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Silvio Telles, Sílvia Lüdorf e Erik Pereira (orgs.) Pesquisa em educação física: perspectivas sociocultural e pedagógica em foco Rio de Janeiro, 2017 APRESENTAÇÃO O contexto da criação do evento e desse livro O campo da Educação Física, que se desenvolve dentro de um amplo espectro de possibilidades interventivas, de estudo e de pesquisa, alicerçado nas mais diversas áreas do conhecimento, nem sempre foi tão matizado como vemos nos dias atuais. No Brasil, no primeiro quartel do século XX o surgimento da área que abrange os conhecimentos da educação física teve em seu berço uma grande influência de médicos e militares construindo significativa parte dos pilares da profissão pautados, principalmente, nos princípios biomédicos e em uma visão de corpo objetificado (LÜDORF; ORTEGA, 2013). Este panorama sofre grandes transformações a partir dos anos de 1970, 1980 e 1990 onde autores apoiados nas Ciências Humanas e Sociais e nas teorias críticas da Educação, começaram a pensar o campo sob outro prisma, proporcionando uma reflexão tanto no processo interventivo como no teórico. Uma crise epistemológica e ideológica colocou em xeque todo um contexto de atuação, gerando dúvidas quanto à natureza da profissão. Seria esta uma ciência? Um processo interventivo? Essa discussão foi determinante para promover na profissão uma visão que não se pautava somente em uma perspectiva biomédica, trazendo para o escopo teórico da área uma criticidade necessária a um campo tão polissêmico e diversificado. Segundo Manuel e Carvalho (2011) o campo da Educação Física está configurado em três subáreas denominadas como Biodinâmica, Sociocultural e Pedagógica. A primeira subárea é construída/compreendida sob orientação das Ciências Naturais (ABERNETHY, 1996; AMADIO; BARBANTI, 2000) e, a sociocultural e a pedagógica, construídas/compreendidas como vertentes orientadas pelas Ciências Sociais e Humanas (BRACHT, 2006; BETTI, 2004). Pensar na Motricidade Humana, nas Ciências do Desporto e da Atividade Física ou ainda na Cultura do Movimento Humano, associando conhecimentos oriundos das três subáreas permitiu o avançar de uma consciência do todo mais completa, atendendo demandas que somente em uma visão biodinâmica não seriam contempladas. Com o surgimento dos cursos de Pós-Graduação no final dos anos de 1970, a produção do conhecimento e a formação de mestres e doutores permitiu um crescimento no tocante à qualidade docente que seria responsável pela formação de uma nova geração de professores. No Rio de Janeiro, universidades como a UFRJ (1980) e a Gama Filho (1985) tinham nos seus cursos de Pós-Graduação Scricto Sensu diversos professores de todas as subáreas, mas especialmente na última, havia importante destaque para as vertentes sociocultural e pedagógica (LÜDORF, 2002). Contudo, com o passar dos anos houve um alargamento da subárea biodinâmica e uma retração das outras duas. Recentemente em 2015, o Fórum de Pesquisadores das subáreas sociocultural e pedagógica, através de três reuniões que ocorreram em agosto de 2014 no Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES, Vitoria), em dezembro de 2014 na Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, Porto Alegre) e em abril de 2015 no Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR, Curitiba), produziu um documento denominado “Cenários de um descompasso da pós-graduação em educação física e demandas encaminhadas à CAPES1” que de forma muito clara aponta os rumos das subáreas sociocultural e pedagógica no âmbito da Área 21 da CAPES. As implicações apontadas pelo documento revelam um desmonte das perspectivas sociocultural e pedagógica que, a médio e longo prazo, seria determinante para um retrocesso nas possibilidades de discutir e entender o campo da educação física brasileira. Atualmente a subárea biodinâmica, segundo o documento supracitado, detém mais de 70% da dimensão total dos cursos de pós-graduação vinculados à Educação Física, enquanto que às subáreas sociocultural e pedagógica restam apenas 14,5% e 13,3%, respectivamente. Desta forma, docentes formados sob os auspícios das subáreas sociocultural e pedagógica serão reduzidos drasticamente impactando na formação de novos profissionais como também de novas pesquisas, além de desenvolver uma representação da área a partir, majoritariamente, de uma única vertente. Essas constatações apontadas no documento sobre a situação das subáreas sociocultural e pedagógica fica ainda mais preocupante mediante o grande número de cursos de licenciatura que tem em seu âmago a clara pertinência com a subárea pedagógica. Pesquisadores com significativa inserção no campo da Educação Física, muitas vezes, migram para outras áreas a fim de permanecerem em um programa stricto sensu ou ainda por não concordarem com os critérios de produtividade que pouco se adequam às particularidades das pesquisas com aporte das ciências humanas e sociais. Diante deste contexto, como docentes e pesquisadores de Programas de Pós- Graduação stricto sensu ligados à Educação Física no Rio de Janeiro e representantes das perspectivas sociocultural e pedagógica, sentimos a necessidade de criar um espaço para discutir essas e outras questões que sensibilizam a produção científica e a formação de professores e de profissionais de nossa área. Assim, idealizamos o “Seminário de Educação Física, Esporte e Sociedade” e, para a primeira edição, a ser realizada nos dias 9 e 10 de novembro de 2017, elegemos a temática “Pesquisa em Educação física nas perspectivas sociocultural e pedagógica”. Pretendemos, desta maneira, ampliar as discussões acerca dos desafios, limites e possibilidades das subáreas sociocultural e pedagógica junto à Pós-Graduação em Educação Física. Como um dos produtos dessa iniciativa, apresentamos o presente livro, que reúne os manuscritos que deram suporte às palestras dos professores convidados. A partir da riqueza de experiências e das vivências acadêmico-profissionais desses autores, pretende-se lançar diferentes olhares sobre esse debate, bem como apresentar sugestões para o desenvolvimento e o repensar das subáreas sociocultural e pedagógica no campo científico da Educação Física. Dessa maneira, o presente livro foi dividido em três seções que foram distribuídas no intuito de aproximar os manuscritos a partir de temáticas afins. A seção I intitulada “Realidade da pós-graduação nas perspectivas sociocultural e pedagógica” traz críticas e sugestões contribuindo para a discussão dos limites e possibilidades das subáreas em foco. Na seção II, “Multiplicidades de olhares sobre as subáreas sociocultural e pedagógica”, são apresentadas discussões sobre as práticas corporais e a abordagem Queer na educação física. Por último, mas não menos importante, a seção III “Apontamentos sobre ética e pesquisa na educação física” apresenta o que muda nas pesquisas com a nova Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 510/16. Gostaríamos, portanto, de agradecer a todos os colaboradores, não apenas por acreditarem e participarem deste nosso projeto, mas também, por aceitarem o desafio de juntos, repensarmos continuamente nosso campo. A sensibilidade, a acuidade das análises e a robustez das argumentações presentes nesses textos são sinais inequívocos da riqueza de reflexões potencializadas pelas vertentes sociocultural e pedagógica de nossa Educação Física. REFERÊNCIAS AMADIO, A.; BARBANTI, V. (Orgs.). Biodinâmica do movimento humano e suas relações interdisciplinares. São Paulo: Estação Liberdade,2000. ABERNETHY, B. et al. The biophysical foundations of human movement. Champaign: Human Kinetics, 1996. BETTI, M. et al. A avaliação da educação física em debate: implicações para a subárea pedagógica e sociocultural. Revista Brasileira de Pós-Graduação, v. 1, p. 183-194, 2004. BRACHT, V. Por uma política científica para a educação física com ênfase na pós-graduação. In: FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA, 2006, Campinas. Disponível em: <http://www.cbce.org.br/br/acontece/materia.asp?id=312> LÜDORF, S. M. A. Panorama da pesquisa em Educação Física da década de 90: análise dos resumos de dissertações e teses. