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Eufemismo ao conceituar o velho; Não reconhecemos a velhice em nós mesmo apenas nos outros; A velhice é um constante e inacabado processo de subjetivação; Nas sociedades tradicionais, a figura do velho era como dita de sabedoria, a paciência, e transmitia valores de ancestralidade; Com o avanço do capitalismo, o valor social da velhice passa então a ser associado a inutilidade e decrepitude. O valor individual passa a se prevalecer, onde cada cidadão vale por suas realizações; O resgate da verdadeira cidadania é o resgate da possibilidade de existir para o Outro. A garantia de ser olhado como alguém que só se garante como ser social na medida que possa exercer seus direitos. Com base neste sujeito do direito é que surge o sujeito da psicanálise, que não é mais que o sujeito do desejo, ou seja uma construção histórica ancorada nos fundamentos da modernidade. A psicanálise nasce paradoxalmente como produto desta modernidade para ser sua grande questionadora. “A maioria das culturas conhecidas na atualidade contam com uma considerável bagagem de condutas negativas em relação às pessoas idosas, muitas delas operadas de forma inconsciente, e muitas outras francamente explicitadas. Em 1973, Butler estudou este fenômeno sob o nome de ageism, e mais tarde, na Argentina , Leopoldo Salvarezza chamou-o de viejismo. Este conceito define “...um conjunto de preconceitos, estereótipos e discriminações que se aplicam aos velhos simplesmente em função de sua idade..... Este é um preconceito comparável a outros que se aplicam às diversas minorias conhecidas, e inclui a chamada gerontofobia que se refere a uma conduta, felizmente menos frequente, caracterizada pelo medo ou ódio irracional aos velhos”. (Salvarezzza, 1993, pág 23)” A falta de um reconhecimento social para a velhice, a falta de um lugar simbólico, o fato de não mais ser fonte de prazer, resulta numa desnarcisação do sujeito. Isto é, numa falta de investimento do ambiente em direção a esse sujeito, e vice versa, o que impede a elaboração da perda e provoca um crescente empobrecimento da vida afetiva. “Na velhice, período de perdas de objetos significativos e de lugares de reconhecimento simbólico, falha frequentemente a função reguladora do Ideal do Eu: então, no confronto entre o Eu Ideal e a realidade corporal, presentifica-se a incompletude, que como uma avalancha arrasta todas as imagens narcísicas que foram constituintes do Eu. Abrem-se assim buracos por onde se filtram as fantasias inconscientes de castração e aniquilamento ligadas a um Eu fortemente desvalorizado. Ser velho pode muitas vezes significar a perda da ilusão da própria potência, aceitar o domínio inelutável da pulsão de morte e apesar disso, continuar lutando.” “O sujeito se configura nas três dimensões do tempo: ante os obstáculos do presente, evoca o passado em busca do sentido necessário e joga para o futuro as possibilidades de reparação; porém, se o futuro não mais existe, o sujeito se afunda em um futuro de não-ser que o arranca violentamente do campo do desejo.” “É preciso pensar muito seriamente sobre o ponto de vista ético que oriente este reconhecimento social do velho, e que determinará se as ações em relação aos velhos serão de inclusão, exclusão ou indiferença; pois segundo as palavras de Foucault : “...as éticas não só refletem diferenças no modo de subjetivação, mas participam da constituição de subjetividades; em outras palavras, podemos ver as éticas como dispositivos ensinantes de subjetivação, elas efetivamente sujeitam os indivíduos, ou seja, ensinam, orientam, modelam e exigem a conversão dos homens em sujeitos morais historicamente determinados” (citado por Figueiredo, 1995, pág 43)” REFERÊNCIAS GOLDFARB, Delia Catullo. Corpo, tempo e envelhecimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
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