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Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre PROPRIEDADES BIOLÓGICAS GERAIS: O HIV-1 mostrou-se distinto dos vírus T – linfotrópicos humanos tipo 1 (HTLV-1) e tipo 2 (HTLV-2) de forma biológica estrutural e genética; E mais semelhante aos membros da subfamília lentivírus dos retrovírus; No Brasil, pelo menos cinco subtipos do HIV-1 foram encontrados até o momento: os subtipos A, B, C, D e F1; Ainda não está definida a importância clínica dos subtipos; Em relação a vacinas, a diversidade do HIV continua sendo um dos principais obstáculos no desenvolvimento de uma vacina efetiva. Morfologicamente o HIV-1 exibe um denso núcleo cilíndrico envolto por um envelope lipídico característico dos lentivírus; Em volta disso tudo tem essa camada lipoproteica e várias proteínas atravessando-a. Dentro dessas proteínas existe algumas fundamentais: gp41 e gp120 (fundamental para se ligar ao receptor de CD4); Normalmente os vírus possuem apenas uma fita de DNA ou de RNA dentro do núcleo capsídeo. Excepcionalmente existem os vírus que possuem duas cópias de fita de DNA ou RNA dentro do núcleo capsídeo, que é o caso do HIV, que é um retrovírus; O nucleocapsídeo é uma estrutura rígida de nuleoproteínas que envolvem o material genético. No caso do HIV, possui duas fitas de RNA e cada fita dessa possui uma transcriptase reversa (enzima fundamental para levar o RNA à DNA). Junto com essas duas fitas de RNA existe uma cápsula proteica chamada de p24 (proteína muito importante para a replicação viral). Envolta dessa estrutura existe uma matriz de proteína, chamada de p17. Isso tudo reforça a estrutura rígida e dá maior proteção aos RNAs que estão ali dentro; As principais proteínas estruturais do núcleo são: o A proteína de capsídeo p24 e a proteína de matriz p17. Envolvendo as estruturas proteicas do núcleo viral, encontra-se um envelope lipídico de duas camadas, que é derivado da membrana limitante externa da célula hospedeira quando o vírus brota na superfície da célula durante a sua replicação; As glicoproteínas do envelope gp41e gp120 cobrem a membrana viral externa, são codificadas por genes virais específicos e são responsáveis pela fusão e penetração na célula humana. CICLO DO VÍRUS HIV: O HIV tem tropismo pelas seguintes células: Linfócitos T4 ou CD4 (é aí que o HIV fundamentalmente parasita extensamente células TCD4, as quais Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre possuem proteínas de membrana – CD4 e o CXCR5; Quando o gp120 se liga no CD4 ele não necessariamente penetra ainda, apenas se liga. E o CCR5/CXCR5 vai ser fundamental para fazer o movimento (dobradura) do receptor do vírus após essa ligação; Além disso o macrófago consegue, através do CCR4/CXCR4, ser suscetível à entrada do HIV. Ou seja, o HIV usa esse co- receptor para entrar na célula; A célula dendrítica (Langhans) conseguem ser suscetíveis à entrada do HIV. Essas células possuem o CD4 como receptor de membrana. HIV-2: Aparentemente o HIV-2 tem infectividade e patogenicidade menor que o HIV-1. Ele foi encontrado inicialmente em indivíduos na costa oeste da África. Nos Estados Unidos e na Europa, os casos encontrados em geral correspondem a pessoas oriundas daquelas regiões. Nos Brasil, poucos casos foram descritos e em geral estão associados a indivíduos oriundos da África; O HIV-2 é 40 a 50% similar ao HIV-1 na homologia da sequência global de nucleotídeos; Existem duas diferenças principais na organização do genoma: o O gene vpu do HIV-1 não está presente no HIV-2; o HIV-2 contém um gene adicional, vpx, na sua região central que não está no HIV-1. EPIDEMIOLOGIA: Estimativas de 2018: 37,9 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo; Novas infecções no mundo: 1,7 milhões; Mortes relacionadas à aids no mundo por ano: 770.000; 5.000 novas infecções entre crianças e adultos