Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Projeto Pós-graduação Curso Educação ambiental e sustentabilidade Disciplina Educação para a sustentabilidade ambiental Tema Relações Sociais Urbanas - Brasil Colônia Professor Dra. Odete Lopez Lopes Introdução Para discutirmos a necessidade de ações educativas de cunho ambiental atualmente, necessitamos conhecer dados históricos que justifiquem as escolhas dos dirigentes, dos políticos e da população ao longo da história brasileira. Nesse tema, trataremos da forma como o Brasil foi colonizado, como surgiram as vilas e cidades em nosso país e como os acontecimentos internacionais interferiram no período colonial. Esses assuntos serão trabalhados por meio de subtemas desenvolvidos cronologicamente, de forma a contemplar desde os acontecimentos que precederam o descobrimento do Brasil até o final do Século XVIII, nos anos que antecederam o fim do período colonial. Vídeo: Antes de começar, acesse o material on-line e confira o vídeo introdutório da professora Odete! Problematização Acompanhe a história a seguir, a respeito das mudanças a que as populações estão sujeitas. Fique atento à questão lançada ao final. João mora no estado do Paraná, na cidade litorânea de Antonina. Sua família reside no local há muitos anos. Seus avós maternos, descendentes dos índios guaranis, nasceram em Guaraqueçaba, um município vizinho, e se mudaram para cá quando ainda eram crianças. Seu pai veio de Araucária, cidade do primeiro planalto paranaense, e pouco sabe da história de sua família. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Antonina é uma cidade localizada na baía de mesmo nome, inserida na Baía de Paranaguá, que é um estuário que recebe água de muitos rios da encosta leste da Serra do Mar. Dentro da Baía de Paranaguá, encontramos além da baía onde João mora, as baías de Pinheiros e de Guaraqueçaba. Atualmente, Paranaguá e Antonina são cidades portuárias e grande parte da população se beneficia dos recursos da exportação. Ao andar pela região central de sua cidade, João observa uma grande praça, ladeada por alamedas repletas de casarios coloniais e, no alto, uma Igreja Católica. Ele pensa: “como esta construção se destaca quando vista do estuário”, e se pergunta: “como era a vida dos primeiros moradores deste local? Quais dificuldades eles encontraram?” Qual será a resposta às perguntas feitas por João? Resumindo: qual a melhor maneira de buscar informações sobre a origem de uma localidade? Não é necessário responder agora. Estude todo o material desse tema e, ao final, você estará apto a ajudar João a obter uma resposta. Ocupação de um novo território Como e por que surgiram as primeiras aglomerações humanas no Brasil? No final do Século XV, esquadras partiram de Portugal e da Espanha à procura de novas rotas comerciais e marítimas. Cristóvão Colombo e outros navegadores localizaram novas terras e as duas cortes travaram, então, conflitos no sentido de garantir a posse delas. Após muito conflito, em 7 de junho de 1494, em uma reunião em Tordesilhas, na Espanha, os embaixadores espanhóis e portugueses estabeleceram que uma linha localizada à 370 léguas (1.900 quilômetros) a oeste do Cabo Verde dividiria as áreas de domínio. O domínio português seria a oriente desta linha (leste) e o domínio espanhol a ocidente desta linha (oeste). O papa Júlio II conseguiu afirmar este acordo apenas em 1506. Apesar de existirem mapas indicando diferenças nos domínios e divisas do território brasileiro, o registro mais comum decorrente do Tratado de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Tordesilhas indica uma linha entre Belém, no Pará, e Laguna, em Santa Catarina. Vídeo: Para ver essa divisão estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, acesse o material on-line e confira o vídeo da professora Odete! Século XVI – Sobrevivência e subjugação Logo após Pedro Álvarez Cabral ter chegado à costa brasileira, houve necessidade de ocupar o território português. Em 1534, o território brasileiro foi dividido em quinze Capitanias Hereditárias, longas faixas do litoral até os limites do Tratado de Tordesilhas. O Rei de Portugal escolheu onze donatários e distribuiu entre eles as capitanias. O donatário tinha o direito de utilizar a terra doada e era responsável pela organização de atividades lucrativas. As capitanias podiam passar de pai para filho, porém não podiam ser vendidas, pois a posse das áreas continuava com a Coroa Portuguesa. Em nosso país, as raras cidades criadas no Século XVI originaram-se como consequência do processo medieval-renascentista da Europa que acontecia no continente e do regime dominante das Capitanias Hereditárias. