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Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autora VIVIANA GONDIM DE CARVALHO Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS Autora VIVIANA GONDIM DE CARVALHO Olá. Meu nome é Viviana Gondim de Carvalho. Sou Doutoranda em Humanidades, Culturas e Artes, Mestre em Letras e Ciências Humanas, Pós-Graduada em Psicopedagogia e Docência do Ensino Superior. Sou Especialista em Informática Educativa e Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Autora de artigos e livros didáticos. Atuo na área Educacional, com ênfase em Educação à Distância, Psicopedagogia, Comunicação, Recursos Humanos e Neuroeducação. Atuei em grandes empresas Nacionais e Multinacionais consolidando a educação virtual, desenvolvendo materiais didáticos, preparando ambientes multimidiáticos. Coordenei Fábricas de Conteúdos, desenvolvendo produtos para educação a distância como apostilas, games, simuladores, vídeos etc. Atualmente atuo na Educação à Distância e desenvolvo pesquisas sobre a utilização de tecnologia a fim de melhorar o desempenho dos alunos através das ferramentas tecnológicas. INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Psicomotricidade ...................................................................................... 12 Psicomotricidade, história e conceituação .............................................12 Elementos base da psicomotricidade e as especificidades das abordagens psicomotoras.......................................................... 15 Esquema e imagem corporal ............................................................................16 Coordenação Global ...................................................................................................17 Equilíbrio ............................................................................................................................... 18 Lateralidade ...................................................................................................................... 19 Dominância Lateral ......................................................................................... 19 Desvio da lateralidade ................................................................................. 20 Orientação espacial, latero- espacial e temporal .............................21 Tônus .......................................................................................................................................22 Tônus muscular e tônus motor ...........................................................23 Ritmo .......................................................................................................................................24 Movimento e gesto ........................................................................................ 26 Coordenação dinâmica das mãos ............................................................... 26 Diferentes abordagens psicomotoras, teoria e prática .......27 Psicomotricidade relacional ................................................................................28 Psicomotricidade instrumental ........................................................................ 31 O papel dos hemisférios cerebrais na psicomotricidade ...33 Sistema psicomotor humano (SPMH) ....................................................... 36 Divisão funcional do córtex cerebral ...........................................................37 Lobo frontal ............................................................................................................37 Lobos occipitais ................................................................................................ 38 Lobos temporais ............................................................................................... 38 Lobos parietais ................................................................................................... 39 Psicomotricidade 9 UNIDADE 01 Psicomotricidade10 Você já observou como seu corpo se movimenta? A ciência que estuda o ser humano através do seu movimento nas diversas relações chama-se Psicomotricidade. O objeto de estudo dela é o corpo e a sua expressão dinâmica e possui três princípios básicos: movimento ou motricidade, intelectivo/cognição/pensamento e o afeto/emoção/ sentimento. A psicomotricidade é baseada na concepção unificada da pessoa, ou seja, a inclusão das áreas cognitivas, sensório motoras e psíquicas para que seja possível compreender todos os movimentos e interações dos seres humanos. Ela é constituída por uma gama de conhecimentos antropológicos, fisiológicos, psicológicos e inter- relacionais no qual o corpo é utilizado como mediador. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você irá mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Psicomotricidade 11 Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 1, e o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: • Compreender a Psicomotricidade e a sua importância; • Conhecer os aspectos históricos da Psicomotricidade; • Compreender os aspectos conceituais da psicomotricidade que caracterizam o desenvolvimento psicomotor; • Reconhecer a importância da psicomotricidade, suas abordagens e aplicação ao ciclo vital. Vamos, então, rumo ao conhecimento. Bons estudos! OBJETIVOS Psicomotricidade12 Psicomotricidade INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a Psicomotricidade. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Psicomotricidade, história e conceituação Compreender a abordagem da Psicomotricidade implica buscar na França suas fontes históricas. No início do séc. XX o pensamento da Psiquiatria Infantil estava ligado às correspondências anátomo- neurofisiológicas do psiquismo. Neste quadro de predomínio do neurologismo surgiu a noção de “paralelismo psicomotor” de Dupré, desenvolvida por Heuyer: “ Há uma estreita ligação entre o desenvolvimento da motricidade, da inteligência e da afetividade”. Figura 1: Gestos e a psicomotricidade Fonte: https://bit.ly/2TUKM2E https://bit.ly/2TUKM2E Psicomotricidade 13 VOCÊ SABIA? Os franceses se conscientizavam sobre a importância do gesto e pesquisavam profundamente os temas corporais. Tanto que foram eles que cunharam as primeiras palavras- chave da Psicomotricidade. A Psicomotricidade surgiu, portanto, no âmbito da Neuropsiquiatria e da Educação. Suas primeiras teorizações ocorreram no início deste século. Neste primeiro momento o conceito de Psicomotricidadeprivilegiou o funcionamento corporal e utilizaram-se técnicas de reeducação instrumentais que “desenvolviam” aspectos específicos como o tônus, a coordenação, o ritmo, a organização espacial e a noção de esquema corporal. Criaram-se instrumentos de avaliação e aferição das capacidades e exercícios curativos que visavam à coordenação, à tonicidade, ao esquema corporal, à orientação espacial, à afirmação da lateralidade e ao ritmo etc. A ênfase maior era dada à performance, sobretudo escolar. ACESSE: Saiba mais sobre o surgimento da Psicomotricidade acessando o site: https://bit.ly/2TUB685. Um conhecido teórico da Psicomotricidade, Ajuriaguerrac, junto com Diatkine, acabaram por romper com o “imperialismo neurológico” durante suas práticas no Hospital Henri Rousselle. Ajuriaguerrac deu ênfase à Psicologia Genética e sintetizou as teorias de Piaget e Wallon com as da Psicanálise de Freud e seus seguidores. Teve início aí uma nova classificação de distúrbio psicomotor que ia além da perturbação do paralelismo psicomotor. https://bit.ly/2TUB685 Psicomotricidade14 Jolivet continuou o trabalho iniciado no Hospital Henri Rousselle e em 1970 definiu a Psicomotricidade como a “motricidade em relação”. A partir desse momento duas tendências no tratamento psicomotor passaram a coexistir. De um lado, a reeducação psicomotora, mantendo-se próxima do instrumental e do cognitivo, visando promover o desenvolvimento tônico- motor e espaço-temporal com exercícios estruturados, a organização do esquema corporal e a afirmação da lateralidade. De outro, a terapia psicomotora, através de atividades psicomotoras livres dando-se mais ênfase à expressão corporal, à relação afetiva, como meio de atingir as fantasias e conflitos da criança, e proporcionando a afirmação de seu desejo e a busca de conhecimento e pesquisa da realidade, de um jeito mais espontâneo. Alguns psicomotricistas começaram a difundir sua prática e fizeram publicações de seus métodos e técnicas. André Lapierre foi um deles e era considerado o psicomotricista de maior peso sendo o criador da Psicomotricidade Relacional. Lapierre foi professor de Educação Física, cinesioterapeuta, psicoeducador, e foi presidente da Sociedade Francesa de Educação e Reeducação Psicomotora. Começou a se afastar da Fisioterapia em 1977, pois, entendia que essa profissão junto com a Educação Física, teria herdado da medicina um modelo mecânico do corpo, sobretudo a psicoafetiva, na qual observa os fantasmas corporais. Segundo Lapierre (2002, p.39) na Psicomotricidade existe a mesma regra de associação livre psicanalítica: “substituindo o dizer pelo fazer, o discurso pela a ação. É o que chamamos espontaneidade”. Psicomotricidade 15 Figura 2: André Lapierre - psicomotricista Fonte: https://bit.ly/3aZxhUP Elementos base da psicomotricidade e as especificidades das abordagens psicomotoras A psicomotricidade é caracterizada pelos seguintes elementos: a. Esquema e imagem corporal; b. Coordenação global; c. Equilíbrio; d. Lateralidade; e. Orientação espacial, latero-espacial e temporal; f. Tônus; g. Ritmo; h. Coordenação dinâmica das mãos. Todos esses elementos são considerados base para o desenvolvimento do indivíduo e são pré-requisitos para a aquisição e desenvolvimento da leitura e escrita, conhecimento do corpo em relação aos objetos bem como o controle e organização do espaço e do tempo. O homem é antes de tudo um ser falante e, ao denominar-se, fala de seu corpo: eis o que o caracteriza. Em contrapartida, seu corpo fala por ele e até, por vezes, à sua revelia. O sentir é vital, tudo que é vivido, sentido, passado na vida fica marcado no corpo. É a partir do sensório-motor é que passamos dar sentido ao nosso viver. https://bit.ly/2TUKM2E https://bit.ly/3aZxhUP Psicomotricidade16 A partir das experiências Sensoriais (os 5 sentidos) visão, audição, paladar, tato e olfato e dos estímulos recebidos no dia a dia desde a vida intrauterina é que nos constituímos e nossa percepção de tudo partirá das sensações que sentiremos ao sermos expostos a esses estímulos sensoriais. Vejamos a seguir especificidades de cada um desses elementos. Esquema e imagem corporal A Imagem Corporal está ligada ao afeto, emoção e o Esquema Corporal é o conhecimento do corpo, o esquema é real. A Imagem Corporal só existe se o corpo for tocado ou falado. O que interessa para o ser humano é a diferença. “EU não sou o outro”. O lactente é um corpo que sofre em sua prematuridade orgânica, e só sobrevive graças ao corpo do outro. Se encontra em total estado de simbiose com quem cuida dela, não distingui o eu do não eu. Depois a criança entra na fase do espelho e começa a perceber a diferença entre o eu e o outro, reconhecendo as partes do seu corpo e a