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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica complexa na qual o coração é incapaz de bombear sangue de forma a atender as necessidades metabólicas dos órgãos e tecidos ou faz isso somente com elevadas pressões de enchimento. Essa síndrome pode ser causada por alterações estruturais ou funcionais e caracteriza-se por sinais e sintomas típicos, que resultam na redução do débito cardíaco e/ou das elevadas pressões de enchimento no repouso ou no esforço. A IC crônica reflete a natureza progressiva e persistente da doença, enquanto o termo IC aguda está associado a alterações rápidas ou graduais de sinais e sintomas resultando em necessidades de terapia urgente. A IC pode ser causada por anormalidade na função sistólica produzindo redução do volume sistólico (IC SISTÓLICA) ou anormalidade na função diastólica, levando a defeito no enchimento ventricular (IC DIASTÓLICA). No entanto, em alguns pacientes podem coexistir as duas disfunções. CLASSIFICAÇÃO DA IC A IC pode ser determinada de acordo com a fração de ejeção (preservada, intermediária e reduzida), pela gravidade dos sintomas (NYHA) e pelo tempo e progressão da doença (diferentes estágios). 1. CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A FRAÇÃO DE EJEÇÃO: Fração de ejeção preservada ou diastólica: > 50% Fração de ejeção intermediária: entre 40 e 49% Fração de ejeção reduzida ou sistólic: <40% A diferenciação dos pacientes de acordo com a FEVE tem particular importância, uma vez que eles diferem em relação às suas principais etiologias, às morbidades associadas e, principalmente, à resposta à terapêutica. 2. CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A GRAVIDADE DOS SINTOMAS A classificação funcional de acordo com a NYHA continua sendo a classificação usada para descrever e classificar a gravidade dos sintomas. Essa classificação se baseia no grau de tolerância ao exercício e varia desde a ausência de sintomas até a presença de sintomas mesmo em repouso. Ela permite avaliar o paciente clinicamente, auxilia no manejo terapêutico e tem relação com o prognostico. NYHA III e IV apresentam condições clinicas progressivamente piores, internações mais frequentes e maior risco de mortalidade. 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 3. CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A PROGRESSÃO DA DOENÇA A classificação por estágios da IC proposta pelo American Heart Association (ACC/AHA) enfatiza o desenvolvimento e a progressão da doença. Essa classificação inclui desde o paciente com risco de desenvolver IC, cuja abordagem deve ser feita no sentido de prevenir seu desenvolvimento, quanto o paciente em estágio avançado da doença. EPIDEMIOLOGIA A IC apresenta uma enorme carga de morbimortalidade em todo o mundo, e sua importância na saúde pública tem aumentado nos últimos anos com o envelhecimento da população e hábitos de vida sedentários, o aumento da prevalência de doenças como HAS, diabetes e obesidade se correlaciona com o aumento da prevalência da IC, principalmente entre idosos. Os estudos norte-americanos também indicam maior prevalência entre a população negra do que na branca. ETIOLOGIA A IC pode ser resultado de uma doença intrínseca do coração (cardiomiopatia), ou mais comumente em virtude de outras doenças crônicas que causam um processo de alteração da função cardíaca, seja ela sistólica ou diastólica. As principais causas de IC no Brasil são cardiopatia isquêmica, cardiopatia hipertensiva, cardiopatia secundária a valvopatias, cardiomiopatia dilatada (CMD), cardiomiopatia alcóolica e doença de Chagas. A IC sistólica está geralmente associada a uma cardiopatia dilatada. As causas de cardiopatia dilatada são múltiplas, mas predominam a HAS e a doença isquêmica. Nos casos de IC diastólica, a HAS e a fibrose (sequelas da IAM) aparecem como causas importantes. Além do próprio envelhecimento que é considerada uma casa