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Orientação educacional e pedagógica FERNANDA SANSÃO RAMOS MATTOS 1ª Edição Brasília/DF - 2018 Autores Fernanda Sansão Ramos Mattos Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Capítulo 1 Orientação e educação ............................................................................................................................................... 9 Capítulo 2 A Orientação Educacional e Pedagógica contemporânea ............................................................................21 Capítulo 3 O papel do Orientador Educacional e Pedagógico nas atividades gerais da escola ..........................37 Capítulo 4 As atividades específicas do Orientador Educacional e Pedagógico .......................................................51 Capítulo 5 Orientação vocacional e educação .......................................................................................................................63 Capítulo 6 Orientação vocacional na prática .........................................................................................................................82 Referências .......................................................................................................................................................................101 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORgAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 7 Introdução No primeiro capítulo desta disciplina, trabalharemos a relação existente entre educação e orientação, contextualizando o surgimento da figura do Orientador Educacional e Pedagógico nas instituições de ensino. Veremos também os diferentes modelos de orientação que predominaram no cenário educacional ao longo dos anos, identificando a forma como cada um deles buscava priorizar o interesse social ou individual e o protagonismo oferecido ao aluno em cada um dos modelos. Por fim, deteremo-nos mais detalhadamente na análise do modelo de orientação centrado no desenvolvimento individual, que predomina no cenário educacional dos dias de hoje. Objetivos » Entender a relação existente entre educação e orientação. » Contextualizar o surgimento da orientação nas instituições de ensino. » Reconhecer os principais modelos de Orientação Educacional e Pedagógica que predominaram no cenário escolar ao longo do tempo. » Compreender o modelo de orientação centrado no desenvolvimento individual, reconhecendo o fato de ele ter trazido o aluno para o cerne do processo de orientação e dado a este o protagonismo sobre o seu próprio desenvolvimento. » Identificar a importância da interação entre o Orientador Educacional e Pedagógico e os demais grupos que compõem a vida escolar. 1CAPÍTULOORIEntAçãO E EDUCAçãO 8 CAPÍTULO 1 • ORIEntAçãO E EDUCAçãO Orientação e Educação A palavra ‘orientação’ significa, de forma bastante objetiva, a ação de localizar o oriente, ou seja, o lado onde o sol nasce todos os dias. Com isso, é possível dizer que a orientação consiste na definição de um ponto geográfico específico, associado a um fenômeno diário, que pode ser visto a olhos nus de qualquer ponto do globo para, a partir deste ponto, localizarmos todos os demais elementos espaciais que nos cercam. Se eu sei que o sol nasce todos os dias no leste e vai caminhando gradativamente pelo céu até morrer no oeste, fica fácil saber em que direção estou indo a qualquer hora do dia e para que lado devo caminhar se pretendo chegar a um local determinado! O que essa definição tem a ver com a nossa disciplina de Orientação Educacional e Pedagógica? Vamos tentar responder a tal pergunta nos lembrando dos tempos em que estávamos na escola e a professora pacientemente nos ensinava a respeito da orientação espacial e seus métodos. Sei que isso faz bastante tempo, mas você certamente ainda se lembra de ter colorido algumas rosas dos ventos e de ter ido até o pátio da escola para observar a posição do sol e desenhar relógios com giz no chão! Naquela época, a professora provavelmente iniciou a apresentação deste conteúdo falando sobre os pontos cardeais e a forma como eles se organizam no espaço. Começamos então a pintar as tais rosas dos ventos, para memorizar que o norte fica sempre em cima, o sul embaixo, o leste do lado direito e o oeste do lado esquerdo. Depois disso, aprendemos que o sol nasce sempre no leste e, quando chegamos ao pátio, munidos de nossa rosa dos ventos colorida, as coisas tomaram seu lugar como mágica! Não importava mais o quanto caminhássemos para um lado ou para o outro, podíamos até rodopiar pelo espaço, e pela simples observação do sol éramos capazes de identificar novamente onde estávamos e em que direção se localizava qualquer coisa ao nosso redor. Essa memória infantil nos lembra do momento em que aprendemos a orientar nosso corpo pelo espaço mediante o estabelecimento do sol como nosso ponto de referência. Se continuarmos relembrando aqueles dias, você vai perceber como, na sequência, aprendeu a aplicar este conhecimento para formas cada vez mais sofisticadas de se localizar, como a leitura de bússolas e dos mapas. A partir deste ponto, ficou mais difícil se perder, pois você entendeu que os pontos de referência estariam sempre no mesmo lugar, e a partir deles você poderia calcular a melhor rota para levar seu corpo ao local em que gostaria de estar. Atenção Além da orientação espacial pela localização do sol, existem outros métodos de orientação, como a observação da lua ou das estrelas. No entanto, como nossa intenção aquié meramente ilustrativa, vamos nos referir apenas ao sol como ponto de referência central para nos localizarmos no espaço. Se este assunto despertar a sua curiosidade, busque outras fontes para saber mais sobre ele! 9 ORIEntAçãO E EDUCAçãO • CAPÍTULO 1 Quando não é simplesmente o corpo que precisa chegar a algum lugar? E quando a necessidade de orientação torna-se mais subjetiva, referindo-se aos rumos que desejamos tomar em nossas vidas ou à necessidade de traçarmos uma rota para atingirmos nossos objetivos, metas e sonhos? Nesta disciplina de Orientação Educacional e Pedagógica, veremos que, da mesma forma que é possível utilizarmos referências sólidas, planejamento, e o estabelecimento de metas e objetivos para levar o corpo até o local onde ele deseja chegar, somos capazes de utilizar convenientemente todas essas ferramentas e técnicas para auxiliar o indivíduo a se desenvolver plenamente e realizar tudo aquilo que pretenda, seja como cidadão, profissional ou pessoalmente. Isso é auxiliar a mente a chegar ao ponto em que se pretende estar, ancorar as atitudes e o pensamento em referenciais sólidos, para que, dessa forma, eles caminhem em direção ao ponto que estabelecemos como meta. Histórico da Orientação Educacional e Pedagógica Orientação e educação são dois processos que sempre caminharam lado a lado. Pode-se dizer inclusive que, no sentido de guiar e aconselhar, a orientação sempre fez parte do processo educativo. Mesmo quando a formação dos jovens para a vida social e o mundo do trabalho acontecia dentro da própria família ou era conduzida por um membro mais experiente da comunidade, esse processo incluía não somente o ensino de conceitos e atividades específicas, mas, também, a tarefa de orientar o pupilo pelas questões e dilemas da época, participando, assim, de sua formação integral e futura inserção na vida social. Conforme a educação de jovens e crianças foi passando das mãos da família e da comunidade local para a responsabilidade das instituições formais de ensino, esse contato próximo e quase individualizado entre mentor e aprendiz foi se tornando cada vez mais difícil. Como seria possível dedicar-se às questões de desenvolvimento integral das potencialidades de cada aluno em um contexto de grupos cada vez maiores, em que apenas um professor seria responsável por todos? É neste momento que surge a necessidade de encontrarmos um profissional específico que se ocupasse da orientação dos alunos, enquanto o professor, em sala de aula, priorizaria a transmissão dos conteúdos. Com isso, não se pretende dizer que não exista um caráter de orientação e uma preocupação permanente com a formação integral dos alunos nas atividades exercidas pelo docente. Contudo, será o orientador que terá essa preocupação como objetivo específico de suas atividades, auxiliando inclusive os professores a Sugestão de estudo No filme ‘Alexandre’, é possível ver um bom exemplo de como essa dupla empreitada de orientar e educar se apresentava na relação entre o pupilo e seu mestre. O longa metragem apresenta como parte importante da formação do imperador Alexandre seus estudos com o filósofo Aristóteles, que não só o instruía em conteúdos específicos, tais quais medicina, política e geografia, mas o auxiliava a entender seu lugar no mundo e a construir seu projeto de vida. Alexandre. Direção: Oliver Stone, Produção: Oliver Stone. Reino Unido: Warner Bross, 2005. 