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Clássicos de Literatura Econômica - I Microeconomia (1988)

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De LITeQI\TUQI\
econOMICA
D
tZY@~INPES
{@@~INPES
INSTITUTO DE PLANEJAMENTO ECONOMICO E SOCIAL
INSTITUTO DE PESQUISAS
Rio de Janeiro, 1988
© Copyright by IPEA •
Classicos de Iiterarura economica. Rio de Janeiro, IPEA/INPES, 1988. 456 p.
I. Economia. 2. Microeconomia. 3. Macroeconomia. I. Institute de Planeja-
mento Economico e Social. Institute de Pesquisas,
CDD 330
CDU 33
As opinioes emitidas neste trabalho nDo ex-primem , necessariamente, a ponto de vista do
Secretaria de Planejamento e Coordenadio ria Presidencin ria Republica.
• I~STJTUTO DE PL,.\",r..TAMENTO F.CONoMICO f. SOCIAL
Service Editorial
Av. Pres. Antonio Carlos. !il - 14.° andar - Rio de Janeiro (RJ) - CEP 20.020
Sumario
Pag.
Apresenracao (Anna Luiza Ozorio de Almeida) V
Parte I
MICROECONOMIA
Uma nota introdutoria ao artigo "As Leis dos Rendimentos sob
Condicoes de Concorrencia", de, Piero Sraffa (Ricardo Tolipan
e Eduardo Augusto A. Guimarfies) 3
As Leis dos Rendimentos sob Condicoes de Concorrencia (Piero
Sraffa) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . II
Vma nota introdutoria ao artigo "A Teoria dos Precos e 0 Compor-
tamenio Ernpresarial". de R. L. Hall e C . .T. Hitch (Achyles
Barcelos da Costa) 33
A Teoria dos Precos e 0 Comportamento Empresarial (R. L. Hall e
C. J. Hitch) 43
Uma nota introdutoria ao artigo "Demanda sob Condicoes de Oli-
gopolio", de Paul M. Sweezy (Duflio de Avila Berni) i9
Demanda sob Condicoes de Oligopolio (Paul M. Sweezy) 83
Urna nota introdutoria ao artigo "Analise Marginal e Pesquisa Empi-
rica", de Fritz Machlup (Claudio Monteiro Considera) 89
Analise Marginal e Pesquisa Empirica (I) (Fritz Machlup) 97
Uma nota introdutoria ao artigo "Analise Marginal c Pesquisa
Empirica", de Fritz Machlup (Jose Marcie Camargo) 127
Analise Marginal e Pesquisa Empirica (11) (Fritz Machlup) 131
Vma nota introdutoria ao arrigo "0 Objeto e Metoda cia Econornia",
de Oskar Lange (Duilio de Avila Berni) 163
o Objeto e Metoda da Economia (Oskar Lange) 171
Dudley Seers e as Problemas do Ensino de Economia: Uma nota
introdutoria ao artigo "As Limitacoes do Caso Especial" [Flavio
R. versiani) 195
As Limitacoes do Caso Especial (Dudley Seers) 209
Apresentacao
ANNA LUlZA OZORIO DE ALMEIDA
Literature Economica vern publicando, desde 1982, rraducoes comen-
tadas de textos import antes na evolucao do pensamento economico mun-
dial. Os artigos traduzidos, e suas apresentacoes, incluidos nesta coletanea,
foram selecionados por professores e pesquisadores atuantes em instituicoes
de ensino e pesquisa situadas em diferentes pontos do pais. Nao houve
deterrninacao previa, por parte da revista, a respeito da periodicidade ou
dos assuntos que deveriam ser abordados, buscando-se apenas aproveitar
os recursos intelectuais disponiveis a medida que as contribuicoes fossem
enviadas, de forma espontanea.
Passados jii seis anos desde 0 inicio das traducoes mencionadas, tor-
nou-se posstvel reeditar algumas delas, voltadas para questfies comuns,
neste volume especial de Literatura Economica. Este reagrupamento tema-
rico objeriva ampliar a utilidade das traducoes ja realizadas, oferecendo
colecoes que contribuam para 0 ensino de econornia tanto em nivel de
gradua~ao quanto de pos-graduacao. Os dernais artigos ainda nao reedi-
rados poderao se-Io no futuro, vindo a compor numerus especiais adicio-
nais, a medida que se acurnulem suficientes textos agrupaveis tematica-
mente.
o presente volume esta dividido em dois grandes grupos de temas
gerais de microeconomia e macroeconomia, con forme publicados ate 0
momenta nos varies numeros de Literatusa Economica,
A Parte I - Microcconomia - comeca com 0 artigo de Piero STaffa,
"As leis dos rendimentos sob condicoes de concorrencia", de ]926, apre-
sentado pOl' Ricardo Tolipan e Eduardo Augusto A. Guimaraes (L.E.,
4 (1) :13-34, jan.rfev. ]982), que da inicio a urn questionarnento sistema-
tico da teoria neoclassica, levando, mais tarde, ao desenvolvimento da
teoria da concorrencia irnperfeita e, modernamente, da teoria dinamica
do oligopolio.
o artigo de R. L. Hall e C . .J. Hitch, "A teoria dos pre\os e 0 corn-
portamento empresarial", apresentado POI' Achyles Barcelos da Costa
(L.E., 8(3) :379-414, out. 1986), surge em 1936 e contrihui para a crtrica
it teoria neoclassica, trazendo evidencias empiricas que contestam 0 papel
da dernanda na Iormacso dos pre<;os e a maxirnizacao dos lucros como
urn objetivo empresarial.
Outra contr ibuicao conternporanea de grande importancia e 0 artigo
de Paul M. Sweezy, "Dernanda sob condicoes de oligopolio", de 1939,
apresentado por Duilio de Avila Berni (L. E., 9 (3) :293-8, out. 1987), que,
v
ao postular a existencia da chamada "curva de dernanda quebrada" no
oligopolio, traz novos elementos de critica a teoria marginalista da for-
macao de pre<;os nos mercados concentrados.
Este movimento critico e 0 alvo de Fritz Machlup em "Analise mar-
ginal e pesquisa empir ica", de ]946, apresentado por Claudio Monteiro
Considera (L.E., 4 (4) ;4]9-48, jul.rago, 1982) e Jose Marcie Camargo
(L.E., -I (5) :571-602, set.yout. 1982), no qual 0 autor explicita a base
da teoria marginal da firma e discute sua aplicacao ;'1 pesquisa empirica
sabre 0 comportaruento cia empresa_ Este longo art igo constitui uma das
mais brilhantes defesas do marginalismo, ao mesmo tempo em que, ao
explicitar silas Jimitar;:oes, incentiva a busca das teorias alternativas do
funcionamento cia empresa e do mercado de trabalho.
o artigo de Oskar Lange, "0 objeto e mctodo cia economia", de 1945,
apresentado por Duilio de Avila Berni (L.E., 7 (2) :207·30, jun. 1985),
busea urn substrate nao-ideologico na analise dos diversos sistemas econo-
micos, sejam eles "domcsticos", "capitalistas" ou "socialistas", propondo
a existencia de uma racionalidade comum a todas as suas unidades econo·
micas e as varias inter-relacoes entre elas.
A Parte I terrnina com 0 artigo de Dudley Seers, "As limitacoes do
caso especial", de 1963, apresentado por Flavio R_ Versiani (L.E_,
6 (4) :545-76. out. 1984), que traz a discussao da relevancia da teoria eco-
nomica para os paises subdesenvolvidos e levanta varios problemas do
ensino desta teoria em tais paises.
A Parte II - Macroeconomic - comcca eom 0 artigo de Joseph
Schurnpeter, "A insiabilidade do capitalismo", de 1928. apresentado por
Reinaldo Goncalves (L.E., 6(2) :153·90, mar.j'abr. 1984), que e a refe-
renda basica da introducao ao estudo da interpretacao schurnpeteriana da,
dinamica do capitalismo, resumindo 0 papel da concentracao das inven-
<;oes, do credito e dos ciclos economicos, analisados mais extensamente
em suas obras de grande porte.
Os artigos de M. Kalecki, "Algumas observacoes sobre a teoria de
Keynes", de I936, de 1- M. Keynes, "Teorias alternativas da taxa de juros",
de junho de 1937, de Bertil Ohlin, "Teorias alternativas da taxa de juros
- replica", de seternbro de 1937, e, novarnente, de J- M. Keynes, "A teoria
ex an tc da taxa de j uros", de dezembro de 1937, todos apresentados por
Mauro Boianovsky (L.E., 9(2) :137-46,147-58,159·64 e 165·72, jun. 1987),
ilustrarn a controversia que se seguin ao aparecirnento da Teoria Getal
em 1936, tao fer til no estabelecirnento de conceitos irnportarues, tais como
o "motive Iinanciarnento" para a demand a de moeda, 0 instrumental
ex ante Iex post aplieado it deterrninacao da taxa de juros, a inrroducao
do "risco crescente" e a interpretacao dinarnica do conceito do multipli-
cador,
o artigo de J. R. Hicks. "0 Sr. Keynes e os 'classicos': uma sugestao
de interpretacao", de 1936. apresenrado por Gustavo H. B. Franco (L.E.,
VI
5 (2) :139-.58. mar.rabr, 1983). lancou as curvas IS eLM. tornando-se, por
rnais de 40 anos, a mais famosa e mais influente interpretacao "ortodoxa"
de Keynes. ela propria combatida pelos economistas keynesianos,
Dois anigos de .lames Tobin, "Moeda, capita! e outras reservas de
valor", de 1961, e "Uma ahordagem de equilfbrio geral para a teoria
monetaria", de 1969. ambos apresentadospor Marco Antonio Bonomo
(L.E., R(1):9-22 e 23·40, Iev. 1986), se complementam estendendo 0
keynesianisrno, segulldo urn entoque de equilibrio geral, a avaliacao da
politica monetaria como instrumento de controle da demanda agregada.
o artigo de Milton Friedman, "Inflacao e desemprego: a novidade
da dimensao pohrica", de ]976. apresentado por Joao da Silva Maia
(L.E., 7 (3) :381-408. out. 1985), expoe, de forma sucinta e brilhante, 0
(erne da crttira monetarista ao keynesianisrno oficial dos anos 60, enfa-
tizando a relacao entre inflacao e desemprego.
Esperamos que estas rraduc;;oes cornentadas em portugues de textos
classicos, nas tematicas gerais de microeconomia e macroeconomia, sejam
uteis it formacao das novas geracoes de economistas brasileiros.
