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As lutas por salário dentro da manufatura pressupõem a manu-
fatura e não são voltadas, de nenhuma maneira, contra sua existência.
Na medida em que a formação das manufaturas foi combatida, isso
ocorreu por parte dos mestres das corporações e das cidades privile-
giadas, não dos assalariados. Por isso a divisão do trabalho é entendida
por escritores do período manufatureiro preponderantemente como
meio virtual de substituir trabalhadores, mas não de deslocar de fato
trabalhadores. Essa diferença é evidente. Caso se diga, por exemplo,
que, na Inglaterra, seriam necessários 100 milhões de pessoas para
fiar, com a velha roda de fiar, a quantidade de algodão que agora é
fiada com a máquina por 500 mil, isso naturalmente não significa que
a máquina tomou o lugar desses milhões que nunca existiram. Apenas
quer dizer que muitos milhões de trabalhadores seriam necessários
para substituir a maquinaria da fiação. Quando se diz, porém, que,
na Inglaterra, o tear a vapor pôs no olho da rua 800 mil tecelões, não
se fala aí de maquinaria existente que teria de ser substituída por
determinado número de trabalhadores, mas de um número de traba-
lhadores existentes que foram efetivamente substituídos ou deslocados
por maquinaria. Durante o período manufatureiro, a produção artesanal
continuou, ainda que decomposta, sendo a base. Os novos mercados
coloniais não podiam ser atendidos pelo número relativamente baixo
de trabalhadores urbanos legados pela Idade Média e as manufaturas
propriamente ditas abriram, ao mesmo tempo, novas áreas de produção
à população rural expulsa da terra com a dissolução da feudalidade.
Destacava-se então, pois, mais o lado positivo da divisão do trabalho
e da cooperação nas oficinas, que faziam os trabalhadores ocupados
se tornarem mais produtivos.145 Aplicadas à agricultura, cooperação e
combinação dos meios de trabalho colocados nas mãos de poucos pro-
vocam grandes revoluções, súbitas e violentas, no modo de produção
e, daí, nas condições de vida e nos meios de ocupação da população
rural, em muitos países e bem antes do período da grande indústria.
No entanto, essa luta trava-se originalmente mais entre grandes e
pequenos proprietários fundiários do que entre capital e trabalho as-
salariado; por outro lado, à medida que trabalhadores são deslocados
MARX
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145 Sir James Steuart também capta o efeito da maquinaria nesse sentido. “Considero, portanto,
as máquinas como meio de aumentar (conforme sua eficácia) o número de pessoas ativas,
sem que se seja obrigado a alimentar seu acréscimo. (...) Em que difere o efeito de uma
máquina do de novos habitantes?” (Trad. francesa, t. I, 1.I, cap. XIX.) Petty, bem mais
ingênuo, diz que ela substitui a “poligamia”. Esse ponto de vista é adequado, no máximo,
para algumas partes dos Estados Unidos. Pelo contrário: “Raramente a maquinaria pode
ser usada com sucesso para abreviar o trabalho de um indivíduo; perder-se-ia mais tempo
em sua construção do que se poderia poupar com sua utilização. Ela só é realmente útil
quando opera em larga escala, quando uma única máquina pode suportar o trabalho de
milhares. A maquinaria é utilizada ao máximo por isso nos países mais densamente povoados,
onde há mais desempregados. (...) Ela não é utilizada devido à escassez de trabalhadores,
mas pela facilidade com que podem ser levados a trabalhar em massa”. (RAVENSTONE,
Piercy. Thoughts on the Funding System and its Effects. Londres, 1824. p. 45.)

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