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de trabalho no lugar de uma, e o preço delas cai proporcionalmente
ao excedente de mais-trabalho dos quatro em relação ao mais-trabalho
de um. Agora, quatro precisam fornecer não só trabalho, mas mais-
trabalho para o capital, para que uma família possa viver. Assim, a
maquinaria desde o início amplia o material humano de exploração,
o campo propriamente de exploração do capital,50 assim como ao mesmo
tempo o grau de exploração.
A maquinaria também revoluciona radicalmente a mediação for-
mal das relações do capital, o contrato entre trabalhador e capitalista.
Com base no intercâmbio de mercadorias, o pressuposto inicial era
que capitalista e trabalhador se confrontariam como pessoas livres,
como possuidores independentes de mercadorias: um, possuidor de di-
nheiro e de meios de produção; o outro, possuidor de força de trabalho.
Mas, agora, o capital compra menores ou semidependentes. O traba-
lhador vendia anteriormente sua própria força de trabalho, da qual
dispunha como pessoa formalmente livre. Agora vende mulher e filho.
Torna-se mercador de escravos.51 A procura por trabalho infantil as-
semelha-se, freqüentemente também na forma, à procura de escravos
negros, como se costumava ler em anúncios de jornais americanos.
“Minha atenção”, diz, por exemplo, um inspetor de fábrica in-
glês, “foi despertada por um anúncio no jornal local de uma das
mais importantes cidades manufatureiras de meu distrito, do qual
MARX
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50 "O número de trabalhadores aumentou muito, porque se substitui cada vez mais trabalho
masculino por feminino e sobretudo trabalho adulto por infantil. Três garotas de 13 anos
de idade, com salários de 6 a 8 xelins por semana, deslocaram um homem adulto com
salário de 18 a 45 xelins." (QUINCEY. Th. de. The Logic of Polit. Econ. Londres, 1844.
Nota à p. 147.) Como certas funções da família, por exemplo, cuidar das crianças e ama-
mentá-las etc., não podem ser totalmente suprimidas, as mães de família confiscadas pelo
capital têm de arranjar substitutas mais ou menos equivalentes. Os labores domésticos que
o consumo da família exige, como costurar, remendar etc., precisam ser substituídos pela
compra de mercadorias prontas. Ao menor dispêndio de trabalho doméstico corresponde
portanto maior dispêndio de dinheiro. Os custos de produção da família operária crescem,
portanto, e contrabalançam a receita suplementar. Acrescente-se a isso que economia e
eficiência no uso e na preparação dos meios de subsistência se tornam impossíveis. Sobre
esses fatos escamoteados pela Economia Política oficial encontra-se rico material nos Reports
dos inspetores de fábrica, na “Children’s Employment Commission” e notadamente nos
Reports on Public Health.
51 Contrastando com o importante fato de a limitação do trabalho das mulheres e das crianças
nas fábricas inglesas ter sido uma conquista arrancada ao capital pelos trabalhadores adultos
masculinos, encontram-se ainda nos relatórios mais recentes da “Children’s Employment
Commission” atitudes realmente revoltantes, próprias de comerciantes de escravos, por
parte de pais trabalhadores em relação ao tráfico de crianças. Mas o fariseu capitalista,
como se pode ver nesses mesmos Reports, denuncia essa bestalidade por ele mesmo pro-
duzida, eternizada e explorada, a qual, fora daí, dá o nome de “liberdade de trabalho”.
“Recorreu-se ao trabalho de crianças pequenas (...) até mesmo para que trabalhem para
seu próprio pão de cada dia. Sem forças para suportar trabalho tão desproporcionalmente
pesado, sem instrução que viesse a guiar sua vida futura, foram jogadas numa situação
poluída física e moralmente. O historiador judeu observou, em relação à destruição de
Jerusalém por Tito, que não era de se admirar que teria de ser destruída e destruída tão
completamente se lá uma mãe desumana sacrificou seu próprio rebento para satisfazer a
avidez de uma fome absoluta.” (Public Economy Concentrated. Carlisle, 1833. p. 66.)

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