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Habilidades Médicas - Cardio - Aula 2 - Palpitação e Síncope

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Andressa – P4 FMO – 2021.2 
Habilidades Médicas – Aula 2 – Cardio 
♦Palpitações. Palpitações significam percepção 
incômoda dos batimentos cardíacos, sendo 
relatadas pelos pacientes como “batimentos mais 
fortes”, “falhas”, “arrancos”, “paradas”, “tremor no 
coração”, “coração deixando de bater”, “coração 
aos pulos”. Cumpre salientar que palpitações nem 
sempre significam arritmia. As palpitações são 
contrações cardíacas mais fortes e mais 
intensas, lentas ou rápidas, rítmicas ou 
arrítmicas, decorrentes de distúrbios do ritmo ou 
da frequência cardíaca, incluindo todas as 
manifestações de taquicardia, pausas 
compensadoras, aumento do débito cardíaco, 
estados hipercinéticos, hipertrofia ventricular, 
início súbito de uma bradicardia causada por 
bloqueio completo. 
►As palpitações aparecem, também, em 
indivíduos normais, após exercício físico ou 
emoções; elas devem ser analisadas quanto a 
frequência, ritmo, horário de aparecimento, 
modo de instalação e desaparecimento, isto é, se 
têm início e término súbitos. Deve-se indagar, 
também, quanto ao uso de chá, café, refrigerantes à 
base de cola, tabaco e drogas, principalmente 
cocaína e anfetaminas. Há três tipos principais de 
palpitações – as palpitações de esforço, as que 
traduzem alterações do ritmo cardíaco e as que 
acompanham os transtornos emocionais. 
►As palpitações de esforço ocorrem durante a 
execução de esforço físico e desaparecem com o 
repouso. Nos cardíacos, têm o mesmo significado 
da dispneia de esforço, sendo comum ocorrerem 
conjuntamente. Também com relação às 
palpitações, é necessário caracterizar a magnitude 
do esforço, habitualmente escalonado em grandes, 
médios e pequenos esforços. Na insuficiência 
cardíaca, as palpitações, assim como a dispneia, 
iniciam-se de modo súbito, logo ao se fazer um 
esforço físico, e desaparecem com o repouso, de 
maneira gradual e lenta. De maneira geral, os 
pacientes relatam batimentos rítmicos, enérgicos e 
rápidos. 
As palpitações decorrentes de alterações do ritmo 
cardíaco são descritas pelos pacientes com 
expressões ou comparações que possibilitam ao 
médico presumir o tipo de arritmia. Assim, o relato 
de “falhas”, “arrancos” e “tremor” indica quase 
sempre extrassístoles. Aliás, nesta condição, o 
paciente percebe mais o batimento pós-
extrassistólico do que a contração prematura. De 
outro modo, a sensação de que o coração “deixa de 
bater” corresponde quase sempre à pausa 
compensadora. Extrassístoles “em salvas” são 
descritas como “disparos do coração”, com curta 
duração. Quando têm início e fim súbitos, 
costumam ser indicativas de taquicardia 
paroxística, enquanto as que apresentam início 
súbito e fim gradual sugerem taquicardia sinusal ou 
estado de ansiedade. 
As palpitações constituem queixa comum dos 
pacientes com transtornos emocionais, podendo 
fazer parte, juntamente com a precordialgia e a 
dispneia suspirosa, da síndrome de astenia 
neurocirculatória ou neurose cardíaca, cuja origem 
reside nas agressões emocionais sofridas nos 
primeiros anos de vida (castigo, medo, ameaças) ou 
nas dificuldades e desajustes ocorridos na vida 
adulta, incluindo carência afetiva, desajuste 
conjugal, problemas econômicos, insatisfação 
sexual. A perda de um membro da família ou de um 
amigo por doença do coração pode desencadear o 
quadro de astenia neurocirculatória, 
principalmente em pacientes que sofrem de 
ansiedade ou de depressão. Cumpre ressaltar que as 
palpitações de causa emocional costumam ser 
desencadeadas por agressões emocionais e, muitas 
vezes, acompanhamse de sudorese, desmaio, 
dormências, além de outros distúrbios 
neurovegetativos. 