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 13, n.2, p. 19-25, 2002. LÜDORF, S.M.A.; ORTEGA, F.J.G. Marcas no corpo, cansaço e experiência: nuances do envelhecer como professor de Educação Física. Interface (Botucatu), v.17, n.46, p.661-75,jul./set. 2013. MANOEL, E. J.; CARVALHO, Y. M. Pós-graduação na educação física brasileira: a atração (fatal) para a biodinâmica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37, n.2, p. 389-406, mai./ago. 2011. http://www.cbce.org.br/br/acontece/materia.asp?id=312 1. FÓRUM DE PESQUISADORES DAS SUBÁREAS SOCIOCULTURAL E PEDAGÓGICA. Cenários de um descompasso da Pós-Graduação em Educação Física e demandas encaminhadas à CAPES. Disponível em: <http://www.cbce.org.br/noticias-detalhe.php?id=1074>. Acesso em: 02 de abr. 2017. SEÇÃO I A REALIDADE DA PÓS-GRADUAÇÃO NAS PERSPECTIVAS SOCIOCULTURAL E PEDAGÓGICA SUBÁREAS SOCIOCULTURAL E PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: AINDA A CAMINHO DO FIM Prof. Dr. Silvio Telles (UERJ-UFRJ) Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Líder do Grupo de Estudos em Escola, Esporte e Cultura (GPEEsC) Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (UERJ) Prof. Drª. Sílvia M. Agatti Lüdorf (UFRJ) Professora Associada da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ. Coordenadora do Núcleo de Estudos Sociocorporais e Pedagógicos em Educação Física e Esportes (NESPEFE) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da EEFD/UFRJ Prof. Dr. Erik Giuseppe Pereira (UFRJ) Professor Adjunto da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ. Líder do Grupo de Estudos Corpo, Esporte e Sociedade (GECOS) Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da EEFD/UFRJ O campo da Educação Física brasileira, principalmente o específico da pesquisa sistemática, pode ser reconhecido como relativamente jovem, sendo os anos de 1970 e 1980 decisivos para a construção do que hoje conhecemos como projetos em Pós- Graduação Stricto Sensu em Educação Física. Em 1977 foi criado o primeiro curso de Mestrado em Educação Física do Brasil e da América Latina, na Universidade de São Paulo (USP), que inclusive em março deste ano, comemorou 40 anos de existência. Um marco para a área. Em 1979 na Universidade Federal de Santa Maria, surge o segundo mestrado, seguido pelos Programas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1980), da Universidade Gama Filho (1985), da Universidade Estadual de Campinas (1988), da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ambos em 1989. Neste último ano, na USP, iniciaram-se as atividades do primeiro curso de doutorado do Brasil e da América Latina. A Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD) fundada em 1939, primeiro curso superior civil, já formava professores há 38 anos quando o primeiro curso de mestrado surgiu. Médicos e militares ainda ditavam a tônica da área e havia uma tendência clara na formação dos docentes nos aspectos técnico-esportivos e biológicos. Partindo dessa premissa, o campo da pesquisa teve significativo impulso em um espaço antes hegemonicamente desenvolvido em uma perspectiva interventiva, militarista e higienista. Em 1977, foi instituído pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), o Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES), responsável pelo sistema de avaliação de programas de pós-graduação. Em um primeiro momento, o resultado das avaliações não se tornava público, sendo informado apenas às instituições. Esse processo era divulgado através de conceitos compreendidos entre A (Muito bom) e E (Insuficiente) (BARATA, 2016). Desde desse período, muita coisa mudou. Atualmente, a área da Educação Física conta com 37 programas em funcionamento, sendo 13 de Mestrado Acadêmico, dois de Mestrado Profissional e 22 com cursos de Mestrado e Doutorado. Desta forma, houve uma necessidade de desenvolver/aperfeiçoar normas que contemplassem as avaliações e seus critérios para o credenciamento e manutenção, tanto dos Programas de Pós- Graduação (PPG), como dos professores em seus respectivos programas. Este capítulo, que se caracteriza como um ensaio, destina-se a propor reflexões acerca das subáreas sociocultural e pedagógica que, juntamente à subárea da biodinâmica (MANOEL e CARVALHO, 2011), compõem a Educação Física, inserida na Área 21 da Grande Área da Saúde, conforme classificação da CAPES. O objetivo é colaborar para ampliar a discussão sobre os limites e possibilidades que se apresentam às subáreas sociocultural e pedagógica e, também, apresentar um conjunto de proposições desenvolvidas por diversos pesquisadores da área que procuram uma adequação do sistema de avaliação/credenciamento às peculiaridades das subáreas em questão. A AUTOFAGIA DE UM CAMPO Em 2015 foi publicado na revista Nature o “Manifesto de Leiden sobre métricas de pesquisa” dos autores Hicks et al. Neste artigo, é discutido que as formas como estão sendo conduzidas as métricas de avaliação produzem distorções e julgamentos que não representam de fato a competência e relevância de determinado grupo de pesquisa ou pesquisador. Essa adoção métrica mundial tem alterado todo um modus operandi de instituições e pesquisadores que acabam por reverberar um conjunto de ações que induz a produção desenfreada, que quantifica e qualifica a partir do número, impacto e citações de artigos. Com isso, as agências de fomento ou mesmo as Universidades criam hierarquias pautadas nesses critérios gerando um ciclo vicioso e, muitas vezes, falho. Ainda no manifesto, são elencados dez princípios das melhores práticas de avaliação. Incorporando o discurso da importância do fator de impacto, esses princípios foram publicados em um dos periódicos mais bem conceituados do mundo. Destacamos o 6º princípio que tem como título “Considerar as diferenças entre áreas nas práticas de publicação e citação”. Assim diz: “A melhor prática de avaliação é selecionar um conjunto de possíveis indicadores e permitir que as distintas áreas escolham aqueles que lhes são mais adequados” (HICKS et al., p.4). Os atuais critérios construídos pela CAPES usam uma classificação considerando as bases de indexação e as medidas de impacto bibliométrico, que por razões epistemológicas, conduziram e conduzem o campo da Educação Física a uma espécie de polarização. De um lado, a subárea Biodinâmica, e de outro, as subáreas Sociocultural e Pedagógica, considerando-se a proposta de Manoel e Carvalho (2011) quanto à atual divisão do campo da educação física: A biodinâmica compreende as atividades de pesquisa dentro de subdisciplinas como bioquímica do exercício, biomecânica, fisiologia do exercício, controle motor, aprendizagem e desenvolvimento mo- tor, além de alguns campos aplicados, como nutrição esportiva e treinamento físico e desportivo. As linhas de pesquisa na biodinâmica são orientadas pelas ciências naturais[...]. A subárea sociocultural trata de temas como esporte, práticas corporais e atividadefísica nas perspectivas da sociologia, da antropologia, da história e da filosofia. A subárea pedagógica investiga questões relativas à formação de professores, ao desenvolvimento curricular, aos métodos de ensino e à pedagogia do esporte, além de tratar de aspectos metodológicos, sociais, políticos e filosóficos da educação (p. 392). As concepções de ciência, pesquisa e métodos, oriundas das Ciências Naturais, amparadas pelos pressupostos da ciência tradicional (SANTOS, 1999) diferem daquelas advindas das Ciências Humanas e Sociais, gerando modos de pensar e de fazer ciência, não melhores ou piores, mas diferentes, que impactam nas formas de avaliação. Entretanto, essas diferenças pouco são levadas em consideração, principalmente pelo fato da Educação Física, e especialmente a pós-graduação, ter se constituído sob a égide da área da Saúde. Essa subdivisão do campo da Educação Física e, em especial, as compreensões diferenciadas sobre as formas de avaliação, até o momento, privilegiando a Biodinâmica em detrimento das outras duas, têm produzido discussões que vêm se agudizando. Exemplarmente, Hallal e Melo, (2017), Saura, Zimmermann e Rubio (2017), Fórum de pesquisadores das subáreas Sociocultural e Pedagógica (2015), Castro (2015), Lazzarotti Filho, Silva e Mascarenhas, (2014), Silva, Sacardo e Souza (2014), dentre outros, clamam por critérios que possam atender às demandas da área como um todo, levando em consideração as características e idiossincrasias que dão os limites e possibilidades de cada subárea. Saura, Zimmermann e Rubio (2017) argumentam: Ao longo deste período inicial dentro do campo da Educação Física, percebe-se que a tentativa de adequar-se a parâmetros de áreas completamente diferentes ameaça, senão a sobrevivência, a identidade ou originalidade da contribuição das humanidades (p. 114). No mesmo tom, Hallal e Melo (2017) alertam para as consequências dessa divisão: A seguir esse processo, inviabilizaremos o convívio entre as diferentes subáreas da Educação Física. Com isso, daremos ‘‘um tiro no pé’’, esvaziaremos a força de nossas reivindicações e a importância de nossa disciplina, algo que em última instância não vai fazer bem para qualquer um de nós envolvidos, tampouco para a sociedade brasileira (p. 326). O que causa inquietude naqueles que conduzem suas pesquisas no âmbito das subáreas Sociocultural e Pedagógica é que essas reivindicações por paridade já ultrapassaram mais de uma década e as demandas parecem muitas vezes as mesmas de 13 anos atrás, como já denunciavam Betti e outros (2004): “Muitos docentes- pesquisadores da subárea pedagógica/sociocultural concordam que a manutenção dos critérios atuais de valoração das publicações poderá extinguir essa subárea em curto prazo” (p. 188 ). O campo da Educação Física em sua formação primária está dividido em bacharelado e a licenciatura. Tais cursos têm (ou deveriam ter) características distintas, onde o primeiro habilita o graduado ao mercado de trabalho da área, com exceção do ambiente escolar, ao passo que a licenciatura o habilita para atuação na educação básica. É