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Da Logística ao Supply Chain Management NESSES 60 anos decorridos desde a Segunda Guerra Mundial, a Logística apresentou uma evolução continuada, sendo hoje considerada um dos ele- mentos-chave na estratégia competitiva das empresas. No início era confun- dida com o transporte e a armazenagem de produtos; hoje é o ponto nevrál- gico da cadeia produtiva integrada, procurando atuar de acordo com o moderno conceito de SCM – Supply Chain Management (Gerenciamento da Cadeia de Suprimento). Neste capítulo, faremos um retrospecto sucinto da evolução da Logística desde a Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje, período em que praticamente todo o processo produtivo e comercial vem sendo reestruturado dentro dos princípios do SCM. Apesar de se tratar de um assunto abordado na maioria dos livros da área, julgamos necessária essa discussão, porque muitas das questões que virão a ser discutidas neste texto, referentes à distribuição de produtos, farão referência a conceitos bá- sicos importantes, abordados neste capítulo. O QUE É LOGÍSTICA? Na sua origem, o conceito de Logística estava essencialmente ligado às ope- rações militares. Ao decidir avançar suas tropas seguindo uma determinada estratégia militar, os generais precisavam ter, sob suas ordens, uma equipe que providenciasse o deslocamento, na hora certa, de munição, víveres, equipamentos e socorro médico para o campo de batalha. Por se tratar de 31 2 um serviço de apoio, sem o glamour da estratégia bélica e sem o prestígio das batalhas ganhas, os grupos logísticos militares trabalhavam em silêncio, na retaguarda. Foi o que também ocorreu nas empresas durante um bom período de tempo. Uma indústria precisa transportar seus produtos da fábrica para os depósitos ou para as lojas de seus clientes; precisa também providenciar e ar- mazenar matéria-prima em quantidade suficiente para garantir os níveis de fabricação planejados. Por outro lado, em razão das descontinuidades entre o ritmo de produção e de demanda, precisa manter produtos acabados em estoque. Essas operações eram antigamente consideradas atividades de apoio, inevitáveis. Os executivos entendiam então que, no fundo, tais opera- ções não agregavam nenhum valor ao produto. Dentro da organização em- presarial, esse setor era encarado como um mero centro de custo, sem maio- res implicações estratégicas e de geração de negócios. Em linguagem de hoje, diríamos que esse setor da empresa atuava de forma reativa e não proativa. A maioria das indústrias, por outro lado, surgiu no chão da fábrica, gi- rando em torno do processo de fabricação de uns poucos produtos, com o restante da organização gravitando em torno da manufatura. Ainda hoje, no Brasil e mesmo no exterior, se observa o poder que o setor da manufatura desfruta em muitas indústrias. Isso pode ser observado também nos cursos de Engenharia de Produção do país, os quais, na sua maioria, focalizam pre- dominantemente o processo de fabricação industrial. Esse contexto ainda colabora, em muitos casos, para que algumas empresas considerem as ativi- dades logísticas algo secundário na organização empresarial. Um elemento básico no processo produtivo é o distanciamento espacial entre a indústria e os mercados consumidores, de um lado, e as distâncias en- tre a fábrica e os pontos de origem das matérias-primas e dos componentes necessários à fabricação dos produtos, de outro. O produto, ao sair da fábri- ca, já tem um valor intrínseco a ele agregado, mas esse valor está ainda in- completo para o consumidor final. Para que o consumidor possa usufruir o produto em toda sua plenitude, é necessário que a mercadoria seja colocada no lugar desejado. Por exemplo, a geladeira comprada por uma dona de casa só gera seu valor intrínseco quando for instalada na casa da compradora e passar a refrigerar os alimentos da família. O sistema logístico, mesmo o mais primitivo, agrega então um valor de lugar ao produto. Um exemplo anedótico desse importante elemento é o de um torcedor num estádio de fu- tebol, em dia de final de campeonato e de muito sol, que reclama do preço da cerveja ao vendedor ambulante. O vendedor, irritado, pergunta ao com- prador por que não vai procurá-la num supermercado, cujo preço com cer- teza é bem inferior. A existência da cerveja mais barata no supermercado, no caso, não agrega valor para o consumidor, pois seu alcance geográfico está fora de questão naquele momento.32 O valor de lugar depende, obviamente, do transporte do produto, da fá- brica ao depósito, deste à loja, e desta ao consumidor