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Linfoma Não Hodgkin Este é um grande grupo de tumores linfoides clonais, cerca de 85% originados de células B e 15% de células T ou NK (natural killer). Caracterizam-se por um padrão de disseminação irregular, com significativa proporção de pacientes desenvolvendo doença extranodal. Uma incidência de cerca de 17 por 100 mil casos por ano, e, atualmente, eles representam a quinta neoplasia mais comum em vários países desenvolvidos. Tais linfomas incluem tanto aqueles que se iniciam como tumores (linfomas) como os que são detectados pelo encontro de células malignas circulantes (leucemias linfoides). A histogênese de ambas as lesões é semelhante, porém as apresentações clínicas diferem. Uma neoplasia linfoide que se inicia como tumor (linfoma), pode, no decorrer da doença, leucemizar-se. Para que isso ocorra, a medula óssea e/ou o baço devem estar infiltrados pela neoplasia, uma vez que estes órgãos não têm vasos linfáticos, e as células linfoides neoplásicas aí localizadas ganham diretamente o sangue circulante, em quantidades detectáveis no hemograma rotineiro. Classificação Os linfomas são classificados dentro de um grupo de neoplasias de células B e de células T maduras, que também incluem algumas leucemias crônicas e o mieloma. Célula de origem Os linfomas B tendem a mimetizar as células B em diferentes estágios de desenvolvimento. Eles podem ser divididos entre os que se assemelham a precursores de células B encontrados na medula óssea, e os que se assemelham a células dos centros germinativos (CG) e a células pós-CG nos linfonodos. As células dos linfomas T assemelham-se a precursores de células T da medula óssea ou do timo, ou a células T periféricas maduras. Linfomas não Hodgkin de baixo e alto graus Oncologia Por: ANA CLARA MELO Em termos gerais, os linfomas de baixo grau são indolentes, respondem bem à quimioterapia, porém são muito difíceis de curar. Em contrapartida, os linfomas de alto grau são agressivos e necessitam de tratamento imediato, mas muitas vezes são potencialmente curáveis. Leucemias e linfomas A diferença entre linfomas, nos quais os linfonodos, o baço ou outros órgãos sólidos estão envolvidos, e leucemias, com predominância de células tumorais na medula óssea e no sangue circulante, pode ser imprecisa. Leucemia linfocítica crônica e linfoma linfocítico de células pequenas são distúrbios linfoproliferativos idênticos, porém mostram distribuição leucêmica ou linfonodal, respectivamente. Patogênese A etiologia persiste desconhecida na maioria dos casos de linfoma, embora agentes infecciosos sejam importantes como causa de alguns subtipos. Anormalidades citogenéticas são frequentes, muitas vezes envolvendo os genes de imunoglobulina nas neoplasias de origem B. As translocações de oncogenes para esses loci nos cromossomos 2, 14 e 22 podem resultar em superexpressão do gene, ocasionando alteração no ciclo celular, falha na apoptose ou expressão aberrante. Vias específicas de sinalização podem ser afetadas, e o sequenciamento da geração subsequente tem mostrado mutações pontuais em genes envolvidos, por exemplo, em modelação da cromatina, na via NSkappa B ou na ativação e emenda de células B. Quadro clínico A maioria dos LNH manifesta-se, inicialmente, com aumento volumétrico indolor de um ou mais linfonodos, originando linfonodomegalias volumosas, isoladas ou disseminadas, superficiais ou profundas. Quando são comprometidas as cadeias superficiais (a cervical é a mais atingida), a doença é descoberta em fase relativamente inicial; os linfonodos estão bem separados e têm consistência elástica. Mais tarde, os linfonodos fundem-se entre si e aderem aos tecidos vizinhos, formando massas volumosas (10 a 12 cm de diâmetro), de consistência elástica e que, ao corte, mostram tecido branco-acinzentado, homogêneo, com aspecto de “carne de peixe”. 1. Sintomas sistêmicos: Febre, sudorese noturna e perda de peso são menos frequentes do que no linfoma de Hodgkin. Sua presença, em geral, está associada com doença disseminada. 2. Envolvimento orofaríngeo: há envolvimento das estruturas linfoides da orofaringe (anel de Waldeyer), o que pode causar queixas de dor de garganta ou de respiração ruidosa ou obstruída. 