Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre INTRODUÇÃO A palavra sutura refere-se a todo o material usado para aproximar ou laquear tecidos, auxiliando assim o processo de cicatrização. A sutura ideal é aquela que pode ser utilizada em qualquer intervenção, é maleável e flexível para facilitar o seu manuseamento, permite dar nós seguros, desperta pouca reação tecidual, tem características uniformes e comportamento previsível. Torna-se imprescindível adequar as propriedades da sutura às necessidades locais da ferida. Para uma boa sutura e um bom efeito estético, alguns fatores são necessários: Inserir a agulha (curva) na pele em um ângulo de 90º; Simetria: o A distância entre dois pontos consecutivos (espaçamento) deve ser equivalente à distância entre a inserção da agulha e o leito da ferida (largura); o Para algumas suturas a profundidade da inserção da agulha deve ser discretamente maior que a largura da sutura, para leve eversão e melhor resultado cicatricial. Evitar nós sob ferida; Fios e agulhas adequados; Tração adequada e sem tensão. Para um resultado ainda mais estético, nas suturas de pele, deve se seguir as linhas de força de Langer. Figura 1: Linhas de força (horizontais). Como é realizado o procedimento pré sutura: 1. Lavar (em abundância) com solução salina pressurizada; 2. Antissepsia (do menos contaminado para o mais contaminado): o Ao redor do corte usa-se PVPI ou Clorexidina aquoso a base de álcool (concentração indicada para pele integra). o No local do corte faz uso de sabão degermante. 3. Colocação de campos e anestesia: o Para feridas infeccionadas: Utilizar antitetânica. 4. Retirar materiais estranhos e tecidos desvitalizados. Diretrizes básicas utilizadas com a finalidade de se obter uma linha de sutura eficaz: o Manipulação a apresentação dos tecidos; o Colocação da agulha no porta-agulha; o Direção da linha de sutura; o Transfixação das bordas: A passada de agulha pelas duas bordas do tecido pode ser feita em um ou dois tempos (sendo esta preferível para tecidos muito rígidos). MATERIAL Agulhas: Algumas características das agulhas: Precisam de ser resistentes para penetrar nos tecidos e flexíveis para dobrar sem partir. Apresentam características anticorrosivas a fim de evitar inoculação de corpos estranhos e microrganismos nas feridas. o Forma: Se dividem em ponta, corpo e fundo/olho. 1. A ponta que é a parte de penetração dos tecidos podem ser: Cilíndricas (ponta arredondada): Para tecidos menos resistentes; Triangular: Tecidos mais resistentes; Retangulares: Tecidos nobres/delicados. Figura 2: Respectivamente, pontas e corpo cilíndricos e triangulares. 2. O corpo acompanha o formato da ponta e podem ser, cilíndricos, triangulares e retangulares. 3. O fundo pode ser classificado em: Traumáticos: Fio não vem montado, logo provoca trauma tecidual maior devido a diferença de diâmetro entre a ponta, corpo da agulha e fio; Atraumáticos: O fio é pré-montado na mesma dimensão da agulha. Figura 3: Tipos de fundo das agulhas. Curvatura: As agulhas, conforme o seu ângulo interno, podem ser classificadas em curvas (ângulo interno de 180o graus), semirretas (ângulo interno menor que 180o graus) e retas. Figura 4: Tipos de circunferências das agulhas. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre As agulhas de sutura foram projetadas para penetrar e transpassar os tecidos levando, através destes, fios de sutura. Conforme a forma do corpo da agulha e de sua ponta, diferentes tipos de lesões serão produzidos nos tecidos. Portanto a escolha da agulha depende da estrutura a ser suturada. Fios agulhados e fios não agulhados. A tensão exercida pelo nó não deve ser excessiva, pois pode causar necrose tecidual e mau resultado estético, devido a aumento do tecido cicatricial. Por outro lado, se estiverem muito frouxos, deixam espaço para a formação de tecido de granulação entre as bordas da ferida, acarretando cicatrização por segunda intenção. Pinças de dissecção: Atraumáticas (tecidos friáveis) ou traumáticas (tecido mais resistentes, ex.: bordas da pele ou aponeurose); Porta-agulha. CLASSIFICAÇÃO JUNÇÃO DAS BORDAS Justaposição: Aproximam as bordas da ferida entre si, não deixando desnível entre as mesmas, sendo indicada quando se quer uma perfeita integridade anatômica e funcional (Ideal para