de IC diastólica. Também deve ser lembrada a miocardiopatia hipertrófica. Quando falamos sobre IC aguda, nos referimos a um paciente previamente hígido que abriu um quadro de falência cardíaca de instalação rápida. Neste caso, a causa mais comum é o IAM. Outras causas frequentes: miocardite aguda e endocardite infecciosa complicada por rotura da cordoália mitral. FISIOPATOLOGIA Para entender o quadro clínico da IC, primeiro relembraremos alguns conceitos da fisiologia do sistema cardiovascular. A função sistólica é a capacidade que os ventrículos possuem de bombear o sangue para a circulação, seja ela sistêmica ou pulmonar. Já a função diastólica é a capacidade que os ventrículos possuem de relaxar (através de um processo ativo, ou seja, que requer o gasto de energia por parte das células), para se encherem de sangue sem um aumento exagerado da pressão ventricular. Frequentemente, a função sistólica é avaliada através da fração de ejeção. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA SISTÓLICA: Constitui 50-60% dos casos. O problema está na perda da capacidade contrátil do miocárdio. Na maioria das vezes, a disfunção sistólica provoca dilatação ventricular (cardiopatia dilatada) e tem como marco laboratorial uma redução significativa da fração de ejeção (≤ 50%). A principal consequência é a redução do débito cardíaco e aumento do volume de enchimento. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIASTÓLICA: constitui 40-50% dos casos. A contração miocárdica está normal (com FE > 50%), mas existe restrição patológica ao enchimento diastólico, causando elevação nas pressões de enchimento e, consequentemente, aumento da pressão venocapilar (congestão). O mecanismo pode ser uma alteração no relaxamento muscular e/ou uma redução na complacência ventricular (“ventrículo duro” por excesso de tecido conjuntivo). INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ESQUERDA: representa a grande maioria dos casos e é 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 decorrente da disfunção do coração esquerdo, geralmente por uma insuficiência ventricular esquerda. Cursa com congestão pulmonar (dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna). Algumas causas são: IAM, cardiopatia hipertensiva, miocardiopatia idiopática, doenças valvares. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIREITA: decorre da disfunção do coração direito, geralmente por uma insuficiência ventricular direita. Cursa com congestão sistêmica (turgência de jugular patológica, hepatomegalia, ascite, edema de membros inferiores). Algumas causas são: tromboembolismo pulmonar, obesidade mórbida, pneumopatias, hipertensão arterial pulmonar primaria, infarto de ventrículo direito. A principal causa de IC direita, é uma IC esquerda que passou a causar aumento da resistência pulmonar, INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DE BAIXO DÉBITO: constitui a maioria dos casos. A disfunção sistólica do VE reduz o Débito Cardíaco (DC), causando hipoperfusão tecidual. Nas fases iniciais o DC pode se manter normal no estado de repouso, mas durante esforço físico o aumento fisiológico do DC não acontece.... Na fase avançada, por sua vez, o DC estará reduzido mesmo em repouso, trazendo constantes limitações ao paciente! INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DE ALTO DÉBITO: ocorre nas condições que exigem um maior trabalho cardíaco, seja para atender a demanda metabólica (tireotoxicose, anemia grave) ou pelo desvio de sangue do leito arterial para o venoso, através de fístulas arteriovenosas (beribéri, sepse, cirrose, doença de Paget óssea, hemangiomas). Em todos esses casos, apesar do débito cardíaco estar alto, ele está abaixo do desejado em face da alta requisição da função cardíaca. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O paciente com IC em geral permanece assintomático durante vários anos, devido aos mecanismos adaptativos. Após um período de tempo surgemos primeiros sintomas decorrentes do baixo débito ou da síndrome congestiva. 