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Veja, na tabela a seguir, as vilas e cidades fundadas no Século XVI. Fonte: adaptado de Azevedo (1994). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Como você pode ver, os primeiros povoados no Brasil datam do início do século XVI. Em Pernambuco, a partir de 1527, surgiu o povoado de Igaraçu, em 1530 surgiu Olinda e, em 1531, surgiu Recife. Em São Paulo, data de 1532 o início dos povoados de São Vicente e de Itanhaém. Em 1535 surgiu Vitória, no Espírito Santo. Entretanto, as únicas capitanias que conseguiram se desenvolver no primeiro século da colonização foram a de São Vicente e a de Pernambuco. Os donatários das capitanias não tinham o direito de fundar cidades, pois essas teriam natureza independente e seriam submissas diretamente à coroa portuguesa. Para que a fundação de Salvador fosse possível, por exemplo, as terras da Capitania da Bahia foram revertidas à Coroa. Ao final do Século XVI existiam no Brasil catorze vilas e três cidades. Uma colônia unificada foi constituída em 1549 quando as capitanias foram unidas e administradas por um governador-geral. A sede do novo governo foi criada na baía de Todos os Santos, sob o nome de Salvador, a primeira capital do Brasil. Os donatários edificavam seus povoados ao longo da costa, em lugares convenientes para sua defesa. Esses locais eram protegidos por forte artilharia para a defesa contra os inimigos que chegassem tanto por terra quanto por mar. Esses núcleos urbanos fortificados eram, entretanto, protegidos por paliçadas simples e muros de taipa, onde a população civil buscava abrigo. São Vicente (em São Paulo), por exemplo, tinha o aspecto de uma típica aldeia portuguesa do Século XVI. Possuía um estaleiro rudimentar para consertos e construções de navios e uma torre de defesa de pedra. Os habitantes de origem europeia cultivavam, para seu sustento e para vender aos navios de passagem, mantimentos nativos e verduras europeias. Seus habitantes também criavam galinhas e porcos. Por séculos, o Brasil se manteve como um país essencialmente agrícola. Sinais de urbanização surgiram também no nordeste brasileiro, mais especificamente no Recôncavo Baiano e na Zona da Mata. O desenvolvimento de Salvador, por exemplo, foi influenciado por sua característica exótica e surgiu CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 como uma marca do poder imperial na Colônia. Seu desenvolvimento influenciou tanto a criação de vilas em outras localidades do território nacional quanto de cidades em outros pontos da América do Sul. Em torno dos núcleos urbanos, surgiam as roças e os engenhos de açúcar, onde foram criados os povoamentos rurais. O colono lavrava a terra e defendia sua fazenda de armas na mão contra o índio. Vídeo: Para entender como era a estrutura das vilas e cidades brasileiras no início da colonização, acesse o material on-line e confira o vídeo da professora Odete! Política e economia internacional As monarquias absolutistas europeias tinham atingido seu auge graças aos elevadostributos cobrado da população. Nesta época, os membros das cortes viviam uma vida luxuosa, elegante e próspera. O povo, por outro lado, sofria fome e miséria em decorrência das últimas guerras que devastaram a Europa. Visando alcançar objetivos mercantilistas e com a esperança de que as colônias contribuíssem para a prosperidade dos reinos, os Estados europeus apoiaram o início da colonização das Américas. Os colonizadores buscavam nas colônias ouro e prata, para vendê-los na Europa, África e Ásia. Os espanhóis os encontraram em abundância no México e no Peru. Graças aos metais das Américas, a Espanha se transformou na maior produtora de prata do mundo. Portugal encontrou no Brasil um clima tropical e solos férteis para a produção de cana-de-açúcar e deteve o monopólio do açúcar, vendendo-o para os outros países europeus. As colônias atendiam aos interesses da metrópole, que tinha como principal objetivo obter os maiores benefícios possíveis. Além dos produtos extraídos e vendidos no mercado europeu, as metrópoles lucravam com os próprios colonos, que eram consumidores dos produtos que importavam para seu consumo. O Brasil, por exemplo, só podia comercializar com Portugal. Por fim, os moradores das colônias tinham que pagar impostos para a metrópole. