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Movimento de Resistência dos Povos Indígenas no Brasil

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17
CENTRO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA “PAULA SOUZA”
ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL CIDADE TIRADENTES
3° Administração – ETIM
Erika Santos Duarte
SÃO PAULO - SP
2020
Erika Santos Duarte
MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL
Trabalho á compor menção parcial na disciplina de Sociologia, ministrada pela professora Kátia. 
SÃO PAULO - SP
2020
Sumário
INTRODUÇÃO	4
OS PROCESSOS DE LUTAS E RESISTÊNCIAS DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL	5
CONCLUSÃO	16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	17
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa aborda uma visão panorâmica dos processos de resistência dos povos indígenas no Brasil, inerentes a tal território desde o período colonial, priorizando o modo historiográfico que as ideologias colonialistas e eurocêntricas silenciaram e marginalizaram estes povos na história do Brasil, colocando-os como vítimas e atores passivos aos domínios e abusos dos colonizadores e, além disso, preconizam o desaparecimento deles da história, por meio da suposta “civilização”. No entanto, isto é uma mentalidade retrógrada e limitante, pois eles sempre estiveram ativos e, sobretudo, sendo protagonistas de movimentos de resistências e lutas, a fim de garantir os direitos aos seus territórios originários, costumes e tradições, para que protejam sua identidade e cultura através do confronto direto com os projetos coloniais, imperiais e republicanos. 
OS PROCESSOS DE LUTAS E RESISTÊNCIAS DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL
Anterior a “descoberta” do Brasil, havia cerca de 3 milhões de habitantes em território nacional, constituindo, portanto, um local com uma densa população nativa, sobretudo em comparação a reduzida densidade demográfica portuguesa, em 1500, no país. Por outro lado, de acordo com dados sociológicos, a diversidade étnica, linguística e cultural era vasta, estipulada em mais de 1.000 etnias no período de invasão portuguesa. 
Nesse sentido, no livro “Os índios antes do Brasil”, é retratado, pelo antropólogo Carlos Fausto, uma preposição da vida dos povos indígenas, anterior a chegada de Pedro Álvares Cabral, em território americano, pela qual, de maneira singela, o autor afirma que, à época, existiam hierarquias étnicas entre as populações indígenas de terra alta e de terra baixa, classificando-os, de acordo com a região geográfica, como povos “desenvolvidos” ou “subdesenvolvidos”. 
Além disso, o autor faz referência a visão estrangeira frente aos povos nativos, considerados, desse modo, como “seres sem religião, sem justiça e sem Estado”. Tais perspectivas eugênicas, retratam a oposição entre o homem da terra e o homem dito “civilizado” baseadas, neste caso, como ideologias evolucionistas e colonialistas que consideram questões de modo de vida de determinados povos caracterizados como inferiores e, por isso, justificariam a dominação europeia, que, sobretudo, era considerada uma etnia superior. 
 Entretanto, Carlos Fausto demonstra, de maneira crítica, da Amazônia ao litoral, as diversidades dos povos, das línguas, das formas de organização social e política e, sobretudo, da maneira em que os índios eram classificados de acordo com uma visão eurocêntrica, desconsiderando as riquezas culturais e regionais de tais povos. A partir disso, aproximando-nos da realidade distópica, percebe-se a maneira desumana, violenta e discriminatória dos atos genocidas que dizimaram, em sua maioria, tais povos que, segundo o discurso etnocêntrico europeu e, juntamente com a falta de conhecimento, pregaram a adesão da religião católica dita, de acordo com eles, como meios de civilização. 
Em contraposição, ainda que vistos, de maneira equivocada, pela historiográfica tradicional e colonialista como povos passivos ou selvagens, os indígenas articularam diversas formas de resistência contra o domínio europeu e a favor da proteção de seus territórios. No entanto, devido ao poder bélico dos invasores, tais medidas de defesa foram fortemente reprimidas. 