1. SÍNDROME CONGESTIVA PULMONAR: na maioria das vezes, a IC se inicia com um comprometimento isolado do VE. Como resultado, os pulmões se tornam congestos e isso aumenta o trabalho respiratório provocando a sensação de dispneia principalmente aos esforços. Alguns pacientes com congestão mais acentuada queixam-se de ortopneia. Além disso, quando o paciente é acordado na madrugada com uma crise de dispneia que melhora em ortostatismo, temos a Dispneia Paroxística Noturna que está relacionada a congestão grave. Outro sintoma congestivo pode ser a tosse seca. O extremo da congestão pulmonar é o edema agudo de pulmão, no qual o paciente apresenta intensa crise de taquidispneia e ortopneia, associada a insuficiência respiratória as vezes com cianose central. 2. SÍNDROME CONGESTIVA SISTÊMICA: com o VD insuficiente, vamos ter uma síndrome de congestão sistêmica, cujo os sintomas são: edema de MMII e de bolsa escrotal, ascite, dispneia por derrame pleural, hepatomegalia congestiva. 3. EMAGRECIMENTO E CAQUEXIA CARDÍACA: o paciente com IC tende a perder massa muscular, pois há um desbalanço entre o débito cardíaco e a demanda metabólica da musculatura esquelética. Alguns indivíduos só não emagrecem porque acumulam muito liquido (edema), enquanto outros chegam a emagrecer e até entram num estado de caquexia. 4. CHOQUE CARDIOGÊNICO: é o extremo da insuficiência cardíaca. É definido clinicamente pelo estado de choque (hipoperfusão orgânica generalizada) associada à hipotensão grave (PA <80MMHG) que não responde a reposição volêmica. 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 EXAME FÍSICO Devemos pesquisar sinais de aumento de pressão venosa jugular e presença de B3 na ausculta cardíaca. O sinal mais fidedigno para detectar a presença de retenção de volume é a turgência de jugular. Além disso, uma manobra muito importante no diagnóstico da congestão sistêmica é a pesquisa do refluxo hepatojugular, muitas vezes presente antes mesmo da TJP. A B1 pode ser hipofonética (hipocontratilidade do VE), e a B2 hiperfonética (hipertensão arterial pulmonar). A bulha acessória da insuficiência cardíaca é a terceira bulha (B3). Este som é produzido pela desaceleração do fluxo de sangue no final da fase de enchimento rápido da diástole. Um sopro sistólico pode ser audível no foco mitral, irradiando-se para a axila, causando uma insuficiência mitral secundária à dilatação do VE. Nas fases avançadas o paciente apresenta edema generalizado com predomínio nas regiões dependentes de gravidade - MMII, bolsa escrotal. Além disso, todas as serosas podem estar comprometidas: ascite, derrame pleural e derrame pericárdico. A hepatomegalia congestiva é muito comum, frequentemente dolorosa, pela distensão aguda da capsula hepática. Perfil A: “quente e seco”, ou seja, bem perfundido e sem congestão. Perfil B: “quente e úmido”, o perfil mais comum, ou seja, apresenta-se bem perfundido, porem congesto. Perfil L: “frio e seco”, ou seja, com hipoperfusão tecidual, no entanto sem congestão. Perfil C: “frio e úmido”, ou seja, com hipoperfusão e congestão. 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 DIAGNÓSTICO A anamnese e o exame físico sugerem o diagnóstico da IC na grande maioria das vezes. Os critérios de Framingham para diagnóstico de ICC são simples, baratos e acurados. RX DE TÓRAX A presença de cardiomegalia (índice cardiotorácico >50%) é um achado comum na cardiopatia dilatada, sendo um dos critérios MAIORES. Existem sinais que indicam o ventrículo aumentando, quando o coração mergulha no diafragma, temos aumento predominante do VE. Já quando a ponta do coração se eleva, em aspecto de bota, temos predomínio do VD. Os campos pulmonares podem apresentar sinais de congestão: inversão do padrão vascular, isto é, as veias ficam mais proeminentes nos ápices pulmonares do que nos lobos inferiores; Linhas B de Kerley, são linhas