VII
Parte I
MICROECONOMIA
Umd Nota Introdut6ria
00 Artigo "As tes dos R:;ndimentas
sob Condic;oos de Concorrencia",
de Piero Sraffa
*Ricardo Tol1pan
- It*Eduardo Augusto A. Guimaracs
MTileLaws of Returns under Compcti tive Condi-
tions" e, sob 0 patroc!nto edttorial de Keynes, peqa 1ni-
cial e importante da cr!tica a ortodoxia marshalliana que
se delineia a partir de meados da decada de 20. Publiea-
do por 'l'he Ec on om ic JOUl'na Z, em 1926, reelaborando uma veE
sao ita1lana poueo anterior (1925), ternseu desdobramento
p01emico e imediato em urnSimpOSio sobre "Rendimentos CreE.
centes e a Firma Representativa", tambem prol1'.ovido por
Keynes sob os auspicios d ,.jueiaRevista (The Economic v=»:
~al~ mar<;:ode 1930). Do ponto de vista biogrifico, 0 e-
feito maior do artigo C assegurar a Sraffa urn lugar de
destaque no circulo academico de Cambridge, 0 que 0 rcsg~
ta do fascismo Italiano e cria as condiqoes de realizaqao
de sua obra posterior.
o dcstaque dado a contr1buiqao de urndeseonhec!
do autor continental pelo Edi tor de The Economic Journal
indica, a nosso ver, urnavontade de critica a ortodoxia
que ja se vinha conformando em Cambridge. Sob esse aspe~
to, 0 artigo "cai como uma luvan, pois nao apenas respon-
de a cxigcncia de rigor analitico, como faz dela urn ele-
mento de critiea interna a cieneia ortodoxa. Nisto, ele
*Da FEA/UFRJ.
**Do IPEA/INPES e da FEA/UFRJ.
Lit. eaol1 .• 4(1):5-12. 1982.
4 se distingue das criticas precedentes formuladas por cor-
rentes heterodoxas que - seja por sua insuficiencia anal!
tica, seja por se fixarem na questao dos postulados - nao
consequiam romper a muralha do saber oficial e podiam ser
relcqauas ao submundo da teoria economica.
Alem do mais, associado a essa critica riqoro-
sa, 0 artigo da indica~Oes de como prosseguir positivame~
te na reconstru9aO da analise do mercado capitallsta, uma
vez abandonados os pressupostos criticados. Esta nova I!
nha sera lmediatamente explorada pela teoria da concorren
cia imperfelta, e suas sugestoes reaparecerao tambern na
analise mais moderna do 0ligopoll0.
o artigo tem uma estrutura de exposi~ao simples.
Um primeiro movimento de cr{tica que conclui: "torna-se
necessario, portanto, abandonar 0 caminho da livre concor
rencia e voltar-se para 0 lade oposto, isto e, em dire~ao
ao monopolio·. Esta conclusao anuncia 0 segundo rnovimcn-
to, onde se configura sua contribui~ao positiva.
A parte crltica do artigo abre, ironicamente,
advertindo que nao vai fazer mals que organizar 0 conjun-
to de quallfica~oes, restri~oes e exce~oes, dispersas e
relegadas a notas de pe de pagina, buscando explicitar, ao
reunir este material, 0 potencial cr{tico a! latente,e a~
si~ ·distinguir 0 que esta vivo do que esta morto no con-
ceito de curva de oferta e dos seus efeitos sobre a deter
mina~ao do pre~o em concorrencia". Neste sentido,das duas
pernas da tesoura que definem 0 pre~o de equi lIbrio mar-
shalliano, 0 alvo do seu ataque e a lei de rendimentos nao
proporcionais, princ!pio que fundamenta a curva de custo
medio em U da qual se deriva a curva de oferta da firma
competitiva.
Uma prlmeira critica formulada por Sraffa diz
respeito a natureza h{brida do fundarnento teor1co deste
principio. Efetivamente, a lei de rendimentos nao propoE
clonais constroi-se a partir da fusao da lei de rendimen-
tJ Lit •• co,..~ 4(1) 1982.
tos decrescentes (desenvo!vlda no ambito da teoria de ren 5
da ricardiana) com a lei de rendlmentos crescentes (pro-
pria da no~ao de progresso economlco smithiano) ambas
deslocadas de seu contexto teorico original e aplicadas a
questao da £orma~ao dos pre~os. A natureza desta primei-
ra crftica mais geral e evldenclar, atraves da analise da
genese do principio, que as propriedades geometrlcas des~
jadas da curva de oferta comandam sell fundamento teorico:
tratava-se de obter wna curva simetrica a curva de de-
manda.
A crItica mais decisiva, no entanto, questiona
a consistencia de cada uma das referidas leis com outras
caracterIsticas da analise marshalliana - 0 conceito de
concorrencia perfeita e a analise do equilibrio parcial.
No tocante a lei de rendimentos decrcscentes,
Sraffa aponta que ela se contrapoe a exigencia de ceteris
paribus e de independencia entre as curvas de demanda e
de oferta formulada pela analise de equilibrio parcial,
exceto para \~ conjunto particular e provavelmente diminu
to de industrias (aquelas que conso~em sozinhas urndeter-
minado tat~r de produ~ii.o). Note-se que Sraffa, porque r~
ciocina no longo prazo, nao contempla a existencja de qual
quer fator fix~ de produ~ao no interior da firma. A ver-
sao de que, mesmo no longo prazo, 0 empresario ou a orga-
niza~ao interna da firma constituem urn fator fix~, dando
lugar a rendimentos dccrescentes, nao e, portanto, consi-
derada pelo autor.
Quanto a lei de rendimentos crescentes, estes
nao podem resultar de economias internas a firma, uma vez
que tais economias sao incompativeis com as condi~oes de
concorrencia perfeita. De fato, se sao admitidos rendi-
mentos globalmente crescentes e uma curva de demanda infi
nitarnente elastica da firma, deixa de ex1stir urn equili-
brio est5vel e abre-se a possibilidade de expansao ilimi-
tada de cada produtor, 0 que se contrapoe a hipotese de
Lit. eeon.~ 4(1) 1982. 7
6 atomiza~ao da produ~ao que caracteriza a concorrencia peE
feita. Assim, a existencia de equilIbrio em concorrencia
requer que, em algum momento, os rendimentos crescentes
sejam cont rabnLancados pela a<;aodos rendimentos decres-
centes, como esclarece Sraffa em resposta a D. H. Robert-
son no Simposio anteriormente cltado. No entanto, ja vi-
mos quais as razoes que Srafta avan~a para rejeitar a exis
tencia de rendimentos decrescentes.
Se os rendimentos crescentes nao podem derivar
de economias internas a firma, eles devem resultar de eco
nomias externas. Estas, no entanto, nao podem ter origem
no progresso da economia em geral, pais seriam incompatI-
veis com a analise de equilIbrio parcial. Assim, a lei
vale para os casos, pouco freq6entes, em que as economias
sao externas a firma mas internas a industria, as quais,
de resto, dificilmente resultariam de pequeno~ aumentos
de produ<;ao.
Em resumo, Sraffa aponta que: a) a lei de rend!
mentos decrescentes e, no caso geral, incompatIvel com a
analise de equilIbrio parcial; b) a lei de rendimentos
crescentes, justificada a partir de economias Internas a
firma, e incompativel com a hipotese de concorrencia per-
feita; e c) a lei de rendimentos crescentes, justificada
a partir de economias externas a firma, e, no caso geral,
incompativel com a analise de equilIbrio parcial.
Essa analise critica conclui, a partir da des-
considera~ao das causas que fazem variar os custos, pela
proposta de retorno a analise classica de forma~ao de pr~
~os em concorrencia. De fato, "nos casos normais,o custo
de produ<;ao de mercador1as produzidas em concorrencia - e
dado que nao estamos em condilTdo de levar em cons1deraITao
as causas que 0 possam aumentar ou dimlnuir
visto como constante em rela~ao a pequenas
•
quantidade produzidaH (grifos nos90s).
deve ser
varialToes na
A esta conclus30, segue-se a recomendalTaO, ja
8 Lit. Beon .• 4(1) 1982.
mcncIonada , de que "torna-se necossSr Lo , po rt.anto , abi'lnd27
nar 0 conu nho da li vre concor rSn ci a e volter=se para 0 la
do oposto, isto 6, em dlre~io ao monop51io".
Com eslas duns proposi\,ocs, Sraffa aponta dois
cemfnhos aLt.erna t Lvos que poderu rcsultar de sua critica a
analise ma rshnLf Lann : de um ]ado, assumir rendimentos con~
tantcs como unica furma de reter a analif:e da concorren-
cia, 0 que corresponde a retomar il analise classica do vf:_
lor, e, de outro, aceitar a evidencia empirica das econo-
mias de escala e abrir mio da anilise da concorrincia PC!
feila. Convem assinalar que a versao italiana, de apenas
urnana antes, se esgota na primeira proposta. r. no pr~-
senle artigo que Sraffa introduz a segunda alternativo,
cujo desenvolvimento constitui 0 que foi chamado de parte
positiva do texto. ]\ssim, a passagem da prtmeira para a
segunda parte do trabalho nao e apenas um mere dispositi-
vo de organiza~ao 00 texto, mas envolve uma fratura na
sua linha de argumento. Anote-se que Sraffa rcverteria
mais tarde, em outro trabalho,l a alternativa de retorno
aos c1.3ssicos.
~ contribui~ao positiva do artigo a~6ia-se na
negaqao de duas hipoteses cruciais da concorrencia perfe~
ta: a de que 0 produtor individual nao pode afetar delibe
radamenLc 0 seu pre~o, 0 qual deve considerar como dado
independentemente da quantidade produzida; e a de que ca-
da produtor em concorrencia opera, necessariamente,ern con
diqoes de custos crescentes. Assim, Sraffa sugere que:
a) 0 principal obstaculo enfrentado pelo produtor indivi-
dual para aumentar sua produqao e sua incapacidade de veE!
dc-la scm reduzir os precos ou aumentar seus custos de ven
da - vale dizer, a firma faz face a uma curva de demanda
descendentc; e hI tml 6nico princlpio comandari a no~ao de
1 -P. Sraffa, Produ~aD de Mcrcarlori~s rer Meio
de Janeiro: Zai1ar, 1977). l~ e di c i.», ..m ingl~s:
de ~I"rcadl)rias (Rio
l%().
Lit. econ., 4(1) 1982. 9
8 custos - 0 do~ rendimentos crescentes, os quais, face a
proposl~~O anterior, a~ora podcm resultar de economLas in
tcrnas a firma. Por conseguinte. Sraffa abandon a as hip_§
teses de equilibrio em concorrcncia perfeita sem abrir
mao da 6tica da analise de eqvilibrio parcial. A nova a-
bordagem que dar decorre pretende, a urn tempo, ser loglc~
mente mais consistente que a anterior e fundada no que
mostra "a expcri~ncia cotidiana".
Embora Sraffa nao desenvolva de forma rigorosa
urnmodelo alternativo de forma~ao de pre~o, aparecem nas
paginas finals de seu artigo muitos dos conceltos e ideias
que virao conflgurar desenvolvimentos mais recentes da
concorrencia imperfeita e oligopollsta. Assim, sao enfa-
tlzados por Sraffa: a ideia de diferencia~ao de produtoi
a "importancia das preferencias dos consumidores; 0 papel
dos gastos de venda; a no~ao de que a firma leva em consi
dera~ao as possiveis rea~oes de seus competidores e resis
te a reduzir pre~osi a possibilidade de as firmas aprese~
tarem lucros extraordinarios como resultado da eXistencia
de barreiras a entradas de novos competidores; e a exis-
tencia de limites ao endividamento da firma.
