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Flávia Macêdo Anemia megaloblástica, ácido fólico e vitamina B12 ANEMIA MEGALOBLÁSTICA: 1. É um disturbio ocasionado por um bloqueio na síntese do DNA. As células se preparam para uma divisão que não ocorre e, como resultado, se tornam maiores. As celulas mais afetadas são as precursoras da medula ossea e as celulas da mucosa do trato intestinal 2. A anemia megaloblástica não é o mesmo que anemia macrocítica. A anemia megaloblástica é uma causa da anemia macrocitica, que pode ser dividida em: anemia megaloblastica e anemia macrocitica não megaloblástica 3. Até que se prove ao contrario, uma anemia megaloblástica deve ser atribuida a carencia de vitamina B12 ou ácido fólico, importantes cofatores para a síntese de DNA. Outra causa pode ser o uso de medicamentos que bloqueiam a sintese de DNA ou interferem no metabolismo do ácido fólico 4. Laboratório: Hemograma: o VCM muito aumentado (atingindo até 140 fL) Quando está mais de 110 fL, já é muito provavel que seja anemia megaloblástica. o CHCM normal (concentração da hemoglobina corpuscular média) A síntese de hemoglobina permanece normal o RDW aumentado É comum a anisocitose (glóbulos vermelhos com tamanhos desiguais) OBS: é possivel que haja um paciente com anemia megaloblástica com VCM normal (80-100 Fl) quando houver a coexistência de deficiência de ferro com deficiência de vit B12 e/ou ácido fólico OU quando houver anemia megaloblástica associada a talassemia Sangue periférico: o A alteração mais caracteristica é a hipersegmentação do núcleo dos neutrófilos: Apenas um neutrófilo contendo seis ou mais lobos OU presença de pelo menos 5% de neutrófilos com cinco lobos Dosagem de ácido fólico e vit B12: o Os valores normais de vitamina B12 é entre 200 e 900 pg/ml o Os valores normais de ácido fólico é entre 2,5 a 20 ng/ml OBS: como a cobalamina é necessaria para a manutenção do folato no interior das celulas, em sua ausencia, este se desvia para o sangue Dosagem de ácido metilmalônico e homocisteína: Flávia Macêdo o O ácido metilmalônico encontra-se elevado apenas na deficiÊncia de cobalamina Seus valores normais é entre 70 e 270 nmol/L o A homocisteina tem seus valores elevados tanto na deficiência de cobalamina quanto na de folato, ficando com valores de 50 a 250 nmol/L Medula óssea (mileograma): o Medula óssea hipercelular o Os eritroblastos estão aumentados de volume, com importante assincronia núcleo/citoplasma o O núcleo imaturo apresenta uma cromatina granulada (aspecto em peneira) e o citoplasma encontra-se hemoglobinizado (avermelhado) Outros achados: o LDH e bilirrubina indireta encontram-se aumentados (pois estamos diantes de uma destruição aumentada de precursores das células vermelhas no interior da medula óssea. O LDH fica em torno de 3.800 U/ml o Contagem de reticulócitos normal ou baixa ÁCIDO FÓLICO E VITAMINA B12 5. Ácido fólico (folato ou ácido pteroilglutâmico): Principais fontes: vegetais verdes frescos (principal), fígado, avia e algumas frutas. o O folato da dieta é absorvido pelo duodeno e jejuno proximal o O principal reservatorio de folato é o fígado O balanço negativo de folato geralmente é decorrente de uma dieta inadequada, da má absorção ou da utilização exagerada da vitamina o A má absorção pode ser consequencia de um disturbio primario da mucosa duodeno-jejunal ou do uso de alguns fármacos O estoque do folato dura pouco, os sinais clínicos de deficiÊncia de folato aparecem 4-5 meses após o inicio das perdas OBS: Existe uma interdependência do metabolismo do ácido fólico e da vit B12, já que a vitamina B12 é necessaria para a manutenção do folato no meio intracelular O folato tem como função principal transferir fragmentos de 1 carbono para aceptores que darão origem as bases nitrogenadas (purina e pirimidina), constituentes do DNA. 6. Vitamina B12 (cobalamina): Principais fontes: carnes, ovos e lacticínios O estoque da cobalamina é duradouro, logo, os sinais clinicos demorariam anos para aparecer Devido a quantidade de alimentos de origem animal, é mais comum que a deficiencia de vit B12 esteja relacionada a má absorção e não a ingesta alimentar Flávia