final. Por essa razão, as atividades logísticas nas empresas foram por muito tempo confundidas com transporte e armazenagem. No entanto, o conceito básico de transporte é simplesmente deslocar matérias-primas e produtos acabados entre pontos geográficos distintos. Com a evolução do sistema produtivo e do comércio, esse elemento, embora importante, passou a não satisfazer isoladamente às necessidades das empresas e dos consumidores. Vejamos um exemplo nega- tivo, antilogístico por excelência, que pode nos ajudar bastante no entendi- mento do contexto da moderna Logística. No início da década de 1960, quando a indústria automobilística estava sendo implantada no Brasil, as rodovias eram muito precárias. Os veículos que saíam das fábricas, em São Bernardo do Campo, e eram destinados ao Nordeste tinham duas alternativas de deslocamento: ir rodando até o desti- no pelas estradas não pavimentadas, em caravanas (as carretas especializadas ainda não existiam), ou ser transportados de navio, a partir do porto de San- tos. No primeiro caso, o desgaste e os riscos de avaria eram muito grandes. Assim, o transporte marítimo de cabotagem se apresentava como uma boa opção alternativa. A Translor, empresa de transportes pioneira nesse setor e hoje incorporada à operadora logística internacional Ryder, decidiu fazer um embarque maciço de veículos, contratando praça num navio brasileiro para transporte do carregamento até Recife. O navio, o Santópolis, era uma embarcação velha e com manutenção precária. Saindo de Santos, o barco perdeu o hélice logo à altura de São Sebastião, ficando à matroca em al- to-mar (sem governabilidade, na linguagem naval). O armador solicitou, então, socorro à Marinha, no Rio de Janeiro. Um rebocador foi enviado ao local e conduziu o navio até a Baía da Guanabara. Lá, ficou esperando para ser docado, enquanto os armadores buscavam um hélice substituto nos estaleiros locais. A Marinha, analisando a carga, concluiu que a embarcação poderia ser docada com os veículos a bordo, de- vido à baixa densidade do carregamento. O embarcador, no caso a Translor, tentou reaver parte do frete, pois foi obrigada a transferir a carga para outro navio e seguir viagem. O valor dos automóveis embarcados era muito maior do que o valor do navio, gerando custos financeiros elevados. O armador, numa resposta totalmente antilogística, alegou que a “documentação do transporte (o conhecimento) apenas indicava que a carga deveria ser entre- gue em Recife, mas não dizia quando”. Ou seja, o transportador entregaria o valioso carregamento de veículos em Recife tão logo os serviços de reparo fi- cassem prontos, talvez uns dois meses após o acidente! No antiexemplo descrito acima – um caso real – notamos que um outro elemento muito importante passou a fazer parte da cadeia produtiva, o valor do tempo. Isso porque o valor monetário dos produtos passou a crescer apre- 33 ciavelmente, gerando custos financeiros elevados e obrigando ao cumpri- mento de prazos muito mais rígidos. Um caso típico de produto com extre- ma restrição de valor de tempo é o jornal diário. Sua edição tende a ser feita o mais tarde possível, de forma a incorporar as últimas notícias. Mas o valor de sua leitura fica restrito a uma janela de tempo muito curta. Se o leitor não ti- ver acesso ao jornal logo pela manhã (no caso de um matutino), o valor do produto, para ele, fica prejudicado. Então, todo o deslocamento da redação às bancas e à casa do assinante tem de ser realizado de formamuito ágil e bem planejada. Neste caso, a logística de distribuição do jornal tem um forte valor de tempo agregado ao produto. Hoje, em função da grande preocupa- ção das empresas com a redução de estoques e com a busca da satisfação ple- na do cliente, que implica a entrega do produto rigorosamente dentro dos prazos combinados, o fator tempo passou a ser um dos elementos mais críti- cos do processo logístico. No comércio eletrônico, as exigências do consu- midor em relação ao cumprimento dos prazos são ainda mais severas (ver Capítulo 3). Admitindo que o produto seja deslocado corretamente desde a origem até o destino dentro dos prazos preestabelecidos, ainda assim não estariam completas as funções logísticas. Um elemento adicional, de grande impor- tância na cadeia de suprimentos, é o fator qualidade. Por exemplo, conside- re um carregamento de iogurte, saindo de um centro de distribuição e desti- nado a um varejista. Suponhamos que o sistema de refrigeração do veículo esteja defeituoso ou que foi criminosamente desligado pelo motorista duran- te o percurso, com o objetivo de