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Fundamentos de Economia para Ciências Sociais

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Prévia do material em texto

Autores: Prof. Maurício Felippe Manzalli
 Profa. Ivy Judensnaider
 Profa. Ana Maria Belavenuto
Colaboradores: Profa. Maria José da Silva Dias
 Prof. André Galhardo Fernandes
Fundamentos de Economia 
para as Ciências Sociais 
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Professores conteudistas: Maurício Felippe Manzalli / Ivy Judensnaider / 
Ana Maria Belavenuto
Maurício Felippe Manzalli 
Economista pela Universidade Paulista – UNIP e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica 
de São Paulo. Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração e também é 
coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma universidade.
Ivy Judensnaider
Economista pela Fundação Armando Álvares Penteado e mestre pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
no Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência. Atualmente é professora da Universidade Paulista 
– UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração, no qual coordena o curso de Ciências Econômicas no 
campus Marquês (SP). Também atua no setor de publicações, dirigindo a editora eletrônica arScientia, e é autora de 
inúmeros textos de divulgação científica publicados na web.
Ana Maria Belavenuto
Mestre pelo Programa em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (2003). Atualmente é técnica 
IIII do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos e professora da Faculdade Oswaldo Cruz, 
além de professora-adjunta da Universidade Paulista – UNIP.
 Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia do Bem-estar Social, contribuindo principalmente 
com os seguintes temas: Flexibilização e Negociação Coletiva.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M296f Manzalli, Maurício Felippe
Fundamentos de Economia para as Ciências Sociais. / Maurício 
Felippe Manzall, Ivy Judensnaider, Ana Maria Belavenuto. – São Paulo: 
Editora Sol, 2019. 
176 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-184/19, ISSN 1517-9230
1. Fundamentações teóricas da economia. 2. Principais conceitos 
econômicos. 3. Processo de globalização. I. Título.
CDU 33
U502.02 – 19
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Cristina Alves
 Virgínia Billato
 Juliana Mendes
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Sumário
Fundamentos de Economia para as Ciências Sociais
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 ABORDAGENS INICIAIS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS DA ECONOMIA ....................................9
1.1 Antiguidade e Idade Média .............................................................................................................. 12
2 MERCANTILISMO E FISIOCRACIA .............................................................................................................. 17
3 DA ESCOLA CLÁSSICA AO MARXISMO ................................................................................................... 18
4 A SÍNTESE NEOCLÁSSICA, A REVOLUÇÃO KEYNESIANA E O PENSAMENTO 
ECONÔMICO CONTEMPORÂNEO .................................................................................................................. 33
Unidade II
5 PRINCIPAIS CONCEITOS ECONÔMICOS .................................................................................................. 59
5.1 Conceitos gerais .................................................................................................................................... 59
5.1.1 Problema econômico fundamental ................................................................................................. 61
5.1.2 O fluxo circular da renda e do produto ......................................................................................... 63
5.2 Sistemas econômicos ...........................................................................................................................71
6 POLÍTICA ECONÔMICA E O PAPEL DO ESTADO .................................................................................... 74
6.1 Política econômica ............................................................................................................................... 74
6.1.1 Política monetária .................................................................................................................................. 75
6.2 O papel do Estado ................................................................................................................................ 87
6.2.1 O desemprego e suas causas .............................................................................................................. 91
6.2.2 Economia brasileira: da estabilização da inflação aos dias atuais...................................... 93
6.2.3 Desenvolvimento econômico ...........................................................................................................106
Unidade III
7 O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ............................................................................................................ 115
7.1 A dimensão econômica da globalização ................................................................................... 116
7.2 A economia brasileira e a globalização .....................................................................................123
8 A QUESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO ...............................................................137
8.1 Objetivos do desenvolvimento do milênio (ODM) ................................................................149
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APRESENTAÇÃO
Prezado aluno,
O livro-texto que aqui apresentamos servirá de apoio ao estudo da disciplina Princípios Gerais de 
Economia. Note que ele está dividido em três unidades.
Na Unidade I, você entrará em contato com os primórdios do pensamento econômico. A partir 
desses conceitos, o aluno será convidado a refletir sobre a importância do conhecimento econômico 
e sobre a construção histórica do mundo em que vivemos. O conteúdo dessa unidadeinclui os 
conceitos relacionados às ciências econômicas e à economia de mercado, a transição do feudalismo 
para a economia de mercado, o mercantilismo e a fisiocracia, a revolução industrial e os pensadores 
clássicos (Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus, J. S. Mill e Marx), o pensamento neoclássico e a 
revolução keynesiana e, finalmente, o pensamento econômico atual e os desafios a serem enfrentados.
A Unidade II tratará da economia e do mundo real, pela abordagem de temas como os 
referentes ao problema econômico fundamental, aos sistemas econômicos, à política econômica 
e ao papel do Estado na economia. Ainda nessa unidade, serão discutidas questões relacionadas 
ao desemprego e suas causas e a estabilização monetário-financeira da economia brasileira no 
período recente.
A Unidade III analisa a inserção do Brasil no comércio internacional, no contexto da 
globalização, e os avanços sociais obtidos dessa experiência, uma vez que as promessas de 
transformação vieram atreladas às ideias de modernidade, transferência tecnológica e progresso 
econômico.
Por fim, um esclarecimento se faz importante: nossa proposta não é a de tão somente transferirmos 
um conjunto predeterminado de saberes. As escolhas metodológicas e didáticas a partir das quais o 
livro-texto foi confeccionado incluem o aperfeiçoamento do espírito crítico e o desenvolvimento das 
capacidades e habilidades de produção e geração de conhecimento. Dessa forma, o aluno poderá notar 
que os conteúdos estão sempre entrelaçados aos contextos sócio-históricos que os geraram, bem como 
aos problemas do cotidiano e do ambiente do Serviço Social.
Esperamos que aprecie o texto.
Bom trabalho!
INTRODUÇÃO
As necessidades da vida cotidiana tornam obrigatório o conhecimento sobre economia, 
independentemente da área profissional ou da formação acadêmica. Assim, qualquer indivíduo 
tem noções de microeconomia e de macroeconomia, mesmo que não saiba exatamente do que 
tratam esses saberes. Em outras palavras, todos nós nos deparamos com aspectos relacionados 
à formação de preços, às estruturas de mercado, às questões de escassez de bens e serviços, à 
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inflação, ao desempenho de determinados setores da economia e aos níveis de desenvolvimento 
e crescimento das nações.
No caso particular dos assistentes sociais, a necessidade de operarem a partir de conceitos econômicos 
é mais premente. Afinal, são esses os profissionais que devem compreender, como ação preventiva:
a situação criada pela proposição do empreendimento que gerará 
novas condições de vida para a população, [...] os expropriados, os 
espoliados e os explorados. Entendendo-se como expropriados urbanos 
e rurais os diretamente atingidos (lavradores e índios) que são removidos 
compulsoriamente de suas terras ou moradias, para dar lugar a construção; 
os espoliados urbanos – aqueles indiretamente atingidos tanto na zona 
rural como na urbana e que sofrerão não só os efeitos ambientais como 
também esses efeitos sobre o seu sistema de produção; e na zona urbana 
cujos efeitos serão sentidos na infraestrutura de serviços existentes no local 
de moradia; e por fim os explorados – representados pelos trabalhadores 
não qualificados que são recrutados para o trabalho nos canteiros de 
obras e que, terminada a construção, se veem desempregados (COLITO; 
PAGANI, 1999).
Assim, é claro que, para efeito desta disciplina, nossa expectativa vai além do conhecimento genérico 
que a população tem sobre o tema econômico. Por isso, vamos às transformações da sociedade que 
criaram o ambiente econômico tal como o conhecemos, título dado ao capítulo inicial deste livro-texto.
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FUNDAMENTOS DE ECONOMIA PARA AS CIÊNCIAS SOCIAIS
1 ABORDAGENS INICIAIS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS DA ECONOMIA
Em outubro de 2008, todos se chocaram com as notícias que anunciavam uma crise econômica de 
proporções tão imensas quanto a da quebra da Bolsa americana em 1929. Segundo Judensnaider (2009), 
Delfin Netto, economista que em vários momentos da história econômica brasileira desempenhou papel 
de fundamental importância na formulação e na coordenação de políticas econômicas, em palestra 
proferida na Universidade Paulista, “opinou que estaríamos vivendo mais uma das tantas crises da 
história do capitalismo. ‘O mundo não vai acabar’, nas suas palavras”. Do ponto de vista da economia de 
mercado, [...] [isto é] absolutamente correto.
Analisemos a história econômica mundial: desde o século XVIII, o mundo 
vem caminhando lentamente no sentido de se organizar sob estruturas 
básicas que são conhecidas como sendo de economias de mercado. 