10 CAPÍTULO 1 • ORIEntAçãO E EDUCAçãO melhor trabalharem tais questões no planejamento e na execução de suas aulas, bem como em suas interações com os alunos. As autoras Giacaglia e Penteado (2015) apontam a Revolução Industrial como primeiro fator decisivo para o surgimento da orientação nas escolas, porque, à medida que as fábricas se fortaleceram exigindo cada vez mais mão de obra para garantir seu funcionamento, um número cada vez maior de adultos acabou sendo afastado do convívio com os próprios filhos e com os demais jovens da comunidade. Isso ocasionou o agrupamento dos educandos em instituições formais de ensino, permitindo, desse modo, que os pais se dedicassem ao novo trabalho na indústria. Um segundo elemento indicado pelas autoras é o movimento de educação compulsória para todas as crianças, que atingiu seu auge na década de 1930, nos EUA. O crescente número de imigrantes e o aumento considerável de crianças vivendo nas cidades americanas deram origem a uma preocupação cada vez maior com a proteção desta população infantil, o que ensejou a criação de leis que tratavam sobre o trabalho infantil e a obrigatoriedade da inserção de todas as crianças na educação formal. Como destacam Giacaglia e Penteado (2015), esses dois fatores fizeram com que as escolas fossem obrigadas a aumentar muitíssimo o número de alunos que nelas se inscreviam, o que as forçou a aprimorar também a infraestrutura existente nas instituições para atender adequadamente a esse novo contingente de alunos, que não só era maior em número de pessoas como também em sua heterogeneidade. A escola se defrontava agora com uma diversidade grande de origens étnicas, religiosas, socioeconômicas e, até mesmo, de saúde mental e física, o que trouxe consigo um novo dilema para a prática educativa: como cuidar de um número tão grande de indivíduos tão diferentes? A saída mais adequada para atender a essa população escolar tão diversificada em suas especificidades e necessidades era a formação de uma equipe interdisciplinar, composta de médicos, enfermeiros, psicólogos, conselheiros, assistentes sociais, que atuariam em cada uma das escolas para garantir que as crianças fossem cuidadas e atendidas. No entanto, o investimento financeiro para a manutenção de um quadro de funcionários tão grande em cada uma das instituições de ensino era inviável. Surge, nesse contexto, o profissional de orientação como encarregado de não só auxiliar professores e alunos no desenvolvimento das atividades escolares, mas, também, como responsável por buscar o auxílio de outros especialistas sempre que necessário. Ele seria, mediante a avaliação dos casos específicos e do encaminhamento, a ponte entre as necessidades da comunidade escolar e as diferentes especialidades de atendimento a essas necessidades. É importante salientar, no entanto, a dificuldade que existe em desenharmos um modelo único e inalterado que possa caracterizar a Orientação Educacional e Pedagógica (OEP) ao longo de toda a sua história, pois, de acordo com o contexto histórico e cultural em que se encontrava, a disciplina 11 ORIEntAçãO E EDUCAçãO • CAPÍTULO 1 foi assumindo diferentes formas de atuação. Segundo Giacaglia e Penteado (2015), podemos dividir essas constantes transformações em quatro modelos mais significativos: o pragmático, o terapêutico, o preventivo e, por fim, o modelo centrado no desenvolvimento individual. Orientação Educacional e Pedagógica no modelo pragmático Como vimos anteriormente, um dos principais fatores que concorreram para o surgimento da Orientação Educacional e Pedagógica nas escolas foi a Revolução Industrial, bem como seus efeitos diretos e indiretos sobre a organização social, a educação e o trabalho. A Revolução Industrial pode ser considerada um dos maiores processos de transformações socioeconômicas de nossa história, pois influenciou de maneira profunda e definitiva a vida das sociedades de todo o planeta, mesmo que de forma indireta. A partir da década de 1750, quando a Revolução Industrial tomou corpo na Europa, iniciou-se um processo gradativo de substituição das pequenas oficinas artesanais por grandes fábricas, as ferramentas de operação manual foram dando lugar às máquinas e as fontes de energia mais tradicionais como a água, o vento e a força muscular foram sendo trocadas pelo carvão e pela eletricidade. Em sintonia com tais transformações, modificou-se também o mercado de trabalho, porque as fábricas geraram um aumento na demanda de mão de obra e um certo nível de especializaçãodo trabalhador, que aos poucos foi deixando de participar de todo o processo de produção para tornar-se especialista em uma pequena parte dele. Se antes o artesão sapateiro era responsável desde a modelagem da peça e corte do couro até a finalização do sapato e seus ajustes finais, ao transferir-se para a fábrica de sapatos, ele passou a executar especializadamente apenas uma dessas funções repetidamente. Sendo assim, podemos dizer que o novo mercado de trabalho desenhado pela Indústria possuía uma demanda de trabalhadores muito diferente daqueles que trabalhavam anteriormente de forma artesanal, e parte significativa da responsabilidade pela formação dessa nova mão de obra especializada foi atribuída às escolas, mais especificamente ao Orientador Educacional e Pedagógico. Em sua origem, a Orientação Educacional e Pedagógica possuía o objetivo absolutamente pragmático de selecionar e treinar os seus alunos para as novas formas de trabalho. Por esse motivo, o modelo de orientação praticado nas escolas nestes primeiros anos praticamente se restringia à Orientação Vocacional dos alunos. Atenção Você conhece o significado da palavra “pragmático”? Ao dizer que algo ou alguém é pragmático, estamos querendo dizer que seu foco está sempre direcionado à praticidade e à objetividade, sem rodeios ou desvios em seu caminho. Com isso, podemos dizer que a Orientação Educacional e Pedagógica que se confundia com a Orientação Vocacional era pragmática, pelo fato de ela ter o objetivo muito prático de encontrar e formar pessoas para preencher as vagas de trabalho oferecidas pela indústria. 12 CAPÍTULO 1 • ORIEntAçãO E EDUCAçãO O modelo de Orientação Vocacional adotado nesse período, que influenciava diretamente o modelo de Orientação Educacional e Pedagógica desenvolvido nas escolas, tinha como preocupação fundamental conhecer o indivíduo, suas capacidades e habilidades, para encontrar a ocupação profissional na qual ele teria maior sucesso. O método utilizado para esse fim ficou conhecido como estatístico psicométrico, que se baseava no conceito de que todo indivíduo possuiria aptidões inatas que poderiam ser descobertas por meio dos instrumentos psicométricos adequados. Com isso, podemos dizer que a orientação se limitava à aplicação de testes que mensuravam as aptidões de cada aluno para alocá-los na função profissional em que seriam melhor sucedidos. Perceba que em nenhum momento estamos falando sobre sonhos, metas, desejos ou inclinações do indivíduo para esta ou aquela profissão. O principal interesse da Orientação Educacional e Pedagógica deste período, em paralelo com os objetivos da própria Orientação Vocacional, não era o de encontrar a tarefa que melhor se adequasse ao indivíduo ou aquela na qual ele poderia se realizar em nível pessoal, mas, sim, o de encontrar o candidato que teria o melhor desempenho em determinada função ou cargo. Como bem define Pimenta (1993, p. 24), “A preocupação não era com as aptidões individuais (com o indivíduo), mas com a identificação destas, para que o indivíduo pudesse ser colocado (selecionado) nos lugares onde seria mais produtivo”. Para utilizarmos um exemplo prático, imagine que a aluna Maria tem o sonho de tornar-se arquiteta. Ela almeja de todo coração cursar arquitetura, planeja seu futuro com base nesse sonho e está decidida a investir todos os seus recursos e esforços para concretizar tal projeto. No entanto, através dos diversos testes aplicados no processo de orientação, verificou-se que a aluna possui melhor desempenho nas disciplinas biomédicas que nas exatas. Sendo assim, Maria será orientada a desistir da arquitetura para dedicar-se à medicina ou à enfermagem, visto que seu potencial para ser um bom profissional de saúde é estatisticamente maior do que o de ser uma boa arquiteta. Partindo desse exemplo, fica claro que a preocupação fundamental da Orientação Educacional e Pedagógica neste modelo não era o desenvolvimento do aluno ou de suas potencialidades, mas, sim, o interesse social de corrigir e adaptar o indivíduo de forma que fosse assegurado o bem-estar da sociedade como um todo, mesmo que para isso os interesses pessoais daquele aluno estivessem em segundo plano. Usando novamente o exemplo hipotético da aluna Maria, poderíamos dizer que a sociedade como um todo se beneficiou do processo de orientação por ter conseguido uma profissional de saúde competente, mesmo que, para isso, Maria tenha tido de abrir mão do seu desejo íntimo de ser arquiteta. Outro ponto a ser destacado é a forma como, neste modelo de orientação, o aluno desempenha um papel completamente passivo no processo de orientação. Ele é analisado, estudado e encaminhado de acordo com o que se acredita ser o melhor para ele e para a sociedade, mas em nenhum momento ele é chamado a opinar sobre os rumos que gostaria de dar a sua própria vida. O importante era modelar o aluno para que ele se encaixasse naquilo que o educador e a sociedade esperavam dele. 13 ORIEntAçãO E EDUCAçãO • CAPÍTULO 1 Orientação Educacional e Pedagógica no modelo terapêutico ou corretivo Como comentado anteriormente, a Orientação Educacional e Pedagógica surge no contexto escolar em um momento em que as instituições formais de ensino são obrigadas a abrir suas portas para um número cada vez maior de alunos, oriundos de realidades socioculturais das mais variadas. O resultado disso foi a criação de um ambiente com uma variedade enorme de indivíduos, todos muito diferentes entre si, que precisavam aprender a coexistir