Assinale-se, em particular, como desdobramento
direto do artigo de Sraffa e do Simposl0 que 0 seguiu, 0
descnvolvimento da teoria da concorrencia imperfeita na
decada de 30. A influencia sobre Joan Robinson e reconhe
cida por esta autora. No caso de Chamberlin, 0 artigo
da margem a mais urncaso de coincidencia historica, ja que
este autor reivindica 0 desconhecimento do texto sraf-
tiano.
Para concluir, cabe observar que 0 esfor~o cr{-
tieo de Sraffa nao teve 0 efcitQ demolidor que 0 autor p~
recta esperar. Toda a ironia e for~a do artigo nao impe-
dLram , t! t pour cause, que a ele se aplicasse uma de SUilS
conslder~~oes iniciais: "De vez em quando acontece de al-
quem nao mais reststir i pressao de SUdS duvidas, expres-
10 Lit. eeol1 •• 4(1) 1982.
sando-as abertamente. Entao, a fim de evitar que 0 escan 9
dalo se propague, ele e pronlarnente silenciado, freqficnt~
mente com algumas concessocs e aceita~ao parcial de suas
obje~ocs, as quais cstavam, naturalmente, impl!cltas na
teoria". Isto nao c de espantar. Aflnal de contas, como
aponta flicks, "tern-se que reconhecer que 0 abandono com-
pleto da hipotese de competi~ao perfeita •.• ternconseqOe~
eias multo destrutivas para a teoria economica".2 Asslrn,
se ·so for poss!vel salvar alguma coisa destes escombros
- e deve ser lembrado que 0 que esta amea~ado de destrui-
~ao e a maior parte da teoria do equilibrio geral - se
puderrnos admltir que os mercados confrontando a maioria
das firmas nao diferem demasiadarnente de rnercados de con-
correncia perfeita .•• vale a pena tentar aste escape".3
2Cf• J. R. Hicks, Value and Capital (Oxford: Clarendon Press,
1946). p. 83. l~ edll)ao: 1939.
3 bi 8'~ •• pp ... -85.
Lit. econ •• 4(1) 1982. 11
A3 Leks dos R::;ndimentos
sob Condic;oes de Concorrencio
Plero Sraffa
[DO Trinity College, Universidade de CambridcJ;l,InglalcrraJ
Uma caracteristica notavel da posi~ao atual da
ciencia economlca e 0 acordo quase unanime a que os econo
mistas chegaram com rela~ao a teoria do valor em concor-
rencia. Tal teoria, que se Inspira na simetria fundamen-
tal existente entre as for~as da demanda e da oferta, ba-
seia-se na hipotese de que as causas essenciais na deter-
mina~ao do pre~o de bens especificos podem ser simpllfic~
das, c agrupadas, de tal forma que possam ser representa-
das por urnpar de curvas de demand a e oferta coletivas
que se intcrceptcm.l
Este estado de coisas esta em tamanho contraste
com as controversias sobre a teoria do valor, que caract~
rizavam a economia politica do scculo passado, que se po-
deria mesmo pensar que deste cheque de ideias acendeu-se,
finalmente, a centelha de uma verdade definitiva. Os ce-
ticos poderiam talvez pensar que 0 acordo em qucstao se
deva mais ao desinteresse atual da maioria pela teoria do
valor do que a sua aceita~ao. Esta indiferen~a justlfi-
[Nota do Editor: Este artigo foi originariamente pub1icado em
The Economic Journal, vol. XXXVI (1926), e esta reproduzido em G. S.
Stigler e K. E. Bou1ding (eds.), Readings in Price TIlcorl (Chicago:
Richard D. Irwin, Inc., 1952), pp. 180-197. A tradu~ao e de Jacob
Frenkel (da FEA/UFRJ). com a colabora~ao de Antonio de Lima Brito.]
lAs paginas iniciais deste artigo contem um sumario das conclu-
soes do ar tigo "Re Laz ion i, fra Casto e Quantita Prodotta". pub licado
no Vol. II dos Annali di Economia.
Lit. econ., 4(1):13-34, 1982.
12 ca-se pelo fato de que a referida teoria, mais do que qua.!.
quer outra parte da teoria economica, perdeu muito de sua
influencia direta sobre a pratica pol!tica - particular-
mente com rela<rao as doutrinas sobre as mudan<ras sociais
- que the fora atribuida inicialmente por Ricardo, depois
por Marx e, em oposi<rao a eles, pelos economistas burgue-
ses. Ela foi transformada cada vez mais nwn "instrumento
da mente, uma tecnica de pensar", que nao fornece nenhurna
"conclusao estnbelecida irnedlatamente aplicavel a pol!ti-
cas".2 f! essencialmente urninstrumento pedagogico, .algo
como 0 estudo dos cUissicos, e seus objetivos, diferente-
mente dos estudos das ciencias cxatas e jurIdicas, sao e~
clusivamente os do treinamento da mente, razao pela qual
eia dificilmente esta apta a estimular as paixoes dos ho-
mens, mesmo dos academicos. Em resumo, e uma teoria da
qual, como tradi~ao formal e aceita, nao vale a pena se
afastilr. De qualquer modo, ainda permanece a questao da
concordancia.
No quadro de tranqUilidade que a moderna teoria
do valor nos apresenta existe urnponto obscuro que altera
a harmonia do todo, representado pela curva de oferta ba-
seada nas leis dos rendimentos crescentes e dccrescentes.
~ bern conhecido que suas funda<r0es sao menos solidas que
outras partes da estrutura, mas na realidade 0 fato de se
rem tao fracas a ponto de nao suportarem 05 pesos a que
sao submetidas e uma duvida que permanece adormecida no
subconscientede mu1tos, mas que a maiaria consegue sutil
mente ocultar. De vez em quando acontece de alquem nao
mals reslstir a pressao de suas duvldas, expressando-as
abertarncnte. Entao, a fim de evitar que 0 escanda Io se
propague, ele e prontamente silenciado, freqQentemente com
algumas concessoes e aceita~ao earcial de suas obje~oes,
2 - .. id 'John Maynard K~ynes, In t ro duc ao ao s Cambn ge Econolr.ll.c Hand-
books", [No original, "policy". que ope amos po r "po l Lt i cas " em ve z
de "po l Ir ica'", para nao confundir coru "Polttica". (N. do T.).]
14 Lit. econ •• 4(1) 1982.
as quais estavarn naturalmcnte impl!cit~s na teoria. Assim 13
sendo, com 0 passar do tempo as qualifica~ocs, rcstrl~ocs
e excc~oes foram-se acumulando, acabando por "engolir",sc
nao toda, ccrtamcnte a maior parte da teoria. E se seus
efcitos conjuntos nao sao visiveis de imcdiato c porque
se acham dispersos em rodapes e artigos,
separados uns dos outros.
cuidadosarncnte
Nao e inten~ao deste artigo acrescentar nada a
pilha ja existente, mas simplesmente tcntar coordcnar ce~
tos componentcs, scparando os que ainda continuam vivos
daqueles que estao mortos no conceito da curva de oferta
e dos seus efeitos na detcrmina~ao dos pre~os em ccncor-
rencia. No momento, as leis dos rendimentos revestem-se
de especial Importancia devido ao papel que desempenham
no estudo do valor, mas sao essencialmente mais antigas
que a teoria particular do valor onde sao utilizadas, se~
do precisamcnte de sua ldade secular e de suas aplica~oes
originais que derivillntanto 0 seu prestlgio quanta suas
fraquezas nas aplica~oes modernas. Estarnos dispostos a
aceitar as leis dos rendimentos como urndado concreto,pois
t.cr.ios diante de nos os enorrnes e indiscutiveis scrvi~os
por elas prestudos quando exerciarn a sua antiga fun~ao, e
rara~cnte nos perguntamos se os velhos barris ainda estao
em condi~oes de armazenar urnnovo vinho.
Ha muito tempo, a lei dos rendimentos decrescen
tes i associada principalmente ~ questio da "renda~ e des
te ponto de vista era perfeitamente adequada,conforme for
mulada pelos economistas classicos com referencia a terra.
Nunca houve duvida de que 0 seu funcionamento afetava nao
somente a "renda", como tambem 0 custo do produto, mas i~
to nio fo! enfatizado como causa da varia~ao no pre~o re-
lativo dos bens individuais pro~uzidos, porgue 0 funciona
mento dos rendimentos decrescentes aumentava, na mesma me
dida, 0 custo de todos. Isto permaneceu como verdade mes
mo quundo os economistas classicos inglescs aplicararn a
Lit. eC'on., 4(1) 1982. 15
14 lei a produ«ao de cere.:lis,pois, como mostrou Marshall, "0
termo cereais foi usado por eles como ahreviayao para a
produ~io agricola em geral".3
A posic;:aoocupada na economia classica pela lei
dos rendimentos crescentes era bernmenos proemincnte, ja
que era encarada meramente como urnaspccto importante na
divisio do trabalho, nao resultando, assim, do progresso
economico em geral, mas de urn aumcnto na escala de produ-
~ao.
o resultado foi que nas leis dos rendimentos o-
riginals a ldeia geral de uma rela¥a:> funclonal entre
custos e quantidades produzidas nao ocupou urnlugar cons-
picuo, parecendo, de fato, que esteve presente nas mentes
dos economistas classicos com menos proeminencia do que a
conexao entre demanda e pre~o de demanda.
o aconteclmento que enfatizou 0 primeiro aspec-
to das leis dos rendimentos e comparativarnente recente. Ao
mesmo tempo removeu ambas as leis da posic;:ioque, de acoE
do com a divlsao tradicional da economla politica, costu-
mavarn ocupar, uma sob 0 ti:tulo de "distrlbuic;:ao"e a ou-
tra de "produc;:io",e transferlu-as para 0 capitulo "valor
de troca", la fundindo-as na "lei dos rendimentos nao pr~
porcionais" e derivando delas uma lei da oferta nurnmerca
do, de tal maneira que pudesse ser coordenada com a cor-
respondente lei da demanda; e na slmetria destas dUdS for
~as opostas baseou-se a moderna teorla do valor.
Para alcan~ar este resultado, achou-se que era
necessaria lntroduzir certas modlflca~oes na forma das
duas lels. Muito poueo foi necessario com respelto a lei
dos rendimentos decresccntes, que simplesmente exlg1u sua
JMarShftll, Principles, Vol. VI, i,2, nota. [Em ingl~s britani-
co, ..palavra "corn" ap Lica+s e ao trigo e a autros ce reats, Em in-
gies americana, diz respcito apcnas aa milha, 0 qual, alias, e uma
planta nativa das Americas e nunca constituiu parcel.. significativa
da pradu~ao agricola eurapeia. (N. do T.).]