Nesse sentido, na obra “Os índios na história do Brasil”, a autora, Maria Regina, coopera para a “quebra” de paradigmas incoerentes sobre a passividade indígena frente aos atos violentos dos colonizadores. Por isso, ela retrata-os como “sujeitos ativos no processo de colonização, agindo de formas variadas e movidos por interesses próprios”. Nessa perspectiva, a ação e resistência indígena é algo frequente desde os períodos coloniais que, lamentavelmente, são invisibilizados e omitidos dos livros de história. E, por essa lastima, na visão eurocêntrica, eles são vistos e descritos como meros coadjuvantes, sem iniciativas próprias, como se estivessem à disposição dos interesses dos invasores.
 Além disso, segundo Regina, eles 
apareciam na história como índios apenas no momento do confronto, isto é, quando pegavam em armas e lutavam contra os inimigos. Assim, os Tamoios, os Aimorés, os Goitacazes e tantos outros eram vistos como índios guerreiros que resistiram bravamente às suas terras. Foram, no entanto, derrotados e passaram a fazer parte da ordem colonial, na qual não havia brecha nenhuma para a ação. Tornavam-se, então, vítimas indefesas dessa ordem. Na condição de escravos ou submetidos, aculturavam-se, deixavam de ser índios e desapareciam de nossa história (ALMEIDA, 2010, p. 13-14).
	Entretanto, tal desaparecimento está presente apenas nos registros históricos, pois, de acordo com a realidade, eles ainda resistem, de modo secular, desde XVI até os dias atuais. 
	Tendo como referência os ditos de antropólogos, esse desaparecimento seria justificado devido à ideia predominante da mentalidade de integração indígena à colonização que, por assimilação, tinham suas identidades étnicas perdidas. Tal visão estava baseada na concepção de que a cultura dos “povos primitivos” era pura e imutável, o que criou contraposições entre o índio pura e o índio aculturado. 
	Esta concepção integracionista representa as políticas indígenas a partir da reformas pombalinas em meados do século XVIII e, tal mentalidade assimilacionista, esteve presente no imaginário de intelectuais, indigenistas e políticos brasileiros até a Constituição de 1988 que, inclusive, também previam o total desaparecimento dos povos indígenas, pois consideravam que o caminho ideal era a integração dos nativos a sociedade. E, por isso, ao serem “integrados”, perderiam sua identidade por completo. 
	Nesse contexto, foram desenvolvidas políticas indigenistas que propiciaram a expropriação dos territórios indígenas, obrigando-os a serem “integrados” ao modo de vida “civilizado”, tornando-se, portanto, mera mão-de-obra a ser explorada pela ideologia capitalista. Ainda nesse cenário, tais povos resistiram, negando o trabalho exploratório. No entanto, devido a isso, além de marginalizados, os povos indígenas foram designados pela como preguiçosos e indolentes, mentalidade presente até os dias atuais na sociedade brasileira. 
	Nesse aspecto, Cunha descreve como tal processo de espoliação torna-se transparente:
começa-se por concentrar em aldeamentos as chamadas hordas selvagens, liberando-se vastas áreas , sobre as quais seus títulos eram incontestes, e trocando-as por limitadas terras de aldeias; ao mesmo tempo, encoraja-se o estabelecimento de estranhos em sua vizinhança; concedem-se terras inalienáveis as aldeias, mas aforam-se áreas dentro delas para o seu sustento; deportam-se aldeias e concentram-se grupos distintos; a seguir, extinguem-se aldeias a pretexto de que os índios se acham confundidos com a massa da população; ignora-se o dispositivo de lei que atribui aos índios a propriedade da terra das aldeias extintas e concedem-se lhes apenas lotes dentro delas; revertem-se as áreas restantes ao Império e depois as províncias, que as repassam aos municípios para que se vendam aos foreiros ou as utilizem para a criação de novos centros de população (CUNHA, 1992, p. 146).	