De forma simplificada, e considerando o período dos Setecentos 
até o século XXI, poderíamos identificar três grandes momentos de 
inflexão do Capital, a saber, a primeira Grande Depressão do final do 
século XIX, a Grande Depressão dos anos [19]30 e as crises do final 
da década de [19]70. Em cada uma delas, o sistema de mercado deu 
um jeito de resolver a situação: inicialmente, “avançou” em direção a 
novos mercados por meio de estratégias imperialistas, e que isso tenha 
acabado em guerra é assunto com o qual economistas do mainstream 
não costumam se preocupar. Na de [19]30, entre as duas Grandes 
Guerras Mundiais, o capital, reconhecendo a inabilidade das suas mãos 
invisíveis, atribuiu ao Estado o papel de tirar a economia de mercado do 
imenso buraco em que havia se metido. Depois, cansado da imobilidade 
à qual estava sujeito por força da mão visível do Estado, arquitetou o 
grande discurso da globalização, sedimentando, ao longo do caminho, 
os caminhos para a liberdade do capital através de incursões militares 
em países estrangeiros e a institucionalização de organismos financeiros 
internacionais (JUDENSNAIDER, 2009).
A constatação de que o mundo econômico opera por meio de falhas e de forma cíclica nos leva a 
indagar: afinal, que mundo é esse? Que instrumental teórico temos à nossa disposição que nos permitirá 
conhecê-lo e nele operar?
Vejamos, inicialmente, do que trata a Economia. Os economistas, em geral, admitem que a discussão 
sobre economia surge no mesmo período em que ocorre a revolução industrial e com o desenvolvimento 
dos mecanismos de mercado de formação de preço e alocação dos recursos de produção. Assim, a 
Unidade I
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Unidade I
Economia é percebida como uma ciência já no século XIX, e, desde então, seus especialistas debatem 
incansavelmente sobre seu campo de atuação e seus limites.
Do ponto de vista antropológico, o ser humano vem estabelecendo relações de troca com seu 
grupo e com a natureza desde sempre, assim o fazendo, em parte, para garantir as condições materiais 
necessárias para a sua sobrevivência. Em período anterior ao século XVIII, havia atividade econômica, e 
sobre ela foram escritas obras e realizados estudos.
 Saiba mais
Sugerimos que você assista à belíssima obra A Guerra do Fogo (direção: 
Jean-Jacques Annaud, 97 minutos, 1981). O filme mostra os diferentes 
estágios do desenvolvimento social da espécie humana. Embora o diretor 
tenha tomado a liberdade de colocar todos os estágios como se tivessem 
ocorrido simultaneamente, pode-se perceber o valor e a importância de 
cada transformação e o quanto a sociedade e nosso modo de viver foram 
historicamente construídos ao longo do tempo.
No entanto, consideramos a gênese da ciência econômica aquela relacionada à investigação de uma 
determinada forma de organização econômica, qual seja, aquela que resulta das relações existentes 
nomercado. Uma explicação possível é que, apenas a partir do nascimento da economia de mercado, 
tornou-se possível falar em atos econômicos com interesses e objetivos essencialmente econômicos; 
que apenas a partir do advento da economia de mercado as relações sociais passaram a ser explicadas 
em função de um sistema econômico organizado.
Como estava organizada a produção de bens e serviços antes da economia de mercado? Naquele 
tempo, o chefe de família provia sua prole porque isso era o que a sociedade esperava dele. As 
trocas se realizavam não para o lucro, mas para a sobrevivência material. Produzia-se comida não 
para vendê-la e, a partir da venda, obter lucro. Produzia-se para consumir. Quando passou a existir 
governo, ele distribuía a riqueza para os cidadãos, porque esse era seu papel. Foi apenas com o advento 
do capitalismo que os fatores de produção (mão de obra, terra, conhecimento técnico, capacidade 
empresarial e dinheiro, entre outros) não apenas se dirigiram ao mercado, mas fizeram mesmo parte 
dele. Comprava-se e vendia-se mão de obra. Comprava-se e vendia-se conhecimento. O dinheiro 
passou a ter um custo, mensurado por meio dos juros que os bancos cobravam para fornecê-lo sob 
a forma de crédito. Trabalhava-se não para produzir os bens necessários, mas para obter recursos 
que pudessem ser trocados pelos bens necessários. Essa é uma diferença fundamental que marca um 
momento de transição nas formas de organização da sociedade.
Normalmente, os atos econômicos anteriores às sociedades capitalistas, ou que nelas não estejam 
inseridos, são objeto de estudo dos antropólogos econômicos. Considerando nossos objetivos, basta 
não confundirmos a Economia (ciência) com o próprio sistema de mercado. Entende-se por ciência 
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FUNDAMENTOS DE ECONOMIA PARA AS CIÊNCIAS SOCIAIS
econômica a ciência que investiga como fatores escassos de produção são alocados para a produção 
de bens e serviços que se destinam a saciar necessidades ilimitadas. Em contrapartida, economia de 
mercado representa a forma pela qual, nas sociedades capitalistas, a reprodução material das sociedades 
passou a acontecer por meio de instituições orientadas para objetivos econômicos, como os mercados 
(CERQUEIRA, 2001). Assim, nos mercados, as trocas produzem preços, sendo essas “trocas realizadas 
como resultado de barganha, de uma negociação, onde cada parte é livre para buscar sua vantagem e 
não tem que se submeter, por exemplo, a preços preestabelecidos por algum agente regulador externo” 
(CERQUEIRA, 2001, p. 400). Portanto, compreenderemos que, na economia de mercado:
toda a organização da produção é confiada aos mercados, que compõem um 
sistema autorregulado: indivíduos perseguindo apenas seu interesse pessoal 
ofertam e demandam mercadorias, fazendo com que estes bens alcancem 
um preço determinado. As decisões sobre o que e quanto produzir serão 
tomadas como base apenas nos preços informados pelos mercados, que 
sinalizam as expectativas de ganho em cada processo produtivo. Da mesma 
maneira, a distribuição do produto depende apenas de preços, já que eles 
formam os rendimentos de cada indivíduo: aluguel e salários são os preços 
do uso da terra e da força de trabalho; o lucro é a diferença entre o preço do 
produto e os preços dos insumos necessários para sua produção. Em resumo, 
a reprodução material da sociedade depende de que tudo alcance um preço, 
ou seja, se comporte como uma mercadoria, inclusive a terra e o trabalho 
(CERQUEIRA, 2001, p. 402).
Seria possível haver Economia sem economia de mercado? Os economistas não respondem de 
forma consensual e unânime à questão. Para nós, e para efeito desta disciplina, consideraremos que o 
surgimento da Economia ocorre não apenas porque a estrutura econômica passa a ser a de mercado 
(finalmente havendo o que se investigar), mas porque as condições do pensamento científico daquele 
momento permitem que ela, enquanto saber, se organize enfim de forma sistemática e autônoma. 
Também é importante ressaltar que naquele momento (e, de forma hegemônica, até os dias de hoje), 
o que se para investigar são justamente as relações que se estabelecem no mercado. Considerar como 
seu objeto de análise única e simplesmente a economia de mercado significa represá-la de forma 
tautológica à imutabilidade das estruturas e relações materiais tais como desenvolvidas no Ocidente a 
partir do século XVIII: a Economia, sob essa ótica, seria tão somente o estudo das maneiras pelas quais 
o Ocidente se organizou no que se refere a determinada estrutura econômica.
 Saiba mais
É interessante, nos tempos atuais, a produção de uma grande quantidade 
de estudos relacionados a outras culturas, particularmente, em relação às 
respostas dadas por elas aos problemas de produção de bens e serviços
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Unidade I
capazes de satisfazer as necessidades da comunidade. Nesse sentido, 
recomenda-se a visita ao site da Associação Brasileira de Antropologia, 
disponível em: <http://www.abant.org.br/>.
Embora isso acrescente dificuldade à investigação econômica, há de se considerar que o sistema de 
mercado foi historicamente construído, não sendo uma entidade acima do tempo e do espaço. Da mesma 
forma, os pressupostos comportamentais de racionalidade econômica (autointeresse e propensão para o 
lucro) não são “naturais”, mas socialmente construídos.
Há economia sem mercado? Apesar de a antropologia ter demonstrado a existência de outras 
racionalidades socioeconômicas, “é intrínseca à racionalidade econômica moderna, como uma 
espécie de monopólio epistemológico e moral, a desvalorização dos outros modos de vida diferentes 
do conduzido pela lei do valor” (LISBOA, 2008, p. 8). Os economistas ainda estão a debater possíveis 
respostas a essa pergunta, e, embora esse debate seja extremamente interessante, ele extrapola 
os limites da nossa disciplina. Assim, assumiremos que, segundo os parâmetros científicos da 
modernidade, a Economia nascerá à época de Adam Smith, no século XVIII, sendo A Riqueza das 
Nações (1983, 1996) um texto fundador, obra que marca
uma mudança na natureza da reflexão sobre os temas econômicos, 
não tanto pela criação de novos conceitos, mas pelo estabelecimento 
de um novo arranjo dos conceitos, de um novo ponto de vista. Não 
se trata apenas do fato de que a reflexão sobre assuntos econômicos 
tenha deixado de ser tópica, fragmentada e guiada por interesses 
essencialmente práticos, como nos escritos mercantilistas. Importa, 
sobretudo, que ela tenha ganhado a forma de uma disciplina autônoma, 
desligada da ética e da filosofia política, no interior das quais a 
escolástica e as doutrinas do direito natural ainda a enquadravam 
(CERQUEIRA, 2001, p. 397).
