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1 Disciplina: Comunicação organizacional, relações interpessoais e ética Autores: M.e Crisbelli Djamilli Domingos Brunet Revisão de Conteúdos: Esp. Orlei Candido Antunes Revisão Ortográfica: Ana Carolina Oliveira Freitag Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Crisbelli Djamilli Domingos Brunet Comunicação organizacional, relações interpessoais e ética 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA BRUNET, Crisbelli Djamilli Domingos. Comunicação organizacional, relações interpessoais e ética / Crisbelli Djamilli Domingos Brunet. – Curitiba, 2018. 59 p. Revisão de Conteúdos: Orlei Candido Antunes. Revisão Ortográfica: Ana Carolina Oliveira Freitag. Material didático da disciplina de Comunicação organizacional, relações interpessoais e ética – Faculdade São Braz (FSB), 2018. ISBN: 978-85-5475-161-6 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Nesta disciplina serão estudados os processos operacionais, inovações, leis, administração financeira e estratégias a fim de impulsionar o sucesso da organização na qual trabalha. Serão vistos os conhecimentos necessários para se tornar um bom líder. Será desenvolvida a capacidade de inspirar e influenciar pessoas, para que uma equipe possa participar de decisões de maneira engajada e motivada. O líder é aquele que se comunica, então será estudado sobre como mobilizar pessoas, compartilhar ideias e tornar-se referência pela acessibilidade, empenho e espírito de equipe. A elaboração do conteúdo da disciplina possui uma abordagem dinâmica, pois as teorias são apresentadas de maneira contextualizada com a realidade da gestão escolar. Ao fim de cada aula, serão apresentados dados estatísticos de pesquisas científicas sobre o tema para contemplar os novos conhecimentos. A disciplina de Comunicação Organizacional, Relações Interpessoais e Ética é dividida em quatro momentos. No primeiro capítulo será aprendido sobre comunicação organizacional, relações interpessoais, condutas profissionais e inteligência emocional. No segundo capítulo serão abordados: liderança, poder, trabalho em equipe e motivação. Em seguida, no terceiro capítulo, será estudada a ética profissional, a gestão de conflitos e a gestão por competência de talentos. Tendo essas bases construídas, no capítulo quatro serão aprofundados o ensino-aprendizagem na cultura organizacional escolar e, também, o atendimento às crianças e adolescentes em situação de risco e suas relações com o conselho tutelar. 6 Aula 1 - Comunicação organizacional, relações interpessoais e condutas profissionais Apresentação da aula 1 Nesta aula serão apresentados conhecimentos estruturais da disciplina. Com o aporte das ciências da linguagem, será estudado o que é comunicação organizacional. Em seguida, será direcionado para o estudo das relações interpessoais, abordando questões como marketing pessoal e posturas profissionais do gestor educacional. 1.1 Comunicação organizacional Uma organização é um conjunto de pessoas capazes de se comunicar e dispostas a contribuir em uma ação, visando alcançar um objetivo comum. Quanto mais a economia avança, maiores e mais complexas são as organizações no mundo globalizado. Assim, elas promovem impacto na qualidade de vida dos indivíduos. Frente a essa realidade, encontra-se a figura do gestor que, além de contribuir para o avanço das organizações, tem de criar condições de qualidade de vida profissional para a sua equipe. Os seres humanos, integrantes de organizações, possuem duas perspectivas a serem consideradas em qualquer situação que envolvem: a perspectiva individual, que diz respeito às características próprias de personalidade, como valores, atitudes, interesses e aspirações, e, de outro lado, a perspectiva de recursos, na qual se insere o conhecimento, competências, habilidades e destrezas necessárias à função organizacional. Para compreender o indivíduo como um todo, isso é, como aquele que é dotado de recursos profissionais na medida em que possui a sua própria personalidade, faz-se necessário refletir sobre o comportamento humano. 7 Fonte:https://image.freepik.com/vetores-gratis/20-pessoas-silhuetas-pe_23- 2147734371.jpg O comportamento é constituído por três elementos: causação, motivação e orientação para objetivos. O comportamento é causado, porque é originário da hereditariedade e do ambiente do indivíduo; é motivado, na medida em que se relaciona aos desejos, impulsos e necessidades que nos fazem tomar atitudes ou cometer um ato qualquer; e, também, orientado para objetivos, uma vez que as ações nunca são aleatórias, pois tudo o que se faz tem uma finalidade. Vocabulário Comportamento: Maneira de ser, de agir ou de reagir; conduta. Conjunto de reações, observáveis objetivamente, de um indivíduo que age em resposta a um estímulo. (LAROUSSE, 2004, p. 172). Diante do comportamento como o mais importante aspecto humano do convívio social, é importante saber que todas as vezes que os seres humanos têm uma necessidade, interrompem o estado de equilíbrio do seu organismo. Essa tensão natural ocorre porque sabe-se que não é sempre que se pode satisfazer as suas necessidades, que se não forem realizadas, podem ser frustradas, compensadas ou transferidas para outra situação, pessoa ou objeto. Por isso, a inteligência emocional nas relações interpessoais é o que dita o sucesso ou o fracasso na comunicação organizacional. 8 1.2 As ciências da linguagem e a comunicação no contexto educacional Toda abordagem sobre comunicação requer o uso de uma teoria da comunicação. São várias as áreas do conhecimento em que são elaboradas reflexões sobre esse assunto, mas aqui será dado destaque à pragmática, ciência interdisciplinar ancorada na linguística, que investiga o comportamento comunicativo humano diante dos mais diferentes contextos. Segundo essa ciência, a comunicação e a interpretação constituem-se por pelo menos dois processos mentais distintos: pelo resultado da decodificação do conteúdo verbal, seguido do reconhecimento das intenções comunicativas, que permite identificar não apenas o que foi dito, mas aquilo que ‘se quis dizer’ com a informação dada.Essa interação comunicativa, realizada pela negociação de significados, obedece a um princípio cooperativo, que parte da ideia de que existe um acordo prévio de colaboração na tarefa de se comunicar. Na maior parte do tempo, emite-se muito mais significados do que aqueles codificados por meio das palavras e enunciados. Por isso, o envolvimento cooperativo entre os interlocutores (falantes e ouvintes) possibilita que o implícito seja interpretado e a intenção comunicativa transmitida. Afinal, o que difere a inteligência do homem da inteligência artificial dos computadores é, justamente, a habilidade dos humanos de interpretar informações de maneira não literal. O envolvimento cooperativo entre os interlocutores (falantes e ouvintes) possibilita que o implícito seja interpretado e a intenção comunicativa transmitida. Uma das condições necessárias para uma cooperação comunicativa eficaz nas relações humanas, segundo seus padrões de comportamento, é a Polidez Verbal. Nos estudos linguísticos, entende-se a polidez como uma norma conversacional, cuja violação é potencialmente notada pelos integrantes de uma conversação. A polidez compreende a noção de que os interlocutores pensam estrategicamente e procuram manter uma imagem pública, isto é, a preservação de sua própria face. Assim, a comunicação que diretamente 9 expressa uma ordem, por exemplo, pode representar ameaça à face do ouvinte se o comportamento de imperatividade do falante for intenso. Por outro lado, existem os atos de fala expressivos, como os pedidos de desculpas, os cumprimentos e os agradecimentos, que podem tanto se relacionar às situações de cortesia, como a situações constrangedoras ou humilhantes. Dessa maneira, a polidez torna-se positiva na busca de solidariedade e de aproximação; ou negativa, quando se pretende evitar confronto e conflito. Assim, a polidez nada mais é que uma tentativa de manipulação da comunicação a benefício do falante que, geralmente, busca ser polido a fim de conseguir o que precisa. Para Brown e Levinson (1987), autores da Teoria da Polidez, a face é uma autoimagem pública que pode ser mantida, reforçada ou perdida. Para não prejudicar a própria face, a tendência é a de que o falante busque estratégias que suavizem as relações de poder, distância social e necessidade de imposição nos atos comunicativos. Segundo os pesquisadores, as possibilidades que o falante pode escolher para atenuar ou acentuar conflitos são cinco: (1) “Professora, por favor, você faria o plano de aulas ainda hoje para nós? ” (2) “Você se importaria de ir fazer o plano de aulas, por favor? ” (3) “O plano de aulas está começando a fazer falta...” (4) “Faça o plano de aulas! ” (5) “Vá logo fazer esse plano de aulas, poxa! ” Adaptadas aos estudos, as sentenças acima possuem expressões linguísticas que permitem que o falante passe da forma mais polida para a menos polida, fazendo com que se preserve ou se exponha a face de seu interlocutor. Nota-se que em (1) o enunciado é cortês, pois suaviza o poder, indica aproximação e não é impositiva. Em (2), o enunciado é cortês, expressa necessidade e a imposição é feita de maneira regular. No terceiro enunciado, há expressão de indiretividade, que pode ou não ser cortês. Em (4) o 10 enunciado representa ameaça de resultar descortês, e, o último, certamente acentua conflitos. 