	Tal processo leva à expropriação total das terras indígenas. Todavia, ainda que haja esses processos, os nativos, de maneira alguma, estiveram passivos perante as discriminações, intolerâncias étnicas e culturais que, na visãoprioritária de interesses financeiros em detrimento do direito à terra indígena, são modos de vida ultrapassados e, sobretudo, há o interesse na funcionalidade da terra como meio de obter capital. 
	Nisso, Cunha analisa que a legislação indigenista ou a lei do “lobo sobre o cordeiro”, era algo visto como a “sobrevivência do mais forte”. Entretanto, os povos indígenas recorrem a justiça, como os nativos da aldeia Aramares de Inhambupe de Cima, na Bahia, em 1815, que protestam contra a esfoliação de suas terras, e ainda: 
Em 1821 e 1822, o principal dos índios Gamela de Viana logra da justiça do Maranhão a demarcação judicial das terras da aldeia (Arquivo do Tribunal de Justiça do Maranhão, pacote 005/TJ/1986 apud Andrade, 1990). Um índio Xucuru, o capitão-mor da vila de Cimbres em Pernambuco, denuncia em 1825 os abusos cometidos aparentemente pelo diretor da aldeia e obtém uma decisão favorável do Imperador (23/03/1825). E em 1828 (20/11/1828) é o capitão-mor da vila de Atalaia, em Alagoas, que protesta contra as violências e a invasão das terras das aldeias (CUNHA, 1992, p. 152).
	Por meio de tais relatos percebe-se que os indígenas, através dos conhecimentos adquiriram da escrita e da leitura nos aldeamentos, puderam organizar recomendações e protestos judiciais ou se dirigirem, diretamente, ao imperador para reivindicar seus direitos. 
	Em vista disso, Cunha analisa a política indigenista do século XIX, seja por meio da Lei de Terras ou/e do Regulamento das Missões, que tinha como objetivo central a expropriação das terras dos povos indígenas e, com total desrespeito aos direitos originários dos seus territórios, tais premissas previstas nas leis acometiam danos aos modos de vida daquela população, uma política tão desumana e injusta quanto nos tempos coloniais que, sobretudo, visava a “civilização” deles. Nesse cenário, infelizmente, nota-se que, até os dias atuais, não há voz e nem proteção a estes povos indígenas na sociedade brasileira que, além de tudo isso, ainda tem seus direitos violados e desrespeitados. Por isso, apenas pelas constantes resistências desses povos que, desde a colonização, eles conquistam direitos territoriais e de cidadania, ainda que pouco expressivos devido a invisibilidade governamental e midiático na causa. 
	No século XX, contrário ao esperado, os nativos continuam sendo desfavorecidos pelas leis do Estado que, ao invés de protegê-los e garantir a plenitude de seus direitos, tornaram-se os principais difusores de violência contra eles, seja por meio da ação ou da omissão (BRIGHENTI, 2016). 
	A criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), por meio do Decreto 8.072/1910, tinha como principal objetivo “pacificar os índios”, desenvolvendo “cercos de paz”, isto é, aglutinando os indígenas em reservas para garantir o “progresso” capitalista sem entraves. Desse modo, segundo Cunha (2012, p. 111), é o próprio Estado brasileiro que, de maneira violenta, esvazia os territórios indígenas para o avanço do capitalismo nessas regiões e, sobretudo, em total desprezo aos direitos originários de seus territórios que são direitos reconhecidos pelos reis portugueses, em várias leis desde o alvará de 1º de abril de 1680, mais tarde incorporado na lei pombalina de 1775. 
	O SPI, envolvido internacionalmente em denúncias de torturas a indígenas, exploração do patrimônio das comunidades e corrupção, foi objeto central de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Congresso Nacional, sendo uma delas em 1963 e a outra em 1968. “Além das CPIs, o ministro do Interior convocou o procurador federal Jader Figueiredo Correia para proceder a investigação das denúncias apresentadas” (BRIGHENTI, 2016, p. 154). 