se reconhecer diante do espelho formando assim sua Imagem Corporal. IMPORTANTE: O termo imagem corporal, com base na psicomotricidade, refere-se à imagem ou representação mental, que abrange aspectos afetivos, sociais e fisiológicos. Figura 3: Esquemas corporais desenhados por indivíduos de várias idades Fonte: https://bit.ly/2vqjbwN https://bit.ly/2vqjbwN Psicomotricidade 17 Schilder em seu livro A Imagem do Corpo (1994, pág.35) diz que: “A Imagem do Corpo humano é a imagem do nosso próprio corpo que formamos em nosso espírito, por outras palavras, o modo como nosso corpo se apresenta à nós mesmos”. Exemplo: A estimulação do Esquema Corporal torna o corpo da criança como um ponto de referência básico para a aprendizagem de todos os conceitos indispensáveis à alfabetização (noções de em cima, em baixo, na frente, atrás, esquerdo, direito). Algumas brincadeiras são essenciais para o desenvolvimento do esquema corporal, tais como: • Estátua; • Jogos de imitação; • Cantar músicas que falassem sobre as partes do corpo; • Apontar as partes do corpo em si mesmo e no corpo do colega; • Juntar as partes de um boneco desmontável (quebra-cabeça); • Desenhar uma figura humana no quadro, parte por parte; • Deitar no chão e desenhar o contorno do corpo de uma das crianças, depois completar suas partes; • Explorar o próprio corpo com as mãos, de olhos abertos e fechados, depois representá-lo utilizando vários materiais como: guache, espuma, gel, farinha; • Releituras de obras artísticas que privilegiassem o corpo humano; • Completar o desenho de uma figura humana com o que estiver faltando etc. Coordenação Global A coordenação global é caracterizada por um bom domínio do corpo. Quando há algum distúrbio no desenvolvimento da coordenação (tanto na global quanto na dinâmica das mãos) o indivíduo poderá apresentar dificuldades escolares como disgrafia, escrever ultrapassando as linhas e margens do caderno e dificuldade nos gestos. Psicomotricidade18 Figura 4: A habilidade manual ou destreza constitui um aspecto particular da coordenação global Fonte: Freepik IMPORTANTE: A coordenação global é uma condição mínima necessária para uma boa aprendizagem, e constitui a estrutura da educação psicomotora. O desenvolvimento da psicomotricidade necessita do apoio constante através de estimulação. Deste modo, não é um trabalho exclusivo de um único profissional, e sim, de todos profissionais envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Através da coordenação motora global é possível ter controle dos movimentos amplos do corpo como andar, correr, rolar, saltar, rastejar, engatinhar, entre outros. Equilíbrio O equilíbrio pode ser compreendido como a capacidade que o indivíduo possui em manter a postura bípede, tanto quando está parado quanto em movimento. Segundo Luria (1981, p.18) o equilíbrio é o responsável pelos ajustes posturais antigravitários, estabelecendo Psicomotricidade 19 autocontrole nas posturas estáticas e no desenvolvimento de padrões locomotores. O equilíbrio depende essencialmente dos sistemas labiríntico e plantar. O equilíbrioé dividido em dois: • Equilíbrio dinâmico: Caminhar sobre uma prancha, equilibrar- se sobre um pé só, inclinar-se verticalmente para frente e para trás. • Equilíbrio estático: Manter-se sentado corretamente, andar na ponta dos pés, andar com um copo cheio de água na mão. Andar em cima de uma corda estendida no chão. Lateralidade A Lateralidade é a capacidade motora de percepção dos dois lados do corpo, ou seja, direita e esquerda. A predominância de um dos lados do corpo nas atividades do indivíduo ocorre em função do hemisfério cerebral mais utilizado. Vejamos a seguir a determinação da dominância lateral. Dominância Lateral A dominância lateral é definida a partir da preferência neurológica que se tem por um lado do corpo, no que diz respeito à mão, pé, olho e ouvido. Tal preferência é muito importante para o desenvolvimento de diferentes atividades, incluindo a leitura. Alguns indivíduos são ambidestros, ou seja, utilizam ambas as partes do corpo com a mesma habilidade e destreza. Outros utilizam a parte direita do corpo, são chamados indivíduos destros. E, ainda há os que se utilizam da parte esquerda, que são os canhotos. O indivíduo que tem preferência pela mão de um lado do corpo e pelo olho e pé do lado oposto aplica-se o termo lateralidade cruzada. Lateralidade indefinida é usada para as crianças que ainda não estabeleceram sua preferência por um dos lados. Psicomotricidade20 Figura 5: indivíduos ambidestros utilizam ambas as partes do corpo com a mesma habilidade e destreza Fonte: https://bit.ly/38YU2qt Algumas dificuldades de aprendizagem podem surgir em crianças que ainda não têm sua lateralidade definida e naquelas que são canhotas, mas foram obrigadas a escrever com a mão direita. Tais dificuldades podem ser referentes ao tipo de grafia que elas apresentam (disgrafia, letra ilegível), à orientação espacial na folha de papel e a posturas inadequadas no ato de escrever. Desvio da lateralidade A lateralidade só se estabelece por volta dos 5/6 anos. Quando ocorre algum fato que comprometa a compreensão da lateralidade dizemos que há um desvio da lateralidade. Tal desvio, pode ocorrer por alguns motivos, por exemplo, um acidente que provoque uma amputação ou uma paralisia no lado dominante faz com que a pessoa passe a usar o outro lado. Além disso, podem ocorrer, casos em que esta mudança de prevalência manual mude por motivo de identificação com alguém ou por imposição dos pais ou professores ou por motivo afetivo ou por qualquer outro. Vejamos outro exemplo de desvio