16 Lit. ceoll., 4(1) 1982.
gencraliza~~0 do caso pilrticular da terra para toaos os 15
casOS em que existisse urnfator de produ~ao, com quantid~
de dlsponivel constantc. A lei dos rendimentos crcsccn-
tes, porem, teve que sofrer uma transforma~ao muito mais
radical: 0 pape I ne La descmpenhado pcla clivisao do traba-
Iho - I1mitudo agora ao caso do surgimento de empresas s~
plementares independentes em face do aum(>nto da produ~5.o
de uma deternuneda industria - foi bastante restringido;
enquanto iS50, uma maior divisao interna do trabalho, rc-
sultante do aumento das dimcnsoes da firma individual, foi
inteiramentc abandonada, uma vez que foi considerada 1n-
compat!vel com as condi¥oes de concorrcncia. Por outro l~
do, incentivou-se cada vez mais a 1mpordincia das "econo-
mias externas", isto e, dilS vantagens obtidas pelos prod~
tores individuais a partir do crescimento da industria co
rno um todo, e nao de seus empreendimentos individuais.
Mesmo em sua presente forma, as duas leis pre-
servaram as caracteristicas que apontam suas origens como
sendo de for~as de natureza inteiramente diversas. ~ fato
que esta heterogeneidade eonstitui urnobstaculo intransP2
nivel quando se tenta coordenar e empregar as referidas
leis em conjunto em problemas relacionados com os efei-
tos das varia~oes no custo, e nao com as causas. Entretan
ta, 1ntroduz uma dificuldade nova quando se tenta classi-
fiear as varias industrias con forme perten¥am a uma ou o~
tra categoria. De fato, e da propria natureza dos funda-
mentos das duas leis que: a) quanta mais ampla a defini-
~ao que se admita para "industria" - isto e, quanta mais
ela abranja todos os empreendimentos que empregam urndado
fato'/' de producjio, como, por exemplo, a agricultura ou a
industria metalurgica -, mais provave I e que as for~asque
impulsionam os rendimentos decrescentes desempenhem urnp~
pel importante; e b) quanto mais restritiva esta definl-
~ao - isto e, quanto mais ela se restrinja apenas a empr~
sas que produzam urndado tipo de mepcado'l'ia consumivel,
Li.t. econ.> 4(1) 1982. 17
16 como, por exemplo, frutas ou pregos -, maior sera a prob~
bilidade de predominarem as for~as que acarretam rendirr.en
tos crescentes. Em seus efeltos, esta difleuldade e par~
lela aquela que, ja sobejamente conhecida, surge da consi
dera~ao do componente tempo, pelo qual quanta menor 0 pe-
r!odo de tempo permltldo para os ajustamentas,maiar a p~~
babl11dade de rendlmentos decrescentes, e quanto maior 0
per!oda, maior a probab1lidade de rendimentas crescentes.
As dificuldades realmente serias aparecem quan-
do se analisa em que medida as curvas de oferta baseadas
nas leis das rendimentos satlsfazem as eondi~oes de con-
correncia. Este panto de vista admlte que as eondi~es de
produ~aa c demanda de uma mercadoria possam ser consider~
das, no que dlz respeito a pequenas varia~oes, praticame~
te 1ndependentes, tanta entre 51 como em rela~ao a oferta
e demanda de todas as outras mercadorias. Sabe-se perfe~
tamente que tal hipotese nao seria ilegitima apenas pelo
fata de a independencia nao ser absolutamente perfeita (c~
mo de fato nunea pade se-Io), podendo urnpequeno grau de
Interdependencia scr desprezado, sem desvantagens,urna vez
aplicado a uma segunda ordem de varla~Oes. Seria 0 caso,
por exemplo, se 0 efe1to de uma varia~ao na industria que
gostariamos de 1solar, e.g. urn aurnento de custo, fosse a
rea~ao parcial no pre~o dos produtos de outras industrias,
e este efeito,por sua vez, influenciasse a demanda do pr~
duto da primeira industria. Mas isto, e claro, represen-
ta uma questao totalmente diferente, e a hipotese torna-
se ileg{tima quando a varia~ao na quantidade produz1da p~
la industria em considera~ao coloca em a~ao uma for~a que
aqe diretamente sobre os custos das outras industrias, e
nao somente sobre os seus proprias. Neste caso, as cond!
•~oes de "equilibria parcial" que se pretendia isolar sao
*No original, "particular equilibriUl'll". (N. do T.)
18 t.c«, fiCO"" 4(1) 1962.
ron1pidas, nao sendo mais passIvel, sem j ncarrer-se em con 17
tradi~ao, ncgligenciar os efeitas colaterals.
Acontece que, infellzmente, e prccisamente nes-
ta calegoria que se situa a maiaria dos casos de aplica-
~ao das leis dos rendimentos. De fata, com rcla~aa aos
rendimentos decrescentes, se na producrao de uma delermin!!_
da mercadoria e empregada uma consideravel parte do fator
- cuja quantidace total e fixa, ou pode ser aumentada so-
mente a urncusto maior que 0 proporclonal -, urn pequeno
aumento na producrao da mercadoria necessitara de uma uti-
liza9ao mais intensa deste fator. Isto afetara, da mesma
maneira, 0 custo da mercadoria em questao, bern coma 0 das
outras em cuja produ9ao este fator entrar; e, desde que
estas mercadorias (em cuja produ9ao existe urn fator espe-
cial comum) sejam ate certo ponto freqUentemente substit~
tas entre s1 (por exempla, varios tipos de produtos agrr-
colas), a modifica9ao nos seus pre90s terao efeitos consi
deraveis sobre a demanda na industria em discussao.
Se tomarmos, entao, uma industria que utiliza
apenas urnapequena parte do "fator constilnte" (0 que par.£
ce 0 mais apropriado para se estudar 0 equilibrio parcial
de uma industria individual), verificaremos que urn (peqll~
no) aumento na sua produ9ao e geralmente reaiizado muito
mais com a retirada de "doses marginais" do fator cons tan
te de outras industrias, do que com a Intensificayao da
propria utiliza9ao do mesmo. Assim sendo, 0 aumento no
custo sera praticamente negligivel e continuara, de qual-
quer maneira, operando em grau identico sobre todas as in
dustrias do grupo.
Excluindo estes casos e - se adotarmos urnponto
de vista que abranja periodos longos nurnerosos outros
nos quais a quantidade dos meios de produyao possa ser en
carada como se estivesse fixada apenas temporariamente em
rela9ao a uma demanda inesperada, muito poueo restara: a
estrutura dos rendimentos decresccntes montada esta disp~
Lit. eeJon •• 4(1) 1982. 19
18 nivel somente para os estudos de uma diminuta c1asse de
mercaoorias em cuja produ~ao 0 fator de produ~ao e utili-
:zado. "qui, e claro, por "mercadoriall deve-se entender
um produto para 0 qual e possive1 construlr, ou no minimo
conceber, urndiagrama de demanda que seja suficientemente
homogeneo e independente das condi~oes da oferta, e nao
urnacolc9ao de dlferentes produtos, tais como os agrico-
las ou os de ferragens, como freqOentemente esta implI-
cito.
Nao e por acaso que, a despeito da natureza pr~
fundamente diversa das duas leis dos rendimentos, as mes-
mas dificuldades tambem apare~am, de forma quase identica,
em rela~ao aos retornos crescentes. Aqui novamente veri-
ficamos que a realldade das economias de produ~ao em gra~
de escala nao se adaptam as exigencias da curva de oferta:
elas ternurncampo de a~ao que e maior, ou mais restrito,do
que seria necessario. Por urn lado, redu~oes de custo pr~
vocadas por Mestas economias exte~nas que resultam do pr~
gresso em geral do meio ambient~ industrial", as quais se
refere Marshall,4 devern, de fato, ser ignoradas, pOis se
mostram claramente incompativeis com as condi~oes do equi
librio parcial de uma mercadoria. Por outr~ lado, redu-
~oes de custo decorrentes de urnaumento da escala de pro-
du~ao da firma, surgidas de economias internas ou da pos-
sibilidade de distribuir custos gerais sobre urnmaior nu-
mero de unidades, devem ser postas de lado, por se revel~
rem incompativels com as condi90es de concorrencia. As
Unicas economias que poderiam ser tomadas em considerayao
seriam aquelas que ocupassem ureaposi~ao intermediaria e~
tre esses dois extremos, embora seja justamente neste
meio-termo que nada, ou quase nada, sera encontrado. Aqu~
las economias que sao externas do ponto de vista da firma
individual, mas internas com rela~ao a industria no seu
todo, constituem precisamente a classe mais rararnente en-
4Marshall, op.cit., V, IX, 1.
20 Lit. IJ CO".. 4 ( 1) 19 8:1 •
contrada. Como disfie Marshall no trabalho em que pre ten- 19
deu enfocar com mais precisao as atuals condl~oes da in-
dustria, "as economies de produ¥Bo em larga escala rara-
mente podem ser ~locadas com exatidao a a19um~ industria:
elas estao extrcmanente llgadas a grupos, freqfientemente
grandcs grupos de indGstrias correlacionadasu•S Seja co-
mo for, na medida em que existam economias externas deste
tipo, elas provavelmente nao surgem devido a pequeno8 au-
mentos na produ~ao. Assim sendo, parece que curvas de 0-
ferta mostrando custos decrescentes nao serao encontradas
com mais freqUencia que a situa9Bo oposta.
Reduzido a estes limites, 0 esquema aa oferta
com custos variaveis nao pode pretender ser urn conceito
geral aplicavel a industrias normais, mas apenas provar
ser urninstrumento Gtil somente no caso de algumas indus-
trias excepcionais que satisfa~am razoavelmente as suas
condi¥ocs. Nos casos normais, 0 custo de produ~ao de meE
cadorias produzidas em concorrencia - e dad0 que nao est~
mos em condi~oc5 de levar ernconsidera~ao as causas que 0
possam aumentar ou diminuir - deve ser visto como constan
te com respeito a pequenas varid~oes na quantidade proclu-
zida.6 Assim sendo, como uma maneira simples de abordar
5
Industry and Trade, p. 188.
6 -.A aus enc i a de cans as que tendem a fazer com que 0 custo aurnen t e
ou diminua parece ser 0 modo mais obvio e plausivel pelo qual surgem
custos constantes. Mas, como estes se constituem no mais pcrigoso in~
migo da simetria entrc a demanda e a oferta, os 8utores ~ue aceitam
esta doutrina para poderem relegar os custos constantes a categoria
de casos teoricos limites, que na realidade nao podem existir, persua
diranrse de que eles sao algo extremamente complicado e improvavel~
pois "podem resul tar apenas do equil ibrio acidental de duas tenden-
cias opostas: a tendencia a diminui~ao do custo .•. e a tencencia ao
aumc~to do custo ..•". Ver Sidwick, Principles of Political Economy, I!!
edi~ao, p. 207; para 0 mesmo efeito, vcr Marshall, op.cit., IV, xiii,
2, e Palgrave's Dictionary, sub voce (Lei dos Rendimcntos Constantes).
A afirma~ao de Edgeworth de que "tratar variaveis como constantes e 0
vido caracteristico dos economistas nao matematicos" podeda hoje ser
revertida: os econoroistas matematicos foraro tao longe em corrigir es-
te vlcio que nao podem mais concebcr uma constante, exceto como resul
tado da compensa~ao de duas variaveis iguais e opostas. -
Lit. econ .• 4(1) 1982. 21
20 0 problema do valor em concorrencia, a velha e agora obs~
leta teoria que 0 considera dependente apenas do custo de
produ~ao continua sendo a melhor disponivel.