♦Síncope e lipotimia (desmaio). Desmaio é a 
perda súbita e transitória da consciência e do tônus 
muscular postural (síncope). 
‼Nem sempre, o sintoma ocorre de maneira 
completa, podendo ser parcial a perda da 
consciência (pré-síncope ou lipotimia). Pode ser de 
origem psicogênica (impactos emocionais, medo 
intenso) ou por redução aguda, mas transitória, do 
fluxo sanguíneo cerebral. Quase sempre o quadro 
evolui rapidamente para a recuperação da 
consciência, pois, se não houver melhora da 
perfusão cerebral, sobrevirá a morte em curto 
período de tempo. 
►O desmaio por alteração quantitativa da 
circulação cerebral pode ser consequência de 
distúrbios do ritmo cardíaco e da condução do 
estímulo, diminuição do débito cardíaco, 
perturbação dos mecanismos vasomotores, redução 
do retorno venoso e do volume sanguíneo 
circulante (hipovolemia). Outras alterações da 
irrigação cerebral ocorrem nos distúrbios 
metabólicos, como a hipoglicemia, ou refletem 
uma disfunção cerebral, como na síndrome do seio 
carotídeo. A maior parte das crises de desmaio 
(crises vasovagais ou síncope vasodepressiva) 
ocorre quando o indivíduo está de pé, e são 
acompanhadas de queda da pressão arterial. Deste 
modo, podem-se agrupar as causas de desmaio em 
“cardíacas” e “extracardíacas”: 
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■ Causas cardíacas (diminuição do fluxo sanguíneo 
cerebral) 
• Arritmias e distúrbios da condução 
∘ Bradiarritmias (bloqueio atrioventricular) 
∘ Taquiarritmias (taquicardia paroxística) 
• Diminuição do débito cardíaco 
∘ Insuficiência cardíaca aguda (infarto agudo do 
miocárdio) ∘ Obstrução do fluxo sanguíneo pulmonar 
∘ Tetralogia de Fallot ∘ Hipertensão pulmonar primária 
∘ Estenose pulmonar ∘ Embolia pulmonar 
• Regulação vasomotora anormal 
∘ Estenose aórtica ∘ Hipotensão postural ou ortostática 
• Diminuição mecânica do retorno venoso 
∘ Mixoma atrial ∘ Trombose de prótese valvar cardíaca 
• Hipovolemia aguda 
■ Causas extracardíacas • Metabólicas 
∘ Hipoglicemia ∘ Alcalose respiratória por 
hiperventilação ∘ Hipoxia 
• Síncope neurogênica 
∘ Síndrome do seio carotídeo ∘ Síncope vasovagal 
∘ Síncope da “micção” ∘ Neuralgia glossofaríngea 
∘ Epilepsia 
• Obstruções “extracardíacas” do fluxo de sangue ∘ 
Aterosclerose cerebral e de vasos da crossa da aorta 
∘ Reflexo da tosse ∘ Compressão torácica 
∘ Tamponamento cardíaco ∘ Manobra de Valsalva 
• Psicogênica. 
A investigação diagnóstica em paciente que sofreu 
um desmaio compreende a análise do episódio em 
si – tempo de duração, ocorrência ou não de 
convulsão, incontinência fecal ou urinária, 
mordedura da língua, sudorese e palidez –, bem 
como eventuais sintomas precedendo-o e 
manifestações surgidas após a recuperação da 
consciência. É necessário também investigar as 
condições gerais do doente, o tempo decorrido 
desde a última alimentação, o grau de tensão 
emocional, a posição do corpo, a atitude do 
indivíduo no momento da crise, a execução de 
esforço físico ou mudança súbita na posição do 
corpo, a temperatura ambiente, a ocorrência doença 
recente ou prévia. Dentre as eventualidades que 
podem preceder o desmaio, destacam-se: 
irregularidades do ritmo cardíaco, dor anginosa, 
auras, paresias, parestesias, incoordenação, 
vertigem ou movimentos involuntários. Na maioria 
das vezes, o episódio sincopal se inicia com 
sensação de fraqueza, tonturas, sudorese e palidez; 
outras vezes, ocorre subitamente sem 
manifestações prodrômicas. Na síncope, a pressão 
arterial cai rápida e intensamente, a frequência 
cardíaca diminui e a respiração torna-se irregular. 