de lateralidade: Exemplo: Quando o indivíduo nasce canhoto, porém, é obrigado a escrever com a mão direita, pode haver desvio de lateralidade. https://bit.ly/38YU2qt Psicomotricidade 21 A criança destra, mesmo tendo sua mão direita ocupada, é capaz de abrir uma porta com a mão esquerda. Este fato é diferente da dominância lateral que é a maior habilidade desenvolvida num dos lados do corpo devido à dominância cerebral, ou seja, pessoas com dominância cerebral esquerda têm maior probabilidade de desenvolverem mais habilidades do lado direito do corpo e, por isso, são destros. IMPORTANTE: A lateralidade é importante na evolução da criança porque influência a ideia que a criança tem de si mesma, a percepção da simetria de seu corpo, a formação de seu esquema corporal, além de contribuir para determinar a estruturação espacial, porque percebendo o eixo de seu corpo, a criança percebe também seu meio ambiente em relação a esse eixo. Orientação espacial, latero- espacial e temporal A estruturação espacial é parte integrante da nossa vida. Ela não nasce com o indivíduo e é, na verdade, uma construção mental, uma elaboração que se inicia desde pequeno. A orientação latero-espacial ocorre naturalmente no indivíduo e desenvolve-se da seguinte maneira: por volta dos 6 anos, quando a criança já tem conhecimento do lado direito e esquerdo do seu corpo, aos 7 anos já é capaz de perceber a posição relativa entre dois objetos, aos 8 anos já reconhece o lado direito e esquerdo em outras pessoas e aos 9 anos consegue realizar movimentos realizados por outras pessoas com o mesmo lado do corpo no qual a pessoa que está realizando o movimento. Já a orientação espacial é a que permite que o indivíduo se localize em acontecimentos do passado e projetar-se no futuro. É através da orientação espacial que termos domínio das noções sociais do tempo (hora, mês, estações, etc.). Para Fonseca (1995, apud CEZAR; PEREIRA; ESTEVES, 2008, p. 2), um objeto situado à determinada distância e direção é percebido porque as experiências anteriores da criança levam-na a analisar as percepções visuais que lhe permitem tocar o objeto. É dessas percepções que resultam as noções de distância e orientação de um objeto com relação Psicomotricidade22 a outro, a partir das quais as crianças começam a transpor as noções gerais a um plano mais reduzido, que será de extrema importância quando na fase do grafismo. A reversibilidade é a possibilidade de reconhecer a mão direita ou a mão esquerda de uma pessoa à sua frente. Além disso, é a noção de reversibilidade que possibilita, pouco a pouco, às crianças a compreensão de igualdades como: Exemplo: 8 + 5 = 3 + 10 7 X 3 = 3 X 7 10 – 3 = 7 Tônus DEFINIÇÃO: O tônus é o primeiro sistema funcional complexo que compreende a psicomotricidade e é considerado o estado de tensão ativa dos músculos. Se não há a organização tônica como suporte não é possível desenvolver a atividade motora e a estrutura psicomotora. É possível determinar o tipo de tônus muscular observando a amplitude dos movimentos, a resistência ao movimento passivo e a palpação da atividade flexora e extensora dos diferentes músculos. Figura 6: A tonicidade se desenvolve desde o nascimento até os 12 meses de vida Fonte: Freepik Psicomotricidade 23 DEFINIÇÃO: Tônus Motor e Muscular Anormais: Em circunstâncias normais, o músculo possui flexibilidade funcional de passar de um estado para outro sem qualquer dificuldade ou problema residuais. Todavia, essa flexibilidade pode falhar, por exemplo, em consequência de atividade excessiva ou lesão do sistema motor. Haverá alterações tanto no tônus muscular como no tônus motor que se denominará “tônus anormal” que pode ser definido como tônus que não mantém o movimento funcional e que pode durar mais do que a atividade que o desencadeou. Tônus muscular e tônus motor O tônus muscular refere-se a pessoa em estado passivo, sem movimento, em repouso, o músculo não possui atividade contrátil interna. Quando palpado, o músculo pode parecer retesado ou macio, e nesse estado passivo diz-se que o músculo tem tônus muscular. No tônus motor, o estado ativo ocorre quando um músculo está se contraindo em resposta a um comando do sistema motor. Quando palpado, ele mostrará vários graus de retesamento, dependendo da força de contração. Esse estado do músculo é denominado tônus motor. As diferenças criadas pelo tônus muscular e motor podem ser prontamente palpadas no músculo normal. O desenvolvimento psicomotor normal precisa do equilíbrio dos tônus muscular e motor. VOCÊ SABIA? Para saber mais sobre tonicidade e outros elementos da psicomotricidade leia o livro Psicomotricidade - Filogênese, Ontogênese e Retrogênese do autor - Vitor da Fonseca, Editora Wak. Psicomotricidade24 O Tônus Motor e Muscular Anormal pode ser causado por: 1. Lesão no sistema motor: observado em quadros neurológicos diversos como AVC, paralisia cerebral, doença de Parkinson, etc. 2. Tensão psicológica, tensão emocional, ansiedade e excitação: constituem alguns dos estados psicológicos que vão influenciar no tônus motor geral. Essa alteração no tônus não está associada com patologia do sistema motor. 3. Atividade muscular protetora após lesão: É comum constatar a existência de tônus motor sustentado após lesão musculoesquelética. Trata-sede um mecanismo protetor usado para imobilizar a lesão ou evitar o uso da área afetada. 