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SAÚDE DO TRABALHADOR Pamela Elis Astorga Galleguillos Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer o conceito da saúde ocupacional no Brasil. � Descrever o histórico da saúde ocupacional no Brasil. � Identificar os aspectos legais que regulamentam a saúde ocupacional. Introdução A saúde ocupacional é uma área que vai além da realização de exames como forma de manter a saúde e a qualidade de vida do trabalhador. Ela atua na prevenção de doenças e problemas laborais causados tanto pelo ambiente quanto pela rotina do trabalho. Dessa forma, vale a pena ressaltar que a saúde ocupacional não se limita apenas a proporcionar as melhores condições físicas do funcionário, mas também cuida da sua saúde psíquica — fator crescente quanto aos motivos de absenteísmo nas empresas. Neste capítulo, você vai compreender a definição de saúde ocupa- cional e a sua concepção histórica no Brasil, bem como as perspectivas legais e regulamentadoras que fundamentam essa temática. Saúde ocupacional: conceitos principais As ações dos indivíduos, tanto dentro quanto fora do ambiente de trabalho, interferem diretamente na sua saúde e qualidade de vida. Assim, de acordo com Aquino (2014), antes de compreender o conceito de saúde ocupacional, você deverá entender o conceito de saúde de maneira mais ampla. A Organização Mundial da Saúde define “saúde” não apenas como a ausência de doenças no organismo humano, mas como uma situação perfeita de bem-estar físico, mental e social. Apesar de ser uma definição avançada para a época em que surgiu, de acordo com Segre e Ferraz (1997), trata-se atualmente de um conceito muito ilusório, devido à expressão “perfeição”. Além disso, outros autores afirmam que o ser humano deve ser compreen- dido em sua totalidade. Para além de suas dimensões físicas, há mais dimensões que precisam ser consideradas, como a familiar, a existencial e a espiritual. Nessa perspectiva, Saporetti e Silva (2012) traz uma representação esquemática das dimensões do ser humano, como você pode observar na Figura 1. Figura 1. Dimensões do ser humano. Fonte: Adaptada de Saporetti e Silva (2012). ω α ε ζ φ γ ψ δ As dimensões mostradas na Figura 1 se estabelecem da seguinte forma: � Dimensão física: representada pela letra grega φ, constitui o nosso corpo e os sofrimentos relacionados a ele, como dor, náuseas, dispneia. � Dimensão psíquica: representada pela letra grega Ψ, engloba os nossos medos, raivas, alegrias e tristezas. Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional2 � Dimensão social e cultural: representada pela letra grega δ, esfera onde se encontram a nossa etnia, nacionalidade, religião, escolaridade e classe social. � Dimensão familiar: representada pela letra grega γ, relaciona-se também com as questões financeiras e as suas atribulações. � Dimensão existencial: representada pela letra grega ε, inclui todas as anteriormente citadas, concedendo significado e questionamento a cada uma delas. � Dimensão espiritual: representada pela letra grega ς, integra a relação do indivíduo com o transcendente α ω, sendo fundamental conhecer as distinções entre as questões existenciais e religiosas. Aquino (2014) afirma que tanto a saúde quanto a sua ausência abrangem diversos aspectos da vida do ser humano. O autor cita elementos que favorecem a obtenção de saúde, como um bom emprego, as relações de amizade e uma boa alimentação. No entanto, aspectos como estresse, desemprego e problemas familiares poderão causar o adoecimento da pessoa. A Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990, chamada de Lei Orgânica (BRASIL, 1990), define conceitos sobre a promoção, proteção e recuperação da saúde, enfatizando a saúde como obrigação do Estado e das empresas: Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. (...) § 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade (BRASIL, 1990, documento on-line). Ainda de acordo com a Lei nº. 8.080/1990, no Capítulo I, art. 6º, encontra- -se inserida no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS) a saúde do trabalhador, tendo como definição e abrangência as seguintes diretrizes: § 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo: I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho; II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho; 3Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador; IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas; VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; e VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão com- petente a interdição de máquina, de setor, de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores (BRASIL, 1990, documento on-line). Dessa forma, a saúde do trabalhador refere-se à ligação existente entre a produção, o trabalho e a saúde, dentro do campo da saúde pública. O trabalho é um elemento relevante nessa dicotomia entre saúde e doença, na qual os trabalhadores estão implicados como sujeitos essenciais para a conquista de melhorias nas condições de trabalho e saúde. De acordo com o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, o campo de saúde do trabalhador vem crescendo progressivamente desde a década de 1970 (CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO et al., 2011). Na atualidade, está se sedimentando um novo olhar para o trabalhador, aliado à investigação da saúde e à intervenção sanitária sistêmica. Nos seus estudos, Nogueira (1984) esquematizou o sistema de atendimento à saúde dos trabalhadores brasileiros naquela época. Você pode ver esse sistema na Figura 2, o qual é desenvolvido primordialmente pelo Ministério do Trabalho e Ministério da Previdência Social. Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional4 Figura 2. Sistema de atendimento brasileiro à saúde dos trabalhadores. Fonte: Adaptada de Nogueira (1984). Atendimento à saúde dos trabalhadores Ministério do Trabalho Grandes empresas Médias e pequenas empresas Ministério da Previdência Social Ministério da Saúde Rede geral de saúde Centros de saúde Setor de convênios com empresas INAMPS Assitência médica INPS Acidentes do trabalho Saúde ocupacional Medicina assistencial SESMT Entidades de medicina em grupo Serviços médicos próprios No entanto, o CESTEH faz a distinção conceitualentre saúde do trabalhador e saúde ocupacional. Ambas coexistem tanto no cenário nacional como no mundial, tendo níveis de atuação diferentes em relação ao processo saúde– doença relacionado ao trabalho (CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO et al., 2011). A saúde ocupacional é representada pelo Ministério do Trabalho, o qual tem o papel de normatizar as questões relacionadas à saúde e à segurança do trabalhador, orientado pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), por intermédio das Normas Regulamentadoras (NRs). Segundo o CESTEH, esse modelo é centrado na figura do médico e na doença, sendo regulamentado por documentos institucionais específicos (CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO et al., 2011). Para essa área, apesar de serem mencionadas preocupações acerca da saúde física e psíquica do trabalhador, em prol da promoção de situações laborais favoráveis a ele, prevalece a esfera das normas pactuadas com o governo sobre a relação entre empregado e empregador. 5Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional Já a expressão saúde do trabalhador, de acordo com o CESTEH, vai além dessa relação empregado–empregador, uma vez que este considera o trabalho como um dos determinantes sociais que podem ocasionar o adoecimento do indivíduo, indo na direção de uma visão para o ambiente e a coletividade (CEN- TRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO et al., 2011). Preza-se pelo princípio da precaução, antevendo os riscos que podem causar o adoecimento do trabalhador e, por- tanto, indo além do preestabelecido pelas normas. Ainda sobre essa dicotomia entre saúde do trabalhador e saúde ocupacio- nal, o CESTEH define a forma como o trabalhador se insere nesses modelos, seguindo o exposto na legislação para cada um deles (CENTRO DE REFE- RÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO et al., 2011). Você pode analisar esses fatores no Quadro 1. Saúde ocupacional Saúde do trabalhador Controle de risco de forma coletiva e individual NR 09 — Programa de Prevenção de Riscos Ambientais NR 15 — Atividade e Operações Insalubres Anexo 1 — Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente Anexo 2 — Limites de tolerância para ruídos de impacto NR 17 — Ergonomia Participação em normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador Portaria GM/MS nº. 1.125/2005 — Política Nacional do Trabalhador (PNST) Decreto nº. 7.602/2011 — Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSTT) Monitoramento dos trabalhadores expostos via gerenciamento de avaliações periódicas NR 07, Anexo II do Quadro II — Diretrizes e parâmetros mínimos para avaliação e acompanhamento da audição em