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EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO CONTENTS 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Exame do pescoço e da coluna ........................... 5 3. Avaliação da marcha ................................................ 8 4. Exame da motricidade ...........................................10 5. Provas cerebelares ..................................................18 6. Reflexos .......................................................................23 7. Sensibilidade .............................................................32 8. Nível de consciência ...............................................37 9. Exame dos nervos cranianos ..............................39 10. Exame da Linguagem .........................................59 Referências Bibliograficas .........................................62 3EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO 1. INTRODUÇÃO Antes de falarmos sobre o exame neurológico propriamente dito, é ne- cessário que façamos algumas ob- servações que são úteis não só para a compreensão da semiologia do sis- tema nervoso, mas para a prática clí- nica neurológica, tendo como base a anatomia e a fisiologia desse sistema. Inicialmente, temos que a presença de um sintoma não indica qual re- gião do cérebro está envolvida, dado o fato que as vias eferentes serem muito longas. E justamente o fato de haver a possibilidade de diferentes topografias para determinado déficit neurológico impacta no cuidado do paciente. É importante termos em mente que a complexidade da semiologia neu- rológica tem como um dos seus fato- res as dificuldades dos pacientes em descrever o que sentem. A fim de fa- cilitar o raciocínio clínico, organiza-se um padrão de três etapas: • Diagnóstico sindrômico: conjunto de sinais e sintomas apresentados pelo paciente. • Diagnóstico topográfico: local da lesão causadora do sintoma do paciente. • Diagnóstico etiológico: qual a cau- sa da lesão (vascular, inflamatória, degenerativa etc.). A história clínica do paciente permi- te: identificar a queixa principal, bem como estabelecer possíveis regiões anatômicas envolvidas; averiguar es- truturas anatômicas afetadas ou pre- servadas; e identificar o modo de ins- talação do sintoma. Justamente por toda essa complexi- dade, as manobras são fundamen- tais para checar a hipótese diag- nóstica. Do mesmo modo como nos demais sistemas, o exame físico per- mite confirmar os dados de história e exame físico, inclusive os achados sintomáticos. Vamos a um exemplo: Caso clínico: Sr. João, 68 anos, natural e procedente de SP, casado, dá entra- da no pronto-socorro com queixa de fraqueza no lado direito do corpo há 12 horas. Conta que foi dormir bem e acordou assim, sem conseguir cami- nhar. Refere ainda dormência do lado direito do corpo e fala enrolada. Nega outros sintomas. Antecedentes pes- soais: hipertensão arterial há 20 anos em tratamento irregular, diabetes em uso de metformina 2 comprimidos de 500 mg por dia, infarto agudo do miocárdio há 5 anos. Nesse caso, temos: Sintoma guia: fraqueza, acompanha- da por uma queixa sensitiva e fala enrolada. A queixa motora e sensitiva ocorrendo do mesmo lado sugere a ocorrência 4EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO de uma lesão em uma região na qual os tratos motores e sensitivos andam muito próximos. A apresentação súbita dos sintomas sugere etiologia vascular. Continuando... Ao realizar o exame físico neurológico do Sr. João você observa: Seu João está acordado e orientado no tempo e espaço. Informa correta- mente onde está, em que dia esta- mos e em que ano estamos. Sr. João obedece a comandos, lê, compreen- de, escreve, repete e nomeia objetos. Observamos que a alteração da fala é uma dificuldade na articulação das palavras. Graduamos a força conforme a esca- la disponível no material de referência de exame físico Seu João não conse- gue ficar de pé ou caminhar. FMG3 MSD (força muscular grau 3 membro/superior direito); FMG3 MID (força muscular grau 3 membro inferior direito); FMG5 MSE (força muscular grau 5 membro superior esquerdo); FMG5 MIE (força muscular grau 5 membro inferior esquerdo). Reflexos profundos (bicipital, tricipital, patelar e aquileu) exaltados à direita e normoativos à esquerda. Reflexo cutâneo plantar em extensão à direita; Sensibilidade tátil abolida à direita e preservada à esquerda; Provas cerebelares não puderam ser executadas à direita devido à paresia apresentada pelo paciente. Provas cerebelares normais à esquerda; Movimentação ocular extrínseca (MOE) normal, reflexos fotomotor e consensual normais. Desvio da rima para esquerda; Língua centrada, úvula centrada. Manobras de rigidez de nuca ausentes. Observa-se correspondência das queixas do paciente com os dados de história e exame físico. Identifica-se fraqueza com sinais de lesão no neurônio motor superior, dada a presença de reflexos exalta- dos e Babinski. Diagnóstico sindrômico: síndrome pi- ramidal deficitária, caracterizada por fraqueza, reflexos exaltados, disartria e cutâneo plantar em extensão; • Síndrome sensitiva, caracterizada por hipoestesia direita. • Os sintomas do paciente indicam lesão da cápsula interna esquer- da, sendo que uma lesão corti- cal condizente com os sintomas do paciente deveria afetar os lo- bos frontal e parietal, o que leva- ria a um rebaixamento do nível de consciência. 5EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO • O paciente apresenta uma dificul- dade na articulação da fala deno- minada disartria. • Descarta-se a possibilidade de lesão do tronco cerebral porque não há envolvimento de nervos cranianos Diagnóstico topográfico: cápsula interna. Exemplos de diagnóstico sindrômico: síndrome de baixa acuidade visual, caracterizada por redução da acui- dade visual no olho direito; síndrome dos nervos cranianos, caracterizada por paralisia do sexto nervo crania- no; síndrome dos nervos cranianos, caracterizada por paralisia do tercei- ro nervo craniano; síndrome cerebe- lar, caracterizada por marcha atáxica, nistagmo e dismetria; síndrome do rebaixamento do nível de consciên- cia; síndrome de cefaleia; síndrome de hipertensão intracraniana, carac- terizada por cefaleia, náuseas, vômito e edema de papila; síndrome sensi- tiva, caracterizada por nível sensitivo T10. 