1.1 Antiguidade e Idade Média
É evidente que a compreensão do contexto histórico que irá ensejar o nascimento das ciências 
econômicas traz à tona uma questão de fundamental importância: afinal, se a Economia surge por 
meio do esforço de se distinguir da História, da Sociologia, da Ética, da Filosofia Moral e da Política, 
poderíamos ser levados a crer na existência de uma distância entre ela e essas outras áreas, especialmente 
do ponto de vista da delimitação do seu objeto de estudo ou da determinação de sua metodologia de 
investigação. Esse é um problema que economistas da atualidade vêm buscando trabalhar e equacionar, 
e aqui, nesta disciplina, serão debatidas não apenas as condições necessárias para o surgimento da 
economia de mercado, mas também, os desafios que esse sistema e sua investigação têm a enfrentar 
no tempo presente.
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FUNDAMENTOS DE ECONOMIA PARA AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Nesse período de asfixiante domínio conservador, forte desarticulação 
das forças de esquerda e virtual ausência de um projeto alternativo de 
sociedade, trabalha-se sempre dentro de condições preestabelecidas 
(sociedade capitalista globalizada), raramente questionando-se sua origem 
e seu caráter histórico, o tipo de hierarquia e a desigualdade que produz e o 
tipo de ilusão (comumente veiculada pela teoria econômica) que necessita 
para sobreviver (BONENTE; CORRÊA, 2009, P37).
Façamos então uma viagem no tempo. Na Europa do medievo, o mundo era bem diferente 
daquele que hoje conhecemos: em vez de trabalhadores livres, políticos, organizações não 
governamentais, supermercados e shopping centers, havia reis, senhores feudais, cavaleiros, 
servos e clérigos. Assim estava organizada a sociedade durante o feudalismo, e essa estrutura 
iria sofrer abalos contínuos até a degradação total, num processo que levaria alguns séculos para 
se completar.
Sobre o período medieval, a imagem mais comumente lembrada é a do feudo, grande propriedade 
trabalhada por camponeses que aravam não apenas a terra arrendada, mas também a terra do senhor. 
Nesse sistema, que sobreviveria na Europa até o século XVIII, o castelo era o centro do mundo: era nele 
que moravam o senhor e sua família. O feudo, unidade autossuficiente, era o espaço em que ocorriam 
as relações de vassalagem entre o servo e o seu senhor.
O servo não era um escravo: não podia ser vendido ou ter sua família desmembrada. Por mais 
incrível que possa parecer aos nossos olhos do século XXI, o servo fazia parte da propriedade e só 
passaria a ter outro patrão se a terra fosse vendida. Se imaginarmos que, naquele tempo, não eram 
comuns as transações imobiliárias, poderemos alcançar a real dimensão do relacionamento entre 
servo e senhor. O servo muda de senhor, mas não de terra e, portanto, não pode ser expulso e dela 
não pode escapar.
O senhor do feudo, como o servo, não possuía a terra, mas era, ele próprio, 
arrendatário de outro senhor, mais acima na escala. O servo, aldeão 
ou cidadão “arrendava” sua terra do senhor do feudo que, por sua vez, 
“arrendava” a terra de um conde, que já a “arrendara” de um duque, que, 
por seu lado, a “arrendara” do rei. E, às vezes, ia ainda mais além, e um 
rei “arrendava” a terra a outro rei! A relação de vassalagem, inclusive, é 
transferida hereditariamente, de pai para filho: o filho será servo daquele 
[de] quem seu pai e seu avô também foram servos (HUBERMAN, 1986, p. 10).
O feudo tinha suas próprias regras e leis, e elas serviam para reger tudo e todos. O senhor feudal 
era quem decidia sobre casamentos, litígios e conflitos. Ele resolvia o que é como plantar, bem como 
quanto colher. Em algumas regiões da Europa, o senhor feudal tinha o direito “da primeira noite”, ou 
seja, podia desvirginar a noiva que morasse em sua propriedade, ou que fosse esposa de alguém que 
morasse nas suas terras. Longe de ser mero capricho, esse direito selava seu papel de senhor absoluto 
e também consagrava a continuidade da vassalagem por meio da suspeita em relação à paternidade 
dos filhos do servo.
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Unidade I
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Sugerimos, sobre o assunto, o filme Coração Valente. (direção: Mel 
Gibson, 177 minutos, 1995). O enredo, apesar de algumas imprecisões 
históricas, retrata bem a relação de vassalagem. Aborda, ainda, as lutas e os 
conflitos na Escócia do século XIII.
Tudo o que era necessário para a sobrevivência podia ser produzido dentro do próprio feudo. O 
comércio era inexistente e, quando ocorria, era baseado no escambo, ou seja, na troca de mercadorias 
sem que nenhum dinheiro fosse utilizado, necessariamente, como meio de pagamento ou padrão de 
referência.
Havia moedas, claro. Elas existiam, e sua variedade era imensa: cada uma delas tinha valor apenas 
numa determinada região, e não havia referência cambial com outras moedas de outras regiões. Por que 
haveria de existir referência, afinal? A vida econômica ocorria dentro dos muros do próprio feudo, não 
havendo relações comerciais com o que era exterior.
É provável que, essa altura, haja um questionamento: como, a partir dessa organização 
econômica, poderia ter surgido algo como o sistema de mercado? Quais foram os caminhos 
percorridos para que esse modelo (o feudal) fosse substituído por outro (o mercado), em que 
tudo era mercadoria e tinha um preço? Como o feudo, afinal, tornou-se pequeno demais para as 
necessidades da sociedade e como seus muros acabaram por ruir? Foram vários os fatores que, com 
o tempo, criaram rachaduras e fissuras irreversíveis no sistema feudal e, agora, os investigaremos 
de forma resumida.
Um deles foi a realização das Cruzadas, expedições armadas que tinham como objetivo a reconquista 
da Terra Santa para os cristãos. Os cruzados precisavam de provisões, e, ao longo do trajeto que percorriam 
em direção ao Oriente, foram sendo criados entrepostos comerciais e feiras. Ao longo dos séculos, esse 
comércio cresceria cada vez mais, surgindo, em torno dele, as primeiras cidades.
Os senhores feudais, donos das terras onde se realizavam as feiras, tinham direito a receber comissões 
pelos negócios ali efetuados; assim, eles eram receptivos às atividades comerciais porque elas traziam 
lucro e prosperidade. Esse comércio também ensejaria o surgimento de uma figura muito importante: o 
trocador de dinheiro, responsável pelo câmbio entre as várias unidades monetárias. Já se pode perceber: 
lentamente, a economia sem mercado transformava-se em economia de vários mercados, já bem 
distante do sistema autossuficiente dos feudos.
Devagar, apareciam pequenas aberturas na estrutura feudal de imobilidade social: surgiam 
comerciantes e “banqueiros”; e crescia uma população urbana que não se encontrava aprisionada pela 
vassalagem, tampouco tinha uma relação visceral com a terra.
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Essa população, de outro tecido social que não aquele costurado pelo feudal, exerceria 
pressão por leis menos arbitrárias do que as do senhor feudal: afinal, era preciso liberdade para 
se mover, para comerciar, para vender e comprar. Da mesma forma, o camponês se distanciava 
do senhor feudal, já que o seu excedente agora podia ser negociado e transformado em dinheiro. 
Sua sobrevivência não dependia mais da vassalagem, mas podia ser providenciada com o uso do 
talento para produzir o que outros necessitassem ou com o talento para comerciar o que outros 
desejassem consumir.
A riqueza agora não era medida pela propriedade possuída, mas pelo dinheiro possível de ser ganho 
com a atividade comercial. Aliás, o golpe de morte no sistema feudal ocorre justamente no momento 
em que se percebe ser a terra também uma mercadoria.
Os mercadores se reúnem em corporações. Eles se intitulam possuidores de direitos monopolistas 
que normatizarão as atividades comerciais (nas feiras) ou profissionais: às suas leis, seus membros se 
sujeitam, sob pena de expulsão. Os artesãos e outros profissionais também se organizarão em corporações, 
chamadas de guildas.
 Lembrete
As guildas funcionavam como centros onde o aprendiz era treinado no 
ofício, segundo as normas e tradições da categoria. Esse treinamento, que 
chegava a durar mais de uma década, lhe assegurava o conhecimento das 
artes secretas do seu ofício, além do direito de exercer sua profissão e ter 
proteção em caso de necessidade.
Nas guildas, os meios de produção (ferramentas e utensílios necessários para a fabricação das 
mercadorias) pertencem aos artesãos, queproduzem e comercializam o fruto do seu trabalho. O espírito 
é de fraternidade, e não de concorrência: se algum membro introduzir alguma inovação, todos devem ter 
acesso à mudança. “Patentes” ou “diferenciais produtivos” são práticas desleais e passíveis de punição.