	Sendo assim, o “Relatório Figueiredo” com mais de cinco mil páginas, produzido em 1968, com o objetivo de apurar os abusos cometidos contra os indígenas, revela, de modo aterrorizante, as formas de violências, inclusive torturas e assassinatos, cometidos pelos agentes do SPI, ou seja, agentes estatais e, além disso, diversos desvios de recursos. Tal documento de suma importância ficou desaparecido por cerca de 40 anos e, com isso, foram ocultadas as atrocidades cometidas pelos diretores de postos do SPI. Nesse sentido, assombrado com tais atos inconstitucionais e desumanos, Jader Figueiredo Correi comenta sua perspectiva diante da perversidade dos fatos apurados: 
 O índio, razão de ser do SPI, tornou-se vítima de verdadeiros celerados que lhe impuseram um regime de escravidão e lhe negaram um mínimo de condições de vida compatível com a dignidade da pessoa humana. É espantoso que existe na estrutura administrativa do país repartições que haja descido a tão baixos padrões de decência. E que haja funcionários públicos cujo bestialidade tenham atingido tais requintes de perversidade. Venderam-se crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. Torturas contra crianças e adultos, em monstruosos e lentos suplícios, a título de ministrar justiça (FIGUEIREDO, apud BRIGHENTI, 2015, p. 54)
	O governo militar, diante da comprovação dos crimes cometidos contra os índios extinguiu o SPI e criou a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), por meio da lei 5.371/1967, entretanto, não garantiu a proteção aos povos indígenas que, lamentavelmente, nos dias atuais, continuam não garantindo tais direitos. Suas políticas, até 1988, também eram pautadas em uma visão integracionista dos indígenas, sobretudo, como meio de civilizá-los e, ainda, sobre a tutela da FUNAI. Portanto, ainda estava latente a mentalidade de transitoriedade dos povos nativos, isto é, eles estavam predestinados ao desaparecimento. 
	Entretanto, como o esperado, eles ainda resistem aos meios que visam extinguir sua cultura. Tal resistência, como já dito, está presente no conturbado cotidiano dos indígenas desde os períodos coloniais. O antropólogo Bartolomeu Melia (1993) em seu livro El guarani conquistado y reducido, citado por Rosana Bond (2005), chegou a considerar que o movimento de resistência indígena tenha começado por volta de 1578-1579, na região de Guarambaré, nas proximidades de Assunção, capital do Paraguai. Porém, logo se expandiu ao atual território paranaense, às margens do rio Paraná, liderado pelo cacique Oberá, cujo nome em Guarani é Werá - que significa luminoso. “Os indígenas protagonizaram uma revolta extremamente singular. Uma espécie de "greve" geral, através da qual recusaram-se a continuar trabalhando para os dominadores, passando a cantar e dançar ininterruptamente” (BOND, 2005), isto é, praticando a “dança ritual guarani”. 
	Nesse sentido, outro movimento de resistência Guarani, analisado por Bartolomeu Melia (1993) e por Clovis Brighenti (2016), nos séculos XVI e XVII, denominado de “desbatismo” constituiu-se no rechaço à religião do colonizador, o catolicismo, ato que visava a desapropriação da cultura nativa. Nesse cenário, os “rebeldes” de Oberá realizavam rituais para se desfazer de nomes cristãos-europeus que haviam recebido dos dominadores e, assim, reutilizando seus nomes de origem indígena, além de reafirmar sua própria identidade. O historiador Brighenti realiza uma análise crítica deste movimento, destacando a força e o significado do nome nativo: 
Para os Guarani, o nome da pessoa representa seu caráter e sua função na sociedade e, portanto, no momento em que os padres convenciam os Guarani a adotarem o nome cristão pela prática do batismo, estariam destruindo a essência do indivíduo. Ao batismo cristão foi atribuído todo o sofrimento e toda a violência. Sendo assim, os líderes religiosos Guarani realizaram o “desbatismo” caracterizado pela retirada no nome cristão imposto pelos padres. Com entonações de cânticos e rezas, os líderes religiosos faziam uso de todo o seu poder espiritual para voltar às antigas origens (BRIGHENTI, 2016).