1.3 Expressões linguísticas Fonte:https://cdn.pixabay.com/photo/2016/10/12/09/02/multitasking- 1733890_960_720.jpg Obviamente, o propósito da fala, se é sério, brincadeira ou tem como objetivo provocar humor, ironia ou sarcasmo, junto com a atenuação da voz, são elementos necessários para a real análise das sentenças acima. Mas o que é fundamental nesse momento de estudos é como, de que maneira, determinadas comunidades constroem suas normas de (im) polidez. A resposta é simples. É pela observação dos comportamentos comunicativos das pessoas de uma organização que o gestor ou futuro gestor, conseguirá elaborar estratégias comunicativas harmoniosas e eficazes. 1.4 Relações interpessoais no contexto organizacional O engajamento das pessoas no contexto organizacional depende, estritamente, do desenvolvimento das relações interpessoais. Nas situações de trabalho, as relações interpessoais são construídas pela comunicação e cooperação dos indivíduos nas atividades coletivas que exercem. Na medida em que essa interação ocorre, emoções e sentimentos são despertados e isso influencia diretamente a produtividade e o clima do ambiente comum. Chanlat (1993), professor de liderança e gestão, descreve que o êxito das relações interpessoais é condicionado por pelo menos, três aspectos de convívio: a motivação, o cultivo do bom clima e a identidade de equipe. Motivar 11 alguém significa encorajá-lo ao desempenho de suas funções, isso é, utilizar-se da comunicação afetiva para que o comportamento orientado para um objetivo seja mantido. Esse comportamento é resultado de várias razões que atuam ao mesmo tempo, seja pela necessidade de dinheiro, de aprovação social ou da vontade de fazer parte de um grupo específico (afiliação). O importante é que o gestor saiba que, independente dessas necessidades primárias, existem ainda outras de igual importância e que precisam ser promovidas a equipe, como a segurança de que uma meta traçada é possível de ser cumprida; a estima pelo objetivo comum; e o sentimento de realização durante e após o cumprimento de tarefas. Pessoas desmotivadas é indício de que talvez falte atenção do gestor no cultivo do bom clima organizacional, que depende de ações que promovam o diálogo positivo, que é aquele que não prejudica a imagem pública do outro. Sem motivação não há engajamento, e sem engajamento não há identidade de equipe. Além disso, a tendência a conflitos é consequência de impactos no clima de trabalho, em razão de comportamentos comunicativos inadequados e outras situações mal resolvidas entre àqueles que integram um mesmo espaço social. Vale ressaltar que as diferenças na história de vida particular de cada um é o que molda os raciocínios que as pessoas fazem diante das situações que lhe são apresentadas. Por esse motivo, torna-se completamente possível que duas pessoas presenciem um mesmo acontecimento e construam representações radicalmente diferentes sobre ele. Assim, as organizações tornam-se complexos sociais que unem pessoas com suas diferentes percepções, valores e padrões culturais. Inserido nas funções elementares de mediador e conciliador, reitera- se que o gestor precisa ser um atento observador das condutas humanas e dos conjuntos de valores que tendem a influenciar a instituição de ensino, a si próprio e a sua equipe. Ao conhecer a diversidade de opiniões de seus semelhantes, o gestor terá elementos concretos para analisar condutas e reunir, de forma coerente com a realidade, os argumentos para as suas tomadas de decisões, sejam elas integradas, participativas, democráticas e, claro, que respondam aos bons valores da organização. 12 Como se vê, as relações interpessoais mobilizam processos psíquicos. A prática da comunicação, quando é fluida entre o gestor e os integrantes de sua equipe, diminui a incidência de comportamentos negativos, além de ajudar na criação de um espaço para que as manifestações (críticas, opiniões, sugestões) sejam sempre construtivas. No entanto, é importante lembrar que pessoas se comunicam não apenas por palavras, mas também por suas expressões faciais, olhares, gestos e posturas corporais diversas. É necessário estar atento também ao silêncio daqueles que o rodeiam e aquilo que as palavras não comunicam, mas que o corpo e as atitudes se encarregam de transmitir. Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2016/10/12/09/03/woman-1733891_960_720.jpgO ambiente de trabalho por si só gera competitividade, uma vez que esta é característica natural do ser humano devido a seu instinto de sobrevivência. Mediar esses comportamentos competitivos não significa anular a produtividade. Pelo contrário, significa reduzir o clima de desentendimentos, fofocas, insatisfações e falta de ânimo. Isso é fundamental para que a equipe permaneça pautada na ética e no respeito. É claro que promover um espaço perfeito de trabalho não é possível e nunca será. Super-heróis existem apenas no mundo da ficção e o gestor não é capaz de resolver os seus problemas e os problemas de todos ao mesmo tempo. Mas, trazemos uma boa notícia: medidas preventivas existem e podem ser colocadas em prática! Tanto para a própria satisfação profissional do gestor como para a de sua equipe. 13 1.5 Marketing pessoal Por se viver em uma sociedade atenta aos elementos e estímulos visuais, a imagem pessoal tornou-se essencial para o sucesso profissional. Qualquer pessoa que pretenda inserir-se no mercado, ou seguir planos de carreira, precisa de um esforço de marketing para promover a própria imagem. Quanto mais valorizado é o profissional, maiores as chances de promoção. Isso não tem a ver apenas com asseio pessoal, que é aquele em que se preza por manter o corpo higienizado e as vestimentas limpas e sempre discretas, mas relaciona-se, conjuntamente, a atenção em si mesmo, em seus próprios objetivos de vida. São princípios para planejar o próprio sucesso dentro e fora das organizações: ➢ Traçar um grande objetivo em longo prazo; ➢ Listar os objetivos menores e mais precisos a médio e curto prazo; ➢ Montar um plano para alcançá-los e estipular prazos; ➢ Fazer experiências: procurar descobrir o que gosta; ➢ Listar os pontos fortes: tirar proveito das características que têm e que o tornam melhor no desempenho de determinadas tarefas; ➢ Listar os pontos fracos e reverte-los em benefícios em certas ocasiões; ➢ Executar o plano. Ser determinado, criativo e flexível. O que faz do gestor um bom profissional não é apenas a sua habilidade de lidar com pessoas, resolver urgências e executar os planos da organização na qual faz parte. O bom gestor cuida de si mesmo, preza por sua imagem pública, e é atento aos seus próprios objetivos profissionais e aspirações de vida. 14 Para Refletir Se você é gestor, convidamos que faça essa lista. Ela o ajudará muito. Se você é um futuro gestor, saiba que o fato de estar realizando esse curso já demonstra que você possui fortes iniciativas de liderança. Então, mãos à obra! Coloque a gestão como o seu grande objetivo e utilize a lista em seu favor. Acreditamos em você! 1.6 Posturas profissionais Além de manter as tarefas do marketing pessoal em dia, outras medidas existem para o sucesso da gestão e satisfação profissional da equipe. Algumas dessas medidas são bem simples. Solicitar à equipe que seja chamado pelo nome e não de chefe, senhor, gestor, coordenador ou diretor, por exemplo, expressa que é alguém próximo e acessível. Essa acessibilidade também pode ser notada no uso da porta da sua sala. Deixá-la aberta sempre que possível é fundamental para que as pessoas se sintam à vontade para dialogar. A condição para que a comunicação eficaz ocorra, é a de um contexto fluido propiciado. Chegar ao trabalho, trancar-se na sala e posicionar-se em frente ao computador durante a maioria do expediente é um ato que não expressa acessibilidade. Olhar para frente e lados, observar e sentir o clima do ambiente, cumprimentar cordialmente as pessoas (sem demonstrar maiores preferências por uma e outra), andar pelos corredores da instituição para tomar conhecimento das situações, e, assim, drenar as ações mais urgentes a serem tomadas naquele dia, torna-se essencial antes de adentrar a atmosfera particular da sala individual. Importante Um diálogo face a face, cuja comunicação verbal é complementada pela seriedade e profundidade do olhar, resulta em credibilidade e reafirma a confiança depositada na figura do gestor. 