paralelas ao diafragma que representam o ingurgitamento linfático, relacionado ao edema pulmonar; Derrame pleural geralmente bilateral, predominando à direita. ELETROCARDIOGRAMA As alterações são inespecíficas e dependem da doença subjacente. Entretanto, qualquer cardiopatia pode alterar o ECG, produzindo sinais de sobrecarga de VE, VD, átrios, alterações secundarias da repolarização (onda T negativa, desnivelamento de ST), bloqueios de ramo e arritmias. ECOCARDIOGRAMA É o método mais útil para a confirmação diagnóstica, avaliação da etiologia, do perfil hemodinâmico e do prognóstico. O eco é responsável por dividir a IC em sistólica e diastólica. E a FE é o grande dado. BNP (PEPTÍDEO NATRIURÉTICO CEREBRAL) Em muitas ocasiões nos deparamos com pacientes dispneicos, mas não teremos a certeza se a causa é uma pneumopatia ou cardiopatia, e é aí que entra o BNP. Isso porque, o BNP é produzido pelo miocárdio dos ventrículos, sempre em resposta ao estiramento miocárdico. E ele vai estar aumentado na ICC, mas não na pneumopatia, servindo como um divisor em pacientes com dispneia. TRATAMENTO - MEDIDAS GERAIS: Dieta: fundamental para o controle da IC. O paciente com sintomas congestivos deve restringir a ingestão de sal. No entanto, consumos muito baixos de sal, principalmente no paciente que está tomando diuréticos, podem baixar em excesso a volemia, precipitando sintomas de baixo debito cardíaco. Por isso, é recomendável que se evite ingesta excessiva de sódio (>7g de sal por dia). Em relação a restrição hídrica, de acordo com as evidencias, não é possível estabelecer recomendações especificas sobre essa restrição em pacientes com IC crônica. Repouso: o paciente muito sintomático (classe funcional III ou IV) ou descompensado da IC deve ficar de repouso o máximo possível. O repouso muscular reduz a demanda metabólica, facilitando o trabalho cardíaco, que é manter um débito adequado para todos os tecidos, sem elevar muito as suas pressões de enchimento. Por outro lado, pacientes com IC compensada devem procurar realizar atividades normais do dia a dia, de acordo com seu limite individual. 6 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Vacinação: recomenda-se rotineiramente que esses indivíduos devam receber a vacinação anti- influenza e anti-pneumocócica. Tabagismo e Alcoolismo: todos os pacientes com IC devem ser estimulados a abandonar o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas. Medicamentos: os AINES e os hipoglicemiantes orais tiazolidinedionas, que promovem retenção renal devem ser evitados nos pacientes com IC. TRATAMENTO - DROGAS QUE AUMENTAM A SOBREVIDA Atualmente, existem cinco classes de drogas capazes de aumentar a sobrevida ESPECIFICAMENTE NA IC SISTÓLICA. São elas: Inibidores da ECA; Betabloqueadores; Antagonistas da aldosterona; Hidralazina + nitrato; Antagonistas dos receptores AT1 da angiotensina II. 1. IECAS Essa classe além de ter efeito sobre a mortalidade, ainda reduz a progressão da cardiopatia e da disfunção ventricular. Mecanismo de ação: ao inibirem a formação da angiotensina II, essas drogas possuem três propriedades importantes na insuficiência cardíaca: (1) arteriolodilatação, reduzindo a pós- carga; (2) venodilatação, reduzindo a pré-carga; (3) redução dos efeitos diretos da angiotensina II sobre o miocárdio. O principal efeito colateral dos IECA é a tosse seca. Em geral o tratamento é iniciado com doses reduzidas (ex.: captopril 6,25 mg 2x/ dia), com aumento a cada duas semanas, observando-se os níveis séricos de K+ e creatinina. Os principais exemplos de doses “otimizadas” de IECA na IC sistólica são: captopril 50 mg 3x/dia; enalapril 10 mg 2x/dia; ramipril10 mg/ dia; lisinopril 20 mg/dia. Os IECA devem ser suspensos se houver aumento da creatinina sérica superior a 30-35% em relação ao basal e/ ou franca hipercalemia Os bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRAs) são alternativa com eficácia comparável aos IECA e