	No século XX, durante as décadas de 1970 e 1980, como a maioria dos outros grupos sociais excluídos e invisibilizados da sociedade, os povos indígenas de norte a sul do país, constituíram suas organizações específicas e se articularam regionale nacionalmente em lutas pela demarcação de seus territórios e pelo direito e garantia da permanência de suas culturais, costumes e, sobretudo, de viverem conforme os seus modos tradicionais que, atualmente, ainda é alvo de discriminações e comentários sem fundamentos ou conhecimentos básicos sobre a historiografia dos povos indígenas no Brasil. 
	Nesse sentido, em várias regiões do país, iniciaram a realização de assembleias de lideranças indígenas para debater e encaminhar as lutas pelos seus direitos, sobretudo, as retomadas de seus territórios. A primeira Assembleia de chefes indígenas ocorreu em 1974, organizada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), no município de Diamantina, no Mato Grosso, com a participação de líderes dos Apiaká, Kayabi, Tapirapé, Pareci, Xavante, Bororo, Rikbáktsa, Nambikwara e Irantse, ultrapassando os limites de suas comunidades originárias e preocupando-se com os problemas comuns que afligem os povos indígenas. 
	De acordo com Brighenti, tal evento “marcou uma nova forma de pensar a política indigenista no Brasil, podendo ser considerado um marco também da presença indígena na vida política no país” (2015, p. 152). Os povos indígenas presentes puderam, pela primeira vez, elaborar conjuntamente uma política indígena fora da tutela do Estado, contrariando a FUNAI, a fim de defender seus interesses e os seus territórios, tornando-se protagonistas de sua própria história. Nessa perspectiva, Daniel Munduruku, descreve este início da organização indígena da seguinte maneira: 
Organizar o movimento indígena num momento político complexo a partir de uma compreensão limitada do sistema econômico e político da época, servindo-se da parceria de entidades de defesa dos direitos humanos, foi um passo importante para mostrar esta capacidade de renascer das cinzas num país que já os tinha dado como incorporados ao sistema capitalista (MUNDURUKU, 2012, p. 42).
	No Estado do Acre, em 1983, ocorreu a primeira Assembleia Indígena no rio Gregório, município de Tarauacá. A grande luta foi pela demarcação de Terras Indígenas e pelo reconhecimento do direito à diferença, isto é, a tolerância étnica. 
	Assim, como no Acre, os territórios indígenas foram expropriados de forma violenta, por meio das expedições organizadas pelos seringalistas para matar os indígenas em suas malocas e tomar seus territórios para implementar seringais na região – correrias – os indígenas que sobreviveram ao genocídio tiveram que se integrar ao sistema de seringais e, dessa forma, a retomada das terras e da identidade étnica passou pela expulsão dos seringais das terras indígenas. Nesse contexto, Evaldo Carlos Mainawa Katukina retrata o modo de expulsão dos patrões de seu território, no rio Gregório: 
Para tirar o patrão de dentro de nossa terra indígena, fizemos uma grande reunião para escolher a pessoa que tinha mais coragem. Assim, os Katukina escolheram uma liderança para tirar o patrão. No outro dia, chegou um funcionário da FUNAI para nos ajudar. Esse homem da FUNAI passou o resto do dia para reunir todo o nosso pessoal: homens, mulheres, crianças e velhos. No outro dia, fomos tirar o patrão, armados com flechas. Alguns homens usaram até espingardas. O funcionário da FUNAI foi na frente e os índios foram atrás. O nome desse patrão era Correia. Ele trabalhava para a PARANACRE. Ele ficou com medo e foi embora com todos os seringueiros dele (MANÀ KAXINAWÁ, et al, 2002, p. 123).
