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JOSÉ SA NTA NA FA RIA S NE TO - UES B 1 Obstetr íc ia FISIOPATOLOGIA Acredita-se que vários fatores atuam sinergicamente e, assim, levam ao início prematuro das contrações uterinas . Evento MULTIFATORIAL, no qual estão envolvidos: • Citocinas inflamatórias (IL 1, 6 e 8, TNF). • Hormônios hipotalâmicos e adrenais (ocitocina, cortisol e hormônio liberador de corticotropina). • Produção de estrógenos placentários. • Liberação de prostaglandinas e proteases. • Formação de trombina. Estes eventos parecem ser resultado de um dos quatro processos patológicos : 1. Ativação prematura do eixo hipotálamo- hipófise-adrenal materno e fetal. a. Estresse fetal ou materno pode desencadear a liberação de hormônios hipotalâmicos (CRH, ocitocina) e adrenais (cortisol, adrenalina). 2. Inflamação/infecção (ex.: corioamnionite, cervicite). a. Promovem liberação de endotoxinas e citocinas inflamatórias (TNF-α e IL). 3. Hemorragia decidual. a. Com a produção de trombina, aumenta a contratilidade uterina. 4. Distensão ou contratilidade uterina patológica. a. Sobredistensão = ↑ contratilidade → ex.: polidrâmnio e gemelidade. b. Contratilidade anormal pode envolver receptores de ocitocina, ↓ relativa da progesterona ou as gap junctions. Dentro dos mecanismos básicos que levam a contrações uterinas, a ISQUEMIA UTEROPLACENTÁRIA também recebe destaque. Alguma vasculopatia decidual pode desencadear a ↓ fluxo sanguíneo placentário secundário = crescimento fetal intrauterino restrito , que produz dano tecidual por meio de peroxidase lipídica e radicais livres. O parto prematuro, visto de forma isolada, tem como um grande fator causal a rotura precoce de membranas ovulares , mas, na maior parte dos casos, NÃO é possível identificar um fator desencadeante. FATORES DE RISCO O parto prematuro é considerado de etiologia desconhecida em ~50% dos casos , mas com frequência ocorre associação de fatores de riscos maternos e fetais que podem ser classificados em: FA TOR E S E P I D EMIO LÓG I COS → Socioeconômicos • Baixo nível socioeconômico → no mundo nascem ~15 milhões de prematuros/ano (~11%) → ~90% concentram-se em países pobres ou em desenvolvimento. • Fatores agravantes → nível educacional baixo, más condições de higiene, nutrição inadequada, gravidez na adolescência ou indesejada, complicações maternas, conflitos familiares, tabagismo, consumo de drogas, estresse constante e falta de assistência pré-natal adequada. → Nutrição inadequada • Revisões sistemáticas demonstram que suplementos proteicos e vitamínicos não reduzem as taxas de prematuridade . Pode-se afirmar o mesmo em relação aos ácidos Parto Prematuro PARTE II JOSÉ SA NTA NA FA RIA S NE TO - UES B 2 Obstetr íc ia graxos insaturados (ômega-3) para a prevenção da prematuridade. • Mulheres com sobrepeso ou obesas apresentam maior risco de desenvolver complicações como diabetes mellitus gestacional e pré-eclâmpsia, que constituem fatores de risco para a prematuridade. Além disso, estão mais sujeitas a ter bebês com defeitos do tubo neural (DTN) e esses conceptos tendem a nascer antes do tempo. → Idade materna • Extremos etários podem estar relacionados à prematuridade. • A maior incidência de prematuridade entre as adolescentes pode estar relacionada mais ao baixo nível socioeconômico, à gravidez indesejada, a conflitos familiares e à falta de assistência pré-natal adequada do que à faixa etária propriamente dita. • A maior prevalência de prematuridade em mulheres com idade > 35 anos é secundária à maior frequência de intercorrências clínicas e ao uso mais frequente das técnicas de reprodução assistida e gestação gemelar . → Estresse físico e psicológico • A literatura não é uniforme na caracterização do esforço físico como prejudicial → alguns consideram a posição em pé por longos períodos (>6h); outros, subir escadas ou levantar pesos com frequência . • Carga horária excessiva (>40h/semana) e trabalho noturno podem comprometer a evolução normal da gestação. • Ansiedade = estresse psicológico que ultrapassa a capacidade da mulher de adaptar-se a determinada situação. • Estresse crônico = ativação do eixo HHA materno e fetal = ↑ hormônio liberador de corticotrofina (CRH). • Estresse agudo = liberação de catecolaminas → estimula os receptores alfa no útero e provoca hipercontratilidade uterina. → Tabagismo • Risco de prematuridade relaciona-se diretamente com o número de cigarros consumidos durante a gestação e não com o tabagismo antes de engravidar. • A nicotina e o monóxido de carbono são poderosos vasoconstritores e estão associados às lesões placentárias e ↓ do fluxo uteroplacentário . → Drogas • Apenas o alcoolismo acentuado leva ao TPP. • Risco alto com o uso de cocaína e derivados, situação em que a incidência de parto prematuro pode aumentar em até 3x. FA TOR E S O BST É TR I COS → Alterações hormonais • Supõe-se que a PROGESTERONA determine, pelo menos em parte, o estado de quiescência uterina mantido ao longo da gestação, sendo desfeito apenas poucas semanas antes do trabalho de parto. Entre os diversos efeitos da progesterona, destacam- se: ↓ receptores de estrógenos, síntese de ocitocina, ↓ formação de gap junctions, ↑ síntese de receptores β, ↓ cálcio livre intracelular e ↑ cálcio nos depósitos (retículo sarcoplasmático). • A placenta produz ESTROGÊNIO a partir de andrógenos – deidroepiandrosterona (DHEA) – da adrenal fetal → apesar da ↓ progesterona plasmática não preceder o parto, o ↑ relação estrógeno/progesterona é um dos principais fatores que determinam o aparecimento das contrações uterinas. • Predomínio estrogênico = ↑ receptores de ocitocina, formação de gap junctions no miométrio, ↑ prostaglandinas, alterações bioquímicas no tecido conjuntivo cervical e degradação do colágeno. • Além disso, o ↑ dessa relação associa-se à ↓ atividade da enzima PROSTAGLANDINA DESIDROGENASE (função = metabolizar as prostaglandinas). → Insuficiência cervical • A dilatação cervical precoce e indolor com a exteriorização das membranas no segundo trimestre da gestação, seguida por rotura destas e/ou infecção com consequente expulsão fetal, constitui a sequência de eventos que ocorre nessa enfermidade , a menos que o diagnóstico seja oportuno e seja instituído o tratamento cirúrgico por meio de circlagem cervical. → Sangramentos vaginais JOSÉ SA NTA NA FA RIA S NE TO - UES B 3 Obstetr íc ia • O sangramento decorrente de algum fator mecânico que leve ao descolamento coriodecidual constitui fator de risco. • O trabalho de parto prematuro (TPP) deve-se provavelmente ao efeito contrátil da TROMBINA. → Placenta prévia e descolamento prematuro de placenta • Complicações maternas e fetais comuns nesses casos costumam resultar em partos prematuros eletivos. → Polidrâmnio e gemelidade • TPP desencadeado em decorrência da sobredistensão uterina. • A incidência de gestações múltiplas tem se elevado nos últimos anos por conta da idade materna avançada e gestações decorrentes de tratamentos de reprodução assistida . → Rotura prematura de membranas ovulares-RPMO • Etiologia na maioria das vezes desconhecida. • São sugeridos comprometimentos estruturais ou bioquímicos que causam perda de elasticidade das membranas e ↑ pressão intrauterina ou enfraquecimento das membranas, em decorrência da invasão bacteriana e de reações inflamatórias. → Malformações fetais • Destaques: anencefalia e agenesia renal com hipoplasia pulmonar (síndrome de Potter). • Malformação + polidrâmnio → TPP ocorre por sobredistensão uterina. → Restrição do crescimento fetal • As