15 Contudo, nada disso adianta se tiver no rosto uma expressão sisuda e fechada. Não se é capaz de sorrir cem por cento do tempo, tampouco ser feliz permanentemente, mas, como seres humanos, pode-se demonstrar atenção e disposição aos semelhantes. E como é bom receber feições receptivas! Fonte:https://br.freepik.com/vetores-gratis/plano-de-fundo-com-profissionais- sorridentes_1269752.htm#term=sorriso&page=1&position=22 Instituídas essas condições básicas de acesso, além da redução da tensão no ambiente, ficará muito mais fácil promover ações participativas na gestão, que se possa garantir que as boas ideias da equipe sejam ouvidas e implantadas para a melhoria das condições de trabalho e da produtividade. Além da acessibilidade, outro aspecto que influencia diretamente o declínio das relações interpessoais é a prática do trabalho repetitivo, que, a longo prazo, gera insatisfação e desgosto. Então, é preciso mover as peças do tabuleiro e mãos à obra no acompanhamento! Novos olhares para diferentes atividades podem ser muito produtivos, desde que se tenha o consentimento, afinidade e competência do indivíduo para a nova função. Falando em atividades, não se pode deixar de mencionar que tarefas perigosas levam ao medo e, assim como toda emoção, o medo é contagiante. Profissionais da área da educação têm que lidar com os mais variados tipos de perigo, desde a escuridão do turno da noite e a falta de policiamento público, até a agressividade de alguns alunos e pais. Cabe ao gestor, ouvir as dificuldades da equipe e engajar-se na constante melhoria das condições de segurança. Obviamente, prezar pela segurança é mais fácil no contexto das instituições privadas, que, geralmente, possuem melhores disposições financeiras para isso. Porém, ainda que a realidade pública seja a de escassos 16 recursos para essa finalidade, bons gestores incitam o espírito de união ao incentivar que sejam trocadas, constantemente, informações e alertas sobre situações inseguras ou insalubres. Atitudes como essa fortalecem, inclusive, a identidade e o espírito de equipe. Até o momento, percebe-se a comunicação como o cerne das questões que envolvem o gestor. Para que as relações interpessoais sejam eficazes, além de possibilitar o ambiente fluido e o acesso ao gestor ou futuro gestor, é preciso lembrar de que não basta apenas ouvir, interpretar e tomar atitudes frente às situações adversas, mas dar feedbacks à sua equipe, como antídoto à falta de transparência nos relacionamentos. Vocabulário Feedback: significa dar a equipe uma resposta sobre os resultados das tarefas que desempenham. Por meio dessas respostas é que as pessoas tomam conhecimento daquilo que se espera delas no desempenho de suas funções. Um grupo de professoras brasileiras, de pós-graduação em administração, realizou uma pesquisa interessante sobre os motivos que dificultam o bom relacionamento interpessoal no contexto organizacional. O levantamento feito por elas demonstrou que as maiores incidências negativas nas relações interpessoais recaem sobre a falta de diálogo. Gráfico - A falta de diálogo e as relações interpessoais. Fonte: Silva (2007). 17 Os dados da pesquisa mostram que, dos mais de cinquenta colaboradores que aceitaram responder o questionário, a maioria assinalou a falta de diálogo entre colegas e por parte da chefia imediata como o maior motivo de declínio do engajamento nos relacionamentos interpessoais e no ambiente de trabalho. Portanto, é muito importante manter e aperfeiçoar o diálogo entre as equipes no ambiente organizacional. 1.7 A inteligência emocional Em meados da década de 90, o termo InteligênciaEmocional obteve uma definição formal, como sendo a capacidade de compreensão das emoções próprias e dos semelhantes, a fim de aperfeiçoar o autocontrole para a melhoria da qualidade de vida (REBELO e RUIVO, 2014). Foi também a partir dessa década que neurocientistas como Ledoux (2000) e Damásio (2009) fizeram importantes considerações a respeito desse conceito. A partir dos estudos sobre cognição e comportamento humano, Damásio (2009, p. 14) buscou comprovar que “a emoção é componente integral da maquinaria da razão”. Nesse enquadramento, a concepção de inteligência sai da abordagem de racionalidade pura (razão) e salta para a ideia de que o ser humano possui uma arquitetura mental que permite o reconhecimento, entendimento e gestão das próprias emoções, especialmente no relacionamento com os outros, sempre de modo a privilegiar o sucesso pessoal e profissional (LEDOUX, 2000). O psicólogo Goleman (2010) destaca que existem cada vez mais provas de que as posições éticas são decorrentes das capacidades emocionais. Ele define que processar o que as emoções oferecem significa desenvolver um leque de capacidades: a de motivar-se e persistir a despeito das frustrações; a de controlar os impulsos e adiar a recompensa; e a capacidade de regular o próprio estado de espírito para impedir que o desânimo neutralize a faculdade de pensar, de ser empático e de ter esperanças. Nesta linha de pensamento, os gestores educacionais Ruivo e Rebelo (2014) afirmam que: 18 Ser gestor de uma instituição educativa com o apoio de seus pares, de seus parceiros, de seus superiores, garantindo uma gestão administrativa, financeira e pedagógica que pretenda efetivamente reforçar a participação das famílias e das comunidades na direção estratégica desta, deve ser o gestor que reconhece e utiliza-se de sua inteligência emocional (REBELO; RUIVO, 2014, p. 143). A inteligência emocional marca o ritmo da vida moderna, sendo a chave do sucesso profissional e satisfação pessoal. Por isso é importante que o gestor não subestime o poder de sua equipe, tampouco cogite a possibilidade de sucesso ignorando as emoções coletivas. Ao maximizar as emoções positivas em si próprio e na equipe, fomenta-se o desenvolvimento das competências da inteligência emocional. Emoções contagiam e é natural que pessoas se atentem aos sentimentos, expressões e comportamentos do líder, e esta é a razão pela qual ele dá o tom do trabalho conjunto, atuando na construção da realidade emocional de seu grupo. Ao partir do entendimento de gestão também como função de motivar pessoas a seguir a mesma direção em busca de objetivos comuns, Rebelo e Ruivo (2014) desenvolveram um método para mensurar o coeficiente emocional e o coeficiente intelectual (‘técnico-teórico’) de dezenas de profissionais da área da gestão da educação. O cruzamento dos resultados da pesquisa mostrou algo interessante. Cerca de 90% dos gestores possuíam coeficiente emocional maior que os demais profissionais da área, e, dentre esses, a competência de maior destaque foi a da empatia, que obteve 100% das respostas atribuindo-a como principal valor do gestor da educação. Os dados também revelaram que quanto maior fosse a hierarquia do profissional da educação em instituições democráticas, mais alto é o seu coeficiente emocional, sendo as aptidões técnicas secundárias na comparação. Assim sendo, os pesquisadores constataram que a empatia é a característica central da inteligência emocional, já que quando pessoas se relacionam de maneira positiva, a experiência adquirida é a de menor estresse e tensão, e de maior satisfação, resultando no melhor desempenho de si próprias e da equipe diante das tarefas atribuídas (REBELO; RUIVO, 2014). 19 1.8 A empatia como conduta profissional do gestor da educação A maioria das abordagens teóricas sobre empatia é pouco prática, pois quase nunca é dito como exercê-la. São várias as definições de empatia e todas elas são aplicáveis ao gestor da educação. Mas, sem precisar ir muito longe nos termos teóricos, a empatia nada mais é que capacidade de se colocar no lugar do outro, a fim de projetar o que o outro sentiria e como agiria, diante de determinadas situações. Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis/diversidade-de-diversidade-de-pessoas- reuniao-animadora-colorida_1238624.htm#term=maos dadas&page=8&position=9 No contexto de gestão educacional, a empatia pode ser exercida pela prática de condutas como: CONDUTAS PROFISSIONAIS DO GESTOR DA EDUCAÇÃO Dividir equilibradamente as tarefas e responsabilidades entre os membros da equipe. Isso irá afastar sentimento de injustiça, tensão e sobrecarga de trabalho. Reconhecer e elogiar as iniciativas e esforços. Isso irá estimular e motivar as pessoas para o cumprimento harmônico de suas tarefas. Fazer parcerias com os professores e colaboradores para atender as necessidades da escola. Isso irá ocasionar o sentimento de segurança, senso de diretriz e entrosamento de equipes. Expor metas utilizando-se de uma comunicação transparente e realista. Isso irá repelir sentimentos de desconfiança e a sensação de ignorância. Lidar com tranquilidade e discernimento frente aos conflitos. Isso também promove segurança e senso de justiça, pois todos necessitam ter a quem 20 recorrer nos momentos de dificuldades e que esse alguém seja sempre exemplo. Superar o ego e a vaidade, nunca agindo com autoritarismo. Ninguém gosta de sentir-se oprimido. Garantir que as decisões gerais tomadas estejam de acordo com a legislação vigente. Isso irá promover segurança técnica. Incitar que a equipe traga novas ideias e que sejam discutidas em conjunto. Isso promoverá senso de participação e sentimento de união. Acompanhar o cumprimento da equipe as regras internas. Isso expressará ordem e organização. Ninguém gosta de trabalhar no caos permanente. Intervir em situações que desestabilizem a rotina, os relacionamentos ou que acarretem prejuízo à instituição de ensino. A agilidade promove o sentimento de admiração, confiança e credibilidade. Fonte: Elaborado da autora e adaptado pelo DI (2018). Todas essas atitudes são o desempenho de ações participativas, que tem como princípio fundamental o diálogo para a tomada de decisões em conjunto a partir do respeito, flexibilidade e resiliência com a diversidade de posicionamentos (LUCK, 2009). Nesse sentido é que se afirma, novamente, que o gestor exerce funções de mediador e de conciliador de pessoas em situações e objetivos comuns, tendo como alicerce a sua própria inteligência emocional para a construção e conservação de um ambiente organizacional harmônico. Resumo da aula 1 Nesta aula estudou-se que a interação comunicativa obedece a um princípio cooperativo, que parte da ideia de que existe um acordo prévio de colaboração na tarefa de se comunicar. É somente pela observação dos comportamentos comunicativos das pessoas de uma organização que o gestor conseguirá elaborar estratégias comunicativas harmoniosas e eficazes. 