Ate 0 ponto em que e capaz de atingir, esta pri
meira avalia~ao e tao importante quanto util: enfatlza 0
fator fundamental, ou seja, a influencia predominante do
custo de produ~ao na determina~ao do valor normal das mer
cadorias, e ao mesmo tempo nos induz ao erro quando des~
jamos estudar, com maiores detalhes, as condi~oes sob as
quais 0 intercambio se realiza em casos particulares. Is-
to porque ela nos esconde 0 fato de que nao podemos enco~
trar, dentro dos limites de suas hlpoteses, as elementos
requeridos para este proposito.
Quando aprofundamos nossa avalia~ao, man tendo-
nos no caminho da livre concorrencia, as complica~oes nao
surgem gradualmente, como seria 0 ideal, mas apresentam-
se simultaneamente, como urntodo. Se os rendimentos de-
crescentes surgidos de urn "fator constante" sao torr.adosem
considera¥ao, torna-senecessario entender 0 campo de in-
vestiga~ao de modo a podermos examlnar as condi~oes do e-
qullibrio simultaneamente em dlversas industrias; esta e,
alias, uma concep¥ao bern conhecida, cuja complexidade, en
tretanto, a impede de frutificar, pelo menos no atual es-
tagio de nosso entendimento, nao permitindo, inclusive, 0
uso de esquemas muito ma1s simples de serem aplicados ao
estudo de condi~oes reals. Passando as economias exter-
nas, deparamo-nos com 0 mesmo obsta.culo, havendo tambem a
lmpossibilldade de se poder confinar, dentro de condi9oes
estatlcas, as circunstancias nas quais elas se origlnam.
Torna-se necessario, portanto, abandonar 0 cami
nho da livre concorrencia e voltar para 0 lade oposto, 1~
to e, em dire930 ao monopolio, onde vamos encontrar urna
teorla bern definida, na qual varia¥oes de custos relaclo-
nadas com mudan¥as nas dimensoes dos empreendimentos ind!
v1duais desempenham papel importante. e claro que, quan-
Lit .• con.~ 4(1) 1982.
do nos deparamos com teorias sabre os dois casos extremos 21
de monopoll0 e concorrencia, como parte do instrumental
necessario para estudar as condi90es reais nas diferentes
industrias, somas advertidos de que estas geralmente nao
se enquadram exatarnente em nenhuma das categorias. Encon
tram-se, isto sim, numa "zona intermediaria", sendo que a
natureza de urnaindustria torna-se mais proxima do siste-
ma monopolista, ou do cencorrencial, de acordo com cir-
cunstancias espec{ficas, como 0 fato de 0 nUmcro de empr~
endlmentos autonomos no sistema ser maier ou menor, ou es
tarem eles ligados eu nao por acordos parciais, etc.
Somos levados, entao, a acreditar que quando a
produ¥ao esta nas maDS de muitos empreendlmentos, inteir~
mente independentes entre si quanta a questae do cantrole,
as conclusoes proprias da concorrencia podem ser aplica-
das, mesmo que 0 mercado onde os bens sao trocados nao se
ja absolutamente perfeito. Isto porque suas imperfei¥oes
sao, em geral, constituidas par fric~oes que, embora pas-
sam retardar ou modificar ligeiramente os efeitos das for
9as ativas da concarrencla, acabam senda, em ultima anali
se, sabrepujadas par estas for~as. Este panto de vista p~
rece ser fundamentalmente inadmissivel, pOis muitos dos
obstaculos que alteram a unidade do mercado, que e a con-
di~ao essencial da cancorrencia, nao sao de natureza '~ric
cional", mas forc;as ativas que produzem efeitos permanen-
tes e mesmo cumulativos. Alem do mais, sao quase sempre
dotados de estabilidade suficiente que lhes permite serem
objeto de analise com base em hipoteses estatisticas.
Dois destes efeitos, os quais se encontram bas-
tante interligados, sao de especial importancia, uma vez
que podem ser freq6entemente encontrados em indus trias e~
de parecem predominar as condi~oes de concorrenciaj sao
tambem de especial interesse porque, como se relacionam
com alguns dos elementos mais caracterfsticos da concep-
~ao da teoria da concorrencia, demonstram qUaD raramente
Lit. econ., 4(1) 1982. 23
22 est~s condi~oes sao encontradas em sua integridade; m05-
tram, ainda, como urnpequeno desvio destas e suficiente
para fazer com que a forma como 0 equilibrio e atingido
torne-se extremamente similar aqucla peculiar ao monope-
lio. Estes dois pontos nos quais a teoria da concorr.en-
cia difere radicalmente da realidade em sua manifesta~ao
mais geral sao: primeiro, a ideia de que 0 produtor em
concorrencia nao pode dellberadamente afetar 0 pre~o de
mercado, podendo, portanto, encara-lo como constante qua!
quer que seja a quantidade de bens que individualmentc po~
sa colocar no mercado; segundo, a ideia de que cada prod~
tor em concorrencia produz normalmente em circunstancias
de custos individuais crescentes.
A experiencia cotidiana mostra-nos que urngran-
de numero de empreendimentos - e a maioria dos que produ-
zem bens de consumo manufaturados - trabalha sob condi-
~oes de custos individuais decrescentcs. 0uase todos os
produtores destes bens expandiriam bastante seus negecios
- sem nenhurnesfor~o de sua parre, a nao ser 0 de produ-
zi-los - se pudessem confiar que 0 mercado no qual vendem
seus produtos estaria preparado para absorver toda a pro-
du~ao ao pre~o corrente. Nao e facil, em tempos de ativ!
dade normal, encontrar urnempreendimento que sistematica-
mente produza menos do que e capaz de vender ao pre~o CO!
rente, e seja ao mesmo tempo impedido pela concorrencia
de exceder aquele pre~o. Os homens de negecio,que se jul
gam sujeitos as condi~oes de concorrencia, considerariarr
absurda a afirma~ao de que 0 limite para suas respectivas
produ~oes e encontrado nas condi~oes internas de produ~ac
de suas firmas, que nao permitem uma produ~ao maior sen
urnaumento no custo. 0 principal obstaculo com que se d!
param ao tentarem aumentar gradualmente suas prod~Oesnao
reside no custo de produ~ao - 0 qual, na realidade, geral
mente os favorece -, mas sim na dificuldade de vender a
quantidade maior dos bens sem reduzlr 0 pre~o, ou sem te-
rem de incorrer em despesas maiores de comerciallza~ao.
24 Lit •• con •• 4(1) 1983.
Esta nccessidade de dimlnuir os pre~os para poder vender 23
uma quantldade maior e apenas urn aspecto da curva de de-
manda descendente, com a diferen~a de que em vez de s~ re
ferir a uma mercadoria como urn todo, qualqucr que seja a
sua origem, dlz rcspeito aos bens produzldos por uma fir-
ma espec!fica. Alem disso, os gastos de comercializa,"~o
necessarios para a amplia~ao do mercado correspondem a es
for~os onerosos (com propaganda, viajantes comerciais, fn
cilidades aos consurnidores, etc.) para aumcntar a dispos!
~ao do mercado de comprar seus produtos - isto e, elevar
artificialmente a curva de demanda.
Este metodo de encarar 0 assunto parece ser 0
ma1s natural, e 0 que mais se aproxima da realidade. Sem
duvida, do ponto de vista formal e possIvel inverter es-
tas rela~oes e aceitar 0 fato de que cada comprador seja
indiferente na sua escolha entre os diferentes produtores,
desde que estes ultimos, a fim de se aproximarem do com-
prador, nao se importem em incorrer nas diferentes despe-
sas de comercializa~ao, nem tampouco em computar estas
despesas, aumentadas de comerciallza~ao, no custo de pro-
du~ao de cada urn. Oeste modo, custos individuais cre5ce~
tes podem ser obtidos em qualquer extensao desejada, bern
como um mercado perfeito com demanda ilimitada, a pre~os
correntes, para os produtos de cada urn. Mas a questao da
aloca~ao das despesas de comercializa~ao nao pode ser de-
cidida do ponto de vista da corre~ao, pOis sob este aspeE
to os dois metodos sao equivalentes. Tampouco pode ser
decidida com base no fato de que estes custos sao efetiv~
mente pagos pelo comprador ou pelo vendedor, uma vez que
nao afeta, em absoluto, sua incidencia ou seus efeitos. 0
importante e identificar de que maneira as varias for~as
em funcionamento podem ser agrupadas de forma mais homo9£
nea, de modo que se possa estimar mais rapidamente a in-
fluencia de cada urnadelas no equilIbrio resultante. Des
te ponto de vista, 0 segundo metodo deve ser rejeitado,
pOis oculta inteiramente os efeitos que as circunstancias
Lit. econ .• 4(1) 1982. 25
24 forjadoras das despesas de cornercializrt~aocxercem sobre
a perlurba~ao da unidade do mercado. Alem disso, ele al-
tera 0 significado da express~o ·custo de produ~ao·, tor-
nando-o depcndente de elementos estranhos as condiqoes em
que tern lugar a produ~iio de urnadada empresa, e de forma ,
conseqUcntcmcnte, a mancira como e afetado 0 processo ef~
tivo de deterrnina~ao do pre~o e da quantidade produzida
de cada empresa.
Portanto, quando adotamos 0 primeiro ponto de
vista, somos levados a atribuir a medida correta da irnpoE
tancia ao principal obstaculo, 0 qual impede 0 livre jogo
da concorrcncia, mesmo onde esta pareee predominar, e ao
mesmo tempo torna possivel urnequilibrio estavel. Isto
oeorre mesmo quando a curva de ofcrta para os produtos de
cada firma individual ISdescendent.e, istCle,com a ausencfa
de indifercn~a por parte dos compradores de bens entre os
diferentes produtores. Sao inUmeros os motivos que levam
urndeterminado grupo de compradorcs a preferir uma firma
em particular: habito antigo, c,_,nhecimentopessoal, confi
an~a na qualidade do produto, proximidade,conhecimento de
aspectos especificos, possibilldade de obten~ao de credi-
to, reputa~ao de uma marCd comercial ou simbolo, nome com
altas tradi~oes, ou ainda devido as caracteristicas espe-
ciais dos modelos ou da apresenta~ao do produto que, sem
se constituir numa mercadoria diferente destinada a satis
fa~ao de neeessidades especifieas, terncomo proposito di~
tinguir-se dos produtos de outras firmas. 0 que estas e
outras razoes possiveis da preferencia tem em comum e 0
fato de mostrarem uma disposi~ao (que pode ser ditada pe-
la necessidade), por parte dos eompradores que constituem
a clientela da firma, de pagar, se necessario, alga extra
a fim de obter as hens de uma firma em particular, em vez
de outra qualquer.
Quando uma firma que produz uma dada mereadoria
encontra-se em tal posi~ao, a mercado geral para essa mer
26 Lit. econ •• HI) 1982.
cadoria subdivide-se em urna serie de mercados distintos. 25
Oualquer firma que procure crescer alern de seu proprio
mercado, lnvadindo os de seus competldores, ve-se na con-
tlngencla de contrair pesadas despesas de comerclaliza~ao
para superar as barreiras que cercam esses mercados; por
outro lado, entretanto, dentro de seu proprio mercado, e
sob a prote~ao de suas proprlas barreiras, cada urna des-
fruta de posi~ao prlvl1egiada que the proporciona vanta-
gens que sao 19uals - se nao em amplitude, pelo menos em
natureza - aquelas desfrutadas pelo monopollsta comum.