alterações isquêmicas da placenta (nãotransformação fisiológica do segmento miometrial das artérias espiraladas, aterose e trombose das artérias espiraladas) seriam responsáveis pelo estresse fetal crônico, o que provocaria a liberação de hormônios hipotalâmicos (CRH, ocitocina) e adrenais (cortisol) = ↑ contratilidade uterina. • Uma das principais causas de TPP eletivo. → Partos prematuros anteriores • Fator de risco clínico mais importante para a prematuridade espontânea . • Risco de repetição de TPP é ~2x maior do que na ausência desse antecedente. • Risco é ainda maior quanto maior o número de prematuros anteriores e menor a idade gestacional em que ocorreram os partos. FA TOR E S G INE CO LÓG I COS → Encurtamento do colo uterino • O encurtamento e a abertura do orifício cervical interno podem preceder o parto em 4 a 8 semanas. • Mecanismos envolvidos são desconhecidos, mas supõe-se a participação de contrações uterinas silenciosas ou de processo inflamatório local → a invasão de células inflamatórias locais (neutrófilos) induz a produção de colagenases = lise do colágeno (principal componente do colo uterino). → Malformações uterinas • Destaques: útero didelfo, bicorno e septado → contrações uterinas mais frequentes e fator de risco para incompetência cervical. • Anomalias de implantação placentária + septo uterino podem ser causa de descolamento prematuro de placenta. → Miomas • Miomas volumosos podem ser responsável por sangramentos e RPMO. • Miomas de pior prognóstico → submucosos e retroplacentários. FA TOR E S C L ÍN I CO - C I RÚ R G I COS → Infecções • Infecção do trato genital inferior : a ascensão de microrganismos à decídua, membranas fetais e líquido amniótico podem desencadear o TPP. • Processo infeccioso e inflamatório do cório, decídua ou cérvix = liberação de interleucinas (IL-1, IL-6, IL-8) + TNF → atraem leucócitos e macrófagos, ativando-os a produzirem elastases e outras proteases = degradação da matriz extracelular cervical → isso leva ao preparo do segmento inferior e ao esvaecimento do colo uterino. Além disso, as células deciduais, âmnio e citotrofoblasto , na presença da IL-1, podem sintetizar o CRH → estimula a produção de prostaglandinas (PGF2-α, PGE1 e PGE3) pelas membranas e células deciduais = ↑ contratilidade uterina. • Níveis elevados de IL-6 no líquido amniótico são considerados marcadores de infecção/inflamação amniótica . Quando os microrganismos ganham acesso ao feto determinam a síndrome de resposta JOSÉ SA NTA NA FA RIA S NE TO - UES B 4 Obstetr íc ia inflamatória (SRI) caracterizada por concentrações elevadas de IL-6 (>11 pg/ml). • A frequência de infecções detectadas pela cultura de líquido amniótico é maior quanto menor a IG de nascimento. • Associação entre infecção vaginal, corioamnionite e TPP espontâneo é mais comum na presença de RPMO. • Diversas bactérias, por infecção ascendente, atravessam até mesmo as membranas íntegras. Nas mulheres com TPP espontâneo e membranas intactas, as bactérias mais comuns são as de baixa virulência e pertencentes à flora vaginal: Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma hominis, Gardnerella vaginalis, Peptoestreptococci sp. e Bacteroides sp. Menos frequentes: Chlamydia trachomatis, Trichomonas sp., E. coli e o estreptococo do grupo B. • Vaginose bacteriana → reflete a substituição dos lactobacilos da flora vaginal normal por outras bactérias → comuns: Gardnerella vaginalis e Mycoplasma hominis; porém, certos anaeróbios (Bacteroides sp., cocos anaeróbios e Mobiluncus sp), agem em conjunto com a Gardnerella vaginalis = crescimento de lactobacilos e outras bactérias da flora normal = ↑ pH vaginal (pH >4,5). Estudos mais recentes placebo- controlados NÃO demonstraram ↓ da taxa de TPP em mulheres submetidas ao tratamento