de forma harmônica para que o processo educativo fosse bem-sucedido. Sendo assim, a Orientação Educacional e Pedagógica, em um segundo momento de sua existência, foi incumbida também da tarefa de adaptar os alunos ao ambiente escolar, identificando os indivíduos problemáticos e solucionando seus problemas de comportamento inadequado. Este modelo de orientação foi designado por Giacaglia e Penteado (2015) como terapêutico, porquanto nele foram aplicados os conceitos da psicologia que se desenvolviam naquele período. Este modelo de Orientação Educacional e Pedagógica, assim como o anterior, possuía uma atuação muito mais centrada no interesse social do que nas expectativas e necessidades do indivíduo, porque o intuito de adaptar os alunos ao convívio no ambiente escolar não tinha como princípio o bem-estar destes ou o aumento de sua produtividade acadêmica individual. O objetivo era o de criar um ambiente harmônico em que a coletividade fosse atendida de forma bem-sucedida e os indivíduos fossem, de certa maneira, adaptados para conviver em sociedade. Imagine, por exemplo, um aluno violento, que constantemente se envolve em brigas com colegas e professores. Neste modelo de orientação, o foco seria utilizar os instrumentos psicológicos disponíveis para tratar esse quadro de agressividade, visando à adaptação deste aluno para que o bom andamento do processo educativo não fosse prejudicado. Em nenhum momento existia a preocupação de auxiliar o indivíduo para que ele tivesse um aumento produtivo, melhor qualidade de vida ou autoconhecimento a ponto de trabalhar subjetivamente a questão da violência. Em outras palavras, podemos dizer que tudo o que importava é que ele parasse de se comportar de determinada forma, seja por real melhora ou por coerção e imposição de conduta. Da mesma forma, é importante destacar que neste modelo de orientação o aluno também era visto de forma passiva, como alguém que deveria ser moldado e encaminhado pelo orientador de acordo com as regras de normalidade e adaptação estabelecidas socialmente. O aluno visto como adaptado e normal era aquele que se configurava com facilidade ao sistema educativo, sem apresentar qualquer desvio de comportamento. Enquanto o aluno problema, aquele que se comportava de maneira desviante, era visto como desajustado e precisava ser tratado e corrigido para se enquadrar ao modelo. 14 CAPÍTULO 1 • ORIEntAçãO E EDUCAçãO Orientação Educacional e Pedagógicano modelo preventivo Durante muito tempo, o modelo de Orientação Educacional e Pedagógica denominado terapêutico ou corretivo foi aplicado nas instituições de ensino, fazendo com que o foco da atividade fosse identificar os alunos desviantes e problemáticos, que apresentavam qualquer tipo de inadaptação ao modelo pedagógico, para que eles fossem corrigidos e tratados a ponto de se tornarem parte do todo de forma harmônica. No entanto, percebeu-se que o esforço em remediar o problema depois que ele já havia se instaurado despendia muito mais esforços e causava muito mais transtornos do que encontrar uma maneira de impedir que os problemas de comportamento surgissem. Foi criado assim o modelo preventivo de Orientação Educacional e Pedagógica, no qual todos os alunos seriam doutrinados igualmente a se comportarem de forma adequada, buscando, dessa maneira, prevenir o surgimento do comportamento indesejável. Mais uma vez podemos identificar o interesse social como foco essencial do processo de orientação, pois a expectativa deste modelo era garantir de forma eficaz, por meio da prevenção do surgimento do aluno desviante, que o grupo inteiro se comportasse de maneira adequada e sintonizada com os protocolos sociais. Se partirmos do mesmo exemplo apresentado no modelo anterior, em que imaginamos um aluno agressivo sendo tratado e corrigido individualmente para se adequar ao modelo, podemos dizer que, neste caso, o grupo inteiro receberia orientações a respeito da importância do controle da agressividade e da violência para impedir ou prevenir o surgimento do aluno problema no ambiente escolar. Neste caso, o aluno também era entendido como elemento passivo do processo de orientação, porque, da mesma forma que no modelo anterior, o indivíduo problemático deveria ser moldado para corrigir o comportamento desviante, agora o grupo inteiro seria adequado e orientado para se adaptar ao modelo e prevenir o surgimento de elementos problemáticos. Orientação Educacional e Pedagógica centrada no desenvolvimento individual Os três modelos de Orientação Educacional e Pedagógica analisados anteriormente são característicos de um paradigma de educação autoritário, em que se dava muito pouca atenção às necessidades individuais ou subjetivas dos alunos, focando sempre naquilo que seria melhor para a coletividade e forçando o indivíduo a se adaptar ao modelo padrão de comportamento para garantir assim o bom funcionamento da instituição escolar. Não é por acaso que em todos os modelos analisados o interesse social se sobrepõe ao interesse individual e o aluno é visto como elemento passivo do processo educativo, que deve ser formatado 15 ORIEntAçãO E EDUCAçãO • CAPÍTULO 1 e padronizado independentemente de sua vontade. O educador, por sua vez, e neste sentido incluiremos o orientador, é tratado como hierarquicamente superior aos educandos, considerando a sua própria visão de mundo como verdade absoluta e referência a ser seguida. Este é um modelo educativo que faz sentido dentro de uma lógica durkheimiana de educação, na qual a proposta do processo pedagógico é produzir uma nova geração de indivíduos exatamente igual à anterior, preocupando-se unicamente em torná-los aptos a serem funcionais dentro da sociedade, sem jamais questionar os valores e as práticas dessa sociedade. Para o sociólogo francês Émile Durkheim, um dos nomes mais significativos para a sociologia da educação, a escola deveria operar na vida dos indivíduos como um local privilegiado de socialização, no qual a criança, entendida como folha de papel em branco, seria levada para receber do professor todos os conhecimentos necessários para se tornar um adulto funcional para a vida dentro da sociedade da qual faz parte. Nas palavras do autor: A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não se encontram preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destina (DURKHEIM, 1978, p. 41). A partir desse ponto de vista, a equipe pedagógica poderia ser entendida como o molde pelo qual as futuras gerações seriam formadas, sendo responsáveis pela transmissão aos pequenos dos elementos que definem o que é ser um membro da vida social, de suas atribuições e responsabilidades. Neste contexto educativo, podemos dizer que somos como somos porque quando éramos crianças aprendemos com os adultos a ser como eles, e agora seria o nosso dever fazer com que os pequenos aprendam a ser como nós somos. Você percebe como nesta visão de mundo não existe espaço para a individualidade do aprendiz ou para a transformação social através da educação? A escola seria um local de mera repetição de práticas para a manutenção do status quo, ou seja, para que tudo permaneça exatamente como está. No entanto, com o desenvolvimento de uma perspectiva mais humanista para a educação, o indivíduo passou a ser olhado e valorizado por suas singularidades e não apenas como uma parte da engrenagem social que deveria funcionar adequadamente para manter assim o bom funcionamento de toda a estrutura da sociedade. Como destacam Giacaglia e Penteado (2015): Quando a sociedade e a escola passaram a ver o aluno como um ser em desenvolvimento, com características próprias, com direitos, e não mais como mera mão de obra, a corrente da Psicologia privilegiada para fundamentar o trabalho do Orientador Educacional também passou a ser outra; não mais aquela interessada pelas diferenças entre as pessoas, ou aquela outra que procura medir 16 CAPÍTULO 1 • ORIEntAçãO E EDUCAçãO objetivamente tais diferenças, mas uma Psicologia que estuda o desenvolvimento humano para tornar o ser humano mais adaptado e feliz (GIACAGLIA; PENTEADO, 2015, p. 4). Perceba que, pela fala das autoras, identificamos pela primeira vez um momento em que a felicidade do indivíduo é considerada no processo de orientação educacional e pedagógica. Pela primeira vez, o sujeito e suas especificidades se tornaram elementos de interesse para o orientador, mesmo que o interesse social nunca tenha sido deixado completamente de lado. Percebeu-se, neste modelo, que o bem-estar do aluno e o bom funcionamento da sociedade são complementares entre si, e o aluno deixou de ser visto como elemento passivo a ser moldado para tornar-se protagonista em seu próprio desenvolvimento. A Orientação Educacional e Pedagógica nos dias de hoje O Orientador Educacional e Pedagógico é, por lei, um profissional graduado em pedagogia ou pós-graduado em Orientação Educacional, que integra o quadro gestor da escola. Com isso, pretende-se garantir que esse profissional seja, antes de tudo, um educador, que compreende as nuances do processo de ensino e aprendizagem e domina os conceitos e as estratégias envolvidos no planejamento, na execução e na avaliação do projeto educacional de uma instituição de ensino. No contexto atual da educação, a Orientação Educacional e Pedagógica tem como preocupação central o aluno, que deixou de ser aquele que sofre o processo de ensino e aprendizagem de forma passiva e passou a ser visto como figura central da atividade pedagógica. Se