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Dificuldades de aprendizagem CAROLINE KWEE 1ª Edição Brasília/DF - 2018 Autora Caroline Kwee Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Apresentação ........................................................................................................................................................................ 6 Capítulo 1 Aprendizagem e educação: considerações a partir do desenvolvimento cognitivo ............................. 7 Capítulo 2 As dificuldades de aprendizagem: conceitos, definições, etiologias e diferenças ...............................16 Capítulo 3 Breves considerações sobre a avaliação das dificuldades de aprendizagem ........................................24 Capítulo 4 Dificuldades específicas de aprendizagem: a linguagem .............................................................................30 Capítulo 5 Dificuldades específicas de aprendizagem: a leitura .....................................................................................40 Capítulo 6 Dificuldades específicas de aprendizagem: os números ..............................................................................49 Referências ..........................................................................................................................................................................61 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORgAnizAçãO DO LivRO DiDátiCO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Apresentação Neste livro, você estudará os principais conceitos sobre as dificuldades de aprendizagem do aluno em fase escolar. Abordaremos: 1. Conceitos gerais relacionados às dificuldades de aprendizagem; 2. Características das dificuldades de aprendizagem; 3. Relações gerais que influenciam a aprendizagem; 4. Considerações sobre avaliação das dificuldades de aprendizagem; 5. Dificuldades específicas de aprendizagem. Esperamos que, no final, você esteja apto(a) a reconhecer as possíveis dificuldades no processo de aprendizagem dos seus futuros alunos e contribuir para o melhor (re)direcionamento deles, na sua caminhada como aprendente. Objetivos » Entender a aprendizagem como um processo; » Identificar as variáveis e as influências desse processo; » Conceituar a dificuldade no processo de aprendizagem; » Reconhecer a presença de características pertinentes às dificuldades específicas. 7 introdução Este capítulo apresenta conceitos básicos sobre educação, aprendizagem e seus processos. Afinal, como entender a(s) dificuldade(s) sem esclarecer seus processos? Iremos trabalhar numa abordagem da aprendizagem do ponto de vista psicopedagógico e a partir da concepção genético-cognitiva. Psicopedagógico, pois se trata de uma nova perspectiva sobre a aprendizagem e seus processos, que diz respeito à proposta preventiva. Com as conceituações básicas, poderemos reportar ao embasamento teórico em diálogo com outras matérias numa visão transdisciplinar, até formar uma enriquecedora teia de conhecimentos! Objetivos » Conceituar aprendizagem e educação sob o olhar preventivo da psicopedagogia e da concepção genético-cognitiva; » Entender a aprendizagem como um processo interdependente, dinâmico e pessoal. 1 CAPÍTULO APREnDizAgEM E EDUCAçãO: COnSiDERAçÕES A PARtiR DO DESEnvOLviMEntO COgnitivO 8 CAPÍTULO 1 • APREnDizAgEM E EDUCAçãO: COnSiDERAçÕES A PARtiR DO DESEnvOLviMEntO COgnitivO Apresentação Aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido por meio da experiência constituída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente. De acordo com a nova ênfase educacional, centrada na aprendizagem, o professor é coautor do processo de aprendizagem dos alunos. Nesse enfoque centrado na aprendizagem, o conhecimento é construído e reconstruído continuamente. Construção mútua – professor e aluno. Aprendizagem pode ser definida de forma sintética como o modo como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento. Contudo, a complexidade desse processo dificilmente pode ser explicada apenas por meio de recortes do todo. Por outro lado, qualquer definição está, invariavelmente, impregnada de pressupostos politico-ideológicos, relacionados com a visão de homem, sociedade e saber. Quando a educação é construída pelo sujeito da aprendizagem, no cenário escolar prevalecem a ressignificação desses sujeito com novas formas de comunicação e a construção de novas habilidades, caracterizando competências e atitudes significativas. No entanto, na aprendizagem, há a participação, a mediação e a interatividade, porque há um novo ambiente de aprendizagem, com remodelação dos papéis dos atores e coautores do processo, desarticulação de incertezas e novas formas de interação mediadas pela orientação e facilitação dos caminhos a seguir. A educação, como interatividade, contempla tempos e espaços novos, com diálogo entre a problematização e a produção própria dos educandos. O professor exerce a sua habilidade de mediador das construções de aprendizagem. E mediar é intervir para promover mudanças. Como mediador, o docente passa a ser comunicador, colaborador e exerce a criatividade do seu papel de coautor do processo de aprender dos alunos. A educação no lugar da mediação, da facilitação e na criação de caminhos que favoreçam a aprendizagem. Entendemos, então, que a aprendizagem não depende somente do aluno, ela é efetivamente uma interlocução entre vários atores inseridos em um contexto próprio, no nosso caso, a escola. A escola, por sua vez, é reflexo da comunidade onde se situa e é para ela que a escola deve dirigir seus objetivos.Desenvolvimento e aprendizagem Por mais de vinte anos, as perguntas, por exemplo, “como aprendemos?” e “como conhecemos?” continuam questionando paradigmas educativos tradicionais e provocando uma série de mudanças http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade http://pt.wikipedia.org/wiki/Saber 9 APREnDizAgEM E EDUCAçãO: COnSiDERAçÕES A PARtiR DO DESEnvOLviMEntO COgnitivO • CAPÍTULO 1 nos enfoques, processos e práticas educativas. Por sua vez, esta situação renova o interesse de pedagogos, psicólogos, filósofos e biólogos não apenas no processo de aprender como nos seus respectivos objetos de conhecimento. As contribuições de Ausubel, Piaget, Vygotsky, entre muitos outros, permitem ampliar nossa compreensão sobre a aprendizagem, a cognição e os processos de construção de conhecimentos na sala de aula e geram reflexões em torno do papel do docente e do ensino que propiciam estabelecer um diálogo interdisciplinar com a pedagogia e com a didática. Neste sentido, a experiência e a investigação mostram que os processos de ensino e de aprendizagem constituem um corpo conceitual cada dia mais complexo e interdisciplinar. Utilizando esse conceito de desenvolvimento, entende-se, então, a aprendizagem como um processo de construção individual por meio do qual se faz uma interpretação pessoal e única da tal cultura. Desde esta perspectiva, os processos de aprendizagem não são uma mera associação de estímulos e respostas ou de acumulação de conhecimentos; são mudanças qualitativas nas estruturas e esquemas existentes de complexidade crescente (PIAGET, 1990). Aprender não quer dizer fazer uma interpretação e representação interna da realidade ou informação externa, mas fazer uma interpretação e representação pessoal de tal realidade. Isto faz com que o processo de aprendizagem seja único e “irrepetível” em cada caso. Esta construção individual não se opõe à interação pessoal, pelo contrário, as duas se complementam. Desenvolvimento Aprendizagem Igualmente ao desenvolvimento, a aprendizagem é um processo interno. Ninguém pode aprender por nós. Mas aprendemos graças aos processos de interação social com outras pessoas que atuam como mediadores dos conteúdos da cultura, estabelecidos no currículo escolar, graças aos processos de interação e de comunicação com os docentes e com seus pares. A aprendizagem cooperativa entre alunos demonstra ser também uma poderosa ferramenta para o seu desenvolvimento. Aprendizagem e desenvolvimento cognitivo O nível de competência intelectual de uma pessoa, em um determinado momento de seu desenvolvimento, depende da natureza de seus esquemas, do número deles e da maneira como se combinam e se coordenam entre si (COLL, 2004). Esquemas são os atos motores e/ou mentais que o indivíduo possui como repertório. O que fazemos e/ou pensamos diante de um estímulo ou situação. Levando em conta esse critério, Piaget concebe o desenvolvimento cognitivo como uma sucessão de estágios e subestágios caracterizados pela forma particular de como os esquemas – de ação ou conceituais – se organizam e se combinam entre si formando estruturas. 