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Os líderes da metrópole (rei, nobres e comerciantes), por sua vez, não estavam interessados nas péssimas condições de vida dos colonos, nem em buscar formas para que a economia local prosperasse ou se tornasse independente. Para colonizar o Brasil, Portugal enfrentou um grave problema. Como conseguir mão de obra? Portugal possuía cerca de um milhão de habitantes na época. Com uma população tão pequena, como ocupar um território tão amplo como o do Brasil? A solução dada pelos portugueses foi fazer com que os índios trabalhassem para o seu benefício. As pessoas dessa população se tornaram os primeiros escravos do Brasil e, durante o Século XVI, foram uma população maior que a de escravos negros. Em contraste, na Europa, a maioria da população morava no campo, trabalhava na terra e pagava tributo aos senhores feudais. As pessoas que viviam em cidades, por outro lado, passaram a receber informações de terras distantes e a conviver com produtos exóticos. A invenção da imprensa estimulou a alfabetização dos europeus e os novos livros descreviam os novos mundos. A mente europeia se abriu para novos horizontes e estabeleceu um contraste com a visão de mundo medieval, estabelecendo o início do período denominado de “Renascimento”. Neste período, surgiram os “humanistas”, que eram estudiosos de Filosofia, Artes e História (da Grécia e Roma antigas). Entendiam que a cultura clássica representava o modelo de respeito pelas qualidades superiores do ser humano. Século XVII - Aldeias de tapuias O trabalho missionário jesuítico foi de influência bastante importante na urbanização brasileira. Os missionários deslocavam-se das cidades até os povoados indígenas próximos no intuito de evangelizar. Entretanto, as primeiras CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 tribos evangelizadas eram litorâneas e apresentavam o comportamento nômade, não resultando em um trabalho eficiente de conversão para a fé cristã. O padre Manoel da Nóbrega, então, propôs a criação de aldeias, ou reduções indígenas, onde diferentes populações indígenas seriam reunidas com o objetivo de estarem sujeitas a uma rotina diária e permanente de ensinamentos cristãos. A partir de século XVII, índios eram trazidos dos sertões para as proximidades da cidade para compensar o decréscimo demográfico das aldeias. Como a redução no número de índios era constante, os missionários começaram a se deslocar em direção ao interior para encontrar novas tribos e lá estabeleceram novos povoamentos. A primeira citação da existência de aldeias no sertão data de 1667 e, em 1679, as chamadas “aldeias de tapuias” já apareciam nos “catálogos” jesuítas. Vídeo: Acesse o material on-line e confira o vídeo da professora Odete! Ela vai tratar das características dos índios brasileiros. A partir do século XVII, a compra de escravos africanos se intensificou. O número de escravos indígenas já não era o suficiente para atender a demanda de trabalho, assim os colonos brasileiros simplesmente compravam escravos negros dos traficantes africanos. Por outro lado, a Igreja Católica na época, contribuiu para o aumento da escravidão negra, já que não se opunha a ela enquanto combatia a escravidão indígena. Ao final do Século XVII, as fronteiras do território brasileiro já eram semelhantes às atuais e possuíamos dez cidades ao todo. O eixo econômico, social e demográfico da colônia deslocou-se para o leste, graças ao ciclo do ouro e das pedras preciosas. O Rio de Janeiro se tornou o centro da vida colonial, em detrimento da cidade de Salvador. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Revolução científica Os pensadores do século XVII questionaram o conhecimento tradicional e duvidaram dos ensinamentos dos gregos, dos romanos e daqueles transmitidos pela Igreja. A experimentação e observação racional dos fenômenos passaram a ser valorizados. A forma de se entender o que é ciência e a forma de fazê-la mudaram, ocorrendo o que foi denominado “Revolução Científica”. Surgiu a Ciência Moderna, com base numa metodologia denominada “método científico”, que tem as seguintes etapas: 1. Observação de um fenômeno. 2. Esboço de uma hipótese. 3. Teste da hipótese por meio de repetidas etapas de observação ou de experimentação. 4. Registro dos dados obtidos para comparações futuras. Análise dos dados para gerar uma conclusão. 