2. EXAME DO PESCOÇO E DA COLUNA Se você está achando estranho uma sessão para o pescoço e para a coluna cervical nesse material, fique tranqui- lo, pois muitos outros alunos também estão achando. É muito comum que esqueçamos a relação que o pesco- ço e a coluna possuem com o sistema nervoso, bem como com achados a ele relacionados. Mas para isso, bas- ta você relembrar das suas aulas de semiologia pediátrica e de anatomia da cabeça e do pescoço para saber que essa região está sim intimamen- te relacionada ao crânio e à medula espinhal. Primeiramente, devemos observar se o paciente possui alguma limitação de movimento, podendo tal acha- do ser questionado diretamente na anamnese ou pode ser pesquisado ao averiguar a mobilidade do pesco- ço do paciente, solicitando que esse realize movimentos com o seu pesco- ço. É muito importante também que o examinador tente realizar movimen- tos com a cabeça e o pescoço do pa- ciente, buscando achados importan- tes como rigidez nucal, a qual pode ser evidenciada pelo Sinal de Brud- zinski, que consiste na flexão do pes- coço seguida por uma compensação do paciente diante desse movimento, flexionando o quadril e o joelho. Des- se modo, pacientes com irritação me- níngea, podem não conseguir fletir o pescoço com a perna esticada. 6EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Figura 1. Sinal de Brudzinski. Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. Quanto à coluna lombossacral, do mesmo modo, devemos testar os movimentos e a amplitude desses no paciente que está sendo examinado, averiguando a presença de limitações escondidas. Para a parte propriamen- te neurológica, pode-se buscar por estiramento de raiz nervosa por meio do Teste de Lasègue, que consiste nomanuseio da perna do paciente pelo examinador, o qual a levanta- rá, realizando uma flexão passiva no quadril, observando a amplitude ob- tida. A positividade do teste se dá quando a perna do paciente não che- ga a 30º de inclinação, sendo carac- terística de algum acometimento de nervos periféricos. Figura 2. Teste de Lasègue. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. 7EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO O Teste de Kernig está ao lado do de Brudzinski para testar a rigidez nucal. Nesse caso, com o paciente em de- cúbito dorsal, com a perna flexionada, o examinador tenta trazer o joelho do paciente para a região do abdome e do peito desse, verificando se há dor quando da realização desse movi- mento, sendo que a presença de dor, junto com uma história clínica com- patível, é forte sinal de meningismo, apesar de não estar presente em to- dos os pacientes com irritação menín- gea. Ou seja: é um exame específico e não sensível! Figura 3.Teste de Kernig. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. MAPA MENTAL: EXAME DA COLUNA CERVICAL E LOMBOSSACRAL Teste de Lasègue COLUNA LOMBOSSACRAL Irritação meníngea e rigidez nucal Amplitude de movimentos Estiramento de raiz nervosa Sinal de Brudzinski Sinal de Kernig Realizar movimentos em busca de déficits Perguntar em busca de queixas 8EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO 3. AVALIAÇÃO DA MARCHA A avaliação da marcha consiste, prova- velmente, num dos primeiros exames realizados, uma vez que é possível ava- liá-la quando o paciente entra no seu consultório. Ao distúrbio da marcha, chamamos de disbasia, sendo que existe uma ampla gama de variações patológicas possíveis nos pacientes, cada um significando um tipo distinto de acometimento. Falaremos a seguir dos principais tipos: Marcha ceifante ou hemiplégica É típica de pacientes que sofreram aci- dente vascular cerebral ou encefálico (AVC ou AVE), com lesão do trato pira- midal. Desse modo, ocorre elevação do tônus muscular do lado contralateral ao parênquima acometido, de modo que o membro inferior desse paciente se en- contra esticado e rígido, enquanto que no membro superior, ocorre rigidez e flexão do cotovelo, causando a dificul- dade típica de andar. Marcha Parkinsoniana Nesse caso, observa-se o paciente se locomover de maneira extremamente rígida, sendo muito clara a dificuldade do paciente em iniciar qualquer mo- vimento. Logo, são observados pas- sos curtos, sem o deambular livre dos membros, havendo também um modo característico de mudar a sua direção, conhecido como “virar em bloco”. Marcha cerebelar Dada a função do cerebelo para a es- tabilização dos movimentos, bem como para o equilíbrio, pacientes que apre- sentam marcha cerebelar deambulam sem nenhum equilíbrio, não conseguin- do percorrer um caminho em linha reta ou de modo mais ordenado. Justamen- te por isso, a marcha cerebelar pode ser chamada também como “marcha ebriosa” ou “marcha ébria”, que se refe- re ao modo de andar dos bêbados. Marcha escarvante Característica de uma lesão na qual o paciente não consegue realizar a dor- siflexão plantar, fazendo com que ele compense andando com o joelho muito alto a fim de que não caia. Marcha anserina Característica da fraqueza de muscula- tura pélvica, de modo que o equilíbrio fí- sico da marcha é obtido ao jogar o peso na perna apoiada no chão. Pacientes com essa marcha, possuem base de deambulação muito alargada, com hi- perextensão da lordose raquidiana, ge- rando uma hiperlordose. SE LIGA! Para ver exemplos sobre as marchas, dê uma olhada nos vídeos da aula sobre o exame neurológico! 9EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO MAPA MENTAL: AVALIAÇÃO DA MARCHA Parkinsoniana MARCHA Escarvante Hemiplégica Cerebelar Anserina Lesão piramidal AVC Elevação do tônus muscular contralateral Joelho alto ao andar Incapacidade de realizar a dorsiflexão plantar Fraqueza da musculatura pélvica Base alargada Falta de equilíbrio Marcha ebriosa Rigidez para locomoção Virar em bloco Passos curtos 10EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO 4. EXAME DA MOTRICIDADE Manobras resistivas Pede-se para o paciente fletir o ante- braço, com a mão próxima ao ombro. Apoia-se o cotovelo do paciente com a mão e segura-se o punho do pa- ciente, pedindo para que ele faça for- ça contra a mão colocada no punho. Repete-se no outro membro. Figura 6. Teste da flexão do antebraço. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. Com o paciente na mesma posição, apoia-se o braço do paciente poste- riormente com a mão e coloca-se a outra contra a mão fechada em punho do paciente. Então, pede-se para que ele faça força contra a mão colocada como obstáculo. Repete-se no outro membro. Figura 7. Teste da extensão do antebraço. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. 11EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Pede-se para o paciente fechar as mãos e colocar o punho para cima. Com uma das mãos apoiada no antebraço do paciente, testa-se a for- ça muscular contra resistência com a outra mão. Figura 8. Teste da extensão na altura do punho. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. Pede-se para o paciente deixar as mãos “em garra”, pedindo para ele puxar os dedos em sua direção enquanto é feita resistência com uma mão e com a outra, apoia-se o punho. Repete-se o movimento. Figura 9. Teste da preensão palmar. Fonte: Porto, Semiologia Médica, Guanabara Koogan. Com o paciente sentado, pede-se coloca-se a mão em uma das coxas do paciente e pede-se para que ele faça a flexão da coxa contra resistên- cia. Repete-se o movimento no outro membro. 12EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Com uma mão apoiando o joelho do paciente, pede-se para que ele “chute para frente” contra resistência imposta pela outra mão no tornozelo. Repete- -se a manobra no outro membro. Figura 10. Teste da flexão do quadril. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. Figura 11: Teste da extensão do joelho. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. Com uma mão apoiando o joelho do paciente, coloca-se a outra distal- mente na parte posterior da perna do paciente e pede-se para que ele “puxe para trás”. 13EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Apoiando o tornozelo do paciente com uma mão, pede-se para que ele faça a dorsiflexão do pé contra resistência imposta pela outra mão, colocada no dorso do pé. Repete-se a manobra no outro membro. Figura 12. Teste da flexão do joelho. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. Figura 13. Teste da dorsiflexão do pé. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. Com o mesmo apoio no tornozelo, coloca-se a outra mão como resis- tência na planta do pé do paciente e pede-se para que ele “pise” na mão colocada. Repete-se a manobra no outro membro. 14EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Manobras deficitárias Pede-se para o paciente estender os membros superiores para frente, com a mão supinada, pedindo para que ele permaneça assim por dez segundos. Figura 14. Teste da flexão plantar. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. Figura 15. Prova dos braços estendidos. Fonte: Porto, Semiologia Médica, Guanabara Koogan. 15EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Com o paciente em decúbito dor- sal, pede-se para que ele flexione o quadril e o joelho. Auxilie-o para que mantenha os membros inferiores sus- pensos com as coxas e as pernas em um ângulo reto por cinco segundos. O paciente não pode juntar as pernas ou as coxas, nem apoiar uma sobre a outra. Figura 16. Prova de Mingazzini. Fonte: Porto, Semiologia Médica, Guanabara Koogan. O tônus muscular é verificado da seguinte maneira: examinam-se os membros superiores e inferiores do paciente, sendo que esses últimos devem ser examinados com o pa- ciente em decúbito. Pede-se para que o paciente relaxe e examinam- -se as articulações, verificando a in- tegridade do tônus, pelo estado de contração da musculatura, se há tre- mores, fasciculações, rigidez etc. A inspeção da musculatura com tônus diminuído pode revelar achatamento,situação essa na qual você observará o lugar da musculatura e haverá uma sensação de que há mais pele do que músculo. Na palpação, você pode- rá sentir a consistência da contração muscular, lembrando que quando há lesões de etiologia central, o tônus tende a estar aumentado. Enquanto isso, lesões periféricas, o tônus tende a estar diminuído. Ao observamos hipertonia, quando essa é de origem piramidal, geral- mente o paciente apresenta espas- ticidade, como na postura de Wer- nicke-Mann, comum em pacientes que sofreram AVC, gerando uma hi- pertonia eletiva de extensores nos 16EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO membros inferiores e de flexores nos membros superiores. Ao mesmo tem- po, essa hipertonia é elástica, sendo que ao vencer a rigidez do músculo com a força de terceiros, quando o estímulo cessa, o membro tende a voltar para a posição inicial. Figura 17. Postura de Wernicke-Man. Fonte: Porto, Semiologia Médica, Guanabara Koogan. Quando a hipertonia é de origem ex- trapiramidal, a principal característi- ca observada é a rigidez não eletiva e aplástica, na qual se observa uma certa decomposição dos movimentos realizados pelo membro, gerando o sinal da roda denteada. 17EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Uma vez que já examinamos os mús- culos e a sua força, precisamos saber graduá-los e para tal, temos como base a tabela a seguir: Figura 18. Sinal da roda denteada. Fonte: Sanarflix. GRAU 0 Ausência de qualquer contração muscular visível I Contração visível de um grupo muscular, mas sem movimento do segmento observado II Contração muscular visível com movimentação do membro ou do segmento avaliado apenas na horizontal, sem vencer a gravidade III Contração muscular que permite ao membro ou ao segmento estudado vencer a gravidade, mas não à resistência mínima imposta IV O segmento ou o membro avaliado vence a gravidade e alguma resistência V Força muscular normal Tabela 1. Graduação de força muscular. 18EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO 5. PROVAS CEREBELARES Na avaliação da coordenação, tes- ta-se o cerebelo. Por meio dos tes- tes, podemos avaliar o grau de fun- cionamento do cerebelo, bem como, quando na presença de lesões, o lado acometido e a porção cerebelar acometida. A propriocepção pode ser examinada conjuntamente nesses casos, bastando pedir que o paciente realize as manobras com os olhos fe- chados. Desse modo, tem-se que, no caso em que ele não consiga realizar adequadamente determinado teste com os olhos fechados, mas consiga MAPA MENTAL: EXAME DA MOTRICIDADE Manobras resistivas MOTRICIDADE Testar a força dos músculos em contração Testam-se os membros superiores e inferiores Contra resistência Contração muscular contra a gravidade Testam-se os membros superiores e inferiores Manobras deficitárias 19EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO com esses abertos, o déficit do pa- ciente se encontra na propriocepção, enquanto que quando da presença de lesões cerebelares, o paciente não conseguirá realizar os testes de modo adequado de forma alguma. HORA DA REVISÃO! Para falarmos sobre o exame cerebelar, é importante fazermos uma breve revisão sobre as partes do cerebelo e suas respectivas funções, como veremos a seguir: • Vestibulocerebelo: constituído pelo lóbulo flóculo-nodular, atua no controle do equilí- brio e da movimentação ocular. • Espinocerebelo: formado pelo vérmis e pela zona intermediária, atua no controle da musculatura axial (postura e locomoção) e proximal dos membros. • Cerebrocerebelo: formado pelas partes laterais dos hemisférios cerebelares, sen- do responsável pelo planejamento e controle de movimentos ágeis e precisos das extremidades. Manobra índex-nariz Pede-se para o paciente abrir os braços e colocar a ponta de cada dedo na pon- ta do nariz de maneira alternada. Figura 21. Manobra índex-nariz. Fonte: Porto, Semiologia Médica, Guanabara Koogan. SE LIGA! Uma variação dessa manobra seria a denominada índex-índex, na qual o exami- nador pede para que o paciente toque a ponta do seu dedo com o indicador, alterando os lugares, a fim de testar a coordenação do paciente. 20EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Manobra calcanhar joelho Com o paciente em decúbito dor- sal, pede-se para que ele coloque o calcanhar no joelho contralateral e que o escorregue pela perna, repetin- do o movimento no lado oposto. Figura 22. Manobra calcanhar joelho. Fonte: Porto, Semiologia Médica, Guanabara Koogan. SE LIGA! Diferente do que vemos no telencéfalo, no qual as alterações em relação aos tratos motores e sensitivos se manifestam do lado oposto ao da lesão, no cerebelo as alterações observadas são ipsilaterais. SAIBA MAIS! Índex-índex, índex-nariz, calcanhar-joelho, índex-dedo do examinador: avaliam alterações como dissinergia (decomposição do movimento, com a execução de determinado ato de ma- neira espasmódica, errática, desajeitada e desorganizada), dismetria (erros no julgamento de distância, velocidade, alvo força e direção do movimento) e tremor do tipo intencional (ati- vo, cinético ou terminal). Nele, avalia-se principalmente o comprometimento da musculatura apendicular relacionado aos hemisférios cerebelares. Uma outra parte da coordenação consiste na capacidade de realização de movimentos rápidos, chamada de diadococinesia. Para testá-la, exis- tem duas manobras mais consagra- das para tal: você pode pedir para que o paciente repouse a palma das mãos nobre a coxa ou sobre uma mesa e que alterne a palma com o dorso re- petidamente, o mais rápido que ele conseguir. Uma lentidão exacerbada ou incapacidade de realizar o movi- mento, bem como uma clara decom- posição dos movimentos realizados, pode revelar o comprometimento dessa capacidade. Ela também pode 21EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO ser testada ao pedir que o paciente realize o movimento de pinça do po- legar com o indicador e alterne esse movimento de pinça com todos os dedos junto ao polegar, sendo que o comprometimento dessa habilidade revelará lentidão ou mesmo a inca- pacidade para a realização do movi- mento. Uma vez avaliada essa função, quando ela estiver preservada, classi- ficamos como eudiadococinesia, en- quanto que o comprometimento des- sa se denomina disdiadococinesia. Quando essa capacidade não está apenas comprometida, mas comple- tamente ausente, denominamos esse estado de adiadococinesia. Figura 23. Teste da diadococinesia. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. 22EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO MAPA MENTAL: PROVAS CEREBELARES Coordenação motora CEREBELO Diadococinesia Movimentos rápidos Manobra índex-índex Manobra índex-nariz Manobra calcanhar joelho Adiadococinesia Disdiadococinesia Eudiadococinesia 23EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO 6. REFLEXOS Os reflexos consistem em respostas musculares involuntárias desenca- deadas por determinado estímulo de maneira estereotipada, de modo que o mesmo estímulo desencadeia sem- pre a mesma resposta. Os reflexos, às vezes, podem ser suprimidos por uma ação voluntária. Diante disso, deve-se estar atento aos seguintes fatores: • Presença ou ausência do reflexo; • Simetria entre os lados; • Aumento da área reflexógena; • Velocidade e amplitude da resposta. Os reflexos superficiais ou cutâneos são obtidos por meio da estimulação da pele ou de mucosas. A sua presen- ça ajuda a diferenciar reflexos fisiológi- cos dos patológicos. Os reflexos superficiais mais comuns são: • Abdominal superior (T7-T10) e in- ferior (T10 segmentos lombares); • Cremastérico: nervos ilioinguinal e genitofemoral (L1-L2); • Reflexo cutâneo plantar: nervo tibial (L4-S2); • Reflexo anal superficial: nervo pu- dendo (S2-S5). No caso da estimulação do reflexo cutâ- neo plantar, deve-se estimular suave- mente a borda lateral do pé com uma borda romba (geralmente com o fundo do próprio martelo), em direção à base dos dedos, especialmente para a base do hálux em um movimento contínuo sem, no entanto, tocá-lo. A resposta inicial deve ser valorizada, seja de fle- xão (fisiológica) ou de extensão(pato- lógica) referente ao sinal de Babinski. Figura 25. Reflexo cutâneo plantar e sinal de Babinski. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. 24EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO SE LIGA! Tome muito cuidado com a denominação dos achados e com o registro. É muito comum ouvirmos por aí as pessoas dizendo ou escrevendo “Paciente possui Babinski nega- tivo” ou “Paciente tem Babinski positivo”. Essa denominação é errônea, uma vez que o sinal de Babinski se caracteriza pela presença da extensão do hálux quando efetuada estimulação cutânea plantar. Desse modo, quando testamos esse reflexo, estamos avaliando o reflexo cutâneo plantar, e não o sinal de Babinski. Caso o paciente tenha uma manifestação patoló- gica de liberação piramidal, aí podemos dizer, por exemplo: “O reflexo cutâneo plantar revelou sinal de Babinski”. SAIBA MAIS! A síndrome de liberação piramidal é caracterizada pela exacerbação dos reflexos superficiais fisiológicos e pelo surgimento de reflexos patológicos, além da presença de hipertonia e es- pasticidade, podendo frequentemente estar associada ao déficit de força. São sinais de libe- ração piramidal: Babinski, Chaddock (estimulação da face lateral do pé), Gordon (compressão do tendão calcâneo) e Oppenheim (fricção do compartimento anterior, na tíbia). Apresentaremos a seguir mais alguns testes que podem ser prova de libe- ração piramidal: Reflexo flexor dos dedos de Hoffman Sinal de liberação piramidal desen- cadeado por pinçamento da falange distal do dedo médio, que é submeti- da à súbita flexão por pressão sobre a unha, levando à flexão dos dedos. Figura 26. Reflexo flexor dos dedos de Hoffman. Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. 25EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Reflexo flexor dos dedos de Wartenberg Pode ser observado em pesso- as normais, mas é exacerbado na síndrome de liberação piramidal. É desencadeado pela percussão dos dedos da mão do observador sobre os dedos do paciente, com a mão em supinação, desencadeando a flexão dos dedos. Figura 27. Reflexo flexor dos dedos de Wartenberg Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. SE LIGA! Reflexos axiais da face (glabe- lar, orbicular dos lábios, mandibular ou massetérico): estão exacerbados e ines- gotáveis em comprometimentos ence- fálicos difusos ou piramidais. O reflexo cutâneo abdominal pode ser avaliado utilizando-se a ponta rom- ba do martelo, estimulando a região periférica do abdome até a linha mé- dia. Diante desse estímulo, espera-se que haja uma contração unilateral, no lado estimulado, havendo desvio da cicatriz umbilical para o hemicorpo estimulado. A ausência dessa reação pode ser oriunda de danos no arco reflexo ou em vias piramidais, mas deve-se tomar cuidado com fatores que podem comprometer esse teste, como no caso de pacientes obesos que podem ter perda da sensibilidade reflexiva dessa região. 26EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Os reflexos profundos ou miotendi- nosos mais comumente pesquisados são: • Bíceps: C5-C6 nervo musculocutâneo; • Tríceps: C7 nervo radial; • Braquiorradial: C5-C6 nervo radial; • Quadríceps (patelar): L3-L5 nervo femoral; • Aquiliano: S1 nervo ciático. Antes de realizar os testes dos refle- xos, deve-se tomar alguns cuidados, como garantir que o paciente não esteja contraindo a musculatura alvo, garantindo o relaxamento desse. Do mesmo modo, garanta que você está realizando uma técnica adequada ao buscar o reflexo, uma vez que alguns deles são sutis, podendo levar a uma falsa impressão de hiporreflexia ou de arreflexia em decorrência de uma téc- nica deficitária do examinador. Dito isso, vamos aos principais reflexos a serem buscados: • Bicipital (C5, C6 nervo musculo- cutâneo): coloca-se o polegar no tendão do bíceps e bate-se como o martelo neurológico sobre o pole- gar, sendo observada a contração do bíceps diante desse estímulo. Figura 28. Reflexo cutâneo abdominal. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. 27EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO • Tricipital (C7 nervo radial): o martelo é batido no tendão do trí- ceps, com o membro superior sen- do segurando pelo examinador pelo braço, deixando o membro todo relaxado. Quando estimula- do, observa-se a extensão do co- tovelo, com o antebraço realizando um movimento semelhante a um pêndulo. Figura 29. Reflexo bicipital. Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. Figura 30. Reflexo tricipital. Fonte: Porto & Porto, Semiologia Médica, Guanabara Koogan. 28EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO • Braquiorradial (C5, C6 nervo radial): o martelo percute a re- gião do músculo braquiorradial, sendo observada uma leve flexão do punho. Figura 31. Reflexo braquiorradial. Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. • Patelar (L3, L4 nervo femoral): percute-se a região patelar, po- dendo-se pedir para que o pacien- te flexione as falanges dos dedos da mão, encaixe uma na outra e puxe para distraí-lo, de modo a obter um resultado mais fidedigno. Quando do estímulo, o que ocorre é uma extensão da coxa. 29EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO • Aquiliano (S1 nervo isquiáti- co): apoia-se a planta do pé com uma mão, garantindo uma leve dorsiflexão, e com a outra, percu- te-se com o martelo a região do tendão do tríceps sural (tendão de aquiles). Figura 32. Reflexo patelar. Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. Figura 33. Reflexo aquiliano. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. 30EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO SE LIGA! Em síndromes do neurô- nio superior, observam-se os reflexos aumentados. O clônus consiste na distensão pas- siva e brusca de um tendão provocan- do uma série de contrações clônicas, rítmicas e involuntárias no respectivo músculo, com duração variável e até inesgotáveis. Está mais relaciona- do à liberação piramidal, sendo o clônus do pé mais facilmente obtido. O flapping consiste no desencadea- mento de movimentos involuntários quando distensão brusca das mãos, sendo associado geralmente à ence- falopatia hepática. Figura 34. Clônus e flapping. Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer; Sanarflix. Igualmente à força muscular, os refle- xos podem ser graduados em: • 0 (abolido ou ausente); • +1 ou (-) (hipoativo); • +2 ou (+) (normoativo); • +3 ou (++) (vivo ou hiperativo, com área reflexógena aumentada); • +4 ou (+++) (exaltado). 31EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO MAPA MENTAL: REFLEXOS Superficiais REFLEXOS Profundo Cutâneo plantar Cutâneo abdominal Babinski Liberação piramidal Miotendinosos Clônus/flapping Aquileu Patelar Bicipital Tricipital Braquiorradial 32EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO 7. SENSIBILIDADE O sistema sensorial pode ser dividido em somatossensitivo, visceral e sen- tidos especiais (visão, audição, olfa- to, paladar e vestibular). A avaliação do sistema somatossensitivo é muito subjetiva, devendo-se explicar bem ao paciente sobre o teste que será submetido, de modo a evitar erros de julgamento. No exame da sensibilida- de testam-se as vias da sensibilidade superficial e da sensibilidade profun- da quando falamos de sensibilidade objetiva geral. SE LIGA! É importante que você tenha em mente que se deve fazer a compara- ção com a região contralateral a fim de verificar a presença de gradientes (como distal para proximal) ou segmentos es- pecíficos de nervos, raízes, plexo ou nível sensitivo relacionado aos dermátomos. Sensibilidade superficial se divide nas percepções táteis, térmicas e doloro- sas. Para testar a sensibilidade tátil utiliza-se uma gaze, enquanto que uma espátula é utilizada para se tes- tar a sensibilidade dolorosa. Pede-se para que o paciente feche os olhos, utilizando a gaze para tocá-lo, ques- tionando sobre a sensação, o lado e se a sensibilidade é igual em ambos os lados. Deve-se lembrar de testar a face, também. O mesmo é feito com a espátula, devendo ser investigado os dermátomos do paciente, averi- guando se há diminuição da sensibi-lidade a partir de determinado ponto, quando se investiga a região torácica, por exemplo. A sensibilidade térmi- ca pode ser investigada a partir com frascos de água fria e quente, mas tome cuidado para não expor o pa- ciente a uma fonte de calor muito in- tensa. Igualmente aos testes anterio- res, investigam-se regiões do corpo e questiona-se o paciente sobre a sen- sação de “frio” ou “quente” em relação a cada uma das fontes, o lado sentido e se há diferença em comparação ao hemicorpo. A posição segmentar (propriocep- ção) pode ser avaliada nas articula- ções metatarsofalangeana do hálux e metacarpofalangeana do polegar. O paciente deve estar tranquilo, com a musculatura relaxada e os olhos fechados. Segura-se a porção late- ral dos dedos e realiza-se movimen- tos passivos para cima e para baixo, sendo que o paciente deve indicar a posição da articulação quando ques- tionado. A perda de sensibilidade de posição corpórea pode dar origem a movimentos pseudoatetóticos (inco- ordenados sem propósito), principal- mente ao fechar os olhos. 33EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Quando falamos em sensibilidade objetiva geral profunda, abordamos as sensibilidades vibratória, de pres- são, cinético-postural e dolorosa. A sensibilidade vibratória é testada com um diapasão, colocando-o já vibran- do em proeminências ósseas do pa- ciente, verificando se ele está sentin- do o estímulo ou não. Figura 36. Teste da propriocepção. Fonte: Porto & Porto, Semiologia Médica, Guanabara Koogan. Figura 37. Teste da sensibilidade vibratória. Fonte: Porto & Porto, Semiologia Médica, Guanabara Koogan. 34EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO SE LIGA! A diminuição da sensibilidade palestésica distal é comum em idosos, podendo ser avaliada pelo tempo em segundos nos quais o indivíduo percebe a vibração, podendo alternar com o dia- pasão sem vibrar. O teste da estereognosia (capacida- de de reconhecer objetos somente pelo tato) pode ser testada colocando um objeto facilmente reconhecível na mão do paciente com esse de olhos fechados, questionado se consegue identificar o objeto. Já a grafestesia (capacidade de reconhecer formas que são feitas por meio do tato) pode ser avaliada por meio de um dese- nho imaginário na superfície cutâneo do paciente (geralmente fazemos um número fácil, como 0 ou 8), de prefe- rência na palma das mãos (sem ris- car a pele do paciente, ok?) e com ele de olhos fechados novamente. Após isso, questiona-se qual número foi feito em sua pele, mas deve-se aten- tar para a escolaridade do paciente também, adaptando o exame para a realidade de cada um. Estereognosia Grafestesia Figura 38. Teste da estereognosia e da grafestesia. Fonte: Sanarflix. Pode-se avaliar também a extinção e negligência, na qual é buscada a ex- tinção de uma modalidade sensorial quando o estímulo é bilateral (respon- sabilidade do lobo parietal). Questio- na-se ao paciente, de olhos fechados, de que lado ele sente o estímulo tátil feito em seu membro superior. Com ele de olhos abertos, questiona-se de que lado ele vê o piscar feito pelos dedos em diferentes alturas. A sensibilidade tátil pode ser gradua- da como: • Anestesia: quando há ausência de sensibilidade. • Hipoestesia: quando a sensibili- dade está diminuída, mas ainda está