	Tal relato expressa como os Katukina, com apoio de um membro da FUNAI, expulsaram o patrão e os seringueiros que estavam explorando sua terra. Este processo de retomada ao território foi liderado por Antônio Barbosa Katukina. Nesse contexto, a Terra Indígena do Rio Gregório, em 1984, foi a primeira a ser demarcada no Estado do Acre, com uma extensão de 92.859 hectares, é partilhada com o povo Yawanawá. Entretanto, há um processo de ampliação desta terra para cerca de 187.125 hectares. 
	O Cimi teve um papel essencial na articulação dos povos indígenas, promovendo, portanto, a realização de assembleias de chefes indígenas em todas as regiões do país e, com isso, mobilizando os mais de 200 povos indígenas resistentes, juntamente com a Operação Anchieta (OPAN). De acordo com Daniel Munduruku, “a principal pauta naquelas discussões eram as questões voltadas para a defesa dos territórios indígenas, sendo considerado o mais importante instrumento para a manutenção da cultura tradicional” (2012, p. 52).
	Em território nacional, como resultado dessas assembleias de líderes indígenas, ocorreu um marco significativo deste processo: a criação da União das Nações Indígenas (UNI), em junho de 1980. Tal fundação era dirigida pelas próprias lideranças indígenas que articulavam os povos indígenas no Brasil, com o apoio de entidades indigenistas como o Cimi e a OPAN e, posteriormente, da Comissão Pró-Índio, Conselho de Missão entre Índios (Comin), Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Comissão de Criação do Parque Indígena Yanomami (CCPY), entre outras. “Uma das primeiras ações que esse grupo nascente fez foi a de manter diálogo com as lideranças regionais, locais, e com o Estado, para tornar visível a sua existência e para mostrar que era possível construir uma aliança permanente entre os povos para lutar por seus direitos” (MUNDURUKU, 2012, p. 54). Nesse sentido, de modo significativo, foi marcada a presença na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987 e 1988, a fim de reivindicar os seus direitos. 
	A advogada indigenista Rosane Freire Lacerda (2007), em sua dissertação, intitulada “Diferença não é incapacidade: gênese e trajetória histórica da incapacidade indígena e sua insustentabilidade nos marcos do protagonismo dos povos indígenas e do texto constitucional de 1988”, de maneira crítica, a autora detalha a marcante e estupenda participação ativa das lideranças indígenas, em todo solo nacional, para a construção da proposta das Emendas Populares relativas aos direitos indígenas e na Assembleia Nacional Constituinte em 1987 e 1988 e, por meio de audiências públicas e sensibilização dos deputados constituintes, ocorre a aprovação do Capítulo dos Índios que comtemplou as suas principais reivindicações. Após a conquista extraordinária, Lacerda comenta: 
O protagonismo indígena destacou não apenas a perseverança de seus líderes diante dos obstáculos, mas também a sua altivez (ao tratarem como iguais os líderes políticos dos “brancos” e ao exibirem com orgulho seus adornos, indumentárias e apetrechos de guerra), disciplina (diante da manutenção do foco de atenção, e do cumprimento rigoroso dos horários e roteiros previamente combinados), e extrema capacidade de organização (LACERDA, 2007, p. 180).
	Portanto, tal capacidade de organização, mobilização e persistência indígena levou-os à vitória na Constituição de 1988, que, no Capítulo dos Índios, reconhece os direitos originários dos povos nativos aos seus territórios e, sobretudo, de manter o modo de vida de acordo com as suas tradições e costumes, responsabilizando o Estado brasileiro pela demarcação de seus territórios, juntamente com o fim da tutela. 
