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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Diretor-geral Valdir Carrenho Junior Diretor de Operações Paulo Pardo Coordenadora Fabiana Arf Professora Regina Maria da Silva Projeto gráfico-editorial, capa, editoração eletrônica e revisão Belaprosa Comunicação Corporativa e Educação Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca da Faculdade Católica) Sumário UNIDADE 1 – CONCEITO DE INFÂNCIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA TRAJETÓRIA NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INTRODUÇÃO ................................................................ 9 1. Infância: construção social e concepções presentes na história da Educação Infantil ................................ 10 1.1 A invenção da infância ............................................ 10 1.2 O surgimento e o desenvolvimento da Educação Infantil no Brasil ...................................................... 11 2. A institucionalização da infância e os riscos da escolarização precoce ............................................. 16 2.1 Construção social da infância .................................. 16 2.2 Escolarização precoce na Educação Infantil ............... 18 3. Pedagogia da Infância e culturas infantis ................... 21 3.1 A Pedagogia da Infância como norteadora do fazer da Educação Infantil ................................................ 21 3.2 As crianças como produtoras de culturas – as culturas infantis ....................................................... 22 4. Projetos de Educação Infantil e políticas de atendimento à infância ............................................ 24 5. As instituições de Educação Infantil: tempos, espaços e materiais .............................................................. 26 5.1 Organização do trabalho pedagógico ...................... 26 5.2 Tempos, espaços e materiais como elementos facilitadores da aprendizagem .................................. 27 CONCLUSÃO ............................................................... 29 ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 30 REFERÊNCIAS ................................................................ 31 UNIDADE 2 – MARCOS LEGAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL INTRODUÇÃO .............................................................. 33 1. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: a consolidação da Política Nacional de Educação Infantil .................................................................... 34 1.1 A Política Nacional de Educação Infantil (1994) ........ 34 1.2 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil .................................................................... 36 2. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil: princípios e concepções ............................... 37 2.1 Linhas gerais das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil .......................................... 37 2.2 As concepções pedagógicas das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil ........ 38 3. O atendimento das instituições educacionais à criança pequena ..................................................... 39 3.1 O direito à educação e à infância ............................ 40 3.2 As instituições de Educação Infantil para as crianças pequenas – as creches ............................................. 41 4. Outros marcos legais da Educação Infantil: concepções de infância na legislação brasileira ......... 43 4.1 A Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e a Educação Infantil ......... 43 4.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Educação Infantil .................................................. 45 5. A organização da Educação Infantil a partir de seus pressupostos teóricos e metodológicos: aproximações 46 CONCLUSÃO ............................................................... 46 ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 48 REFERÊNCIAS ................................................................ 49 UNIDADE 3 – CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A INDISSOCIABILIDADE ENTRE EDUCAR E CUIDAR INTRODUÇÃO .............................................................. 52 1. A especificidade do trabalho docente na Educação Infantil .................................................................... 52 1.1 O trabalho docente na Educação Infantil .................. 52 1.2 O perfil do professor da Educação Infantil ................. 54 2. Direitos das crianças nas escolas e o papel docente nas instituições de Educação Infantil ......................... 55 2.1 Direitos fundamentais das crianças nas escolas infantis ................................................................... 55 2.2 A ação do professor na Educação Infantil ................. 57 3. A importância da rotina na Educação Infantil ............ 58 3.1 Rotina: educar e cuidar ............................................ 59 3.2 Rotina e planejamento ............................................. 59 4. Planejamento: garantia do atendimento das necessidades infantis ............................................... 61 4.1 Planejamento das práticas pedagógicas .................... 61 4.2 O planejamento para a Educação Infantil ................. 63 4.2.1 Zero a dois anos ................................................... 63 4.2.2 Três a cinco anos .................................................. 63 5. As múltiplas linguagens e as diferentes formas de expressões infantis ................................................... 64 5.1 As múltiplas linguagens ............................................ 64 5.2 As linguagens e a prática pedagógica ....................... 65 CONCLUSÃO ............................................................... 66 ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 67 REFERÊNCIAS ................................................................ 67 UNIDADE 4 – O CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA CONTEMPORANEIDADE: RELAÇÕES ENTRE ESCOLA, FAMÍLIA E COMUNIDADE E EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE E A INCLUSÃO INTRODUÇÃO .............................................................. 70 1. Currículo na Educação Infantil ................................. 70 1.1 Organização dos saberes para o bebê e a criança pequena ................................................................. 70 1.2 Aprendizagem pelo brincar ...................................... 73 2. Práticas pedagógicas na Educação Infantil: os objetivos da Educação Infantil e a articulação com as atividades 74 2.1 O fazer – objetivos da Educação Infantil ................... 74 2.2 Educar e cuidar – atividades pedagógicas ................. 76 3. Relação escola, família e comunidade ...................... 77 3.1 A relação família-escola-comunidade e o desenvolvimento infantil ........................................... 77 3.2 O papel e a importância do adulto para a criança .... 79 4. Educação Infantil e diversidade: importância da valorização de práticas não discriminatórias .............. 80 4.1 Educação Infantil e as relações étnico-raciais ............ 80 4.2 Educação Infantil e as relações de gênero ................. 82 5. Educação Infantil e inclusão: o atendimento às crianças com deficiência ....................................................... 84 5.1 A educação inclusiva na Educação Infantil ................ 85 5.2 O currículo e as adaptações curriculares ................... 86 CONCLUSÃO ............................................................... 87 ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 88 REFERÊNCIAS ................................................................ 89 Unidade 1 Objetivos de aprendizagem da unidade • Conhecer o conceito de infância, criança e Educação Infantil • Compreender como a infância foi se institucionalizandoe é compreendida nos dias atuais • Identificar formas relevantes do fazer pedagógico e a noção de criança como sujeito • Conhecer pressupostos de propostas de projetos de Educação Infantil e de políticas de formação dos professores • Analisar concepções acerca de elementos primordiais para estruturação de uma proposta de Educação Infantil Professora Mestre Regina Maria da Silva CONCEITO DE INFÂNCIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA TRAJETÓRIA NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 9 Unidade 1 INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) aos estudos! Nesta unidade, “Conceito de Infância e Educação Infantil – uma trajetória na História da Educação”, você vai conhecer um pouco do percurso histórico traçado pela Educação Infantil. O objetivo é ajudá-lo(a) na compreensão de como essa modalidade de ensino foi se constituindo ao longo da história da educação brasileira. Vamos começar no primeiro tópico discutindo o conceito de infância, criança e Educação Infantil – construção social e concepções presentes na história da Educação Infantil –, percorrendo alguns marcos em que os conceitos de educação infantil e de infância vão se constituindo no Brasil, com o intuito de familiarizar-se e apropriar-se deles como construções históricas. Faremos isso e apresentaremos um grande autor para a infância, Friedrich Froebel. O segundo tópico pretende indicar como a infância foi se institucionalizando e é compreendida nos dias atuais, com suas particularidades em nossa educação, nessa transição da assistência social para os órgãos ligados ao Ministério e às Secretarias de Educação. Também vamos discutir como a criança ganha importância na sociedade e, com isso, passa a ser compreendida como sujeito de direitos. O terceiro tópico apresenta formas relevantes do fazer pedagógico social e historicamente construído e a noção de criança como sujeito que não somente reproduz cultura, mas que também a cria. Também vamos conhecer aqui a Pedagogia da Infância, que compreende os fundamentos da ação pedagógica que entende a criança como sujeito de direitos, em uma multiplicidade de concepções acerca da infância e considerando os diversos contextos socioculturais. Você vai conhecer no quarto tópico alguns pressupostos de propostas de projetos de Educação Infantil e de políticas de formação dos professores que atendem a essa modalidade de ensino. Refletiremos sobre algumas experiências que almejam a qualidade em diferentes espaços de atendimento. Finalmente, no quinto tópico, vamos analisar as concepções acerca de elementos primordiais para a estruturação de uma proposta de Educação Infantil – os tempos, os espaços e os materiais – e como eles podem beneficiar ou não as interações e as brincadeiras das crianças. Pronto(a) para começar? Então, mãos à obra e bons estudos! Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 10 1. INFÂNCIA: CONSTRUÇÃO SOCIAL E CONCEPÇÕES PRESENTES NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL Neste tópico vamos percorrer alguns marcos nos quais os conceitos de Educação Infantil e de infância vão se constituindo no Brasil, com o intuito de que você se familiarize e se aproprie deles como construções históricas. Para tanto, destacaremos um grande autor para a infância, Friedrich Froebel. Vamos juntos? 1.1 A invenção da infância A criança vem sendo compreendida nos últimos anos como sujeito que produz história e cultura. Mas até chegarmos a essa concepção, um longo caminho foi percorrido. Para falar em início da Educação Infantil, é fundamental retomar seu idealizador, o pedagogo alemão Friedrich Wilhem August Froebel (1782-1852). Ele foi o criador dos jardins de infância, espaços dedicados à criança pequena no momento em que a Europa passava por uma reformulação em seu conceito de infância. As propostas de Froebel para a infância ainda estão muito presentes nas escolas de Educação Infantil, como a valorização das brincadeiras, a exploração de materiais e a atividade espontânea, livre. Crianças, sujeitos que produzem história e cultura Fonte: Free Images. Friedrich Froebel foi um dos grandes educadores que valorizou muito a infância e criou o jardim de infância, instituição voltada às crianças abaixo de oito anos, na qual pudessem ter os elementos necessários para a sua formação. Atribuía relevância às brincadeiras, ao ensino sem pressão e baseado na prática. Desenvolveu um conjunto de materiais para que as crianças treinassem habilidades e valorizava as atividades estimuladas e dirigidas. Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 11 Unidade 1 O primeiro jardim de infância chegou ao Brasil em 1862, trazido pela professora Emília Faria de Albuquerque Ericsen, na cidade de Castro (PR). Que tal saber um pouco mais sobre a vida e a obra de Froebel, o educador da infância? Ele valorizava a autoeducação, o treinamento de habilidades e a espontaneidade infantil e também desenvolveu um conjunto de materiais para estimular o desenvolvimento das crianças. Confira o material no link: <https://novaescola.org.br/conteudo/96/friedrich-froebel-o-formador-das-criancas- pequenas>. Fonte: Elaborado pela autora. 1.2 O surgimento e o desenvolvimento da Educação Infantil no Brasil O primeiro jardim de infância criado por Froebel voltava-se para crianças abaixo de oito anos e foi fundado em 1840. Mas, e no Brasil? Como começou o atendimento das crianças pequenas e como elas eram vistas na sociedade? Os bebês e as crianças pequenas não frequentavam instituições devido à importância atribuída ao cuidado da mãe e à impossibilidade de amamentar um bebê artificialmente sem riscos de contaminação. Isso só foi possível com os avanços da microbiologia em meados do século XIX, e, dessa maneira, a creche foi criada na França em 1844 e difundida a partir de 1870, momento em que o Brasil também conheceu esse tipo de instituição. No período imperial criou-se a Associação Protetora da Infância Desamparada, e nos primeiros anos da República um conjunto dessas instituições foi aberto em algumas capitais e grandes cidades. De acordo com Kuhlmann Jr. (2000), em 1921 já se contavam 15 creches, e em 1924 eram 47 – o que mostra que, em poucos anos, houve um aumento de 200%. A Europa Central teve grande influência no período de constituição da chamada “sociedade civilizada” (HOBSBAWN, 1988, apud KUHLMANN JR., 2000), em que houve a criação de um conjunto de instituições com o intuito de moldar comportamento, como creche, escola maternal e o jardim de infância na transição do século XIX para o XX. O Brasil passou por isso ao mesmo tempo que descolou o seu modelo de influência da Europa para os Estados Unidos. Um exemplo disso é a instituição do Dia da Criança como o dia 12 de outubro, a partir do 3º Congresso Americano da Criança e do 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, no Rio de Janeiro, em 1922, centenário da independência do Brasil. Nesse congresso, definiu-se a intenção de educar a infância em moldes americanos e apresentou- se um conjunto de denúncias contra a demagogia com que as políticas sociais para a infância eram tratadas. Demagogia porque os congressos citados tiveram como resolução, com base em uma concepção chamada de “assistência científica”, que as crianças pobres deveriam ser acolhidas por entidades assistenciais que receberiam repasses do Estado, assim este não faria grandes investimentos. “A educação assistencialista promovia uma pedagogia da submissão, que pretendia preparar os pobres para aceitar a exploração social” (KUHLMANN JR., 2000, p. 8, grifo do autor). O socialista Luiz Palmeira e a educadora Maria Lacerda de Moura alegavam a impossibilidade do sucesso desse tipo de política para a infância, pois como o empresariado e o Estado iriam investir Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: umatrajetória na história da educação 12 adequadamente na proteção daqueles que estavam em situação de pobreza justamente pela sua exploração e descaso por parte desses agentes sociais? Questão interessante, não? Na década de 1930 havia uma lei que obrigava que os locais de trabalho com mais de 30 mulheres deveriam contar com creches para os filhos. Em São Paulo, desde os anos de 1920, era obrigatório instalar escolas maternais próximas de fábricas para abrigar e alimentar os filhos das operárias. Esse tipo de legislação, mesmo que não cumprida regularmente, reforçou a presença de instituições infantis fora da regulação dos órgãos educacionais. A Inspetoria de Higiene Infantil, órgão do governo federal criado em 1923, foi substituída pela Diretoria de Proteção à Maternidade e à Infância, em 1934. A partir de 1937, o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública tornou-se Ministério da Educação e Saúde, e a Diretoria de Proteção à Maternidade e à Infância passou a ser denominada Divisão de Amparo à Maternidade e à Infância. O médico Olinto de Oliveira se tornou responsável pela administração do Departamento Nacional da Criança (DNCr), criado em 1940 para definir normas de funcionamento para as creches, com a promoção da publicação de livros e artigos. O município de Porto Alegre (RS) recebeu jardins de infância, como os idealizados por Froebel, em 1940, em praças e direcionados para crianças de quatro a seis anos em meio período. Já a cidade de Teresina (PI) criou seu primeiro jardim de infância em 1933 para desenvolver habilidades artísticas em crianças entre quatro e seis anos e para servir como experiência para as alunas da Escola Normal Antonino Freire. Um ano antes, algumas professoras participaram de um curso de aperfeiçoamento em Educação Infantil no Rio de Janeiro, provavelmente no Colégio Bennett. Esse colégio metodista oferecia um curso técnico para formação de professoras para escolas maternais e jardins de infância, idealizado por Heloísa Marinho a partir de 1939. Dez anos depois, o IERJ passou a oferecer o curso de especialização em Educação Pré-Primária, que teve início na modalidade pós-normal e, mais tarde, foi reconhecido como curso superior; em 18 anos de existência, formou cerca de 550 educadoras pré- escolares, considerando o Centro de Estudos da Criança, de Lourenço Filho. O Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, divulgado em 1932, também repercutiu alguns princípios sobre a educação das crianças pequenas ao mencionar “o desenvolvimento das instituições de educação e assistência física e psíquica às crianças na idade pré-escolar (creches, escolas maternais e jardins-de-infância) e de todas as instituições peri-escolares e pós-escolares” (FARIA, 1999, p. 30, apud KUHLMANN JR., 2000, p. 9). A denominação escola maternal foi, aos poucos, deixando de ser utilizada para as instituições que atendiam crianças pobres para ser definida como o espaço de atendimento das crianças entre dois e quatro anos, ao passo que o jardim de infância passou a ter como especificidade as crianças de cinco e seis anos. Essa nomenclatura, em pouco tempo, passou a ser utilizada para nomear as turmas em relação à faixa etária nas instituições para crianças de zero a seis anos, a saber: berçário, maternal, jardim e pré. É importante que você saiba um pouco sobre a experiência do parque infantil na cidade de São Paulo (SP) a partir do Departamento de Cultura (DC), dirigido pelo escritor e intelectual Mário de Andrade. O parque teve início em 1940 com a proposta de receber crianças de três a seis anos e, também, as de sete a 12 anos de idade, fora do horário escolar. A ideia foi levada posteriormente a outros municípios paulistas, bem como aos estados da Bahia, Amazonas, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Recife – além do Distrito Federal (à época, Rio de Janeiro). O eixo de trabalho dos parques infantis eram os jogos e as brincadeiras. Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 13 Unidade 1 A história da educação na cidade de São Paulo é anterior aos parques infantis. Desde a Primeira República já existia uma variedade de instituições infantis como asilos, creches e jardins de infância, muitas assistenciais e particulares. Segundo Kuhlmann Jr. (2001, apud SOUZA, 2012, p. 66), todas as instituições de Educação Infantil possuem objetivos educacionais, no entanto, tais objetivos são determinados pelo lugar social especificados para as crianças a que atende. No entanto, os parques infantis deram início à rede pública municipal de ensino em São Paulo (SP), optando pela educação a partir da cultura e não conforme a pedagogia tradicional. O modelo passou a ser bastante criticado como assistencialista, e os parques infantis foram transformados em EMEIs, isto é, Escolas Municipais de Educação Infantil, com diretrizes pedagógicas alicerçadas no tripé educar, assistir e recrear, que já estava presente nos parques infantis, porém em espaços menores e voltados para crianças de três a sete anos de idade. A preocupação nessa transição era em relação a: a) Ser valorizado o trabalho com a criança pré-escolar. b) Ser elaborado currículo que atendesse: - à estrutura organizacional: vertical e horizontal - ao conteúdo programático - às estratégias - à avaliação c) Serem os técnicos admitidos por concurso público de provas e títulos d) Ser formado um corpo de orientadores pedagógicos, com finalidade de orientar e levar uma palavra de estímulo aos educadores, exercendo funções nos Parques Infantis e) Ser exigida especialização pré-primária para o Educador Recreacionista. (SÃO PAULO, 1975a, p. 9, apud SOUZA, 2012, p. 66). Em artigo publicado na década de 1980, as educadoras da época que foram entrevistadas constataram que a principal razão que levou os parques infantis a serem gradativamente substituídos pelas EMEIs foi a demanda da comunidade pela alfabetização. Faria (1999, apud SOUZA, 2012, p. 68) afirma que a concepção pedagógica deles colocava a criança no centro do processo e oferecia uma educação de qualidade, específica para a criança pequena, quando, sem escolarizá-la, tratou-a como um ser diferente do adulto, como um outro, isto é, enquanto alguém que cria uma determinada cultura, a cultura infantil. Através de objetivos estéticos e artísticos, deu-lhe a oportunidade de expressar-se de formas mais diversas. E, principalmente, permitiu que exercesse a especificidade infantil, propiciando experiências lúdicas, através das brincadeiras, dos jogos tradicionais infantis, do folclore, onde, através da oralidade, as crianças recriam os jogos tradicionais, reinventando o passado no presente, alterando a realidade, construindo e reconstruindo conhecimentos; onde, de fato, são crianças e brincam. Com o aumento da procura pela Educação Infantil, o município de São Paulo conheceu o Plano de Educação Infantil (PLANEDI), em 1976, que eram classes preparatórias ao ingresso na 1ª série voltadas para crianças de três a seis anos. Para isso, utilizavam salas ociosas em escolas de Ensino Fundamental ou eram construídos alguns espaços para 120 crianças, que ficavam sob a responsabilidade de uma professora e algumas mães monitoras. Como a estrutura não era adequada, houve um investimento na reestruturação da Secretaria de Educação. Em 1975, o documento “O Currículo Pré-Escolar” foi apresentado com o objetivo de garantir especificidades na pré-escola. No entanto, a finalidade acabou sendo preparar a criança para o ingresso na 1ª série, desenvolver aspectos intelectual, físico, social e emocional, expressão e comunicação. Em 1980, vieram uma nova gestão e um novo currículo, trazendo conteúdos e as matérias: Comunicação e Expressão (Língua Portuguesa, Educação Artística e Educação Física), Estudos Sociais (Integração Social e Educação Moral e Cívica) e Ciências (Iniciação às Ciências, Matemática Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 14 e Programasde Saúde). Foi lançado o documento de orientação “Treinamento e aperfeiçoamento do pessoal da Educação Infantil”, em 1981, com referência de Constance Kamii, mantendo a linha piagetiana do currículo de 1975. Já em 1982, no documento chamado “Reorientação Curricular as Escolas Municipais”, foi destacada a importância da adaptação da criança à escola e aos “padrões das camadas médias” da população. No ano de 1985, na gestão de Mário Covas como prefeito e de Guiomar Namo de Mello como secretária de Educação, ocorreu o lançamento da revista “Escola Municipal”, ano 18, nº 13, comemorativa dos 50 anos da pré-escola na capital. Outros três documentos de orientação foram lançados; “A pré-escola que queremos: programa de educação infantil”, “Programa de Educação Infantil: linguagem” e “Programa de Educação Infantil: matemática”. Uma marca dessa gestão foi a discussão da prática pedagógica e dos objetivos da pré-escola e a participação dos educadores na construção da proposta. Nos últimos 20 anos, a rede municipal paulistana teve como marcas: • 1986-1988 gestão Jânio Quadros (prefeito) e Paulo Zing (secretário) – proibição e recolhimento dos materiais de 1985 e retomada da proposta de 1975; documento “Proposta de Programação para a Educação Infantil” (1988); • 1989-1992 gestão Luiza Erundina (prefeita) e Paulo Freire e Mário Sérgio Cortella (secretários) – Movimento de Reorientação Curricular; eixo – currículo, linguagem, jogo, áreas do conhecimento e interdisciplinaridade; participação dos educadores; autonomia da escola; valorização teoria-prática; • 1995-2000 gestão Paulo Maluf e Celso Pitta (prefeitos) e Solon Borges, Regis Fernandes de Oliveira e João Gualberto de Carvalho Menezes (secretário) – documento “Organizadores de Áreas: Educação Infantil e Alfabetização”; áreas: jogo simbólico, linguagem oral, desenho, linguagem escrita, linguagem computadorizada, linguagem plástica, linguagem musical, linguagem corporal, matemática e ciências; concepção construtivista; objetivo de preparar o indivíduo para um contexto de constantes mudanças; • 2001-2004 gestão Marta Suplicy (prefeita) e Fernando José de Almeida (secretário) – discussões sobre a Educação Infantil; creches passaram a integrar a rede municipal de ensino e foram denominadas como Centros de Educação Infantil (CEI); documentos: “Caderno Temático de Formação 2 – Educação Infantil: Construindo a Pedagogia da Infância no Município de São Paulo e “Orientação Normativa 01/2004, ambos de 2004; Sociologia da Infância; concepção de criança e de infância; • 2005-2008 gestão José Serra e Gilberto Kassab (prefeitos) e José Pinotti e Alexandre Schneider (secretários) – livros: “Tempos e espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs, creches e EMEIs da cidade de São Paulo” e “São Paulo é uma escola: manual de brincadeiras” (2006) e documento: “Orientações Curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas para a Educação Infantil” (2008); • 2009 a 2012 Gilberto Kassab (prefeito) e Alexandre Schneider (secretário) – permanecem as Orientações Curriculares; • 2013 a 2016 Fernando Haddad (prefeito) e César Callegari e Gabriel Chalita (secretários) – Currículo Integrador da Rede Paulistana – proposta curricular vigente. Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 15 Unidade 1 Fonte: Pixabay. A partir de organismos da Organização das Nações Unidas (ONU), as políticas de educação para a infância passaram a fazer parte de uma agenda internacional na década de 1950, com grande ênfase aos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil. Estados Unidos e países europeus, a partir da década de 1950, demonstraram um atendimento bastante qualificado em relação às crianças pequenas – resultado de reivindicações de movimentos de mulheres por direitos iguais aos dos homens no mercado de trabalho –, e, para tal, creches de qualidade para o cuidado de seus filhos seriam imprescindíveis. Na década de 1970, tivemos uma ampliação gradativa da presença das instituições infantis e o atendimento às crianças entre quatro e cinco anos se expandiu, mas esses espaços estavam vinculados às Secretarias de Saúde e Assistência Social, não à de Educação. Órgãos como Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) traçaram apontamentos para o desenvolvimento de políticas públicas para a Educação Infantil em seminários, congressos, missões etc. O objetivo foi difundir estratégias para países da América Latina, África e Ásia expandirem o atendimento com poucos investimentos: - a expansão da Educação Infantil constitui uma via para combater a pobreza (especialmente desnutrição) no mundo subdesenvolvido e para melhorar o desempenho do ensino fundamental, portanto, sua cobertura deve crescer; - os países pobres não dispõem de recursos públicos para expandir, simultaneamente, o ensino fundamental (prioridade número um) e a EI; - a forma de expandir a EI nos países subdesenvolvidos é por meio de modelos que minimizem investimentos públicos, dada a prioridade de universalização do ensino fundamental; - para reduzir os investimentos públicos, os programas devem se apoiar nos recursos da comunidade, criando programas denominados “não formais”, “alternativos”, “não institucionais”, isto é, espaços, materiais, equipamentos e recursos humanos disponíveis na “comunidade”, mesmo quando não tenham sido concebidos ou preparados para essa faixa etária e para seus objetivos. (FREITAS; BICCAS, 2009, p. 292-293). Programas e políticas colocam criança no centro do processo Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 16 A forma com que os países em desenvolvimento se apropriaram desses princípios foi oferecendo uma educação “pobre para os pobres”. Esse tipo de concepção sobre investimento na Educação Infantil pública esteve muito presente na década de 1970, compondo a Doutrina de Segurança Nacional (DSN), estratégia desenvolvida na Escola Superior de Guerra com a justificativa de combater a pobreza e incentivar a participação da população nas políticas públicas com a real finalidade de conter a expansão das ideias comunistas entre os segmentos sociais menos privilegiados. No final dessa década, nos governos Geisel (1974-1979) e Figueiredo (1979-1985), alguns programas ou projetos foram desenvolvidos para a Educação Infantil, ou pré-escolar, a fim de valorizar a participação da comunidade. O Projeto Casulo, por exemplo, foi criado pelo Ministério de Previdência e Assistência Social, pela Legião Brasileira de Assistência (LBA), em 1977, e também o Programa Nacional de Educação Pré-Escolar, de 1982, pelo Ministério da Educação, para beneficiar as crianças pequenas por pessoas da comunidade escolar. Esse programa chegou a atender, aproximadamente, a 50% das crianças em idade pré-escolar. 2. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INFÂNCIA E OS RISCOS DA ESCOLARIZAÇÃO PRECOCE Neste tópico vamos conhecer o processo de institucionalização da infância e como esta é compreendida nos dias atuais, especialmente em relação às suas particularidades na Educação. Também analisaremos como a criança ganha importância na sociedade e passa a ser vista como sujeito de direitos. 2.1 Construção social da infância As crianças em todo o tempo estiveram presentes nas mais variadas civilizações e culturas, mas nem sempre foram objetos de estudo. Não foi “desde sempre” que houve um entendimento de que são dotadas de atributos específicos, particularidades que as diferem de adultos. Com o advento da modernidade ocorreu uma institucionalização da infância: foram criados espaços públicos de socialização, acompanhando a transformação de modelos familiares vigentes, bem como a constituição de saberes normativos, além da administração simbólica por meio de instituições e regras. Houve interesse em entendero que ocorre no “âmago” da criança por meio de disciplinas periciais, como no caso da Psicologia e da Biologia. Outras, como Antropologia e Sociologia, se encarregaram de desvendar o que ocorria na relação entre crianças. Sociologicamente, sob o viés durkheimiano, a criança era entendida a partir de duas instituições: família e escola. A educação, nesse contexto, é concebida como força de coerção e imposição de saberes necessários para a vida em sociedade. Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 17 Unidade 1 Infância vai sendo construída socialmente Fonte: Free Images. Mas, afinal, o que é infância para você? Pense um pouco a respeito e compare com o que tem sido considerado nos dias atuais. Nem sempre ela foi concebida como uma fase específica do desenvolvimento humano com características singulares. Houve tempos e lugares em que a criança foi vista como um adulto em miniatura, sem necessidades particulares. Arroyo (1994) dizia que a infância era um conceito em construção. Isso porque, ao longo do tempo, notamos formas diferentes de lidar com a criança. Por exemplo, ser criança na zona rural e ser criança na zona urbana são realidades bem distintas. A criança do campo tende a ter uma infância mais curta, já começa a auxiliar a família desde muito cedo nas atividades e logo assume funções no mundo do trabalho. Já a da cidade está mais distante do trabalho dos pais e, com isso, tem uma infância mais longa e tende a brincar e a ter mais tempo livre. Nesse caso, Arroyo (1994, p. 89) diz que “a infância passa a ser uma categoria que ocupa mais tempo de nossas vidas, consequentemente, ela cresce em termos de relevância social”. Outro fator que contribui para a redefinição de infância é o movimento social por direitos. Hoje é muito comum falarmos sobre os direitos da mulher, da população negra, do idoso, do trabalhador e da criança. Há uma legislação criada em apoio a essas mudanças, como a Consolidação das Leis Trabalhistas (1943), o Estatuto do Idoso (2003), o Estatuto da Igualdade Racial (2010) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), entre outras. Arroyo (1994, p. 89) pondera que: Durante muitos séculos a infância não foi sujeito de direitos; era simplesmente algo à margem da família, considerada como um vir a ser. Só era considerada sujeito quando chegava à idade da razão. A Igreja, durante muito tempo, também pensou assim. Hoje, a criança, pelo seu momento social, já é vista como alguém que tem a sua própria identidade, seus direitos. [...] A construção da infância, historicamente, depende muito da construção de outros sujeitos. Qual o sujeito mais próximo à construção da infância? É a mãe, mulher. Mulher e infância sempre estiveram próximos, porque a mãe na nossa cultura é a reprodutora: não só aquela que gera, dá à luz. Mas também a que continua gerando, produzindo, reproduzindo a infância: na saúde, na socialização, na moralização, nos cuidados etc. Dependendo do papel da mulher na sociedade, vamos encontrar um papel diferente para a Infância. E este é um fenômeno muito sério na sociedade brasileira. As palavras de Arroyo (1994) são muito significativas para nos ajudar a compreender como a infância vai sendo construída socialmente, e à medida que o papel da mulher na sociedade se transforma, Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 18 a infância também é vista de maneira diferente. Vemos com isso, por exemplo, a principal razão que leva à criação de instituições por todo o mundo para o cuidado das crianças pequenas que passaram por um período de invisibilização. A necessidade do ingresso da mulher no mercado de trabalho para contribuir com o sustento da família gera a demanda por espaços em que a criança pequena, pouco independente, será cuidada enquanto a mãe está fora de casa. E essa maior participação feminina no mundo de trabalho tem uma dupla motivação: de sustento para a mulher pobre e de realização profissional para a da classe média. A infância se configura, somente assim, como uma categoria social. Antes disso, o Estado se preocupava com a criança somente a partir de sete anos, quando esta deveria, obrigatoriamente, frequentar a escola. Antes disso, nem mesmo se assegurava o direito à vida, já que as taxas de mortalidade infantil eram muito grandes, chegando a 50%. Atualmente, as crianças têm direito, além da vida, à moradia e à dignidade. A preocupação com a infância deixa de ser caridade e passa a ser um compromisso público. 2.2 Escolarização precoce na Educação Infantil Outra concepção que muda junto com a visão que se faz da infância é a de educação. Se inicialmente havia as instituições visando somente ao cuidado, sabemos que hoje não se dissocia educação de cuidado ao se pensar naquelas voltadas às crianças pequenas. As primeiras instituições para a infância estavam vinculadas a órgãos de assistência social, como visto nesta unidade, associando como características dessa fase a carência e a pobreza. Com essa visão, a escola para a criança pequena tinha o objetivo de suprir a falta, a carência de carinho, de alimento e de cuidado. Passamos por uma etapa em que a criança era levada às instituições a fim de ser preparada para o trabalho. Essa concepção vigorou fortemente nos orfanatos, tentando interromper a massa de homens e mulheres pobres que vagavam pelas ruas sem qualquer ofício. Acreditava-se que, ensinando a trabalhar precocemente, reforçando o valor do trabalho, a criança pobre cresceria com outros valores. Entre as concepções em relação às quais seria a função dessa escola que atende à criança pequena ainda encontramos a que procura antecipar conteúdos visando à preparação para o Ensino Fundamental, vendo a Educação Infantil como uma escola preparatória, uma forma de escolarização precoce – por isso o termo pré-escola. Significa que entre os cinco/seis anos de idade a criança já tem que estar pré-escolarizada, já tem que dominar, se possível, habilidades de leitura, de escrita porque assim evitamos a reprovação na primeira série. Esta concepção de submeter o mais cedo possível a criança aos cânones da escola dominou durante várias décadas e continua dominante. Não vai ser esta a nossa direção. Não queremos escolarizar precocemente. Não queremos que a criança não viva a infância em nome de uma pré-escolarização precoce. (ARROYO, 1994, p. 91). Essa crítica feita por Arroyo (1994) reverbera bastante entre professores e pesquisadores da Educação Infantil nos dias atuais. Houve a diminuição do tempo da criança na Educação Infantil com a implantação do Ensino Fundamental de nove anos e o ingresso da criança aos seis anos no 1º ano. Essa ampliação começou a ser discutida em 2004 e a mudança teve início em 2005, com prazo até 2010 para todas as redes de ensino. O período de zero a seis anos de idade, chamado de primeira infância, é uma fase muito significativa e plena de desenvolvimento para a criança. É o momento de se garantir a aprendizagem a partir das brincadeiras, de se explorarem o corpo, a dança, a música, a expressão, a oralidade, enfim, Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 19 Unidade 1 todas as formas de linguagem. São fatores garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e que vêm sendo destacados na documentação oficial de orientações e prescrições curriculares do Ministério da Educação (MEC), como no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1997) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009). As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil são o documento mais recente no que se refere às orientações e prescrições para a Educação Infantil. Sabemos que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) está aprovada e que, nos próximos anos, os sistemas de ensino deverão se reestruturar para atender a ela.As DCNEI definem a Educação Infantil como a modalidade de atendimento