possível depreender, a partir da pluralidade de possíveis intervenções, a importância de se valorizar todas as subáreas da Educação Física. Apesar de haver debates sobre a pertinência desse modelo ou de uma formação unificada, ainda o licenciado representa a maioria de profissionais que são lançados no mercado de trabalho. Em 01 de agosto de 2017, uma pesquisa divulgada no portal G1, mostra números sobre o ingresso nos cursos de Educação Física pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que podem apontar uma tendência do campo. Em 2015, segundo a pesquisa, 35 mil estudantes se formaram em educação física, sendo que 60% destes em licenciatura. Contudo, apesar de ser a maioria, em 2010 esse percentual era de 71%. Ainda segundo a pesquisa, a Educação Física foi a 11ª profissão em número de abertura de vagas entre 2009 e 2012. Esse crescimento no número de bacharéis é atribuído à expansão das academias e à legitimação da Educação Física no campo da saúde. Soma-se a isso a desvalorização do profissional de educação que constantemente vêm perdendo prestígio em nossa sociedade. Silva, Sacardo e Souza (2014) apresentam diversas ações das políticas do Plano Nacional de Pós-Graduação dos últimos dois ciclos (2005-2010 e 2011-2020) que vêm sendo objeto de indução e envolvem a Educação Básica. Os autores denominam tais ações como “Pacote CAPES para a Educação Básica Brasileira2”. No bojo dessas proposições coadunamos com ideia de que a Educação Física tem forte vinculação ao campo da Educação. Apesar dessas ações e observando a pesquisa citada, o que vemos é uma retração do campo de formação dos licenciados. Essa tendência é ainda, ao nosso ver, ratificada pela política de avaliação imposta pela área 21, onde se percebe uma dificuldade cada vez maior dos orientadores vinculados às subáreas Sociocultural e Pedagógica em permanecerem credenciados ou ainda se credenciarem nos programas, o que a médio e longo prazo ocasionará uma redução de vagas para profissionais que buscam aperfeiçoar-se nos preceitos das ciências humanas e sociais no campo da educação física, em especial aqueles afetos a subárea pedagógica. Essa perspectiva desvela o alinhamento do campo acadêmico ao processo contínuo de desvalorização do professor da educação básica. A discrepância nos critérios de avaliação da CAPES já pode ser sentida quando se busca desenvolver pesquisas em nível de doutorado. Como exemplo, no Rio de Janeiro, há apenas cinco professores que se filiam originalmente às subáreas Sociocultural e Pedagógica que, em tese, são aquelas que têm uma demanda maior por profissionais vinculados ao âmbito escolar. Entendemos que são realizados estudos na Biodinâmica vinculados à escola, mas hegemonicamente esse não é o foco das pesquisas que dão os contornos a essa subárea. A redução de vagas para esses profissionais que buscam aperfeiçoamento e pesquisas nessa esfera desacelera o desenvolvimento do campo da Educação Física dentro da escola. Destacamos que as discussões sobre como enfrentar a desvalorização do profissional têm espaço privilegiado também na área Sociocultural. Assim, as três subáreas se complementam, devendo ser buscada uma equiparação de possibilidades. De fato, concordamos com Lazzarotti Filho e outros (2014) ao afirmar que as disputas dentro do campo da Educação Física sempre aconteceram. Desde os anos de 1930 quando médicos e militares buscavam a construção do campo, até os anos de 1980 quando o pensamento renovador foi determinante para romper com uma visão marcadamente biologicista, há uma atuação interventiva e de produção do conhecimento polarizada dos atores envolvidos. Sobre o quartel final do século XX destacamos Oliveira (1985), Coletivo de Autores (1992) e Kunz (1994), que dentre outros autores, trouxeram à discussão novas características necessárias ao professor de educação física. Desde então, conhecer o corpo humano e ensinar a “jogar bola”, tornou-se muito pouco para uma formação global do professor. Esta crise teórica, concomitantemente à uma crise epistemológica que colocava em xeque se a Educação Física era uma ciência ou um campo interventivo acompanhou a produção do conhecimento a partir do final da década de 1980 e foi essencial para desencadear uma maior criticidade em toda uma geração de professores. De modo ilustrativo, a Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, especialmente entre 1985 e o início dos anos 2000, tornou-se um pólo importantede discussões no âmbito das subáreas Sociocultural e Pedagógica. Docentes como Victor Marinho de Oliveira, Manoel Gomes Tubino, Hugo Lovisolo, Nilda Teves, Sebastião Votre, Helder Guerra de Resende, dentre outros, foram marcantes para a deflagração, manutenção e discussão de referenciais teóricos advindos das ciências humanas e sociais, que muito contribuíram para a área. E se fosse hoje? Possivelmente aconteceria com alguns desses professores o que relatam Silva, Sacardo e Souza (2014), uma migração de mentes da Educação Física para outras áreas. Os autores apresentam um quadro com diversos doutores que atuam em todo o Brasil em outros programas de pós-graduação, que não aqueles ligados à Educação Física. De fato, essa tendência se materializa, como também detectado em Baptista e Lüdorf (2016), a partir do estudo do conceito de educação do corpo, cuja utilização é feita primordialmente por professores de Educação Física que atuam na área da educação. Com essa fuga de nossos intelectuais para outras áreas, perdemos oportunidades de avançarmos nas mais variadas possibilidades de desenvolvimento das questões da Educação Física. Lazzarotti Filho et al. (2014) e Castro et al. (2017) já discutem essa tensão entre as subáreas à luz da Teoria do Campo de Pierre Bourdieu. Essas reflexões ajudam a dar contornos mais exatos ao fenômeno que vem se configurando como autofágico. Essa disputa dentro do campo em busca de uma maior demarcação por espaço social forja um habitus3 próprio oriundo das lutas entre os agentes e instituições em torno do capital específico e dos objetos de disputa. O campo científico é um mundo social e como tal, faz imposições e solicitações, que são, no entanto, relativamente independentes das pressões do mundo social global que o envolve. Os campos se apresentam segundo Bourdieu (1983, p. 89) “Como espaços estruturados de posições, cujas propriedades dependem das posições nestes espaços, podendo ser analisadas independentemente das características de seus ocupantes”. Com base no conceito de campo de Bourdieu (1983), invariavelmente existe uma relação entre o microcosmo e o macrocosmo, mas o primeiro dispõe de certa autonomia, que varia de campo para campo. Essa relativa autonomia é que torna as leis internas dos campos ou subcampos (talvez subáreas) distantes do macrocosmo. Identificar essa autonomia é um dos dilemas na elucidação da construção e funcionamento do campo. Por isso, interessa-nos saber qual a natureza das pressões externas, a forma sob a qual elas se exerceram e sob quais formas se manifestam as resistências que caracterizam a autonomia, ou seja, quais são os mecanismos que o microcosmo aciona para se libertar dessas imposições externas e ter condições de reconhecer apenas suas próprias determinações internas. As pressões externas são em grande parte observadas a partir da necessidade de internacionalização do campo de pesquisa da Educação Física. O Fórum de pesquisadores das subáreas Sociocultural e Pedagógica, realizado em 2014, discutiu que apesar da língua inglesa ser predominante, essa se articula em maior escala com as Ciências Naturais sendo para as Ciências Humanas e Sociais, apenas mais uma opção:“Condicionar a permanência das subáreas sociocultural e pedagógica à priorização de veiculação de sua produção em periódicos de língua inglesa é uma atitude que pode ter todos os motivos menos o racional e o acadêmico (p. 8). Segundo o Fórum (p. 6): O fator de impacto dos periódicos das ciências sociais e humanas será sempre menor do que o das ciências naturais por força do modo de cálculo que desconsidera peculiaridades da constituição bibliométrica de cada ciência, logo, os docentes das subáreas sociocultural e pedagógica sempre estarão em desvantagem em relação a seus colegas da subárea biodinâmica quando o elemento de comparação for fator de impacto, índice h, entre outros. Tal condicionamento também acontece devido ao uso dos fatores de impacto, em especial o Journal Citation Reports (JCR) que segundo o Fórum, são adotados sem critérios, desconsiderando as peculiaridades das Ciências Humanas. Assim, com uma oferta demasiadamente maior de periódicos internacionais vinculados à língua inglesa com altos fatores de impacto, ancorados nas Ciências Naturais, é de se esperar que aconteça um aumento exacerbado e contínuo da mediana de produção de pesquisadores da Biodinâmica, elevando o nível de exigência, a ponto de praticamente impedir de ser alcançado pelos pesquisadores das outras duas subáreas. Em Hicks et al. (2015) o princípio de número 3 das melhores práticas de avaliação intitulado “Proteger a excelência da pesquisa localmente