Nas guildas, reunir-se-ão padeiros, pintores, curtidores de couro, ferreiros, açougueiros, fruteiros, 
cirurgiões, jornaleiros, entalhadores, costureiros, sapateiros e
supervisores das corporações [que] faziam viagens regulares de inspeção, 
nas quais examinavam os pesos e medidas usados pelos membros, os 
tipos de matérias-primas e o caráter do produto acabado. Todo artigo 
era cuidadosamente inspecionado e selado. Essa fiscalização rigorosa 
era considerada necessária para que a honra da corporação não fosse 
manchada, prejudicando com isso os negócios de todos os seus membros. 
As autoridades municipais, por sua vez, a exigiam como proteção ao público. 
Para maior proteção desse público, algumas corporações marcavam seus 
produtos com o “justo preço” (HUBERMAN, 1986, p. 68).
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 Saiba mais
Rembrandt, pintor holandês do século XVII, retratou alguns membros 
dessas corporações:
• Na tela A ronda noturna, ele mostra a corporação dos oficiais 
bacamartes. Disponível em: <http://www.abcgallery.com/R/
rembrandt/rembrandt27>. 
• Na obra Lição de anatomia do professor Tulp, a corporação dos 
cirurgiões. Disponível em: <http://www.biol.unlp.edu.ar/images/
anatomia/anatomia-rembrandt.jpg>.
• No quadro Os membros da guilda dos alfaiates, como sugere o título, 
vemos os alfaiates reunidos em seu sindicato. Disponível em: <http://
www.abcgallery.com/R/rembrandt/rembrandt121.html>.
O próprio Rembrandt foi membro de uma guilda, a dos pintores.
Aos nossos olhos, estruturas como as das guildas podem parecer muito estranhas. Afinal, no mundo 
em que vivemos, as competências relacionadas à competitividade são atributos positivos e desejados, 
em se tratando seja de um empresário, seja de um trabalhador. No entanto, é importante entender as 
regras da guilda no seu contexto específico, ou seja, o da transição de um sistema autossuficiente e 
fechado para outro, aberto aos negócios e à participação de todos. É claro que o tempo também se 
encarregaria de provocar a desintegração das guildas e a substituição do justo preço pelo de mercado. 
No entanto, naquele momento, a existência das corporações era o que permitia o exercício da atividade 
artesanal, a sobrevivência dos artesãos nos centros urbanos e a regulação de uma atividade que se 
distanciava, pouco a pouco, das tradições e dos costumes feudais.
O surgimento das nações também teria sua participação ativa no processo de deterioração 
do sistema feudal. O senhor feudal já não conseguia proteger a população (e seu poder havia 
diminuído com a perda de terras, servos e recursos gastos em expedições ao Oriente), tampouco 
funcionar como autoridade central. Dessa forma, era necessário que alguém ocupasse esse vácuo, 
chamando para si a tarefa de centralizar o poder. Quem o faria seria o Rei, aliado das cidades 
na luta contra os senhores feudais. Será ele quem arregimentará um exército profissional, quem 
tratará de armá-lo e treiná-lo usando os recursos obtidos pela cobrança de impostos. O mais 
importante é compreender que esse exercício de poder se faria em subtração ao poder das próprias 
cidades e dos comerciantes.
[...] os camponeses que desejavam cultivar seus campos, os artesãos que 
pretendiam praticar seu ofício e os mercadores que ambicionavam realizar 
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seu comércio – pacificamente – saudaram essa formação de um governo 
central forte, bastante poderoso para substituir os numerosos regulamentos 
locais por um regulamento único, de transformar a desunião em unidade 
(HUBERMAN, 1986, p. 86).
O Rei representará a unidade nacional, e a Nação (o conjunto de pessoas que acreditam compartilhar 
entre si um passado e um futuro em comum) passara a lutar por seus territórios e pela formação de 
sua identidade: língua, moeda e legislação nacionais. Todas essas serão conquistas que, guiadas pela 
unidade central de poder, construirão um novo mundo. Não à toa, será o Rei também o responsável 
pelo empreendimento ultramarino, de descoberta, povoamento e exploração do que se acreditava ser 
realmente um novo mundo, mundo esse que fornecerá a matéria-prima, depois, para as indústrias 
nascentes e que consumirá as mercadorias produzidas nas metrópoles. Os muros dos feudos haviam 
ruído, e, agora, as fronteiras avançavam em direção a terras desconhecidas.
 Saiba mais
Os filmes Elizabeth (direção: Shekhar Kapur, 125 minutos, 1998) e 
Elizabeth, a Era de Ouro (direção: Shekhar Kapur, 114 minutos, 2007) são 
sugestões excelentes sobre o assunto. Em ambos é tratada a questão religiosa 
na Inglaterra, bem como são retratados os esforços para que o país alcançasse 
o crescimento e a riqueza por meio das ações de um poder central: a rainha.
2 MERCANTILISMO E FISIOCRACIA
Em termos do pensamento econômico desse período, duas são as principais vertentes.
• Mercantilismo
Para os mercantilistas, a origem da riqueza estava relacionada ao acúmulo de ouro e prata. O metal 
era obtido com as exportações; de forma contrária, as importações representavam o envio de metal 
para outras nações. Como uma determinada nação deveria proceder para obter esse superávit? 
Quanto mais poderosa ela fosse, quanto mais numerosas fossem suas rotas comerciais, quanto 
maior a dependência de suas colônias em relação à metrópole, maiores seriam as possibilidades 
de acumular ouro e prata (BRUE, 2006). Para isso, é evidente que se fazia necessário um Estado 
forte. O espírito nacionalista associado a um conjunto de instituições militares capazes de dar 
conta da ação expansionista também seria fundamental. Um governo centralizado bastante 
forte era outra exigência, e o controle governamental bastante rigoroso deveria dar conta das 
políticas e das metas mercantilistas, com esse controle tornando-se visível por meio da concessão 
de monopólios, da edição de leis protecionistas, e da elaboração e fiscalização de normas que 
regulamentassem a produção e a distribuição de mercadorias. O controle das importações era 
rigoroso, quando não proibido, e a fixação de preços dos produtos nacionais no mercado interno 
obedecia às exigências da política mercantilista.
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• Fisiocracia
A fisiocracia francesa, representada pelas obras de Quesnay e Turgot, pode ser considerada 
como uma reação às antecessoras práticas mercantilistas. A oposição se dá, principalmente, em 
relação ao excesso de regulamentação e de normatização da ação governamental. Os fisiocratas 
introduzirão (ao menos no campo econômico) a ideia de ordem natural, até por influência 
da mecânica newtoniana e do desenvolvimento da medicina: acreditava-se numa ordem da 
natureza que se responsabilizaria por manter tudo em equilíbrio. A mesma ordem natural seria 
responsável por manter os planetas no céu, realizar o movimento circular do sangue, e também 
cuidaria da harmonia econômica terrestre. A oposição à regulamentação e à intervenção do 
Estado na economia explica o lema fisiocrata: laissez-faire, laissez-passer (deixe fazer, deixe 
passar). Finalmente, é importante salientar a importância que a agricultura tem no pensamento 
fisiocrático: é ela a responsável pela produção de riqueza por meio da geração de excedentes, 
sendo o comércio e a indústria estéreis, apesarde úteis.
3 DA ESCOLA CLÁSSICA AO MARXISMO
Para que dessas vertentes pudesse surgir um pensamento econômico que desse conta da análise 
da atividade econômica, era necessária uma mudança nos valores morais e nas atitudes em relação ao 
lucro e ao trabalho: faltava agora uma nova ética que norteasse e conduzisse os agentes em direção à 
acumulação do capital. Afinal,
a moderna noção de que qualquer transação comercial é lícita desde 
que seja possível realizá-la não fazia parte do pensamento medieval. O 
homem de negócios bem-sucedido de hoje, que compra pelo mínimo e 
vende pelo máximo, teria sido duas vezes excomungado na Idade Média. 
O comerciante, porque exercia um serviço público necessário, tinha 
direito a uma boa recompensa e a nada mais do que isso (HUBERMAN, 
1986, p. 47).
Portanto, se quisermos compreender como nos transformamos em seres sedentos de sucesso e lucro, 
deveremos retroceder à transição de uma sociedade que se baseava na noção do justo preço para 
outra que perseguia o sucesso econômico. Teremos de supor que tal transição requereria uma mudança 
drástica na maneira de pensar e agir: seria necessária uma nova ética. “A suspeita e o constrangimento 
que cercavam as ideias de lucro, mudança e mobilidade social devem dar lugar a novas ideias que 
encorajem essas mesmas atitudes e atividades” (HEILBRONER, 1987, p. 64). Vamos tratar, então, de 
compreender como surge essa ética e como ela passa a conduzir o comportamento da sociedade que a 
ela se submete.