	No entanto, por outro lado, tal protagonismo indígena, tornado visível à sociedade brasileira neste processo, confirma a existência e resistência dos povos indígenas que, contrário ao cenário esperado, não desapareceram. Entretanto, por atos infelizes, até os dias atuais, diversos povos indígenas continuam sendo expulsos de seus territórios, inconstitucionalmente, pela expansão capitalista nessas regiões, como o agronegócio, sendo assassinados, submetidos a escravidão e resistindo a diversas formas de violência, como o povo Guarani Kaiowá no Estado do Mato Grosso; E, além disso, sobretudo, tais atos desumanos são omitidos pelas grandes mídias e pelo governo. 
	A década de 1990, segundo Daniel Munduruku, foi marcada por uma nova conduta do movimento indígena. “Havia disposição para fazerem acontecer as promessas que a Constituição recém-aprovada fizera, principalmente aquela que garantia que o governo iria demarcar todas as áreas indígenas numperíodo de cinco anos” (MUNDURUKU, 2012, p. 56). Lamentavelmente, tais promessas não foram cumpridas, pois o Estado ainda adota uma postura colonialista que defende o interesse dos grandes grupos econômicos. 
	Nesta mesma década, os indígenas passaram a ter uma nova relação com o Estado, sem um regime de tutela. Então, nesse contexto, criam-se as associações, organizações regionais, organizações estaduais, com pessoa jurídica, que passam a receber recursos do Estado para promover projetos nas comunidades indígenas. Tais atitudes geram uma nova demanda para capacitação dos indígenas para a gestão desses recursos. Nesse contexto, Daniel Munduruku expressa: 
O fato é que a década de 1990 tornou-se um momento importante para a consolidação de projetos destinados ao atendimento das novas demandas geradas pela política do Estado brasileiro. Diversos projetos foram desenvolvidos ou propostos pelas comunidades, especialmente aqueles voltados à proteção dos territórios já demarcados ou em processo de demarcação; projetos de desenvolvimento sustentável; formação de professores bilíngues; implantação de projetos de radiofonia; realização de cursos de formação profissional destinados à capacitação e treinamento de pessoal indígena para assumir serviços e funções dentro de suas próprias organizações, entre outros (MUNDURUKU, 2012, p. 57).
	Tal conjuntura fez com que os anos de 1990 fossem marcados pelo protagonismo indígena, quebrando o estigma de que eram incapazes de gerenciar seus próprios atos. Este contexto é visível nacionalmente pela grande atuação dos indígenas na “Marcha Indígena” em 2000, percorrendo todo país, reunindo cerca de 3.600 indígenas, e culminou com a realização da “Conferência Indígena” em Porto Seguro, sul da Bahia, local com importância simbólica, visto que é o território onde se iniciou a invasão portuguesa em 1500. Tais acontecimentos fazem parte da mobilização que une os movimentos populares no movimento: “Brasil: 500 anos de resistência indígena, negra e popular – Brasil, outros 500”. “Tudo isso fazia parte das manifestações em resistências às comemorações oficiais pelos 500 anos de ‘descobrimento’ do Brasil que, como certamente devem lembrar-se, acabou gerando conflitos entre os indígenas e as forças armadas, tornando este evento um fiasco estatal” (MUNDURUKU, 2012, p. 56).
	Entretanto, o maior destaque foi a Conferência Indígena, evento que reuniu cerca de 6 mil nativos na Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, representando 140 povos indígenas de todo Brasil, número simbolicamente baixo quando comparado a densidade populacional da diversidade dos povos indígenas anterior a invasão, tornando-o ainda mais visíveis à sociedade brasileira a existência e a resistência desses povos. Por outro lado, o Estado brasileiro demarcou sua violência, por meio das forças armadas. Assim, Daniel Munduruku, ao rememorar este evento, reflete: 
Frei Betto, em artigo publicado na Revista Caros Amigos, diz que ‘o que aconteceu em Porto Seguro em abril de 2000, foi algo muito mais grave do que a imprensa fala. Não nos assumimos como nação brasileira, com as nossas raízes’ (BETTO, 2000, p. 26). Esta opinião demonstra a virulência, o descaso e o autoritarismo de um Brasil que utiliza a força do poder, da exclusão e da negação do diálogo para impor um projeto nacional único, que ignora as raízes indígenas, negras e populares que fundam e que movem a sociedade brasileira (MUNDURUKU, 2012, p. 58).