trabalhadores expostos a níveis de pressão sonora elevados Avaliação do impacto que as tecnologias provocam na saúde Portaria GM/MS nº. 1.125/2005 — PNST Decreto nº. 7.602/2011 — PNSTT Portaria GM/MS nº. 3.120/1998 Quadro 1. Saúde ocupacional versus saúde do trabalhador (Continua) Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional6 Fonte: Adaptado de Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Estado do Rio de Janeiro et al. (2011). Quadro 1. Saúde ocupacional versus saúde do trabalhador Saúde ocupacional Saúde do trabalhador Intervenção nos processos de trabalho NR 04 — Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) Revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho Portaria GM/MS nº. 1.125/2005 — PNST Decreto nº. 7.602/2011 — PNSTT (Continuação) Para Aquino (2014), a saúde ocupacional tem os seguintes objetivos: � desenvolver e estabelecer o bem-estar físico, mental e social de todos os trabalhadores, nas distintas profissões; � evitar o agravamento da saúde advindo das condições de trabalho; � proteger o trabalhador dos riscos dos agentes nocivos presentes no local de trabalho; � manter as aptidões fisiológicas e psicológicas íntegras, adaptando o trabalho ao homem, e não contrário. De maneira geral, faz-se necessário trabalhar em busca da promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde coletiva e individual dos trabalhadores, analisando a possibilidade de o adoecimento do trabalhador estar vinculado à sua atividade profissional. Dessa forma, desenvolve-se a relação existente entre saúde, trabalho e ambiente. Histórico da saúde ocupacional no Brasil De acordo com os estudos de Rojas (2015), a segurança do trabalhador começou a ser considerada no Brasil por dirigentes e empresários principalmente com o desenvolvimento industrial e a utilização do trabalho assalariado. O autor faz um resumo cronológico dos principais fatos que marcaram essa temática no Brasil, como você pode ver no Quadro 2. 7Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional Ano Fato histórico 1919 Criado o Decreto nº. 3.724, de 15 de janeiro de 2019, sendo o primeiro que trata dos acidentes de trabalho. Estes são definidos como os produzidos por uma causa súbita, violenta, externa e involuntária no exercício do trabalho, ou moléstia contraída exclusivamente pelo exercício do trabalho. 1941 Inaugurada, no Rio de Janeiro, a Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes (ABPA), com a finalidade de educar trabalhadores e empresários para a prevenção de acidentes e a segurança no trabalho, em todos os setores da atividade econômica. 1943 Aprovada a CLT, por meio do Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943, com o intuito de unificar a legislação trabalhista brasileira. 1944 Promovida a “reforma da Lei de acidentes de trabalho”, por meio do Decreto-Lei nº 7.036, de 10 de novembro de 1944, que tinha como finalidade a compreensão e a agilidade na implementação dos dispositivos da CLT, garantindo assistência médica, hospitalar e farmacêutica ao acidentado e indenizações por acidentes. 1953 Instituída, a partir do Decreto nº. 34.715, de 27 de novembro de 1953, a Semana de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SPAT), a ser executada na quarta semana de novembro de cada ano. Nesse mesmo ano, foram regulamentadas as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes do Trabalho (CIPAs). 1955 Estipulada a realização do congresso anual das CIPAs, durante a SPAT. 1960 Regulamentado o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). 1966 Criado o Fundacentro, antigamente chamado de Fundação Centro Nacional de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho, com o intuito de estudar e avaliar os principais problemas trabalhistas, bem como apontar as possíveis soluções. 1967 Integrado o seguro de acidentes de trabalho à Previdência Social. Nesse mesmo ano, surgiu a sexta lei de acidentes de trabalho, que definiu a doença profissional como sinônimo de doença do trabalho, assemelhando-se ao acidente de trabalho. 1972 Estipulada a segurança, higiene e medicina do trabalho como uma das prioridades para o Programa Nacional de Valorização do Trabalhador. Quadro 2. Fatos históricos relacionados à saúde ocupacional no Brasil (Continua) Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional8 Fonte: Adaptado de Rojas (2015). Quadro 2. Fatos históricos relacionados à saúde ocupacional no Brasil Ano Fato histórico 1974 Iniciados os cursos de formação de profissionais de segurança, higiene e medicina do trabalho. 