10 CAPÍTULO 1 • APREnDizAgEM E EDUCAçãO: COnSiDERAçÕES A PARtiR DO DESEnvOLviMEntO COgnitivO A psicologia genética identificou três grandes ESTÁGIOS ou períodos evolutivos no desenvolvimento cognitivo, que você seguramente já sabe ou já ouviu falar: o estágio sensório-motor, que vai do nascimento até aproximadamente os 18 ou 24 meses e culmina com a construção da primeira estrutura intelectual; um estágio de inteligência representativa ou conceitual, que vai dos 2 anos até mais ou menos 10 ou 11 anos aproximadamente e culmina com a construção das estruturas operatórias concretas e, finalmente, um estágio de operações formais, que se dirige para a construção das estruturas intelectuais próprias do raciocínio hipotético-dedutivo aos 15 ou 16 anos. Cada estágio marca o aparecimento de uma etapa de equilíbrio, uma etapa de organização das ações e das operações do sujeito. O equilíbrio próprio de cada etapa não é alcançado de súbito, mas precedido de uma etapa de preparação. Para se falar em “estágios”, é preciso entender três condições: a ordem de sucessão de cada estágio, embora as idades possam variar um pouco; as características próprias e a organização de cada estágio e que as estruturas do estágio anterior se integram ao seguinte. Com isso, apesar de o sujeito estar com as características pertinentes a um determinado estágio, podemos verificar características do estágio anterior. Essas “defasagens horizontais”, que Piaget identificou, indicam que as transições são mais complexas do que podemos pensar. Para passar de um estágio para outro, confrontamo-nos com situações de desequilíbrio. São elas que “empurram” nosso processo de desenvolvimento e aprendizagem, nos tirando da inércia dos nossos esquemas adquiridos, investindo em novas estruturas motoras e mentais. A visão de desenvolvimento organizado em estágios sucessivos, cujos níveis de equilíbrio podem ser descritos mediante estruturas lógicas, também determinam uma problemática no campo da aprendizagem: a medição das competências cognitivas de cada estágio. Seria ótimo se fosse assim tão simples, não é mesmo? Bastaria aplicar testes e quantificar cada um por meio de uma tabela. Só que, de todas as aprendizagens, será necessário estudar as que se aplicam às estruturas lógicas matemáticas; operacionais; linguísticas; sociais; de ordem prática. Além disso, sabemos que toda aprendizagem é uma relação mediada e, portanto, existe a presença do objeto mediador (VYGOTSKY, 1987). Logo, para Piaget (data), o processo de conhecimento é fundamentalmente interativo. O conhecimento desse objeto mediador só é feito por aproximações sucessivas que dependem dos esquemas mentais dos sujeitos. Esses esquemas mudam com o tempo e, por isso, existe a necessidade de elaboração por parte do sujeito. A herança genética, a experiência, o meio e a maturação dão suporte ao conhecimento que se desenvolve somente na interação. Além disso, se o conhecimento é fruto da interação entre sujeito e objeto, será essencialmente uma construção. É certo que a criança encontra objetos em seu ambiente físico e noções transmitidas por seu ambiente social; porém, segundo Piaget, não os adota tal e qual, mas os transforma e os 11 APREnDizAgEM E EDUCAçãO: COnSiDERAçÕES A PARtiR DO DESEnvOLviMEntO COgnitivO • CAPÍTULO 1 assimila a suas estruturas mentais (PIAGET, 1986). A ênfase de toda a concepção da psicologia genético-cognitiva é dada ao estudo da forma da aprendizagem, mais do que ao seu conteúdo; ao processo que o preside mais do que ao resultado. Condições para a aprendizagem As pesquisas de Piaget e seus colaboradores demonstraram que se pode facilitar a aquisição de noções ou operações diante de sessões de aprendizagem. Esses progressos comprovam que a aprendizagem pode ser adquirida e não depende somente de mecanismos internos e maturacionais para acontecerem. A aprendizagem operatória depende do tipo de atividades realizadas pelo sujeito Quando se comparam as aprendizagens baseadas em constatações empíricas com as que se baseiam em atividades que supõem uma coordenação de ações, nas quais o sujeito se exercita em uma tarefa próxima, logicamente com a noção que tem de aprender, os resultados indicam que a primeira forma de aprendizagem é mais ineficaz. Isso não quer dizer que as atividades baseadas nas experiências físicas e constatações empíricas não desempenham nenhum papel na aquisição de novos conhecimentos, mas são insuficientes para atender toda a demanda que um processo de aprendizagem requer. Afinal, queremos dos nossos alunos a capacidade de abstração reflexiva que permite extrair informações das coordenações de ações físicas e mentais, resultando então em pensamento. Portanto, as atividades oferecidas aos alunos desempenham papel importante na construção do seu conhecimento. A aprendizagem depende do nível cognitivo inicial dosujeito Por isso as aprendizagens necessitam recorrer à coordenação de ações não aprendidas diretamente nas experiências ou sessões experimentais. Aprendemos algo novo, sempre fazendo referência (ou tentando fazer) a alguma coisa já apreendida. Partindo dessa proposta, a nova aprendizagem fica mais fácil, pois partimos de algo conhecido, construindo um novo conceito, experimentando novos resultados. Por isso, a cada nova aprendizagem, dependemos do nível cognitivo que precede essa aprendizagem. De maneira geral, apenas avançam os sujeitos que se encontram em um nível operatório próximo ao da aquisição da noção que vão aprender. Piaget chamou de nível intermediário e Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento proximal, pois está no meio do caminho entre a ausência da noção e sua aquisição completa. Além disso, vale acrescentar que as pesquisas, feitas na época, demonstraram que as aprendizagens de fatos, ações, procedimentos práticos e sociais também dependem do nível cognitivo do sujeito. 12 CAPÍTULO 1 • APREnDizAgEM E EDUCAçãO: COnSiDERAçÕES A PARtiR DO DESEnvOLviMEntO COgnitivO Conflitos do Processo da Aprendizagem Ao analisar com certos detalhes a construção teórica do processo de aprendizagem, percebemos o aparecimento de conflitos do sujeito no seu caminhar. Ora, o estado de equilíbrio que o sujeito tem ou alcança a cada aprendizagem é posto em desequilíbrio a cada nova proposta. Além disso, cada nova aprendizagem desarruma uma série de “conhecimentos” em outras áreas, para arrumá-los com o novo conceito aprendido. O importante é que esse desequilíbrio seja momentâneo e que desempenhe um papel positivo na aquisição de novos conhecimentos. O erro, o conflito e sua resolução na aprendizagem mostram a existência de um processo de equilibração – que consiste em considerar uma série de compensações em face de desequilíbrios momentâneos até conseguir um novo equilíbrio graças a uma coordenação e a uma integração mais completa entre esquemas. Ainda buscamos as situações didáticas concretas nas quais a aprendizagem não depende somente do sujeito, mas também da maneira como ele atualiza sua competência de modo efetivo e do papel desempenhado em todo o processo pelo professor, que tenta exercer uma influência educativa. A perspectiva pedagógica Um dos resultados mais contundentes das pesquisas de Piaget e seus colaboradores é que a capacidade de aprendizagem depende do nível de desenvolvimento cognitivo do sujeito. A possibilidade de que o aluno consiga realizar uma determinada aprendizagem, obviamente, limitada por seu nível de competência cognitiva. Assim, por exemplo, sabemos que as crianças de nível pré-operatório não podem aprender as operações aritméticas elementares porque não possuem ainda os instrumentos intelectuais que essa aprendizagem requer; ou que as crianças que se situam em um nível de desenvolvimento concreto são incapazes de raciocinar sobre o possível e que, em consequência disso, dificilmente conseguem realizar aprendizagens específicas que impliquem conceitos de probabilidades ou acaso. É aconselhável, portanto, analisar os conteúdos da aprendizagem escolar com o objetivo de determinar as competências cognitivas necessárias para poder assimilá-los corretamente, principalmente, pensar o planejamento pedagógico adequado. Quando se força um aluno a aprender um conteúdo que vai além de suas capacidades, muito provavelmente o resultado, se é que se obtém um resultado, será puramente memorização mecânica ou a compreensão incorreta. Atenção É como arrumar uma estante ou o armário depois das compras. Às vezes, precisamos tirar tudo do lugar para reorganizar os produtos novos e antigos no mesmo lugar. A diferença é que, na nossa cabeça, esses conhecimentos interagem e formam novos conceitos! Não seria ótimo se os ingredientes do nosso armário de mantimentos entrassem em interação, transformando-se em deliciosos pratos? 13 APREnDizAgEM E EDUCAçãO: COnSiDERAçÕES A PARtiR DO DESEnvOLviMEntO COgnitivO • CAPÍTULO 1 Durante as últimas décadas, os programas escolares adaptaram, progressivamente, a complexidade conceitual dos conteúdos propostos e sua ordem de apresentação no âmbito de desenvolvimento médio dos alunos e, portanto, à sua capacidade de aprendizagem. Surgiram, então, as reformulações na educação infantil e o respeito pela sequência do desenvolvimento cognitivo, por exemplo. A adequação dos conteúdos às competências cognitivas dos alunos, porém, é um recurso didático que apresenta algumas limitações claras. A primeira tem sua origem no fato de que as idades médias, em que se alcançam os níveis sucessivos de competência cognitiva, têm apenas um valor indicativo. Embora a ordem seja constante para qualquer sujeito, existem variações com relação à idade média – que varia de três a quatro anos, dependendo do meio sociocultural e da história pessoal dos sujeitos. Assim, o sequenciamento dos conteúdos, com base nas idades médias em que os alunos alcançam as competências cognitivas necessárias para sua aprendizagem, pode dar lugar a desajustes importantes quando se aplica a casos particulares. Uma alternativa a tal dificuldade consiste em avaliar, antes de se começar o ensino, as competências cognitivas dos alunos, de maneira que seja possível determinar com precisão os conteúdos que podem assimilar e os que escapam às suas possibilidades reais de compreensão. Tal avaliação é realizada fazendo com que os alunos resolvam um conjunto de tarefas e provas operatórias, que não são senão uma versão padronizada das tarefas experimentais utilizadas originalmente por Piaget para estudar as competências intelectuais das crianças em sua pesquisa. Hoje são conhecidas como provas piagetianas. Porém esse tipo de avaliação apresenta alguns