3. Manifestações das citopenias: sinais e sintomas de anemia, infecções devidas a neutropenia ou púrpura com trombocitopenia podem estar presentes à apresentação em pacientes com acometimento difuso da medula óssea. As citopenias também podem ser autoimunes ou decorrentes de sequestração esplênica. 4. Doença abdominal: o fígado e o baço estão frequentemente aumentados, e o envolvimento de linfonodos retroperitoneais e mesentéricos é comum. O trato gastrintestinal é o sítio extranodal mais envolvido depois da medula óssea, e os pacientes podem apresentar-se com sintomas abdominais agudos. 5. Outros órgãos: acometimento da pele, do cérebro, dos testículos e da tireoide não são incomuns. A pele está primariamente envolvida em dois linfomas de células T com relação estreita: micose fungoide e síndrome de Sézary. De acordo com a evolução clínica, os linfomas podem ser agrupados em três categorias: indolentes, agressivos e muito agressivos. Indolentes: comprometem indivíduos idosos, sendo raros em jovens e praticamente inexistentes em crianças. O curso clínico é arrastado, podendo terminar em uma fase mais rápida, correspondendo histologicamente à progressão para linfoma de grandes células agressivo. Como regra, esses linfomas encontram-se disseminados ao diagnóstico, geralmente com comprometimento da medula óssea; por vezes, estão leucemizados. Como têm baixa taxa de proliferação celular, não têm boa resposta terapêutica. Pode-se cogitar conduta expectante, dependendo da idade do paciente e da quantidade de massa tumoral existente. A doença progride lentamente, com óbito ao fim de muitos anos, apesar do tratamento. Exceção é o linfoma de células do manto, que tem comportamento ora indolente, ora mais agressivo (forma blastoide). São exemplos deste grupo: linfoma linfocítico/leucemia linfocítica crônica; linfoma folicular; linfoma esplênico; linfoma MALT. Morfologicamente, as células neoplásicas têm aspecto de linfócitos maduros e o número de mitoses é pequeno. Agressivos: São mais frequentes em adultos, porém podem incidir em qualquer idade. Têm curso clínico agressivo e necessitam de tratamento, pois podem levar ao óbito em pouco tempo. Comprometimento da medula óssea ou leucemização por ocasião do diagnóstico não são comuns. Respondem a quimioterapia agressiva. Transplante de medula óssea e tratamento com anticorpos humanizados são opções terapêuticas. São exemplos deste grupo: linfoma difuso de grandes células B e a maioria dos linfomas de células T periféricas. Morfologicamente, as células neoplásicas são volumosas, com tamanho semelhante ao de blastos ativados dos centros germinativos, e o número de mitoses é alto. Altamente agressivos: Comprometem principalmente crianças. Têm curso clínico altamente agressivo, muito rápido, podendo levar à morte em poucas semanas ou meses, se não for instituído tratamento adequado. A medula óssea está frequentemente comprometida ao diagnóstico, havendo leucemização frequente. Há comprometimento do sistema nervoso central. Transplante de medula óssea é opção terapêutica. São exemplos deste grupo: leucemia/linfoma linfoblástico B ou T e linfoma de Burkitt. Morfologicamente, as células neoplásicas têm tamanho intermediário em relação aos dois grupos anteriores (células médias), e o número de mitoses é excepcionalmente alto. Investigac ̧ões Histologia Exame histopatológico de biópsia excisional ou trucut de linfonodo ou de outro tecido afetado (p. ex., medula óssea ou tecido extranodal) éa investigação definitiva. O exame morfológico é complementado por análise imunofenotípica e, em alguns casos, por análise genética. No caso de linfomas de células B, a expressão de cadeias κ ou l confirma a clonalidade e distingue a doença de uma linfonodopatia reacional. Achados laboratoriais 1. Na doença avançada com envolvimento da medula óssea pode haver anemia, neutropenia ou trombocitopenia. 2. Células linfomatosas (p. ex., células da zona do manto, de “linfoma folicular clivado” ou “blastos”) podem ser encontradas no sangue periférico de alguns pacientes. 3. A biópsia da medula óssea é valiosa 4. A desidrogenase láctica (LDH) sérica eleva-se em doença extensa e de proliferação rápida e é usada como marcador prognóstico. Pode haver hiperuricemia. 5. O proteinograma sérico pode mostrar pico de para proteína. 