5. Novos questionamentos, novas hipóteses, novos registros de dados, análises e novas conclusões. Um estudo realizado pelo método científico deveria ser esboçado de tal forma que outro pesquisador pudesse repeti-lo de forma exatamente igual, seguindo todos os passos descritos pelo primeiro pesquisador. Esse método utilizado pelos cientistas até hoje. Desde Aristóteles, estudioso grego, os cientistas acreditavam que fazer ciência era descrever a realidade, ou seja, era relacionar as plantas de uma floresta, descrever como se deslocavam os cavalos, relacionar os insetos que viviam em uma determinada árvore. A partir desta época, além da Ciência Descritiva, consolidou-se a importância do relacionamento entre os diversos fenômenos, o que permitiu o esboço de previsões. Uma conclusão obtida pelo método científico podia ser CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 utilizada para testar fenômenos em locais novos, sob novas condições, o que permitiu o rápido avanço do conhecimento científico. Sendo assim, concluíram que a natureza é regular e harmoniosa e segue leis que independem da localidade ou da época. Por consequência, os conhecimentos científicos gerados desestabilizaram o poderio religioso da igreja da época. Os novos conhecimentos permitiram a percepção de que os fenômenos ultrapassavam a vontade de Deus. Os principais responsáveis pela revolução científica foram Galileu, Descartes, Francis Bacon e Newton, que você conhecerá melhor na sequência. Galileu Galilei (1564-1642) O físico e astrônomo italiano Galileu Galilei adotou três princípios: 1. A tradição e a religião não são fontes do conhecimento científico, ou seja, aprender era contestar o que todo mundo achava, era ser crítico. 2. As fontes do conhecimento científico estavam na experiência e na observação. Para tornar mais precisa a observação, Galileu utilizou instrumentos óticos em seus estudos. Ele aperfeiçoou o telescópio, descobriu as manchas solares e os satélites de Júpiter. 3. A linguagem da ciência era a matemática, que permitiu a medição de quantidades de massa, peso, temperaturae a estimativa de velocidade e aceleração, por exemplo, além da análise de dados quantitativos e estabelecimento de suas relações. Quando Galileu apoiou as ideias heliocêntricas de Copérnico (1473- 1543), que afirmava que os planetas inclusive a Terra girava ao redor do Sol, e quando ele descobriu as manchas solares; afrontou os conhecimentos divulgados pela igreja (tanto a Católica quanto a Protestante), que consideravam que Deus criou um Universo perfeito (sem manchas) e de que a Terra era o centro do Universo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Galileu foi, então, levado ao Tribunal da Inquisição. Ele só não morreu neste julgamento porque, pouco antes de os juízes determinarem que ele fosse queimado vivo em uma fogueira, culpado pelo crime de heresia, ele afirmou tratar-se de uma teoria. René Descartes (1596-1650) O matemático, físico, astrônomo, músico e militar René Descartes pesquisou sobre Medicina e foi o mais importante filósofo de Século XVII. Ele acreditava que era possível deduzir as verdades. Na dedução, é possível inferir que uma verdade conduz a outra. Segundo Descartes, para se conhecer o Universo basta a razão e a capacidade de raciocínio. A representação gráfica em três dimensões foi criada por ele e hoje é denominada Representação Cartesiana. É deste matemático, também, a criação da Geometria Analítica, que permite representar linhas e curvas através de gráficos e funções matemáticas como a função y=ax+b que representa a reta ou y=ax2+bx+c que representa uma parábola. O racionalismo cartesiano supervalorizava o raciocínio matemático e os seus seguidores acreditavam que tudo podia ser escrito em linguagem matemática. Francis Bacon (1561-1626) O inglês aristocrático Francis Bacon acreditava que a base de todo o conhecimento era a experimentação e que com um raciocínio chamado de indução (que eram os resultados particulares, obtidos sempre a partir de uma experimentação) poderia se chegar às verdades universais. Isaac Newton (1642-1727) O físico e matemático inglês Isaac Newton se valeu do método elaborado por Galileu, Descartes e Bacon e com ele descreveu as Leis Fundamentais da Mecânica, a composição da luz branca e a Lei da Gravitação Universal. Aprofunde-se no conhecimento histórico relacionado com os precursores da ciência atual estudando a atuação no Século XVII de Kepler na Astronomia; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Boyle, Amonstons e Pascal na Física; Napier, Oughtred, Fermat, Pascal, Walli, Newton e Leibniz na Matemática; Hooke, Serveto, Harvey e Redi na Biologia. Século XVIII – Salvador x Rio de Janeiro Em 1755, foram promulgadas leis que diminuíram o domínio dos religiosos sobre as terras e as populações indígenas, concedendo plena liberdade a eles. As aldeias indígenas se transformaram em vilas e povoados não administradas pelos missionários, o que permitiu uma flexibilização dos costumes portugueses. Para compensar o despreparo dos índios para a vida civil, os representantes eleitos da Câmara podiam ser analfabetos, porém os escrivães, preferencialmente índios