economizar combustível. Ao receber o pro- duto no supermercado, a verificação da data de fabricação e do prazo de va- lidade levaria à aceitação do lote. No entanto, poderiam ocorrer reclama- ções dos consumidores sobre as condições do produto, prejudicando a ima- gem do varejista. Outro exemplo é a entrega de um determinado bem durável, mas na cor errada. Uma pessoa que tenha comprado uma bicicleta, escolhendo a cor ver- melha, acaba recebendo o produto em casa, na cor preta. Mesmo conside- rando que o produto tenha as mesmas especificações, o mesmo preço e foi entregue no momento prometido, ainda assim o valor de qualidade agregado ao produto, na ótica do cliente, não será o mesmo. Observe que, em ambos os casos, o produto saiu da fábrica sem restrição alguma de qualidade. Ou seja, a qualidade intrínseca do produto foi respeitada. Mas ficou faltando, nesses dois casos, a qualidade associada à operação logística. A logística mo- derna deve incorporar então um valor de qualidade ao processo, sem o qual o resultado final na cadeia de suprimento passa a ser prejudicado. Hoje em dia, muitas empresas de ponta no exterior estão introduzindo um elemento adicional a suas atividades logísticas: o valor da informação. A FedEx (Federal Express), por exemplo, permite que o cliente rastreie uma34 determinada encomenda pela Internet, a qualquer momento. Noutro caso, montadora automotiva na Argentina pressionou o operador logístico situa- do no ABC paulista a instalar um sistema de rastreamento de veículos e da carga no percurso São Paulo–Buenos Aires. Por que essa exigência? Traba- lhando com estoques e prazos apertados, a indústria automobilística em questão não pode tomar conhecimento de situações emergenciais no último instante. Acompanhando a evolução das remessas de componentes, a empre- sa argentina pode tomar medidas corretivas tão logo constate alguma altera- ção séria no processo. Esse caso é um exemplo vívido do valor da informação na cadeia logística. Um terceiro caso refere-se à transferência, ao cliente, de informações importantes e de forma gratuita. Por exemplo, o fornecedor muitas vezes in- corpora, em seu sistema de código de barras, informações importantes para o comerciante, mesmo que tais informações não tenham aplicação direta em sua empresa. Com isso tende a ganhar a preferência do cliente diante da con- corrência, pois está adicionando um valor de informação a seus serviços lo- gísticos. Observamos então que a Logística Empresarial evoluiu muito desde seus primórdios. Agrega valor de lugar, de tempo, de qualidade e de infor- mação à cadeia produtiva. Além de agregar os quatro tipos de valores positi- vos para o consumidor final, a Logística moderna procura também eliminar do processo tudo que não tenha valor para o cliente, ou seja, tudo que acar- rete somente custos e perda de tempo. Movimentos como o ECR e QR1 vi- sam, entre outras coisas, ao enxugamento do processo logístico, com benefí- cios diretos aos consumidores. A Logística envolve também elementos hu- manos, materiais (prédios, veículos, equipamentos, computadores), tecnoló- gicos e de informação. Implica também a otimização dos recursos, pois, se de um lado se busca o aumento da eficiência e a melhoria dos níveis de serviço ao cliente, de outro, a competição no mercado obriga a uma redução contí- nua nos custos. Assim podemos conceituar Logística adotando a definição do Council of Supply Chain Management Professionals norte-americano: Logística é o processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor. 351 ECR: Efficient Customer Response; QR: Quick Response. Na Figura 2.1 é apresentado um quadro sinóptico contendo os princi- pais elementos conceituais da Logística. A Logística começa pelo estudo e a planificação do projeto ou do processo a ser implementado. Uma vez plane- jado e devidamente aprovado, passa-se à fase de implementação e operação. Muitas empresas acham que o processo termina aí. Na verdade, devido à complexidade dos problemas logísticos e à sua natureza dinâmica, todo sis- tema logístico precisa ser constantemente avaliado, monitorado e controla- do. Há inclusive uma especialização, denominada auditoria logística, que executa de forma sistemática e permanente essas atividades de avaliação, monitoramento e controle. Os fluxos associados à Logística, envolvendo também a armazenagem de matéria-prima, dos materiais em processamento e dos produtos acaba- dos, percorrem todo o processo, indo desde os fornecedores, passando pela fabricação, seguindo desta ao varejista, para atingir finalmente o consumi- dor final, o alvo