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O corpo na dança

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PROOJETO 
INTEGRADOR DE 
FISIOTERAPIA
Luciano Dornelles
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INTRODUÇÃO
Olá!
O corpo dança, o corpo movimenta-se, o corpo constitui-se como arte. 
Manifestação artística é uma das formas de comunicação corporal, com 
gestos, expressões, movimentos, a suavidade do conjunto. É importante 
realizarmos um levantamento histórico da dança e em como o corpo a utilizou 
como linguagem até a pós-modernidade.
 
Nesta Unidade de Aprendizagem você vai poder ver como o corpo comunica-
se pela dança, seus movimentos, subjetividades e significados. Desta forma 
aproveite o momento, siga a música e vá com curiosidade onde a dança te levar.
Bons estudos!
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:
• Identificar o corpo em diferentes períodos históricos em sua relação com 
a dança. 
• Classificar os diferentes significados que a dança e o corpo construíram com 
o passar do tempo.
• Definir que importância a dança teve no desenvolvimento da cultura e do 
conceito de corpo.
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O CORPO NA DANÇA
Dança é uma arte, é uma forma de movimentar expressivamente o corpo 
fazendo-o comunicar-se seguindo movimentos ritmados, estes movimentos em 
geral acompanhados ao som de música. Não há melhor maneira de definir a dança 
do que como uma forma de linguagem corporal, linguagem pelo movimento, uma 
comunicação sem palavras que é carregada de significados. Quando falamos de 
significados na dança, temos inúmeros exemplos que vão além da expressão 
artística, podendo ser vistos como um meio de adquirir conhecimentos, como 
opção de lazer, fonte de prazer e desenvolvimento da criatividade. 
Assim como outras formas de comunicação, seu início foi com povos primitivos, 
onde a dança surge como prática ritualística: no período de colheitas, nos 
rituais aos deuses, na época das caçadas, nos casamentos, em momentos de 
alegria ou tristeza, ou ainda, em homenagem à mãe natureza. Sua diversidade 
e significados mudam de acordo com o local do povo estudado e com a época 
histórica, mas cabe salientar que a dança com esta finalidade perdura até os 
dias de hoje.
Sua influência nas sociedades ao longo dos tempos foi fortíssima, funcionava 
como socialização e disseminação de cultura, e consequentemente 
proporcionou ao mundo o conhecimento sobre a diversidade cultural dos 
diferentes povos em todo mundo, especialmente pelas das danças folclóricas 
mais características, difundidas pela constante migração em busca de 
melhores condições de vida. Com a evolução pedagógica, também passou a 
ser praticada em estúdios, escolas, academias e clubes, em grupos folclóricos 
e para manutenção da saúde física e mental.
Pensando nestes temas, apresento como objetivos, identificar o corpo em 
diferentes períodos históricos em sua relação com a dança; classificar os 
diferentes significados que a dança e o corpo construíram com o passar do 
tempo; e definir que importância a dança teve no desenvolvimento da cultura 
e do conceito de corpo. 
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Uma origem religiosa
O movimento corporal acompanha a humanidade desde sua evolução mais 
primitiva. A dança surge como uma das formas de expressão de sentimentos 
mais antigas, já que sua finalidade ganhou aspectos ritualísticos de honra 
aos deuses cultuados, para terem boas colheitas e caças, boa saúde, muitas 
crianças e boas relações comerciais. Há inúmeras pinturas rupestres nas quais 
aparecem manifestações de danças em roda e em fileiras, registros escritos 
nos evangelhos da Bíblia cristã que fazem referência a danças sagradas e 
também profanas, hieróglifos egípcios mostram danças fúnebres, danças das 
colheitas e de culto.
Figura 1 door-handle girl
 
Fonte: Shutterstock.
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Mesmo durante a mais baixa idade média algumas danças feitas em procissões 
eram permitidas, embora muitas danças ritualísticas tenham sido proibidas 
e ridicularizadas. No período Renascentista temos uma evolução daquelas 
danças mais ligadas à religião, surgiram danças populares que ficaram mais e 
mais estilizadas, são danças tão diversas quanto as particularidades de cada 
povo onde se originaram. 
Este estímulo de novas formas de dança faz com que as primeiras escolas 
surjam já a partir do século XV. A partir desta época a dança ganha outro 
significado, o que antes era uma atividade ritual ou lúdica, de culto e de 
divertimento, passou para uma forma mais regrada e disciplinada, dando 
origem a repertórios de movimentos estilizados, as coreografias. 
As danças coreografadas trazem outra noção, outros significados para o corpo, 
e são fundamentais para que formas de dança artística possam ser criadas. 