4. Perda de tônus motor: existem várias condições graves em que o tônus motor para o músculo é reduzido ou quase totalmente abolido. Em caso de lesões do sistema nervoso central e do nervo periférico, o tônus motor pode ser reduzido, resultando num músculo flácido. Ritmo DEFINIÇÃO: RITMO, s. m (poes.) Sucessão regular de sílabas acentuadas, de que resulta impressão agradável ao ouvido; (mús.) combinação simétrica de sons, sob o ponto de vista da intensidade e do tempo; cadência; movimento regular e medido; (med.) proporção de intensidade entre as pulsações arteriais; correlação harmoniosa entre as partes de uma composição literária ou artística. (Do gr. rhythmos). Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa O GLOBO p: 610). Psicomotricidade 25 Figura 7: O exercício ritmo é importante para trabalhar a concentração e a atenção Fonte: https://bit.ly/38RkHpf O ritmo é marcado no ser humano desde a vida intrauterina, no contato direto do feto com o ritmo cardíaco da mãe. Conhecido como a primeira forma de comunicação humana. O bebê quando nasce já tem memória musical. E a última estrutura do sistema nervoso a ser atingido no Mal de Alzheimer é o arquecerebelo local onde se processam os ritmos e a musicalidade, por isso, é de suma importância o trabalho na psicomotricidade com os recursos musicais como o ritmo. • Nunca comece um trabalho com músicas sem conhecer a música nem os componentes do grupo. • Sempre que começar uma música vá com essa até o final para que a música não fique ecoando nos ouvidos. • Não conhecendo o grupo comece através de ritmos e sons de preferência produzidos pelas próprias pessoas do grupo. • Busque conhecer o ritmo da pessoa com quem irá trabalhar, para que caminharem no mesmo ritmo. • Trabalhe com música para reeducação da lateralidade. IMPORTANTE: As atividades rítmicas devem ser trabalhadas de forma a causar: descontração, prazer, calma e confiança. https://bit.ly/38RkHpf Psicomotricidade26 Movimento e gesto O gesto diz algo e o motor é uma ação. Cada gesto é feito de um conjunto de ações que se complementam para atingir um objetivo final. Todos os nossos gestos são globais. Para Fonseca (1985 p:151 e 161) “O movimento humano reflete uma interligação dos processos emotivos, volitivos e intelectuais, dado que constitui em si uma conquista biológica da espécie humana. Conclusão, o movimento é fundamentalmente um meio de interação humana entre o mundo interno da pessoa e o mundo externo dos objetos e dos outros”. O Gesto pode ser a postura, a mímica, o sorriso etc. Todas essas, são reações corporais que traduzem mais ou menos, conscientemente nossos estados psicoafetivos. Segundo Lapierre (1984, pág. 58) essas mensagens são decodificadas pelo outro com referência as suas próprias reações psicotônicas. Coordenação dinâmica das mãos DEFINIÇÃO: A coordenação dinâmica das mãos é o domínio harmonioso e delicado dos gestos. O desenvolvimento da habilidade manual incluindo o movimento de pinça facilita a escrita (grafismo). Algumas atividades podem desenvolver a habilidade da coordenação dinâmica das mãos, como por exemplo, recorte, escrita e desenho. Tais exercícios tidos como óculo-manuais tem como objetivo o domínio do campo visual, associado a motricidade fina. Psicomotricidade 27 Figura 8: A coordenação envolve concentração, organização dos movimentos e coordenação visuo-motora Fonte: Freepik A coordenação motora fina é a capacidade de controlar pequenos músculos para realização de habilidades finas. Os exercícios de coordenação dinâmica das mãos podem ser realizados com atividades como modelagem de massinhas e atividades de pesquisa e recorte de letras visando estimular a destreza, a velocidade e a precisão dos movimentos. Diferentes abordagens psicomotoras, teoria e prática De acordo com Martins (2001, p. 18) os psicomotricistas consideram que as potencialidades mentais, emocionais e motoras de um paciente estão em frequente interação com o corpo, considerando-o o local de manifestação de todo o ser. Deste modo, a manifestação do ser humano está nas posturas, nas atitudes, nos gestos e mímicas transformando a consciência corporal condição e instrumento da consciência de si. A psicomotricidade está dividida em duas vertentes: a psicomotricidade relacional e a psicomotricidade instrumental. A seguir veremos cada uma delas. Psicomotricidade28 Psicomotricidade relacional DEFINIÇÃO: A Psicomotricidade relacional é uma prática que permite à criança, ao jovem e ao adulto, a expressão e superação de conflitos relacionais, interferindo de forma clara, preventiva e terapêutica, sobre o processo de desenvolvimento cognitivo, psicomotor e sócio emocional, na medida em que estão diretamente vinculados a fatores psicoafetivos relacionais, de acordo com Lapierre, 2002, p.24. A Psicomotricidade Relacional surgiu na década de 70, a partir de congressos da área da psicanálise que contribuíram com uma nova visão do corpo como um meio de vivência e espaço de prazer e desejo. As sessões de psicomotricidade relacional utilizam em especial de jogos espontâneos baseados na afetividade e no conteúdo emocional das vivências e no desenvolvimento sócio emocional. Na psicomotricidade relacional, o psicomotricista trabalha de forma mais permissiva e menos diretiva e atua criando uma segurança emocional permitindo uma evolução do sujeito. A intervenção relacional não leva em consideração uma avaliação comparativa a uma norma estabelecida, ao invés disso, observa o comportamento e parâmetros psicomotores em relação ao próprio corpo, espaço, o outro, o tempo, os objetos e a linguagem e realiza uma avaliação individualizada. Psicomotricidade 29 Tabela 1: Objetivos da Psicomotricidade Relacional Objetivos Gerais Objetivos específicos Em relação com o corpo Reconhecimento do próprio corpo e suas partes distintas incluindo