1977 Estabelecidas na CLT a obrigatoriedade da implantação da CIPA e a estabilidade de emprego para os seus membros. 1978 Aprovadas as primeiras 28 Normas Regulamentadoras de Segurança do Trabalho. 1983 Modificada a NR 05, com o acréscimo dos riscos ambientais. 1985 Oficializada a especialização em engenharia de segurança do trabalho e criada a categoria profissional de técnico em segurança do trabalho. 1986 Regulamentadas as profissões de enfermagem, técnico de enfermagem e auxiliar de enfermagem.Nesse mesmo ano, foi regulamentada a categoria de técnico de segurança do trabalho, que na década de 1950 era intitulado de inspetor de segurança. 1987 Estabelecido o curso de formação de técnico em segurança do trabalho. 1990 Atualizado o SESMT, sendo constituído pelos seguintes profissionais: engenheiro de segurança do trabalho, médico do trabalho, enfermeiro do trabalho, auxiliar de enfermagem do trabalho e técnico de segurança do trabalho. 1991 Estabelecido o conceito de acidente de trabalho e de trajeto. 2001 Proibido o trabalho infantil no Brasil. 2004 Regulamentada a Notificação Compulsória de Agravos à Saúde do Trabalhador (acidentes e doenças relacionadas ao trabalho) e os Serviços Sentinelas específicos no SUS (centros de referência em saúde do trabalhador). 2009 Retirado o termo “ato inseguro” da NR 01, citado pelos prevencionistas como expressão que por vezes retirava a responsabilidade do empregador perante um acidente. (Continuação) 9Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional Aspectos legais que regulamentam a saúde ocupacional De maneira geral, a legislação trabalhista no Brasil corresponde ao conjunto de leis e normas que qualquer empregador ou empregado deverá cumprir, uma vez que estabelecem direitos e deveres a ambos. Já a legislação nos aspectos da saúde ocupacional estabelece que as empresas garantam um ambiente de trabalho saudável ao trabalhador. Isso se dá por meio da colaboração dos funcionários e dos gestores no processo de melhoria contínua da proteção e promoção da segurança, saúde e bem-estar de todos, bem como na sustenta- bilidade do ambiente de trabalho. Assim, é por meio da CLT que ocorre a regulamentação das relações que envolvem o trabalho e as relações individuais ou coletivas. A CLT dedica um capítulo especial à legislação em saúde ocupacional, dando ênfase à busca por zelar pela saúde e pelo bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores. Um dos artigos mais notórios da CLT é o art. 157 (BRASIL, [1946]), que define o seguinte: � deve-se cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina no trabalho; � deve-se orientar os empregados quanto às precauções, para assim evitar acidentes de trabalho e doenças ocupacionais; � deve-se favorecer as atividades de fiscalização do órgão competente em relação à segurança e saúde no trabalho. Na CLT constam ainda regras sobre segurança e saúde do trabalhador e normas que tratam da CIPA, bem como as suas atribuições, composição e implementação. Além disso, na Seção IV, os art. 166 e 167 estabelecem a obrigatoriedade por parte da empresa quanto ao fornecimento gratuito do EPI aos empregados (BRASIL, [1946]). A sua comercialização somente poderá ser realizada quando a empresa tiver a indicação do Certificado de Aprova- ção do Ministério do Trabalho. Já os art. 168 e 169 da CLT discorrem sobre as medidas preventivas da medicina do trabalho, no que tange à realização do exame médico admissional, demissional e periódico, assim como sobre a notificação das doenças profissionais e ocupacionais (BRASIL, [1946]). Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional10 São dispostas de forma complementar ao Capítulo V da CLT as Normas Regulamentadoras (BRASIL, [1946]), que estabelecem elementos específicos para determinadas situações provenientes do ambiente de trabalho. Alguns exemplos são os procedimentos obrigatórios quanto ao trabalho em locais ou operações insalubres, estabelecidos pela NR 15. Atualmente existem 37 NRs sobre o tema da segurança e saúde no trabalho, dispostas da seguinte maneira: � NR 01 — Disposições Gerais � NR 02 — Inspeção Prévia � NR 03 — Embargo ou Interdição � NR 04 — Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho � NR 05 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes � NR 06 — Equipamentos de Proteção Individual � NR 07 — Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional � NR 08 — Edificações � NR 09 — Programas de