por dia – ano de 2018: o 61% disso está concentrado na África subsaariana; o 500 crianças abaixo de 15 anos; o 4400 ≥ 15 anos, sendo que: 47% em mulheres; 32% entre 15 a 24 anos; 20% entre mulheres jovens de 15 a 24 anos. Estimativa global para menores de 15 anos: 1,7 milhões de infectados; Novas infecções em 2018: 160.000 casos; 100.000 mortes/ano. Dos 38 milhões de infectados em 2018: 26 milhões estão na África Subsariana; 1,9 milhões na América Latina (100.000 infecções/ano e 35.000 mortes/ano). O gráfico acima mostra a quantidade de pessoas vivendo com HIV. As pessoas que fazem uso de antirretroviral vivem bem; a sobrevida praticamente se aproxima da de uma pessoa que não contém a infecção. Com isso, a quantidade de pessoas infectadas aumenta, uma vez que já tem as infectadas e vai surgindo sempre mais. Por isso que em 2018 pode-se observar quase 38 milhões de infectados. Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre Por outro lado, as taxas de infecção têm caído aos poucos, uma vez que as taxas em crianças caíram muito e também pela tendência de diminuição de novas taxas de infecção/ano (mesmo em adultos). A mesma coisa acontece com as mortes: em 1996 foi introduzida uma terapia antirretroviral de alta eficácia (3 antirretrovirais: coquetel). Nesse último gráfico observa-se que houve uma subida entre 2000 e 2010, mas logo depois veio a queda de casos de morte. EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL: Conforme boletim epidemiológico HIV/AIDS 2018 (BRASIL, 2018), no ano de 2017, foram notificados 37.791 casos de AIDS. A taxa de detecção foi de 18,3 casos para cada 100.000 habitantes, sendo que, desde o ano de 2012, a taxa de detecção sofreu uma redução de 15,7%; Este valor manteve-se estável desde o ano de 2009; A maior concentração dos casos de AIDS no Brasil, em 2017, foi observada nos indivíduos com idade entre 25 e 39 anos, em ambos os sexos; Quando tem AIDS nessa faixa etária, é porque o indivíduo se contaminou em média uns 8 anos antes. Logo, se tirar 8 anos de 25 anos: 15 a 17 anos, e se tirar 8 anos de 39 anos: 29 a 31 anos. Então, essa é a faixa que o indivíduo em potencial está se infectando, e o processo de desenvolvimento da doença é de 15 a 17 anos; Quando comparados os anos 2007 e 2017, observam-se reduções nas taxas de detecção entre os indivíduos com até 14 anos de idade, em ambos os sexos; Ao longo do tempo, a razão entre os sexos vem diminuindo de forma progressiva; Em 1985 havia 15 casos da doença para 1 mulher. Hoje, a relação é de 1,5 para 1. No gráfico acima percebe-se que a região sul (em roxo) tem uma incidência muito alta de HIV. A região nordeste (em vermelho) é a mais baixa. A queda da mortalidade por SIDA no Brasil a partir de 1996, em razão do TARV 6, e a desaceleração de sua tendência de crescimento nos últimos três anos, pode-se atribuir às ações governamentais e não governamentais, que foram: Oferta gratuita e universal da terapia anti- retroviral; Prevenção e tratamento precoce das doenças oportunistas; Aumento da rede de serviços para diagnóstico do HIV; Intensificação das estratégias de adesão à prevenção e tratamento da doença. TRANSMISSÃO: Contato sexual; Transfusão de sangue e hemoderivados (hemofílicos); Ocupacional; Materno-fetal/ao lactente; Usuários de drogas injetáveis (UDI); Outras: tatuagens, piercing, acupuntura, injeções, inseminação artificial. Hoje, quem morre de HIV são as pessoas que não aderem ao tratamento. Essaspessoas geralmente não têm instrução, possuem um baixo poder aquisitivo, são moradores de ruas, usuários de drogas (crack). Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre PATOGÊNESE: O gp120 vai se ligar ao receptor CD4, nesse momento há uma mudança conformacional no CCR5, que se aproxima e faz como uma ponte puxando o HIV para dentro da célula fazendo a fusão. Dentro da célula o vírus vai liberar as duas fitas de RNA. A transcriptase reversa vai transformar as fitas de RNA em fitas de DNA (essa reação ocorre no citoplasma nas primeiras 6 horas de infecção). Esse DNA viral vai para o núcleo e vai se incorporar com o genoma da célula hospedeira pela enzima integrase (isso é um problema pois, apesar de tratar o paciente com antirretroviral e ele ficar com carga viral indetectável, ele não consegue eliminar o vírus porque ele se incorpora em algumas células como macrófagos e células dendríticas e ficam ali para sempre em latência sem se replicar). Quando está ativado, é feita a transcrição desse pedaço de DNA para o RNA viral, e esse RNA viral vai para o citoplasma produzir várias fitas de RNAm, os quais irão produzir as proteínas desse vírus e o próprio RNA viral, que irá sair da célula, por brotamento, pela camada lipoproteica como novos vírus infectantes. Esse processo irá destruir a célula. Uma célula TCD4+ infectada com HIV irá morrer através dos seguintes mecanismos: Destruição; Apoptose; CD8+ (células efetoras citotóxicas – elas encostam na CD4 e injetam na célula uma série de substâncias letais. Aos poucos CD4 vai caindo até acontecer uma CD4penia. Quando chega em um nível muito crítico, aparecem as manifestações de doença do HIV, que é o que se chama de AIDS). O conhecimento do ciclo viral permitiu que fossem desenvolvidas drogas antirretrovirais, que atualmente podem ser divididas em: a) Inibidores da transcriptase reversa: atuam na fase inicial do ciclo, impedindo a formação do DNA a partir do RNA; b) Inibidores da protease: atuam no final do ciclo impedindo a maturação da partícula viral; c) Inibidores da fusão: impedem a fusão da membrana viral com a celular impedindo a entrada do vírus; d) Inibidores da entrada: atuam impedindo a ligação do vírus ao receptor (CD4) ou aos correceptores (CCR5 ou CXC4); e) Inibidores da integrase: impedem que o provírus recém-produzido pela RT integre- se ao genoma da célula hospedeira; f) Inibidores da maturação viral: ligam-se a regiões específicas da proteína precursora do gene gag impedindo a sua clivagem. DIAGNÓSTICO: As taxas normais de CD4 variam de 500 a 1500. Um paciente com HIV terá < 500 células/mm3. Entre 350 e 500 o indivíduo já Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre pode ter algumas manifestações – herpes zoster, dermatite ceborreica e ás vezes lesões na pele (dermatite eosinofílica). Entre 200 e 350 já começam a aparecer mais manifestações (tuberculose, diarreia intermitente, pneumonia bacteriana, etc.). No entanto, quando cai abaixo de 200 é que aparecem as infecções oportunistas e os cânceres relacionados ao HIV. E é geralmente nesse estágio que é dado o diagnóstico de AIDS. Sendo assim, o diagnóstico de AIDS é dado quando o indivíduo tiver o CD4 < 200 mesmo assintomático ou se, independentemente do CD4, se tiver alguma infecção oportunista ou algum câncer. OS TESTES PARA DETECÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV PODEM SER DIVIDIDOS EM QUATRO GRUPOS: Detecção de anticorpos (ELISA de 4ª geração, WB, Imunoblot (IB); Amplificação do genoma do vírus – quantificação da carga viral. Ensaio de 4ª geração: Marcadores da infecção pelo HIV na corrente sanguínea de acordo com o período em que surgem após infecção, seu desaparecimento ou manutenção ao longo do tempo: Uma pessoa que teve relação sexual desprotegida com alguém positivo, leva entre 72 a 96 horas para que o HIV se incorpore ao genoma da célula. Esse indivíduo deve procurar imediatamente o serviço de saúde e relatar sobre a sua situação para que ele possa fazer uso do antirretroviral. Se essa pessoa conseguir fazer esse uso do antirretroviral antes do período de incorporação do vírus, esse HIV não será capaz de infectá-la. Os testes rápidos (ELISA de 4ª geração e WB) já conseguem identificar o vírus a partir de 2 ou 3 semanas.
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