Tampouco e necessario enfatizar 0 conhecldo con
celto de monopo Lao para nele podermos enquadrar este ca-
so. De fato, nele tarnbemverificamos que a maloria das
clrcunstancias que afetam a for9a de urnmonopolista (tais
como a posse de recursos naturais unicos, os privilegios
legals, 0 controle de uma propor~ao maior ou menor da pr2
du~ao total, a existencia de rnercadorlas rivais. etc.)
exerce sua influencia essencialrnente afetando a elastici-
dade da dernanda dos bens monopolizados. Q~aisquer que po~
sam ser estas causas, est, e 0 unieo fator decisivo na es
tima~ao do grau de independencia q~e urn rnonopolista tern
para a fixa9ao dos pre90s: quanta menos elastica a deman-
da de seu produto, maior 0 controle que exerce sobre 0
seu mercado. 0 caso extremo, que pode ser apropriadamen-
te chamado de "monopol.io absoluto", e aquele em que a
elasticidade da demanda para os produtos de uma firma e
719ual a 1. Neste caso, por mais que 0 monopollsta eleve
seus preco s , as quantias periodicamente gastas na compra
de seus bens nao sao, nem mesmo parcialmente, desviadas
para canais diferentes de despesa, e sua politica de pre-
7A I .. d d . -. e ast~Clda e a demands para os produtos de um monopol~sta nao
pode, e claro, ser menor que a unidade com respeito a pre~os imedia-
tamente acima do preco de equillbrio. isto e, CODI respeito aqucla parte
da curva de demanda que interessa com rela.yiioa determina~ao do' poder
de um monopolista em seu proprio mercado: uma questao que e bastante
distinta daquela da magnitude dos ganhos atinglveis pelo monopolio,
dado que 0 ultimo nao e tao dependente da taxa de varia~ao como e 0
da medida absoluta da demanda e do pre~o de demanda.
Lit. econ., 4(1) 1982. " ~" /
26 ~os em nada sera afetada devido ao medo da conco rrenci a
de outras fontes de oferta. Assim que a clasticidadc au-
menta, a conco rrenci a come9a a se fazer sent Lr , tornando-
se mais intensa quanta maior for a elasticidade, ate a
elastieidade infinjta da demanda para os produtos de urn
empreendlmento individual, a que corresponde urnestado de
concorrencia perfeita. Nos casos intermediarios, 0 sign!
ficado de uma elasticidade moderada da demand a reside nO
fato de que, embora 0 monopolista tenha uma certa liberd~
de na fixa~ao de seus pre~os, sempre que ele os aumenta e
abandon ado por uma parcela de seus compradores, as quais
preferem gas tar 0 dinheiro de algum outr~ modo. Ao mono-
polista pouco importa se eles 0 gastam na compra de bens
multo diferentes ou Iguals aos seus, mas que tenha~ sido
fornccidos por outros produtores que nao aumentaram seus
pre~os; em qualquer hipotese ele deve sofrer - ainda que
em pequeno grau - uma concorrSncLa efetiva de tais bens,
ja que e precisamente a possibilidade de adquiri-los que
leva os compradores a abandonar~"1 de rnaneiragradual 0 uso
de seu produto quando este aumenta de pre~o. Os efeitos
diretos, assim, sao iguais, tanto se as somas liberadas
como resultado de urnaumento de pre~os par urn empreendi-
mento forem gastas num grande numero de mercadorias dife-
rentes, au se, de preferencia, forem empregadas na compra
de uma au de algumas mercadorias rivals que estejam de
certa forma disponlveis para os compradores. e como a ca
so de urnempreendimento que, embora controle apenas uma
pequena parte da produ~ao total de uma mercadoria, tem a
vantagem de possuir urnmercado particular propria, embora
as efeitos indiretos nos dois casos sejam substanclalmen-
te dlfercntes.
o metoda indicado por Marshall com rela~ao aos
produt.os criados para gostos especIfLcos e ap LtcfiveI ao
estudo oeste ultimo caso. "Quando consideramos urnprodu-
tor ernparticular", diz ele, "nos devemos combinar sua cur
va de ofcrta ndo com a curva qeraL de demanda para sua mer
28 Lit. 6con.# 4(1) 1982.
cadoria num mercado amplo, mas com a curva de demanda de 27
seu proprio mercado especial".8 Nas industrias onde cada
firma ternurnmercado de certa forma particular, nao deve-
mos utilizar esse metodo apenas nas ocasioes em que esti-
vermos considerando 0 produtor individual, mas tambem qua~
do examinarmos a maneira como 0 equilIbrio e atingido no
mercado como urntodo. Isto porque tais curvas-, e claro,
nao podcm de modo algum ser combinadas de modo a formar
urnunico par de curvas de oferta e demanda coletivas. 0
metodo em causa e exatamente 0 mesmo seguido nos casos de
monopolio comum, sendo que em ambas as situa~oes 0 produ-
tor individual realmente determlna seu pre~o de venda pe-
10 conhecido metodo que torna sua receita de monopolio ou
seus lucros os mais elevados possIvei6.
A peculiaridade do caso da firma que nao possui
urnmonopolio efetivo, mas simplesmente urnmercado parti-
cular, e que, na escala de demanda dos bens por eia prod~
zidos, os possiveis compradores sao admitidos em ordem de
crescente, de acordo com 0 pre90 que cada urn deles esta
preparado para pagar, sem deixar de comprar inteiramente
e sem comprar daquele produtor em particular, ao inves de
outro qualquer. Vale dizer, aqueles dois elementos en-
tram na composi9ao de tais pre90s de demanda,quais sejam:
a) aquele pelo qual os bens podem ser comprados de outros
produtores que, na ordem de preferencia do comprador, im~
diatamente se sequem ao produtor em questaOi e b) a medi-
da monetaria do valor (quantidade que pode ser positlva
ou negatlva) que leva 0 comprador a preferir os produtos
da firma em questao.
Por conveniencia da discussao, suponha-se que,
inlcialmente, numa industria em que prevalecem condi90es
semelhantes, cada produtor vende a urnpre90 que mal cobre
8
Marshall, op. cit., V, xii, 2.
Lit. econ .• 4(1) 1982. 29
28 os custos. 0 interesse individual levara cada produtor a
lmediatamente aumentar seus prec;os, de modo a obter 0
maior lucro possIvel. A difusao desta pratica pelo merc~
do fara, no entanto, com que as varias esca1as de demanda
sejam modificadas, porque 0 comprador, quando vir que os
pre~os dos substitutos que pretendJa adquirir sao aurnenta
dos, tendera a pagar um pre~o superior pelos produtos da
firma da qual e cllente, de modo que, mesmo antes que 0
prlmeiro aumento de prec;o se concretize, serao criadas con
dl~oes para permitir que cada empresa proceda a aumentos
posteriores - e assim sucesslvamente.~ claro que ~ste
processo chega rapldamente a urnlimite, pOis os fregueses
que uma firma perde sempre que aumenta seus prec;os podem
procurar outros fornecedores, retornando a e1a sempre que
as outras tambem os elevarem. Entretanto, as vezes al-
guns deles abandonam inteiramente a compra dos bens e re
tiram-se definitivarnente do mercado. Assim, toda ernpresa
ternduas classes de clientes marginais: aqueles que estao
na margem apenas de seu proprio 'Jonto de vista, e fixam
urnlimite para 0 excesso de seus prec;os sobre as prec;os
predomlnantes, e aquelcs que ali estao do ponto de vista
do mercado geral, e fixam urnlimite para 0 aumento geral
no prec;o do produto.
~ claro que urnaumento geral nos prec;os de urn
produto pode afetar as condi~oes de dernanda e oferta de
ccrtas firmas, de modo que se torne mais vantajoso para
elas reduzlr os pre~os do que seguir a alta. Mas numa in
dustria que atingiu certo grau de estabilldade na sua es-
trutura geral, em rela~ao a seus metodos de produ~ao, ao
nUmero de empreendimentos que a compoem e a seus habitos
comerciais - com respeito aos quais, conseq6entemente, hi
poteses estaticas sao mais razoave1mente justificadas-
e muito menos provavel que esta alternativa seja adotada
do que a oposta. Em primelro lugar, ela envolve grande
elasticidade da demanda para os produtos de urnempreendi-
mento individual e custos rapldamente decrescentes para
30 Lit. Beon •• 4(1) 1982.
ele - vale dizer, urn estado de coisas cujo result~do im~ 29
diato, e quase inevitavel, e a completa monopoliz~¥ao, 0
que provavelmente nao sera encontrado,portanto, num nego-
cio operado normalmente por urnconjunto de firmas indepe~
dentes. Em segundo lugar,as forc;asque levam os produto-
res a aumentar os pre~os sao mUlto mais efetivas do que
aquelas que os impelem a reduzi-lbs; e isto nao sc deve
apenas ao medo que todo vendedor ternde prejudicar 0 seu
mercado, mas principalmente porque urnaumento dos lucros
atraves de corte nos prec;os e obtido as custas das firmas
concorrentes, as quais se veern,conseqUentcmente, compeli-
das a tomar atitudes defensivas que podem ameaC;ar os maio
res lucros obtidos. Por outro lado, quando lucr05 mais
vantajosos sao conseguidos mediante aurnentos dos prec;os,
os concorrentes, alem de nao se verem prejudicados, cons~
guem ate mesmo urnganho positivo, canquista que pade ser
encarada como de carater duradouro. Portanto, uma empre-
sa que se veja diante du possibilidade de aumentar os 1u-
eros elevando ou reduzindo os prec;os geralmente adotara a
primeira a1ternativa, a menos que os lucros adicionais se
jam consideravelmente rnaiores do que aqueles que a segun-
da hipotese pade oferecer.
As mesmas razSes servem para desfazer a djivi da
que poderia surgir se, no caso em consideraqao, 0 equili-
brio fosse indeterminado, como geralmente se observu com
relatrao ao monopol1o multiplo. Em primeiro lugar, meslToo
neste caso, como notou Edgeworth, "a extensao da indete~-
mina~ao se reduz com a diminui~ao do grau de correla~ao
entre os artigos" produzidos pelos diferentes manopolis-
9
tas, ou seja, em nosso caso, com a diminui~ao da elasti-
cidade de demanda para os produtos da firma individual,
1imitaqao cuja efetividade, ressalte-se, sera tanto maior
quanta mais rapidarnente decrescer 0 custo unitario com 0
9"The Pure Theo ry of Monopo1y". in Papers Re1ating to P. E., vol.
1, p , 121.