antes o papel do orientador era ficar de olho nos alunos problemáticos para tentar tratá-los, corrigi-los ou adaptá-los, nos dias de hoje sua atividade passou a ter como foco a totalidade dos alunos que compõem o corpo discente, seus dilemas, dúvidas e necessidades. Como salienta Mírian Grinspun (2011): A Orientação não tem mais como preocupação prioritária os alunos-problema, hoje ela tenta ajudar na solução dos problemas dos alunos e de toda a comunidade escolar, numa perspectiva de melhor compreensão do sujeito e de suas relações dentro e fora da Escola (GRINSPUN, 2011, p. 176). Nesta busca por auxiliar os alunos a solucionarem seus problemas da melhor forma possível, o Orientadorprecisa atuar em diversas frentes dentro das instituições de ensino. Não basta que ele fique restrito ao seu gabinete esperando ser procurado. É preciso que ele caminhe pela escola, Observe a lei O exercício da profissão do Orientador Educacional foi provido pela Lei nº 5.564, de 21 de dezembro de 1968, e posteriormente regulamentado pelo Decreto nº 72.846, de 26 de setembro de 1973. Além dessa legislação específica sobre a atividade profissional da Orientação Educacional, o educador que se dedique a esta atividade deve basear sua prática no que preconiza a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 17 ORIEntAçãO E EDUCAçãO • CAPÍTULO 1 interagindo e trabalhando em conjunto com todos os envolvidos direta ou indiretamente no processo educativo, para, dessa forma, ser capaz de atender às demandas dos alunos de forma mais eficiente. Vejamos então quem são esses atores do cotidiano escolar com os quais o Orientador Educacional e Pedagógico interage e em relação aos quais ele deve estar preparado para atuar: Alunos: são o foco central da atividade de orientação, que tem como objetivo auxiliá-los a se desenvolver plenamente. Os autores Pascoal, Honorato e Albuquerque definem muito acertadamente a tarefa do orientador diante do corpo discente da escola da seguinte maneira: Para poder exercer a contento a sua função, o orientador precisa compreender o desenvolvimento cognitivo do aluno, sua afetividade, emoções, sentimentos, valores, atitudes. Além disso, cabe a ele promover, entre os alunos, atividades de discussão e informação sobre o mundo do trabalho, assessorando-os no que se refere a assuntos que dizem respeito a escolhas (PASCOAL; HONORATO; ALBUQUERQUE, 2008, p. 101). Professores: são parceiros importantes do orientador, que deve atuar em conjunto com o corpo docente, intermediando o relacionamento entre professores e alunos, auxiliando os educadores a entenderem o comportamento dos estudantes e, desse modo, encontrarem as melhores estratégias para lidar com eles. Míriam Grinspun (2011) salienta, ainda, que cabe ao orientador educacional e pedagógico auxiliar os professores a trabalhar as questões pedagógicas do processo educativo, especialmente no que se refere a fazer com que as reflexões contidas no Projeto Político-Pedagógico da instituição sejam postas em prática. Segundo ela: Trabalhando junto dos professores, através de uma reflexão crítica da prática pedagógica, o Orientador procurará contribuir para a discussão da realidade dos alunos, das finalidades do processo pedagógico, do sistema de avaliação, das questões de evasão e repetência escolar, dos recursos físicos e materiais de que a escola dispõe, das metodologias empregadas, enfim, sobre as questões técnico-pedagógicas da escola (GRINSPUN, 2011, p. 116). Gestão: o Orientador Educacional e pedagógico faz parte da equipe gestora da instituição, devendo trabalhar em parceria com a direção da escola para planejar, implementar e avaliar a proposta pedagógica. Cabe a ele também, enquanto parte desta equipe gestora, auxiliar no funcionamento cotidiano da escola. Colaborar com a direção significa estar junto tanto nas decisões tomadas pela direção como na obtenção de dados inerentes aos aspectos administrativos. O Orientador deve participar da organização das turmas, dos horários, da distribuição dos professores em turmas, do número de alunos em sala de 18 CAPÍTULO 1 • ORIEntAçãO E EDUCAçãO aula, dos horários da merenda, da recreação, das atividades complementares, da matrícula, enfim, de toda a prática que organiza a infraestrutura da escola (GRINSPUN, 2011, p. 116). Funcionários: não podemos esquecer que o Orientador Educacional e Pedagógico é aquele indivíduo que transita entre todos os setores da escola, interagindo com todos os personagens que fazem parte do processo educativo. Esta incumbência inclui também a relação com aqueles profissionais que dão apoio e suporte para que a vida da escola aconteça. Parte da função do orientador seria, então, a de dar visibilidade a esses indivíduos da importância do trabalho que desenvolvem para o bem-estar de toda a comunidade escolar. É importante ouvi- los, valorizá-los e intermediar a relação destes com alunos, professores, gestores e responsáveis. Como bem define Grinspun (2011): Colaborar na valorização de suas tarefas, considerando-os necessários ao bom desenvolvimento da organização da escola, sejam eles inspetores, funcionários da secretaria, merendeiros, serventes, trabalhadores da cantina, jardineiros, porteiros, etc. O orientador deve procurar trabalhar a autoestima, a identidade profissional, e suas atribuições para o funcionamento da escola (GRINSPUN, 2011, p. 116). Famílias: cabe ao orientador manter aberto um canal de diálogo com pais e responsáveis, para, desse modo, ser capaz de entender as vivências, os saberes e as expectativas que o aluno traz de casa para a escola e que influenciam significativamente seu processo educativo. Comunidade: estar atento ao que acontece na comunidade em que se localiza a escola é importante na prática do Orientador, pois a educação não ocorre no vácuo, mas, sim, em uma realidade específica, que influencia diretamente as necessidades daquela população, os saberes ali construídos e as formas como se aprende. É possível dizer, portanto, que a atividade do Orientador Educacional e Pedagógico é multifacetada e assumirá aspectos variados de acordo com o contexto em que estiver inserido e as necessidades específicas da população escolar por ele atendida. No próximo capítulo, analisaremos algumas posturas e práticas importantes, que devem ser adotadas pelo profissional de orientação para que o seu trabalho com os alunos e com todos os demais grupos envolvidos no projeto de desenvolvimento dos educandos seja bem-sucedido. 19 Introdução No segundo capítulo desta disciplina, apresentaremos a noção de que não existem qualidades ou aptidões naturais para que se exerça de forma adequada e eficiente a Orientação Educacional e Pedagógica, sendo fundamental que todas as posturas e competências necessárias a esta atividade sejam refletidas, aprendidas e praticadas. Apresentaremos em seguida algumas das principais posturas do Orientador Educacional e Pedagógico para o bom desenvolvimento do trabalho de orientação: a postura respeitosa diante da autonomia do aluno; a flexibilidade e imparcialidade no tratamento do aluno; a busca constante por atualização e formação continuada; e o respeito aos limites específicos da atividade de Orientação Educacional e Pedagógica. Por fim, apresentaremos alguns dos dilemas mais recorrentes do cotidiano escolar, sobre os quais o orientador precisa atuar. Objetivos » Reconhecer a importância do aprendizado e a prática das posturas e competências necessárias ao bom desempenho da função de Orientação Educacional e Pedagógica. » Compreender o conceito de conteúdo atitudinal. » Reconhecer a importância de que o Orientador Educacional e Pedagógico respeite a autonomia de seus orientandos. » Entender os principais conceitos das teorias de Carl Rogers e Paulo Freire, que podem ser aplicados à prática da orientação. » Reconhecer a importância da atualização e da formação continuada para o trabalho do Orientador Educacional e Pedagógico. » Entender a importância da imparcialidade e da flexibilidade ao trabalhar qualquer questão com os alunos. » Compreender e aplicar a regra de ouro de manter-se dentro dos limites profissionais da Orientação Educacional e Pedagógica. » Reconhecer alguns dos dilemas mais recorrentes do cotidiano escolar, sobre os quais o orientador precisa atuar. 