21 Atividade de Aprendizagem Rebelo e Ruivo (2014, p. 143) afirmam que “Ser gestor de uma instituição educativa com o apoio de seus pares, de seus parceiros, de seus superiores, garantindo uma gestão administrativa, financeira e pedagógica que pretenda efetivamente reforçar a participação das famílias e das comunidades na direção estratégica desta, deve ser o gestor que reconhece e utiliza-se de sua inteligência emocional” (REBELO, S. RUIVO, J. Emotional intelligence in the management of educational institutions. Campo Abierto, v.33, nº1, p. 137-150, 2014). A partir dos conhecimentos adquiridos na aula, discorra sobre a importância da inteligência emocional e a gestão educativa. Aula 2 – Liderança, gestão de conflitos e trabalho em equipe Apresentação daaula 2 Nesta aula será estudado o desenvolvimento dos conhecimentos estruturais da disciplina. Com o aporte das teorias de gestão, será aprendido o que é a liderança, bem como o estudo da gestão de conflitos, abordando questões como planejamento estratégico, motivação e trabalho em equipe. 2.1 Liderança e poder Nas organizações educacionais, a liderança tende a ser distribuída coletivamente e não hierarquicamente a partir de uma relação restrita de poder. Alunos lideram grupos estudantis, educadores e professores lideram as suas turmas, professores lideram grupos de professores, educadores lideram grupos de educadores, que, por sua vez – e ciclicamente – são liderados por equipes de coordenação, supervisão, direção, dentre outros cargos ora interdependentes. Isso quer dizer que todos os que estão inseridos no ambiente escolar possuem lugar no processo de liderança. E isso se dá, 22 principalmente, em razão da escola ter como pilar estrutural o contexto democrático. Diferente do que possa parecer, a liderança não é uma condição inata de um indivíduo. Isto é, ninguém nasce com “espírito de liderança”. Pelo contrário. A liderança é construída, aos poucos, pela inteligência emocional daqueles que buscam constantemente a visão ampla das relações interpessoais, e, que, por acreditarem que as interações humanas são o que transformam a sociedade, sentem-se motivados a conduzir um grupo de pessoas a um objetivo comum. Bryman (1996), cientista da administração de pessoas, define que “a liderança pode ser vista como o processo ou ato de influenciar as atividades de um grupo organizado nos seus esforços para atingir determinados objetivos (BRYMAN, 1996, p. 276). Na amplitude daquilo que entende-se por liderança, torna-se importante fazer distinção entre as tarefas de gerir e liderar. Afinal, existem líderes que não ocupam cargos de gestão e há gestores que, por estarem totalmente absorvidos por suas tarefas operacionais, encontram-se afastados do efetivo exercício da liderança. Assim sendo, Day (2003), teórico da educação, distingue que a liderança é o processo de manutenção das relações interpessoais, missão, cultura e valor da organização, enquanto a gestão relaciona-se a execução do planejamento, metas, cumprimento de leis e uso dos recursos administrativos. Em síntese, pode-se extrair que a gestão lida com o capital financeiro e a liderança com o capital humano. A liderança é o processo de manutenção das relações interpessoais, missão, cultura e valor da organização, enquanto a gestão relaciona-se a execução do planejamento, metas, cumprimento de leis e uso dos recursos administrativos. As organizações de modo geral, principalmente as educacionais, não possuem homogeneidade, tampouco são estáveis em todos os seus aspectos administrativos ou devidamente hierarquizadas e estruturadas, com objetivos de longo e curto prazo bem delineados, dirigidos e controlados. Isso acontece 23 porque os indivíduos nem sempre são coerentes, devido a sociedade estar em constante transformação. Diante dessa realidade transmutatória, o gestor torna-se líder quando enlaça ambas tarefas - a de gerir e a de liderar - de maneira a aperfeiçoar o ambiente organizacional por meio de práticas proativas e criativas para a resolução de problemas, maximizando, sempre, o compromisso das equipes com a visão, missão e valores no alcance das metas organizacionais. Além disso, o gestor líder tem a consciência do quanto é importante moldar-se as mudanças da sociedade e, principalmente, acomodar essas mudanças em suas práticas laborais, sempre com vistas ao compromisso ético e humanizado, assumindo, assim, uma característica poliédrica. Vocabulário Líder poliédrico: profissional de gestão que se comporta como a forma geométrica poliédrica, que, por possuir vários lados, têm facilidade de se encaixar a outros formatos diferentes. Quando ambas tarefas se mesclam, a de gerir e a de liderar, o gestor líder passa a ser visto como um gestor de sentido: [...] que é aquele que define a realidade organizacional através de uma visão que reflete a forma como interpreta a missão e os valores nos quais a ação organizacional deverá se basear. (COSTA & CASTANHEIRA, 2015, p. 32). Como a escola é uma organização complexa, Gonzáles (2003), teórico da educação, explica que: Uma escola é composta por pessoas e suas interações, na qual se leva a cabo uma tarefa plena de valores e ética que não pode ser realizada de modo mecânico (...). Nessa perspectiva, a escola não é apenas uma organização democrática, mas uma organização onde as práticas da democracia são objetivo da sua ação; não é só uma escola justa, uma organização apreendente, mas um contexto em que se pratica a autonomia” (GOLZÁLES, 2003, p. 38). 24 Logo, se o espaço educacional é um local inter-relacional, mas, ao mesmo tempo, autônomo, a liderança deve ser equacionada não apenas como meio para a prática pedagógica, mas como sendo o próprio objeto de ação pedagógica, a partir de uma abordagem estratégica. Importante A liderança estratégica é aquela em que o gestor líder, junto da liderança participativa, propicia no ambiente de trabalho o desenvolvimento de perspectivas de ação pautadas na confiança, liberdade, iniciativa, criatividade, entusiasmo, alegria e flexibilidade. Frente a esses aspectos que diferenciam liderança do poder hierárquico e que, sobretudo, enlaçam a tarefa de gerir com a de liderar, vale ressaltar que a falta desse entrosamento é mais importante do que sua sobra. Ou seja, se existe uma gestão sem liderança, ou a liderança sem o cumprimento da gestão, oportuniza-se o aparecimento de negligências, incoerências, dificuldades e problemas generalizados. Em outras palavras, abre-se espaço para conflitos que, se não forem com destreza resolvidos, tornam-se capazes de colocar o resultado de árduos trabalhos em vão. 2.2 Gestão de conflitos Fonte:https://pixabay.com/pt/pessoal-equipe-m%C3%A3os-tr%C3%AAmulas-2473870/ Em definição, pode-se afirmar que o conflito é o resultado da diferença de opinião ou interesse expressado entre duas ou mais pessoas, afinal, como indivíduos, temos nossos próprios desejos, expectativas, sonhos, hábitos, 25 interesses, valores, cultura, experiências e vivências. Da infância à maturidade, passamos por constantes conflitos intrapessoais, como ir ou não ir fazer, falar ou não falar, comprar ou não comprar, casar ou descasar, etc. E, também, por conflitos interpessoais, como brigar com os irmãos em casa, com os amigos na rua, com os professores na escola. No âmbito escolar, especificamente as sequências de episódios violentos, demandam a necessidade de trazer o assunto à discussão. Apesar da existência de projetos públicos de desenvolvimento, a educação no Brasil vem sofrendo, gradativamente, a falta de medidas de curto e longo prazo que atendam as necessidades educacionais das comunidades, principalmente as mais carentes. Isso acarreta a depreciação dos salários e afastamento dos docentes mais qualificados, o sucateamento das estruturas físicas e a evasão dos alunos das escolas públicas que, por sua vez, não conseguem se colocar no mercado de trabalho por falta de formação e recorrem ao universo da criminalidade. Em pesquisa feita em 2006, pelo SINEPE – Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro, intitulada Juventude, Sociedade e Ética (IBOPE-RJ, 2006) mostra-se que 60% dos jovens entrevistados acreditam que a violência é o mais grave problema do país no que tange o afastamento da escola e da realização de seus próprios sonhos. Desses jovens, 48% acreditam que a escola é a maior entidade responsável pela garantia de