Lit. econ., 4(1) 1982. 31
30 aumen~o da qu~ntidade prnduzidn. A~~as as condi~oes, co-
mo £oi dHo, estiio geralmcnle presentcs em grande medida
no caso em estudo. Alem disso, a indetermina~ao do equi-
librio no caso do monopolio multiplo depende necessaria-
mente da hipotese de que, a qualquer momento, cada monoP2
lista esteja igualmente propenso a elevar ou a reduzir seu
pre~o, conforme the convenha do ponto de vista do ganho
irnediato - suposi~ao que, pelo menos em nosso caso, como
vimos, nao se justifica.lO
A conclusdo de que 0 equilibrio e em geral de-
terminado nao significa que possam ser feitas afirma~ocs
gerais com respeito ao seu preyo correspondente, pOis es-
te pode ser diferente no caso de cada empreendimento, de-
pendendo bastante das condi~oes especials que 0 afetam.
o unico caso em que se poderia falar de urnpre-
<;0geral seria 0 de urnramo em que a organizac;:aoproduti-
va dos diferentes empreendimcntos fosse uniforme e em que
seus mercados particulares fossem semelhantcs com relac;:ao
a natureza e a fidclidade dos clientes. Neste caso, como
se pode perceber imediatamente, 0 pre<;o geral do produto,
atraves da a~ao independente de um conjunto de firmas, c~
da uma das quais levada apenas por ~eus interesses indiv!
duais, tenderia a alcanc;:ar0 mesmo nivel do que seria fi-
xado por uma unica associac;:aomonopo1ista, de acordo com
os principlos normais do monopo Lto , E·ste resultado, lan-
ge de estar condlcionado pela existencia de urnisolamento
lOA possibilidade de determina~ao do equilibria seria mais eviden-
te set ao inves de Ie cansiderarem as varias unidades dos mesmos
bens produ%idos pelos diferentes empreendimentos como mercadorias ri
vais, cada unidadc Cosse considerada como composts. de duas mercado-=-
rias. tendo, dentro de cada mcrcado particular, uma d~manda conjun-
ta, UD.a das quais (a propria mercadoria) fosse vendida sob condi~o<!s
concorrenciais e a outra (servi~os especiais. tra~os caracteristicos
adicionais a ela por cada produto) vendida sob condi~oes monopolis-
tas. Este ponto de vista. enr re t an to , e mais artificial e e~t.i em
desacordo com 0 metoda costumeiro de encarar 0 problema.
Lit. eC/)1I_. 4(1) 1982.
quase completo dos mercados individuais, rcquer apenas urn 31
11geiro grau de preferencia por uma firma especIfica em
cada urndos grupos de clientes. Este caso, em si,nao tern
nenhuma Importancia, ja que e extremamente improvavel que
tal uniformidade fosse efetivamenle encontrada, mas e re-
presentativo de uma t.e ndenc La que prevaLecc mesmo em ca-
50S reais, onde as condi~oes dos varios empreendimentos
diferem entre 51, atraves da qual a a~ao cumulatlva de p~
quenos obstaculos a concorrencla produz sobre os pre~os
efeitos que se aproximam dos de monopolio.
Deve ser notado que foi negl1genciada a Influen
cia perturbadora exercida peia concorrencla de novas fir-
mas, atraldas para uma 1ndustria cujas cond190es permitem
altos lucros monopolistas. Isto parcceu just1flcado por-
quet em primeiro lugar, n entrada de recem-eheg~dos e fr~
qUentemente jmpedida pelas pesadas despesas necessarias
para estabcleeer uma conexao num ramo em ~ue as firmas
existentes possuem uma imagem estabelecida - dcspesas que
podem gcralmente exceder 0 valor eapitalizado dos lucros
potenciais - e, em segundo lugar, este elemento pode tor
nar-se significativo apenas quando os lueros monopolistas
num ramo estio consideravclmcnte acima do nivel normal de
lucros nos ramos em geral, 0 que, entretanto, nao impcd~
que os pre¥o5 sejam determinados ate dentro do limite in-
dicado.
Alem do mais, poderia pareeer que a importancia
das dificuldades de comercializa~ao como limite do deser.-
volvimento da unidade produtiva tenha sido superestimada,
em compara¥ao com os efeitos, na mesma dire~ao, exercidos
pelo aumento mais que proporcional no gasto em que uma
firma deve a19umas vezes 1ncorrer a fim de eonseguir os
meios ad1cionais de produ¥ao que requer. Mas observar-se-
a, geralmente. que tais aumentos nos custos sao urn efei-
to, e nao urnacausa determinante, das eondi~oes de merea-
do que tornam necessario, ou desejavel, que uma firma res
Lit •• con .• 4(1) 1982. 33
32 trlnja sua peodu~ao. Assim sendo, 0 credito I1mitado de
muitas fiemas, que lhes permite obter apenas uma quantid~
de limitada de capital a taxa corrente de juros, geralme~
te e ccnaeqden caa direta do fato de ,\ue uma determinada
firma nao pode aumentar suas vendas fora de seu proprio
mercado particular sem incorrer em pesadas despesas de c~
merciali za~ao. Se uma fi rma que terncond icoe s de produ-zir uma quantidade maior de bens a urncusto menor tambem
esta apta a vende-Ios, sem dificuldade, a urnpre~o cons-
tante, ela poderia nao encontrar obstaculos num mercado
de capitais livre. Por outro lado, se urnbanqueiro - ou
o proprietario da terra onde uma firma se propoe a aumen-
tar suas proprias instala~oes, ou qualquer outro supridor
dos meios de produ~ao da firma - encontra-se em posi~ao
privilegiada com rela~ao a ela, podera exigir da mesma urn
pre~o superior ao pre~o corrente de seus bens. Esta pos-
sibilidade, porem, sera ainda conseqnencia direta do fato
de que tal firma, estando por sua vez em posi~ao privile-
giada com rela~ao ao seu mercado particular, tambem vende
seus produtos a pre~os acima do custo. 0 que acontece em
tais casos e que uma parcela de seus lucros monopolistas
lhe e retirada, e nao que tenha havido urnaumento no seu
custo de produ~ao.
Mas estes sao, antes de tudo, aspectos do pro-
cesso de difusao dos lucros atraves dos varios estagios
de produ~ao e do processo de forma~ao de urnnlvel normal
de luceos por todas as industrias do pais. A influencia
deles na forma~ao dos pre~os de mercadorias individuais e
de relatlva Importancia, e sua analise, conseqQentemente,
esta alem do alcance deste artigo.
34 Lit. IIcon., 4(1) 1982.
Uma Nota Introdut6ria ao Artigo "A Teoria
dos Precos e 0 Comportamento Empresarial",
de R. L. Hall e C. J. Hitch *
ACHYLES BARCELOS OA COSTA··
Vma das questoes mais debatidas entre os eeonomistas refere-se a
questao do valor. Ou seja, 0 que determina a quantidade de uma merca-
doria que se da em troea de outra? A res posta a esta pergunta nao e so
importante para se saber 0 determinante daquela relacao, mas porque
acredita-se que ela esclarece como fundona a eeonomia capitalista .:
A formulacao mais sistematizada sobre esse assunto inicia-se com a
economia politica classica, cujos representantes principals sao Adam Smith
e David Ricardo. Em lin has gerais, afirrnarn que 0 que determina 0 valor
de uma mereadoria (ou 0 seu pre<;o natural, na linguagem de Smith) e 0
tempo de trabalho que ela requer, ou quanto custa produzi-la.
A critica a essa e¥ola e Ieita par Marx ao dernonstrar que 0 conceito
de trabalho comandado de Smith nao consegue explicar a troea de uma
mercadoria particular, a forca de trabalho, Com relarao a Ricardo, Marx
salienta que, com 0 conceito de trabalho contido, esse auror enreda-se nas
divergencias entre valor e pre<;o, devido as diferentes circunstancias (com-
posicao do capital) em que as mercadorias sao produzidas. No entanto,
Marx retern coneeitos importantes desses autores para 0 desenvolvimento
da sua propria teoria do valor. 1
Em contraposicao a essa abordagem, corneca a se desenvolver na Eu-
ropa, por volta de 1870, a teoria da utilidade marginal, ou teoria subjetiva
do valor. Os primeiros marginalistas - Bentham, Menger, Jevons - des-
locarn 0 centro da analise sobre 0 valor do lado da producao, para ° lado
• Gosraria de agradecer a DuHio de Avila Berni e a Jesiel de Marco Gomes pelos
cornentarios recebidos. Obviamente 0 autor e 0 unico responsavel pelos erros e omissoes,
•• Do Departamento de Economia e do IEPEjUFRGS.
1 Nao e intencao desta nota discutir a teoria do valor-trabalho e a sua centro-
versia. Sobre esse assunto existe uma vasta Iiteratura, Ver, por exernplo, Napoleoni
(1980) .
Lit. Econ., 8(3):369·378, 1986.
34 da demanda. Agora, a utilidade eo principal determinante do valor. Como
a utilidade que um bern pode proporcionar varia de individuo para indi-
viduo, e tambem nao pode ser medida, 0 valor e algo totalmente subjetivo,
depende da avaliacao que faca cada pessoa. Nas palavras de Hawkins,
comentando a analise de Jevons: "Apesar desta rejeic;:ao dos custos de
producao e, em particular, das teorias do valor-trabalho, ele algumas vezes
atribui-lhes urn efeito indireto sobre 0 valor na medida em que ao afe-
tarem a oferta do produto, levari a a uma variacao na utilidade. Nao
obstante, a utilidade foi dado 0 principal papel ( ... )." [Hawkins (1979,
p. 13)].
Em 1890 Alfred Marshall publica os Principles of economics, em
que desenvolve a tese de que 0 pre~o de uma mercadoria e deterrninado
pela oferta e pela demanda. Ao contrario dos demais marginalistas, afir-
maya que nao se poderia descartar os custos de producao como sendo um
elemento importante na explicacao do prec;:o. Tanto 0 custo como a utili-
dade teriam urn papel a desempenhar. 0 primeiro, na explicacao da oferta
e, a segunda, na explicacao da demanda. Sobre isso afirmava: "Nos pode-
riamos estabelecer uma discussao razoavel se e a lamina superior ou inferior
de uma tesoura a que corta urna folha de papel, assim como se 0 valor e
govern ado pela utilidade ou pelo custo de producao" [apud Hawkins (1979,
p. 14)]. Para Marshall a livre concorrencia garantiria que 0 prer;:o fosse
determinado pelas Iorcas impessoais do mercado, A hip6tese de que as
empresas trabalharn sob condicoes de custos crescentes imporia um limite
a sua expansao e, consequentemente, evitaria que 0 mercado se tornasse
monopolista.
A publicacao em 1926 do artigo "The laws of returns under compe-
titive conditions" por Piero Sraffa, agora traduzido em portugues [ver
Sraffa (1982)], veio romper com esta abordagem marshalliana. 0 cen-
tro do ataque do artigo foi 0 conceito de curva de oferta. 0 objetivo
de Marshall era obter uma curva de oferta que fosse sirnetrica a curva de
demanda e, assim, poder deterrninar 0 preco. Para isso utiiiza-se da "lei
dos rendimentos nao proporcionais", que e uma fusao da "lei dos rendi-
mentes crescentes" de Adam Smith e da "lei dos rendimentos decrescentes"
de Ricardo, ambas retiradas do contexto em que foram desenvolvidas e
aplicadas, entao, por Marshall na analise da determinarao do prer;:o rver
Tolipan e Guimaraes (1982, pp. 6-7) J.