2 CAPÍTULO A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA 20 CAPÍTULO 2 • A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA Orientação Educacional e Pedagógica no contexto atual O modelo de orientação educacional centradono desenvolvimento individual é compreendido nos dias de hoje como o mais interessante para ser desenvolvido nas escolas, pois seu foco não está na manipulação passiva dos alunos tendo em vista certos resultados esperados, mas, sim, no desenvolvimento pleno dos estudantes, de forma que os resultados positivos sejam uma consequência natural da prática educativa. Com isso, queremos dizer, por exemplo, que não estaremos mais preocupados em inserir nossos alunos no mercado de trabalho, mas os auxiliaremos a desenvolver suas potencialidades e a compreender seus próprios desejos e metas de forma que estejam prontos para atuar no mercado de trabalho de maneira responsável e consciente. O foco da orientação costumava ser o mundo fora dos muros da escola e as formas como deveríamos moldar nossos alunos para estarem de acordo com o que esse mundo esperava dele. Agora, no entanto, os objetos centrais da Orientação Educacional e Pedagógica passaram a ser o próprio aluno e as formas como podemos auxiliá-lo a se desenvolver para atuar no mundo. Em seu livro “Orientação Educacional e suas ações no contexto atual da escola”, Mary Rangel (2015) se questiona sobre a existência de “qualidades naturais”, que poderiam ser consideradas como requisitos para o exercício da Orientação Educacional. Neste sentido, a autora destaca o risco deste raciocínio que defende a existência de aspectos naturais da personalidade do indivíduo que o qualifiquem para o desempenho da atividade, pois algo que nasce conosco é algo que não se aprende. Assim, ficaríamos presos ao pensamento de que algumas pessoas nascem para desempenhar esta atividade e aquelas que não foram abençoadas pela natureza com as qualidades certas não poderão nunca trabalhar com orientação. Imaginemos o exemplo hipotético de duas educadoras que atuam em suas respectivas escolas como Orientadoras Educacionais e Pedagógicas. Carolina é ríspida no trato com os colegas, se comunica com os alunos de forma autoritária e não estabelece boas relações interpessoais na escola. Amanda, por seu turno, é calma e paciente, está sempre disponível para dialogar com os alunos e recorrentemente auxilia os professores com suas dúvidas e questionamentos. O comentário geral a respeito de Carolina é que ela “não serve” para ser orientadora, porque não “tem” paciência, não “é” agradável e “tem um temperamento” autoritário. Enquanto Amanda é vista como uma pessoa que “nasceu para ser” orientadora, porque “é” agradável, “se dá bem” com todo mundo e “tem um temperamento” amistoso. Você percebe que todas as considerações a respeito da qualificação para o trabalho dessas duas profissionais se embasam em traços naturais da personalidade das duas? Com isso, poderíamos dizer que Amanda é e sempre será uma boa orientadora enquanto Carolina não tem a menor chance de aprimorar seu trabalho. 21 A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA • CAPÍTULO 2 No entanto, o próprio fato de estarmos aqui neste momento discutindo qual deve ser a forma mais adequada para lidarmos com nossos alunos é uma prova de que a postura do profissional de educação é uma prática sobre a qual refletimos e para a qual nos condicionamos de acordo com as reflexões que fazemos e os conceitos novos que aprendemos. Carolina, neste sentido, depois de estudar sobre o assunto, e percebendo a importância do relacionamento interpessoal no processo educativo, poderia aprimorar sua forma de se posicionar diante da comunidade escolar e de interagir com as pessoas com as quais trabalha. Por esse motivo, Rangel (2015) salienta que, em vez de falarmos sobre qualidades ou características, devemos refletir a respeito das competências necessárias ao desempenho da Orientação Educacional, porque, dessa maneira, estamos dando ênfase à possibilidade de formação do profissional, que se constrói mediante a prática e o estudo continuado das questões que se apresentam no cotidiano. A literatura conceitual da área de educação nos aponta alguns modelos de comportamento fundamentais para a prática da orientação, tais quais a melhor maneira de se relacionar com os alunos, o modo adequado de atender à demanda dos professores, o olhar sensível para as questões da comunidade, etc. É o conteúdo atitudinal da disciplina, que nos indica valores, atitudes, normas e posturas que influenciam diretamente no bom desenvolvimento do trabalho e, por isso, devem ser praticados. Voltando ao exemplo hipotético apresentado, podemos dizer que Carolina, mantendo-se em constante atualização, refletindo criticamente sobre sua prática e implementando em suas atividades esses valores e posturas, obterá melhores resultados independentemente de suas características pessoais. Amanda, por sua vez, precisa fazer esforço semelhante para manter-se atualizada com as reflexões da área e a prática cotidiana. Posturas e competências do Orientador Educacional e Pedagógico A seguir, vejamos algumas dessas posturas e competências que devem ser desenvolvidas e praticadas pelo profissional que atua na área de Orientação Educacional e Pedagógica. Postura respeitosa diante da autonomia do aluno Nesta disciplina, gostaríamos de propor a você uma visão de educação que tem como objetivo o desenvolvimento pleno das potencialidades dos educandos, ou seja, que atua como uma forma de ajudá-los a se desenvolver e encontrar seus próprios caminhos para a solução de problemas e para a participação na vida social. Esperamos que, em sua prática cotidiana como orientador educacional e pedagógico, você esteja sempre com os olhos abertos para enxergar no aluno suas potencialidades, singularidades e a forma como ele se expressa e age no 22 CAPÍTULO 2 • A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA mundo, e não apenas aquilo que se convencionou ser importante que ele conheça, saiba fazer ou seja. Para construir esse olhar, apresentaremos a teoria de dois autores que nortearam sua visão de educação pela valorização da autonomia do aluno e buscaram, ao longo de suas trajetórias acadêmicas, despertar o interesse de outros educadores para a importância de empoderarmos nossos educandos para serem conscientes de suas escolhas e de seu papel no mundo. Carl Rogers e a orientação não diretiva O norte-americano Carl Rogers é considerado um dos grandes nomes da psicologia no século XX, especialmente por ter se dedicado a estudar o posicionamento que deveria ser assumido pelo terapeuta diante de seus clientes dentro do consultório. Posteriormente, suas teorias foram transpostas para o campo da educação, auxiliando-nos a refletir a respeito da postura assumida pelo educador diante de seus alunos. Rogers foi um importante representante da corrente humanista, que buscou construir toda a sua teoria acadêmica em torno da possibilidade de facilitar o crescimento pessoal do indivíduo. Para isso, partia de uma visão otimista do ser humano, acreditando que todos nós possuímos uma tendência natural para o aprendizado e para a construção de relações interpessoais construtivas. Veja o que defende o autor em suas próprias palavras: Resta-me indicar uma lição que aprendi e que está, talvez, na base de tudo quanto venho dizendo. Ela se impôs a mim ao longo desses vinte e cinco anos em que tentei ser de algum préstimo para indivíduos com perturbações pessoais. A lição é simplesmente esta: a experiência mostrou-me que as pessoas têm fundamentalmente uma orientação positiva. Nos meus contatos mais profundos com indivíduos em psicoterapia, mesmo com aqueles cujos distúrbios eram mais perturbadores, cujos sentimentos pareciam muito anormais, a afirmação continua sendo verdadeira. Quando consigo afetivamente compreender os sentimentos que exprimem, quando sou capaz de aceitá-los como pessoas separadas em todo seu direito, nessa altura vejo que tendem a orientar-se em determinadas direções. E quais são essas direções que os seus movimentos subentendem? As palavras que julgo descreverem com maior veracidade essa direção são: positiva,construtiva, tendente à autorrealização, progredindo para a maturidade e para a socialização. Acabei por me convencer de que quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior sua tendência para abandonar as falsas defesas que empregou para enfrentar a vida, maior sua tendência para se mover para a frente. Não gostaria de ser mal compreendido. Não tenho uma visão ingenuamente otimista da natureza humana. Tenho perfeita consciência do fato de que, pela necessidade de se defender dos seus terrores íntimos, o indivíduo pode vir a se comportar e se comporta de uma maneira incrivelmente feroz, horrorosamente destrutiva, imatura, regressiva, antissocial, prejudicial! 23 A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA • CAPÍTULO 2 Mas um dos aspectos mais animadores e revigorantes da minha experiência é o trabalho que levo a cabo com indivíduos desse gênero, e a descoberta das tendências orientadas muito positivamente existentes neles todos, e em todos nós, nos níveis mais profundos (ROGERS, 2001, p. 21). De acordo com Rogers (2001), para obtermos sucesso em qualquer projeto em que lidemos diretamente com o outro, auxiliando-o a desenvolver-se, seria necessário transformar a forma como nos relacionamos, extinguindo o autoritarismo existente nessa interação e assumindo uma postura não diretiva, ou seja, sem interferir diretamente nas escolhas do indivíduo e na forma como ele soluciona seus problemas. É criar um ambiente propício para que a própria pessoa se desenvolva, amadureça e seja capaz de resolver seus próprios problemas, em vez de simplesmente oferecer-lhe as respostas ou dizer-lhe qual caminho seguir. Essa verdade, segundo Rogers, pode ser aplicada na relação entre terapeuta e paciente, professor e aluno, pai e filho, ou qualquer outra relação em que o objetivo seja auxiliar o outro a tornar-se pessoa. Por isso, suas reflexões se adéquam tão bem a nossa análise sobre a orientação educacional e pedagógica, já que, neste contexto, o orientador educacional e pedagógico seria um facilitador, responsável por auxiliar os seus orientandos a encontrarem, de forma livre e responsável, os melhores caminhos para a sua própria construção de conhecimento. Para que esse projeto educacional centrado no desenvolvimento da pessoa seja bem-sucedido, Rogers aponta três características fundamentais a serem cultivadas em qualquer relação interpessoal, e que traremos aqui para a relação existente entre o orientador e seus orientandos: Consideração positiva