6. Deve ser feita pesquisa de anticorpos anti-HIV. Citogenética e análise genética Translocações particularmente características são t(14;18) no linfoma folicular, t(11;14) no linfoma de células do manto, t(8;14) no linfoma de Burkitt e t(2;5) no linfoma anaplástico de células grandes. A análise genética revela mutação de MYD88 em praticamente todos os casos de linfoma linfoplasmocítico. Nos linfomas de células B há rearranjo clonal dos genes de imunoglobulina, ao passo que nos linfomas de células T há rear- ranjo clonal dos genes do receptor de células T. Estadiamento O sistema de estadiamento é o mesmo descrito para o linfoma de Hodgkin, porém não se relaciona tão claramente com o prognóstico como o tipo histológico. Os procedimentos usados no estadiamento, em geral, incluem radiografia de tórax e TEP/TC. Exames da medula óssea por aspiração e por biópsia também devem ser feitos. Tratamento O tratamento é começado, em geral, com um programa de quimioterapia combinada com um anticorpo monoclonal dirigido contra a célula tumoral. Novos fármacos: → Agentes orais que bloqueiam a atividade das proteínas BTK ou PI3KD, já utilizados na LLC-B. → Fármacos que inibem a atividade BCL-2. → Fármacos que bloqueiam a atividade de quinases, como ALK, que está aumentada em pacientes com linfoma anaplástico de células grandes. → Os anticorpos monoclonais anti-CD20 comprovaram-se de grande valor no tratamento dos linfomas de células B, que constituem cerca de 85% dos LNH. O rituximabe foi o primeiro desses agentes e pode ser usado por via intravenosa ou subcutânea. Ofatumumabe e obinutuzumabe também são anticorpos com especificidade anti-CD20. Os anticorpos anti-CD30 são frequentemente usados no linfoma anaplástico de células grandes, como também no linfoma de Hodgkin. Subtipos específicos de linfomas não Hodgkin Linfomas de baixo grau Linfoma linfocítico de células pequenas Este termo é usado para casos com morfologia e imunofenótipo idênticos aos da leucemia linfocítica crônica de células B (LLC-B), quando a contagem de linfócitos B no sangue periférico é < 5 × 103/mL e não há citopenias por envolvimento da medula óssea. O tratamento é o mesmo da LLC-B. Linfoma linfoplasmocítico (macroglobulinemia de Waldenström) Essa é uma condição incomum, vista com mais frequência em homens com idade superior a 50 anos. Em geral, há uma paraproteína monoclonal IgM, e o linfoma linfoplasmocítico (LPL) pode, então, ser denominado macroglobulinemia de Waldenström. A célula de origem é uma célula B do centro pós-germinal com as características de célula B de memória para IgM. Em mais de 90% dos casos há uma mutação do gene MYD88. A LPL pode ser diagnosticada fortuitamente em pacientes assintomáticos. O início da doença normalmente é insidioso, com fatigabilidade e perda de peso. A complicação comum é a síndrome de hiperviscosidade, pois a paraproteína IgM aumenta a viscosidade sanguínea mais do que concentrações equivalentes de IgG ou IgA. Distúrbios visuais são frequentes, e a retina pode mostrar uma variedade de alterações, como veias ingurgitadas, hemor- ragias, exsudatos e borramento da papila. Se a macroglobulina for uma crioglobulina, podem surgir aspectos de crioprecipitação, como o fenômeno de Raynaud. Anemia é um problema significativo, e suscetibilidade a hemorragias pode resultar de interferência da macroglobulina na função plaquetária. Sintomas neurológicos, dispneia e in- suficiência cardíaca podem ser os sintomas iniciais. Linfonodomegalia, esplenomegalia e hepatomegalia são frequentes. O diagnóstico é feito pelo achado do pico sérico de IgM monoclonal com infiltração da medula ou dos linfonodos por células linfoplasmocíticas. A mutação do gene MYD88 está presente em quase todos os casos. A velocidade de sedimentação globular mostra-se muito aumentada e pode haver linfocitose, às vezes com células linfoplasmocíticas identificáveis. Tratamento Os pacientes assintomáticos não precisam de tratamento, porém este deve ser indicado quando houver organomegalias significativas, anemia significativa ou hiperviscosidade. Em geral, é feito um tratamento com quimioterapia associada a um anticorpo anti-CD20, como rituximabe O transplante de células-tronco autólogas ou alogênicas deve ser considerado para doença avançada. Eritropoetina ou transfusões regulares podem ser necessárias para anemia crônica. Síndrome de hiperviscosidade aguda requer tratamento imediato com plasmaférese repetida. Como quase toda a IgM está no compartimento intravascular, a plasmaférese