Prevenção de Riscos Ambientais � NR 10 — Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade � NR 11 — Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais � NR 12 — Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos � NR 13 — Caldeiras e Vasos de Pressão � NR 14 — Fornos � NR 15 — Atividades e Operações Insalubres � NR 16 — Atividades e Operações Perigosas � NR 17 — Ergonomia � NR 18 — Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção � NR 19 — Explosivos � NR 20 — Segurança e Saúde do Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis � NR 21 — Trabalho a Céu Aberto � NR 22 — Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração � NR 23 — Proteção contra Incêndios � NR 24 — Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho � NR 25 — Resíduos Industriais � NR 26 — Sinalização de Segurança 11Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional � NR 27 — Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho (Revogada) � NR 28 — Fiscalização e Penalidades � NR 29 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário � NR 30 — Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário � NR 31 — Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura � NR 32 — Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde � NR 33 — Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados � NR 34 — Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e Reparação Naval � NR 35 — Trabalho em Altura � NR 36 — Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados � NR 37 — Segurança e Saúde em Plataformas de Petróleo Entretanto, de acordo com os estudos de Almeida e Lima (2018), a pro- teção existente aos trabalhadores brasileiros se dá primordialmente àqueles regidos pela CLT, colocando à margem os servidores públicos, uma vez que são subordinados ao regime estatuário. Outro elemento no âmbito da legislação em saúde ocupacional refere-se ao eSocial, sistema que colabora para a unificação do envio de dados pelo empregador sobre os seus empregados, com a finalidade de uniformizar as obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas, reduzindo a burocracia para as empresas. Dessa forma, faz-se necessário que as clínicas de saúde ocupacional informem corretamente os dados para a plataforma. As principais informações a serem enviadas dizem respeito a admissão e desligamento do funcionário, afastamento temporário, alteração de salário, modificação de jornada de trabalho, aviso prévio, atestados de saúde, cadastro de benefícios, beneficiários, comunicação de acidente de trabalho, monitoramento da saúde do trabalhador, entre outros. Conclui-se que a legislação em saúde ocupacional é bastante ampla e aborda várias obrigações, que devem ser seguidas por empregadores e empregados, a fim de se manter um ambiente de trabalho saudável, com a garantia de todos os direitos adquiridos nos últimos anos. Introdução e histórico sobre a saúde ocupacional12 ALMEIDA, J. C. de; LIMA, I. A. de. A segurança e saúde no trabalho no regime CLT e no regime estatutário: uma abordagem no planejamento governamental comparando o tema nos dois regimes. Revista Brasileira de Planejamento e Desenvolvimento, Curitiba, v. 7, n. 1, p. 2–28, jan./abr. 2018. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rbpd/ article/download/5679/4872. Acesso em: 16 jul. 2019. AQUINO, A. de S. F. Saúde ocupacional. Natal: IFRN; UFRN, 2014. Disponível em: http:// proedu.rnp.br/bitstream/handle/123456789/998/Saude_Ocupacional_BR_GRAF. pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 16 jul. 2019. BRASIL. Decreto-Lei nº. 5.442, de 1° de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Brasília, DF: Presidência da República, [1946]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452compilado.htm. Acesso em: 16 jul. 2019. BRASIL. Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a pro- moção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamentodos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da Re- pública, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 16 jul. 2019. CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR DO ESTADO DO RIO DE JA- NEIRO et al. Saúde ocupacional x saúde do trabalhador. Fonoaudiologia na Saúde do Trabalhador, [s. l.], n. 6, set./dez. 2011. Disponível em: http://www.cesteh.ensp.fiocruz. br/sites/default/files/boletim_6.pdf. Acesso em: 17 jul. 2019. NOGUEIRA, D. P. Incorporação da saúde ocupacional à rede primária de saúde. 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