o reconhecimento dos membros superiores e inferiores em si e no outro. Desenvolvimento da coordenação dinâmica global. Desenvolvimento do controle postural. Reconhecimento das próprias partes e limitações. Desenvolvimento do ajustamento tônico para a ação. Desenvolvimento da gestualidade facial e corporal. Em relação com o espaço Utilização e exploração de todo o espaço da sala. Utilização e exploração de alturas distintas. Situar-se adequadamente no espaço de acordo com a ação. Em relação com o tempo Ser capaz de permanecer sentado em roda ou um tempo em cada atividade. Ser capaz de cumprir e respeitar as regras. Ser capaz de escutar os companheiros. Ser capaz de se entregar na roda e expressar e partilhar as suas experiências. Situar-se adequadamente nos limites do tempo. Psicomotricidade30 Em relação com os objetos Utilização e exploração dos diferentes objetos da sala. Desenvolvimento do jogo sensório-motor, simbólico e de regras. Ser capaz de utilizar os diferentes objetos atribuindo diferentes significados. Em relação com os outros Estabelecer relação com os companheiros e psicomotricista. Assumir e desempenhar diferentes papéis e funções. Ser capaz de reconhecer e identificar sinais corporais no outro mediante a linguagem verbal ou não verbal. Ser capaz de expressar as suas necessidades e sentimentos através de linguagem verbal ou não verbal. Ser capaz de esperar e expressar o que sente no momento adequado para o efeito. Ser capaz de resolver os conflitos que possam surgir na convivência com os pares. Ser capaz de se opor, colaborar ou compartilhar de acordo com a função da situação. Responder de forma adequada às provocações e agressões com os pares. Em relação com a linguagem Utilização de uma linguagem adequada à sua idade. Utilização de diferentes formas de expressão e representação. Fonte: Adaptados de Àragon(2006) Psicomotricidade 31 Psicomotricidade instrumental A corrente mais tradicional da psicomotricidade enquanto reeducação é a psicomotricidade instrumental. Esta corrente aponta que o processo de desenvolvimento humano é decorrente dos processos de maturação, baseando-se em princípios biomédicos, cognitivistas e neuropsicológicos. Esta vertente da psicomotricidade, também conhecida como funcional ou normativa, baseia-se em aspetos motores e cognitivos, tendo com fundamentação uma concepção normativa do desenvolvimento humano, tendo como referência os comportamentos e competências esperados para cada etapa do desenvolvimento. A Psicomotricidade centrada na intervenção com componente instrumental contém uma base mais cognitiva e neuropsicológica iniciada privilegiando o uso de situações-problema, fazendo com que haja reflexão, invenção, expressão e transposição, promovendo a possibilidade das atividades propostas funcionarem como um escape criativo, libertador do imaginário do indivíduo. VOCÊ SABIA? Corpo e Afeto: Reflexões em Ramain-Thiers é um livro que aborda questões sobre o ser da atualidade, suas ações, seus pensamentos e suas emoções. A Metodologia Ramain-Thiers, desenvolvida por Solange Thiers, tem como base a Psicomotricidade, a Psicanálise e a Filosofia. A visão total do ser integral, por meio do seu corpo, afetos e ação, propiciam o fazer, gerando uma sensação produtiva de inserção social e grupal. Psicomotricidade32 Figura 9: Psicomotricidade Relacional Fonte: https://bit.ly/2IRtIUJ e https://bit.ly/39W3pZy Os objetivos da Psicomotricidade instrumental deverão ser definidos a depender do instrumento de avaliação escolhido, que pode ser padronizado e mais qualitativo ou quantitativo. VOCÊ SABIA? Para ver exemplos de alguns aspectos da psicomotricidade relacional, assista ao filme Patch Adams (1998) que trata de um médico que sai de uma instituição e entra em uma faculdade e seus métodos poucos convencionais que causam inicialmente espanto, mas aos poucos vai conquistando todos, com exceção do reitor, que quer arrumar um motivo para expulsá-lo, apesar de ele ser o primeiro da turma. Em um contexto mais genérico, Arágon (2006, p.52) expõem os objetivos em que a Psicomotricidade instrumental pode ser utilizada, sendo organizados em 3 esquemas psicomotores que servem para orientar a intervenção: • Esquema corporal: abrangendo objetivos específicos ao nível da percepção global do corpo, tônus e relaxação, equilíbrio, lateralidade e coordenação global e segmentária; https://bit.ly/2IRtIUJ https://bit.ly/39W3pZy Psicomotricidade 33 • Esquema espacial: em específico a orientação espacial e as noções espaciais sobre o outro; • Esquema temporal: englobando a aquisição de noções básicas de (velocidade, duração, continuidade, irreversibilidade e intervalo), bem como a tomada de consciência de relações de simultaneidade, sucessão, diferentes momentos do tempo, consciência da sucessão e a coordenação de diversos elementos. O papel dos hemisférios cerebrais na psicomotricidade Os hemisférios cerebrais possuem funções distintas e bem definidas no gerenciamento do corpo humano, capacidade esta, que de certa forma pré-definida por alicerceies genéticos que, além disto, os permitem funcionar parcialmente independentes mesmo quando isolados um do outro. O cérebro é formado por aproximadamente 100 bilhões de células nervosas chamadas neurônios. Eles se comunicam através de transmissões de sinais eletroquímicos. O cérebro realiza várias tarefas, por exemplo, ele controla os nossos movimentos físicos ao andarmos, falarmos, sentarmos ou ficarmos de pé. Além disso, controlar a temperatura corpórea, a pressão arterial, a frequência cardíaca, a respiração, nos deixa pensar, sonhar, raciocinar, sentir