relevante” denuncia justamente essa pressão em publicação na língua inglesa e explica que tal imposição termina por prejudicar diversas áreas como as ligadas as ciências sociais. Neste processo, perde-se a especificidade dos sociólogos em revistas espanholas de alto impacto: temas como leis trabalhistas locais, serviços de saúde familiar para idosos ou empregabilidade de imigrantes. Os indicadores baseados nas revistas de alta qualidade publicadas em outros idiomas diferentes do Inglês devem identificar e premiar as áreas de pesquisa de interesse local (p.3). Percebemos que a manutenção desse panorama não afeta os pesquisadores da subárea vinculada à Biodinâmica que atualmente rege os destinos da área 21. Podemos identificar que os agentes sociais que definem os rumos da área, parecem se movimentar com relativa morosidade para apresentar soluções que atendam as demandas apresentadas, Essa tensão entre os agentes sociais poderia manifestar-se através da discussão quanto às normas que regem o interior do campo e isso deveria ser exaustivamente exercitado para que exista um equilíbrio de forças. Bourdieu (1983) explica que a estrutura de um campo é um estado da relação de força entre os agentes ou instituições engajadas na luta ou, se optarmos, da distribuição do capital específico4 que acumulado no curso das lutas anteriores, orienta as estratégias posteriores. Entendemos que a luta e a disputa pressupõem no mínimo um acordo entre os antagonistas sobre o que será disputado. Bourdieu reforça que em um estado determinado de relação de força, aqueles que monopolizam o capital específico tendem a desenvolver estratégias de conservação, controlando a produção de bens culturais levando com isso à defesa e manutenção da ortodoxa. Já os que não concordam com o referido monopólio tendem às estratégias de subversão. A hetorodoxia enquanto ruptura crítica, onde se constroem as discussões subversivas da Área 21, são frequentemente ligadas ao desenvolvimento de uma crise e cabe aos dominantes a tentativa da manutenção da doxa. Os dominantes do campo criam um discurso defensivo impondo um pensamento de direita, visando com isso restaurar e ou manter a ortodoxa anteriormente pregada (BOURDIEU, 1983). Interessante que segundo Hallal e Melo (2017), houve um diálogo mais próximo, em dado momento, ou ao menos uma boa convivência, entre os agentes envolvidos com as formas de produção do conhecimento da educação física, mesmo que uma área tenha se sobrepujado à outra ou que tenha existido alguma tensão na definição dos destinos do campo. Os autores ainda afirmam que talvez, a busca por uma consolidação do campo, mais ligada à intervenção do que à pesquisa, possa ter sido o motivo que desenvolveu uma menor lacuna, do que os atuais, entre os personagens. Segundo Bourdieu, (2004) a autonomia dos campos é o que torna possívelsua compreensão. Sua autonomia se dá principalmente pelo seu poder de refração. Quanto mais autônomo for um campo, maior será o seu poder de refração. A refração de um campo transfigura as imposições externas a ponto das mesmas se tornarem perfeitamente irreconhecíveis. O grau de autonomia dos campos tem por indicador principal seu poder de refração. Lazzarotti Filho e outros (2014) apontam que o campo da pesquisa em educação física oferece indícios que sua autonomia está em fase de construção, mas já altera as forças dentro da disputa. O fato desse espaço ainda ser recente no campo ainda detém pouco poder de refração e de retradução das interferências externas. Atribui-se a isso que grande parte dos doutores pesquisadores tenham feito sua formação em outras áreas, o que acaba por trazer um fazer científico diferente. Os autores apontam que na última década há um processo significativo de aumento da pesquisa na educação física e tal situação tem diluído o debate pedagógico levando a uma mudança gradual do modus operandi dos agentes sociais. Assim, os objetos em disputa migram dos debates sobre as teorias pedagógicas e sobre a escola, discussão marcante nos anos 1980 e 90 para a prática científica sistemática no início do século XXI. Interessante que os mesmos autores mencionados utilizam os escritos de Bracht (2003, p. 16), que na vanguarda dos acontecimentos à época já apontava o que vivenciamos hoje: “quanto mais nos subordinamos aos processos de avaliação da Coordenação de Melhoria de Pessoal de Nível Superior (Capes) que normatiza e estrutura produção científica brasileira, mais nos distanciamos da escola”. Concordamos com Lazzarotti Filho e outros (2014) que esse novo modus operandi, que alterou os objetos de disputa no campo, em virtude das diferenças significativas no tocante à origem epistemológica das ciências mãe, que dão contorno as subáreas, tem dificultado possíveis acordos, mesmo que tácitos, dentre os agentes da comunidade acadêmico científica da Educação Física brasileira. Desta forma é determinante que haja uma ampliação do debate para que a pluralidade e a diversidade sejam cada vez mais valorizadas. PROPOSTAS E ENCAMINHAMENTOS: O CLAMOR DOS PESQUISADORES Mas o que fazer nesse panorama? Não são poucas as sugestões destinadas a CAPES com o intuito de sensibilizar aqueles que hoje detêm os poderes decisórios. Acreditamos que muitas possibilidades de mudança esbarram no atual paradigma em que a ciência mundial está ancorada. Contudo, sugestões podem e devem ser discutidas para possibilitar a representatividade, tanto qualitativa quanto quantitativamente, dos pesquisadores das subáreas sociocultural e pedagógica nos programas de pós-graduação ligados à Educação Física. Diversos são os autores que produzem reflexões, promovem eventos e sugerem ações nesse sentido. Silva, Sacardo e Souza (2014), exemplarmente, propõem quatro ações que poderiam ser implementadas: 1. Tensionar a Área 21; 2. Adaptar-se à Área 21; 3. Criar subáreas ligadas à Educação Física no interior de outras áreas onde atuem egressos do campo e; 4. Migrar ou Submeter APCN´s à Área 46 (Ensino). O Fórum dos pesquisadores das subáreas Sociocultural e Pedagógica, por sua vez, desenvolveu um documento que apresenta um conjunto de proposições endereçado à CAPES. No total foram elencados oito itens, frutos de três encontros entre os anos de 2014 e 2015: 1. A reorganização da Educação Física como área autônoma; 2. Operacionalizar avaliação distinta entre as subáreas; 3. Valorização da diversidade nos PPGs; 4. Aperfeiçoamento do Qualis-Livros; 5. Institucionalização do Qualis-Congressos; 6. Aperfeiçoamento do Qualis-Periódico; 7. Política orientada para os jovens pesquisadores; 8. Participação nas Comissões de Avaliação. Castro (2015), Manoel e Carvalho (2011), e Betti et al. (2004), sugerem ações que coincidem ou tangenciam as propostas do Fórum. Muitas dessas propostas se coadunam com o Manifesto de Leiden. As críticas sobre a imperiosa necessidade de se compreender as características e peculiaridades de áreas distintas aproximam-se, em certa medida, das proposições do Fórum. A nosso ver, as propostas convergem para que as produções derivadas das subáreas sociocultural e pedagógica sejam compreendidas em suas particularidades. O fato da Educação Física estar alocada na Grande Área da Saúde, na Área 21 da CAPES, juntamente da Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, corrobora para o fortalecimento das diretrizes pautadas nas ciências naturais e biológicas. Ao mesmo tempo em que nos fortalecemos, ao nos aliar aos outros campos considerados emergentes, estamos subsumidos às lógicas da Grande Área da Saúde, conforme exposto, que pouco favorecem as subáreas sociocultural e pedagógica. Bracht (2006) argumentava que a alocação da área da Educação Física poderia ser na Grande Área da Saúde como na das Ciências Humanas, ao passo que outra alternativa considerada seria uma possível emancipação da Educação Física da Área 21. Conforme o Documento de Área da Educação Física (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016a): Assimetrias internas da área também têm sido observadas em que a subárea da Educação Física apresenta o maior número de programas (32 Mestrados e 18 Doutorados), a subárea da Fisioterapia apresenta o segundo maior volume de programas (20 Mestrados e 10 Doutorados). A Fonoaudiologia apresenta um número menor de programas (9 Mestrados e 6 Doutorados), enquanto a Terapia Ocupacional é a menor área e conta com apenas 1 programa (1 Mestrado e 1 Doutorado). Devido ao número de PPG da Educação Física, talvez fosse possível emancipar-se da área e ainda subdividir-se em duas, como ocorre, por exemplo, com a Engenharia, Medicina e Ciências Biológicas, que possuem mais de uma subdivisão. No entanto, as dificuldades sentidas por nossa área assemelham-se às da Saúde No entanto, as dificuldades sentidas por nossa área assemelham-se às da Saúde Coletiva, apresentadas em seu Documento de Área (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016b), que aponta como um dos desafios a serem enfrentados, os “desequilíbrios na qualificação da produção científica nos três eixos disciplinares constituintes da Saúde Coletiva” (p. 12). O mesmo documento aponta como um