das crianças de zero a cinco anos em creches e pré-escolas, por profissionais devidamente formados e sem viés assistencialista, e sim, educativo. Fonte: Elaborado pela autora. A rede pública de Educação Infantil na capital paulista foi criada em 1935, com a implantação dos parques infantis, conforme visto anteriormente. Naquele contexto, houve a preocupação em valorizar a cultura, incentivar jogos e brincadeiras e proporcionar a livre expressão e a espontaneidade das crianças. Entretanto, entre o fim dos anos de 1960 e início dos de 1970 a concepção de criança e de educação infantil foi se transformando, e a alfabetização passou a ser uma preocupação voltada a antecipar e preparar as crianças para ingressarem no Ensino Fundamental. Dessa maneira, elas vão perdendo o direito à brincadeira: O diagnóstico [de que a primeira infância é um período crucial para o desenvolvimento humano] é da especialista em primeira infância, Cibele Witcel, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). De acordo com ela, o ensino de crianças ainda insiste na escolarização precoce, por meio de uma educação que alfabetiza antes mesmo dos seis anos de idade. A brincadeira, assim, é colocada em segundo plano, mesmo ela sendo um direito previsto em lei. “A mente é separada do corpo dentro da escola. A turma passa a maior parte do tempo na sala de aula e ganha um pequeno intervalo para brincar, como se fosse uma libertação”, afirma. “Os meninos e meninas têm um espaço muito limitado para descobrir suas expressões corporais, estimularem a criatividade e suas relações com outras crianças”, avalia Witcel. (NASCIMENTO, 2017, online). Para Witcel (2017), uma forma de permitir a ruptura com um modelo tradicional de educação e garantir à criança o seu protagonismo nas experiências é dando a ela a oportunidade de vivenciar todas as formas de arte. As múltiplas linguagens artísticas, dança, pintura, música, narrativa, literatura, teatro etc. lhe possibilitam desenvolver sensibilidade, criatividade e compreender diferentes visões de mundo. No entanto, os sistemas de ensino não oferecem a devida estrutura às escolas para esse tipo de trabalho e tampouco os pedagogos recebem a formação adequada nas faculdades e universidades para valorizar essa abordagem e acabam reproduzindo um ensino conservador e preparatório para o Ensino Fundamental. Os índices de aprendizagem dos alunos no Ensino Fundamental I, como mostram os indicadores das avaliações externas, revelam que essa escolarização precoce não tem servido para que alunos cheguem mais preparados para a alfabetização e os demais conteúdos; ao contrário, ao antecipar conteúdos, as crianças deixam de desenvolver plenamente aquilo que é especificidade da primeira infância, o que prejudica o seu desenvolvimento global. Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 20 As instituições de educação infantil passam a ter a tarefa de atender a criança em todos os aspectos, desde os biológicos até as dimensões cognitivas, afetivas e emocionais. O movimento é de superação da ideia de que estas instituições seriam espaços de cuidados básicos. Elementos como a possibilidade de descobertas, de ensino e aprendizagem, de socialização, de brincadeiras começam a ser tratados com seriedade nas propostas pedagógicas. (PRUDÊNCIO, 2012, p. 7). Entretanto, encontramos na Educação Infantil um conjunto de práticas que mostram a insistência em aproximar a rotina ao trabalho do Ensino Fundamental, como: a redução drástica do tempo de brincadeiras, invenção e construção de situações pelas crianças; as brincadeiras, quando acontecem, estão sempre ligadas a algum objetivo e desvaloriza-se o brincar pelo brincar; os momentos de lanche, escovação e outros perdem a ludicidade e cobra-se um comportamento quase de adulto, com hábitos mecanizados e uniformes, em nome da ordem e da disciplina; a rotina muitas vezes desrespeita o tempo de concentração da criança com algumas atividades excessivamente extensas e entediantes; algumas propostas de registro com treino de movimentos com o lápis, sem qualquer contextualização ou motivação; atividades pouco significativas e repetitivas, apenas para memorização e treino; e outras. Escolarização precoce pode desestimular crianças Fonte: Pixabay. O professor precisa ter clareza e compromisso com a sua profissão e com as crianças com as quais convive e trabalha diariamente. Se o docente utiliza-se de instrumentos facilitadores e de uma metodologia dinâmica e diversificada pautada na necessidade real da criança, centro de todo o processo educativo e a sua prática está centrada no lúdico, na imitação, na comunicação, na arte, na cultura e no afeto, não haverá espaço para ações que estejam voltadas para letramento e alfabetização precoces. Desta maneira, o educador atua sem acelerações de competências e habilidades, ou ações de cunho escolarizante em sua prática pedagógica e permite que a criança possa compreender melhor o todo. (PRUDENCIO, 2012, p. 19). É necessário que, no contexto da Educação Infantil, professores e gestores das escolas valorizem a participação das crianças na construção do cotidiano nas salas de aula e que respeitem as características e o tempo de aprendizagem e desenvolvimento delas. A Educação Infantil deve privilegiar o cuidado e a educação da criança pequena, a socialização, o lúdico, a afetividade, a arte e todas as formas de expressão, permitindo a formação da sua personalidade. Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 21 Unidade 1 3. PEDAGOGIA DA INFÂNCIA E CULTURAS INFANTIS Este tópico apresenta formas significativas do fazer pedagógico social e historicamente construído e a noção de criança como sujeito que não somente reproduz cultura, mas que também a cria. Você sabe o que é Pedagogia da Infância? Trata-se da ação pedagógica que entende a criança como sujeito de direitos, em uma multiplicidade de concepções acerca da infância e considerando os diversos contextos socioculturais. Esse tema também será explorado a seguir. 3.1 A Pedagogia da Infância como norteadora do fazer da Educação Infantil Um fazer pedagógico atrelado à Pedagogia da Infância respeita o direito da criança de ter suas capacidades e habilidades consideradas e dá a ela um espaço privilegiado de participação, em detrimento da pedagogia da submissão e da transmissão. Se as pedagogias ativas, centradas na criança, estabeleciam a crítica à pedagogia tradicional a partir dos conhecimentos sobre a criança produzidos pelas investigações do campo da biologia e da psicologia evolutiva, uma Pedagogia da Infância compreende que toda e qualquer ação educativa exige considerar as crianças e os contextos socioculturais que definem sua infância. Toma as crianças como seres humanos dotados de ação social, portadores de história, capazes de múltiplas relações, produtores de formas culturais próprias construídas com seus pares, apesar de profundamente afetados pelas culturas e sociedades das quais fazem parte. Afirma a infância como uma categoria geracional, social e histórica e geograficamente construída, heterogênea, atravessada pelas variáveis de gênero, classe, religião e etnia. (BARBOSA, 2010, online). Nessa perspectiva, a Pedagogia da Infância pressupõe um conjunto de ações pedagógicas que permitam à criança vivenciar plenamente a sua infância, articulando projetos pautados na diversidade, democracia e participação social e envolvendo os diversos segmentos da escola no fazer da escola, as crianças, seus professores, suas famílias e os funcionários. A Pedagogia da Infância chegou ao Brasil com a aprovação da Constituição Federal de 1988 e com a homologação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). A Educação Infantil tornou-se a primeira etapa da Educação Básica e demandaque a aprendizagem seja compreendida como fruto de relações a partir das interações, da ludicidade e das múltiplas linguagens da arte, cultura, ciência e tecnologia. Como norteadores da Pedagogia da Infância, merecem destaque alguns teóricos significativos e que foram fundamentais para a compreensão da singularidade da criança e da infância, como etapa singular da vida humana: • Friedrich Froebel: ajudou a compreender o papel da brincadeira no desenvolvimento da linguagem, assim como destacou a atividade e a participação infantil. • John Dewey: destacou a importância da experiência e de educar com o valor da equidade e da democracia para formação de um sujeito reflexivo. Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 22 • Maria Montessori: médica italiana, valorizava a autoeducação e indicava a necessidade de oportunizar às crianças o contato e a manipulação de materiais e ambientes organizados variados para estimular a observação, o interesse e a exploração para que elas possam aprender com a experimentação. • Celéstin Freinet: trouxe uma série de inovações nas práticas pedagógicas, muitas das quais ainda estão presentes nas salas de Educação Infantil e também de Ensino Fundamental como: desenho livre, aulas-passeio, livro da vida, jornal escolar, roda de conversa, texto livre/ livre expressão, correspondência interescolar, correção, autoavaliação, plano de trabalho, fichário de consulta etc. As aulas-passeio tinham a finalidade de aproximar a escola da vida, permitindo maior significado aos conteúdos. Freinet dava grande valor ao desenvolvimento de habilidades manuais, cooperação, autonomia e solidariedade. Para ele, o desenvolvimento gera aprendizagem. • Jean Piaget: defendeu a construção de conhecimento a partir da interação com o meio e definiu alguns estágios de desenvolvimento da infância à adolescência. Destacou o papel ativo da criança no seu desenvolvimento. • Lev Vygostky: valoriza a interação da criança com o adulto e entre as crianças, e defendeu que a aprendizagem dava origem ao desenvolvimento. Apresentou como pressuposto a mediação do adulto (ou parceiro mais experiente) entre a criança e o objeto de conhecimento. Práticas pedagógicas como a arte devem fazer parte da Educação Infantil Fonte: Pixabay. 