Sraffa demonstra atraves de uma critica interna rigorosa que este
procedimento era incorre to, conc1uindo que se deveria voltar a escrever
a teoria do valor com base num conceito monopolista de firma.
370 Lit. Econ., 8(3) out. 1986
Em 1933 vem a publico na Inglaterra 0 livro The economics of 35
imperfect competition, de Joan Robinson, e simultaneamente, mas de ma-
neira independente, E. Chamberlin publica nos Estados Unidos a seu The
theory of monopolistic competition. No primeiro caso, como afirma a
autora, 0 seu livro e resultado daquela sugestao de Sraffa. Ambos os auto-
res tratam da mesma questao, au seja, daquelas condicoes de mercado dife-
rentes da concorrencia perfeita.
As empresas, ao contrario do que diz a concorrencia perfeita, se defron-
tam com uma curva de demanda negativamente inclinada. Isto significa
que elas tern algum poder discricionario (de monopolio) sobre 0 pre~o
do produto que vendem. De onde provem este poder? No caso da expIi-
cacao de Joan Robinson, seria devido aos custos de transporte, a garantia
de qualidade fornecida por uma rnarca bastante conhecida, a publicidade,
ao atendimento, etc. au seja, aquelas condicoes que tornam 0 mereado
imperfeito. Para Chamberlin, esse poder e proporcionado pela diieren-
ciadio dos produtos, como a existencia de marcas registradas, forma ou
confeccao do produto, etc., sendo que esta diferenciacao, para os consumi-
dores, pode ser real ou imaginaria, Urna distincao entre esses autores e
de que a "concorrencia imperfeita" trata principal mente do monopolio e
do "grande grupo", enquanto a "concorrencia monopolfstica' analisa os
casos intermediaries entre a concorrencia pura e 0 monopolio, e 0 caso
do "pequeno grupo", sendo a analise deste ultimo urn tanto insatisfat6ria,
no dizer de Silberston (1970).
Entretanto, segundo Joan Robinson, para tratar desses assuntos era
necessario tomar emprestadas aquelas tecnicas "rnarginais" que erarn apli-
cadas a concorrencia perfeita e adapta-Ias a nova situacao. A utilizacao
desse instrumental implica a hipotese de que as ernpresas tenham como
objetivo a maximizacao do lucro. Sabre iS50, afirmava que " ... e precisa-
mente esta hipotese que torna viavel a analise do valor" [Robinson(1972,
p. 31)].
a artigo de Sraffa, os livros de Joan Robinson e Chamberlin, 0 pro-
prio livro de John M. Keynes The general theory of employment, interest
and money, dentre outros, sao 0 resultado de uma creseente insatisfacao
com a doutrina ortodoxa (neoclassicaj , cujas deficiencias a crise de
1929 tinha posto em evidencia. E nesse quadro de critica interna a teoria,
e na busca de novos conceitos que deem conta do real, que vem a publico
na Inglaterra em 1939, 0 artigo "Price theory and business behaviour" de
R. L. Hall e C. J. Hitch.
a artigo veio abalar outro alicerce da teoria neoclassica, qual seja, 0
da hip6tese da maximizarao do lucro, Como ja referirnos, a teoria da
Lit. Econ., 8(3) out. 1986
36 concorrencia imper£eita aceitou esta hip6tese como 0 caminho necessario
a ser seguido na explicacao da formacao dos pre~os.
Hall e Hitch demonstraram, atraves de uma pesquisa empirica com
38 empresas britanicas, que elas nao tentavam igualar a receita marginal
ao custo marginal para' estabelecerem os seus pre~os e os seus niveis de
producao. A explicacao dada e de que as empresas nao conhecem, ou nao
Iazem esforco para calcular, as suas curvas de receita e custo marginal.
Como se sabe, a hipotese da maximizacao do lucro requer que as empresas
conhecam essas curvas. No entanto, para que isto seja possfvel, e necessario
que elas determinem as suas curvas de demanda - para dai obterern a
receita marginal - e os seus custos marginais (que se supoe serern cres-
centes) . Questionados sobre esse assunto, os ernpresarios mostrararn-se indi-
ferentes ou vagos sobre a deterrninacao da elastieidade da demanda.P No
caso dos custos, os dados, de acordo com os autores, nao eram confiaveis,
pois as empresas produziam uma ampla variedade de produtos. E con-
cluem que a maioria dos empresarios " ... aparentemente nao tentava,
mesmo que implicitamente, estimar as elasticidades da demanda ou 0
custo marginal (em oposicao ao custo medic diretoj : e daqueles que 0
faziam, a maioria considerou a informacao de pouca ou nenhuma rele-
vancia para a fixa\ao do pre~o salvo, talvez, em condicoes muito especiais."
Se os ernpresarios nao estabelecem 0 preco igualando a receita ao
custo marginal qual e, en tao, 0 procedimento adotado? Segundo os autores,
as empresas seguem 0 que eles denominaram de principio de "custo total".
De acordo com este principio, os ernpresarios para Iixarern 0 pre~o tom am
° custo rnedio direto, adicionam uma percentagem para cobrir os custos
fixos ou indiretos e uma percentagem para os lueros. Esses ultimos eonsi-
derados nao como sendo maximos, mas como "razoaveis",
Qual e a rationale desse comportamento? A importante constatacao
da pesquisa e de que as Iirrnas nao podem determinar as suas eurvas de
demanda, pois nao conhecem as preferencias dos consumidores e porque
hi uma interdependencia nas politicas de pre~o e producao das empresas.
Ou seja, elas nao sabem como os coneorrentes reagiriam a uma alteracao
em seu pre~o ou no seu nivel de producao. Outros fatores considerados
foram de que 0 pre~o cobrado dessa forma era 0 pre~o "justo" ou "correto",
2 No ponto de maximizacao do lucro, a elasticidade e igual it seguinte relac;ao:
pre~
prec;o - custo marginal
372 Lit. Econ., 8(3) out. 1986
o receio de desagradar os clientes, 0 medo da reacao dos concorrentes, etc. 37
As Tabelas 2 a 5 do artigo resumem as razoes das 30 empresas que aderiam
a polftica do custo total.
Assirn, a dernanda nao tern aquele papel importante na determinacao
do preco como preconizado pela teoria neoclassica, nem a maxirnizacao
do lucro e adequada para tratar essa questao, De acordo com Possas: "As
duas contribuicoes ... fundamentals do estudo de Hall e Hitch foram:
a) a destituicao da demanda do pedestal em que se encontrava ao lado
dos custos ... ; b) a constatacao de que a maximizacao dos lucros nao
e urn objetivo explicito das firmas nas decisoes que tomam quanto a precos
e producao" [ver Possas (1985, p. 31)].
Uma outra contribuicao importante de Hall e Hitch refere-se ao con-
ceito da "curva de demanda quebrada" desenvolvido simultaneamente e
de maneira independente por Sweezy (1939). Ela nao e uma teoria da
determinacao do pre~o, mas Ioi elaborada para mostrar a rigidez, au a
estabilidade, de pre~os nos mercados oligopolisticos. 0 argumento desen-
volvido pode ser assim resumido: para aumentos de pre~os a curva de
demanda com que a firma se defronta e elastica, pois ela teme que as
concorrentes nao a acompanhem em uma elevacao de pre~os; para reducoes
de pre~os a curva e inelastica, na medida em que os rivais seguirao essas
reducoes para manterem a sua participacao no rnercado. A pesquisa cons-
tatou tam bern que os salaries nao guardam correspondencia com a produ-
tividade marginal da mao-de-obra, 0 que ja havia sido desenvolvido por
Joan Robinson em "The theory of imperfect competition".
o artigo abriu espa~o para uma intensa discussao, urna vez que urn
ataque dessa natureza causou - como era de se esperar - grande impacto
no meio academico. As criticas a ele podem ser divididas em dois niveis:
as de reacao e as de superacao.
Dentre as primeiras, as rnais farnosas foram as de Fritz Machlup, que
negou enfaticamente os resultados da pesquisa de Hall e Hitch, iniciando,
corn a publicacao de seu artigo "Marginal analysis and empirical re-
search't.P em 1946, urn amplo debate conhecido como a "Controversia
Marginalista" .
Machlup (on testa 0 artigo de Hall e Hitch sob 0 aspecto metodolo-
gico, alegando que 0 procedimento adotado - questionario e entrevista
- nao e 0 correto para captar 0 comportamento real dos homens de nego-
3 "Analise marginal e pesquisa ernpirica ", publicado em duas partes nesta revista
e com diferentes notas introdut6rias [d. Considera (1982) e Camargo (1982»).
Lit. Econ., 80) out. 1986
38 cios. 0 vocabulario dos economistas e diferente daquele empregado pelos
ernpresarios e, por isso, esses ultimos poderiam nao estar interpretando
corretamente 0 jargao economico. No entanto, se formuladas as questoes
em sua propria linguagem, verificariamos, de acordo com Machlup, que,
ao contrario do que dizem Hall e Hitch, as empresas cornportam-se exata-
mente como prediz a teoria neoclassica,
o fato de os empresarios nao realizarem calculos precisos dos valores
das variaveis envolvidas nas suas decis6es (como, por exemplo, 0 de elasti-
cidade da demanda) nao pode ser considerado como negando a teoria
marginalista. 0 realismo das hipoteses nao necessariamente, segundo
Machlup, precisa ser-verdadeiro para que uma teoria possa predizer resul-
tados confiaveis, Tudo 0 que se requer e que os empresarios se comportem
como se igualassem 0 custo e a receita marginal. 4 Com 0 celebre exemplo
da ultrapassagem dos veiculos, Machlup mostra que os motoristas quando
vao ultrapassar urn outro carro nao fazem calculos precisos das variaveis
envolvidas, tais como a velocidade do veiculo a ser ultrapassado, a veloci-
dade do proprio carro, a distancia entre eles, etc. No entanto. as ultrapas-
sil:gensocorrem corretarnente. 0 mesmo ocorreria com 0 prindpio de maxi-
mizacao do lucro: 0 ernpresario sabe qual a comhinacao de preco e pro·
dU'rao que Ihe confere lucro maximo.
Uma outra critica dessa natureza refere-se a tentativa de reduzir '0
principio do custo total a. teoria marginalista. Se os custos sao constantes,
entao 0 custo medio direto e igual ao custo marginal e, portanto, pode-
se colocar a margem de lucro em termos de elasticidade da demanda
[Koutsoyiannis (1979, p. 279)]. Mas como demonstra Sylos-Labini (1984,
p. 50): "Aceitar a priori a possibilidade de colocar q (margem de Iucro]
em termos de elasticidade da demanda significa admitir como dado exata-
mente 0 problema que se tern de resolver".
No que se refere a curva de demanda quebrada, a critica mais
detalhada foi a realizada por Stigler (1971). Sua analise e Ieita em
dois pIanos. 0 primeiro refere-se a parte teorica propriamente dita da
curva de demanda quebrada. 0 segundo considera 0 grau de correspon-
4 Milton Friedman e outro adepto

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