Vamos pensar e refazer esse caminho: até o final da Idade Média, a Igreja Católica era a responsável 
pela difusão e pela manutenção dos valores morais. Com base no texto sagrado, ela defendia a vida 
como mera passagem transitória pela Terra, anterior à ida para o Paraíso, destino daqueles que haviam 
cumprido seu papel aqui.
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Conforme afirma Huberman (1986, p. 47):
A Igreja ensinava que, se o lucro do bolso representava a ruína da alma, 
o bem-estar espiritual é que estava em primeiro lugar. “Que lucro terá o 
homem, se ganhar todo o mundo e perder sua alma?” Se alguém obtivesse, 
numa transação, mais do que o devido, estaria prejudicando a outrem, e 
isso estava errado. São Tomás de Aquino, o maior pensador religioso da 
Idade Média, condenou a “ambição do ganho”. Embora se admitisse, com 
relutância, que o comércio era útil, os comerciantes não tinham o direito de 
obter numa transação mais do que o justo pelo seu trabalho.
O que era considerado pecaminoso? Por exemplo, a busca do lucro ou do ganho pessoal e o trabalho 
(além do necessário para satisfazer as necessidades mais básicas). Quem tivesse o suficiente para viver e, 
apesar disso, continuasse a trabalhar incessantemente, “seja para conseguir uma posição social melhor, 
seja para viver mais tarde sem trabalhar, ou para que seus filhos se tornassem homens de riqueza e 
importância – todos esses estavam dominados por uma avareza, sensualidade ou orgulho condenáveis” 
(HUBERMAN, 1986, p. 47). A ética católica pregava o conformismo e abominava qualquer tentativa 
de romper com o que estava dado e acertado. Mais: obter qualquer vantagem em relação ao seu 
concorrente (se é que existia esse conceito) era simplesmente inimaginável. Como novamente aponta 
Huberman (1986, p. 67):
Assim como se precaviam da interferência estrangeira em seu “monopólio”, 
as corporações tinham também o cuidado de evitar, entre si, práticas 
desonestas que pudessem causar prejuízos a terceiros. Nada de competição 
mortal entre amigos, é o que realmente significa o item 3 dos estatutos dos 
curtidores. O membro da corporação não podia furtar um jornaleiro ou o 
aprendiz de seu mestre. Também era tabu a prática comercial, hoje muito 
difundida, de obsequiar o cliente ou suborná-lo para conseguir realizar 
um negócio. Em 1443, a corporação dos padeiros de Corbie, na França, 
determinou que ninguém daria bebidas ou faria qualquer outra gentileza a 
fim de vender seu pão, sob pena de pagar uma multa de 60 soldos.
Como se pode perceber, a mudança capaz de introduzir uma nova forma de pensar deveria ser ampla 
e irreversível. O que se sabe é que o calvinismo e a Reforma transformaram, à sua época, a forma de ver 
o mundo, trazendo em seu bojo uma nova ética e uma nova moral.
Em contraste com os teólogos católicos, propensos a considerar a atividade 
humana como coisa fútil e vã, os calvinistas santificavam e aprovavam o 
esforço humano como uma espécie de indicador de valor espiritual. De fato, 
cresceu entre os calvinistas a ideia de um homem dedicado ao seu trabalho: 
“vocacionado” para ele, por assim dizer. Daí, a fervorosa entrega de cada um 
à sua própria vocação, muito ao contrário de evidenciar um afastamento 
dos fins religiosos, passou a ser considerada uma evidência da dedicação 
à vida religiosa. O comerciante enérgico e empreendedor era, aos olhos 
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calvinistas, um homem piedoso, não um ímpio; e desta identificação de 
trabalho e virtude não foi necessário mais que um passo para se desenvolver 
a noção de que, quanto mais bem-sucedido um homem fosse na vida, mais 
virtuoso [ele era] e mais valor ele tinha (HEILBRONER, 1987, p. 79).
Trabalhar, especialmente além do necessário, era virtuoso. A conquista da riqueza não era imoral, 
especialmente se a piedade e a virtude direcionassem o uso dessa riqueza: nada de luxo, jogos e hábitos 
faustosos. O trabalho era sagrado, e sagrado também era o seu fruto. Os homens deveriam viver com 
simplicidade, com economia e com humildade:
[o calvinismo] fez da poupança, da abstinência consciente do usufruto 
da renda, uma virtude. Fez do investimento, do uso da poupança para 
fins produtivos, um instrumento tanto de devoção como de lucro. 
Justificou até, com vários quids e quos, o pagamento de juros. De fato, 
o calvinismo estimulou uma nova concepção de vida econômica. Em 
lugar do antigo ideal de estabilidade social e econômica, de se conhecer 
e manter o “lugar” de cada um, conferiu respeitabilidade a um ideal de 
luta, de aperfeiçoamento e progresso material, de crescimento econômico 
(HEILBRONER, 1987, p. 80).
Essa moral criaria o que Max Weber, no século XIX, ao estudar a fundo a relação entre a religião e o 
capitalismo, identificou como o espírito do capitalismo:
De fato, o summum bonum dessa ética, o ganhar mais e mais dinheiro, 
combinado com o afastamento estrito de todo prazer espontâneo de viver 
é, acima de tudo, completamente isento de qualquer mistura eudemonista, 
para não dizer hedonista; é pensado tão puramente como um fim em si 
mesmo, que do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o indivíduo 
parece algo transcendental e completamente irracional. O homem é 
dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da 
vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como 
um meio para a satisfação de suas necessidades materiais. Essa inversão 
daquilo que chamamos de relação natural, tão irracional de um ponto de 
vista ingênuo, é evidentemente um princípio-guia do capitalismo, tanto 
quanto soa estranha para todas as pessoas que não estão sob a influência 
capitalista (WEBER, 1996, p. 21).
Assim, em algum momento do passado, o processo de industrialização foi ganhando o espaço 
antes reservado à agricultura e às outras atividades extrativas. O período em que esse processo 
efetivamente teve início, e a partir do qual se desenvolveu, é aquele que compreende o final 
do século XVIII até o século XIX. Nesse momento, as velhas estruturas fabris ainda continuavam 
a conviver com modernas técnicas produtivas (e isso aconteceriapor um bom tempo); grandes 
invenções transformavam a indústria: máquina de fiar, tear mecânico, máquina a vapor, lançadeira 
volante, patentes para técnicas diversas de fundição, bombeamento de minas e obras hidráulicas. 
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Todas essas inovações seriam responsáveis por profundo desenvolvimento em relação às atividades 
das indústrias de lã e siderurgia, embora ainda existissem pequenas firmas que empregavam 
poucos trabalhadores (nessas, o empregador não era o grande capitalista, mas o empreiteiro 
intermediário). A manutenção desses padrões de indústria domiciliar, inclusive, representaria um 
obstáculo na consagração de um caráter homogêneo da classe trabalhadora, umas vezes envolvida 
nos processos produtivos das grandes indústrias, outras ainda vinculada aos sistemas dos ofícios e 
pequenas unidades produtoras.
O uso intensivo de maquinário nas fábricas – fruto de um incessante processo de inovação 
tecnológica –, e a expansão de uma classe trabalhadora, explorada e assalariada, caracterizavam uma 
crescente atividade econômica já bem distante da economia comercial e mercantil dos séculos XVII 
e XVIII.
 Saiba mais
Sugerimos a leitura das obras de Charles Dickens. O autor, de forma 
magnífica, soube mostrar a Inglaterra pobre e miserável do século XIX. 
Entre seus livros recomendamos Tempos Difíceis e Oliver Twist. Este último 
foi transformado em filme com o mesmo nome (direção: Roman Polanski, 
130 minutos, 2005).
Nada parecia se traduzir em algo além de um intenso pessimismo em relação ao “progresso” da 
sociedade e à “evolução” da humanidade (pessimismo esse visível nas obras de Malthus e Ricardo), 
mas alguns viam nos Oitocentos razões para otimismo e esperança de dias melhores e de um futuro 
mais promissor.
As degradadas e sujas cidades inglesas viam circular trabalhadores esfomeados e que viviam em 
condições totalmente inadequadas; ao mesmo tempo, os pensadores e a elite empresarial discutiam o 
terrível destino que aguardava a humanidade (em especial, a fome resultante da explosão populacional 
e da escassez de terras aráveis e produtivas); outros pensadores e capitalistas buscavam alternativas que 
pudessem criar um sistema social justo dentro (e a partir) do contexto de industrialização e da economia 
de mercado.
Num período em que a crença na ideia do progresso era hegemônica, essas alternativas 
incluíam sonhos extravagantes e projetos – umas vezes mais, outras menos – mirabolantes. 
Saint-Simon e seus seguidores pretendiam construir uma pirâmide social na qual se ganharia em 
função do trabalho útil para a sociedade. Fourier escreveria sobre as falanges, locais parecidos 
com hotéis, onde todos viveriam e “todos teriam que trabalhar, é claro, porém poucas horas por 
dia. Mas ninguém tentaria escapar do trabalho, porque cada qual estaria fazendo o que mais 
gostava” (HEILBRONER, 1996, p. 118).