principal de toda a cadeia de suprimento. Além do fluxo de materiais (insumos e produtos), há também o fluxo de dinheiro, no sentido oposto àquele. Há, ainda, fluxo de informações em todo o processo (Figura 2.2). Esse fluxo ocorre nos dois sentidos, trazendo informações paralela- mente à evolução do fluxo de materiais, mas conduzindo também informa- ção no sentido inverso, começando com o consumidor final do produto (de- manda, preferências, mudanças de hábitos e de compras, mudanças no perfil socioeconômico) e indo até os fornecedores de componentes e de maté- ria-prima.36 Processo de planejar, operar, controlar Do ponto de origem Ao ponto de destino De forma econômica, eficiente e efetiva Satisfazendo as necessidades e preferências dos clientes Fluxo e Armazenagem Matéria-prima Produtos em processo Produtos acabados Informações Dinheiro FIGURA 2.1 • Elementos básicos da Logística Todos esses elementos do processo logístico devem ser enfocados com um objetivo fundamental: satisfazer as necessidades e preferências dos con- sumidores finais. No entanto, cada elemento da cadeia logística é também cliente de seus fornecedores. Assim, é preciso conhecer as necessidades de cada um dos componentes do processo, buscando sua satisfação plena. Fi- nalmente, operando num mercado eminentemente competitivo, não basta adotar soluções tecnicamente corretas. É necessário buscar soluções eficien- tes, otimizadas em termos de custo, e que sejam eficazes em relação aos obje- tivos pretendidos. Assim, a moderna Logística procura incorporar: ● prazos previamente acertados e cumpridos integralmente, ao longo de toda a cadeia de suprimento; ● integração efetiva e sistêmica entre todos os setores da empresa; ● integração efetiva e estreita (parcerias) com fornecedores e clientes; ● busca da otimização global, envolvendo a racionalização dos proces- sos e a redução de custos em toda a cadeia de suprimento; ● satisfação plena do cliente, mantendo nível de serviço preestabeleci- do e adequado. 37 DISTRIBUIDORFORNECEDOR MANUFATURA FLUXO DE INFORMAÇÃO FLUXO DE MATERIAIS FLUXO DE DINHEIRO VAREJISTA CONSUMIDOR FIGURA2.2 • Fluxos logísticos CADEIA DE SUPRIMENTO E SEU GERENCIAMENTO Quando adquirimos um produto, não imaginamos o longo processo neces- sário para converter matéria-prima, mão de obra e energia em algo útil ou prazeroso. Muitas vezes, produtos complexos como o automóvel requerem matéria-prima de natureza variada (metais, plásticos, borracha, tecidos) e são montados a partir de um número muito elevado de componentes. Nou- tros casos, como uma bandeja de ovos frescos, o produto é formado pelo ele- mento básico (os ovos), mas há que se considerar também o suporte de plás- tico, a etiqueta e o código de barras. Mas, na maioria dos casos, o caminho é mais longo. Uma geladeira, por exemplo, utiliza componentes fabricados por outras indústrias, como é o caso do compressor. A fábrica de compresso- res, por sua vez, necessita de fios elétricos, metais e outros elementos para sua produção, componentes esses fornecidos por outras empresas. O longo caminho que se estende desde as fontes de matéria-prima, passando pelas fá- bricas dos componentes, pela manufatura do produto, pelos distribuidores e chegando finalmente ao consumidor através do varejista constitui a cadeia de suprimento. A cadeia de suprimento típica é mostrada na Figura 2.3. Fornecedores de matéria-prima entregam insumos de natureza variada para a indústria princi- pal e também para os fabricantes dos componentes que participam da fabrica- ção de um determinado produto. A indústria fabrica o produto em questão, que é distribuído aos varejistas e, em parte, aos atacadistas e distribuidores. Esses últimos fazem o papel de intermediários, pois muitos varejistas não co- mercializam um volume suficiente do produto que lhes possibilite a compra direta, a partir do fabricante. As lojas de varejo, abastecidas diretamente pelo fabricante ou indiretamente por atacadistas ou distribuidores, vendem o pro- duto ao consumidor final. Há ainda outros aspectos não considerados na Fi- gura 2.3, como a Logística Reversa e as operações de pós-venda. Quando se fala na cadeia de suprimento, pensa-se imediatamente no fluxo de materiais, formado por insumos, componentes e produtos acaba- dos. Por isso, as setas na Figura 2.3 são orientadas de cima para baixo. Mas esse não é o único tipo de fluxo na cadeia de suprimento, conforme vimos anteriormente (Figura 2.2). Há algumas décadas, as grandes indústrias produziam a maior parte dos componentes necessários à fabricação de seus produtos. Isso ocorria, em