dos encaminhamentos e recomendações para o fortalecimento da área no Sistema Nacional de Pós-Graduação: Rever critérios do Qualis da área de Saúde Coletiva de forma a reduzir os desequilíbrios na qualificação de periódicos oriundos dos três eixos constituintes da Saúde Coletiva (Epidemiologia; Ciências sociais e humanas em saúde; Políticas, planejamento e gestão de sistemas e serviços de saúde) (p.12). É importante destacar que não se trata de negar que um dos itens avaliativos da produção intelectual seja publicar em periódicos científicos qualificados, especialmente nos estratos superiores, como recomendado, tampouco seja nosso desejo não se submeter a avaliações. Interessa-nos, na verdade, vermos nossas produções qualificadas em seus devidos contextos e singularidades, respeitando-se as diferenças epistemológicas que, a princípio, deveriam enriquecer nossa Educação Física, ao invés de promover o seu desmonte. Vislumbra-se, a partir do Documento de Área da Educação Física, tentativas de minimizar esse fato: A Área 21 buscou preservar a identidade das subáreas de estudo que permeiam seus programas e adotou duas importantes decisões. A primeira foi a manutenção da glosa aplicada sobre produtos (artigos, livros e produtos técnicos) que não possuem relação com a área de concentração, linhas e projetos depesquisa definidos pelos próprios programas. A segunda foi estratificar diferenciadamente os periódicos da área, utilizando uma classificação que permitiu alocar nos estratos mais elevados veículos com alta identidade e relevância para a área, sem, no entanto, deixar de primar pela qualidade desses periódicos. [...] O melhor entendimento das diferenças dos objetos de estudo da área foi a discriminação dos fatores de impacto nas áreas de estudo que envolvem aspectos socioculturais e humanos dos aspectos físicos e biológicos da ciência. A área passou a adotar medianas diferenciadas para revistas classificadas pela Thompson Reuters como Science (SCIE) e Social Science (SSCI). Essa política tende a minimizar os efeitos das diferenças que reconhecidamente marcam as áreas SCIE e SSCI (p. 8). Para além dos critérios estabelecidos para periódicos, é importante contemplar a diversidade da produção intelectual. Apesar de livros, capítulos de livro, palestras, eventos, trabalhos apresentados em congressos etc, pesquisadores são rotulados, muitas vezes, como improdutivos, mas estão longe disso. Um aspecto importante a ser considerado é que a ciência contemporânea, na linha do que adiantava Santos (1999) evolui em grande medida a partir de temáticas que são atravessadas pelas mais diferentes especialidades. Nesse intercruzamento, pesquisadores que se envolvem com temáticas como saúde, gênero, corpo e cultura, políticas públicas, formação, dentre outras, publicam e participam ativamente de fóruns, de certo modo, pouco reconhecidos no âmbito avaliativo da Educação Física. Vejamos o que está escrito no Documento de Área da Medicina I (quadriênio 2013- Vejamos o que está escrito no Documento de Área da Medicina I (quadriênio 2013- 2016), considerada “altamente consolidada”: A área de Medicina I tem efetivamente estimulado a multidisciplinaridade em torno do desenvolvimento de projetos de formação e de produção do conhecimento focados em áreas temáticas. Assim, de um perfil de Cursos e Programas que se sobrepunham de forma indistinta às especialidades médicas (o que tornavam os programas inconsistentes e próximos à especialização e o lato sensu), atualmente, a área 15 - Medicina I é caracterizada por programas, em 70% dos casos, multidisciplinares por proposta; [...]. Embora persistam programas/cursos em especialidades médicas, estes agregam docentes de diferentes áreas do conhecimento produzindo ciência em uma área temática. Em virtude do exposto, a existência de um Programa de Pós-Graduação (PPG) cuja essência busca a interdisciplinaridade é bem-vinda. Portanto, na área de Medicina I a Interdisciplinaridade é uma característica e tem decorrido de um processo evolutivo natural inerente à maioria dos PPG. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016c) Da maneira como os caminhos se desenham, a Educação Física parece caminhar para o oposto, qual seja, eliminar a riqueza de olhares para os fenômenos sociais que se constituem em objetos de estudos e de intervenções de nossa área, e produzir, equivocadamente, visões conformadas apenas a partir de matrizes biológicas ou naturais. Neste sentido, é preciso que os critérios e políticas da pós-graduação, em especial para a Educação Física, sejam acompanhados e continuamente debatidos pela comunidade acadêmica, no sentido de diminuir esse desequilíbrio que tem gerado efeitos nefastos para a subsistência das subáreas sociocultural e pedagógica na pós- graduação em Educação Física. CONSIDERAÇÕES FINAIS São inegáveis os avanços nas formas de avaliação às quais são submetidos os cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu em todo o Brasil. As políticas pró-ciência potencializaram o surgimento de programas que atingiram um grau de produção que expôs a pesquisa nacional a patamares até então inalcançáveis. Especialmente no campo da Educação Física, houve o recrudescimento do número de programas de pós-graduação e aumento expressivo na quantidade de artigos científicos publicados em estratos superiores (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016a). Ao mesmo tempo, contudo, segundo Lazzarotti Filho e outros (2014), as formas de mensuração da produtividade científica modificaram o modus operandi de toda uma área. Enquanto entre os anos de 1980 até o início do século XXI os dilemas repousavam sobre as discussões teóricas, ontológicas e epistemológicas, agora a crise reside no desenvolvimento de um diálogo onde um praticamente não escuta o que o outro fala. As subáreas Sociocultural e Pedagógica, há mais de uma década, vêm buscando formas de coexistir com o alargamento da subárea da Biodinâmica. Grande parte dos parâmetros que balizam e mensuram a produção na Área 21, mas não só a dela, desembocam em uma situação onde o que se produz nas duas primeiras, parece, aos olhos da segunda, algo que não se enquadra nos paradigmas forjados pelo sistema controlador da área. Assim, de forma autofágica uma subárea parece sufocar as outras. Sufoca porque os critérios, até então, têm privilegiado uma métrica que não compreende as peculiaridades de produzir conhecimento das áreas vinculadas as Ciências Humanas e Sociais. Some-se a isso, o fato de que o nível de produtividade, muitas vezes alcançado pela subárea biodinâmica, não é possível de ser acompanhado pelas subáreas sociocultural e pedagógica, dadas as diferentes naturezas de se fazer pesquisa e de se divulgá-la. Com isso, não raro, os PPG se defrontam com o dilema da manutenção ou descredenciamento de docentes que não alcançam o patamar exigido, fato este que impacta mais aqueles das subáreas sociocultural e pedagógica e, por consequência, a formação de futuros mestres e doutores nessas vertentes. Por outro lado, em um PPG que busca elevar sua nota, os critérios para credenciamento e respectivas pontuações são difíceis de serem atingidos por professores que desejam se credenciar, especialmente das subáreas sociocultural e pedagógica. Assim, a renovação que se esperaria fica cada vez mais dificultada e as discrepâncias entre as subáreas se acentuam. Longe da pretensão de esgotar o debate, esperamos que esse livro, bem como as discussões aqui apresentadas, possam colaborar para que o campo da Educação Física aproxime-se, senão de um equilíbrio, de uma diminuição das distâncias vivenciadas pelas subáreas que o compõem. Assim, espera-se que o desenvolvimento da área seja pleno e possibilite aos mais variados tipos de pesquisa um tratamento métrico adequado, sem que com isso a qualidade, a tanto custo buscada, seja prejudicada. REFERÊNCIAS BAPTISTA, G. G.; LÜDORF, S. M. A. “Educação do corpo”: a leitura de uma agenda em construção. Movimento, Porto Alegre, v. 22, n. 3, p. 723-738, 2016. BARATA R C. B. Dez coisas que você deveria saber sobre o Qualis. Revista Brasileira de Pós-Graduação, Brasília, v. 13, n. 30, p. 013 - 040, jan./abr. 2016 BETTI. M, CARVALHO. Y. M, DAOLIO J, PIRES G. L . A avaliação da Educação Física em debate: implicações para a subárea pedagógica e Sociocultural, Revista Brasileira de Pós-Graduação, v. 1, n. 2, p. 183-194, nov. 2004. BOURDIEU, P. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. ______. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004b. BRACHT, V. Por uma política científica para a Educação Física com ênfase na pós-graduação. 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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Diretoria de Avaliação. Documento de Área: Saúde Coletiva, 2016b. Disponível em: http://www.capes.gov.br/component/content/article/44-avaliacao/4682-saude-coletiva Acesso em: 31/08/2017. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Diretoria de Avaliação. Documento de Área. Área de Avaliação: Medicina I, Quadriênio 2013-2016, 2016c. Disponível em: http://www.capes.gov.br/component/content/article/44-avaliacao/4677-medicina-i Acesso em: 31/08/2017. MORENO A. C. Maioria dos diplomas em educação física são da licenciatura, mas procura pelo bacharelado tem crescido mais; veja o raio-x. Educação Portal G1. Disponível em: http://g1.globo.com/educacao/guia-de- carreiras/noticia/maioria-dos-diplomas-em-educacao-fisica-sao-da-licenciatura-mas-procura-pelo- bacharelado-tem-crescido-mais-veja-o-raio-x.ghtml>. Acesso em: 24/08/2017. SANTOS, B. de S. 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Pacote CAPES para a Educação Básica Brasileira segundo Silva, Sacardo e Souza (2014): Diretorias de Educação Básica Presencial (DEB) e de Educação a Distância (DED), Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência), Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), Novos Talentos, Programa de Apoio a Laboratórios Interdisciplinares de Formação de Educadores (LIFE), Licenciaturas Internacionais e a criação da área de Ensino. 3. “O habitus mantém com o mundo social que o produz uma autêntica cumplicidade ontológica, origem de um conhecimento sem consciência, de uma intencionalidade sem intenção e de um domínio prático das regularidades do mundo que permite antecipar seu futuro, sem menos precisar colocar a questão nesses termos” (BOURDIEU, 2004, p. 24), 4. Para Bourdieu o capital específico configura-se como o fundamento de dominação ou autoridade específica de um campo e que o mesmo tem validade em um determinado campo, ou seja, dentro dos limites internos desse campo. http://www.cbce.org.br/noticias-detalhe.php?id=1074 http://www.capes.gov.br/component/content/article/44-avaliacao/4666-educacao-fisica http://www.capes.gov.br/component/content/article/44-avaliacao/4682-saude-coletiva http://www.capes.gov.br/component/content/article/44-avaliacao/4677-medicina-i http://g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/maioria-dos-diplomas-em-educacao-fisica-sao-da-licenciatura-mas-procura-pelo-bacharelado-tem-crescido-mais-veja-o-raio-x.ghtml REALIDADES DA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA: MANUTENÇÃO OU DESMONTE DAS SUBÁREAS SOCIOCULTURAL E PEDAGÓGICA? Profª. Drª. Sílvia Maria Agatti Lüdorf Professora Associada da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ. Coordenadora do Núcleo de Estudos Sociocorporais e Pedagógicos em Educação Física e Esportes (NESPEFE). Prof. Ms. Pedro Henrique Zubcich Caiado de Castro Professor das Faculdades São José. Pesquisador do Núcleo de Estudos Sociocorporais e Pedagógicos em Educação Física e Esportes (NESPEFE). A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL A produção de conhecimento científico em Educação Física está intimamente relacionada ao desenvolvimento da Pós-Graduação no Brasil. Os Programas de Pós- Graduação se constituem, em princípio, o celeiro dos estudos que promovem as inovações, o aprofundamento de questões centrais para a Educação Física em todas as suas vertentes e o repensar das práticas e intervenções. Não restam dúvidas de que a Educação Física é um campo multidisciplinar, cuja pluralidade teórico-epistemológica comporta investigações sob diferentes enfoques temáticos e vertentes metodológicas (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007). Manoel e Carvalho (2011) afirmam que na década de 90 houve uma mudança gradual na estruturação dos Programas de Pós-Graduação em Educação Física (PPGEF): “O termo educação física foi mantido, mas houve a proposição de diferentes áreas de concentração com inspiração no movimento disciplinar. Cada área de concentração correspondeu a uma subárea, sendo identificadas três: biodinâmica, sociocultural e pedagógica” (p. 392). Ao analisar a produção cientifica dos PPGEF na década de 90, foi possível observar o aumento considerável dos trabalhos na perspectiva interpretativa, associada normalmente às pesquisas das vertentes sociocultural e pedagógica (LÜDORF, 2002). Ainda que as abordagens empírico-analíticas preponderassem, havia indícios promissores do desenvolvimento de novos olhares para as questões da Educação Física sob os prismas sociocultural e pedagógico. Entretanto, o novo milênio guardava novos rumos para a Educação Física. Se na década de 90 as subáreas sociocultural e pedagógica pareciam apresentar Se na década de 90 as subáreas sociocultural e pedagógica pareciam apresentar fortes indícios de consolidação, quando os estudos nessa vertente alcançaram representatividade significativa no âmbito da Pós-Graduação em Educação Física, no novo milênio há indicativos bastante diferentes. Manoel e Carvalho (2011), Rosa e Leta (2011) e Maia da Silva e Soriano (2014) têm observado que as pesquisas científicas na área, nos últimos anos, possuem majoritariamente enfoque temático e metodológico ancorado em sua faceta biodinâmica. Rigo, Ribeiro e Hallal (2012) argumentam que não só as investigações tendem ao viés biológico da Educação Física, como também o número de docentes pesquisadores na área é consideravelmente superior dentro desta concepção científica. Diante deste panorama, como estaria se configurando a participação das vertentes socioculturale pedagógica nos PPGEF? E mais especificamente, no Rio de Janeiro? O que mudou da década de 90 para o tempo atual? Pretendemos, neste trabalho, analisar determinados aspectos da produção científica em Educação Física desde a década de 90 até a atualidade, na perspectiva de problematizar a situação das subáreas sociocultural e pedagógica, com foco no Rio de Janeiro. Conhecer aspectos desta trajetória da configuração da Pós-Graduação em Educação Física pode lançar luzes sobre a compreensão do panorama atual. A partir dessa análise, discutiremos até que ponto está havendo a manutenção ou o desmonte dessas vertentes, paradoxalmente, tão importantes e tão difíceis de se manter no nível da Pós- Graduação brasileira, uma vez que o crescimento parece uma hipótese bastante remota. Além da literatura ligada ao tema, serão utilizados alguns subsídios empíricos decorrentes do estudo de Lüdorf (2002) e de dados gerados pelo projeto de pesquisa “O panorama da produção científica em Educação Física no novo milênio”5. A DÉCADA DE 90: ESPECIFICIDADES DAS SUBÁREAS NAS FORMAS DE CAPITAL CIENTÍFICO Em época que a Internet, no contexto brasileiro, dava seus primeiros passos, as dissertações e teses de Educação Física costumavam ficar confinadas nas prateleiras das bibliotecas, em sua versão impressa. Algumas dessas produções geravam livros ou mesmo, alguns artigos, esses últimos prioritariamente produzidos pela subárea biodinâmica. Algumas diferenças entre as subáreas da Educação Física, no que se refere ao modo de produção e de divulgação de conhecimento científico, já eram percebidas. Para compreendê-las minimamente, vamos utilizar algumas noções propostas por Bourdieu (2004), como a de campo e de capital, mais especificamente, atreladas ao campo científico. Dotado de leis próprias, o campo científico possui relativa autonomia, a depender da Dotado de leis próprias, o campo científico possui relativa autonomia, a depender da natureza das pressões externas, da forma como se exercem e das formas como se manifestam as resistências, dentre outros fatores (BOURDIEU, 2004). O campo científico é “um campo de forças e um campo de lutas para conservar ou transformar esse campo de forças.” (BOURDIEU, 2004, p 22-23). Ainda para o autor, o que comanda o campo é a estrutura das relações objetivas entre os agentes ou a posição que ocupam nessa estrutura, que “é determinada pela distribuição de capital científico num dado momento. Em outras palavras, os agentes (indivíduos ou instituições) caracterizados pelo volume de seu capital determinam a estrutura do campo em proporção ao seu peso, que depende do peso de todos os outros agentes, isto é, de todo o espaço” (p. 24). Neste sentido, “os pesquisadores ou as pesquisas dominantes definem o que é, num dado momento do tempo, o conjunto de objetos importantes, isto é, o conjunto das questões que importam para os pesquisadores, sobre as quais eles vão concentrar seus esforços e, se assim posso dizer, ‘compensar’, determinando uma concentração de esforços de pesquisa” (p. 25). Considerando a Educação Física como campo científico, na perspectiva de Pierre Bourdieu, as formas de acumulação de capital científico eram, de certa maneira, peculiares a depender da subárea. Enquanto as subáreas sociocultural e pedagógica eram, em grande medida, caracterizadas por teóricos de destaque, que lançavam livros de grande repercussão, muitas vezes reeditados e que se tornariam referências importantes para a Educação Física, os laboratórios de pesquisa na área da biodinâmica do movimento e seus líderes acumulavam capital científico, dentre outros modos, por meio dos artigos publicados, muitas das vezes, internacionalmente. Cabe ressaltar que um modo não excluía o outro, já que os artigos e livros eram publicados nas duas vertentes. Alguns dos autores da década de 90, contudo, principalmente das vertentes pedagógica e sociocultural, são lidos até hoje, em obras que ainda se mantêm em listas de bibliografias recomendadas para concursos