inconvenientes teóricos, metodológicos e práticos que dificultam extremamente sua utilização generalizada. Entre as dificuldades que tornam quase impossível sua generalização, podemos citar o elevado custo de tempo, devido à necessidade de avaliação individual; ausência de uma padronização das provas e de uma tipificação das condutas; existência de defasagens entre provas que teoricamente apresentam o mesmo nível de complexidade; domínio do método clínico-crítico de perguntas como requisito para sua aplicação; necessidade de conhecimento profundo da teoria genético-cognitiva para a interpretação dos resultados e, por último, dificuldades de conciliar os conteúdos pedagógicos e as noções exploradas na avaliação. Aí se encontra, então, o campo da psicopedagogia. A segunda limitação, tão importante quanto a primeira, é que, muitas vezes, não é fácil determinar com exatidão as competências cognitivas que atuam como requisitos na aprendizagem dos conteúdos escolares. Por exemplo, a aprendizagem de um aluno sobre o tema “sistema respiratório” ou “o município” é, obviamente, condicionada por sua capacidade cognitiva; dependendo do nível cognitivo em que estiver (pré-operatório, operatório concreto ou operatório), sua compreensão sobre o assunto vai variar. Não é fácil determinar, somente por essa constatação, em que momentos os conteúdos curriculares necessários da Saiba mais Para saber sobre a psicopedagogia, leiam A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática, de Nádia Bossa. 14 CAPÍTULO 1 • APREnDizAgEM E EDUCAçãO: COnSiDERAçÕES A PARtiR DO DESEnvOLviMEntO COgnitivO programação pedagógica devem ser introduzidos. A decisão terá que levar em conta, também, outros aspectos como as atividades prévias necessárias para a compreensão do conteúdo trabalhado, por exemplo. É muito importante ressaltar que a tomada de consciência de que os conteúdos escolares têm um alto grau de especificidade e, consequentemente, sua construção não podem ser entendidas somente como um reflexo das construções intelectuais propostas a partir dos níveis de desenvolvimento cognitivo. Alguns pesquisadores formularam maneiras inovadoras de adequar os conteúdosescolares e os níveis de construção psicogenética. Basicamente, eles estudaram como se constroem os conhecimentos escolares relativos a conteúdos pedagógicos típicos. Assim, se conseguimos saber com detalhes como os alunos constroem progressivamente o sistema da língua escrita (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999) ou o sistema das estruturas aditivas elementares (GROSSI, 2006), por exemplo, estaremos em condição não apenas de conseguir ajustes mais precisos de construção psicogenética, como também de intervir mais eficazmente para favorecer sua aquisição. Essa linha de trabalho abriu uma perspectiva promissora no panorama de aplicações da psicologia genética à educação escolar, mas com alcance prático ainda difícil. Funcionamento cognitivo e metodologia de ensino A explicação de Piaget de como se passa de um estado de menos conhecimento para um estado de conhecimento mais avançado oferece múltiplas sugestões para o ensino: a aprendizagem escolar não consiste em uma recepção passiva do conhecimento, mas de um processo ativo de elaboração; os erros de compreensão, provocados pelas assimilações incompletas ou incorretas do conteúdo, são degraus necessários e muitas vezes úteis desse processo ativo de elaboração; o ensino deve favorecer as interações múltiplas entre o aluno e os conteúdos que têm de aprender; o aluno constrói o conhecimento por meio das ações efetivas ou mentais que realiza sobre o conteúdo de aprendizagem. Junto a esses princípios que, algumas vezes, significaram um respaldo e um aprofundamento das formulações pedagógicas inovadoras, presentes no panorama educacional desde o início do século, o construtivismo genético deu lugar a duas interpretações globais do ensino e que tiveram uma ampla difusão. Chamaremos de “interpretação construtivista em sentido estrito” e “interpretação do desajuste ótimo” (KUHN, 1981). A interpretação construtivista, em sentido estrito, dá ênfase aos processos individuais e endógenos de construção do conhecimento, e apresenta a atividade autoestruturante do aluno – atividade cuja origem, organização e planejamento correspondem ao aluno – como o caminho melhor, se não único, para que este possa realizar uma verdadeira aprendizagem. Desse modo, a ação pedagógica terá como finalidade criar um ambiente rico e estimulante no qual ele possa se desenvolver sem limitações a sua atividade autoestruturante. As intervenções do professor deverão dirigir-se, fundamentalmente, para criar situações pedagógicas de tal natureza que os 15 APREnDizAgEM E EDUCAçãO: COnSiDERAçÕES A PARtiR DO DESEnvOLviMEntO COgnitivO • CAPÍTULO 1 alunos possam produzir “ideias maravilhosas” e possam explorá-las até onde forem capazes. A interpretação construtivista, em sentido estrito, inspirou programas pedagógicos principalmente para educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental. A interpretação do desajuste ótimo, por sua vez, dá ênfase à natureza interativa do processo de construção do conhecimento. A ideia principal é que, se o conteúdo que o aluno deve aprender está excessivamente distante de suas possibilidades de compreensão, não se produz desequilíbrio nenhum em seus esquemas ou se produzirá um desequilíbrio de tal natureza que qualquer possibilidade de mudança ficará bloqueada. Em ambos os casos, a aprendizagem será nula ou puramente repetitiva. Mas se o conteúdo que o aluno deve aprender está totalmente ajustado às suas possibilidades de compreensão, também não se produzirá desequilíbrio nenhum, e a aprendizagem será de novo nula ou limitada. Nos dois extremos, existe uma zona na qual os conteúdos ou atividades de aprendizagem são suscetíveis de provocar uma defasagem ótima, isto é, um desequilíbrio manejável pelas possibilidades de compreensão do aluno. É nesta zona que deve situar-se a ação pedagógica. Sintetizando Vimos neste capítulo: » A psicologia genética e sua concepção sobre os processos de aprendizagem e do desenvolvimento tiveram amplas repercussões sobre a teoria e a prática educacionais. » As limitações que colocamos são de ordem operacional e não intrínseca à teoria. » A psicologia genético-cognitiva concebe o desenvolvimento e a aprendizagem como resultado de uma interação constante entre o sujeito e o objeto. » Na aprendizagem escolar, a questão reside em saber como o professor pode exercer uma influência sobre o processo de aquisição do conhecimento dos seus alunos, atuando como mediador entre o conteúdo e eles. » A teoria cognitiva voltada para aprendizagem oferece uma descrição e uma explicação dos processos individuais de desenvolvimento do conhecimento do aluno. » A educação é uma atividade voltada essencialmente para o social, o relacional e o comunicativo entre seus participantes, produzindo o contexto da cultura no qual estão inseridos. » A arte do educador é relacionar a prática com a teoria, utilizando todos esses recursos em benefício do aprendente. 16 introdução Este capítulo abordará várias questões gerais sobre as dificuldades de aprendizagem. Apresentaremos as classificações e alguns levantamentos críticos a respeito dela. Discutiremos a tarefa, a criança e o ambiente como três elementos de um esquema para a compreensão das dificuldades de aprendizagem. Buscamos neste capítulo fazer uma revisão de literatura. Consideraremos como base da avaliação e intervenção o desempenho atual da criança em tarefas cognitivas. Objetivos » Fornecer uma visão sobre as questões práticas de avaliação que possam ser relacionadas às pesquisas teóricas de bases cognitivas. » Discutir o sistema cognitivo da criança, levando-se em conta os níveis de arquitetura cognitiva, do conhecimento da representação, do processo de informações e de execuções. » Introduzir bases teóricas para nosso próximo assunto. 2 CAPÍTULO AS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM: COnCEitOS, DEFiniçÕES, EtiOLOgiAS E DIFERENÇAS 17 AS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM: COnCEitOS, DEFiniçÕES, EtiOLOgiAS E DiFEREnçAS • CAPÍTULO 2 Apresentação Dificuldade de aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifesta por dificuldades significativas na aquisição e uso da recepção, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses transtornos são intrínsecos ao indivíduo, são atribuídos à disfunção do sistema nervoso central e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Junto com as dificuldades de aprendizagem, pode existir problema nas condutas de autorregulação, percepção social e interação social, mas não constituem, por si mesmas, uma dificuldade de aprendizagem. Ainda que as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes (por exemplo, deficiência sensorial, retardo mental, transtornos emocionais graves) ou com influências extrínsecas (tais como as diferenças culturais, instruções inapropriadas ou insuficientes) não são o resultado dessas condições ou influências (GARCIA-SANCHES, 1989). Tem muita controvérsia em relação ao que, exatamente, constitui uma DA. Sua definição envolve grupos heterogêneos de sintomas e, além disso, parece vaga e subjetiva. O único consenso se refere à característica de que há uma discrepância severa entre o que é esperado academicamente e o nível de desempenho apresentado. Mas o que constitui uma discrepância? Os especialistas tiveram que definir critérios para identificar DA, o que gerou uma grande diversidade no diagnóstico. A definição, citada anteriormente, realça alguns aspectos importantes: primeiro, refere-se ao conjunto variado