3.2 As crianças como produtoras de culturas – as culturas infantis Como já dissemos anteriormente, a criança passou não apenas a reproduzir cultura, mas também a criá-la. A esse propósito, Müller (2006, p. 557) assinala: Sarmento (2003) aponta que a questão fundamental no estudo das culturas da infância é a interpretação da sua autonomia em relação aos adultos. No entanto, o autor (2003, p. 8) reconhece que o debate não se situa no fato das crianças produzirem significações autônomas, mas em saber se essas significações se estruturam e consolidam em sistemas simbólicos padronizados, ainda que dinâmicos e heterogêneos: em culturas. Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 23 Unidade 1 Essas formas culturais contextualizam-se de acordo com cada cultura social na qual estão inseridas e variam na interação criança-criança e criança-adulto. A perspectiva das culturas infantis compreende a criança como sujeito de direitos e que tem voz própria, que não reproduz somente o que o adulto ensina. Outro aspecto relevante é que, na verdade, não se trata de infância, mas de infâncias no plural, de acordo com as diversas culturas locais. As culturas infantis produzidas para as crianças têm uma diferenciação: temos a elaborada no espaço escolar e aquela feita pela indústria e imposta pelo consumismo. Todos os espaços podem ser pedagógicos – biblioteca, anúncios, brinquedos, televisão, videogame etc. As grandes empresas produzem um currículo cultural mais voltado às suas vantagens individuais do que ao bem social. Há uma grande exploração da fantasia e do desejo da criança em prol da ideologia das corporações. O mito da infância inocente vem se rompendo. Isso é evidenciado quando as crianças demonstram conhecimentos mais elaborados do que os dos próprios adultos, no que se refere às informações veiculadas nos programas televisivos e até no tipo de vocabulário empregado em certas situações. Steinberg (1997, p. 124) explica que as “noções tradicionais da infância como um tempo de inocência e de dependência dos adultos são abaladas pelo acesso infantil à cultura popular”. (MÜLLER, 2006, p. 559). A cultura infantil produzida na escola visa a uniformizar uma ideia de criança geralmente por grupo de idade, pautada na relação professor-aluno, no currículo, na rotina e no hábito de qualificação. É uma cultura escolar, muito específica desse espaço e que é internalizada e reproduzida pela criança, geralmente incutida como preparação para o ingresso no Ensino Fundamental, por meio do trabalho da criança que ensina como se portar como aluno. É possível perceber como esse trabalho vai moldando o que é ser aluno a partir do momento em que a criança demonstra desejo de aprender, uso dos materiais para as atividades e expectativas criadas em relação ao ingresso no Ensino Fundamental. O que se procura entender é o trabalho infantil escolar e sua intersecção com o ofício de aluno. Wintersberger (2001, p. 94) argumenta que “a escola é o universo do trabalho das crianças na sociedade moderna, ainda que com a diferença de que não há recompensa financeira para isso”. Se, por um lado, a Modernidade afastou as crianças do espaço da produção, por outro, garantiu ao espaço escolar a tarefa de transformar crianças em alunos/as trabalhadores/as. (MÜLLER, 2006, p. 563). É preciso respeitar as faixas etárias das crianças Fonte: Unsplash. Temos, ainda, as culturas infantis produzidas pelas crianças, como as brincadeiras, as formas de socialização e os papéis assumidos entre os pares e pelos adultos. A cultura infantil constitui-se dos elementos que as crianças aceitaram da cultura adulta e de outros criados por elas mesmas. Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 24 Não é algo que as crianças carregam ao redor de suas cabeças para guiar seus comportamentos. Cultura de pares é pública, coletiva e performativa, isto é, um conjunto estável de atividades ou rotinas, artefatos, valores e preocupações que crianças produzem e compartilham em interação com pares. (CORSARO, 1997, p. 95, apud MÜLLER, 2006, p. 566). Müller (2006) faz algumas considerações acerca da escolarização precoce na Educação Infantil e como isso é uma forma de negar a infância. Cobrar horários, filas, trabalhos com grande rigidez sem que as crianças sequer compreendam o porquê de estarem fazendo isso ou ainda sem que participem desses processos leva a que algumas ações se distanciem em demasia da cultura infantil e impedem que a criança seja participante e protagonista no espaço escolar. Isso porque sua autonomia é bastante cerceada e controlada, fazendo com que tenha que romper com essa lógica adulta para ressignificar seu papel de criança e de aluno. Conheça a página virtual do Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos (LABRIMP), mantido pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Ali é possível realizar uma visita online por toda a brinquedoteca mantida pela instituição (que se encontra interditada por tempo indeterminado desde o início de 2017) e mantém uma diversidade de links relacionados à ludicidade, contém artigos, materiais dos projetos, acervo de brincadeiras, bibliografia, dentre outros. A atual coordenação do LABRIMP é formada pela professora doutora Monica Appezzato Pinazza e pelo professor doutor Marcos Garcia Neira. O link do Laboratório é: <http://www. labrimp.fe.usp.br/>. Fonte: Elaborado pela autora. 4. PROJETOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL E POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À INFÂNCIA Quetal identificar alguns pressupostos de projetos de duas redes municipais que atendem à Educação Infantil? Essa é a proposta deste tópico, no qual refletiremos sobre algumas experiências que almejam a qualidade em diferentes espaços de atendimento. Vamos conhecer alguns projetos reais que estão sendo implementados em sistemas de ensino municipais. O projeto curricular da Secretaria de Educação do município de Jundiaí (SP) apoia-se na pedagogia crítica e na teoria de Paulo Freire como concepção de educação. Elegeu a pedagogia crítica por acreditar que a Educação deve ser compreendida como prática de liberdade, que a relação entre educador e educando deve estar no centro do planejamento e que a criança é um sujeito de direitos portador de valores e culturas. Os sujeitos não se educam sozinhos e toda relação pedagógica deve ser dialógica, entendida a dialogicidade como escuta atenta que objetiva a compreensão do ponto de vista do outro para fazer desse lugar o ponto de partida para novos saberes. Nesse processo, o educando faz-se educador e os papéis se complementam. (JUNDIAÍ, 2016, p. 2). Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 25 Unidade 1 As linguagens das crianças precisam ser valorizadas Fonte: Pixabay. A proposta curricular de Jundiaí para a Educação Infantil valoriza a ética, o bem comum, a dignidade e a diversidade, o meio ambiente, a qualidade social na educação, a gestão democrática, a autonomia das escolas, os saberes dos educadores e as linguagens das crianças, a participação da comunidade e um trabalho coletivo na construção do projeto político-pedagógico. Também prevê um currículo formado por práticas articuladas às experiências e saberes das crianças e considerando todo o conhecimento tido como patrimônio cultural, ambiental, artístico, tecnológico e científico, respeitando os princípios éticos, estéticos e políticos. A teoria de Paulo Freire tem grande importância não somente para a educação brasileira. O educador pernambucano tem relevância internacional: é o terceiro autor mais citado do mundo e tem sua obra traduzida e difundida para centenas de países. Em 2012, foi declarado Patrono da Educação Brasileira mediante projeto de lei apresentado pela deputada federal Luiza Erundina. Fonte: Elaborado pela autora. Já a Educação Infantil no município de Marília, à época do estudo de Brandão, contava com um total de 34 escolas, entre berçários, EMEIs, EMEIs/creche e EMEIEFs, além de duas entidades. Eram atendidas 12.424 crianças de zero a cinco anos de idade, com 100% do atendimento à faixa obrigatória (quatro e cinco anos), mas tem uma séria defasagem no atendimento daquelas entre quatro meses e três anos. A proposta curricular divide-se em quatro partes: Berçário, Maternal, Infantil I e Infantil II. Essa Proposta Curricular irá subsidiar o fazer pedagógico de cada profissional e garantir uma unidade de ação em nível municipal. No entanto, não configura um modelo curricular homogêneo e pronto, que sobrepõe à autonomia pedagógica de cada escola, mas poderá funcionar como elemento catalisador de ações na busca de uma melhoria da qualidade de ensino. (MARÍLIA, 2009, online). Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 26 O Berçário tem como foco as crianças de zero a dois anos de idade e preocupa-se com o cuidado e com a educação. Organiza-se a partir dos eixos: movimento, música, artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade, matemática, identidade e autonomia. Estrutura a atividade nas modalidades organizativas: atividades permanentes, sequência didática, projeto didático e rotina escolar – preocupando-se com a estimulação sensório-motora e a ludicidade. A avaliação se dá a partir da observação, relatórios diários e portfólio (MARÍLIA, 2009). O Maternal, o Infantil I e o Infantil II pautam-se na ideia de criança como sujeito social e histórico e valorizam os princípios éticos, estéticos e políticos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Utilizam os eixos: identidade e autonomia, linguagem oral e escrita, matemática, artes visuais, música, movimento e natureza e sociedade; valorizam o aspecto lúdico na organização das atividades. Assim como no Berçário, as atividades são divididas de acordo com as modalidades organizativas e incluem um instrumento de avaliação qualitativo do processo de aprendizagem do aluno (MARÍLIA, 2009). 