é mais eficaz do que com as paraproteínas IgG e IgA, que se distribuem mais no compartimento extravascular, de onde voltam rapidamente e repõem o nível plasmático. Linfoma da zona marginal São linfomas de baixo grau que se originam de células B da zona marginal dos folículos germinais. Acredita-se que, no início, haja hiperplasia linfoide em resposta a antígeno ou inflamação e que as células, então, adquiram dano genético secundário e evoluam para linfoma. A análise citogenética pode revelar translocações envolvendo os locus de imunoglobulina, e os testes moleculares mostram mutações pontuais, principalmente envolvendo a via NF-κB. São classificados de acordo com o sítio anatômico onde se originam, como o baço, as mucosas ou os linfonodos (nodais). Linfomas MALT, em geral, surgem no estômago, no trato respiratório, na pele e nas glândulas salivares. O linfoma MALT gástrico é a forma mais comum e é precedido de infecção por Helicobacter pylori. Nos estágios iniciais, ele pode responder à antibiotico- terapia que vise a eliminação do H. pylori. Os linfomas esplênicos da zona marginal, em geral, apresentam-se como esplenomegalia e podem causar a presença de linfócitos “vilosos” no sangue periférico. Doença localizada, estágio Ia, pode ser curada com radioterapia local. Se for ne- cessária quimioterapia, devem ser preferidos regimes usados nos demais linfomas de baixo grau, como o linfoma folicular. A esplenectomia pode ser útil para pacientes sintomáticos. Linfoma folicular Corresponde a 25% dos LNH, com uma média de idade de 60 anos à apresentação. Na grande maioria dos casos, está associado à translocação t(14;18). A translocação provoca a expressão constitutiva do gene BCL-2 com redução da apoptose e sobrevida aumentada das células. Alterações moleculares adicionais costumam estar presentes (Tabela 20.3b). As células são, sobretudo, positivas para CD10, CD19, CD20, BCL2 e BCL6 (Tabela 20.3a). Os pacientes costumam ser de meia-idade ou idosos e o linfoma é geralmente caracterizado a partir do diagnóstico, com a média de sobrevivência subsequente de 10 anos. A aparência histológica é graduada de I a III de acordo com a proporção relativa de centrócitos e centroblastos. O pior prognóstico é o dos casosde grau IIIb. Esses pacientes são tratados com as diretrizes usadas para o linfoma difuso de células B grandes (ver adiante). O envolvimento da medula óssea é comum. Os pacientes vêm à consulta inicial por linfonodopatias indolores, em geral disseminadas, a maioria com a doença em estágio III ou IV. Pode ocorrer, entretanto, uma transformação súbita, com incidência de cerca de 3% ao ano, em tumores difusos agressivos. Cerca de 10% dos pacientes iniciais têm doença localizada (estágio I) e podem ser curados apenas com radioterapia. Os pacientes que se apresentam com doença disseminada (estágios III e IV) geralmente não são tratados se forem assintomáticos (watch and wait)*, e o tratamento é iniciado ao surgirem complicações. Há um escore internacional de prognóstico baseado em idade, presença ou ausência de anemia, LDH e massa tumoral medido pelo tamanho e pela extensão dos linfonodos e pelo envolvimento da medula óssea. Ainda não há opção de cura com a terapia atualmente disponível. O tratamento, em geral, baseia-se em cursos mensais de rituximabe com ciclofosfamida, vincristina e prednisolona (R-CVP), com adição de uma antraciclina em casos mais agressivos, ou rituximabe com bendamustina ou clorambucil. Com esses regimes, há resposta clínica em quase 90% dos pacientes, que persistem em remissão por alguns anos. São feitas infusões de rituximabe a cada 2 a 3 meses, como tratamento de manutenção. A recidiva da doença em pacientes em estágio II a IV é quase inevitável e é tratada com regimes de quimioterapia similares e com manutenção com rituximabe. Com o passar do tempo, a doença vai se tornando difícil de controlar, por exemplo, pelo desenvolvimeto de mutações P53, e há necesidade de quimioterapia mais intensiva ou terapia com anticorpo anti- CD20 marcado com radioatividade. O transplante de células-tronco autólogas é uma opção útil em pacientes com história de ao menos uma recidiva, e o transplante alogênico com protocolos de intensidade reduzida oferece perspectiva de cura em raros pacientes. Idelalisibe, um inibidor de PI3K, e ibrutinibe são agentes orais novos e promissores. Linfoma