pele); Eversão/evaginação: Aproximam as bordas pela face interna, dessa forma as bordas ficam reviradas para fora, muito utilizada em suturas vasculares ou de tensão; Inversão/invaginação: Aproximam as bordas pela face externa, de forma a isolar a parte interna, ocorre quando desloca as bordas para o interior do órgão. Embora seja desejável para oclusão de vísceras ocas, esta ocorrência é considerada prejudicial para a cicatrização adequada da pele; Sobreposição: Mantém uma borda sobreposta à outra, com a finalidade de aumentar a superfície de contato entre as mesmas e proporcionar uma cicatriz mais resistente, indicada no fechamento de paredes, especialmente nas eviscerações, eventrações e na redução de anel herniário. INCLUSÃO DAS CAMADAS Contaminante: Quando a sutura inclui todas as camadas do órgão, desde a serosa até a mucosa, entrando na luz do órgão suturado; Não contaminante: Quando não há comunicação com a luz do órgão, incluindo as camadas: sero-serosa, sero-muscular, sero- submucosa. Figura 5: Inclusão das camadas. CONTINUIDADE Descontínua: quando o fio é passado, amarrado e cortado individualmente; Contínua: quando o fio de sutura é passado alternadamente entre as duas bordas do tecido. SUTURA DESCONTÍNUA Nessa sutura, os fios são fixados separadamente, e pretende que toda a cicatriz seja nivelada, podendo variar a tensão de cada ponto. Vantagens: o Menos isquemiantes (logo, menos hemostático); o Confere maior permeabilidade à ferida e consegue força tênsil maior e de modo mais rápido; o Princípio da independência dos pontos, ex.: o eventual afrouxamento, aperto ou quebra de um nó não interfere no restante da linha de sutura; o Menor quantidade de corpo estranho. Desvantagens: o Elaboração lenta e trabalhosa. PONTO SIMPLES SEPARADO Rápida, fácil e a mais utilizada. É o ponto ideal para aproximação das bordas de uma ferida, devido a propiciar boa captação entre as mesmas. É utilizada em qualquer tecido onde não haja muita tensão: pele, tecido subcutâneo, fáscia, vasos sanguíneos, nervos, trato gastrintestinal; Técnica: Inserir a agulha (ângulo de 900) através da pele em direção ao interior da ferida. Ao emergir a agulha dentro da ferida, insere- se a mesma pela borda interna da ferida, buscando exteriorizá-la novamente, sendo, que desta vez, através da pele. Ao conseguir fixar as duas extremidades do fio, faz-se o nó e corta a parte remanescente. Figura 6: Ponto simples separado. PONTO SIMPLES INVERTIDO Variação do ponto simples, onde o nó fica oculto dentro do tecido. É um ponto de sustentação permanente que tem a finalidade de reduzir a tensão na linha de sutura. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre É utilizado para suturar o esôfago, reduzir de espaço morto, oclusão cutânea intradérmica; Técnica: É revertida a sequência do ponto simples separado, começando com a borda interna em um ponto mais profundo e sair um pouco mais acima, entrar no outro lado em um ponto mais superior e sair mais profundamente (de cima para baixo), de modo que as duas extremidades do segmento serão amarradas (bem rente) dentro da ferida. Figura 7: Ponto separado invertido. PONTO EM “X” Sutura executada para que fique duas alças cruzadas. Esse ponto aumenta a superfície de apoio de uma sutura para hemostasia (ligadura)ou aproximação. o É usado para aproximar áreas de grande tensão, ex.: músculos e pele, especialmente em cotos de amputação de cauda e dedos. Técnica: Primeiramente é realizado um ponto simples separado. Feito isso, guia-se o fio, de modo transversal, novamente para a borda direita da ferida, (ou seja, borda onde foi realizada a primeira interseção), realizando assim, a primeira alça do X. Para concluí-lo, faça igual ao ponto simples separado. Figura 8: Ponto em X. PONTO DONNATTI OU “U” VERTICAL É comumente designado como ponto longe-longe, perto-perto. Muito utilizado em suturas sob pequena tensão, ou quando os lábios da ferida tendem a se invaginar, reduz tensão, promovendo boa coaptação das bordas (evitando invaginação) mas com resultado estético inferior. Figura 9: Demonstração do ponto Donnatti. Técnica: Consiste em duas transfixações: a primeira é perfurante, incluindo a pele e a camada superior do tecido subcutâneo, entre 7 e 10 mm da borda, a segunda/volta do fio é transepidérmica, a cerca de 2 mm da