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Outras iniciativas ocorreriam de forma mais pragmática, por exemplo, a fábrica de Nova Lanark, 
localizada nas redondezas de Glasgow, de propriedade de Robert Owen (1771-1858).
Em Nova Lanark havia duas perfeitas fileiras de casas de trabalhadores 
com dois quartos em todas elas; havia ruas com o lixo cuidadosamente 
empilhado, à espera de remoção, em vez de estar espalhado em asquerosa 
imundície. E, nas fábricas, uma cena ainda mais incrível apresentava-se 
aos olhos dos visitantes. [...] Outra surpresa se impunha: não havia 
crianças na fábrica — pelo menos, nenhuma com menos de dez ou 
onze anos —, e as que lá se encontravam trabalhavam duro apenas dez 
horas e quinze minutos por dia. Além disso, nunca eram castigadas; 
na verdade, ninguém era castigado e, a não ser poucos adultos 
incorrigíveis que tinham sido despedidos por embriaguez crônica ou 
algum outro vício, a disciplina parecia basear-se na bondade, e não no 
medo. A porta da sala do capataz da fábrica permanecia aberta e quem 
quer que fosse podia (e o fazia) apresentar suas objeções a qualquer 
regra ou regulamento. Todos podiam consultar o livro que continha o 
relatório detalhado do próprio comportamento, que servia para que 
cada qual recebesse seu cubo, e quem se julgasse injustamente tratado 
podia reclamar. O mais notável de tudo eram as crianças pequenas. Em 
vez de viverem correndo e fazendo diabruras pelas ruas, os visitantes as 
encontravam na escola enorme, estudando ou brincando (HEILBRONER, 
1996, p. 103).
Owen, apesar de capitalista, mostrava sentimentos bastante negativos em relação ao uso do dinheiro 
e à propriedade privada; em função disso, proporia a criação de aldeias de cooperação, comunidade de 
pobres onde estes poderiam se tornar “produtores de riqueza se tivessem chance de trabalhar e [...] seus 
hábitos sociais deploráveis podiam se transformar com facilidade em hábitos virtuosos sob a influência 
de um ambiente decente” (HEILBRONER, 1996, p. 118). No entanto, aquele era um tempo de exploração 
humana, das crianças, em particular. Em uma passagem do livro História da Riqueza do Homem (1986), 
de Leo Huberman, podemos ver o que era considerado normal, no século XIX, em termos de duração de 
um dia de trabalho em uma fábrica inglesa:
As crianças agora trabalhavam em fábricas, sob a direção de um supervisor 
cujo emprego dependia da produção que pudesse arrancar de seus pequenos 
corpos, com horários e condições estabelecidos pelo dono da fábrica, ansioso 
por lucros. Até mesmo um senhor de escravos das Índias Ocidentais poderia 
surpreender-se com o longo dia de trabalho das crianças. Um deles, falando 
a três industriais de Bradford, disse: “Sempre me considerei infeliz pelo fato 
de ser dono de escravos, mas nunca, nas Índias Ocidentais, pensamos ser 
possível haver ser humano tão cruel que exigisse de uma criança de 9 anos 
trabalhar 12 horas e meia por dia, e isso, como os senhores reconhecem, 
como hábito normal” (HUBERMAN, 1986, p. 192).
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Heilbroner (1996) também se espanta com a miséria e a exploração infantil. Conforme o autor,
em 1828, The Lion, uma revista radical para a época, publicou a incrível 
história de Robert Blincoe, uma das oito paupérrimas crianças que haviam 
sido enviadas para uma fábrica em Lowdham. Os meninos e as meninas — 
tinham todos cerca de dez anos — eram chicoteados dia e noite, não apenas 
pela menor falta, mas também para desestimular seu comportamento 
preguiçoso. E comparadas com as de uma fábrica em Litton, para onde 
Blincoe foi transferido a seguir, as condições de Lowdham eram quase 
humanas. Em Litton, as crianças disputavam com os porcos a lavagem 
que era jogada na lama para os bichos comerem; eram chutadas, socadas 
e abusadas sexualmente; o patrão delas, um tal de Ellice Needham, tinha 
o horrível hábito de beliscar as orelhas dos pequenos até que suas unhas 
se encontrassem através da carne. O capataz da fábrica era ainda pior. 
Pendurava Blincoe pelos pulsos por cima de uma máquina até que seus 
joelhos se dobrassem e então colocava pesos sobre seus ombros. A criança e 
seus pequenos companheiros de trabalho viviam quase nus durante o gélido 
inverno e (aparentemente apenas por pura e gratuita brincadeira sádica) os 
dentes deles eram limados! (HEILBRONER, 1996, p. 101).
 Saiba mais
O trabalho infantil ainda é uma tragédia nos nossos tempos. Se você 
quiser saber mais sobre o combate ao trabalho infantil, leia o conteúdo do 
site do Ministério do Trabalho e Emprego, e, em particular, as publicaçõesque ali estão sobre o assunto. Disponível em: <http://www2.mte.gov.br/
trab_infantil/default.asp>.
Aquele era um tempo em que mudanças ocorreriam não apenas sob a forma do livre-pensamento 
de políticos e capitalistas, mas também sob a forma de teorias que buscassem explicitar uma ordem 
racional na história da humanidade, ordem essa sempre no sentido do avanço e da melhoria.
A documentação sobre esse período é farta: “o século da imprensa ao alcance de todos e da 
disseminação quase universal da alfabetização nos legou fontes documentárias de uma abundância até 
agora superior à de qualquer outro século anterior” (DOBB, 1987, p. 257). Aquele seria o momento em 
que se organizariam estruturas sociais bastante específicas. O aumento populacional (principalmente 
em função da queda da mortalidade causada pelas melhorias nas técnicas de saúde pública), a expansão 
do mercado (por meio da divisão do trabalho e dos acréscimos na produtividade) e as invenções 
modificariam as cidades e a produção.
Entre 1775 e 1875, o mundo passaria por um intenso progresso econômico, embora desigual, 
se comparados países, ou mesmo se comparados diferentes setores industriais. Os trabalhadores 
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Unidade I
concentram-se num só lugar, a fábrica. O processo de produção agora é coletivo, e, do operário, não é 
mais esperada vontade própria ou aptidão especial, mas apenas destreza e obediência às exigências das 
máquinas. Também,
era agora necessário capital para financiar o equipamento complexo 
requerido pelo novo tipo de unidade de produção; e criara-se um papel para 
um tipo novo de capitalista, não mais apenas como usurário ou comerciante 
em sua loja ou armazém, mas como capitão de indústria, organizador e 
planejador das operações da unidade de produção, corporificação de uma 
disciplina autoritária sobre um exército de trabalhadores que, destituídos 
de sua cidadania econômica, tinham de ser coagidos ao cumprimento de 
seus deveres onerosos a serviço alheio pelo açoite alternado da fome e do 
supervisor do patrão (DOBB, 1987, p. 262).
Nesses termos, a revolução industrial pode ser descrita como “uma série contínua de transformações 
que perdurou além mesmo do século XIX, em vez de como uma modificação feita de uma só vez” (DOBB, 
1987, p. 269). No entanto, “uma vez vinda a transformação crucial, o sistema industrial embarcou em 
toda uma série de revoluções na técnica de produção, como traço notável de uma época do capitalismo 
amadurecido” (DOBB, 1987, p. 270). As invenções provocavam a especialização do trabalho, que, 
assim dividido, facilitava a introdução de novas inovações, caracterizando um processo cumulativo e 
irreversível em termos do aumento da produtividade, da concentração da produção e da acumulação.
Essa última tendência, filha da complexidade crescente do equipamento 
técnico, é que iria preparar o terreno para outra transformação crucial na 
estrutura da indústria capitalista, e gerar o “capitalismo de corporação” 
monopolista (ou semimonopolista ou quase monopolista) em grande escala 
da era atual (DOBB, 1987, p. 270).
As invenções surgiam em função das necessidades prementes das indústrias e, com o auxílio do 
espírito prático e comercial dos capitalistas, mudavam a face da economia e das estruturas sociais. 
A força de trabalho não apenas era uma mercadoria, mas uma mercadoria disponível e disposta 
a se empregar em troca de salários extremamente baixos. Os cercamentos de terra e o êxodo da 
população rural disso resultante também fariam aumentar o número de trabalhadores dispostos a 
trabalhar em troca de qualquer salário. A acumulação do capital, portanto, excedia o crescimento 
da oferta de trabalho.
São os pensadores clássicos que irão consagrar uma forma de “ler” esse novo mundo. As preocupações 
desses primeiros teóricos resumem-se em três categorias: produção, distribuição e circulação de riqueza, 
esta última vista como consequência da consolidação do Estado burguês na Europa oitocentista. Os 
principais pensadores dessa escola foram Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus e John Stuart 
Mill. Essa doutrina, a do liberalismo econômico, terá em suas bases a liberdade pessoal, a propriedade 
privada, a iniciativa individual, a empresa privada e a interferência mínima do governo: as ideias clássicas 
eram liberais, em contraste com as restrições feudais e mercantilistas sobre a escolha de profissões, as 
transferências de terra e o comércio.