seu bom futuro, ficando atrás somente do papel familiar. Além dessas evidênciasmostradas na pesquisa IBOPE do Rio de Janeiro, há outra (FERNANDES, 2006) feita no Distrito Federal (o que indica um problema generalizado no país) que corrobora dados similares. Das centenas de professores e alunos entrevistados, 64% dos professores e 47% dos alunos de escola pública responderam que a violência é o maior problema na escola e, nas instituições de ensino privadas, obteve-se a mesma opinião. A soma de 51,6 % dos alunos e 61,2% dos professores da rede privada de ensino reclamam de brigas físicas de alunos maiores com alunos menores, menos fortes ou de grupos diferentes. O que se percebe nesses resultados também é uma – ainda que pequena – diferença entre os índices das opiniões entre professores e alunos sobre o tema da violência. Isso ocorre porque, obviamente, a violência é 26 apenas um dos mais diversos tipos de conflitos (discussão, ofensa, sabotagem, fofoca, manipulação) e, ainda, deve-se considerar que existem conflitos entre alunos com alunos, alunos com professores, professores com professores e professores e gestores. Sobre o conflito na organização educacional, o teórico da educação Álvaro Chispino (2007), aponta que as divergências mais frequentes entre docentes se dá por falta de comunicação, interesses pessoais, competição por posições de destaque, pontuações, indicações para cargos de ascensão hierárquica e posições político-ideológicas. Entre alunos e docentes, os conflitos acontecem em maioria por indisciplina, falta de interpretação do conteúdo dado pelo professor, indisciplina, notas arbitrárias, critérios de avaliação, discriminação, e por não serem devidamente ouvidos ou por desinteresse pela matéria. Chispino (2007) elenca, ainda, os motivos de conflito entre alunos que, segundo ele, acontecem por mal-entendidos, rivalidade entre grupos, discriminação, bullyng, uso de espaços e bens, assédios sexuais, perda ou dano de bens escolares, competições e intrigas. Sobre os conflitos entre pais, docentes e gestores, a frequência, segundo o autor, ocorre por agressões verbais, divergências nos assuntos da associação de pais e amigos, na perda ou extravio de materiais de trabalho, pela falta dos professores ao dia de trabalho, falta de assistência pedagógica e, dentre outros, pelo não atendimento aos requisitos administrativos da gestão. Note-se que esses são apenas alguns dos possíveis conflitos. Cabe ao gestor líder, e a liderança participativa como um todo, ter a percepção da existência dessas arbitrariedades e a capacidade de agir positivamente a elas, de modo a extrair vantagens. Afinal, assim como descreve Chispino (2007), o conflito ajuda a regular as ações sociais, permite o reconhecimento das diferenças e a visão da perspectiva do outro, e, além disso, ensina que “a controvérsia é uma oportunidade de crescimento e de amadurecimento social (CHRISPINO, 2007, p. 17). 27 O conflito ajuda a regular as ações sociais, permitindo o reconhecimento das diferenças e a visão da perspectiva do outro, e, além disso, ensina que a controvérsia é uma oportunidade de crescimento e de amadurecimento social. De encontro a esse pensamento, Moore (1998), teórico de gestão e liderança, entende que há tipos e causas de conflito. São eles: ➢ Estruturais: padrões destrutivos de comportamento entre as equipes devido ao controle exacerbado por parte da hierarquia, pressões de tempo, distribuição desigual de trabalho e recursos e, principalmente, fatores que impedem a cooperação; ➢ De valores: critérios diferentes para avaliação de comportamentos, ideias, modos de vida, ideologias e religião, isto é, quando a organização não expressa devidamente os valores a serem seguidos e não possui um padrão metodológico para essa finalidade; ➢ De relacionamento: a comunicação ineficiente provoca comportamentos negativos. Com isso, emoções negativas são externadas, causando o mal clima organizacional; ➢ De interesse: gera em torno de competições e disputas, tanto por legitimação, como por ascensão a cargos; ➢ Quanto aos dados: falta de informação ou informações inadequadas, que causam, consequentemente, diferentes interpretações sobre um mesmo assunto. Isso atrapalha, significativamente, o alcance do objetivo comum e da missão da instituição. Diante desse contexto sobre conflitos, seus tipos e causas, Chispino (2007) propõe que o gestor líder trabalhe a partir da criação de um programa de mediação de conflitos na escola. Em síntese, sugere-se que, de tempos em tempos, tenha-se o aporte de um gestor líder imparcial, que não seja do quadro funcional da instituição, para que seja realizada uma análise do 28 ambiente escolar no que tange aos conflitos internos, a fim de, a partir de um novo olhar, compor uma reorientação sobre as divergências da organização. Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2014/12/22/07/21/network-577009_960_720.jpg Tal gestor líder atuaria como um mediador, que trabalharia no fortalecimento das relações sociais e interpessoais, sugerindo outras diferentes formas de renovar os laços de cooperação, confiança, solidariedade, tolerância, responsabilidade e motivação. Novas ideias e a troca de experiências contribuiriam para a renovação da ordem social da escola, por meio da prática da mediação de conflitos, para que esses sejam superados e a escola cumpra com maior qualidade suas reais finalidades. Vocabulário Mediação: é uma conversa de negociação intermediada por alguém imparcial, que favorece e organiza a comunicação entre os envolvidos no conflito. É evidente que, diferente das instituições privadas, as organizações públicas não dispõem de recursos para a contratação de mediadores de conflitos, tampouco outros serviços de assessoria diversos, como palestras de motivação, por exemplo. No entanto, diante da escassez de recursos, pode-se fazer um arranjo criativo! Colegas gestores de outras escolas podem firmar parcerias e fazer um intercâmbio provisório entre suas instituições, um expondo ao outro claramente e honestamente a sua realidade contextual, permitindo-se ouvir e conhecer o seu dia a dia a partir de outra perspectiva. 29 É fato que existem encontros, confraternizações, cursos de extensão para gestores escolares (tanto do funcionalismo público como privado) e que, nessas oportunidades, novas ideias surgem e novas estratégias podem ser aplicadas na gestão. Contudo, vale ressaltar que cada escola possui suas particularidades, necessidades, demandas e modos de operação, além claro, da diferença cultural da comunidade em que está localizada. Logo, partir do princípio de que é fundamental saber que não há uma fórmula pronta para a tarefa de liderar (que ora é, geralmente, proposto em alguns cursos e palestras), torna-se pertinente estabelecer que a presença física de um outro gestor colega por alguns dias possibilitará que a liderança, naquele contexto específico, seja estudada, aprendida, vivida e analisada para então, ser aperfeiçoada. Não há como um líder pertencente àquele mesmo contexto ter e manter uma posição imparcial em dadas situações, a que ele mesmo está direta, ou indiretamente envolvido. Nos Estados Unidos, programas de mediação de conflitos nas organizações escolares apresentam, já há algumas décadas, resultados de alta eficácia. Em pesquisa realizada por Kmitta (1999) mostra-se que em 2.803 mediações realizadas em escolas de 10 diferentes estados, o percentual de êxito atingiu 88,5%. Isso nos mostra, claramente, que a criação de parcerias e o intercâmbio de gestores escolares entre suas organizações pode ser uma excelente (e viável) solução para a melhora da qualidade de ensino e do ambiente de trabalho, de modo geral. São dados que permitem constatar a importância da união e estreitamento das relações interpessoais comoutros profissionais da área da liderança. 