borda, é utilizada a técnica de backhand para a volta do fio. Figura 10: Ponto Donatti. COLCHOEIRO OU PONTO EM “U” HORIZONTAL É semelhante ao Donatti, diferindo na posição horizontal das alças. É usado para produzir hemostasia e em suturas com alguma tensão (ex.: cirurgia de hérnias, suturas de aponeurose), que impede uma boa coaptação das bordas. São utilizados em para suturar hérnias, aponeuroses ou em ferimentos extensos da pele em grandes animais; Técnica: A agulha deve transfixar a pele e atravessar a ferida até alcançar a outra borda (igual ao ponto simples comum). Feito isso, a agulha deve transfixar (técnica backhand) a mesma borda através de um ponto vizinho ao primeiro formado nesta borda, no intuito de retornar à primeira borda, isto é, onde o primeiro acesso da agulha foi feito. Figura 11: Ponto em “U” horizontal. QrCode das suturas descontínuas. As suturas no vídeo começam em 5:40min, antes é o processo de preparação da pele. SUTURA CONTÍNUA Na sutura contínua, o fio é passado do início ao fim sem interrupções. Vantagens: o Execução rápida; o Mais hemostática, tendo a mesma tensão em todo percurso da sutura. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Desvantagens: o Maior probabilidade de isquemia e impermeabilidade; o O rompimento de um ponto pode comprometer toda a sutura; o Quantidade maior de fios, o que pode favorecer a reação tecidual. CONTÍNUA OU CHULEIO SIMPLES Consiste no tipo de sutura de mais fácil e rápida execução, sendo aplicada em qualquer tecido com bordas não muito espessas e pouco separadas. É realizada pela aposição de uma sequência de pontos simples com a direção oblíqua da alça interna em relação à ferida. Utilizada principalmente em fechamento de parede abdominal, anastomose intestinal e em vasos sanguíneos; Técnica: O chuleio simples se inicia com um ponto simples comum de fixação inicial. Feito isto, procede -se, então, com uma sucessão de pontos que unem as bordas da ferida, com um único fio fixado por um ponto simples no extremo proximal da ferida e outro, aplicado ao final da sutura, na outra extremidade. Figura 12: Sutura continua simples. CONTINUA OU CHULEIO ANCORADO Consiste na realização de um chuleio simples, em que o fio, depois de passado no tecido, é ancorado, sucessivamente, na alça anterior. O resultado é que a tenção colocada no fio pela tração de sua extremidade é subdividida a cada ponto, ou seja, o fio ancora e mantém-se apertado ponto a ponto; Utilizada em suturas longas, porque dificilmente afrouxam, dando uma melhor estabilidade no caso de deiscência, ex. anastomose intestinal, hérnia diafragmática e mastectomias radicais. Figura 13: Contínua ancorada. INTRADÉRMICA Consiste numa sequência de pontos simples longitudinais alternados, por dentro das bordas da pele (inserindo a agulha apenas no plano subcutâneo), resultado em uma excelente coaptação das bordas, o que lhe confere um excelente resultado estético. É bastante utilizado nas cirurgias plásticas; Deve ser usado em feridas com pouca tensão; Técnica: É iniciada com a introdução da agulha no ângulo proximal da ferida, linearmente à incisão (preconiza-se que os nós dados nos extremos da ferida sejam feitos apenas depois de verificada a eficácia da sutura). O restante dos pontos se realiza passando o fio, alternadamente, pelas duas bordas subcutâneas da ferida, em sentido horizontal, de uma borda para outra, avançando ao longo da mesma. Finalizando-se os nós em ambos os extremos da ferida. Figura 14: Sutura intradérmica. BOLSA DE TABACO Indicada para fechar orifícios, prevenir extravasamento de conteúdo e fixar drenos e tubos na pele. É uma sutura em círculo em redor do orifício, com tração do fio para a sua oclusão. A técnica consiste em passar o fio em toda volta da alça no sentido transverso e apertá-lo, após invaginar a extremidade. Figura 15: Bolsa de tabaco. QrCode das suturas contínuas. QrCode das suturas contínuas. RETIRADA DOS FIOS DE SUTURA CUTÂNEA Os fios de sutura devem ser mantidos apenas enquanto forem úteis. Os elementos que devem ser levados em conta para avaliação são: Aspecto da cicatrização se está seca, sem edema ou congestão; Local da ferida se tem tensões excessivas sobre a cicatriz; Direção da cicatriz se obedece a linha de força. Condições favoráveis para a cicatrização.
Compartilhar