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Esse liberalismo clássico irá defender a interferência mínima do Estado na economia, bem como o 
comportamento econômico individual baseado no autointeresse, e buscará leis explicativas dos fatos 
econômicos. Para ele, não é apenas a agricultura que cria riqueza: a origem desta se encontra em todos 
os ramos da atividade econômica.
Adam Smith (1723-1790) é o precursor dos autores clássicos, desenvolvendo um padrão de análise 
a ser reproduzido por seus sucessores (o sumário de A Riqueza das Nações (1983, 1996), sua principal 
obra, é quase o mesmo daqueles dos escritos de Malthus e Ricardo). Para Smith, a riqueza de uma nação 
é medida pela produção total anual de um país, que será consumida por um determinado número 
de pessoas. Assim, a riqueza é dada pela relação entre a produção anual e a população. A divisão do 
trabalho gera a riqueza, e esse processo (o de consecutivas divisões e especializações) só encontra limites 
no tamanho do mercado: a divisão do trabalho ocorrerá até o limite das possibilidades do tamanho do 
mercado. Para Smith (1983-1996), o sistema econômico tende ao equilíbrio natural, tal como observado 
na natureza física, e é resultado do comportamento egoísta que, direcionado ao bem-estar individual, 
gera o bem-estar social. Como isso ocorre?
Para Smith (1983-1996), ao buscar seu próprio interesse, cada agente tem também de considerar 
o interesse do outro: um bom exemplo é o de um comerciante que diminui o preço de sua mercadoria 
caso os clientes optem por outro comerciante que venda mais barato. Será essa busca do progresso 
individual, busca essa motivada pelo autointeresse, que resultará no crescimento das cidades, no 
aumento da eficiência econômica e no acúmulo da riqueza material.
 Saiba mais
Sobre a questão do autointeresse, sugerimos a leitura do texto A Fábula 
das Abelhas: vícios privados, benefícios públicos, de Eduardo Gianetti da 
Fonseca, disponível em: <http://pt.braudel.org.br/publicacoes/braudel-
papers/05.php>.
Smith tentaria, dessa forma, compreender o sistema econômico em sua totalidade, em especial no 
que diz respeito à alocação de recursos para os fatores de produção, aos mecanismos de autorregulação 
do mercado e ao modelo de crescimento. Segundo Heilbroner e Milberg (2008, p. 75),
Smith mostrou que o sistema de mercado é um processo autorregulador. 
A bela consequência de um mercado competitivo é que ele é seu 
próprio guardião. Se preços ou lucros saírem de seus níveis “naturais”, 
determinados pelos custos, haverá forças que os reconduzirão à linha. 
Surge, então, um paradoxo curioso. O mercado competitivo, que tem em 
seu ápice a liberdade econômica individual, é ao mesmo tempo o mais 
rígido supervisor econômico.
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O exemplo utilizado por Adam Smith em A Riqueza das Nações (1983-1996) é o da fábrica de 
alfinetes. Por meio das atividades observadas nessa fábrica, ele explicará como a divisão de trabalho 
acaba por gerar riqueza a partir do aumento da produtividade:
Um operário desenrola oarame, outro o endireita, um terceiro o corta, 
um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação 
da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 
três ou quatro operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade 
diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes 
também constitui uma atividade independente. Assim, a importante 
atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 
operações distintas, as quais, em algumas manufaturas, são executadas 
por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às 
vezes executa duas ou três delas. [...] Se, porém, tivessem trabalhado 
independentemente um do outro, e sem que nenhum deles tivesse sido 
treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não 
teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo 1 
(SMITH, 1996, p. 66)
Por seu turno, Thomas Malthus (1766-1834) está preocupado com outra coisa: o que o atormenta 
é a fome e a imensa miséria dos trabalhadores. Para ele, é visível que, como consequência dos 
desdobramentos da revolução industrial , a acumulação do capital e da renda da terra se faz a partir do 
arrocho do salário dos trabalhadores; Malthus escreve sob efeito dos conflitos de seu tempo, conflitos 
esses marcados pelo confronto dentro da elite econômica entre os interesses do capital agrário e do 
capital industrial, ainda nascente. Os proprietários de terra desejam impostos altos de importação para 
os cereais para que possam elevar os preços internos. Os industriais querem os cereais vendidos a preços 
menores para que não tenham de aumentar os salários. Os pobres e miseráveis perdem, aos poucos, a 
parca ajuda financeira das paróquias.
Malthus está extremamente preocupado com o destino da espécie humana. Para ele,
tem sido dito que uma grande questão está hoje em debate: se doravante o 
homem se lançará para frente, com velocidade acelerada, em direção a um 
aperfeiçoamento ilimitado e até agora inimaginável, ou se será condenado 
a uma permanente oscilação entre a prosperidade e a miséria e, depois 
de todo esforço, ainda permanecerá a uma incomensurável distância do 
objetivo desejado (MALTHUS, 1996, p. 243).
Malthus (1996) analisa o crescimento populacional e o aumento da produção de alimentos e chega à 
seguinte conclusão: “não há como essa conta bater”. A população cresce a taxas geométricas, enquanto 
a produção de alimentos cresce a uma taxa aritmética. Malthus conclui: em pouco tempo haveria 
milhões de esfomeados, a não ser que se pudesse contar com o providencial auxílio das guerras, das 
pragas e das pestes. O modelo malthusiano pode ser representado como a seguir:
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FUNDAMENTOS DE ECONOMIA PARA AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Crescimento populacional
Produção de alimentos
Fome, doenças, crises sociais, políticas, mortes
Capacidade de produção de alimentos
Teoria de Malthus
Figura 1 - O modelo malthusiano
Para Malthus, essa era a tendência natural da humanidade: “independentemente do êxito conseguido 
pelos reformadores, em suas tentativas de modificar o capitalismo, a atual estrutura de proprietários 
ricos e trabalhadores pobres reapareceria inevitavelmente” (HUNT, 2005, p. 69). Essa divisão de classes 
era uma consequência inevitável da lei natural: “parecia que, pelas leis inevitáveis da natureza, alguns 
seres humanos teriam de passar necessidade. Essas eram as pessoas infelizes que, na grande loteria da 
vida, tinham tirado um bilhete em branco” (ibidem, p. 69).
Malthus, apesar da rigorosa formação religiosa, é contrário a qualquer tipo de ajuda aos pobres. Em 
sua opinião, se a ajuda aos menos privilegiados surtisse algum efeito, eles já teriam desaparecido da face 
da terra. Segundo ele, “o fato de que aproximadamente 3 milhões são coletados anualmente para os 
pobres e, entretanto, sua miséria ainda não tenha sido eliminada, é um objeto de permanente assombro” 
(MALTHUS, 1996, p. 268). Sua opinião apoia-se na seguinte justificativa:
As leis dos pobres da Inglaterra tendem a rebaixar a condição geral do pobre 
dos dois modos seguintes. Sua primeira tendência óbvia é de aumentar a 
população sem um aumento de alimento para sustentá-la. Um pobre pode 
casar com pouca ou nenhuma perspectiva de ser capaz de sustentar uma 
família com independência. Pode-se dizer que, de certo modo, as leis criam 
o pobre que mantêm; e como as provisões do país, em consequência do 
aumento populacional, devem ser distribuídas a cada pessoa em pequenas 
quantidades, é evidente que o trabalho daqueles que não são sustentados 
pela assistência da paróquia comprará menor quantidade de provisões 
do que anteriormente e, consequentemente, a maioria deles será forçada 
a reclamar por sustento. Em segundo lugar, a quantidade de provisões 
consumida em albergues por uma parcela da sociedade que não pode, em 
geral, ser considerada a mais importante diminui as cotas que, de outro 
modo, caberiam aos elementos mais operosos e mais dignos; e, então, 
dessa maneira, obriga muitos a se tornarem dependentes. Se os pobres dos 
albergues fossem viver melhor do que vivem hoje, essa nova distribuição de 
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dinheiro da sociedade tenderia mais evidentemente a rebaixar a condição 
daqueles que não estão nos albergues, por ocasionar uma elevação do preço 
das provisões (MALTHUS, 1996, p. 270-1).
 Observação
Ideias não nascem sós: evidência disso é a série de estudos que vem sendo 
feita para investigar a relação entre as ideias de Thomas Malthus e as de Charles 
Darwin. Ambos partiram de uma mesma realidade, e suas obras apresentam 
aproximações interessantes. Afinal, ambos buscaram compreender os processos 
de seleção natural e de sobrevivência da espécie humana.
 Saiba mais
Se você quiser ler mais sobre o assunto levantado na Observação 
anterior, sugerimos O Conceito da Natureza em A Origem das Espécies, de 
Anna Carolina K. P. Regner. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S0104-59702001000400010&script=sci_arttext&tlng=pt>. 