emoções, recebe milhares de informações vindas dos nossos sentidos (audição, visão, olfato, tato, paladar). O cérebro é dividido em dois hemisférios: o direito e o esquerdo que, apesar de parecerem espelhadas, possuem funções e competências diferentes. Por exemplo, o mecanismo de processamento do hemisfério direito tem superioridade sobre o esquerdo nas tarefas espaciais e as não-verbais. Além disso, esse mesmo hemisfério processa também um importante sistema de controle dos movimentos rítmicos, processando ritmo interno com o ritmo externo, possibilitando a harmonia da dança, do caminhar, do falar; de perceber automaticamente à diminuição ou o aumento de velocidade enquanto dirige, e fazer o reajuste automático na velocidade desejada (possibilitada pela perfeita harmonia da intercomunicação hemisférica), aonde a temporalidade e ritimicidade tem competência no hemisfério esquerdo. Psicomotricidade34 Já o hemisfério esquerdo tem superioridade ao direito nos processamentos temporais, verbais e outros tais como: harmonia da motricidade processando o tempo da ação do movimento desejado, assim como organizando o programa sequencial do movimento e fazendo a transição de um movimento para outro, dando melhor desempenho com a contribuição da informação declarativa no processo que estiver desempenhando. Figura 10: Os hemisférios cerebrais e suas funcionalidades Fonte: https://bit.ly/38VbMD6 Vejamos na tabela abaixo as competências de cada hemisfério cerebral: Tabela 2: Competências dos hemisférios cerebrais Competências do hemisfério direito Competências do Hemisfério esquerdo Percepção e processamento espacial; Habilidades perceptivas visuo- espaciais; Melhor competência nos processamentos visuo-motores; Responsável no processamento espacial dos aspectos motores; Orientação espacial (profundidade e distancia); Processamento da fala; No pensamento intelectual, racional, verbal e analítico; Processamento de construções gramaticais mais complicadas; Melhor performance para identificar letras feitas na palma da mão direita (esteriognosia); Percepção e processamento temporal; https://bit.ly/38VbMD6 Psicomotricidade 35 Organização do esquema corporal; Controle postural; Processamento para as notas musicais, e sons de animais; Habilidades musicais; Processamento de movimentos rítmicos; Processamento do ritmo interno e externo, que influenciam na qualidade do andar, dançar e falar; Processamento simultâneo e holístico das informações; Reconhecimento de faces, e expressões faciais; Reconhecimento de figuras geométricas através do tato (esteriognosia) e da visão; Melhor desempenho na realização de tarefas de natureza não-verbal relativa a espacialidade; Processa informações visuais de baixas frequências espaciais; Melhor competência para processamento perceptual em habilidades grosseiras; Vê a figura como um todo (Gestalt); Nas lesões desenvolvem quadros de agnosias e apraxias. Superioridade em caracterizar o parâmetro temporal no comando motor; Precisão e velocidade; Participa no controle sequencial do programa motor; Importante na sucessão de transição postural de um movimento para outro; Participa no programa de movimentos sequenciais dos dois lados do corpo; Reconhecimento de palavras; Nomeia objetos colocados na mão direita; Processamentos analíticos (em especial na produção e compreensão da linguagem); Melhor habilidade para reconhecimento da fala humana; Prontidão de ação no comportamento humano, devido maior concentração de dopamina no globo pálido esquerdo; Organização e “timing” do movimento sequencial; É mais adaptado para processar altas frequências audiovisuais; É especializado em codificar informações finas; Identifica a figura fundo (no jogo dos sete erros); Nas lesões deste hemisfério apresentam quadros de afasia. Fonte: Adaptação da autora Psicomotricidade36 Sistema psicomotor humano (SPMH) DEFINIÇÃO: De acordo com Vayer & Toulouse (1982, p.35), o SPMH baseia-se em estruturas simétricas do sistema nervoso, compreendendo o tronco cerebral, o cerebelo, o mesencéfaloe o diencéfalo, que constituí a integração e a organização psicomotora da tonicidade, da equilibração e parte da lateralização e também de estruturas assimétricas compreendendo os dois hemisférios cerebrais, que asseguram a organização psicomotora da noção do corpo, da estruturação espaço-temporal e da praxia global e fina, exclusivas de espécie humana devido à sua complexidade organizativa e sistemática. A dinâmica sistemática do SPMH prevê a participação conectada e dinâmica das três unidades funcionais do cérebro, que são: integração (Unidade I), elaboração (Unidade II) e expressão do movimento voluntário (Unidade III). A primeira unidade abrange as funções psicológicas vitais da integração e da atenção e que é responsável pelos fatores psicomotores da tonicidade e do equilíbrio. A segunda unidade abrange as funções psicológicas de análise, síntese e armazenamento, que são responsáveis pela noção do corpo e da estruturação espaço-temporal. E a terceira unidade, abrange a planificação, programação e regulação responsáveis pela praxia global e da praxia fina. As três unidades em permanente integração formam uma constelação de trabalho que processa a motricidade, organizando-a antecipadamente antes que se constitua em produto final. Tal constelação de trabalho, verdadeiro sistema harmonioso e auto generalizado, composto de subsistemas espalhados pelo todo cerebral, presidem à organização psicomotora humana, como conjunto de componentes ordenados e integrados. Psicomotricidade 37 DEFINIÇÃO: O córtex cerebral é a fina camada de substância