parte, porque conseguiam produzi-los com custos mais baixos. De outro lado, por questões estratégicas e de poder econômico, não gostavam de ficar na dependência de fornecedores. A tendência então era a verticalização in- dustrial. Hoje, os conceitos de vantagem competitiva e de core competence (Porter, 1986) estão presentes na definição das estratégias das grandes em- presas. É mais proveitoso concentrar as atividades naquilo que a empresa consegue fazer bem, diferenciando-a positivamente dos concorrentes e ad-38 quirindo externamente componentes e serviços ligados a tudo que não esti- ver dentro de sua competência central (core competence). Assim, não somen- te componentes e matérias-primas são hoje adquiridos de outras empresas, como também serviços de variadas espécies: distribuição, armazenagem e transporte de produtos e insumos, alimentação de empregados, estaciona- mento e muitos outros (ver Capítulo 9). É claro que, nesse contexto, é muito importante o adequado entrosamento entre as empresas participantes, com um grau de confiança mútua elevado. A atitude clássica das empresas numa fase preliminar da logística, e que infelizmente ainda perdura em muitas organizações nacionais, era tirar a má- xima vantagem de cada situação, visando, com isso, ganhar sempre dos con- correntes, numa perspectiva imediatista. Por exemplo, com a integração mais efetiva das empresas nos dias de hoje, é comum um lote de um certo produto ser entregue atrasado à transportadora, mas com a documentação indicando a data acertada previamente com o cliente, numa tentativa de pas- sar a ineficiência de um dos participantes aos demais elementos da cadeia. Esse tipo de atitude está obviamente ligado ao desbalanceamento de poder entre as empresas participantes. Aquela que fala mais alto, mostrando seu poder, acaba, muitas vezes, impondo situações irregulares aos elos mais fra- cos da cadeia de suprimento. 39 Fornecedores de matéria- prima Fabricantes de componentes Atacadistas e distribuidores Indústria principal Varejista Consumidor final Produto acabado FIGURA 2.3 • Cadeia de suprimento típica Hoje, a visão desse processo é totalmente diferente. Chegou-se à con- clusão de que os ganhos que podem ser obtidos através da integração efetiva dos elementos da cadeia, com a otimização global de custos e de desempe- nho, são mais expressivos do que a soma dos possíveis ganhos individuais de cada participante, quando atuando separadamente. No jargão logístico, a união dos participantes da cadeia de suprimento, buscando ganhos globais, deve se transformar num processo ganha-ganha, em que todos ganham e não somente uns em detrimento dos demais. Mas, para se chegar a esse estágio de integração plena, com benefícios globais expressivos, o caminho é árduo, requerendo a eliminação de inúme- ras barreiras. Uma delas é o esquema organizacional da empresa, que precisa ser revisto, modernizado. Outro requisito é a necessidade de um sistema de informações bem montado e interligando todos os parceiros da cadeia. Tam- bém é preciso implantar, nas empresas participantes, sistemas de custos ade- quados aos objetivos pretendidos, permitindo a transparência de informa- ções entre os parceiros da cadeia. Esse tipo de operação logística integrada moderna é denominado Supply Chain Management (SCM), ou, em portu- guês, Gerenciamento da Cadeia de Suprimento. A seguinte definição de Supply Chain Management foi adotada pelo Fórum de SCM realizado na Ohio State University: SCM é a integração dos processos industriais e comerciais, partindo do consumidor final e indo até os fornecedores iniciais, gerando produtos, serviços e informações que agreguem valor para o cliente. É importante notar que o novo conceito de SCM focaliza o consumidor com um destaque excepcional, pois todo o processo deve partir dele, bus- cando equacionar a cadeia de suprimento de maneira a atendê-lo, na forma por ele desejada. Outro ponto importante a destacar é a integração exigida entre todos os elementos da cadeia de suprimento. Há também o caráter es- tratégico da Logística, dentro da conceituação moderna do SCM, que discu- tiremos mais adiante neste capítulo. EVOLUÇÃO DA LOGÍSTICA Dividimos o processo de evolução da Logística em quatro fases, que analisa- remos a seguir. A quarta fase corresponde ao moderno Gerenciamento da Cadeia de Suprimento (SCM). Primeira Fase: Atuação Segmentada Conforme analisado no Capítulo 1, a moderna Logística praticamente se originou na Segunda Guerra Mundial. Vimos que, após a guerra, a indústria40 giske Retângulo
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