públicos para professores de Educação Física Brasil afora. Ainda que vários desses livros tenham sofrido críticas, há de se compreender que retratavam o contexto histórico-social da época. O fato é que estas subáreas não possuíam a “cultura” de produção de papers, e tampouco o artigo científico era reconhecido como um capital valioso para o campo da Educação Física, como o é hoje, diante do peso que lhe é atribuído. Mais do que uma demanda espontânea do campo da Educação Física, a veiculação em artigos científicos é fruto de um movimento que marca a ciência atual – principalmente nas ciências Naturais. Entretanto, Betti e colaboradores (2004) destacam a perenidade que a prática de divulgar e debater o conhecimento em eventos científicos e no formato de livros possui, historicamente, na área. Some-se a isso, a peculiaridade dos estudos desenvolvidos pelas vertentes sociocultural e pedagógica, dentre os quais podemos mencionar: o tempo de gestação e maturação das investigações, o envolvimento do pesquisador, o processo de construção do objeto de estudo, a necessidade de explanar o referencial teórico etc, elementos estes, um tanto difíceis de condensar em poucas laudas. Na vertente biodinâmica, por sua vez, já se produziam artigos para periódicos científicos, ou ainda, para serem publicados em anais de eventos científicos especializados, como ocorria com a biomecânica ou fisiologia do exercício. Pela própria natureza dos estudos nessa subárea, a forma de produção se encaixava no formato IMRAD (Introduction, Methods, Results and Discussion, ou Introdução, Métodos, Resultados e Discussão), exigido para artigos científicos, principalmente na área biomédica (LÜDORF, 2017). Em que pesem essas diferentes formas de produção científica, as dissertações e teses produzidas nos PPGEF poderiam ser consideradas as molas propulsoras dos estudos, posteriormente divulgados nos formatos variados. Afinal, muitos dos trabalhos de mestrado e doutorado são gerados pelos projetos de pesquisa conduzidos pelos docentes dos programas. Aliás, a coerência entre áreas de concentração, linhas de pesquisa, projetos de pesquisa e produções derivadas, constitui-se em item fundamental na avaliação dos programas de Pós-Graduação. É importante mencionar também que nem sempre o conhecimento científico em Educação Física era produzido nos PPGEF, mas poderiam ser derivados de programas de antropologia, sociologia, educação, biofísica, fisiologia, dentre muitos outros. Assim, caracterizando-se a diversidade epistemológica do campo científico da Educação Física e, de certa maneira, demonstrando que tais produções acompanhariam o modus operandi das respectivas áreas. A REPRESENTATIVIDADE DO RIO DE JANEIRO NA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE A DÉCADA DE 90 Argumentamos que a produção científica derivada dos PPGEF de maneira geral, e daqueles voltados à Educação Física, no nosso caso, se constituem em valiosa fonte documental para se analisar o campo científico do ponto de vista epistemológico. Mesmo que essa produção seja disseminada em outros formatos, ainda a dissertação e tese constituem, muitas das vezes, o núcleo germinal desses estudos. Nesse sentido, é importante o reconhecimento do esforço realizado pelo Núcleo Brasileiro de Dissertações e Teses em Educação Física e Esportes (NUTESES), da Universidade Federal de Uberlândia, de documentação da produção dos Programas de Pós-Graduação em Educação Física da época. O NUTESES reunia e, posteriormente, disponibilizava, as dissertaçõese teses de Educação Física, tendo editado três volumes contendo os resumos desses trabalhos, de 1984 até 1997 (SILVA et al., 1996, 1998a, 1998b). Baseando-se nessas fontes, Lüdorf (2002) desenvolveu um estudo sobre a produção científica da década de 1990 e se constatou que as abordagens qualitativas, claramente atreladas ao que hoje se denominam as subáreas pedagógica e sociocultural, se desenhavam promissoras à época. O Rio de Janeiro, aliás, destacava-se nesse cenário, ao possuir na primeira metade da década, quatro PPGEF ativos: o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que viria a encerrar as atividades em 1996; o da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), iniciado em 1993; e da Universidade Gama Filho (UGF), esta última mantendo-se ativa até 2014. Cabe esclarecer que o PPGEF da UERJ obteve produção contabilizada, mas não possuía o reconhecimento pela CAPES na época. Na segunda metade da década, soma-se a estes, o PPG da Universidade Castelo Branco (UCB), cujo início data do ano de 1995. O levantamento de Lüdorf (2002) considerou o recorte temporal dos anos de 1990 a 1997, uma vez que à época, não havia a plataforma digital que viria a ser criada e por isso, os volumes publicados pelo NUTESES cobriam esse período apenas. Dais dados apontam para um destaque do Rio de Janeiro no cenário brasileiro, em termos de produção científica em Educação Física, como revela o Quadro 1: Quadro 1. Quantitativo de dissertações de PPGEF alocados no Rio de Janeiro e no Brasil. PPGEF UFRJ UGF UERJ UCB Total de dissertações em PPGEF situados no RJ Total de dissertações em PPGEF no Brasil Dissertações 54 101 10 26 191 524 Fonte: Dados da pesquisa (LÜDORF, 2002). Os PPGEF alocados no estado somavam a terça parte da produção total de dissertações e teses em Educação Física, no Brasil. Mesmo em meio a um cenário conturbado quanto à manutenção das atividades dos PPGEF, decorrente de descredenciamentos, desativações e pontuações baixas nas avaliações da CAPES, o Rio de Janeiro já desempenhava um papel importante na Pós-Graduação, no período citado. Outro achado relevante de Lüdorf (2002) está no protagonismo destes PPGEF em relação à pesquisa e elaboração de dissertações que utilizavam procedimentos metodológicos próximos das ciências humanas e sociais, ou, como a autora classificou, a partir de Faria Junior (1987), fenomenológico-hermenêuticos. Este fato pode ser visualizado no Quadro 2: Quadro 2. Quantitativo de dissertações de PPGEF alocados no Rio de Janeiro e no Brasil, de enfoque metodológico interpretativo. PPGEF UFRJ UGF UERJ UCB Total em PPGEF situados no RJ Total em PPGEF no Brasil Dissertações com enfoque fenomenológico-hermenêutico 23 76 3 5 107 220 Fonte: dados da pesquisa (LÜDORF, 2002). Na época, quase a metade da produção brasileira de dissertações, na área, com vínculo às ciências humanas e sociais, era desenvolvida em PPGEF baseados no Rio de Janeiro. A UGF assumia o protagonismo na composição deste quantitativo. Este panorama começou a se modificar com a intensificação de forças políticas agindo sobre o campo, mais especificamente, as novas políticas de Pós-Graduação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), que passaram a apontar para a necessidade de se internacionalizar os achados, bem como potencializar a publicação de artigos (KOKUBUN, 2003). Nesse sentido, foram criadas políticas de incentivo à qualificação dos periódicos, além de ser instituído o sistema Qualis. De acordo com Barata (2016), o Qualis é um sistema de classificação da produção científica da Pós-Graduação brasileira, realizado pela CAPES, a partir da análise da qualidade dos periódicos científicos. Os critérios de avaliação dos PPGEF e dos periódicos, seguindo critérios da Área 21, da Grande Área da Saúde, na qual está alocada a Educação Física, dentre outros fatores, colaboraram para modificar as regras do jogo. A produtividade científica passa a ser instituída como elemento, senão central, bastante importante, traduzida principalmente pelo número de artigos publicados, mas não em qualquer periódico. Aqueles situados nos estratos superiores contabilizam mais pontos para quem neles publica e, assim, o sarrafo foi se elevando (LOVISOLO, 2007). Na constituição do campo cientifico da Educação Física, e especialmente nas subáreas sociocultural e pedagógica, em vista das novas forças e estratégias, os desdobramentos destas ações logo passaram a ser sentidos. Houve casos ruidosos de descredenciamento de docentes que eram detentores de reconhecido capital científico no âmbito das ciências humanas e sociais por não alcançarem as metas de publicação. Mas esses eram apenas os sinais de um quadro que viria a se desenhar ao longo do novo milênio, de dificuldades para essas vertentes. Castro (2015) investigou, no recorte de 2001 a 2010, os PPGEF da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Estadual Paulista (UNESP) e da UGF, totalizando a análise de 1398 trabalhos distribuídos entre dissertações e teses. Diferente do que Lüdorf (2002) observou como indício de consolidação das ciências humanas e sociais, na Educação Física, nos idos da década de 90, Castro (2015) apresenta um cenário no qual as ciências naturais, e seus referenciais teórico-metodológicos, predominam nas pesquisas da área. Embora o PPGEF UGF tenha se mantido como local de intensa produção de dissertações e teses com enfoque interpretativo, Castro (2015) mostra um panorama onde os PPGEF como o da USP e UNESP – aqueles que mais titulam na área - produzem quase exclusivamente, ao menos no nível de doutorado, na