ou portugueses casados com índias, tinham que ser alfabetizados, demonstrar inteligência e conhecer os procedimentos processuais. Cada povoamento deveria ter um juiz, três vereadores, um alcaide (prefeito) e um porteiro. Uma casa deveria ser designada para ser a cadeia e outra para as conferências da câmara e do juiz, entretanto a casa do pároco não deveria ser utilizada para este fim. No lugar destinado à praça do povoado, seria levantado um pelourinho para a exposição e punição dos criminosos. Com uma expansão urbana intensificada na segunda metade do século, trinta e sete vilas novas foram criadas, elevando para cinquenta e uma as vilas brasileiras. As vilas se proliferaram ao longo do litoral, principalmente em dois trechos: entre a cidade de Paraíba e a vila de Ilhéus e entre a vila de Vitória e o norte do litoral Catarinense. Duas foram as principais concentrações urbanas: a região baiano- pernambucana, que tinha como base econômica o açúcar, e a região paulista- fluminense, onde a economia estava voltada à criação de gado e aos engenhos de açúcar no trecho fluminense e à obtenção de mão de obra indígena no trecho paulista. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 No início da ocupação do território nacional, o processo de urbanização se concentrou no litoral norte em direção à região amazônica. Dados históricos indicam que, em 1720, já existiam sessenta e três vilas e oito cidades distribuídas pelo território nacional. Veja na tabela a seguir as vilas e cidades criadas no território brasileiro até 1720: Fonte: Santos (2008). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 O sistema social na colônia foi influenciado pela organização político- administrativa do governo-geral e das capitanias e pela organização dos próprios municípios. As atividades econômicas rurais (de exportação e de subsistência) incluíam os trabalhadores, os escravos e os senhores das propriedades. As atividades econômicas estritamente urbanas (comércio, ofícios mecânicos, funcionalismo e mineração), por sua vez, incluíram diferentes atores sociais. A urbanização libertou-se da orla atlântica e se expandiu em direção ao planalto brasileiro e à região amazônica. Os fatores determinantes para esta expansão foram o Bandeirismo, o povoamento da Chapada Diamantina e do vale do São Francisco, a expansão pastoril do sertão nordestino, a obra dos missionários na Amazônia e a influência da conquista de caráter militar no extremo sul. No Século XVIII, inicia-se a primeira revolução urbana. O senhor de engenho ou o fazendeiro passa a residir na casa da cidade e só retorna à área rural na época do corte da cana ou de colheita. Vídeo: Acesse o material on-line, assista ao vídeo da professora Odete e entenda como se deu a ocupação do interior do território brasileiro. Quilombos Os negros também resistiram contra a escravidão nos quilombos, que eram locais de moradia e de esconderijo para aqueles que conseguiam fugir. Esses locais abrigavam até milhares de pessoas, a maioria ex-escravos, mas também eram encontrados índios, homens e mulheres livres e pobres. Os quilombos ficavam protegidos em meio à floresta e eram liderados por um rei, que podia ser escolhido entre as pessoas da comunidade. Possuíam habitações, áreas de plantação e de criação de animais. Nestes locais, não havia nenhum grande proprietário. Todos trabalhavam e não havia diferenças sociais acentuadas como na colonização colonial. Alguns quilombos organizavam expedições de guerrilha para atacar fazendas e libertar outros companheiros. Em outros, os quilombolas buscavam apenas sua sobrevivência. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Centenas de quilombos foram localizados pelos historiadores. Os maiores e mais famosos foram o Buraco de Tatu, em Minas Gerais (Século XVIII); o Bacaxá e o Curuncango, no Rio de Janeiro (Século XVIII); o Urubu e Cabula, na Bahia (início do Século XIX) e o Codó, no Maranhão (Século XIX). O mais famoso de todos os quilombos foi o de Palmares, que foi destruído pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1695 (Século XVII). Seu último rei foi o guerreiro Zumbi. Após uma heroica resistência contra o exército colonial armado com canhões, Palmares foi invadido e incendiado. Não sobrou nada. Nem as crianças foram poupadas. Iluminismo Grandes modificações políticas ocorreram no final do Século XVIII, acompanhando as propostas e ideais do Iluminismo: a Independência do Estados Unidos (1776), a Revolução Francesa (1789-1799), a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana (1798) e as independências na América Latina (no início do Século XIX). As ideias de