5. AS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL: TEMPOS, ESPAÇOS E MATERIAIS Neste tópico a proposta é examinar as concepções sobre elementos primordiais para a estruturação de uma proposta de Educação Infantil: os tempos, os espaços e os materiais e como eles podem beneficiar ou não as interações e as brincadeiras das crianças. 5.1 Organização do trabalho pedagógico O trabalho pedagógico na Educação Infantil deve estar organizado de acordo com a concepção de educação e cuidado da instituição e ser uma síntese do projeto político-pedagógico da escola. Fundamentado nesse conhecimento, a preocupação com o fortalecimento de uma Educação Infantil que assegure às crianças o direito a viver experiências significativas e mediadoras do desenvolvimento tem chamado a atenção para a gestão das unidades que oferecem esses segmentos visando fortalecer o projeto político-pedagógico das mesmas – o que também tem sido objeto de pesquisa. Assim, a organização dos ambientes para a Educação e cuidado na infância tem orientado estudos empíricos voltados a avaliar o cotidiano das instituições de Educação Infantil e apontado possibilidades de melhoria das condições nelas existentes (Campos, Füllgraf e Wenders, 2006), de modo a garantir a qualidade do atendimento (MEC, 2006). (OLIVEIRA, 2013, online). Esse conjunto de elementos é chamado de gestão pedagógica e serve para mediar as experiências de aprendizagem das crianças na escola, tanto por parte dos educadores quanto de famílias. A gestão pedagógica deve buscar o emprego dos recursos humanos e materiais da melhor maneira, planejar as ações, organizar a rotina das crianças e os ambientes para que sejam estimulantes. É necessária uma preocupação com a organização do tempo para a criança da Educação Infantil, de modo que haja momentos optativos, livres e conduzidos. As crianças devem ter livre trânsito no espaço, com materiais diversificados à sua disposição, e o educador pode organizar o grupo de maneiras diferentes, permitindo que elas possam optar por espaços, materiais e colegas de trabalho e administrar as convivências, os projetos e as experiências. Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 27 Unidade 1 Espaços e materiais precisam ser levados em conta na Educação Infantil Fonte: : Pixabay. Em pesquisas realizadas sobre as brincadeiras (Oliveira, 2011), a influência do arranjo espacial na interação de crianças (Campos-Carvalho e Bonagamba-Rubiano, 1994; Horn, 2003), a estruturação do tempo (Barbosa, 2000) e a adaptação de bebês na creche (Vitória e Rossetti- Ferreira, 1993), entre outras, acumularam evidências para pensar a gestão pedagógica. Elas oferecem pontos de referência sobre a maneira como determinadas organizações das situações cotidianas ampliam as possibilidades de as crianças viverem a infância e aprenderem a conviver e se envolver em projetos em grupo, interagindo com diferentes pares em práticas socioculturais – tais como brincar com os companheiros, investigar aspectos do ambiente que instigam a curiosidade, cuidar de si, apreciar uma apresentação musical, desenhar, participar da recontagem de contos de diferentes tradições, encenar uma história e antecipar formas de escrita. (OLIVEIRA, 2013, online). A gestão pedagógica é um esforço coletivo com o intuito de proporcionar uma organização que favoreça a realização das atividades tanto na área interna como externa da escola,para que o professor possa desenvolver seu trabalho conforme os interesses e as necessidades de seu grupo de alunos e promovendo brincadeiras e interações diversas. Com um trabalho coletivo, planejado e a partir de observação e escuta atentas, é possível perceber quais devem ser as prioridades e definir as formas de intervenção no espaço escolar. 5.2 Tempos, espaços e materiais como elementos facilitadores da aprendizagem A organização dos espaços, tempos e materiais compõe um elemento crucial na Educação Infantil no que tange aos objetivos e propostas pedagógicas. A organização dos tempos tem grande relação com a rotina que abordaremos de maneira detalhada na Unidade 3; então agora vamos tratar dos tempos em articulação com os espaços e materiais no processo ensino-aprendizagem. Unidade 1 Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 28 [...] entende-se que o espaço não é simplesmente um cenário na educação infantil. Na verdade, ele revela concepções da infância, da criança, da educação, do ensino e da aprendizagem que se traduzem no modo como se organizam os móveis, os brinquedos e os materiais com os quais os pequenos interagem. Sua construção, portanto, nunca é neutra, pois envolve um mundo de relações que se explicitam e se entrelaçam. A organização do espaço na educação infantil tem como premissa, portanto, o entendimento do espaço como parte integrante do currículo escolar e como parceiro pedagógico do educador infantil, profissional que exerce o importante papel de mediador nesse processo. Para compreender essa dinâmica, é crucial adentrar nos ambientes das creches e pré-escolas para, a partir dessa imersão, construir solidariamente um espaço que reflita a cultura, as vivências e as necessidades dos adultos e das crianças que nele habitam. (HORN, 2017, p. 17). Partindo dessa concepção, a escola de Educação Infantil pode organizar-se da seguinte maneira: • área de administração recepção (espaço confortável e acolhedor para receber as pessoas e com segurança para a entrada e saída de alunos), secretaria (armazenamento de documentos e arquivos, horários de funcionamento, computadores, mesas e cadeiras), sala da direção e coordenação (planejamento dos gestores e reuniões com familiares, funcionários e professores), sala da equipe escolar (espaço para descanso, refeição, formação e encontro dos profissionais da escola), consultório (para atendimento às crianças com algum problema de saúde, com maca e lavatório) e almoxarifado (armazenamento de materiais em estoque e de uso frequente); • áreas de serviço refeitório (para alimentação das crianças, importante garantir a autonomia gradativa, com mesas de quatro lugares a fim de favorecer o convívio, bancada para disposição dos alimentos), cozinha (amplitude e ventilação, higienização, cocção e distribuição de alimentos), despensa (armazenamento de alimentos não perecíveis, freezer e geladeira), lavanderia (tanque, lavadora e secadora de roupas, varal e produtos de limpeza), área de serviços gerais (armazenamento de produtos de limpeza, vassouras, rodos), área de limpeza de objetos (higienização semanal de materiais pedagógicos), depósito de lixo (arejado e afastado da área administrativa e do acesso das crianças) e área para armazenamento do gás (espaço externo, arejado e trancado). Para os pequenos, quase tudo na vida é brincadeira. Por isso, na Educação Infantil, não faz sentido separar momentos de brincar dos de aprender. Essa simultaneidade pede que espaços e rotina da escola sejam planejados de modo a proporcionar multiplicidade de experiências e contato com todas as linguagens, o tempo todo. Sem abrir mão, é claro, dos cuidados com segurança e saúde. É nesse ambiente de aprendizagem que as crianças vão socializar-se e ganhar autonomia. «Dentro do espaço da Educação Infantil é necessária a integração entre o educador, o planejamento pedagógico e a organização dos lugares, que funcionam como mais um elemento educativo, como se fossem um professor a mais», explica Elza Corsi, formadora do Instituto Avisa lá, de São Paulo. (NADAL, 2017, online). O espaço das atividades pedagógicas tem organização de acordo com a faixa etária atendida. Para crianças de zero a dois anos, no berçário, são necessários sala de repouso, fraldário (higiene, troca de fraldas e banho), lactário (preparo de mamadeiras e alimentação) e solário (espaço ao ar livre para banho de sol, com brinquedos); para as crianças de dois e três anos, no minigrupo, é preciso que haja salas de atividades e banheiros com peças de tamanho adequados às crianças; para as crianças de quatro e cinco anos, além da sala de atividades e banheiros adequados, é importante também ter uma sala multiuso para favorecer atividades com as diferentes linguagens, com outros materiais, como televisão, DVD, aparelho de som. Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 29 Unidade 1 Finalmente, elencam-se como espaços externos um pátio coberto para brincar em dias de chuva ou frio, parque em área descoberta e espaços verdes para promover o contato com a natureza. É interessante também ter horta e pomar com vistas a enriquecer as atividades. Para saber um pouco mais sobre a organização do trabalho pedagógico, assista ao vídeo “Organização dos espaços físicos e dos materiais”, produzido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e pelo Instituto Avisa Lá, em 2004. Nesse material, podemos ver exemplos reais de como propiciar a valorização das interações e das brincadeiras, com a articulação dos tempos, espaços e materiais. O material está disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WfvxOty5Tkg>. Fonte: Elaborado pela autora. CONCLUSÃO Concluímos esta unidade em que conversamos sobre a trajetória histórica da Educação Infantil para conhecer como a primeira etapa da educação básica se constituiu. Iniciamos com o conceito de infância, fase da vida que, sendo uma construção social, veio com um conjunto de mudanças na sociedade. Percorremos marcos que demonstram como os conceitos de educação infantil e de infância se formaram no Brasil. Você pôde se familiarizar deles como construções históricas, estudadas detalhadamente por Friedrich Froebel, considerado o idealizador da Educação Infantil. No segundo tópico abordamos como a infância foi institucionalizada e a Escola Infantil ganhou as características que vemos na atualidade, a transição da assistência social para os órgãos ligados ao Ministério e às Secretarias de Educação. Vimos também como algumas propostas curriculares foram se transformando de acordo com o contexto histórico, político, econômico e cultural e acompanhando como em cada momento a infância era compreendida. No terceiro tópico discutimos sobre a relação da pedagogia com a infância a partir de formas relevantes do fazer pedagógico social e historicamente. Ainda falamos sobre a noção de criança não somente como sujeito de direitos, mas também como produtora de cultura. A Pedagogia da Infância se constitui de fundamentos da ação pedagógica, compreendendo a criança em uma multiplicidade a partir de seus diversos contextos socioculturais. No quarto tópico foi o momento de apresentar alguns aspectos de projetos de Educação Infantil a partir de como os municípios de Jundiaí e Marília (SP) organizam o atendimento em suas instituições, garantindo a qualidade do atendimento, o respeito às Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil e a concepção pedagógica de suas secretarias de educação. Finalizamos no tópico cinco com uma análise sobre a concepção pedagógica vigente nas DCNEI em relação a elementos fundamentais para a organização de uma proposta de Educação Infantil: os tempos, espaços e materiais e como eles podem ser articulados para favorecer os eixos das interações e das brincadeiras das crianças para possibilitar êxito no processo ensino-aprendizagem. Unidade 1 Conceitode infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 30 ELEMENTOS COMPLEMENTARES #LIVRO# Título: Pedagogia(s) da Infância: Dialogando com o Passado. Construindo o Futuro Autor: (Org.) Júlia Oliveira-Formosinho, Tizuko Morchida Kishimoto e Mônica Appezzato Pinazza Editora: ArtMed O livro resgata teóricos fundamentais que abordaram o desenvolvimento infantil ou aspectos que foram importantes na história da Educação Infantil nos séculos XIX e XX, como Froebel, Dewey, Piaget, Montessori, Bruner, Malaguzzi, Freinet e Vygotsky. A obra foi construída com textos de professores e pesquisadores brasileiros e portugueses e auxilia na compreensão de uma pedagogia focada na criança como sujeito de sua aprendizagem e enfatiza desafios bem contemporâneos. #FILME# Título: Indomável Sonhadora Ano: 2013 Este lindo e emocionante filme tem dois grandes diferenciais: o primeiro é abordar famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social após passarem por desastres naturais nos Estados Unidos, mais precisamente em Louisiana; o segundo é contar uma história a partir dos olhos de uma criança, a pequena e encantadora, apesar de endurecida, Hushpuppy (vivida pela atriz mirim revelação de 2013, Quvenzhané Wallis). Hushpuppy é bastante autônoma e independente por razões que você vai perceber que, entre suas descobertas de criança, fortalece os vínculos com o pai doente e busca pela mãe desaparecida. #WEB# “Caramba, carambola: o brincar tá na escola” faz parte de um projeto de DVD cujo vídeo está disponível também no YouTube, com a proposta de focar a ação dos professores durante os momentos de brincadeiras das crianças em escolas públicas dos municípios de Vinhedo e Jundiaí. O vídeo traz relatos de especialistas, professores e gestores e retrata a importância do lúdico, a cultura infantil e apresenta possibilidades simples para enriquecer esse momento. O vídeo está disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_ lQWGDV81Vs&list=PLTgMUuLuLjm-vRAw_JtFwCipABEPkaFfv&index=2>. #WEB# Conceito de infância e educação infantil: uma trajetória na história da educação 31 Unidade 1 REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel Gonzales. O significado da infância. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL, 1., Brasília. Anais... Brasília: MEC, 1994. p. 88-92. BARBOSA, M. C. S. Pedagogia da infância. In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A. M. C.; VIEIRA, L. M. F. Dicionário: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010. Online. CDROM. FREITAS, Marcos Cezar; BICCAS, Maurilane de Souza. História social da educação no Brasil (1926- 1996). Biblioteca Básica da História da Educação Brasileira. São Paulo: Cortez, 2009. HORN, Maria da Graça Souza. Brincar e interagir nos espaços da escola infantil. Porto Alegre: ArtMed, 2017. JUNDIAÍ. Proposta Curricular Educação Infantil I. Secretaria de Educação de Jundiaí, 2016. Disponível em: <https://www.jundiai.sp.gov.br/educacao/wp-content/uploads/sites/10/2014/08/ Arquivo-1-Educacao-Infantil-I.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2017. KUHLMANN JR., Moysés. Histórias da educação infantil Brasileira. Revista Brasileira da Educação, São Paulo, n. 14, p. 5-18, maio/ago. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n14/ n14a02.pdf>. Acesso em: 01 dez. 2017. MARÍLIA. Proposta Curricular para a Educação Infantil. Blog da Secretaria da Educação de Marília, 2009. Disponível em: <http://secretariamunicipalmarilia.blogspot.com.br/>. Acesso em: 20 dez. 2017. MÜLLER, Fernanda. Infâncias nas Vozes das Crianças: culturas infantis, trabalho e resistência. Revista Educação e Sociedade, São Paulo, v. 27, n. 95, p. 553-573, maio/ago. 2006. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/es/v27n95/a12v2795.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2017. NADAL, Paula. Educação Infantil, lugar de aprendizagem. Nova Escola, 6 set. 2017. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/118/educacao-infantil-lugar-aprendizagem-creche-pre-escola>. Acesso em: 26 jan. 2017. NASCIMENTO, Caio Victor. Alfabetização Precoce na Educação Infantil. Paineira, São Paulo, 28 set. 2017. Disponível em: <https://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/09/28/alfabetizacao-precoce-na- educacao-infantil-fere-direito-a-infancia/>. Acesso em: 16 dez. 2017. OLIVEIRA-FORMOSINHO, Júlia; KISHIMOTO, Tizuko Morchida; PINAZZA, Mônica Appezzato (Org.). Pedagogia(s) da Infância: dialogando com o passado. Construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007. OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Gestão Pedagógica na Educação Infantil. Nova Escola, 1 dez. 2013. Disponível em: <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/149/gestao-pedagogica-na-educacao- infantil>. Acesso em: 26 jan. 2017. PRUDENCIO, Patrícia. A Precoce Escolarização na Educação Infantil. 27 f. Monografia (Especialização em Educação Infantil) – Núcleo de Desenvolvimento Infantil, Centro de Ciências na Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. SOUZA, Irene Garcia Costa de. Subjetivação docente: a singularidade constituída na relação entre o professor e a escola. 223 f. Tese (Doutorado em Educação), Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Unidade 2 Objetivos de aprendizagem da unidade • Conhecer a Política Nacional de Educação Infantil e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil • Discutir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil • Refletir sobre o atendimento das instituições educacionais à criança pequena, especialmente de zero a três anos • Conhecer outros marcos legais que fazem referência à Educação Infantil • Conhecer a organização da Educação Infantil a partir dos seus pressupostos teóricos e metodológicos Professora Mestre Regina Maria da Silva MARCOS LEGAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL Marcos legais e organização da educação infantil no Brasil 33 Unidade 2 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno, seja bem-vindo(a) aos nossos estudos! Nesta unidade você vai aprender aspectos importantes relacionados à legislação e às orientações curriculares que norteiam a Educação Infantil nos últimos anos. É fundamental que o professor e o gestor escolar conheçam leis que regulamentam as modalidades de ensino nas quais atuam. Isso faz com que seu trabalho conquiste maior legitimidade entre a comunidade, equipe escolar e famílias, estando de acordo com a legislação vigente e as pesquisas e teorias mais recentes e reconhecidas sobre desenvolvimento e aprendizagem infantil. O Tópico 1 vai apresentar a Política Nacional de Educação Infantil (1994) e sua consolidação com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, de 1997. Nele, poderemos acompanhar como esses dois documentos vão contribuindo para o processo de institucionalização da Educação Infantil como modalidade da educação e direito da criança. No Tópico 2 vamos discutir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e sua relevância para a constituição dos princípios e concepções que permearam e permeiam a modalidade. Levamos em consideração o processo de compreensão e de mudança de mentalidade da instituição para a criança como assistência social para a instituição com finalidades educativas, mas também de cuidado, respeitando as particularidades da infância e garantindo o seu pleno desenvolvimento e aprendizagem. O Tópico 3 trata do atendimento das instituições educacionais à criança pequena, principalmente, de zero a três anos, no processo de transição da creche como instituição assistencialista para a creche como espaço educativo. Isso ocorre a partir da mudança de mentalidade e das transformações da concepção de infância e de criança. No Tópico 4, vamos falar sobre outros marcos legais que fazem referência à Educação Infantil, como a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Política Nacional de Educação Infantil, de 2006. Essa legislação permitiu assegurar todos os aspectos discutidos nos tópicos anteriores e foram
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