	Contestando tal projeto nacional unívoco, outra forma de resistência dos povos indígenas é o “isolamento voluntário”. Nesse sentido, alguns grupos indígenas, como na região do Alto Envira no Acre, na fronteira com o Peru, optaram por viver isolados da sociedade como “povos livres”, resistindo ao capitalismo. Como afirma Saulo Feitosa, “as flechas indígenas apontam outra direção diferente do capitalismo”.
	Contrariando a mentalidade colonialista e racista, os povos indígenas possuem muitos conhecimentos além do que imaginamos, como a sua filosofia de vida, com a sua maneira de se relacionar com a natureza, demonstrando modos de vidas possíveis em harmonia com a natureza. Nessa perspectiva, funda-se a filosofia do “bem-viver” como uma crítica radical ao sistema capitalista e busca a desconstrução de princípios consumistas e, sobretudo, prioriza as alternativas que privilegiam os diretos cósmicos, isto é, a natureza como um ser portador de direitos. 
	Por fim, é essencial destacar que, apesar da mentalidade colonialista de que os povos indígenas estavam condenados ao desaparecimento, sendo àqueles os sobreviventes que se integrariam à sociedade nacional, eles ainda resistem, defendendo sua cultura e integridade física. Apesar das atrocidades acometidas desde os tempos coloniais, passando pelo império e a República, atualmente, no Brasil, temos 305 povos indígenas, 274 línguas, com uma população de 896.900 (CENSO, 2010). 
CONCLUSÃO 
Conclui-se, portanto, que os movimentos de resistência dos povos indígenas, no Brasil, sobretudo, está diretamente relacionado com uma contraposição do Estado à tais povos, pois, devido a priorização de interesses financeiros e as ideologias eurocêntricas, colonialistas e integracionistas, o direito ao acesso à terra originária dos povos nativos foram inconstitucionalizadas e, por isso, desde o período colonial, estas populações resistem as violências do Estado, ao descaso governamental, ao silenciamento midiático e ao desprezo e falta de conhecimento da sociedade brasileira sobre os atos criminosos de apropriação de territórios indígenas e do genocídios ocorridos nas aldeias, ocasionando a perca da diversidade étnica deles, para alcançar tais fins. Por isso, é necessário que haja programas de mobilização para a visibilidade indígena no país e a proteção à terra indígena que, por direito, pertencem àqueles que habitam o território nacional anteriormente as décadas de invasão portuguesa. 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
CRUZ, Tereza Almeida. Os processos de lutas e resistência dos povos indígenas do Brasil [artigo] 2017. Disponível em: file:///C:/Users/santo/Downloads/653-Texto%20do%20artigo-2231-1-10-20170216.pdf. Acesso em: 16 de out. de 2020
EAH. Resistência Indígena [site] 2012. Disponível em: http://www.leah.inhis.ufu.br/node/60. Acesso em: 16 de out. de 2020
CONSELHO INDÍGENISTA MISSIONÁRIO. Movimento e organizações indígenas no Brasil [site] 2008. Disponível em: https://cimi.org.br/2008/07/27614/. Acesso em: 16 de out. de 2020 
UOL. Indígenas no Brasil – Uma luta histórica para existir [site] 2015. Disponível em: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/o-indigena-no-brasil-uma-luta-historica-para-existir.htm. Acesso em: 16 de out. de 2020

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