de características, isto é, entre os sujeitos diagnosticados como tendo DA, podem ser encontrados subgrupos com déficits globais ou específicos em relação a uma ou outra das aprendizagens ou instrumentos básicos (linguagem oral, leitura, compreensão, escrita, soletração, cálculo ou raciocínio matemático). Segundo, refere-se às dificuldades intrínsecas ao indivíduo. Portanto, DA não se deve a influências extrínsecas (condiçõesfamiliares, escolares ou culturais...), sendo entendida como uma disfunção do sistema nervoso central. Apesar dessa postura de colocar em segundo plano as variáveis ambientais e valorizar o aspecto neurológico, vários autores destacam o processo contínuo de socialização em que o ser humano vive a partir do meio familiar. Em nosso país, existem milhares de crianças com o diagnóstico de DA. Pela sua própria conceituação, fica extremamente difícil determinar as causas biológicas, sociais ou ambientais. Afinal, o processo de aprendizagem do aluno é reflexo do seu estado biológico, social e ambiental. Como separá-lo? Temos um universo de situações intrínsecas e extrínsecas do aluno que pode levá-lo a uma situação de dificuldade no seu processo de aprendizagem. O importante nesse momento é apresentar aqui uma perspectiva de olhar sobre esse futuro aluno, a partir da abordagem cognitiva. Para identificarmos uma dificuldade de aprendizagem (DA), deve-se realizar uma avaliação para que possamos reconhecer a base do problema, as potencialidades do aluno e o processo que ele 18 CAPÍTULO 2 • AS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM: COnCEitOS, DEFiniçÕES, EtiOLOgiAS E DiFEREnçAS utiliza para aprender. Então, para avaliar ou intervir, necessitamos compreender as demandas que a tarefa escolar propõe para o sistema cognitivo do aluno e a capacidade do sistema de lidar com elas. Nossa maior preocupação é considerar o que de fato se sabe a respeito das demandas cognitivas de tarefas que envolvem linguagem, leitura e número e os problemas que as crianças com dificuldades de aprendizagem enfrentam frente a essas tarefas. Segundo Maria Lúcia Weiss (1997), a aprendizagem normal dá-se de forma integrada no aluno (aprendente), no seu pensar, sentir, falar e agir. Quando começam a aparecer “dissociações de campo” e sabe-se que o sujeito não tem danos orgânicos, pode-se pensar que estão se instalando dificuldades na aprendizagem: algo vai mal no pensar, na sua expressão, no agir sobre o mundo. Classificação das Dificuldades de Aprendizagem Os sistemas de classificação podem ter vários objetivos. Os do tipo etiológico estão preocupados com a classificação da DA a partir da causa ou origem, e os do tipo funcional levam em conta o nível atual de funcionamento, podendo lançar mão de várias formas de medidas (DOCKRELL; McSHANE, 2000). Os sistemas de classificação etiológica agrupam as dificuldades em função de sua causa. Este sistema é útil quando se quer examinar a variedade de dificuldade decorrente de uma etiologia particular. Também pode ser útil no prognóstico em longo prazo de uma dificuldade, uma vez que outras dificuldades já foram encontradas no passado. Dentro da classificação etiológica, ainda cabem dois subtipos: casos de causa identificada e casos de causa hipotetizada. Os de causa identificada se enquadram nas DA de origem biológica. Ou seja, algum comprometimento das vias sensoriais (visão, audição) e anormalidades motoras. A desvantagem desse tipo de classificação é que se pode ter dois alunos com a mesma etiologia, mas com desempenhos totalmente diferentes. No sistema de classificação funcional, a base passa a ser alguma medida do nível de desempenho atual da criança. Nos sistemas de classificação funcional, as crianças são classificadas pelo nível de desempenho, gerando dois grandes subgrupos: as crianças com dificuldades generalizadas e com dificuldades específicas. Nesse caso, enfrentamos outra questão: o método de distinção entre as dificuldades específicas e gerais em termos de discrepâncias dos perfis cognitivos. Em primeiro lugar, há várias limitações metodológicas na forma de registro dos escores das testagens formais. Em segundo lugar, o conceito de discrepância entre a realização e a aptidão nunca foi claramente operacionalizado. Em terceiro lugar, as crianças que inicialmente apresentam uma dificuldade de aprendizagem específica, algumas vezes, apresentam outra dificuldade decorrente da primeira. Por exemplo, uma criança com dificuldade de linguagem pode apresentar dificuldade na leitura, 19 AS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM: COnCEitOS, DEFiniçÕES, EtiOLOgiAS E DiFEREnçAS • CAPÍTULO 2 pois está baseada na linguagem. Além disso, essa criança também pode apresentar dificuldade na matemática, principalmente na interpretação de problemas e leitura de enunciados, em que se exige compreensão de leitura e interpretação. Dentro do histórico da classificação das DA, as crianças que apresentavam dificuldades escolares por problemas relacionados a condições específicas como deficiência visual, auditiva, mental, motora, também entravam nesse sistema da classificação, que acabava por confundir as abordagens educativas. Portanto, para esclarecer nosso objeto de estudo neste livro didático, vamos focar o aluno não deficiente, que não necessita de intervenção educativa especializada e que apresenta dificuldades de aprendizagem nas áreas de linguagem, leitura e/ou matemática. importante Para tentar simplificar, vamos adotar uma classificação simples, para facilitar o entendimento dos alunos: » Para as crianças com problemas na aprendizagem sem causa orgânica, classificaremos como crianças com DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM (que é o foco deste livro didático); » Para as crianças com problemas na aprendizagem com alguma causa orgânica (sensorial, física, mental), classificaremos de DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM. As Dificuldades de aprendizagem Para se compreender as razões que levam uma criança a ter um desempenho pior em determinada tarefa cognitiva que outras, devemos conhecer de maneira clara o que está envolvido na realização satisfatória da tarefa em questão e, então, usar esta compreensão para analisar onde está o problema das crianças com DA. Devemos compreender que não se trata de descrever os tipos de dificuldades que podemos encontrar, afinal, eles podem ser infinitos! Vamos entender aqui o que vamos avaliar ou investigar em um aluno que não consegue acompanhar o processo de aprendizagem escolar. As DAs ocorrem por diversas razões. Uma delas é que a criança apresenta alguma dificuldade cognitiva particular que faz com que seu aprendizado em certas habilidades se torne mais difícil que o normal. Entretanto, algumas dificuldades – talvez a maioria delas – são resultantes de problemas educacionais ou ambientais que não estão relacionados às habilidades cognitivas da criança (BOSSA, 2002). Estratégias educacionais ineficientes podem afetar gravemente o nível de aprendizado da criança (BRENNAN, 1979). Fracasso escolar precoce pode levar à perda da autoconfiança com efeitos subsequentes no aprendizado. Atenção Os tipos de dificuldades que estamos abordando são aqueles que impedem a realização educacional, como as dificuldades com linguagem, leitura e matemática. Vamos chamar essas áreas de domínios. Podemos encontrar dificuldades gerais de aprendizagem que são compartilhadas por vários domínios; mas processos específicos de cada domínio também podem estar envolvidos. 20 CAPÍTULO 2 • AS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM: COnCEitOS, DEFiniçÕES, EtiOLOgiAS E DiFEREnçAS Uma gama de variáveis associada ao ambiente familiar também contribui para as dificuldades de aprendizagem (RUTTER et al., 1970). Algumas vezes, todos os diferentes fatores estão interligados. Mas independentemente da causa primária, as crianças com DA estão defasadas em relação a seus colegas em aspectos importantes do aprendizado. As tarefas práticas consistem em determinar o porquê disso e então fazer algo para resolver a situação – que muitas vezes é uma tarefa bem difícil. Como já disse no início deste tópico, entender uma dificuldade de aprendizagem nos leva a uma análise de três situações: a tarefa (que o aluno precisa executar), a criança e o meio. Vamos começar com o primeiro. A tarefa A fim de compreender as exigências que uma tarefa coloca para uma criança, devemos realizar uma análise dessa tarefa. O objetivo de uma análise é decomporuma tarefa extensa em uma série de tarefas menores. Uma vez conhecidas essas tarefas menores, podemos determinar até que ponto uma criança com dificuldade pode realizar cada uma das subtarefas. Desta forma, tentamos identificar, o mais precisamente possível, a natureza da dificuldade. Vamos para um exemplo: pedir a uma criança para escrever o alfabeto. Parece uma tarefa simples e única, não é? Vamos supor que o aluno não a execute, por algum motivo. Dentro da perspectiva cognitiva, subdividiremos a tarefa em pequenas etapas para verificar o que o aluno consegue fazer. Podemos, então, solicitar a tarefa de forma oral e em ordem decrescente de dificuldade, até o nível do desenho pré-gráfico. Desse modo, entendemos que uma tarefa que, inicialmente parece simples, pode ser ainda subdividida em etapas para a análise da sua execução. Nem todas as tarefas são fáceis de serem analisadas. O que aconteceria se a dificuldade fosse a linguagem falada, por exemplo? Deveríamos também decompor a tarefa, mas para isso precisamos saber sobre como funciona o sistema linguístico. Afinal, como subdividir uma coisa que não sabemos nem como funciona por inteiro? A criança Durante a leitura deste livro didático, consideraremos que o sistema cognitivo da criança será discutido em termos de sua habilidade para processar a informação e não em termos do seu poder quantitativo. Uma vez entendido o desenvolvimento cognitivo da criança que não apresenta dificuldade de aprendizagem, podemos questionar de que forma o desenvolvimento das crianças com dificuldades se processa. Para refletir É nessa parte que o conhecimento sobre o desenvolvimento esperado passa a ser relevante. Ao analisarmos como a criança funciona, teremos diretrizes e poderemos conhecer qual é o funcionamento da criança com dificuldades de aprendizagem. 