2.3 Motivação e trabalho em equipe Fonte:https://pixabay.com/pt/quebra-cabe%C3%A7a-coopera%C3%A7%C3%A3o- parceria-1019751/ 30 O trabalho é a atividade humana voltada à transformação do meio em que vive, com o intuito de satisfazer necessidades. Trabalhar em equipe é o meio que os gestores líderes encontram para alcançar resultados com maior eficácia. No entanto, essa eficácia torna-se possível somente se os integrantes se sentirem parte do grupo, podendo cooperar. Conforme esclarece Albuquerque (2012, p. 84) “(...) a cooperação vai além do favor, que é uma gentileza espontânea, além da obrigação e do poder de mando”. Nesse sentido, influenciar pessoas é conseguir que elas cooperem e colaborem mutuamente. Carvalho (2009) define que Uma equipe é considerada um conjunto ou grupo de pessoas com habilidades complementares, comprometidas umas com as outras pela missão comum, objetivos comuns, obtidos pela negociação entre os membros envolvidos em um plano de trabalho bem difundido (CARVALHO, 2012, p. 99). Dessa maneira, assim como argumentamos no tópico sobre missão e valores da escola, é necessário que exista sintonia entre a liderança participativa e, principalmente, um processo comunicativo transparente e contínuo na construção e manutenção do ambiente de trabalho. Isso resultará em uma convivência saudável, integrada no respeito às diversidades e experiências, com vistas a eliminar o trabalho isolado que, em longo prazo, torna-se repetitivo, enfadonho e estressante, de qualidade estagnada. Nas instituições educacionais atuais e inovadoras, ora conhecedoras dos novos conceitos de gestão, considera-se que o corpo funcional como o capital humano. Isto é, as capacidades e aptidões do ser humano são o grande valor da organização, afinal é o que mais contribui para o seu progresso. Contudo, isso ocorre apenas se estiverem garantidos à equipe dois fatores fundamentais: o preparo técnico para exercer as atividades e o constante incentivo a criação de boas ideias. Como indivíduos, sabemos que quando se tem vontade de realizar um trabalho, esse torna-se mais produtivo e proveitoso, e, certamente, esse sentimento de capacidade e harmonia colabora, inclusive, com o bom clima organizacional. A psicóloga Maria Carvalho, especialista em relacionamentos interpessoais nas organizações, ressalta que “a motivação é o combustível, a base enérgica para superar obstáculos [grifo nosso] (CARVALHO, 2009, p. 31 99,). Quando um indivíduo possui uma meta para atingir e é devidamente orientado para a obtenção de resultados por meio de ações que o estimule, há a percepção desses estímulos, que são respondidos a partir de suas próprias necessidades. Assim, o gestor líder que é perspicaz na observação e promoção desses estímulos, terá condições de criar estratégias comunicativas que entusiasme a equipe para que os integrantes se sintam importantes quando dão o melhor de si. Para manter o equilíbrio da inteligência emocional no ambiente de trabalho, Carvalho (2009) corrobora o conteúdo estudado na primeira aula, mencionando que as pessoas devem aperfeiçoar permanentemente as suas qualidades de empatia, feedback e flexibilidade. Como já se viu com detalhes os conceitos de empatia e feedback, credita-se, nesse momento, maior atenção a flexibilidade. A ação de ser um flexível torna-se a chave para a resolução de conflitos, pois civiliza os indivíduos. Uma equipe que é treinada com vistas a empregar flexibilidade em suas tomadas de decisão, tende a interagir e comunicar-se mutuamente com mais frequência, assim gerando e disseminando agradabilidade no ambiente corporativo. Um estudo de campo feito por Fonseca et al (2016), sobre o impacto do trabalho em equipe demonstrou, que: Gráfico – O impacto do trabalho em equipe: Fonte: Fonseca et al (2016, p. 15) e adaptado pelo DI (2018). 32 Dentre cinco fatores fundamentais responsáveis sobre a causa do impacto do trabalho em equipe, sendo elas (1) atingir metas; (2) aumentar a produtividade; (3) manter um bom relacionamento entre os indivíduos; (4) trabalhar em harmonia criando um ambiente favorável para todos; e, (5) comprometimento com a equipe e a organização; os entrevistados escolheram, no montante de 45%, que trabalhar em harmonia criando um ambiente favorável para todos é, definitivamente, o aspecto que mais influencia o trabalho em equipe e impacta no ambiente organizacional. Esse resultado comprova que se o gestor, a partir de uma liderança participativa e democrática, buscar valorizar o seu corpo funcional e motivá-lo ao desempenho de suas tarefas com excelência, conseguirá demonstrar com sucesso a importância da sua equipe para a organização. Afinal, constata-se pelo gráfico que as pessoas se preocupam, primeiramente, com seus relacionamentos no ambiente organizacional, uma vez que as atitudes de cada um afetam às atividades do trabalho em conjunto. Conforme pontua Fonseca et al (2016), em um ambiente de trabalho as pessoas externam diferentes comportamentos a partir da realização de suas tarefas, nas quais despertam-se emoções e sentimentos como cooperação, empatia e vínculos de amizade que, direta ou indiretamente, refletem na interação entre aqueles que passam a maior parte do dia juntos. Isso gera laços que motivam os indivíduos a agirem de forma eficaz, produtiva e positiva, ou, em contrapartida, quando as emoções e sentimentos despertados são negativos, instaura-se o conflito que, consequentemente, desfavorece o clima organizacional. Conflitos comprometem a equipe. Nesse sentido é que o gestor líder deve atuar como mediador de controvérsias, ouvindo os diferentes pontos de vista, analisando e sopesando, de maneira justa e negociável, a fim de que as partes acreditem no benefício de tal atitude para a organização, como um todo. No entanto, o gestor líder não é imune a conflitos e a disseminação de seus atos falhos podem gerar grandes repercussões na escola. Diante disso, sugere-se como antídoto a troca de ideias e experiências com outros gestores que podem, na falta de recursos para a contratação de mediadores especializados, ser colegas parceiros de outras instituições, lembrando sempre 33 que cada indivíduo pode oferecer diferentes arranjos criativos para um mesmo problema. Para Refletir Por que é tão importante, na liderança democrática e participativa, pensar na coletividade, ter cuidado no falar e ouvir o outro, em uma forma de comunicação em que os problemas possam ser esclarecidos? Todos nós temos certeza de que a vida é uma escola na qual aprendemos diariamente com os tropeços, desencontros, acertos, erros, fraquezas e vitórias. Assim, não basta ter conhecimento daquilo que deve-se ser, temos que, de fato, ser. Ser mais humilde, mais tolerante, mais digno, mais honesto, mais alegre, mais verdadeiro, mais amigo, mais companheiro, mais leal, mais carinhoso e solidário, pois não sabemos quanto tempo irá durar tudo o que sonhamos e construímos ao longo do tempo. (FONSECA, L. et al, 2016, p. 21) Resumo da aula 2 Viu-se nesta segunda aula que tendo como força motriz a liderança estratégica, o gestor líder ao focar os valores, se relacionará estreitamente à grande missão de uma instituição de ensino que é a de educar para a formação da cidadania com valores, reconhecimento e respeito pela dignidade, solidariedade e justiça, de modo a desenvolver as estruturas de responsabilidade do indivíduo consigo mesmo e com a sociedade. Atividade de Aprendizagem “Quando realizamos tarefas planejadas por nós mesmos para que nosso grupo obtenha resultado, estamos unindo, na prática, nossos motivos e ações. Como cada um de nós possui características diferentes e percebe as tarefase desafios de maneiras diferenciadas, podemos ampliar nossos resultados se utilizarmos diversidade como apoio para aumentar a criatividade” (CASTRO, 2015, p. 27). A partir dos conhecimentos adquiridos na aula de hoje, discorra sobre a importância da motivação no ambiente de trabalho. 34 Aula 3 – Ética profissional nas organizações educacionais Apresentação da aula 1 Na aula de hoje serão aprofundados os conhecimentos sobre ética profissional. Com o aporte de análises teóricas sobre moral e ética no ambiente escolar, será estudado sobre a importância que as atitudes éticas têm ao serem tomadas pelo gestor líder. Em seguida, partiremos para o estudo da ética na Lei das Diretrizes e Bases e, também, sobre ética e pluralidade cultural nos Padrões de Currículos Nacionais. 3.1 Ética nas organizações educacionais O gestor líder é fundamentalmente importante na aplicação da ética e da disseminação moral no ambiente escolar, uma vez que é o responsável pelo planejamento e execução dos recursos humanos e materiais. Esse leque das diferentes atribuições do cargo, que vai desde a manutenção do prédio, acompanhamento da cantina ou merenda, fiscalização da frequência do corpo funcional, resoluções de questões pedagógicas, observação das relações diversas interpessoais, administração e motivação das equipes e todas as outras tarefas relativas ao cargo, ainda há a missão de instaurar, na escola, os direitos de cada cidadão. Nesse aspecto torna-se essencial, tanto ao profissional gestor como ao seu corpo funcional e alunos, que as bases morais estejam bem definidas e claras entre todos, a fim de que a convicção acerca dos direitos e deveres de cada um sejam bem consolidadas. É na escola que se institui a cidadania, tendo-se em vista que é o momento em que as crianças saem do seio familiar para integrarem-se em uma comunidade ampliada, sob o convívio com diferentes indivíduos, em um mesmo sistema de regras e convenções. Como afirmam as psicólogas e educadoras Patrícia Regel e Carolina Guazelli (2015), a educação escolar é o espaço potente que oportuniza a formação e construção de uma sociedade crítica, na qual os alunos não aprendam apenas os conteúdos formais, mas adquiram conhecimentos capazes de moldar a sua cidadania, possibilitando colocar em prática suas 35 opiniões e valores contributivos a uma sociedade mais justa, digna e ética (REGEL & GUAZELLI, 2015, p. 07). No cotidiano, a ética torna-se um desafio. Na medida em que se ouve pessoas se referirem ao termo com frequência, nota-se, de modo geral, certa descrença e cuidado acerca da importância da ética. Isso ocorre porque é transmitida pelo exemplo, primeiramente absorvido no ambiente familiar e, depois, disseminada pelo corpo funcional da organização educacional. Por essa razão, a educação escolar deve ter em sua missão, contribuir para que os indivíduos reconheçam um ao outro, de forma a respeitar diferenças, compreender o meio coletivo em que vive, aceitando os limites e regras sociais. Pontuam, ainda, Hegel & Guazelli (2015) que: (...) é fundamental que todos os educadores questionem o sentido de suas ações em sua prática pedagógica, afinal a ética não se ensina de forma isolada como uma disciplina qualquer. Muito pelo contrário, ela avança em todos os componentes curriculares, mostrando-se nas atitudes de todos os indivíduos que a vivenciam. (HEGEL & GUAZELLI, 2015, p. 07) Em um ambiente competitivo a ética em vendas pode ser entendida como os padrões utilizados para avaliar se o comportamento do profissional de vendas é certo ou errado, bom ou mau, justo ou injusto e neste contexto faz-se importante a compreensão de que alguns atos ilícitos poderão depor de forma negativa com o seu caráter, sendo eles: ➢ Indução ao erro (quando o profissional que oferece ao seu cliente o que lhe convém vender, mesmo que não atenda as expectativas e necessidades do cliente); ➢ Espionagem (quando o profissional busca informações estratégicas da empresa onde trabalha para utilizar como moeda de troca em sua benéfice com a outras pessoas (ou até com empresas concorrentes); ➢ Propina (quando algo é ofertado na intencionalidade da troca de alguma vantagem); ➢ Conluio (quando ocorre um acordo ou “combinação” que tenham o intuito de prejudicar outrem). 