cunho filosófico, político eeconômico contrapunham o regime vigente, baseado nos privilégios da nobreza dos Estados Absolutistas. Os iluministas pregavam que não era possível viver feliz numa sociedade injusta, sob um regime opressor. Eles divulgaram suas ideias através de livros e panfletos e acreditavam que o progresso da sociedade só seria possível com o uso da razão, do diálogo, do respeito aos direitos, da queda das tiranias e da construção de instituições melhores. O filósofo Jean-Jacques Rousseau afirmava “o homem é bom por natureza, a sociedade é que o corrompe”. Kant, filósofo alemão, afirmava que o objetivo da Filosofia do Esclarecimento era auxiliar os homens a pensar sem serem guiados por alguém. A fórmula iluminista para a felicidade humana era a razão, a liberdade e o progresso. As ideias iluministas fundamentaram o que conhecemos atualmente como “direitos do cidadão”. O mais importante deles era o direito à liberdade, portanto nenhum ser humano deveria ser submetido à escravidão. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Para os iluministas, o Estado não tinha o direito de oprimir o cidadão. A separação dos três poderes nos governos atuais foi defendida por Montesquieu como uma forma de controlar o poder dos governantes. Você sabe que divisão é essa? Confira a seguir: Poder Executivo: administrava o país. Poder Legislativo: deveria ficar nas mãos de uma assembleia de representantes eleitos pelos cidadãos e responsável por criar as leis e fiscalizar o executivo. Poder Judiciário: garantia o cumprimento das leis e era exercido por juízes e tribunais. A utilização do método científico avançou durante os estudos no Século XVIII e propiciou avanços enormes no conhecimento dos fenômenos naturais. Gray se destacou na Física; Lavoisier contribuiu para que a Química, até então entendida como Alquimia, se tornasse científica e Lineu criou a classificação binomial dos seres vivos na Biologia. Os avanços na Medicina foram igualmente significativos: Fouchard iniciou a odontologia científica publicando um livro contendo a metodologia da realização de obturações; Aymand (1736) realizou a primeira cirurgia (apendicite); Galvani (1771) mostrou que os impulsos nervosos são de natureza elétrica e Jenner (1796) descobriu a vacina contra a varíola. Revolução Francesa Antes da Revolução Francesa, atuava na sociedade o Estado Absolutista com os privilégios feudais da nobreza. Predominavam os valores aristocráticos, o respeito às tradições e às famílias de nome. A sociedade seguia uma rígida hierarquia, com a educação controlada pela Igreja e pelo Estado. Depois da revolução, se consolidou uma nova sociedade, com igualdade jurídica, governantes submetidos às leis da Constituição, separação dos três poderes e caminho livre para o desenvolvimento do capitalismo e da indústria. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Inconfidência Mineira No final do Século XVIII, a economia colonial estava em crise. As minas de ouro estavam esgotando sua produção e o lucro, anteriormente gerado pela mineração, não estava sendo compensado pela agricultura (açúcar, tabaco e algodão) devido aos baixos preços internacionais desses produtos, na época. A economia portuguesa, por sua vez, entrou em crise, como reflexo da depressão da economia brasileira. O governo português, então, criou novas taxações, cobrou tributos atrasados e ampliou o controle sobre o Brasil. No Brasil, os filhos das famílias mais ricas, que queriam cursar uma universidade iam para dois principais destinos: Coimbra (Portugal) e Paris (França) para cursar principalmente Direito e Medicina. Lá, em meio à vida acadêmica, os jovens estudantes entravam em contato com as ideias revolucionárias dos filósofos iluministas. No país não havia imprensa e os livros eram importados da Europa. Nenhuma publicação que contivesse ideias iluministas podia entrar no país, porém algumas obras entravam de forma secreta e circulavam principalmente entre as pessoas mais instruídas. Os estudantes, ao concluírem seus estudos, retornavam ao país, cheios de princípios de liberdade, direitos humanos, lutas contra injustiças e ataque aos governos opressores. Estimulados por estes ideais, algumas pessoas começaram a se reunir secretamente para debater sobre a criação de um país independente, baseado na recente liberdade dos Estados Unidos. Os movimentos conquistaram uma força simbólica em nossa história, apesar de não criar nenhuma grande crise no poder colonial, pois seus integrantes foram presos e libertados em seguida sob intervenção de suas famílias. Esse movimento temia a derrama (cobrança de impostos acumulados com a