21 AS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM: COnCEitOS, DEFiniçÕES, EtiOLOgiAS E DiFEREnçAS • CAPÍTULO 2 Atenção É nessa parte que o conhecimento sobre o desenvolvimento esperado passa a ser relevante. Ao analisarmos como a criança funciona, teremos diretrizes e poderemos conhecer qual é o funcionamento da criança com dificuldades de aprendizagem. Isso quer dizer que valorizaremos a qualidade do seu processo e não a quantidade do seu rendimento. Além dos processos cognitivos fundamentais para a tarefa, há uma variedade de outros processos mentais que afetam o desempenho da criança. Isso inclui processos de execução e de motivação que podem ser vistos como mecanismos de controle na regulagem do sistema cognitivo. As crianças com dificuldades de aprendizagem, em geral, apresentam estratégias de execução pobres e motivação reduzida para tentar resolver determinada tarefa, por causa da sua história de fracassos. O meio O meio é o contexto no qual a tarefa e as crianças interagem. A compreensão do meio é importante em dois aspectos. Primeiro, o meio pode ser, em alguns casos, o fator agravante principal do problema de uma criança. Segundo, mesmo que o meio não seja um fator que contribui para uma DA, muitas vezes é possível modificá-lo de tal maneira que facilite a aquisição da habilidade que a criança não tem. O meio consiste no mundo externo físico e social. Há diferentes níveis em que se pode discuti-lo. Bronfenbrenner (1979 apud DOCKRELL; McSHANE, 2000) propôs um modelo de quatro partes que é útil para considerar os quatro níveis. Figura 1. Fonte: Bronfenbrenner (1979 apud DOCKRELL; McSHAnE, 2000). 22 CAPÍTULO 2 • AS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM: COnCEitOS, DEFiniçÕES, EtiOLOgiAS E DiFEREnçAS Vamos às explicações sobre o modelo proposto pelo autor: » Criança – idade, sexo, saúde e suas informações pessoais; » Microssistema – refere-se às relações entre a criança e seu meio imediato como, por exemplo, família, escola, amigos e colegas, grupos sociais; » Mesossistema – refere-se à rede de inter-relações das situações no meio imediato da criança; » Exossistema – refere-se ao contexto social que afeta a criança, mas não a atinge de maneira direta como, por exemplo, extensão da família, vizinhos, amigos da família; » Macrossistema – refere-se às atitudes, aos valores morais, crenças e ideologias de uma cultura: ambiente socioeconômico e cultural. O interessante no modelo de Bronfenbrenner é que ele enfatiza tanto a situação física quanto os relacionamentos entre os indivíduos nesta situação. As relações sociais em um microssistema podem determinar o sucesso ou o fracasso das atividades. Por exemplo, programas pedagógicos bem estruturados podem não dar certo se a relação entre a criança e o professor não promover cooperação e participação. A intervenção direta nas DAs, em geral, se dá em situações específicas: na sala de aula ou em atendimentos especializados e por período de tempo limitado. Isso constitui um microssistema em que a criança habita. As crianças se deparam com diversos outros microssistemas no seu dia a dia. Quanto mais a intervenção abordar habilidades que possam ser praticadas em outros microssistemas, maior será o seu êxito e sua eficácia. O desenvolvimento da leitura é um bom exemplo disso. A leitura é essencialmente aprendida na escola, mas a quantidade e o tipo de apoio que é dado em casa afeta significativamente o progresso da criança. Esse exemplo também serve para ilustrar o que o autor chamou de mesossistema: situação onde ocorre a atividade justamente decorrente de outros eventos em outros meios. A tarefa, a criança e o meio constituem os elementos de um modelo que pode ser montado com base na conceitualização das DAs. Entretanto, ao lidar com os aspectos práticos das dificuldades, o professor se depara com uma criança que tem dificuldade em certa tarefa em sala de aula. Deve-se, então, conduzir seu aprendizado com os recursos disponíveis deste meio. O modelo que propomos aqui é interativo. Queremos reforçar que o processo serve apenas de modelo e não uma fórmula rígida a ser seguida ou aplicada. Há várias outras considerações adicionais ou paralelas a serem feitas por diferentes autores que trabalham e escrevem sobre as DAs. Apenas uma parte muito pequena dos recursos disponíveis é apresentada neste livro, descrita Atenção Na prática, isto quer dizer que a apresentação das tarefas será mais bem executada se respeitar a interação cognitiva do aluno, a fim de determinar onde se encontra a dificuldade ou em que parte do processo de execução da tarefa ele tem mais dificuldade. 23 AS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM: COnCEitOS, DEFiniçÕES, EtiOLOgiAS E DiFEREnçAS • CAPÍTULO 2 a partir de referências teóricas consagradas e experiência profissional clínica e institucional do autor de quase 20 anos. A dica principal deste capítulo é: não tentem encontrar culpados nesta história. Compartilhem com seus alunos que apresentam DA o desejo de construir pontes para atravessarem, juntos, o espaço que existe entre o aluno e o conhecimento. Para refletir “Na verdade, os rótulos pouco favorecem (na verdade, desfavorecem) o atendimento de necessidades e características pessoais dos alunos. Eles geram expectativas, na maior parte negativas, e limitam as ações e interações. Ou seja, os rótulos pouco contribuem para uma prática pedagógica comprometida com o desenvolvimento afetivo-cognitivo do aluno e com transmissão/assimilação de conhecimentos.” (CAMPOS, 1997) Sintetizando Vimos neste capítulo: » As DAs afetam um número substancial de crianças em nossa sociedade. Essas dificuldades são heterogêneas, podendo ser leves, moderadas ou graves. Gerais ou específicas, de curta ou longa duração; » As DAs podem ser classificadas de várias formas. A mais relevante está relacionada à base cognitiva. Assim, os processos de intervenção procuram afetar o funcionamento cognitivo; » A avaliação do aluno que apresenta DAs deve apresentar um perfil das suas potencialidades e não um foco sobre suas dificuldades; » Frente às demandas do processamento das tarefas, às funções do meio e à análise cognitivado aluno, o modelo formal nos fornece a fundamentação essencial para as estratégias a serem empregadas nos alunos com DA; » Devemos abolir os preconceitos e rótulos sobre os alunos com DA. Uma vez que entendemos que cada aluno possui seu próprio mecanismo para processar a informação, as possibilidades de ajuda se tornam ilimitadas, frente a um olhar sobre suas dificuldades. 24 introdução Este capítulo aborda o processo de identificação e análise das dificuldades de aprendizagem (DAs). Vamos discutir os problemas presentes na identificação da DA e na especificação da origem da dificuldade em questão. O processo de avaliação está intimamente ligado aos modelos de aprendizagem, nós levamos em consideração a variedade de abordagens que podem ser usadas para identificar o problema de uma criança. Objetivos » Fornecer as possibilidades avaliativas do processo de aprendizagem de uma criança com DA; » Considerar a importância de se fazer da avaliação um processo contínuo. 3 CAPÍTULO BREvES COnSiDERAçÕES SOBRE A AvALiAçãO DAS DiFiCULDADES DE APRENDIZAGEM 25 BREvES COnSiDERAçÕES SOBRE A AvALiAçãO DAS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM • CAPÍTULO 3 Apresentação No capítulo anterior, identificamos três aspectos importantes para nossa análise das DAs – a tarefa, a criança e o meio. A avaliação é um processo de coleta de informações para um objetivo específico. Trata-se de um processo de direcionamento da tomada de decisões sobre uma criança, identificando seu perfil de potencialidades e suas necessidades. Muitas vezes esse processo avaliativo é feito por um especialista, em sessões individuais, em outro meio que não a sala de aula. Minha intenção é compartilhar com vocês as possibilidades avaliativas e encorajar sua prática pedagógica com estratégias psicopedagógicas. A avaliação deve estar voltada para as hipóteses levantadas e essas devem ser baseadas na compreensão da criança e dos componentes cognitivos das dificuldades de aprendizagem, bem como na análise do meio onde a criança aprende naquele momento. Avaliação não é sinônimo de testagem, apesar de uma testagem adequada poder ser uma das formas componentes de um processo avaliativo. Na verdade, o resultado isolado de um teste não tem praticamente nenhum valor. identificação do Problema A identificação de um problema nem sempre se dá de maneira direta. Em geral, é necessário que se faça uma comparação entre o desenvolvimento da criança e o de seus colegas. Na identificação do problema, muitos acreditam que as DAs apresentadas devem servir como critério para localizar o problema. Até ajudam, mas é muito difícil definir um padrão comum que abranja todas as variáveis de como uma DA pode afetar uma criança. Problemas prévios de desenvolvimento podem servir como dados para análise, mas a performance atual é fator decisivo para sua identificação. Os problemas na aprendizagem podem se apresentar de diferentes formas. Algumas crianças são identificadas porque seu desempenho fica abaixo da média dos colegas em determinada tarefa (ou tarefas). Outras são encaminhadas para os profissionais por sua alteração de comportamento. Observações informais como incapacidade para responder, imaturidade e incapacidade para seguir ordens podem ser indicações de que a criança está apresentando dificuldades no processo de aprendizagem. Obviamente, é importante que se considere o comportamento específico dentro do contexto em que está ocorrendo. Geralmente, pais e professores são os primeiros a notarem algum tipo de problema. Os pais têm grande riqueza de experiências de desenvolvimento vividas com a criança: podem vê-la agindo em uma grande variedade de situações e estão em posição privilegiada para notar problemas. Os professores podem observar o desempenho da criança em situações de grupo, em tarefas específicas e quais recursos a criança necessita para executá-la. Um professor pode, ainda, observar o tempo que a criança leva para terminar uma atividade. 