36 Na vida profissional ética e moral são responsáveis por construir as bases de conduta de qualquer profissional e no nosso caso, em especial. Ética e Moral determinam caráter e virtudes bem como nos posicionam na melhor forma de agir e do comportamento frente ao cliente e colegas de trabalho. Para Refletir É correto que alguém receba os méritos e créditos por algo que por direito seriam de criação de outrem? É correto alguém receber sem trabalhar? É correto burlar um sistema somente para recebimento ilícito que vise vantagens próprias? É correto e ético você receber a uma comissão por uma venda efetuada de forma automática (de algum sistema operacional), ou por outra pessoa ou circunstância que não tenha se originado de você? Partindo da reflexão dos questionamentos acima é evidente que não seria correto nenhum dos apontamentos, pois um profissional integro e ético visa o bem-estar coletivo e preza pelos valores morais e éticos. Valendo reforçar que é totalmente errado visar tirar a vantagem de uma situação ilícita. Segundo o manual curricular de Ética do MEC (1997, p. 07), em definição, entende-se por ética “o conjunto de princípios e normas que um grupo estabelece para seu exercício profissional”, como os códigos estabelecidos entre os médicos, psicólogos, advogados e, geralmente em esferas municipais e privadas, a de educadores, dentre outras profissões. Mas, em sentido mais amplo, consta que ética pode referir-se a princípios humanos que, intuitivos, dão rumo a maneiras de pensar, refletir e agir, independente da prescrição de fórmulas prontas de conduta e/ou de regras precisas nas organizações e na própria vida individual em si. A ética é um pilar fundamental na gestão da educação. Quando o gestor líder institui em sua organização um padrão ético capaz de determinar uma conduta digna e honrada, inspirará a confiança dos cidadãos da organização escolar a seguir moldes idôneos, responsáveis, competentes e que se orientem mutuamente a fazer as coisas certas. 37 Por isso é indispensável e, até, inaceitável que o gestor seja antiético para conseguir alcançar com mais facilidade os objetivos da instituição. O que se espera de todos os profissionais do âmbito da educação e, especialmente do líder, é que as exigências legais sejam obedecidas, que toda a equipe seja tratada sem que se faça distinção, que privilégios não sejam oferecidos aos colaboradores, que os direitos alheios sejam defendidos, de modo a agregar valores no exercício da profissão (SOUZA et al, 2016, p. 10). É previsto no Brasil, do ponto de vista legal, que a formação para a cidadania seja princípio e fim das organizações educacionais nacionais, conforme Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional: LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Da Educação Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. TÍTULO II Dos Princípios e Finsda Educação Nacional Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Fonte: http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9394.htm Mesmo que a ética seja condição primária de qualquer profissional da educação é difícil agir com ética em sistemas culturalmente marcados por 38 desrespeitos aos interesses coletivos, como por exemplo, os cenários nacionais contínuos de corrupção política e institucional, desigualdades sociais e, principalmente, frente à admiração do senso comum pelo aclamado “jeitinho” de obter mais por meios questionavelmente mais fáceis. Obviamente, esse tipo conduta não cabe ao profissional da educação, e é determinada “muito mais por uma questão de consciência, educação e valores morais, do que pelo simples dever de dar cumprimento às regras” (SOUZA et al, 2016, p. 6). Estabelecer uma gestão ética no ambiente geral da organização educacional significa promover funções de natureza educativa, conciliadora, investigadora e, se necessário for, punitiva. No entanto, o objetivo da ética no contexto educativo não é punir. Pelo contrário, é o de instruir, ensinar, educar e prevenir. O líder precisa estar ancorado em um planejamento de valores e padrões de desempenho capazes de serem refletidos e sustentados coletivamente na organização. Isso é fundamental pois os próprios rankings escolares, a título de exemplo, tornam-se impasse para o gestor líder educacional, que precisa decidir se promovem as mesmas condições a todos os alunos, se dão prioridade de recursos a aqueles que possuem maiores possibilidades de sucesso nos exames, ou, ainda, se dirigem suas atenções aos que têm mais dificuldades de aprendizagem. Tendo natureza essencialmente ética, essas tomadas de decisão proporcionam dificuldades e conflitos, frente a realidade competitiva educacional pública e privada. Por essas e outras inúmeras razões que demandam o prevalecimento ético, faz-se distinção entre os conceitos de moral e ética. Segundo o filósofo Paul Ricoeur (1990) a moral é a articulação da ética com as normas sociais. A moral é, portanto, um conjunto de comportamentos aceitos em sociedade, em uma determinada época. Além disso, equivale a normas que restringem a liberdade do indivíduo, em um campo comum em que são distinguidos o bem e o mal e suas consequências à coletividade. Assim, o ambiente escolar é um espaço promissor para a formação ética dos cidadãos. A filósofa e educadora brasileira Terezinha Rios (2002) argumenta que: Mesmo com limitações, a escola participa da formação moral de seus alunos. Valores e regras são transmitidos pelos professores, pelos livros didáticos, pela organização institucional, pelas formas de 39 avaliação, pelo comportamento dos próprios alunos, e assim por diante (...) isso significa que essas questões devem ser objeto de reflexão da escola como um todo, ao invés de cada professor tomar isoladamente as suas decisões (RIOS, 2002, p. 70). Nessa perspectiva, a ética no contexto escolar é imprescindível ao gestor líder que deve criar condições para que ele mesmo, o corpo funcional e os educandos, aperfeiçoem sua cidadania crítica, autonomia e capacidade de dialogar com as diferenças do meio em que vive. Na prática, há vários caminhos e normas para ensinar valores e possibilitar uma convivência justa. A educadora brasileira Catarina Lavelberg (2010), sugere algumas atividades pedagógicas produtivas ao enriquecimento moral e ético como: ➢ Nas aulas de literatura promover a leitura e debate de textos que contenham temas transversais como trabalho, consumo, orientação sexual, meio ambiente, relações raciais e etc., de modo que os alunos se engajem com os personagens a fim de ampliar suas capacidades de reflexão. ➢ Apresentar e trazer para sala de aula a discussão de dilemas morais (“É certo mudar a posição da linha do trem para salvar cinco pessoas ao custo de uma?”, “Um amigo conta que feriu, por engano, gravemente uma pessoa e você jurou segredo. Se a polícia lhe procurasse, você o entregaria?”), isso promoveria reflexão sobre as relações humanas e a criação de estratégias éticas de ação. ➢ Inserir alunos na gestão da escola, de maneira que sejam ouvidos nos conselhos de classe, assembleias, grêmios e outros âmbitos coletivos. ➢ Promover projetos, simpósios ou seminários que tratem de direitos fundamentais como a Declaração dos Direitos Humanos e/ou sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, de forma a instruir sobre métodos de denúncia de situações, para exigir modificações na sociedade. 