estão indicados em pacientes intolerantes ou com alergia documentada a esta classe de fármacos 2. BETABLOQUEADOR (BB) O efeito mais conhecido dessa classe é seu efeito ionotrópico negativo. Na IC sistólica, 3 betabloqueadores se ministrados com cautela, podem ser bem tolerados e extremamente benéficos. São eles: carvedilol, bisoprolol e metoprolo. No entanto, se a dose inicial for mínima, sendo aumentada paulatinamente (a cada 2-4 semanas) até a dose plena utilizada nos estudos científicos, e se o paciente estiver previamente compensado (“sem congestão” – p. ex.: uso adequado de diuréticos), a maioria tolera bem o uso do betabloqueador. As “doses-alvo” dos três BB estudados são: carvedilol 25-50 mg 2x/dia; metoprolol 200 mg/dia; bisoprolol 10 mg/dia. Mecanismo de ação: o principal mecanismo de ação dos betabloqueadores na IC sistólica é o bloqueio da ação tóxica da noradrenalina sobre os miócitos cardíacos e a redução da liberação de noradrenalina nas sinapses cardíacas. 7 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 3. ANTAGONISTA DA ALDOSTERONA (ESPIRONOLACTONA E EPLERENONA) Mecanismo de ação: o provável mecanismo benéfico da espironolactona na insuficiência cardíaca é a inibição do efeito da aldosterona sobre o miocárdio; reduzindo, assim, a degeneração de fibras, a apoptose e a fibrose intersticial, isto é, prevenindo o remodelamento ventricular. Outro possível efeito benéfico é a prevenção da hipocalemia pelos diuréticos de alça ou tiazídicos, com isso, reduzindo a chance de arritmias ventriculares e morte súbita. 4. HIDRALAZINA + NITRATO Estudos recentes têm sugerido que a combinação hidralazina + nitrato pode ser oferecida em pacientes brancos que continuam sintomáticos mesmo após terapia otimizada. A “dose-alvo” é de 75 mg de hidralazina + 40 mg de dinitrato de isossorbida 3x dia 5. ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES AT1 DA ANGIOTENSINA II. 6. IVABRADINA A ivabradina (5 mg VO 12/12h, podendo-se chegar a 7,5 mg VO 12/12h) consegue reduzir a frequência cardíaca no repouso e no exercício, e já existem evidências de que seu emprego na IC (em associação à terapia otimizada) consegue reduzir ainda mais a morbimortalidade, em particular se a etiologia for isquêmica. 8 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 7. INIBIDOR DA NEPRILISINA + BRA (SACUBITRIL + VALSARTANA) Uma possibilidade terapêutica promissora é a combinação de valsartana e sacubitril. A valsartana é um antagonista do receptor de angiotensina, que é combinado ao sacubitril, um inibidor da neprisilina. A neprilisina é uma enzima responsável pela degração do BNP e ANP, que apresentam efeito natriurético benéfico para o paciente com IC, dessa forma o sacubitril aumenta a disponibilidade do BNP e ANP. A combinação de valsartana-sacubitril apresentou resultados superiores ao dos iECA em pacientes com IC, por isso esse medicamento passou a ser indicado em pacientes com ICFEp que persistem sintomáticos apesar de tratamento otimizado com beta-bloqueadores, iECA ou BRA e antagonistas da aldosterona. Valsartana-sacubitril deve ser prescrito substituindo os BRA ou iECA, na dose inicial de 49/51mg em pacientes que mantém pressão sistólica acima de 100mmHg. Em pacientes com níveis mais baixos da pressão arterial, a dose inicial deverá ser de 24/26mg. É necessário ficar atento para a possibilidade de angioedema, um dos principais efeitos colaterais do medicamento, e é necessário suspender os iECA 36 horas de iniciar o uso do valsartana-sacubitril, para evitar a sobreposição das drogas, o que aumentaria o risco de hipotensão e angioedema. 