No período pós-sincopal, pode haver confusão 
mental, cefaleia, tonturas e mal-estar, mas o 
paciente pode voltar a si sem sentir praticamente 
nada. 
■ Causas cardíacas. Os distúrbios do ritmo ou da 
condução do estímulo podem causar síncope 
quando houver bradicardia com frequência menor 
que 30 a 40 bpm ou taquicardia com frequência 
acima de 150 bpm. A síncope bradicárdica 
clássica, denominada síndrome de Stokes-Adams, 
caracteriza-se por perda da consciência, 
acompanhada de convulsões. É provocada por 
parada cardíaca, bradicardia acentuada, taquicardia 
intensa, flutter ou fibrilação ventricular, queimpossibilitam uma adequada perfusão cerebral. A 
síndrome de Stokes-Adams é muito frequente nos 
portadores de cardiopatia chagásica crônica com 
bloqueio atrioventricular de 2 o ou 3 o grau. A 
síndrome pode ter início com tonturas, sensação 
vertiginosa e escurecimento visual, sobrevindo a 
seguir perda da consciência, convulsões, 
eliminação involuntária de fezes e urina, podendo 
ocorrer parada respiratória. 
►As taquiarritmias supraventriculares – 
taquicardia atrial, fibrilação atrial –, ao diminuírem 
o fluxo cerebral, causam isquemia cerebral 
manifestada por tonturas, lipotimia, paralisias 
focais e transitórias, confusão mental e conduta 
anormal. A perda da consciência pode ser resultado 
também da obstrução súbita de um orifício valvar 
por mixoma de átrio esquerdo, trombose de uma 
prótese valvar e embolia pulmonar. 
► Na hipertensão arterial e na hipotensão 
postural, pode ocorrer desmaio, especialmente 
quando a elevação ou a queda dos níveis tensionais 
se faz bruscamente. A anoxia cerebral também 
pode determinar síncope, mesmo quando o fluxo 
cerebral é normal, bastando que a saturação de O2 
no sangue seja baixa. É o que ocorre na tetralogia 
de Fallot, cardiopatia em que a redução do fluxo 
pulmonar, a mistura do sangue entre os ventrículos 
e a saída do sangue pela aorta biventricular 
reduzem o conteúdo de oxigênio no sangue. Na 
estenose aórtica, a perda da consciência ocorre em 
razão de um baixo débito cardíaco e desvio do 
sangue para os músculos esqueléticos. 
■ Causas extracardíacas. As causas 
extracardíacas incluem a síncope neurogênica, a 
hipotensão postural, a síndrome do seio carotídeo, 
a síncope pós-tosse, a síncope pós-micção, a 
alcalose respiratória por hiperventilação e a 
hipoglicemia. A síncope neurogênica é o tipo 
mais comum de desmaio, podendo ser 
desencadeada por impacto emocional, visão de 
sangue, dor intensa, lugar fechado e ambiente 
quente. Uma de suas principais características é a 
rápida recuperação ao se deitar o paciente. Em 
geral, dura poucos segundos, raramente prolonga-
se por alguns minutos. A perda da consciência pode 
ocorrer abruptamente ou ser precedida de sensação 
de mal-estar geral, fraqueza, tonturas, palidez, 
sudorese, bocejos, desconforto abdominal ou 
náuseas. O pulso e a pressão arterial podem estar 
elevados, caindo gradativamente, sem chegar a 
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níveis abaixo do normal. Admite-se que o 
mecanismo da síncope neurogênica é o desvio do 
sangue para os músculos, em consequência de 
queda da resistência periférica por vasodilatação. 
Do ponto de vista neurovegetativo, há inibição 
generalizada do tônus simpático com aumento 
relativo da atividade vagal. Por isso, costuma ser 
designada de síncope “vasovagal”. 