26 CAPÍTULO 3 • BREvES COnSiDERAçÕES SOBRE A AvALiAçãO DAS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM Quadro 1. Possíveis fatores que contribuem para problemas na leitura e os níveis potenciais de investigação Localização do problema Nível de investigação Material de leitura inadequado Professor e aula Equipe de ensino inadequada Organização da escola Dificuldade de decodificar letras para sons A criança Falta de experiência com a leitura Relação casa-escola Fonte: a autora. triagem Nem sempre é possível identificar um problema em casa ou na sala de aula. Além disso, há grande variabilidade tanto na percepção que os pais e os professores têm dos problemas quanto na sua tolerância a eles. Esses dois fatores podem levar a dois extremos: a não identificação da necessidade de avaliação ou o rótulo equivocado de criança com DA. A fim de tentar equiparar as diferenças entre os indivíduos, o procedimento da triagem foi amplamente introduzido em várias áreas. A triagem é um procedimento largamente usado na medicina. Grandes populações são analisadas para se identificar indivíduos que apresentam problemas específicos ou que podem sentir dificuldades futuras. O teste do pezinho é um bom exemplo desse tipo de triagem. Na educação (principalmente na educação especial), o objetivo da triagem é identificar as crianças “de risco” para problemas na aprendizagem. Uma vez que a triagem envolve um grande grupo de crianças, o processo não é personalizado. Por isso é possível adaptá-lo mais facilmente à realidade escolar. No ambiente escolar, a triagem é um processo em que os resultados dos testes ou as notas atribuídas pelos professores são usados para identificar crianças que necessitam de posteriores avaliações e de um possível encaminhamento para intervenção especializada. Avaliação O processo de avaliação, em geral, engloba a testagem formal das habilidades cognitivas da criança e suas aquisições escolares. Essas avaliações são usadas para confirmar se o desenvolvimento da criança está alterado ou atrasado. Na situação educacional, a avaliação cumpre as seguintes funções: tenta detectar se uma DA existe de fato, que dificuldade é essa, por que ela existe e quais as diferenças entre essa dificuldade e as demais vividas pela criança. O cuidado é evitar a tendência entre os educadores de perceber potencialidades e fraquezas semelhantes em crianças rotuladas quando, na verdade, elas são bem diferentes. Cada criança que apresenta um problema de aprendizagem tem um universo único e uma forma individual de lidar com ele. Mesmo com vasta experiência, devemos construir um olhar avaliativo livre de preconceitos para cada aluno a ser avaliado. 27 BREvES COnSiDERAçÕES SOBRE A AvALiAçãO DAS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM • CAPÍTULO 3 Acredita-se que a avaliação deva ser uma atividade em que se coletam informações precisas e confiáveis a respeito de determinada competência individual. Deve-se começar com o objetivo de testar as hipóteses levantadas e, com o andamento do processo, outras hipóteses deverão ser consideradas. Não é adequado investigar somente a criança, mas considerar o contexto onde ela se encontra é importante. Afinal, como já falamos, nem sempre o problema se encontra na criança. A avaliação voltada para a busca da interação da criança com seu processo de aprendizagem não a rotula, pois não estamos atrás dos erros e das falhas. Acreditamos que o problema não seja só da criança, mas resultado da interação dinâmica entre a criança, a tarefa e seu meio. Quando se rotula a criança, corre-se o risco de diminuir as chances de seu desenvolvimento individual. Podemos usar três tipos de ferramentas, isoladas ou em conjunto, para ajudar a identificação de alguns fatores envolvidos: testes padronizados De ordem quantitativa, visam obter medidas de desempenho. Estes testes medem o produto da dificuldade de aprendizagem e servem como indicador das diferenças existentes entre a criança e seus pares em um determinado conjunto de tarefas. Não oferecemconexão imediata com as possíveis intervenções, pois não fornecem detalhes sobre o que a criança sabe ou não, nem esclarecem sobre o processo envolvido na execução da atividade. Sua vantagem é a capacidade de serem repetidos com confiabilidade e validação. testes com critérios de referência Estão relacionados com as habilidades necessárias para completar uma tarefa. Usa-se um conjunto de critérios previamente especificado para avaliar a criança. Este tipo de teste ajuda na identificação ou não de determinada habilidade ou competência e possibilita a análise do padrão de erro. Vamos a um exemplo: analisar um aluno com dificuldades na aritmética. O que faríamos? Uma lista de continhas com as operações matemáticas que ele já deveria saber, não é mesmo? Pois é, com a proposta do uso dos critérios de referência, a avaliação seria assim: Quadro 2. itens desejáveis para avaliação com critérios de referência para aquisição matemática. Tarefa específica Habilidade adquirida Data Adição com 1 dígito s/ transporte Adição com 1 dígito c/ transporte Adição com 2 dígitos s/ transporte Adição com 2 dígitos c/ transporte Subtração com 1 dígito s/ empréstimo 28 CAPÍTULO 3 • BREvES COnSiDERAçÕES SOBRE A AvALiAçãO DAS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM Tarefa específica Habilidade adquirida Data Subtração com 1 dígito c/ empréstimo Subtração com 2 dígitos s/ empréstimo Subtração com 2 dígitos s/ empréstimo Fonte: Nesse caso, não há um único teste, como um protótipo. A ferramenta dos critérios de referência dependerá da natureza do domínio da tarefa. Para construirmos os critérios da tabela, por exemplo, é necessário termos conhecimento do desenvolvimento normal das funções matemáticas. Assim, para desenvolver um instrumento com critérios de referência para leitura, devemos saber quais são as habilidades que constituem a leitura. Experimentos de ensino Quando um teste com critérios de referência não existe ou não fornece informações detalhadas o suficiente, ou ainda, quando a criança pode vir a ser afetada pelos limites do teste padronizado, podemos desenvolver experimentos de ensino. Este tipo de situação enfoca a criança individualmente e a interação da habilidade de processamento da informação em determinada situação. Usando a aprendizagem como técnica de avaliação, podemos utilizar o modelo teste-ensino-teste para medir a habilidade de um indivíduo para reter o conteúdo do material e transferir os princípios aprendidos para novas tarefas. Se já existe um teste com critérios de referência, ele pode servir como indicador de onde iniciar o ensino. Esta abordagem faz com que o profissional seja preciso sobre os componentes da tarefa, tornando a avaliação relevante e significativa. Além disso, com esse modelo, é possível avaliar a tarefa, a criança e o meio, simultaneamente, dentro do contexto da DA. Porém, como não há padrões externos (como os critérios e os testes formais), não é possível generalizar as conclusões para outras tarefas ou contextos. O experimento de ensino proporciona adaptações nas atividades com o objetivo de elucidar quais os melhores caminhos para a execução de determinada atividade pelo aluno. As crianças, que não conseguem aprender, não são necessariamente não inteligentes; podem estar simplesmente respondendo a um ambiente familiar ou a uma instituição educacional que não lhes dá muita opção. A consistência no desempenho pode, algumas vezes, ser reinterpretada de maneira correta frente à consistência do meio. Nos sistemas tradicionais da avaliação, a tendência é ignorar a interação do ensino e da aprendizagem, colocando toda a responsabilidade nas costas da criança. No passado, os modelos de avaliação de processo e de análise de tarefa eram tratados separadamente, apesar de ambos serem exemplos de uma abordagem investigativa. Não nos preocupávamos em saber como o aluno chegou àquele resultado, mas se ele fez certo ou errado. Com ajuda ou sozinho. Se a tarefa foi fácil ou difícil. Atenção Por exemplo, na matemática, haverá alguma atividade na qual os processos são específicos, como as propriedades da adição e somente para ela. Porém, para entender o processo da multiplicação, é necessário o entendimento pleno da adição e para entender os processos da divisão, precisamos dos entendimentos da adição e da multiplicação. 