Uma destas formas, talvez uma das mais importantes, é o Balé ou Ballet, um 
estilo de dança desenvolvido na França para celebrar os casamentos reais 
nos grandes salões dos palácios franceses. Esta dança surge na Itália como 
balleto, um conjunto de ritmos e passos ligado às apresentações teatrais 
conhecidas como a Pantomima, onde os atores só se expressavam por meio 
da fisionomia facial, gestual e de movimentos corporais. 
O Balletto, que significa literalmente “dancinha” ou “bailinho”, na renascença 
tratava-se de uma diversão muito apreciada pela nobreza italiana. A 
admiração pela dança era tanta que a princesa italiana Catarina de Médici 
(1519-1589) introduz o Baletto na realeza francesa quando se casou com 
o rei Françês Henrique II. A princesa também fez questão de levar o grande 
coreógrafo italiano de então, Balthazar Batazarini Di Belgioioso (na França 
recebe o nome de Beaujoyeulx, uma forma afrancesada como de outros 
italianos que fizeram parte da história do balé, pois a dança só se desenvolveu 
realmente quando chegou entre os franceses, que espalharam seu sotaque 
em tudo o que envolve essa arte).
Beaujoyeulx possuía uma companhia que apresentava um tipo de espetáculo 
bem diferente dos balés atuais, pois reunia não apenas dança, mas também 
poesia, canto e uma orquestra musical. O formato variado entusiasmou os 
nobres franceses desde sua chegada à corte, e teve seu apogeu na corte 
do rei Luís XIV em 1661, quando o próprio rei fundou a Accademie Royale 
de Musique, que abrigava uma escola de balé. A escola tinha a direção do 
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compositor italiano Jean-Baptiste Lully e do professor de dança francês Pierre 
Beauchamps, que transformam o balé teatral num espetáculo mais complexo 
e sofisticado, conhecido como “Ópera-Balé” por combinar dança, diálogos e 
canto. Foi o professor Beauchamps quem criou as cinco posições básicas 
que são usadas no balé até hoje. O rei Luís XIV também era bailarino, e de 
tanto incentivar a prática da dança e de participar dos espetáculos, recebeu o 
apelido de Rei Sol devido sua participação no espetáculo Ballet de La Nuit, no 
qual vestia uma fantasia muito brilhante, lembrando o grande astro.
Figura 2 Louis XIV of France and french noblewoman (1680-1700) / vintage illustration 
from Meyers Konversations-Lexikon 1897.
Fonte: Shutterstock.
Os espetáculos de Balé passaram por outra transformação no século XVIII, 
após o início ligado as festividades da monarquia francesa, temos um grande 
desenvolvimento do balé, que sai dos salões e transfere-se para os palcos, 
provocando mudanças na maneira de se apresentar e, surgindo assim, os 
espetáculos de dança, permitindo que as bailarinas deixassem de lado os 
grandes vestidos que usavam até então e que limitavam seus movimentos. Os 
sapatos de salto também ganham o formato de sapatilhas, e a partir do século 
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XVIII o Balé teatral é executado nos palcos como espetáculo por verdadeiros 
profissionais de ambos os sexos, a dança adquiriu todo o seu esplendor 
com ricos e belos cenários e figurinos. No século XIX estes avanços abrem 
a possibilidade para os passos de ponta (do pé), um dos movimentos mais 
identificados com o balé clássico, e passou a contar histórias com começo, 
meio e fim ganhando a formatação que resiste até a contemporaneidade.
Danças de salão
A origem das danças de salão é semelhante ao Balé, pois surgiram também 
na Itália entre os séculos XV e XVIe são caracterizadas por movimentos 
precisos e elegantes, ritmados e marcados. Estas danças são levadas para 
diversos países, mas em especial a partir do século XVII, a dança de salão do 
estilo francês ganhou mais popularidade. Um dos motivos desta popularidade 
foi a Revolução Francesa, que desencadeou uma série de outras revoluções 
pelo mundo todo e causou um afastamento dos aspectos mais religiosos, 
abrindo caminho para as expressões mais livres e originais. Sua influência 
desencadeia a criação do Paso Doble (na Espanha), da Polca (criada na antiga 
Tchecoslováquia, hoje República Tcheca) e da Valsa vienense (na Áustria).
No continente americano, a dança de salão ganhou força no século XX, diversos 
países que se libertaram de seus colonizadores ou mesmo derrubaram suas 
monarquias, recebem a influência francesa e por consequência as danças 
de salão. Estas danças se aproximam das culturas locais e transformam-
se, criando o maxixe (no Brasil – origem do samba de gafieira, do forró, da 
lambada e do vaneirão), o tango (na Argentina), a habanera (no Caribe – 
origem da rumba, da salsa, do bolero, do merengue, do bachata, do cha-cha-
chá, da cumbia, do calipso, do zouk, da milonga e do mambo), o charleston e 
o Swing (nos Estados Unidos – origens do jitterbug e do jive, do balboa, do 
foxtrot, do west coast swing e do east coast swing), além de muitas outras. 