Macêdo No interior da célula da mucosa ileal, a cobalamina se liga a uma proteina transportadora: TC-II (transcobalamina II), que a transportada para o plasma o A TC-II possui meia vida curta. Logo, a hemacia se desprende dele para se ligar na TC-I (principalmente) e TC-III OBS: a TC-II é a única capaz de acessar as células. Logo, se eu tiver deficit de TC-II, haverá anemia porque a cobalamina não consegue entrar nas células. ---------- Se houver anemia megaloblástica severa na infancia, encontrando niveis de vit B12 normais, provavelmente teremos um caso congenito diminuindo a TC-II. OBS: em um quadro infeccioso, há aumento de leucócitos. Como mecanimo de defesa, o corpo libera neutrófilos, eosinófilos e basófilos. Nessas moleculas de defesa, há grande quantidade de B12 (devido a alta replicação), dando um falso aumento. A cobalamina é responsavel por duas reações: o A primeira reação é extremamente ligada ao metabolismo do folato. MTHF (forma circulante do folato ) -------- > THF (folato ativo), utilizando a vit B12 como cofator Logo, a deficiencia de B12 diminui a forma ativa do folato o Na reação da metionina sintase, o grupamento metil do MTHF é transferio para a homocisteína, formando a metionina Tanto na deficiencia de folato, como na deficiência de cobalamina, esta relação fica prejudicada, aumentando os níveis celulares e plasmáticos de homocisteína A hiper-homocisteinemia é lesiva ao endotélio, podendo aumentar o risco de aterosclerose o A segunda reação não é ligada ao folato. É a conversão do metilmalonil CoA em succinil CoA Na deficiência de B12 (mas não de ácido fólico), os níveis séricos e urinarios de ácido metilmalônico aumentam (bom para diagnostico) O quadro neurologico pela falta de B12 pode ocorrer por duas maneiras o Niveis aumentados de metilmalonil CoA (ácido metilmalônico) promoverão a sintese de ácidos graxos não fisiologicos, que irão se incorporar aos lipidios neuronais. o Se a metionina não for formada adequadamente, prejudica a formação da bainha de mielina. 7. Causas de deficiência de ácido fólico: É comum em pacientes com alimentação ruim, alcoolatras, gestantes e portadores de sindromes disabsortivas no jejuno proximal (doença celiaca) Condições como gestação, anemia hemolitica cronica, cancer e doenças cutâneas esfoliativas (psoríase) predispõem a carencia de ácido fólico devido ao aumento da sua utilização As reservas de folato são reduzidas ao nascimento e lactentes como, prematuros, intolerantes a leite de vaca, sem aleitamento materno, podem precisar de suplementação de folato 8. Causas de deficiência de vitamina B12: Flávia Macêdo Acloridria gástrica (não há separação da vit B12 das outras proteinas) Deficiência do fator intrínseco (anemia perniciosa, gastrectomia total) Insuficiência exócrina pancreática Doença primária ou ausência da mucosa ileal Vegetarianos e população de baixa renda 9. Manifestações clínicas da deficiência de vitamina B12: Manifestações hematológicas: o Decorrem de queixas referentes a anemia, como palpitações, fraqueza, cefaleia, irritabilidade, etc. o Esses pacientes conseguem tolerar baixíssimos niveis de hemoglobina, pois a anemia megaloblástica é uma anemia de instalação insidiosa Assim, notamos petéquias e púrpuras devido a presença de trombocitopenia Manifestações digestivas: o Diarreia e perda ponderal devido a má absorção o Sensação dolorosa na língua, que se mostra avermelhada e com atrofia de papilas (glossite) Manifestações neurológicas: o Podem ocorrer com o hemogramaabsolutamente normal e apenas com a vit B12 sérica baixa. Na maioria das vezes, encontramos anemia megaloblástica. o Parestesia em extremidades, diminuição da sensibilidade profunda, desequilíbrio, marcha atáxica, sinal de Romberg, fraqueza, espasticidade nos membros inferiores (sinal de Babinski), deficits cognitivos, demência 10. Manifestações clínicas da deficiência de ácido fólico: As manifestações clínicas são semelhantes as da anemia por deficiência de vitamina B12, exceto pela presença de achados do aparelho digestório mais exuberantes e a não ocorrência de manifestações neurológicas. Pode cursar com hiperpigmentação difusa da pele. Flávia Macêdo