► A hipotensão postural caracteriza-se por 
acentuada queda tensional quando o paciente se 
levanta do leito e adota a posição de pé. Pode 
ocorrer em indivíduos normais que permanecem de 
pé durante muito tempo, em uma posição fixa 
(soldado em posição de sentido). Costuma ser 
observada após exercícios físicos exaustivos, 
inanição, enfermidades prolongadas, desequilíbrio 
hidreletrolítico com depleção de sódio e potássio, 
grandes varizes nos membros inferiores. Em todas 
essas condições, a causa da síncope é o acúmulo de 
sangue nos vasos dos membros inferiores. 
Atualmente, uma das causas mais frequentes de 
hipotensão postural é o uso de medicamentos 
anti-hipertensivos, principalmente os diuréticos e 
os bloqueadores simpáticos. 
►A síndrome do seio carotídeo é uma entidade 
rara que se caracteriza por queda da pressão arterial 
e acentuada bradicardia após estimulação do seio 
carotídeo. Clinicamente, o paciente apresenta 
tonturas, escurecimento visual, cefaleia e desmaio. 
► Na síncope pós-tosse, os acessos podem causar 
hipotensão reflexa e bradicardia, que se acentuam 
pelo menor retorno venoso produzido pelo 
aumento da pressão intratorácica. 
►Na síncope pós-micção, a vasodilatação pode 
produzir uma hipotensão súbita e colapso, ao urinar 
ou depois, logo após levantar-se de decúbito 
prolongado. 
► A hipoglicemia pode determinar desmaio 
especialmente em indivíduos diabéticos que 
receberam doses de insulina acima das suas 
necessidades, em portadores de neoplasias de 
células insulares (insulinoma), de insuficiência 
hepática e da doença de Addison. A hipoglicemia 
funcional por jejum prolongado raramente causa 
perda da consciência, manifestando-se por 
palpitação, sudorese fria, tonturas, confusão mental 
e comportamento anormal. Quando o intervalo 
entre as refeições é muito longo, mesmo os 
indivíduos normais apresentam fraqueza e 
tremores. 
♦Cianose. Cianose significa coloração azulada 
da pele e das mucosas, em razão do aumento da 
hemoglobina reduzida no sangue capilar, chegando 
a 5 g por 100 mλ. A quantidade normal de 
hemoglobina reduzida é de 2,6 g por 100 mλ. É 
óbvio, portanto, que os pacientes intensamente 
anêmicos nunca apresentarão cianose, porque não 
haveria hemoglobina reduzida suficiente para 
produzir cianose, mesmo que a tensão de oxigênio 
sanguíneo permanecesse relativamente alta. A 
cianose é um sinal importante de enfermidade 
cardíaca, principalmente na infância, podendo ser 
descoberta pelo próprio paciente ou pela família. • 
No exame do paciente cianótico, certas 
características são importantes para o raciocínio 
diagnóstico, destacando-se as que se seguem: 
 ■ Duração da cianose, tendo importância na 
história clínica do paciente. Se ela estiver presente 
desde o nascimento, talvez seja graças a uma 
doença cardíaca congênita ■ Presença ou 
ausência de hipocratismo digital, o qual consiste 
na deformidade dos dedos com aumento de 
volume, tornando-se globosos em formato de 
baqueta de tambor com unhas convexas em todos 
os sentidos, como vidro de relógio. O 
baqueteamento sem cianose é frequente em 
pacientes com endocardite infecciosa subaguda. A 
combinação de cianose com baqueteamento é 
frequente em pacientes com certos tipos de 
cardiopatias congênitas e em doenças pulmonares 
(fibrose pulmonar, bronquiectasia, enfisema 
pulmonar, câncer broncogênico, fístula 
arteriovenosa pulmonar). 
♦Edema. As expressões “inchaço” e “inchume” 
são as mais usadas pelos pacientes para relatar este 
sintoma, mas elas podem designar, também, 
crescimento ou distensão do abdome (p. ex., 
“inchaço na boca do estômago”). O edema é o 
resultado do aumento do líquido intersticial, 
proveniente do plasma sanguíneo. O edema 
aparece em muitas enfermidades, podendo ser 
localizado, como acontece no edema 
angioneurótico ou inflamatório e na compressão de 
vasos linfáticos e venosos, ou generalizado, 
resultante de afecções cardíacas, renais, hepáticas, 
carenciais e do uso de medicamentos. 
 
Semiologia Médica - Porto

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