incondicional: consiste em respeitar seu orientando acima de tudo, acolhendo-o e aceitando-o pela pessoa que ele é. É criar uma relação positiva, na qual ele se sinta à vontade para ser quem realmente é, sem se esforçar para ser ou dizer aquilo que ele acredita que o orientador espera ouvir dele. Compreensão empática: é a capacidade de o orientador colocar-se no lugar do outro para buscar compreender seus sentimentos e as motivações que o levaram a agir de determinada forma. É mediante a expressão dessa compreensão empática que o orientador é capaz de criar um ambiente de acolhimento para seu aluno, no qual ele se sinta confortável e seguro para expressar-se e desenvolver-se. Autenticidade ou congruência: esta característica diz respeito à capacidade de o orientador expressar de forma objetiva suas percepções e sentimentos a respeito do educando e de suas escolhas, para que, desse modo, ele seja capaz de refletir sobre si mesmo. É ser verdadeiro em sua forma de se comunicar com o outro. Segundo o autor, uma vez que se reúnam esses três elementos no trato com a pessoa que se pretende auxiliar – seja ela um paciente, um aluno, um filho, um funcionário, etc. – a própria relação interpessoal oferece ao indivíduo as ferramentas necessárias para que ele se torne mais 24 CAPÍTULO 2 • A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA autoconfiante, maduro e apto a auxiliar a si mesmo. Carl Rogers sintetiza esse ponto de vista da seguinte maneira: Se eu posso criar uma relação caracterizada da minha parte: por uma autenticidade e transparência, em que eu sou meus sentimentos reais; por uma aceitação afetuosa e apreço pela outra pessoa como um indivíduo separado; por uma capacidade sensível de ver seu mundo e a ele como ele os vê. Então o outro indivíduo na relação: experienciará e compreenderá aspectos de si mesmo que havia anteriormente reprimido; dar-se-á conta de que está se tomando mais integrado, mais apto a funcionar efetivamente; tomar-se-á mais semelhante à pessoa que gostaria de ser; será mais autodiretivo e autoconfiante; realizar-se-á mais enquanto pessoa, sendo mais único e autoexpressivo; será mais compreensivo, mais aceitador com relação aos outros; estará mais apto a enfrentar os problemas da vida adequadamente e de forma mais tranquila (ROGERS, 2001, p. 26). Partindo dessa importância central que o autor confere ao respeito e à aceitação que devemos ter diante daquele que auxiliamos, chegamos a outro conceito importante para a orientação educacional e pedagógica que pode ser extraído da teoria rogeriana, que é o de escuta sensível. De acordo com Rogers, a escuta sensível é aquela em que não há julgamentos ou preconceitos por parte do educador com relação àquilo que é dito e à forma que é dito pelo educando. É desenvolver um ambiente em que o orientador respeita e acolhe o seu orientando, promovendo, assim, uma relação de confiança entre os dois. Imagine, por exemplo, uma situação em que o aluno utiliza-se de gírias e expressões do seu cotidiano para comunicar suas percepções e sentimentos diante de uma dada circunstância e é respondido pelo orientador com frases do tipo «fala direito», ou «isso não é jeito de falar». Você acha que esse aluno se sentirá acolhido e respeitado a ponto de se sentir motivado a continuar falando? Claro que não! Provavelmente ele se sentirá inibido a prosseguir e o diálogo, que poderia ter sido enriquecedor na busca de uma solução para o problema, extingue-se exclusivamente pela falta de uma escuta sensível por parte do orientador. Por essa razão, Rogers defende a todo custo que respeitemos o outro e suas características individuais, mostrando a ele que nos importamos e que não estamos ali de forma autoritária tentando moldá-lo ou direcioná-lo, mas, sim, buscando auxiliá-lo a encontrar seu próprio caminho de maneira confiante e autônoma. Dentro dessa visão rogeriana de mundo, podemos dizer que, ao oferecermos a cada um dos indivíduos a possibilidade de autonomia e completude, a relação geral do grupo torna-se mais positiva e tranquila. Paulo Freire e a educação emancipadora O pernambucano Paulo Freire foi um dos mais importantes pensadores da educação brasileira, e tornou-se conhecido, inclusive internacionalmente, por defender um modelo de educação no qual o aluno não recebe passivamente os conhecimentos transmitidos pelo professor, mas 25 A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA • CAPÍTULO 2 participa ativamente da construção dos seus saberes. De acordo com Freire, o papel do educador é oferecer ao aluno as ferramentas necessárias para que ele seja capaz de ler o mundo, compreender o papel que ele mesmo desempenha na sociedade e, com isso, seja capaz de transformar a realidade em que vive. O método freireano, aplicado especialmente à alfabetização de adultos, tem como cerne o respeito e a valorização pela realidade de vida do aluno e por aquilo que ele traz para a sala de aula, ou seja, os saberes que ele constrói socialmente na prática comunitária. Freire acreditava que uma educação significativa seria aquela que compreende que o aluno não é uma conta bancária vazia na qual o professor passa todo o período letivo fazendo depósitos de conteúdo para, ao final do processo, utilizar a prova como uma espécie de extrato bancário, em que verificará se tudo aquilo que foi depositado continua lá. Esse modelo educacional foi chamado por Paulo Freire de educação bancária. Este autor defendia um modelo educacionalem que o aluno, especialmente aquele oriundo das classes populares e oprimido por um sistema sociopolítico desigual e injusto, torna-se consciente da realidade em que vive a ponto de ser capaz de agir sobre ela, transformando-a. Para que isso seja possível, Freire aponta como elemento fundamental da pedagogia o respeito à autonomia do ser do educando. Nas palavras do próprio autor: O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência (FREIRE, 2011, p. 58). Freire reconhece, assim, que o educando – seja ele criança, jovem ou adulto – é um ser autônomo, que deve ser tratado com o devido respeito, para que o projeto educacional seja capaz de estimular o seu desenvolvimento e não somente para adestrá-lo a se comportar da maneira que se espera. Parte fundamental desse processo respeitoso de interação com o aluno reside em uma maneira diferenciada de falar com ele, na qual a comunicação se baseia em um senso de igualdade e respeito entre as duas partes. Quando o autor afirma que ensinar exige saber escutar, ele está defendendo o seguinte: Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise 26 CAPÍTULO 2 • A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA falar a ele. O que jamais faz quem aprende a falar com é falar impositivamente. Até quando, necessariamente, fala contra posições ou concepções do outro, fala com ele como sujeito da escuta de sua fala crítica e não como objeto de seu discurso. O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele (FREIRE, 2011, p. 111). Essa fala tão significativa de Freire nos ensina uma importante lição que todo Orientador Educacional e Pedagógico deve levar para a sua prática diária. É a diferença entre falar a e falar com. De acordo com o autor, o educador que fala ao aluno está se colocando diante dele em uma posição hierarquicamente superior, na qual a comunicação é autoritária e acontece de cima para baixo por subentender que o educador é o detentor da verdade absoluta e o educando deve se colocar passivamente diante dessa verdade. De outro lado, o profissional que se dispõe a falar com o aluno está propondo a ele um tipo de comunicação democrática, na qual a fala do educando é respeitada e valorizada. Freire defende ainda que a prática de escutar e falar respeitosamente com o educando pressupõe do educador o desenvolvimento da capacidade de ficar em silêncio, pois, ainda que ele tenha muito a dizer, parte de sua responsabilidade é motivar seu interlocutor a falar, a responder o que lhe foi dito. É justamente nesse processo de elaborar a resposta que o educando reflete sobre aquilo que foi apresentado, aplica o conceito a sua realidade e faz com que a fala do educador se torne verdadeiramente significativa para a sua vida. O diálogo democrático, portanto, intercala momentos de fala e de silêncio, nos quais o momento de silêncio de um é o momento de fala do outro. Ao se colocar em silêncio e dar ao aluno a vez da fala, o educador demonstra que se importa, que aquilo que o educando tem a dizer é valoroso e que ele possui autonomia para construir sua própria visão de mundo. Como pudemos ver, o respeito ao aluno, aos seus sentimentos, ideais e história de vida, estão no centro das teorias de Rogers e Freire. Para os dois autores, o aluno não é uma entidade meramente passiva sobre a qual o educador possa agir e manipular para fazê-lo trilhar um caminho predeterminado. É um sujeito capaz de autodirigir-se se lhes forem oferecidas as ferramentas adequadas para que ele entenda a si mesmo e ao mundo em que vive. Outro ponto de encontro na fala desses dois autores diz respeito à importância que ambos atribuem à prática diferenciada de escutar o seu aluno com respeito e sem julgamentos. Tanto Rogers quanto Freire reconhecem que, ao impor seu discurso de forma autoritária sobre o educando, o educador está esgotando suas possibilidades de auxiliar este aluno a entender-se melhor, de construir um conhecimento verdadeiro sobre aquilo que se fala e de encontrar o caminho que faz mais sentido dentro