cinzenta que recobre o cérebro. Ele é uma das regiões mais importantes do Sistema Nervoso Central (SNC). Ele recebe impulsos de todas as vias da sensibilidade, sendo o responsável pela interpretação e resposta de todas essas informações. O córtex cerebral é responsável por muitas das funções mentais mais complexas e desenvolvidas, como a linguagem e o processamento de informações. Divisão funcional do córtex cerebral O córtex cerebral é dividido em áreas denominadas lobos cerebrais, cada uma com funções diferenciadas e especializadas. São os lobos: frontal, parietal, temporal e occipital. Figura 11: Córtex cerebral Fonte: https://bit.ly/2x0ANQl Lobo frontal No lobo frontal, localizado na parte da frente do cérebro (testa), ocorre o planejamento de ações e movimento, bem como o pensamento abstrato. Nele estão incluídos o córtex motor e o córtex pré-frontal. https://bit.ly/2x0ANQl Psicomotricidade38 O córtex motor controla e coordena a motricidade voluntária, sendo que o córtex motor do hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo do indivíduo, enquanto que o do hemisfério esquerdo controla o lado direito. Um trauma nesta área pode causar fraqueza muscular ou paralisia. São executados pelo córtex pré-motor a aprendizagem motora e os movimentos de precisão. Essa área fica mais ativa do que o restante do cérebro quando pensamos em um movimento sem executá-lo. Lesões nesta área não chegam a comprometer a ponto do indivíduo sofrer uma paralisia ou problemas para planejar ou agir, porém, a velocidade de movimentos automáticos, como a fala e os gestos, é comprometida. Lobos occipitais Os lobos occipitais ficam localizados na parte inferior do cérebro e são cobertos pelo córtex cerebral. Eles processam os estímulos visuais, e, por isso, também são conhecidos por córtex visual. Possuem várias subáreas que processam os dados visuais recebidos do exterior depois destes terem passado pelo tálamo, uma vez que há zonas especializadas a visão da cor, do movimento, da profundidade, da distância e assim por diante. Após passarem por esta área, chamada área visual primária, as informações são direcionadas para a área de visão secundária, onde são comparadas com dados anteriores, e permitem que o sujeito identifique, por exemplo, um gato, uma moto ou uma maçã. O significado do que vemos, porém, é dado por outras áreas do cérebro, que se comunica com a área visual, considerando as experiências passadas e nossas expectativas. Isso faz com que o mesmo objeto não seja percepcionado da mesma forma por diferentes indivíduos. Quando esta área sofre uma lesão provoca a impossibilidade de reconhecer objetos, palavras e até mesmo rostos de pessoas conhecidas ou de familiares. Esta deficiência é conhecida como agnosia. Lobos temporais Os lobos temporais ficam localizados acima das orelhas e possuem como função principal o processamento de estímulos. Como acontece nos lobos occipitais, as informações são processadas por Psicomotricidade 39 associação. Ao estimular a área auditiva primária, os sons são produzidos e enviados à área auditiva secundária, que interage com outras zonas do cérebro, atribuindo um significado e assim permitindo ao indivíduo reconhecer ao que está ouvindo. Lobos parietais Os lobos parietais estão localizados na região superior do cérebro e são constituídos por duas subdivisões, a anterior e a posterior. A subdivisão anterior também é conhecida como córtex somatossensorial, e possui a função de possibilitar a percepção de sensações como o tato, a dor e o calor. Por ser a área responsável em receber os estímulos obtidos com o ambiente exterior, representa todas as áreas do corpo humano. Essa é a zona mais sensível, deste modo, ocupa mais espaço do que a zona posterior, uma vez que tem mais dados a serem interpretados, captados pelos lábios, língua e garganta. Na zona posterior, que é uma área secundária ocorre a análise, a interpretação e a integração das informações recebidas pela anterior, que é a zona primária, permitindo ao indivíduo se localizar no espaço, reconhecer objetos através do tato etc. RESUMINDO: Vejamos agora o resumo dos papéis dos dois hemisférios cerebrais: O HEMISFÉRIO ESQUERDO É RESPONSÁVEL POR: • Linguagem/ matemática (lógica sequência); • Análise / palavra (praxias); • Atividades simbólicas e acadêmicas. O HEMISFÉRIO DIREITO É RESPONSÁVEL POR: • Rima/ música (ritmo); • Simultaneidade (pintura, síntese); • Imagem (postura); • Atividades criativas, não simbólicas. Psicomotricidade40 BIBLIOGRAFIA Arágon, M. (2006). Manual de psicomotricidad. Madrid: Ediciones Pirâmide CABRAL, Suzana. Psicomotricidade relacional. Rio de Janeiro: ed Revinter,2001. CEZAR, K.P.L.; PEREIRA, L.A.; ESTEVES, M.C.D.C., 2008. “O uso de jogos e a contribuição no desempenho da escrita nas series iniciais”. Disponível em: < https://bit.ly/3aZscfh > Acesso em: 22 de fev. 2019 FONSECA, Vitor da. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. GAINZA, Violeta. Conversas com Gerda Alexander, vida e pensamento da criadora da Eutonia. São Paulo: Summus, 1997. LAPIERRE, A.Fantasmas Corporais e Prática Psicomotora. Ed Manole, 1984. LAPIERRE, André. Da Psicomotricidade Relacional à Análise Corporal da Relação. Curitiba, UFPR/CIAR. 2002. LEDERMAN, Eyal. Fundamentos da terapia manual. São Paulo: Manole, 2001. LURIA, A. R. Fundamentos de neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: EDUSP, 1981. MARTINS, Roberto. Questões sobre a identidade da Psicomotricidade. As práticas entre o instrumental e o relacional. In: Fonseca, V. & Martins, R. (Ed.). 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