8. INIBIDORES DO SGLT-2 Inibidores do SGLT-2 (como a dapagliflozina e empagliflozina), uma nova classe de anti- diabéticos que inibem a reabsorção da glicose nos túbulos proximais, apresentou redução da mortalidade por causas cardiovasculares e redução das internações hospitalares. Dessa forma, essa classe de medicamentos se apresenta como uma possibilidade promissora para pacientes com DM2. É preciso ficar atento, no entanto, pois há estudos indicando que essas drogas estão associadas com maior risco de cetoacidose diabética. Esses medicamentos só apresentam redução da mortalidade para pacientes com ICFEr. TRATAMENTO - DROGAS QUE ALIVIAM SINTOMAS Neste grupo estão os diuréticos de alça, os tiazídicos, os digitálicos, as aminas inotrópicas (dobutamina) e os inibidores da fosfodiesterease (milrinona). Apesar de não aumentarem a sobrevida dos pacientes com insuficiência cardíaca, esses medicamentos podem ser fundamentais para manter os pacientes no estado compensado. Não existe remédio melhor do que a furosemida venosa para compensar um paciente com IC congestiva! Muitos pacientes da classe funcional III-IV não podem ficar sem tomar diurético de alça e digitálicos, sob o risco de franca descompensação. 1. DIURÉTICOS DE ALÇA E TIAZÍDICOS A ação principal dos diuréticos é combater os sinais e sintomas da congestão e do edema. São eficazes tanto na IC sistólica quanto na IC diastólica! Eles agem aumentando a excreção renal de sódio e água e reduzindo a volemia do paciente. Com o seu uso, a volemia deve ser reduzida para níveis em que o débito cardíaco seja o melhor possível. Para isso, não podemos fazer doses excessivas de diuréticos, de modo a baixar muito a volemia, pois, nesse caso, o débito cardíaco se reduzirá significativamente, levando a uma síndrome de baixo débito. Os pacientes descompensados necessitam da administração parenteral da furosemida, pois a absorção dos diuréticos por via oral está muito prejudicada pela congestão da mucosa intestinal. A dose de furosemida venosa que possui o efeito máximo diurético em um paciente com IC sem disfunção renal é 120 mg. A dose oral deve ser geralmente o dobro da venosa. Os tiazídicos são diuréticos bem menos potentes que a furosemida. Mas eles podem ser associados à furosemida nos pacientes que persistem com retenção hidrossalina a despeito de altas doses de furosemida. 2. DIGITÁLICOS Estudos mostraram que os digitais (Digoxina) reduzem os números de internações por descompensarão cardíaca desses pacientes, apesar de não haver alteração da mortalidade. 9 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Os digitais são as únicas drogas inotrópicas positivas que podem ser utilizadas a longo prazo na IC sistólica. A droga mais usada por via oral é a digoxina, na dose de 0,125-0,375 mg VO/dia. Os bloqueadores de canal de cálcio do tipo nifedipina e verapamil não devem ser usados em pacientes com IC sistólica e cardiopatia dilatada. Em pacientes muito graves, pode ser necessário fazer uso de drogas vasoativas, principalmente a dobutamina e noradrenalina. A noradrenalina apresenta principalmente efeito vasoconstrictor, e pode ser necessária em pacientes em choque cardiogênico. A dobutamina apresenta efeito inotrópico positivo, agindo em receptores adrenérgicos alfa-1, beta-1 e beta-2. 3. ANTICOAGULAÇÃO E ANTIPLAQUETÁRIOS Pacientes com IC têm um risco aumentado de eventos tromboembólicos devido à estase sanguínea nas câmaras cardíacas dilatadas e em vasos periféricos. A droga tradicionalmente utilizada é o warfarin (antagonista de vit. K), contudo, os novos anticoagulantes orais (inibidores diretos da trombina ou do fator Xa) também já estão sendo aceitos como alternativa ao cumarínico pelas novas diretrizes. O uso rotineiro de antiplaquetários não está indicado na IC. A aspirina, todavia, é largamente empregada nos casosde doença coronária concomitante. Nestes pacientes, é recomendável utilizar as menores doses possíveis de aspirina (75- 100 mg). Pacientes acamados possuem risco aumentado de eventos tromboembólicos; sabendo que a IC, por induzir uma estase venosa acentuada, aumenta ainda mais o risco, está indicado o uso de heparina subcutânea em doses profiláticas em todos os pacientes com IC que se encontrem hospitalizados!
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