de suas expectativas e da realidade em que vive. 27 A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA • CAPÍTULO 2 Transpondo o pensamento dos dois autores para a prática cotidiana do orientador educacional e pedagógico, é possível dizer que o trabalho se tornará mais eficiente à medida que deixemos de tentar nos impor diante de nossos orientandos e passemos a vê-los como responsáveis por encontrar seu próprio caminho, como indivíduos livres e autônomos com os quais devemos nos conectar de forma respeitosa e ética e não através do autoritarismo. Não é por acaso que um dos principais trabalhos de Rogers se intitula «Liberdade para aprender» e um dos mais importantes livros de Paulo Freire se chama «Educação como prática da liberdade». Por intermédio das propostas de Carl Rogers e Paulo Freire, podemos afirmar com segurança que o papel do orientador dentro de uma instituição de ensino seria o de participar na construção de um ambiente propício ao pleno desenvolvimento dos alunos. Isso seja trabalhando diretamente com os estudantes ou dando suporte ao corpo docente para que o projeto educacional da instituição seja posto em prática de forma efetiva e baseado no respeito aos alunos e às suas características específicas de grupo e de indivíduos. Imparcialidade e flexibilidade Tendo em mente a necessidade deste posicionamento respeitoso diante do aluno, compreendendo que ele é agente de sua própria vida, torna-se imprescindível salientarmos a imparcialidade como prática necessária ao processo de orientação educacional e pedagógica. Com isso, queremos dizer que o papel do orientador não é definir o caminho a ser seguido, mas indicar os caminhos possíveis, ajudando o indivíduo a avaliar suas possibilidades para escolher de forma responsável e consciente. Nas palavras de Mariza Lima (2007): O cliente não tem necessariamente os mesmos valores do profissional que o está atendendo: morais, pessoais, políticos e sociais. É ético que se respeitem os dele. Ele pode querer trilhar caminhos que nunca seriam percorridos pelo profissional que o orienta. Favorecer para que o caminho seja delineado, sim, mas intervir no traçado deste caminho, jamais! (LIMA, 2007, p. 25). Dessa forma, é fundamental que o orientador vocacional tenha em mente que sua tarefa é orientar o processo, e não direcionar o orientando para aquilo que ele julga mais adequado. Como vimos anteriormente, essa era a função do orientador em um período em que o indivíduo não era o foco principal da orientação. A flexibilidade também é um traço importante para o profissional que se dedica a este ofício, porque, à medida que o viés adotado nos dias de hoje pela OEP salienta o fato de que o foco da orientação deve ser o orientando e suas demandas, temos de ter em mente as idiossincrasias e particularidades desse indivíduo ao elaborar para ele um programa eficaz de orientação. É fundamental considerar que cada caso é um caso, ou seja, cada pessoa possui certas especificidades subjetivas e uma história de vida que a tornam única,por isso as técnicas utilizadas com outra pessoa talvez não sejam adequadas para ele. 28 CAPÍTULO 2 • A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA Busca constante por formação e atualização Toda escola espelha, em certa medida, a realidade sociocultural em que está inserida. Com isso, podemos dizer que, no ambiente escolar, encontramos representados os valores, as normas e os comportamentos típicos daquela comunidade e do momento histórico em que se encontra. Por esse motivo, é tão importante que o educador esteja muito atento para compreender esta realidade e se adaptar para lidar com ela da melhor forma. De nada adianta nos atermos a velhas práticas e conceitos, por mais eficazes que tenham sido, se o mundo se modifica cada vez mais rapidamente e com ele nossos alunos. Quantas vezes você já ouviu dizer que os jovens e as crianças de hoje em dia já não são mais como os de antigamente? Esta, infelizmente, ainda é uma reclamação recorrente em muitas salas de professores, o que causa espanto pela obviedade da afirmação. É claro que as crianças e os jovens dos dias de hoje são diferentes do que eram nas gerações passadas, pois o mundo muda – sua tecnologia, valores, padrões de consumo e de comportamentos – e com ele mudam as pessoas. O fato de os nossos alunos terem mudado não apresenta, em si, qualquer problema. A dificuldade está em querermos lidar com eles da mesma forma como costumávamos lidar com as gerações anteriores. Tentar utilizar com meus alunos de hoje as mesmas estratégias de orientação que eram utilizadas há trinta anos é tão inútil quanto tentar assistir a uma fita VHS em um aparelho de blue-ray. Tendo em vista a necessidade de estarmos atualizados, podemos dizer que uma característica fundamental para o Orientador Educacional e Pedagógico é a busca constante por formação, como afirma Lilian Chimentão (2009): Para que as mudanças que ocorrem na sociedade atual possam ser acompanhadas, é preciso um novo profissional do ensino, ou seja, um profissional que valorize a investigação como estratégia de ensino, que desenvolva a reflexão crítica da prática e que esteja sempre preocupado com a formação continuada. A nosso ver, a formação continuada passa a ser um dos pré-requisitos básicos para a transformação do professor, pois é através do estudo, da pesquisa, da reflexão, do constante contato com novas concepções, proporcionado pelos programas de formação continuada, que é possível a mudança. Fica mais difícil de o professor mudar seu modo de pensar o fazer pedagógico se ele não tiver a oportunidade de vivenciar novas experiências, novas pesquisas, novas formas de ver e pensar a escola (CHIMENTÃO, 2009, p. 3). Outro ponto importante a ser destacado é a necessidade de que essa formação continuada tenha sempre um olhar multidisciplinar, pois são muitas as áreas do conhecimento que podem contribuir com o preparo do profissional de orientação para lidar com a realidade cotidiana das instituições de ensino. A sociologia, a psicologia e a neurociência são algumas das disciplinas 29 A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA • CAPÍTULO 2 que, segundo Rangel (2015), podem fundamentar o trabalho de orientação, informando sobre diferentes aspectos da prática cotidiana ou dando enfoques variados sobre uma mesma questão. Reconhecimento das limitações profissionais do Orientador Educacional Um último aspecto importantíssimo da postura do Orientador Educacional e Pedagógico é o reconhecimento dos limites de sua atuação. Trata-se de compreender que, por mais que busquemos o diálogo com outras disciplinas para atualizar e tornar mais eficiente e informada a nossa conduta, ainda assim o nosso papel é o de um educador, e deve estar de acordo com as possibilidades de nossa área. Tão e às vezes mais importante que saber quais são as atribuições do Or.E. é conhecer quais atribuições não são da alçada dele, isto porque ele poderá vir a ser solicitado a executar funções ou tarefas não só que não lhe competem, como também que lhe são vedadas por lei. Dado o caráter assistencial de sua atuação profissional, o Or.E. pode ser solicitado e/ou sentir-se no dever de prestar alguns tipos de atendimento que são próprios de outros profissionais. Entre tais tarefas podem-se mencionar, pela frequência com que são solicitados a fazê-lo, atendimentos de saúde, como fazer curativos, ministrar medicamentos e realizar diagnósticos e terapias de natureza psicológica. Embora a recusa do Or.E. em ministrar medicamentos possa ser tida como má vontade dele, sabe-se que existem sérios riscos em administrar qualquer medicamento, como possível troca, dosagem errada, reação alérgica ou de outra natureza (GIACAGLIA; PENTEADO, 2015, p. 67). Com isso, pretendemos estabelecer uma regra de ouro, que você, quando estiver desempenhando a atividade de orientação em uma instituição de ensino, deverá ter em mente: apesar de trabalhar em parceria com profissionais de diferentes especialidades, o trabalho do orientador continua sendo o de um educador, que deve encaminhar para atendimento especializado os casos em que isso seja necessário, mas nunca fazendo, ele mesmo, diagnósticos ou apresentando sugestões de tratamento. Essa afirmação pode parecer um tanto óbvia, uma vez que as palavras “diagnóstico” e “tratamento” nos remetem imediatamente às atribuições da área médica. No entanto, infelizmente é comum que alguns orientadores acabem ultrapassando esses limites profissionais, porque, às vezes, a experiência na atividade docente e de orientação, o contato prolongado com os alunos e suas problemáticas, a interação com profissionais de outras áreas e mesmo os estudos que devemos realizar para estarmos atualizados e confiantes em nossa prática cotidiana nos permitem identificar certos indícios do problema enfrentado pelo aluno. No entanto, devemos ter muita clareza de que esta percepção e conhecimento prático, por mais acertados que tenham se mostrado, são benéficos apenas para que melhor encaminhemos 30 CAPÍTULO 2 • A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA nossos alunos ao profissional mais adequado para cuidar do seu caso específico, sem, contudo, nos autorizar a falar por este profissional. Vejamos um exemplo prático para que você compreenda melhor sobre o que estamos falando: Janaina, orientadora educacional de um pequeno colégio municipal, acompanha o caso de Alice, aluna do quarto ano do ensino fundamental que apresenta dificuldade de