da vaginose assintomática com metronidazol. • Outras infecções genitais → Tricomoníase, sífilis, gonorreia e clamídia também têm sido relacionadas com o parto pré-termo. • Microrganismos podem alcançar a cavidade amniótica por duas vias principais: 1. ascensão da vagina e da cérvice ou 2. disseminação hematogênica pela placenta. • Entre outras infecções, destacam-se as do trato urinário → em razão das alterações anatômicas e funcionais da gravidez, são consideradas as infecções bacterianas mais comuns nesse período; a bacteriúria assintomática deve ser tratada por ser o principal fator de risco para o desenvolvimento de infecções sintomáticas do trato urinário, incluindo a pielonefrite. • Infecções periodontais → consideradas de risco para o parto prematuro; entretanto, o Consenso Europeu e Americano de Periodontologia (2013) concluiu que embora a terapêutica periodontológica seja segura e melhore a saúde bucal da grávida, não exerce influência sobre a taxa de parto prematuro . O risco de TPP se relaciona à transmissão hematogênica dos patógenos microbianos orais para o sistema genital ou à resposta inflamatória alterada do hospedeiro. → Doenças maternas • Doenças sistêmicas crônicas como diabetes mellitus, hipertensão arterial, nefropatias, cardiopatias e hiper ou hipotireoidismo não compensados e as que surgem com a gravidez, como as síndromes hipertensivas, podem resultar em parto prematuro espontâneo ou eletivo em função das complicações maternas ou fetais. • A ↓ fluxo sanguíneo placentário decorrente de falhas na 2ª onda de invasão trofoblástica, como ocorre na pré-eclâmpsia, é responsável pelo estresse fetal crônico = liberação de hormônios hipotalâmicos e adrenais = ↑ contratilidade uterina → Procedimentos cirúrgicos na gravidez • Principalmente quando realizados na esfera genital → amputação ou conizações extensas do colo uterino. • Naqueles em região extragenital, a ocorrência de prematuridade depende do quanto o ato cirúrgico influi no metabolismo e no estado geral da gestante. • Cirurgias maternas abdominais no 2º e no 3° trimestre podem estimular as contrações uterinas, culminando no parto pré-termo. JOSÉ SA NTA NA FA RIA S NE TO - UES B 5 Obstetr íc ia • Traquelectomia → taxa de infertilidade de ~40%; entre as que conseguem engravidar 50% levam a gestação até o termo. → Reação anormal ao aloenxerto • Anormalidades no reconhecimento e na adaptação a antígenos estranhos (feto) podem ser o mecanismo responsável por perdas recorrentes na gravidez, CIR e pré- eclâmpsia. • Algumas mulheres em TPP, na ausência de infecção intrauterina demonstrável, apresentam concentração elevada de receptor da IL-2-solúvel (1º sinal de rejeição em pacientes com transplante renal). FA TOR E S G EN ÉT I COS → Possíveis polimorfismos genéticos matemos e/ou fetais podem estar envolvidos no desencadeamento da resposta inflamatória • Destacam-se os polimorfismos de genes relacionados ao TNF-alfa e às interleucinas. → Fatos que sugerem predisposição genética • Mulheres que nasceram prematuras terem maior risco de ter filhos prematuros. • ↑ risco de TPP diante de antecedentes de prematuridade com o mesmo parceiro. • Troca de parceiro reduzir o risco de novo parto prematuro em um terço. • Mulheres com irmãs que tiveram um parto pré-termo têm um risco de 80% de TPP. FA TOR E S I AT ROGÊN I COS → Ultrassonografia • No início da gravidez determina com precisão a IG, mas nem sempre é realizado ou é solicitado em fase avançada da gestação , quando o erro do método é maior = interrupções prematuras da gravidez em geral por cesáreas eletivas. → Provas de vitalidade fetal • Interpretações errôneas também dão origem a intervenções desnecessárias e à prematuridade iatrogênica .
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