de células do manto O linfoma de células do manto é derivado de células cen- trofoliculares pré-germinativas localizadas nos folículos primários ou na região do manto de folículos secundários. As células, em geral, mostram núcleos angulares em secções histológicas (Figura 20.13) e, muitas vezes, circulam no sangue (Figura 20.5). Esse linfoma tem fenótipo característico CD19+ e CD5+ (como a LLC), mas, em contrapartida, é CD22+e CD23–. Uma translocação específica, t(11;14), justapõe o gene da ciclina D1 ao gene da cadeia pesada da imunoglobulina, o que causa expressão aumentada de ciclina D1 (Figura 20.13b). A presença dessa translocação é necessária para o diagnóstico. Em geral, outras mutações estão presentes. Linfonodopatias predominam no quadro clínico à apresentação e, na maioria das vezes, há infiltração da medula óssea. Os regimes de tratamento atuais incluem: 1 Quimioterapia, como R-CHOP (do inglês, Rituximabe com o regime CHOP: Ciclofosfamida, Hidroxidaunorru- bicina, vincristina – Oncovin – Prednisolona), combinações com bendamustina ou terapia ainda mais intensiva, que podem incluir bortezomibe e lenalidomida. O ibrutinibe é muito eficaz em doença recente ou recidivada. 3 Transplante de células-tronco autólogas ou alogênicas. O prognóstico geralmente é sombrio, mas há expectativas de melhora com os novos agentes. Cerca de 15% dos pacientes mostram um curso indolente similar ao da LLC. Linfomas de alto grau Linfoma difuso de células B grandes (DLBCL) O DLBCL constitui um grupo heterogêneo de distúrbios, representando os clássicos linfomas de “alto grau”. A histologia da biópsia mostra células tumorais grandes, com nucléolos proeminentes. Dividem-se em subtipos: linfomas B do “centro germinal” (GCB) e linfomas de “células B ativadas” (ABC), que se coram com anticorpos anti-BCL6 e anti-MUM1, respectivamente. Eles apresentam-se, em geral, como linfonodopatias de rápida progressão, que pode também envolver a medula óssea, o trato gastrintestinal, o cérebro (Figura 20.15), a medula espinal, os rins e outros órgãos. Vários achados clínicos e laboratoriais são relevantes para o resultado do tratamento. De acordo com o Índice Inter- nacional de Prognóstico, eles incluem idade, status de de- sempenho, estágio, número de sítios extranodais e LDH sérica (Tabela 20.4). Doença volumosa (massa principal > 5 cm de diâmetro), história prévia de doença de baixo grau ou infecção por HIV e subtipo ABC em comparação com GCB também se associam a um mau prognóstico. Há uma variedade de padrões histológicos, incluindo centroblástico, imunoblástico, anaplásico. As alterações citogenéticas mais comuns envolvem o locus IGH no cromossomo 14 e o gene BCL-6 no cromossomo 3q27, e a translocação do gene BCL-2 ocorre em 20% dos casos. A base do tratamento é R-CHOP, rituximabe em combinação com o regime CHOP de quimioterapia, dado em ciclos a cada 3 semanas, geralmente 6 a 8 cursos. Injeções de fator estimulador de colônias granulocíticas (G-CSF) são usadas para suporte da contagem de neutrófilos. Nos casos de doença localizada, faz-se radioterapia e quimioterapia (p. ex., três cursos de CHOP parece ser a dose ótima). O tratamento profilático para o envolvimento do SNC, como metotrexato intratecal ou em alta dose sistêmica, deve ser considerado para pacientes de alto risco, como aqueles que têm envolvimento da medula óssea. A monitoração do tratamento é feita com repetidas TC ou TEP-TC no meio e ao fim da quimioterapia. Para os pacientes em que há recidiva, quimioterapia em alta dose com regimes como RICE (rituximabe, ifosfamida, carboplatina e etoposide) pode se mostrar eficaz. A esses pacientes, quando responderem, deve ser indicado TCT autó- logo. O TCT alogênico com dose moderada também pode ser eficaz. Para os pacientes com doença primária refratária ou resistente à quimioterapia, o prognóstico é reservado. A sobrevida global a longo prazo é da ordem de 65% Linfoma de Burkitt O linfoma de Burkitt ocorre de forma endêmica ou esporá- dica. O linfoma endêmico (africano) é visto em regiões de exposição crônica à malária e associa-se à infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV). Em quase todos os casos, o oncogene MYC é superexpresso, uma vez que está translocado para um gene de imunoglobulina, geralmente no locus de cadeia pe- sada t(8;14) (ver Figura 11.11). Como resultado, a