29 BREvES COnSiDERAçÕES SOBRE A AvALiAçãO DAS DiFiCULDADES DE APREnDizAgEM • CAPÍTULO 3 Tarefa específica Habilidade adquirida Data Subtração com 1 dígito c/ empréstimo Subtração com 2 dígitos s/ empréstimo Subtração com 2 dígitos s/ empréstimo Fonte: Nesse caso, não há um único teste, como um protótipo. A ferramenta dos critérios de referência dependerá da natureza do domínio da tarefa. Para construirmos os critérios da tabela, por exemplo, é necessário termos conhecimento do desenvolvimento normal das funções matemáticas. Assim, para desenvolver um instrumento com critérios de referência para leitura, devemos saber quais são as habilidades que constituem a leitura. Experimentos de ensino Quando um teste com critérios de referência não existe ou não fornece informações detalhadas o suficiente, ou ainda, quando a criança pode vir a ser afetada pelos limites do teste padronizado, podemos desenvolver experimentos de ensino. Este tipo de situação enfoca a criança individualmente e a interação da habilidade de processamento da informação em determinada situação. Usando a aprendizagem como técnica de avaliação, podemos utilizar o modelo teste-ensino-teste para medir a habilidade de um indivíduo para reter o conteúdo do material e transferir os princípios aprendidos para novas tarefas. Se já existe um teste com critérios de referência, ele pode servir como indicador de onde iniciar o ensino. Esta abordagem faz com que o profissional seja preciso sobre os componentes da tarefa, tornando a avaliação relevante e significativa. Além disso, com esse modelo, é possível avaliar a tarefa, a criança e o meio, simultaneamente, dentro do contexto da DA. Porém, como não há padrões externos (como os critérios e os testes formais), não é possível generalizar as conclusões para outras tarefas ou contextos. O experimento de ensino proporciona adaptações nas atividades com o objetivo de elucidar quais os melhores caminhos para a execução de determinada atividade pelo aluno. As crianças, que não conseguem aprender, não são necessariamente não inteligentes; podem estar simplesmente respondendo a um ambiente familiar ou a uma instituição educacional que não lhes dá muita opção. A consistência no desempenho pode, algumas vezes, ser reinterpretada de maneira correta frente à consistência do meio. Nos sistemas tradicionais da avaliação, a tendência é ignorar a interação do ensino e da aprendizagem, colocando toda a responsabilidade nas costas da criança. No passado, os modelos de avaliação de processo e de análise de tarefa eram tratados separadamente, apesar de ambos serem exemplos de uma abordagem investigativa. Não nos preocupávamos em saber como o aluno chegou àquele resultado, mas se ele fez certo ou errado. Com ajuda ou sozinho. Se a tarefa foi fácil ou difícil. Atenção Por exemplo, na matemática, haverá alguma atividade na qual os processos são específicos, como as propriedades da adição e somente para ela. Porém, para entender o processo da multiplicação, é necessário o entendimento pleno da adição e para entender os processos da divisão, precisamos dos entendimentos da adição e da multiplicação. Em vez de enfocarmos somente a dificuldade da criança, passamos a entender seus processos para a execução da tarefa e o que ela precisa para executá-la com independência. Devemos realizar avaliações voltadas às habilidades funcionais e aos comportamentos essenciais da vida escolar e social das crianças. Isso não significa que haverá apenas um único déficit processual responsável por todas as dificuldades de aprendizagem, nem que haverá um déficit específico que necessariamente responderápor todos os problemas de determinada área. Devemos pensar no ensino, tendo em mente o que já sabemos sobre as dificuldades de aprendizagem. Assim, trabalharemos no nível preventivo, minimizando as situações de risco no processo de aprendizagem das crianças. importante Como eu disse no começo deste capítulo, o processo avaliativo, normalmente, é feito por um especialista, porém nada impede de instrumentalizar o professor com informações básicas sobre o que e como outras áreas afins lidam com a questão. Isso é totalmente transdisciplinar! Sintetizando » Os avanços atuais sobre a compreensão do desenvolvimento cognitivo criaram uma mudança significativa de orientação nas dificuldades de aprendizagem; » O processamento da informação nos fornece um esquema para o entendimento dos vários requisitos necessários para a realização bem-sucedida de uma tarefa e para a identificação de possíveis processos que produzam dificuldades; » As DAs devem ser abordadas de acordo com o nível atual de desempenho da criança. A avaliação deve incluir uma análise do meio, da tarefa e considerações sobre os processos da criança; » Para a avaliação, podemos usar os testes com normas e os testes com critérios de referência. O primeiro fornece poucos dados sobre a natureza do problema, e o segundo ajuda a determinar a intervenção mais adequada na compreensão dos processamentos de informação da tarefa; » Devemos prestar especial atenção à interação entre determinadas áreas do conhecimento e as estratégias que podem ser aplicadas para manipular as representações. 30 introdução Neste capítulo abordaremos as dificuldades específicas de processamento da linguagem. Primeiro, faremos a distinção entre atraso e distúrbio da linguagem. Em seguida, faremos um breve resumo sobre os componentes que formam o sistema linguístico: fonologia, léxico, sintaxe, semântica e pragmática. As explicações sobre as dificuldades de linguagem sempre enfatizam fatores internos e externos do sistema linguístico. Objetivos » Discutir sobre o sistema linguístico: base para o entendimento das suas dificuldades; » Relacionar o desenvolvimento linguístico normal aos tipos de dificuldades que podem ocorrer com seus componentes; » Considerar o papel dos fatores externos ao sistema linguístico, divididos em três categorias: memória ativa, processamento auditivo e processos cognitivos. 4 CAPÍTULO DiFiCULDADES ESPECÍFiCAS DE APREnDizAgEM: A LingUAgEM 31 DiFiCULDADES ESPECÍFiCAS DE APREnDizAgEM: A LingUAgEM • CAPÍTULO 4 Apresentação As dificuldades de linguagem são problemas ou distúrbios na compreensão ou na produção da comunicação (principalmente a falada). A ASHA – American Speech-Language-Hearing Association (Associação Americana de Fonoaudiologia) dá a seguinte definição para as dificuldades de linguagem: Um distúrbio de linguagem é caracterizado pela aquisição, compreensão ou expressão anormais da língua falada ou escrita. O distúrbio pode envolver todos ou alguns componentes do sistema linguístico. Os indivíduos com distúrbios da linguagem, frequentemente, apresentam problemas no processamento de frases ou na abstração de informações significativas para armazenagem ou recuperação na memória de curto ou de longo prazo (ASHA, 1980). Portanto, as dificuldades de linguagem não se restringem somente à expressão de palavras com trocas ou omissões, mas como o discurso é processado, desde a sua elaboração, enquanto pensamento, até a sua emissão como fala. Quando notamos uma criança que fala “errado”, isso já é um indicativo de que há alguma coisa errada com o sistema linguístico. É evidente que não sabemos a razão do seu surgimento e nem da sua manutenção. As dificuldades de linguagem podem ocorrer por várias razões. Algumas de causa orgânica como as paralisias cerebrais, perda auditiva, lesão neurológica. Outras vezes, a criança foi precocemente estimulada de forma inadequada, dificultando o desenvolvimento normal da linguagem. Em alguns casos, as dificuldades linguísticas são uma das manifestações de um problema maior de aprendizagem e de funcionamento cognitivo. Há, ainda, um grande grupo de crianças que apresenta dificuldades linguísticas na ausência de qualquer uma dessas causas. A identificação dessas dificuldades é problemática. Passa pela sensibilidade que os responsáveis pela criança têm para reconhecer que o desenvolvimento da linguagem não ocorre dentro do esperado normal. Além disso, há uma grande diversidade na velocidade pela qual as crianças adquirem linguagem. Portanto, não há um ponto exato que divide o desenvolvimento normal daquele que passa a causar preocupação (DOCKRELL; McSHANE, 2000). Atraso X Distúrbio Geralmente um atraso no desenvolvimento da linguagem é o primeiro indicador de uma dificuldade linguística. Vários comportamentos já foram apontados como indicadores de atraso: atraso no surgimento da fala aos 18 meses, fala ininteligível na idade escolar, entre outros. As dificuldades, entretanto, são sutis e nem sempre registradas pelos instrumentos de medida existentes. 