diminuição da quantidade de ouro extraída na Colônia), queria um país formado por São Paulo e Minas Gerais. Teve como principal personagem Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, uma pessoa de origem pobre que nunca saiu do país, mas aprendeu francês para ler os textos criados pelos enciclopedistas franceses e de filosofia iluminista. Leu, inclusive, a Declaração CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 de Independência dos Estados Unidos, que instituía que “todos os homens nascem livres e iguais em direitos e que a única fonte de poder é o próprio povo”. Ele não era o líder da Inconfidência Mineira, porém fez propaganda dela nas camadas mais humildes da população. Joaquim José era militar e quando preso era alferes, um cargo de patente inferior a tenente. Como não possuía fortuna, nem era da elite mineira (criadores de gado, juízes, médicos, padres, coronéis) nem possuía cargo importante foi o único a ser enforcado em 1792. Conjuração dos Alfaiates Ocorreu em Salvador em 1798 e é pouco conhecida da população brasileira. Foi realizada por um grupo formado por pessoas cultas da classe média, médicos, advogados, farmacêutico, pequenos comerciantes, alfaiates e membros da Maçonaria, que queriam o fim imediato da escravidão e a distribuição de terras às famílias pobres. Eles buscavam, ainda, um governo republicano com igualdade de direito para todos, perante a lei. Em Salvador, a repressão deste movimento foi violenta, com dezenas de pessoas presas e condenadas a muitos anos na prisão. Alguns líderes acabaram condenados à morte por enforcamento. Aprofunde seus conhecimentos da história nacional pesquisando mais sobre a Inconfidência Mineira e a Conjuração dos Alfaiates, dois movimentos influenciados pela filosofia iluminista. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Revendo a problematização Você se lembra da história apresentada no início dos nossos estudos? Ela tratava de João, morador de uma cidade litorânea do Paraná. A questão lançada foi: qual a melhor maneira de se analisar a origem de uma localidade e de seu povo? Caso ache necessário, volte ao início dos estudos e releia o texto. Em seguida, escolha a opção que achar mais adequada. a. Realizando uma abordagem histórica. b. O fato da cidade ser Patrimônio Histórico Brasileiro no Estado do Paraná já diz muita coisa sobre sua origem. c. Analisando a composição étnica. Acesse o material on-line e confira o feedback de cada uma das alternativas. Síntese Nesse tema, estudamos a ocupação do território brasileiro pelos portugueses, que durou até o final do Século XVIII. Relacionamos a forma como inicialmente o litoral foi estrategicamente ocupado e em seguida a ocupação territorial aconteceu no interior. Paralelamente, abordamos alguns eventos internacionais, como a Revolução Científica e o Iluminismo, que alteraram a forma de se relacionar com a natureza e com o divino (religião) ao longo da história. Além disso, comentamos sobre as etnias que contribuíram para a formação da identidade brasileira. Na situação-problema, procurou-se estimular o reconhecimento das características históricase étnicas que compõem a nossa sociedade, com grande influência dos povos escravizados, índios e negros. Vídeo: Acesse o material on-line e confira o vídeo de síntese da professora Odete! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Referências AZEVEDO, A. Vilas e cidades do Brasil colonial (Ensaio de geografia urbana retrospectiva). In: CROCETTI, Z. S. Terra Livre 10 – Geografia Espaço & Memória. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1994, p. 23-78. FERREIRA, J. S. W. O processo de urbanização brasileiro e a função social da propriedade urbana. In: Curso à Distância: Planos Locais de Habitação de Interesse Social. Coordenação geral de Júnia Santa Rosa e Rosana Denaldi. Brasília: Ministério das Cidades, 2009, 180 p. MORAES, R. B. Contribuições para a história do povoamento em São Paulo até o fim do Século XVIII. In: CROCETTI, Z. S. Terra Livre 10 – Geografia Espaço & Memória. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1994, p. 11-22. OLIVEIRA, E. L. Demanda futura por moradias no Brasil 2003-2023: uma abordagem demográfica. Brasília: Ministério das cidades, 2009, 144 p. REIS FILHO, N. G. Evolução Urbana do Brasil: 1500-1720. São Paulo: Pioneira, 1968, v. 1, 138 p. SANTOS, F. L. Aldeamentos jesuítas e política colonial na Bahia, século XVIII. Revista de História, n. 156, 2007, p. 107-128. SANTOS, M. A urbanização brasileira. 