aprendizagem e de concentração, associadas a um comportamento agressivo, impulsividade, inquietação e irritabilidade. Janaina identifica nesses elementos a possibilidade de que a menina apresente algum tipo de transtorno que comprometa seu processo de aprendizagem e, por isso, convida os pais para uma conversa. Essa interação com os responsáveis pela aluna pode ocorrer das duas formas abaixo, apenas uma delas poderia ser considerada adequada. Abordagem I: Janaina conversa com os pais da aluna a respeito das dificuldades que ela vem enfrentando na escola, enumerando todos os comportamentos descritos pelo corpo docente e seus respectivos impactos sobre o desempenho acadêmico da menina. A orientadora afirma que, a partir de suas observações, foi possível identificar o quadro da aluna como uma manifestação do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, e por isso seria interessante que os pais procurassem a ajuda de um profissional da área de saúde, que poderá prescrever o uso de medicamentos e psicoterapia. Abordagem II: Janaina conversa com os pais da aluna a respeito das dificuldades que a discente vem enfrentando na escola, enumerando todos os comportamentos descritos pelo corpo docente e seus respectivos impactos sobre o desempenho acadêmico da menina. A orientadora sugere, então, que a melhor forma de auxiliar Alice seria encaminhá-la para um profissional de saúde, que avaliará com cuidado o caso para apresentar aos pais um diagnóstico preciso e o melhor tratamento aser realizado. Como você pode perceber, a diferença entre as duas abordagens é bastante sutil. Nos dois casos, a orientadora conversou com os pais sobre aquilo que a equipe pedagógica percebeu a respeito do comportamento de Alice, e sugeriu o encaminhamento da aluna a um profissional de saúde. No entanto, no primeiro caso, Janaina toma a liberdade de apresentar suas próprias conclusões a respeito do diagnóstico e os possíveis métodos de tratamento a serem empregados. E qual é o problema se Janaina provavelmente já se defrontou anteriormente com casos semelhantes, se ela mantém contato constante com profissionais de saúde e tem o hábito de estudar sobre o assunto para manter-se atualizada em sua prática cotidiana? Ela provavelmente está certa a respeito do quadro da aluna! O problema é que a orientadora, neste caso, não possui a formação necessária para analisar o caso de Alice e chegar a um diagnóstico, tampouco para opinar sobre formas de tratamento. Ainda que ela estude sobre o assunto, seu papel na interação com o aluno e sua família deve se 31 A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA • CAPÍTULO 2 restringir à esfera pedagógica, pois o risco de perdermos o limite em nossa prática profissional é grande e pode trazer grandes malefícios ao discente. Você já sentiu uma dorzinha qualquer e decidiu procurar por esse sintoma na Internet? Todos nós já fizemos isso alguma vez e na maior parte dos casos nos deparamos com um diagnóstico terrível associado ao sintoma que estamos apresentando. Um pequeno desconforto abdominal, depois de uma consulta ao Doutor Google, muitas vezes acaba se tornando uma úlcera ou coisa pior. Interiorizamos em nossa mente o tal diagnóstico de Internet e, ao chegarmos ao consultório médico, em vez de narrar o que sentimos, vamos logo dizendo o que acreditamos ter e às vezes modificamos inconscientemente nossos sintomas ao descrevê-los para o médico. Um diagnóstico feito por um profissional da escola que não possui a qualificação necessária pode funcionar da mesma forma que o diagnóstico da Internet, criando uma expectativa desnecessária, influenciando a interação da família com o médico e dificultando, assim, a análise objetiva do caso do aluno. Desafios contemporâneos da Orientação Educacional e Pedagógica Elencaremos algumas das principais questões ou problemáticas para as quais o Orientador Educacional e Pedagógico deve estar preparado, por serem questões recorrentes no cenário escolar do país como um todo. Não temos, no entanto, a intenção de estabelecer um manual sobre como solucionar esses problemas, pois eles assumirão aspectos diferenciados de acordo com o contexto em que estejam inseridos. Portanto, sua solução também deverá ser desenvolvida de acordo com cada caso, avaliando todas as variáveis e os aspectos específicos do problema como ele se apresenta na sua escola. O importante é ter em mente que a melhor solução para qualquer uma dessas situações está no olhar e na postura do orientador, na forma como ele se mantém atento aos problemas enfrentados por alunos, professores, equipe gestora e mesmo a comunidade, na maneira como ele acolhe seus orientandos e dialoga com eles para juntos encontrarem uma saída. Problemas familiares: em seu cotidiano, o Orientador Educacional e Pedagógico pode ter de lidar com diferentes questões familiares que influenciam, direta ou indiretamente, o comportamento e o desempenho acadêmico do aluno. A separação dos pais, os casos de doenças graves ou mortes na família, situações de desemprego dos responsáveis ou o nascimento de um novo irmão são apenas alguns exemplos das diversas circunstâncias familiares para as quais o orientador deve estar atento ao se deparar com mudanças de comportamento ou desempenho do aluno. 32 CAPÍTULO 2 • A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA Quando dizemos que “nenhum homem é uma ilha”, estamos querendo dizer que ninguém pode viver isolado do mundo em que está inserido. Tudo aquilo que vivemos e as pessoas com as quais nos relacionamos refletem em nossa vida como um todo. A família, dessa forma, desempenha um papel importante – com efeitos positivos ou negativos – sobre a vida escolar dos alunos. Indisciplina e violência: a questão da indisciplina é complexa dentro da atividade do orientador educacional e pedagógico, pois, em muitos contextos, esse profissional é visto como mero disciplinador, responsável por vigiar a conduta dos alunos e prescrever castigos e punições, o que não é verdade. No entanto, também não podemos dizer que seja possível ignorar a questão da indisciplina, porque ela também faz parte das atribuições do OEP. É importante destacar, nesse contexto, que, muito mais interessante do que essa perseguição ao aluno indisciplinado, é o trabalho conjunto com os professores e alunos para a construção de uma rede de significados e acordos sobre aquilo que será considerado indisciplina. Assim, todos podem dialogar sobre os temas propostos – conversa em sala de aula, atraso, enfrentamento ao professor, etc. – para que se construa coletivamente o roteiro de conduta a ser seguido diante dos casos que se apresentem. No que diz respeito à violência, é importante considerarmos que ela representa uma forma de expressão e comunicação, muitas vezes a única de que o indivíduo é capaz naquele momento. Seria interessante, dessa forma, incentivar o diálogo, trabalhando com os alunos a habilidade de exprimir suas ansiedades, frustrações ou qualquer tipo de sentimento por meio de outros veículos, tais como o esporte, a arte, a escrita, etc. Com isso, não estamos desconsiderando o fato de que muitas escolas estão localizadas em comunidades violentas, em que, por vezes, sentimo-nos impotentes diante de uma realidade tão dura. Nessas ocasiões, especialmente, cabe-nos lembrar o papel transformador da educação, Para refletir Leia com atenção o relato abaixo, em que a autora Mary Rangel apresenta um exemplo de problema familiar diante do qual o Orientador Educacional e Pedagógico pode ter de atuar. Após a leitura do caso, tente se imaginar no lugar desse orientador, e reflita a respeito das estratégias que você utilizaria para auxiliar o aluno. “Vale lembrar a expressão de um aluno do 2º ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede municipal do Rio de Janeiro. A expressão (a fisionomia, o olhar) desse aluno, com apenas oito anos de idade, demonstrava uma profunda tristeza. A professora, então, solicitou o auxílio da orientadora educacional e, com a mesma expressão de tristeza e medo no olhar, o aluno disse à orientadora o que já havia dito à sua professora: “Vai acontecer uma coisa muito ruim lá em casa... muito, muito ruim!” Poucos meses depois, essa “coisa muito ruim”, conforme ele percebia e lhe causava sofrimento, realmente aconteceu: os pais se separaram. O sentimento de “perda” pela desunião do casal, o sentimento de “perda do pai”, que saiu de casa, o sentimento de frustração, por “não ter ajudado, ou até ter colaborado para essa separação” compõem um cenário sombrio e confuso e ideias que invadem o pensamento dos filhos, prejudicando, inclusive, sua autoestima. O que pode fazer o orientador, a orientadora educacional? Não há resposta simples, mas há um núcleo principal de atenções e atitudes que facilitam e promovem a relação de ajuda. Nesse núcleo, encontram-se, essencialmente, o afeto, o diálogo, o conhecimento que esclarece o significado de família, ressaltando que ela permanece, na presença e no amor dos pais, para além da sua separação” (RANGEL, 2015, p. 16-17). 33 A ORIEntAçãO EDUCACIOnAL E PEDAgÓgICA COntEMPORÂnEA • CAPÍTULO 2 apresentando a nossos alunos outras estratégias de ação no mundo e educando-os sempre pelo exemplo. O confronto muitas vezes é a forma mais fácil de lidar com eles, mas é também a única linguagem que muitos conhecem e para a qual estão prontos para reagir. Bullying: este é um tema recorrente no cenário educacional
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