40 ➢ Integrar o corpo funcional e os alunos em projetos socioambientais e culturais, que inspire o desenvolvimento da cooperação e entendimento de mundo com base em outras diferentes realidades. Em pesquisa feita sobre ética por Souza et al (2016), em escolas brasileiras, mostra-se que 18% do corpo funcional entrevistado tem como fator primordial o exemplo ético dado pelo gestor escolar. Esse é um resultado que chama a atenção pois está entre os quatro primeiros mais respondidos. Portanto, é importante saber que o comportamento ético dos administradores tem influência decisiva nos demais integrantes da organização. Importante A ética no contexto escolar é imprescindível ao gestor líder que deve criar condições para que ele mesmo, o corpo funcional e os educandos aperfeiçoem sua cidadania crítica, autonomia e capacidade de dialogar com as diferenças do meio em que vive. 3.2 A Ética pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) do Ministério da Educação Fonte:https://pesquisaescolar.site/wp- content/uploads/2017/07/img_596372d7b999a.png Na apresentação da LDB, no artigo I, explana-se que a educação abrange os processos de formação desenvolvidos no convívio familiar, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nas demais organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Assim, a educação escolar tem 41 por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Sobre elementos que compõem a ética o artigo nº 206 discorre sobre o ensino e seus princípios: LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Da Educação Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V – valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade. Fonte: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70320/65.pdf De maneira mais aprofundada, ampla e instrucional, anteriormente os PCNs reservaram dois volumes de livro com argumentos em defesa da importância da organização escolar para a formação ética de novas gerações, a partir da transversalidade, no contexto curricular mediante as influências sociais no desenvolvimento cognitivo-educativo das crianças. Em definição, nos PCNsa ética é entendida como um eterno pensar, refletir e construir. E a escola deve educar seus alunos para que possam tomar parte nessa construção, serem livres e autônomos para pensarem e julgarem. 42 A partir dessa concepção de ética, desenvolve-se nos PCNs três pilares que sustentam os valores e as regras morais: a afetividade, a racionalidade, desenvolvimento e socialização valores estes que são reforçados atualmente na BNCC. Sobre a afetividade, argumenta-se sobre a condição individual do aluno, cuja legitimação, absorção e resguardo dos valores e regras morais se dá na realização de seus projetos de vida, de modo a respeitar a si próprio. Esse autorrespeito é o que projeta, conscientemente, o respeito coletivo. Na prática, isso se traduz na qualidade do ensino como condição necessária para que os alunos consigam cumprir seus sonhos, seus projetos de vida profissional. Do contrário, terão seus projetos frustrados. Na prática da gestão escolar, prezar pelo ensino de qualidade, em um ambiente no qual se apregoa a justiça, o respeito e a solidariedade, a possibilidade de contribuição para o alcance de projetos de vida de sucesso aumentará significativamente. Tal condição da afetividade recai na racionalidade. Se as regras morais requerem investimento afetivo, pode-se intuir que não há legitimação dessas regras sem a racionalidade, que é, justamente, a reflexão e o julgamento que se faz das coisas do mundo segundo nossas crenças pessoais e coletivas. Novas regras existem diante da legitimação e transformação de outras anteriores, assim, o pensamento ponderado dos cidadãos é o que constrói novas perspectivas sociais. Viver em democracia é isso: explicitar pensamentos e resolver conflitos por meio da comunicação. Diálogos profícuos geram resultados e a racionalidade é necessária às práticas do diálogo afetivo. Por isso, se faz tão importante que a escola seja um lugar em que se desenvolvam as capacidades comunicativas dos alunos, e que os valores morais possam ser analisados por todos e não impostos ou apenas meros frutos do hábito. 43 Fonte: http://concepto.de/wp-content/uploads/2015/05/moral-min-e1506348455685.jpg Em tempos passados a educação moral era imposta nos ambientes escolares por meio de discursos normatizadores, repressão e castigo. Atualmente entende-se o desenvolvimento e a socialização como a base do conhecimento construído pelas experiências, nas quais edificam apenas aquilo que favorece e estimule positivamente a vida do indivíduo. Se uma criança é tolhida, isso é, não é dada a ela possibilidade de refletir sobre suas ações e condutas, sua afetividade é reduzida e sua racionalidade embotada. Crianças e adolescentes precisam pensar por si mesmos para atingir êxito em seus planos de vida e prosperarem. Portanto, o desenvolvimento moral depende da afetividade, respeito próprio e da racionalidade vivida em suas relações sociais, dentro do cotidiano escolar. 3.3 Ética, respeito, diálogo e solidariedade O respeito pode ser remetido à várias relações pessoais. Pode ser atrelado ao medo e a submissão por alguém que detém algum poder, ou pode originar-se pela admiração, consideração ou importância de uma pessoa especial. No entanto, o respeito deve se manifestar sob o princípio da reciprocidade: se devemos respeitar alguém, também devemos ser respeitados. Nesse sentido é que a mutualidade positiva oportuniza a dignidade humana, pois a dignidade do ser humano quanto o ideal democrático de convívio social pressupõe o respeito mútuo, e não o respeito unilateral (BRASIL, 1997). Uma maneira de o gestor líder trabalhar o respeito, pelas mesmas vias de se trabalhar a ética no contexto escolar, ora já mencionadas, é abordar temas como as diferenças de gênero, a cultura, a etnia, os valores, as religiões, a privacidade, a dignidade, repúdio a humilhações, violências físicas e psicológicas, instruindo sobre as formas legais de se lutar contra o preconceito, de modo que seja compreendido por todos (funcionários e alunos) que no ambiente escolar deve-se zelar pelos direitos e deveres no convívio em sociedade. O conflito entre pessoas é dimensão constitutiva da democracia. O diálogo é um dos principais instrumentos desse sistema, por isso é tão 44 complexo. Dialogar demanda a capacidade de ouvir o outro e de se fazer entender, respeitando as diferenças. Sendo a democracia composta de cidadãos, cada um deles deve valorizar o diálogo como a maneira de resolver conflitos. Assim, a escola torna-se um lugar privilegiado onde se pode ensinar o valor da comunicação e aprender a traduzi-lo em ações e atitudes. Nesse momento insere-se o papel do gestor líder, que é o de transmitir, também aos alunos, a importância do trabalho em equipe, da troca de ideias, de debates e da mediação de divergências de opinião. No âmbito dessas conciliações, no tema transversal ética dos PCNs (atualmente contemplada na BNCC) também se aborda a solidariedade, que é exposta como ideia próxima ao significado de generosidade. Tal solidariedade não se refere a atos como ajuda às pessoas em situações de rua ou participação em campanhas de apoio a desastres naturais, mas aquela solidariedade na qual se ampara indivíduos com dificuldades, atuando contra injustiças, na busca de uma sociedade mais humanizada. Na escola, cabe as práticas docentes ensinarem sobre formas de ação solidária, desde as cotidianas (em casa, na comunidade, na escola), até aquelas em que se precisa recorrer aos serviços públicos, como postos de saúde, polícia e corpo de bombeiros. Instruir os alunos e o corpo funcional da escola sobre quem chamar, para onde ligar e o que fazer em situações delicadas é fundamental para a construção da cidadania. Fonte:https://image.freepik.com/vetores-gratis/maos-que-conectam_23- 2147506270.jpg 45 Tal solidariedade não se refere a atos de ajuda as pessoas em situação de rua ou participação em campanhas de apoio a desastres naturais, mas aquela na qual se ampara indivíduos com dificuldades, atuando contra injustiças na busca de uma sociedade mais humanizada. Para Refletir Por que é tão importante dar, no ambiente escolar, destaque ao trabalho de conscientização frente às divergências éticas entre docentes e discentes? Gestores e professores não devem admitir atitudes desrespeitosas entre si e entre os alunos. Não se trata de punir; trata-se de explicar-lhes com clareza o que significa dignidade do ser humano e demonstrar a total impossibilidade de se deduzir que alguma raça é melhor que outra, que um sexo é superior ao outro, que determinada cultura é a única válida, que atributos físicos determinam personalidades, e assim por diante. Trata-se de possibilitar que a comunidade escolar pense e reflita a respeito de suas atitudes. Daí a necessidade de firmeza na intervenção pelo gestor ou professor. Tal firmeza é importante para que os alunos percebam que a dignidade do ser humano não é mera opinião, mas princípio fundamental da ética e do convívio democrático. No entanto, é importante considerar que a firmeza se transmite também e sobretudo pela coerência entre o discurso do gestor e professor, em suas atitudes no convívio escolar. Isto é instruir pelo exemplo. Atualmente a BNCC define a competência “responsabilidade e cidadania” como “Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.” “A educação não deve servir apenas como trampolim para uma pessoa escapar da sua região: deve dar-lhe os conhecimentos necessários para ajudar a transformá-la.” (Ladislaw Dowbor) Resumo da aula 3 Nesta aula estudou-se que a ética é um pilar fundamental para a gestão da educação.
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