5. ed. São Paulo: Edusc, 2008, 176 p. SCHMIDT, M. F. Nova história crítica: ensino médio. São Paulo: Nova Geração, 2005, 840 p. TRATADO de Tordesilhas. In: Britannica Escola Online. Disponível em: http://escola.britannica.com.br/article/574522/Tratado-de-Tordesilhas>. Acesso em: 17 maio 2015. http://escola.britannica.com.br/article/574522/Tratado-de-Tordesilhas CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Atividades 1. Em 1534, Portugal divide o território do Brasil em quinze capitanias doadas pela Coroa Portuguesa a donatários, que foram encarregados de propiciar o desenvolvimento da nova terra e torná-la produtiva e lucrativa. Quais as capitanias que prosperaram no primeiro século da colonização do Brasil? a. As capitanias de São Vicente e Rio de Janeiro, sob o comando de Martim Afonso. b. Apenas a capitania de Pernambuco se desenvolveu, e nos primeiros anos duas grandes vilas se estruturaram ali: Igaraçu e Olinda. c. As capitanias de São Vicente, com a fundação de uma vila com o mesmo nome, e a de Pernambuco, com a fundação das vilas Igaraçu e Olinda. d. O sistema de capitanias foi ineficiente, pois o território abrangia uma grande extensão. 2. Em relação à forma como a escravidão indígena estimulou a ocupação do sertão brasileiro, analise as assertivas a seguir e escolha a opção correta. I. A colonização não avançou para o sertão e se limitou à região litorânea. II. Como os índios litorâneos tinham hábitos nômades e se deslocavam periodicamente em seu território, os missionários não conseguiam aprofundar os ensinamentos religiosos. III. Os índios escravizados muitas vezes sofriam maus tratos e acabavam morrendo pouco tempo depois da captura. Devido a isso, número de indígenas disponíveis no litoral para a escravidão reduziu rapidamente. Os missionários foram, então, enviados cada vez mais para o interior, para catequizar novos índios. a. Apenas I e III estão corretas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 b. Apenas II e III estão corretas. c. Todas as opções estão corretas. d. Apenas I está correta. 3. Em relação à forma como as ideias de Galileu interferiram nos tempos atuais, analise as assertivas a seguir e escolha a opção correta: I. A partir de Galileu, ocorreu uma separação nos campos de atuação da Igreja e da Ciência. A Igreja passou a tratar das questões religiosas, utilizando os ensinamentos da Bíblia; e a Ciência utilizou o método científico para explorar as leis da natureza. II. A Matemática, que era utilizada apenas para contagens e para contabilizar lucros e prejuízos, desenvolveu-se e passou a ser a linguagem utilizada pelos cientistas. III. Os conhecimentos científicos passaram a ser divulgados no meio científico e impulsionaram o desenvolvimento da ciência. a. Apenas I está correta. b. Apenas I e III estão corretas. c. Todas as opções estão corretas. d. Apenas III está correta. 4. Sobre as ideias de René Descartes, assinale a alternativa correta: I. Ele acreditava que não era possível deduzir verdades científicas de todas as situações e que, para conhecer o Universo, bastava usar a razão. II. Quando estudamos no sistema educacional com várias disciplinas trabalhadas de forma isolada e lecionada pelos especialistas, estamos reproduzindo o sistema dedutivo. Nele, precisamos fragmentar em porções menores os conteúdos já conhecidos para aprendê-lo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 III. O tratamento médico de pacientes da terceira idade que sofrem de hipertensão, colesterol e diabetes são atendidos por médicos especialistas nas diversas áreas do conhecimento e são um exemplo das aplicações extremas da dedução. Eles dificilmente conversam durante o tratamento do seu paciente (um paciente e três médicos). a. Todas a opções estão corretas. b. Nenhuma das opções está correta. c. Apenas as opções II e III estão corretas. d. Apenas as opções I e II estão corretas. 5. Em relação às ideias Iluministas, verifique as assertivas a seguir e escolha a opção correta: I. A separação dos Três Poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, nos governos atuais foi sugerida, pelos Iluministas, como uma forma de controlar o poder dos governantes. II. Para os iluministas o Estado não tinha o direito de oprimir o cidadão. No entanto, os países da América passaram durante a história recente por ditaduras militares. III. Temos visto pelos noticiários e nas redes sociais uma luta popular pela melhoria da qualidade da atuação dos políticos, legítimos representantes eleitos pela população. a. Apenas I e III estão corretas. b. Apenas I está correta. c. Apenas I e II estão corretas. d. Todas as opções estão corretas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 Acesse o material on-line e confira o gabarito das atividades.
Compartilhar