expressão do gene MYC é desregulada, e o gene é expresso em partes do ciclo celular durante as quais deveria estar desligado. Em geral, o paciente, quase sempre uma criança, apresenta linfonodopatia volumosa, na maioria das vezes da mandíbula (Figura 20.16), que responde muito bem à quimioterapia inicial, embora a cura a longo prazo seja incomum. O linfoma de Burkitt esporádico pode ocorrer em qualquer área geográfica, e a infecção por EBV está associada em apenas 20% dos casos. Há um aumento de incidência havendo infecção por HIV. O quadro histológico é característico, com índice de proliferação muito alto, acima de 95% (Figura 20.17). O prognóstico desses pacientes é muito bom, usando-se regimes de quimio- terapia que incluem metotrexato em altas doses, citarabina e ciclofosfamida – por exemplo, CODOX-M/IVAC (que também inclui doxorrubicina, ifosfamida e etoposido). É sempre feita quimioterapia intratecal. Linfoma primário do sistema nervoso central São tumores raros, mais comuns em idosos e em pacientes com Aids. Os pacientes são tratados com metotrexato e citarabina, ambos em altas doses. Também é utilizada radioterapia cranianacompleta. Disfunção cognitiva a longo prazo é uma complicação. Linfomas linfoblásticos Linfoma linfoblástico, B ou T, ocorre sobretudo em crian- ças e em adultos jovens. Essa condição é confundida clínica e morfologicamente com a leucemia linfoblástica aguda (LLA). As células, como as da LLA, são transferase terminal positivas, ao contrário de todos os demais linfomas B ou T. Eles são tratados com os mesmos protocolos para LLA. Linfomas de células T O linfoma de células T periféricas que se apresenta como linfonodopatia, em vez de doença extranodal, constitui um grupo heterogêneo de tumores raros que, em geral, têm fenótipo CD4+. São reconhecidas algumas variantes. Linfomas de células T periféricas, não especificados Derivam de células T em vários graus de diferenciação. São tratados com quimioterapia combinada, como CHOP; têm mau prognóstico. O TCT autólogo é indicado em pacientes com doença sensível à quimioterapia. Linfonodopatia angioimunoblástica Em geral, ocorre em pacientes idosos, com linfonodopatias, hepatoesplenomegalia, exantema e aumento policlonal de IgG sérica. O tratamento é feito com quimioterapia ou inibi- dores da histona desacetilase. Micose fungoide Micose fungoide é um linfoma cutâneo crônico de células T, que se apresenta com prurido grave e lesões semelhantes à psoríase (Figura 20.18). Na fase tardia, são afetados órgãos profundos, sobretudo linfonodos, baço, fígado e medula óssea. O tratamento é feito com fototerapia ou quimioterapia. Síndrome de Sézary Na síndrome de Sézary ocorre dermatite, eritroderma, linfo- nodopatias generalizadas e células linfomatosas T circulantes. As células são geralmente CD4+ e têm uma cromatina nuclear dobrada ou com aspecto cerebriforme. O tratamento inicial é feito com irradiação local, quimioterapia tópica ou fotoquimioterapia com psoraleno e luz ultravioleta (PUVA). A quimioterapia (p. ex., com CHOP) pode ser necessária na evolução, mas raramente tem efeito durável. Leucemia/linfoma de células T do adulto É uma condição relacionada à infecção com o vírus hu- mano de leucemia/linfoma de células T tipo 1 (HTLV-1) (ver Capítulo 18). Linfoma de células T associado à enteropatia É um linfoma associado à doença celíaca e tem resposta muito pobre ao tratamento. Está sendo testado tratamento com metotrexato em altas doses, seguido de TCT autólogo. Linfoma anaplástico de células grandes É particularmente comum em crianças e, em geral, tem fenó- tipo T. A doença é CD30+ e é associada à translocação t(2;5) (p23;q35). A translocação causa superexpressão da quinase do linfoma anaplástico (ALK). Tem curso agressivo caracterizado por sintomas sistêmicos e envolvimento extranodal. Há casos ALK negativos com prognóstico ainda pior. Crizotinibe, um inibidor específico da atividade ALK, é um tratamento de valor. Neoplasias histiocíticas e dendríticas São tumores raros, incluindo sarcomas dendríticos e sarcomas derivados de macrófagos, que podem ser localizados ou disseminados. Apresentam-se como tumores em sítios extranodais, principalmente no tubo digestório, na pele e nos tecidos moles. Manifesta-se com sintomas sistêmicos. O prognóstico é muito reservado, salvo em casos de tumores pequenos e localizados.