David Ricardo (1772-1823) tinha ideias em comum com Malthus. Discordava, porém, em uma série de 
fatores: apesar da enorme amizade pessoal entre os dois, eram inimigos intelectuais. Ricardo concordava 
com a ideia de o crescimento populacional ser responsável pela “corrosão” salarial do trabalhador, sempre 
levando esse salário ao nível de subsistência. No entanto, Ricardo discordava de Malthus em relação à 
renda da terra. Para Ricardo, “o preço dos cereais, em relação ao preço das mercadorias industrializadas, 
era regulado pela tendência do trabalho e do capital, quando empregados em terras cada vez menos 
férteis, a produzir cada vez menos cereais” (HUNT, 2005, p. 87). Quer dizer, eram as terras menos férteis 
que determinavam a renda das terras mais férteis.
 Saiba mais
As ideias desses fundadores das ciências econômicas são ainda debatidas 
e analisadas à exaustão: do tempo em que a economia política buscava um 
estatuto de ciência que a diferenciasse da filosofia moral, as obras desses 
autores ainda trazem as marcas – indeléveis – de um período em que juízo 
moral e ciência podiam – e deviam – estar próximos.
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Figura 2 - Thomas Malthus Figura 3 - David Ricardo
Apesar de oponentes nas ideias, Thomas Malthus e David Ricardo 
desenvolveram uma amizade que se manteve durante suas vidas. Segundo 
Heilbroner (1996, p. 85), “O debate sem fim dos dois prosseguiu, por cartase visitas, até 1823. Em sua última carta para Malthus, Ricardo escreveu: ‘E 
agora, meu querido Malthus, para mim chega. Como outros disputantes, 
depois de muita discussão, cada um de nós mantém as próprias opiniões. No 
entanto, essas discussões jamais alteraram nossa amizade; eu não gostaria 
mais de você, caso concordasse com minhas opiniões’. Ele morreu nesse 
ano, subitamente, com cinquenta e um anos; Malthus viveu até 1834. Sua 
opinião sobre David Ricardo: ‘Não amei ninguém tanto assim, a não ser 
minha família’”.
Você pode ter contato com pensamentos do período consultando o livro 
A Era do Economista (2000), de Daniel R. Fusfeld. Outra obra interessante 
e que em muito o ajudará é Novas Ideias de Economistas Mortos (2000), 
escrito por Buchholz.
Entre a perspectiva otimista de Smith e o olhar pessimista de Malthus e Ricardo, temos a obra de 
John Stuart Mill: nascido em Londres, em 1806, filho do filósofo James Mill, iniciou sua educação ainda 
muito criança. Talvez seu maior desafio tenha sido sobreviver à rotina massacrante de estudos imposta 
pelo pai: o estudo de grego teria começado aos três anos de idade, e aos sete os primeiros seis diálogos 
de Platão já eram conhecidos. Fiel defensor dos direitos das mulheres e do sufrágio universal, Mill 
acreditava na necessidade de dar voz às minorias como forma de legitimar a decisão majoritária. Nas 
suas obras, Mill indaga: como conciliar uma visão histórica do homem e da sociedade com os critérios 
metodológicos consagrados como verdadeiramente científicos? Forjado na herança intelectual de seu 
pai e de Bentham, erudito em Lógica, estudioso refinado da Economia política, socialista utópico para uns 
e defensor do sistema de mercado para outros, John Stuart Mill procura realizar o estudo da Economia 
política a partir da herança deixada por outros pensadores do passado (Adam Smith, Malthus e Ricardo, 
entre eles), inspirado pelo pensamento científico do século XIX, impulsionado pelos conflitos éticos e 
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sociais do momento histórico em que vivia, otimista e progressista, mas profundamente interessado em 
fazer a ciência esperada segundo os critérios da comunidade científica de seu tempo. O mundo passava 
por grandes transformações.
De fato, entre o pessimismo e o otimismo, uma grave crise estava sendo alimentada: essa crise 
resultaria da expansão da produção associada à redução da lucratividade dos negócios: dificuldades 
para abertura de novas oportunidades, rapidez na acumulação de capital e limites para a exploração 
da mão de obra contribuíram para o desenvolvimento da crise que romperia ao final do século XIX, 
aparentemente tão promissor nos seus primórdios.
A substituição crescente da mão de obra por maquinário gerava desemprego, e a revolta era tão 
grande que, ao final do século XVIII e nos primeiros anos do século XIX, eram normais as invasões de 
fábricas por hordas de trabalhadores. Conforme afirma Heilbroner (1996, p. 102-3),
fábricas destruídas espalhavam-se pelo campo, e a cada uma o 
comentário era ‘Ned Ludd passou por aqui’. O boato era que um rei Ludd 
ou um general Ludd estava dirigindo as atividades da turba. Não era 
verdade, claro. Os luddites, como eles eram chamados, inflamavam-
se pelo puro e espontâneo ódio às fábricas, que viam como prisões, e 
ao trabalho assalariado, que desprezavam. [...] Para a maior parte dos 
observadores [...], as classes baixas estavam escapando do controle 
e era preciso agir severamente para acabar com a situação. E, para as 
classes altas, aqueles acontecimentos pareciam indicar que um violento 
e terrificante Armageddon se aproximava.
Ao final do século XIX, a concorrência exigia a criação de mecanismos de defesa contra a 
redução de preços e de margens de lucro. “Essa maior preocupação com os perigos da concorrência 
sem barreiras veio numa época em que a crescente concentração da produção, principalmente na 
indústria pesada, lançava os alicerces de uma centralização maior da propriedade e do controle 
da política dos negócios” (DOBB, 1987, p. 310). Esse contexto enseja a formação de trustes, de 
associações de produtores industriais e de cartéis. As empresas europeias (especialmente as de 
capital britânico), desesperadas por conquistar novos mercados, irão exportar bens de capital para 
a Ásia, a África e a América.
Assim será com a exploração do salitre no Chile, com a construção de ferrovias e portos no 
Brasil, no México, no Japão, no Canadá e na Argentina: se o capital já não pode ser traduzido em 
acumulação nos seus locais de origem, irá ser exportado para o exterior, e de lá trará os lucros tão 
desejados pelos empresários.
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 Saiba mais
Sugerimos a leitura de Santa Maria de Iquique, Há Cem Anos, de Ivy 
Judensnaider, em que a autora relata o ocorrido nas minas de salitre do 
Chile no começo do século XX. Disponível em: <http://www.arscientia.com.
br/materia/ver_materia.php?id_materia=442>.
Também sugerimos o filme Mauá, o Imperador e o Rei (direção: Sérgio 
Rezende, 134 minutos, 1999), que trata do embate entre o capital inglês e 
o capital nacional).
Inspirados pela visão dos sucessos de levantes operários e envolvidos no trabalho de entender 
e resolver os problemas oriundos da acumulação capitalista, Marx e Engels buscarão a análise do 
capitalismo, defendendo sua inexorabilidade rumo à destruição.
A concepção materialista da História, escreveu Engels, [...] origina-se do 
princípio [de] que a produção, e com a produção a troca de seus produtos, 
é a base de toda ordem social; [de] que em cada sociedade que apareceu na 
História a distribuição dos produtos, e com ela a divisão da sociedade em 
classes ou estados, é determinada pelo que é produzido, como é produzido e 
como o produto é trocado. De acordo com esta concepção, as causas finais 
das mudanças sociais e das revoluções políticas devem ser vistas, não na 
mente dos homens nem em seu crescente impulso em direção da eterna 
verdade e da justiça, mas sim nas mudanças das maneiras de produção e de 
troca; devem ser vistas não por meio da filosofia, mas sim da economia da 
época concernente (HEILBRONER, 1996, p. 138).
Marx, acrescentando, fará uma previsão: o capitalismo se destruirá por si. A produção não planejada, 
a desorganização do sistema, as constantes oscilações de preços, tudo estaria conspirando para a 
inexorável crise.
O sistema, simplesmente, era complexo demais; desencaixava-se de maneira 
constante, perdia o ritmo, produzia determinada mercadoria em excesso 
e outra de menos. [...] o capitalismo deveria produzir seu sucessor sem o 
saber. Dentro de suas grandes fábricas ele precisaria não apenas criar a base 
técnica para o socialismo — produção racionalmente planejada —, mas teria, 
além disso, que criar uma classe bem-treinada e disciplinada que viria a ser 
o agente do socialismo, o amargurado proletariado. Por sua própria essência 
dinâmica, o capitalismo iria produzir a própria queda e, no processo, 
alimentaria o inimigo (HEILBRONER, 1996, p. 141).
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Algumas das principais ideias de Marx podem ser assim resumidas: para ele, o capital era quem 
gerava lucros para uma específica e especial classe social; a relação econômica básica era a da troca e, 
nesse sentido, as mercadorias tinham um valor de uso (criado pelo trabalho útil) e um valor de troca 
(criado pelo valor abstrato); o valor de troca era expresso em termos de preço monetário; ainda, “o valor 
de uso não poderia ser a

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