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Psicopatologia II Mila Vitória – psiquiatria 2021.2 Memória Capacidade de registrar, manter e evocar as experiências e fatos ocorridos; é necessário nível de consciência, atenção e afeto adequados -> memória cognitiva. • Fixação ou registro (primeira fase do processo mental da memória): é preciso que o nível de consciência e o estado geral estejam preservados; quanto mais canais sensoperceptivos estiverem sendo usados, maior a capacidade de fixação; conhecimento prévio auxilia a fixar com mais facilidade; grau de compreensão; capacidade de organização temporal • Conservação: garante que vai ser possível evocar futuramente; favorecida através da repetição do que foi registrado e associação com outras situações • Evocação: recuperação e atualização das informações fixadas • Esquecimento: incapacidade de evocar e recordar • Reconhecimento: identificação do conteúdo mnêmico como lembrança e diferenciá-la da imaginação e representações atuais Fases da memória • Imediata ou de curtíssimo prazo: dura poucas horas • Recente ou de curto prazo: consegue manter por mais tempo -> dias, semanas • Remota ou de longo prazo: foi utilizada por muito tempo, fica por meses ou anos -> hábitos do dia a dia, trabalho, etc Esquecimento • Normal: se dá por desinteresse ou desuso • Repressão: desagradável, recuperável voluntariamente (pré-consciente) • Recalque: insuportáveis (insconsciente) Na prática clínica repressão e recalque são sinônimos! É um bloqueio feito pelo inconsciente que é difícil de ser recuperado espontaneamente, causado por um trauma. Lei de Ribot (lei da regressão mnêmica) Ordem de perda: lesão ou doença cerebral -> sentido inverso: perde com mais facilidade os eventos mais recentes - > elementos mais complexos -> elementos mais estranhos -> conteúdos neutros- afetivos- hábitos da rotina. Tipos específicos de memória • Explícita: declarativa, adquirida de forma consciente • Implícita: não declarativa, mais ou menos automático Alterações patológicas da memória- quantitativas • Hipermnésia: ritmo psíquico acelerado, prejuízo da precisão -> é uma sensação equivocada, não existe aumento real • Amnésia psicogênica: perda focal -> pois é decorrente de um trauma psíquico (subjetivo), está relacionada a um valor afetivo • Amnésia orgânica: decorrente de um quadro orgânico (AVC, neoplasia); segue a ordem da lei de Ribot; menos seletiva • Amnésia anterógrada: não fixa elementos a partir da lesão cerebral; mais relacionada à amnésia orgânica • Amnésia retrógrada: perde a memória de fatos anteriores à doença; mais relacionada a quadros dissociativos pois há bloqueio, recalque. Alterações patológicas da memória – qualitativas (paramnésisas) São deformações do processo de evocação de conteúdos mnêmicos já fixados • Ilusões mnêmicas: acréscimo de elementos falsos a um núcleo verdadeiro, ou seja, deforma fatos que ocorreram. Ex: EQZ, histeria, paranoia, transtornos de personalidade. • Alucinações mnêmicas: lembranças criadas por completo, a lembrança nunca aconteceu. Ex: EQZ (delírio) • Fabulações (ou confabulações): elementos são criados para preencher lacunas da memória, são pessoas que têm quadros orgânicos; déficit da memória de fixação; não reconhece como falsa. O paciente modifica os elementos de acordo com a indução do examinador (para diferenciar de ilusões e alucinações) • Criptomnésias: ausência de reconhecimento da lembrança, há déficit de fixação (conta como um episódio novo um fato que ele já havia contado) • Lembrança obsessiva: imagens mnêmicas ou conteúdos do passado que surgem e não podem ser repelidos voluntariamente (não consegue parar de pensar nisso); absurda e indesejável; comum no TOC Alterações do reconhecimento (processo delirante) • Falso desconhecimento: não reconhece pessoas próximas • Síndrome de Cápgras: reconhece como sósia a pessoa conhecida • Síndrome de Cápgras inversa: acredita ser ele mesmo é um impostor • Síndrome de Frégoli: falso reconhecimento delirante, identifica um estranho como alguém conhecido (é o contrário do falso reconhecimento) Afetividade Compreende humor, emoções e sentimentos. Vivência afetivas: humor/estado de ânimo, emoções, sentimentos, afetos e paixões • Humor: tônus afetivo do indivíduo em determinado momento; estado emocional basal; difuso e persistente • Afetos: qualidade e tônus emocional que acompanha uma ideia ou representação mental; componente emocional de uma idade (colorido afetivo) • Sentimentos: estados afetivos estáveis; não implicam concomitantes somáticos; conteúdos intelectuais, valores. Tipos de sentimentos: tristeza, alegria, agressividade, atração, perigo, narcísico • Catatimia: influência da vida afetiva sobre as demais funções psíquicas • Reação afetiva: sintonização afetiva (fica em sintonia com o local), irradiação afetiva (capacidade de transmitir o afeto, as pessoas conseguem reconhecer), rigidez afetiva (afetividade fica reprimida, dificuldade em sintonizar e irradiar) Alterações patológicas da afetividade- alterações do humor • Distimia: definição ampla de alteração do humor -> hipotímica (humor deprimido) /hipertímica (humor exaltado), disforia (humor irritável) • Humor depressivo: vivência de tristeza e melancolia persistente, não está relacionado a um fato • Euforia: alegria intensa e desproporcional • Elação: alegria intensa associada a sensação de grandeza e poder • Puerilidade: aspecto infantil, regredido. EQZ hebefrência, déficit intelectual, quadros histéricos • Irritabilidade patológica: hiper-reatividade desagradável a qualquer estímulo, podendo ser agressiva. Ex: vivência primária (acontece no transtorno de humor) x vivência secundária (transtorno psicótico -> Nesse caso, a irritabilidade não se dá por um transtorno de humor e sim, por exemplo, quando o paciente é confrontado) • Ansiedade: estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro associado a manifestações somáticas; pode ser de desempenho e antecipatória. Alterações das emoções e dos sentimentos (afeto) • Angústia: aperto no peito e na garganta, sufocamento • Apatia: redução da excitabilidade emotiva e afetiva. “Tudo que acontece, quer lhe possa trazer felicidade e ânimo, quer perigo e ameaça, dor e morte. Falta estímulo para agir. Consciência da importância afetiva”. É uma sensação física de perda de energia total, comum em pacientes depressivos. • Inadequação do afeto ou paratimia: incongruência da reação afetiva com a situação vivenciada -> ex: rir em um velório • Anedonia: redução ou perda da capacidade de sentir prazer por atividades anteriormente prazerosas. Difere da apatia, pois a apatia é a perda da energia, anedonia associa-se com o prazer. Geralmente ocorre junto com a apatia. • Distanciamento afetivo: perda progressiva e patológica das vivências afetivas. Ex: demências e EQZ • Embotamento afetivo: perda mais avançada; perda profunda de todo tipo de vivência afetiva, perceptível pela mímica, postura e atitude (EQZ) • Indiferença afetiva: perda completa da troca afetiva, é como se o paciente estivesse desconectado do mundo. Pode ser de 3 tipos: bèlle indifèrence -> indiferença aparente e teatral, frieza afetiva incompreensível diante dos sintomas; triste indiferença -> paciente deprimido (depressão); pálida indiferença-> indiferença afetiva clássica, não comunica nada, perda total do vínculo ->EQZ • Labilidade afetiva: mudança súbita de um estado afetivo para outro • Incontinência afetiva: incapacidade de conter suas emoções Obs: labilidade e incontinência podem estar associadas a quadros mentais orgânicas (riso e choro patológicos) -> Esclerose Lateral Amiotrófica, Esclerose Múltipla • Ambivalência afetiva: sentimentos opostos em relação a um mesmo estímulo ou objeto, mudança súbita e radical; comum na EQZ Vontade Relaciona-se às esferas instintiva, afetiva e intelectiva, além de princípios socioculturais do indivíduo.