vertente biodinâmica. Em linhas gerais, quase 60% dos trabalhos analisados encontram subsídios metodológicos nas ciências naturais, enquanto por volta de 30% se afiliam metodologicamente às ciências humanas e sociais, com enfoque temático pedagógico ou sociocultural. Soma-se aos achados a desativação do PPGEF UGF, posterior ao recorte do autor, o que potencialmente derrubaria de modo vertiginoso a produção atrelada às humanidades. Longe de mero acaso, estes resultados foram previstos e amplamente debatidos na literatura da área, tendo como principal causa as regras de produção científica que a CAPES tem estabelecido para a Educação Física (BETTI et al., 2004). Peluso (2016), em estudo que investigou PPGEF ativos no ano de 2015, no Rio de Janeiro, e que constassem com defesas de mestrado já realizadas até este mesmo ano, detecta um panorama ainda mais desolador. Existia apenas o PPGEF da UFRJ, reativado após longo período (13 anos), e o da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). O PPGEF da UERJ foi criado em 2015, mas não foi incluído pelo fato de não possuir dissertações ou teses defendidas à época. O estado que chegou a representar mais de um terço da parcela de pesquisas na área, no âmbito stricto sensu, parecia ainda dar seus primeiros passos, ao possuir apenas dois PPGEF com dissertações defendidas. Há que se pesar o descompasso com o cenário nacional, considerando-se que a quantidade de programas de Pós-Graduação aumentou substancialmente em todo o Brasil. É de igual importância refletir sobre o papel das ciências humanas e sociais nos PPGEF investigados por Peluso (2016). Na UNIVERSO, há uma linha de pesquisa destinada a este escopo científico, com vários docentes. Já na UFRJ, apenas uma professora representante das subáreas sociocultural e pedagógica estava engajada no PPGEF realizando pesquisas com base nas humanidades.Novamente, ao compararmos com os resultados de Lüdorf (2002), fica patente a perda de protagonismo, nestes quesitos, dos PPGEF situados no Rio de Janeiro. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, argumentamos que mais do que manutenção das vertentes sociocultural e pedagógica no âmbito da produção científica em Educação Física, trata- se de resistência. Diante do sensível desmonte, os pesquisadores das subáreas sociocultural e pedagógica têm resistido no campo científico da Educação Física no Brasil e, especificamente no caso analisado, no Rio de Janeiro. As perspectivas não parecem promissoras e não há fórmulas mágicas para mudanças deste cenário. Debates e propostas sobre as políticas da Pós-Graduação necessitam, cada vez mais, fazerem parte de fóruns, congressos e de nossos PPGEF. Nesse sentido, iniciativas como a do Fórum dos Pesquisadores das subáreas Sociocultural e Pedagógica (2015) e da realização deste I Seminário de Educação Física, Esporte e Sociedade, com a temática “Pesquisa em Educação Física nas perspectivas sociocultural e pedagógica”, bem como outras, encampadas, por exemplo, pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, são fundamentais e tentam colaborar para a reconfiguração das regras de produção do campo. Resistimos, assim, para que estas vertentes de pesquisa, vitais para a pluralidade teórico-epistemológica da área, para fundamentar e inovar nossas intervenções pedagógicas, e para o repensar de nossas práticas, possam continuar a existir. Mas, até quando isso será possível? REFERÊNCIAS BARATA, R. C. B. Dez coisas que você deveria saber sobre o Qualis. RBPG, Brasília, v. 13, n. 30, p. 13 - 40, jan./abr. 2016. BETTI, M.; CARVALHO, Y. M. de; DAOLIO, J.; PIRES, G. De L. A avaliação da educação física em debate: implicações para subárea pedagógica e sociocultural. Revista Brasileira de Pós-Graduação, Brasília -DF, v. 1, n. 2, p. 183-194, nov. 2004. BOURDIEU, P. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. Tradução Denice Barbara Catani. São Paulo: UNESP, 2004. CASTRO, P. H. Z. C. O panorama da produção científica em Educação Física no novo milênio: uma análise a partir das dissertações e teses. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015. FÓRUM DOS PESQUISADORES DAS SUBÁREAS SOCIOCULTURAL E PEDAGÓGICA. Cenários de um descompasso da pós-graduação em Educação Física e demandas encaminhas à CAPES. Disponível em: <http://www.cbce.org.br/noticias-detalhe.php?id=1074>. 2015. Acesso em: 31 mar. 2016. KOKUBUN, E. Pós-graduação em educação física no Brasil: indicadores objetivos dos desafios e das perspectivas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 24, n. 2, p. 9-26, jan. 2003. LOVISOLO, H. Levantando o sarrafo ou dando tiro no pé: critérios de avaliação e qualis das Pós-graduações em Educação Física. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 29, p. 23-34, set. 2007. LÜDORF, S. M. A. Panorama da pesquisa em Educação Física da década de 90: análise dos resumos de dissertações e teses. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 13, n.2, p. 19-25, 2002. LÜDORF, S. M. A. Metodologia da pesquisa: do projeto ao trabalho de conclusão de curso. Curitiba: Appris, 2017. MAIA DA SILVA, P.; SORIANO, J. B. Qualis periódicos e a produção de capital científico nos programas de pós- graduação em Educação Física. Movimento (ESEF/UFRGS), Porto Alegre, p. 281-304, out. 2014. MANOEL, E.J.; CARVALHO, Y.M. Pós-graduação na educação física brasileira: a atração (fatal) para a biodinâmica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 2, p. 389-406. mai./ago. 2011. PELUSO, D. L. A pesquisa sociocultural e pedagógica nos Programas de Pós-Graduação stricto sensu em Educação Física no Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016. RIGO, L. C.; RIBEIRO, G. M.; HALLAL, P. C. Unidade na diversidade: desafios para a Educação Física do Século XXI. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 16; n. 4. p. 339 – 345, 2012. ROSA, S; LETA, J. Tendências atuais da pesquisa brasileira em Educação Física Parte 2: a heterogeneidade epistemológica nos programas de pós-graduação. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.25, n.1, p.7-18, jan./mar. 2011. SÁNCHEZ GAMBOA, S. Epistemologia da educação física: as inter-relações necessárias. Maceió: EDUFAL, 2007. SILVA, R.V. S.; ALVES, M. B. M.; PRINGOLATO, E.M. P. (Org.). Produção científica em Educação Física e Esportes: dissertações e teses (1979-1994). Uberlândia: UFU/NUBRADITEFE, 1996. SILVA, R. V. S. et al. (Org.). Produção científica em Educação Física e Esportes: dissertações e teses. Uberlândia: UFU/NUBRADITEFE, 1998a. v. 2. SILVA, R. V. S.; SOUSA, E. R. ; SANTOS, C. S. (Org.). Produção científica em Educação física e Esportes: dissertações e teses. Uberlândia: UFU/NUTESES, 1998b. v. 3. 5. Projeto de pesquisa coordenado pela Profª. Drª. Sílvia M. Agatti Lüdorf, desenvolvido no Núcleo de Estudos Sociocorporais e Pedagógicos em Educação Física e Esportes (NESPEFE), da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD), desde 2010, com apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). DESAFIOS PARA A PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO RIO DE JANEIRO Prof. Me. Felipe da Silva Triani Professor do curso de Educação Física da Faculdade Gama e Souza. Membro do Grupo de Estudos em Escola, Esporte e Cultura (GPEEsC) Membro do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Representações Sociais na/para Formação de Professores (LAGERES). Prof. Dr. Silvio de Cassio Costa Telles Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Líder do Grupo de Estudos em Escola, Esporte e Cultura (GPEEsC) Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (UERJ) INTRODUÇÃO O presente manuscrito pretende apontar sinteticamente o cenário epistemológico da formação continuada no Rio de Janeiro, descrevendo os caminhos que a pós-graduação em Educação Física se destina. Dessa maneira, sua composição se estrutura tendo como objeto de estudo a pós-graduação stricto sensu, que tem sido investigada recentemente em diferentes regiões do Brasil (LÜDORF, 2002; AMADIO, 2003; KOKUBUN, 2003; KROEFF; NAHAS, 2003; MANOEL; CARVALHO, 2011; FÓRUM DE PESQUISADORES DAS SUBÁREAS SOCIOCULTURAL E PEDAGÓGICA, 2015; CASTRO, 2015; DECIAN; RIGO, 2016), mas que ainda carece de aprofundamento investigativo no âmago do Rio de Janeiro, pois somente um resumo foi encontrado (PELUSO et al., 2016), fruto de uma dissertação produzida entre 2014 e 2015, ocasião em que ainda não havia o Programa de Pós- Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGEF). Diante desses entendimentos e considerando a ausência de pesquisas que investigaram a situação da Pós-Graduação no Rio de Janeiro especificamente, é cabível uma investigação que aponte os desafios da pós-graduação stricto sensu no Rio de Janeiro, a fim de conhecer a situação atual da formação continuada da área. Nesse sentido, considerando o espaço da pós-graduação, é fundamental saber que a Educação Física tem sua composição por meio de três áreas de concentração que emergiram na última década do século XX, a saber: biodinâmica, sociocultural e pedagógica (MANOEL; CARVALHO, 2011).
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