Depois da Segunda Guerra Mundial, muitos estes estilos de dança que foram 
levados pelos soldados, disseminam-se pelo mundo todo e são assimilados 
por diversas outras culturas. Hoje, internacionalmente, a dança de salão 
evoluiu para formas competitivas, se restringindo a certas danças, de acordo 
com categorias: International Standard e International Latin. Estas danças 
foram definidas pelo Conselho Mundial de Dança, e os estilos são: a valsa 
lenta (inglesa), o tango internacional (variação do tango argentino), a valsa 
vienense, o foxtrot e o quickstep, o samba (variação do samba brasileiro), o 
cha-cha-chá, a rumba, o paso-doble e o jive.
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A dança de salão de competição é conhecida no mundo todo como 
“Dancesport” ou “Ballroom Dance”. Essas danças seguem passos restritos 
divididos em três níveis de aprendizadoː bronze, prata e ouro (ou iniciados, 
intermédios e open). Existem dez danças no estilo internacional e nove 
danças no estilo estadunidense.
Danças folclóricas
Desde os anos 1970 e 1980, com as revoluções culturais americana e europeia, 
muitas formas de dança ganham um formato mais solto, sem as regras das 
danças tradicionais, artísticas e de salão. Assim surgem as danças folclóricas, 
tipos danças específicas de um determinado país e cultura, com uma variedade 
tão grande que torna virtualmente impossível de conseguir apresentar uma 
lista completa de todas elas, apresentarei alguns exemplos a seguir.
A dança de rua, ou Street Dance é um conjunto de estilos de danças que 
possuem movimentos detalhados (acompanhados de expressão facial), com 
uma origem que remonta outros ritmos de origem afro-americana, como 
o Blues e o Rhytm and Blues. No fim dos anos 1960, o cantor americano 
James Brown criou um novo ritmo que influenciou muito a dança de rua: o 
Soul (ritmo de origem afro-americana). Mais tarde, o funk (também de James 
Brown), a música Disco e o Rap também influenciaram a dança de rua. O 
Breaking surgiu na década de 1980 como uma vertente da dança de rua, e 
foi disseminado pelo mundo rapidamente, tendo como principal precursor o 
americano Michael Jackson.
A dança do ventre era praticada originalmente por mulheres do Norte 
de África e da Ásia Ocidental e Meridional. Este tipo de dança tem como 
característica principal o movimento rítmico dos quadris e dos músculos do 
ventre. Originalmente, esta dança era parte integrante do ritual de fertilidade, 
no entanto, hoje em dia a ligação com a fertilidade não é tão comum, sendo 
vista como uma expressão artística, cultural e profissional.
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O maracatu é um ritmo musical com dança típico da região pernambucana 
do Brasil, e reúne uma interessante mistura de elementos culturais afro-
brasileiros, indígenas e europeus. Os dançarinos representam personagens 
históricos (duques, duquesas, embaixadores, rei e rainha). O cortejo é 
acompanhado por uma banda com instrumentos de percussão (tambores, 
caixas, taróis e ganzás). A orquestra de um maracatu nação, também chamado 
de baque virado, é formada tão somente por instrumentos de percussão.
O Haka é o nome genérico pelo qual são conhecidas as danças típicas do povo 
Maori da Oceania, que demonstram a paixão, o vigor masculino e a identificação 
com a raça. É igualmente executada para dar as boas vindas a quem chega, 
como para intimidar as tribos inimigas. Executado pelos All Blacks, numa 
variante específica chamada Ka Mate, quanto mais agressivo, feroz e brutal, 
o tom utilizado, mais vai incentivar o grupo | equipe, e intimidar o adversário. 
Conduzido pelo dançarino | guerreiro | jogador mais velho, de sangue maori, 
as palavras utilizadas servem para estimular quem está realizando a dança, 
mas também para comandar a sequência dos seus movimentos.
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REFERÊNCIAS 
CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). Histoire 
du corps: Vol. 1, De la Renaissance aux Lumières. Paris: Seuil, 2005.
____________________. Histoire du corps: Vol. 2, De la Révolution à la 
Grande Guerre. Paris: Seuil, 2005b. 
____________________. Histoire du corps: Vol. 3, Les mutations du 
regard, Le XX e siècle. Paris: Seuil, 2006.
NIETZSCHE, Friedrich. HUMANO, DEMASIADO HUMANO - Um livro para 
espíritos livres. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.