“Acontecem com representações conscientes do fim, com conhecimento de meios e consequências” Processo volitivo: • Fase de intenção ou propósito: quando tem o propósito a ser realizado-> impulsos, desejos e temores • Fase deliberação: ponderação consciente associada às influências afetivas -> o que é certo ou não, o que pode ou não fazer • Fase de decisão propriamente dita: demarca o início da ação • Fase de execução: atos psicomotores a fim de realizar o processo mental da volição. Vontade e psicomotricidade estão totalmente interligadas. Alterações da vontade • Hipobulia/abulia: queixas de incapacidade para tomar decisões, de se resolver, falta de ânimo para isso. Presente no paciente com depressão • Atos impulsivos: ações instintivas que se descarregam simplesmente, sem conflito, sem decisão, mas sob controle velado da personalidade; ausência das fases de intenção, deliberação e decisão • Atos impulsivos são egossintônicos, que são impulsos patológicos (natureza inconsciente) ou incapacidade de tolerância a frustrações -> o impulso se realiza e depois vem a sensação de culpa. • Atos compulsivos: geram desconforto subjetivo; são egodistônicos, ou seja, contrários ao ego; há tentaiva de resistir, alívio após o ato e associação com ideias obsessivas. Impulsos e compulsões patológicas • Automutilação: borderline, TOC, deficiência mental, EQZ, psicoses tóxicas • Impulso e ato suicida: depressão maior, dependência de álcool, EQZ, borderline. Impulso não passa por planejamento, ato suicida sim. • Bulimia: comportamento impulsivo de hiperingestão alimentar (alimentos hipercalóricos) • Negativismo: oposição do indivíduo às solicitações externas. Pode ser ativo quando faz o contrário ou passivo quando nada realiza. • Obediência automática: o contrário do negativismo. Ausência de autonomia, fica como um robô • Fenômenos em eco: repetição automática de palavras, gestos e escrita daquilo que é produzido pelo examinador -> ecolalia (linguagem), ecopraxia (gestos), ecografia (escrita) Psicomotricidade É resultante direta da vontade. • Agitação psicomotora: é uma emergência psiquiátrica -> taquipsiquismo; hostilidade e heteroagressividade; acontece na mania, EQZ aguda, psico-orgânicos, retardo mental • Lentificação psicomotora: bradipsiquismo, latência de resposta • Inibição psicomotora: ausência de respostas motoras adequadas; acentuada lentificação psicomotora; ausência de paralisia que justifique; como na depressão e esquizofrenia • Estupor: perda de toda a atividade motora espontânea; sem alteração do sensório (vígil); restrito ao leito; tipos- hipertônico (rígido, contraído) /hipotônico (flexibilidade exarcebada); associado a EQZ, depressão e histeria. • Catalepsia: é o estupor hipertônico -> hipertonia muscular global, redução da mobilidade passiva • Flexibilidade cérea: é o estupor hipotônico -> manutenção de uma posição desconfortável por um longo período • Estereotipias motoras: repetições automáticas, uniformes e involuntárias de um ato motor complexo; EQZ, RM, autismo; maneirismos= tipo de estereotipia motora, é mais bizarro • Tiques: atos coordenados, repetitivos, contrações súbitas, breves e intermitentes de um grupo muscular. É mais rápido. • Alterações da marcha: marcha do paciente histérico ->astasia-abasia, mutável, bizarra; marcha do deprimido -> lentificada, olhar cabisbaixo; marcha na EQZ -> estereotipias, marcha robotizada, apatia • Machas secundárias a psicofármacos: parkinsonismo; distonia aguda, ocorre logo após a primeira ingesta (contração muscular lenta e sustentada, dolorosa); acatisia (sensação de não conseguir ficar parado); discinesia tardia (movimentos orofaciais, após 3 meses de uso); distonia e acatisia tardias.
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