32 CAPÍTULO 4 • DiFiCULDADES ESPECÍFiCAS DE APREnDizAgEM: A LingUAgEM A diferença entre o distúrbio e o atraso é que parece que o curso do desenvolvimento nos distúrbios segue um padrão diferente do normal. Não se trata apenas de um atraso cronológico ou processual, mas de uma evolução atípica com processos anormais e discrepâncias entre as habilidades linguísticas. Porém o desenvolvimento atípico não é uma distinção fácil de operacionalizar. Os padrões atípicos são definidos de maneira diferente por vários pesquisadores. Classificação Não há um sistema de classificação das dificuldades linguísticas que conte com uma aprovação unânime. A classificação pode ser etiológica ou funcional. A etiologia pode ser conhecida ou não. Quando a causa etiológica é conhecida, podemos obter informações bem precisas (BISHOP, 1987). Algumas crianças apresentam um desenvolvimento da linguagem lento e alterado e total ausência de critérios etiológicos, acarretando um problema especial para o sistema de classificação. Alguns termos usados como disfasia de desenvolvimento, distúrbio específico de desenvolvimento da linguagem ou comprometimento específico de linguagem são usados para nomear as crianças com problemas linguísticos na ausência de fatores explicativos (BISHOP, 1987). Para organizar essa ausência de critérios de classificação, é necessário estabelecer a base do sistema linguístico para tentar entender as dificuldades. Caso contrário, corre-se o risco de gerar tantos novos subgrupos quanto o número de crianças que passarem em sala de aula. O Sistema Linguístico O principal objetivo da linguagem é a comunicação, mas a comunicação depende da estrutura do sistema linguístico, portanto, devemos ter a noção dos componentes que constituem a linguagem e o uso comunicativo do sistema linguístico. A linguagem é construída em torno das palavras. O arquivo de palavras que uma pessoa possui é chamado de LÉXICO. As palavras contêm uma estrutura sonora interna, chamada de FONOLÓGICO, que podem ser combinadas para formar frases, constituindo assim, o SINTÁTICO. Estas palavras, organizadas em frases, são carregadas de significado – o campo SEMÂNTICO. Aqui, o assunto se torna um pouco mais complexo, pois não basta simplesmente colocar juntos os significados de palavras. A relação entre esse significado, organizado pela estrutura sintática, deve ter relação com as demais frases para ter um significado semântico. A forma como o ouvinte recebe e interpreta as intenções do falante, utilizando toda a estrutura que descrevemos, é denominada PRAGMÁTICA. 33 DiFiCULDADES ESPECÍFiCAS DE APREnDizAgEM: A LingUAgEM • CAPÍTULO 4 Léxico, fonologia, sintaxe, semântica e pragmática constituem as várias representações disponíveis para o uso durante a fala e a recepção. São interdependentes e interagem no processo global de compreensão e produção da fala. Acredito que um esquema facilitaráo entendimento do que acabo de descrever: Figura 2. Fonte: (DOCKRELL; McSHAnE, 2000) Os problemas de linguagem se apresentam de diferentes formas. Pelo esquema anterior, podemos notar que são várias as etapas em que a criança pode apresentar alguma dificuldade. Ao considerarmos os problemas como sendo de linguagem, é preciso identificar quais componentes específicos do sistema estão apresentando dificuldade ou pelo menos desconfiar. As causas para essas dificuldades ainda são difíceis de precisar. O motivo é a própria complexidade do sistema linguístico e sua extensão interativa com o desenvolvimento cognitivo. A linguagem é uma função cognitiva nobre e específica do ser humano. Didaticamente, vamos separar as 34 CAPÍTULO 4 • DiFiCULDADES ESPECÍFiCAS DE APREnDizAgEM: A LingUAgEM dificuldades em dois grandes blocos: (1) as dificuldades com o sistema de linguagem e (2) as dificuldades externas ao sistema de linguagem. Dificuldades com o Sistema de Linguagem As crianças podem apresentar dificuldades isoladas em um componente, apesar de ser mais comum a presença das dificuldades em uma série de componentes, variando de grau de gravidade, tanto na compreensão quanto na produção. Para facilitar o entendimento das dificuldades em cada área, faremos um pequeno resumo sobre o desenvolvimento de cada uma, seguida, então, da explicação dos problemas. Estrutura fonológica das palavras As palavras contam com uma estrutura sonora interna que pode ser analisada em diferentes níveis: tonicidade, estrutura silábica e estrutura fonológica. Os fonemas são as unidades sonoras individuais que compõem uma palavra. Nós pensamos fonologicamente e falamos foneticamente. Geralmente as letras (grafemas) estão intimamente, mas não perfeitamente, relacionadas aos fonemas. Apesar de os fonemas serem unidades sonoras básicas que carregam significado, não são os elementos principais da língua. Isso pode ser exemplificado com o uso do fonema /s/ nas palavras sapo e casa. A teoria fonológica explica que existe uma regra de pronúncia para esse fonema que depende da característica dos outros fonemas da palavra. Os fonemas são combinados para formar sílabas. Para analisarmos a estrutura silábica, vamos dividir os fonemas em duas grandes categorias: vogais e consoantes. Em geral, as sílabas seguem o padrão CV (consoante-vogal) ou CVC. Na aquisição linguística, as primeiras palavras são monossílabas com padrão CV ou as duplicações deste padrão em CVCV (mama – papa). As palavras com padrão CVC, normalmente são reduzidas para um padrão CV na fala infantil. Portanto, o léxico pode estar limitado pelo estágio de desenvolvimento do sistema fonológico. Geralmente a compreensão precede a produção durante todo o processo de aquisição da fala. Portanto, a linguagem não acontece de repente, como um click, um estalo ou um milagre. A grande fase de desenvolvimento do sistema fonológico acontece nos anos pré-escolares, por isso crianças bem estimuladas nesta fase respondem com bom vocabulário, boa organização léxica e boa produção verbal. Problemas fonológicos A situação mais aparente nas crianças que apresentam problemas no sistema fonológico são as alterações na fala. De um modo geral, os processos de simplificação, que deveriam ter sido 35 DiFiCULDADES ESPECÍFiCAS DE APREnDizAgEM: A LingUAgEM • CAPÍTULO 4 abandonados no final da primeira infância, continuam a ser usados. O resultado é a coexistência de dois padrões: um muito anterior com outros mais avançados, causando desequilíbrios no desenvolvimento da linguagem. Estrutura léxica e semântica o arquivo de palavras que a criança adquire forma seu vocabulário ou léxico. Durante a infância, a velocidade de aquisição de vocabulário é impressionante. Estima-se que, a partir do final do primeiro ano de vida até os 5 a 6 anos de idade, a criança adquira, em média, cerca de 10 palavras novas por dia (BEE, 2000). Há dois aspectos distintos na estrutura lexical. O primeiro diz respeito à relação entre a palavra e o mundo – a aquisição do significado da palavra. O segundo diz respeito à forma como a estrutura interna de uma palavra pode ser modificada – a aquisição da morfologia. A aquisição do significado de uma nova palavra pode ser um processo longo, que pode durar meses ou até mesmo anos. Ninguém ensina à criança dez novas palavras por dia. Nem as palavras são aprendidas uma de cada vez. O primeiro significado da palavra para ela não é necessariamente o mesmo para o adulto. Por exemplo, uma palavra como “tira”, pode significar retirar, sair, despir, pegar (de algum lugar). O aprendizado do significado de uma palavra exige que a criança perceba a qual objeto do mundo esta nova palavra se refere e desenvolva a representação da forma pela qual as várias palavras estão conectadas dentro do sistema linguístico. A tarefa de aprender significados de novas palavras é apoiada pela experiência e pelo conhecimento que as crianças trazem para a tarefa. A amplitude de experiências de criança influencia o tamanho do seu léxico. Aprender uma nova palavra é o processo de associação da palavra com um conceito existente. Os conceitos são categorias mentais pelas quais organizamos a experiência. A cognição humana faz uso de uma grande variedade de conceitos de diferentes tipos e níveis de generalidade. Muitos desses conceitos são aprendidos independentemente da linguagem. Conceitos de objetos, propriedades e ações da vida diária são os mais básicos para a língua, pois as palavras individuais são associadas a esses conceitos. A morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras e as formas pelas quais esta estrutura é afetada por outras palavras. Alguns aspectos da morfologia são controlados pelas considerações sintáticas, como a adição do –s nos finais das palavras plurais ou –ei nos verbos do tempo passado. Chamamos essa organização de morfologia flexional. Outro aspecto, como a noção da derivação do substantivo imaginação vir do verbo imaginar, é chamada de morfologia derivacional. Atenção Normalmente são as crianças com a fala infantilizada, com trocas e omissões na produção verbal. Parecem crianças pequenas falando! 36 CAPÍTULO 4 • DiFiCULDADES ESPECÍFiCAS DE APREnDizAgEM: A LingUAgEM Problemas léxicos e semânticos A situação mais aparente nos problemas léxicos é o atraso no surgimento da fala. As crianças com dificuldades de linguagem são mais lentas para aprender novas palavras. Ainda não se sabe ao certo quais os processos responsáveis por isto, mas uma possibilidade é que o aprendizado é mais lento, porque as palavras novas não são mantidas por tempo suficiente na memória ativa. É muito comum o professor, em sala de aula, se deparar com alunos que apresentam dificuldade em “encontrar as palavras” para explicar alguma coisa. As crianças fazem uso mais frequente de hesitações (é, é,... tipo assim), pausas constantes, repetição de termos indefinidos ou de frases para explicar a mesma coisa. Além disso, apresentam comportamento que varia do quieto ao agitado. Imaginem na hora de escrever uma redação! A explicação mais comum para esse tipo de problema é a dificuldade da criança em acessar a memória. Entretanto, a evocação da palavra, frente ao estímulo direto, é mais fácil de acessar do que o pensamento associativo, no qual a criança precisa identificar um objeto ou ação, relacioná- lo no domínio semântico e então nomeá-lo. Note que as dificuldades com o léxico impedem seu próprio desenvolvimento. Estrutura Sintática A sintaxe é o conjunto de princípios que determina como as palavras podem ser combinadas de forma gramatical. Para os objetivos sintáticos, as palavras são classificadas em partes da fala; como substantivos e verbos e regras que determinam suas combinações. A sintaxe controla coisas como a ordem das palavras na frase, o papel das partículas funcionais (elementos de ligação) e as flexões dos verbos. A tarefa principal para a criança que está aprendendo gramática é aprender
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