasopressina. FISIOPATOLOGIA DA SEPSE Qualquer agente infeccioso tem a capacidade de desencadear uma resposta inflamatória. Os patógenos induzem a ativação de endotélio e macrófagos, que irão produzir as principais citocinas inflamatórias (como IL-1, IL-6 e TNF alfa). Vão promover a ativação de complemento, vasodilatação periférica, início da cascata de coagulação, produção de hepatoglobulina, aumento da permeabilidade capilar, entre outros. Quando esse processo ocorre de forma exagerada e mal modulada, tem-se a instauração da sepse. Anne Karen Reis IMUNOLOGIA DANO VASCULAR O processo de recrutamento e diapedese de leucócitos ocorre de forma exagerada, criando instabilidade vascular e extravasamento de líquido para terceiro espaço. Ocorre o excesso de passagem de células pelos vasos, o que libera espécies reativas de O2 e enzimas, contribuindo para disfunção endotelial e de múltiplos órgãos. A ativação da cascata de coagulação de forma desenfreada (por meio da expressão de fator tecidual e inibição de fibrinólise), leva à produção de microtrombos, gerando oclusão de microvasculatura. As citocinas promovem uma vasodilatação, reduzindo o fluxo sanguíneo. Conclusão Todo dano vascular culmina na perpetuação da hipóxia e no extravasamento de líquido, reduzindo a volemia do paciente e na formação de microtrombos que entopem os vasos. Esse processo gera dano celular que induz ao aumento das cadeias inflamatórias, formando um ciclo que se auto alimenta. Em última instância, o paciente evoluirá com hipovolemia. HIPOVOLEMIA A hipovolemia é resultado de muitos processos. 1. Desidratação provocada por vômitos, diarreia, taquipneia, etc. 2. Aumento generalizado da permeabilidade vascular. 3. Aumento da capacitância venosa. 4. Desvio hepático de síntese proteica. Aumento da capacitância venosa Ela é induzida pela vasodilatação, que aumenta a quantidade de sangue que os vasos são capazes de suportar. Isso diminui a resistência vascular periférica. Com a resistência diminuída (e somado a outros fatores), haverá diminuição de retorno venoso e, por conseguinte, de débito cardíaco. Como a pressão sistólica = Débito Cardíaco x Resistência Vascular Periférica, para que o corpo não entre em hipotensão e choque cardiogênico, se o paciente não tiver DCV, no início ele irá compensar isso e, apesar da hipovolemia, se manterá com DC normal. Desvio hepático de síntese proteica O fígado fica encarregado de produzir grande parte das citocinas que o sistema imune demanda. Com isso, ele passa a produzir muita citocina e deixa de lado a produção de albumina. Isso reduz a pressão oncótica plasmática em detrimento da pressão hidrostática, culminado em mais extravasamento de líquido. Conclusão A hipovolemia será mediada por perda da resistência vascular periférica, diminuição de pressão oncótica, desidratação e perda de líquido para 3º espaço. Isso resultará em um paciente hipotenso com, inicialmente, DC normal, tanto por aumento de trabalho cardíaco quanto por aumento de resistência vascular pulmonar, quando chamado padrão hiperdinâmico. Com a evolução, ocorre depressão miocárdica e o choque séptico pode mimetizar um choque cardiogênico. Todo esse processo resultará numa diminuição do aporte de O2 generalizada, gerando um processo sistêmico de falência tecidual. O corpo passa, então a buscar diversas fontes de energia. HIPÓXIA Nas fases iniciais da sepse, devido ao aumento da demanda de ATP, o corpo começa a ativar várias vias energéticas. Há intensa glicogenólise. Com a evolução do quadro, ocorre lipólise e catabolismo proteico. Há então, perda de massa muscular e aumento da excreção de nitrogênio urinário. Conforme a hipóxia progride, o paciente entra em desequilíbrio intenso de oferta e demanda de O2, ao passo que a demanda aumenta por causa de intensa resposta inflamatória, a oferta diminui devido à ação já descrita das citocinas e devido à presença do fator depressor miocárdico. Isso reflete em isquemia e formação de lactato. Anne Karen Reis IMUNOLOGIA Ocorre desvio da glicólise para via anaeróbia devido à carência de O2 para a realização de respiração celular. Essa via culmina na formação de lactato, um importante marcador de má perfusão e hipóxia tecidual. Conclusão Com isso, entende-se que a produção exagerada de citocinas irá induzir: 1. Injúria endotelial 2. Instabilidade vascular 3. Oclusão de microvasculatura 4. Extravasamento de líquido e aumento de permeabilidade 5. Hipovolemia 6. Hipóxia 7. Produção de lactato MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Microcirculação: diminuição da perfusão. Coração: depressão cardíaca que piora em paciente já cardiopatas. Pulmão: ocorrem edemas intersticial e alveolar e SDRA. Rins: ocorre injúria pré-renal devido hipovolemia, gerando oligúria. Além disso, há elevação das excretas nitrogenadas. TGI: com o desvio de fluxo sanguíneo, ocorre diminuição de motilidade e alterações na microbiota, que podem levar à dificuldade de nutrição e translocação bacteriana. Fígado: hiperbilirrubinemia. SNC: rebaixamento do nível da consciência e, em mais graves, encefalopatia e neuropatia periférica. Coagulação: ocorre aumento e formação de microtrombos. LABORATÓRIO Devido a todos esses fatores, no diagnóstico e acompanhamento da sepse, é necessário buscar por marcadores que envolvam cada um dos danos múltiplos que ocorrem ao longo da instauraçãodo quadro séptico. • Para avaliar respiração, usa-se o índice PaO2/FlO2; • Coagulação → usa-se contagem de plaquetas; • Para dano hepático, se avalia a bilirrubinemia; • No coração, se avalia a PAM. A PVC pode ser usada para avaliar reposição volêmica, mas a mais usada é a pressão do capilar pulmonar. • SNC → Glasgow; • Dano renal → dosagem de creatinina; • Marcador de hipóxia → Lactato
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