presente (pode ser avaliada 35EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO quando se faz estímulos bilateral- mente e pede-se para o paciente comparar o quanto sente de cada lado). • Hiperestesia: nesse caso, a sensi- bilidade está muito aumentada. Do mesmo modo, a dor pode ser clas- sificada da seguinte maneira: • Analgesia: quando, mesmo diante de estímulos dolorosos, o paciente não relata dor; • Hipoalgesia: diminuição da sensi- bilidade dolorosa; • Hiperalgesia: nesse caso, o pa- ciente sente mais dor do que o esperado diante de determinado estímulo. SE LIGA! O importante é que você es- creva e descreva tudo aquilo que achar anormal em seu exame, tanto no seu ca- derno de estágio no hospital quanto no prontuário do paciente, a fim de aprimo- rar a sua técnica semiológica e para não deixar passar nenhum possível erro. 36EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO MAPA MENTAL: SENSIBILIDADE SENSIBILIDADESuperficial Profunda Propriocepção Falanges dos dedos e das mãos Estereognosia Grafestesia Vibratória Tátil Térmica Dolorosa Toque Água quente Água fria Espátula Objeto reconhecível Sensibilidade cutânea Diapasão Proeminência óssea Comparativo Comparativo Pelo tato 37EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO 8. NÍVEL DE CONSCIÊNCIA O nível de consciência do paciente pode ser avaliado por meio de estí- mulos e de perguntas realizadas para esse (chamado mini exame do esta- do mental), buscando compreender como o paciente se situa no tempo e no espaço, o quanto está orientado e o quanto compreende a realidade a sua volta, e também como estão suas funções cognitivas. Para isso, pode- mos questionar o seu nome e idade, a data de hoje (dia, mês e ano), bem como o dia da semana. Pode-se per- guntar para o paciente se ele sabe onde está, como o próprio local em si (por exemplo, Hospital Albert Eins- tein), cidade (como São Paulo) e pon- tos próximos (por exemplo, Palácio dos Bandeirantes). O exame mais de- talhado pode ser conferido na tabela a seguir, assim como, nos casos em que se deseja fazer algo mais substancial, a escala de pontos a ser somada para graduar o nível de consciência. Figura 40. Mini exame do estado mental 38EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO SE LIGA! Alguns itens podem variar de acordo com a escolaridade do paciente. Então, fique sempre atento e adapte o seu exame! Outra forma consiste no uso da escala de Glasgow, que avalia abertura ocu- lar (vai de 1 a 4), resposta verbal (de 1 a 5) e resposta motora (de 1 a 6). Alguns locais podem adicionar a rea- tividade pupilar a essa escala. Nesses casos, se ambas as pupilas não forem reativas à luz, subtrai-se 2 pontos do total obtido anteriormente. No caso de somente um olho não reativo, reti- ra-se 1 ponto e, se ambos forem rea- tivos, nenhum. ABERTURA OCULAR RESPOSTA VERBAL RESPOSTA MOTORA Espontânea – 4 pontos Orientado – 5 pontos Obedece a comandos – 6 pontos Ao chamado – 3 pontos Confuso – 4 pontos Localiza estímulos – 5 pontos A pressão – 2 pontos Palavras – 3 pontos Flexão normal – 4 pontos Nenhuma – 1 ponto Sons – 2 pontos Flexão anormal – 3 pontos Não testável - NT Nenhuma – 1 ponto Extensão anormal – 2 pontos Não testável - NT Nenhuma – 1 ponto Não testável - NT Tabela 2. Escala de coma de Glasgow MAPA MENTAL: ESTADO DE CONSCIÊNCIA Abertura ocular CONSCIÊNCIA Resposta verbal Resposta motora 4 pontos 5 pontos 6 pontos Funções cognitivas Situação no tempo e espaço Mini exame do estado mental Escala de Glasgow 39EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO 9. EXAME DOS NERVOS CRANIANOS O exame dos nervos cranianos é de suma importância, uma vez que por meio deles, é possível obter informa- ções sobre o correto funcionamento de diversas áreas do encéfalo, bem como é possível topografar lesões e avaliar o estado de funcionalida- de de áreas encefálicas. Basicamen- te, para avaliar os nervos cranianos, precisamos saber as suas funções e a localização do núcleo responsável pela função que avaliamos. Diante disso, ao expor a técnica semiológi- ca para examinar cada nervo, vamos relembrar rapidamente o nome de cada nervo, suas funções primordiais e a localização de seu núcleo para que você saiba a topografia que está examinando. Nervo olfatório O nervo olfatório consiste em uma extensão telencefálica, responsável pela percepção de odores. Para exa- miná-lo, pede-se para que o pacien- te feche os olhos para que não veja o que estará cheirando. Escolhem-se dois frascos com substâncias de odor facilmente reconhecível, sendo um para cada narina, mas que não sejam irritantes para a mucosa nasal (geral- mente não utilizados café e canela). Então, com o paciente com os olhos fechados, pede-se para que ele feche uma narina com a mão e tente cheirar um dos frascoscom a que ficou aber- ta, verificando-se que ele reconhece o cheiro do que lhe foi apresentado. SE LIGA! É importante que você exclua outras causas pelas quais o paciente pode não estar reconhecendo odores, como obstruções nasais, falhas de co- municação etc. Uma vez realizado o exame de modo correto, temos os possíveis achados que podem ser observados: • Anosmia: incapacidade de sentir cheiros. • Hiposmia: capacidade de sentir cheiros preservada, mas diminuída. • Parosmia: perversão do olfato. • Alucinações olfatórias: na ausên- cia de estímulo olfativo, o paciente sente algum odor. • Cacosmia: percepção de maus odores mesmo diante de estímu- los que não deveriam despertar tal sensação. SE LIGA! Alterações olfativas podem ser decorrentes de crises epilépticas, como crises de ausência, mas sempre devemos afastar primeiramente hipóte- ses mais comuns. 40EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Nervo óptico O nervo óptico consiste em uma pro- jeção diencefálica, responsável por transmitir os impulsos luminosos transformados em elétricos até a área visual primária, situada nos lábios da fissura calcarina. A acuidade visual consiste em um dos pontos a serem verificados na avalia- ção desse nervo, sendo que existem diversos achados possíveis quando da realização do exame, como am- bliopia (diminuição da acuidade visu- al) e amaurose (cegueira completa). Tais alterações podem ser decorren- tes de hipertensão intracraniana, tu- mores, neurites ópticas etc. A campimetria visual pode ser rea- lizada da seguinte forma: pede-se para o paciente olhar para o nariz do examinador. Esse questiona o pa- ciente sobre os números que faz com as mãos em cada lado e em diferente alturas. Questiona-se também sobre qual mão realiza movimento, a fim de avaliar possíveis quadros de negli- gência. Pode-se prosseguir a avalia- ção pedindo para que o paciente tape um dos olhos, sendo que a partir daí o examinador prosseguirá a avalia- ção averiguando os campos visuais nasais (mediais, próximos do nariz) e os temporais (laterais, próximos das têmporas). Figura 43. Campimetria visual. Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. 41EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO É importante deixar claro que falamos de campos visuais e não de retina, uma vez que essa irá receber os estí- mulos luminosos refletidos de manei- ra distinta, sendo que a luz advinda do lado direito, por exemplo, irá atingir a retina nasal direita e a retina tem- poral esquerda, conforme o esquema que você verá a seguir: Figura 44. Exemplificação da via visual e dos seus acometimentos (Neuroanatomia aplicada, Guanabara Koogan. Outra forma de avaliação do nervo óptico consiste na fundoscopia, que consiste em um exame relativamen- te trabalhoso de ser feito, mas muito importante. Cabe ressaltar aqui que você não precisar ser nenhum exímio examinador de fundo de olho, mas é necessário que você saiba reconhecer padrões patológicos básicos, avalian- do a presença ou ausência de hemor- ragia nos vasos arteriais e venosos. Deve-se avaliar o disco óptico e a mácula, verificando se ambas estão íntegras, buscando por anomalias, exsudatos, hemorragias etc. 42EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Figura 45. Exemplo de fundoscopia normal. Fonte: Sanarflix. Figura 46. Exemplo de papiledema. Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. 43EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Nervos oculomotor, troclear e abducente Os nervos III, IV e VI são examinados em conjunto porque suas funções são simultâneas, já que esses ner- vos estão envolvidos na motilidade ocular, já que inervam a musculatura ocular extrínseca. O nervo oculomo- tor inerva os músculos retos superior, inferior, medial e oblíquo inferior, sen- do responsável por boa parte da mo- tilidade ocular. O nervo troclear atua inervando o músculo oblíquo supe- rior, responsável por girar o olho para baixo. Já o nervo abducente inerva o reto lateral, responsável pela abdução do olho (daí o seu nome). Para testar esses nervos, faz sentido que avaliemos a mobilidade ocular. Para isso, pede-se para que o pa- ciente olhe para a ponta do seu dedo e que a acompanhe. Então, deve-se movimentar a ponta do dedo a fim de propiciar a avaliação de todas as formas de movimentação do olho, abrangendo os três nervos responsá- veis por ela. Abaixo, tem-se um pos- sível guia com as direções, juntamen- te com os músculos que atuam nessa movimentação: SAIBA MAIS! Você pode conferir esse vídeo (em inglês) que exemplifica uma avaliação completa da visão por meio do seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=IwBEjEbU-Yw&t=56s Figura 47. Exame da movimentação ocular. Fonte: Guia de medicina ambulatorial – Neurologia, UNIFESP. 44EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO SE LIGA! IMPORTANTE! Deve-se fa- zer a avaliação do olhar conjugado e de cada olho individualmente. Alterações podem ocorrer por comprometimento isolado de cada nervo ou do controle do olhar conjugado. As possíveis alterações que podem aparecer diante desse exame são: • Estrabismo: ocorre quando al- gum dos nervos está lesionado, de modo a evidenciar uma falta de compensação de seu antagonista. Por exemplo: se o nervo abducente estiver lesionado, o reto lateral não estará funcionado, mas o medial sim. Logo, diante da falta de con- tração do primeiro, o olho do pa- ciente estará voltado medialmente. Figura 48. Estrabismo. Fonte: Sanarflix. • Diplopia: uma vez que o olhar con- jugado esteja prejudicado, faz sen- tido que o paciente não consiga fa- zer com que seus globos oculares estejam direcionados para o mes- mo ponto. Logo, nesse caso, passa a aparecer uma visão duplicada. • Ptose: pálpebra abaixada, sem responder a estímulos para abrir. • Nistagmo: não necessariamen- te está relacionado a problemas da musculatura ocular extrínseca, mas se caracteriza por movimen- tos rápidos do olho diante do di- recionamento do olhar para certo ponto. 45EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Algumas patologias das quais vocês podem ouvir falar são: • Oftalmoparesia internuclear: con- siste no comprometimento do fascículo longitudinal medial, ca- racterizado por dificuldade ou in- capacidade de adução do olho ip- silateral à lesão e nistagmo do olho contralateral em abdução. A con- vergência do olhar normalmente está preservada. • Síndrome do um e meio (Fischer): consiste no comprometimento do fascículo longitudinal medial e for- mação reticular paramediana pon- tina ipsilateral nas lesões pontinas inferiores. Um olho está com o olhar horizontal totalmente comprome- tido, enquanto que o outro conse- gue realizar apenas movimento de abdução, com nistagmo na direção da abdução. • Síndrome de Parinaud: ocorre de- vido ao comprometimento do me- sencéfalo dorsal do mecanismo supranuclear no olhar para cima. Ocorre dificuldade de olhar para cima e de acomodação visual, com retração palpebral e pupilas fixas. • Síndrome do seio cavernoso: com- prometimento do III, IV e VI nervos e do ramo oftálmico do nervo tri- gêmeo, lembrando que a artéria carótida interna também passa através do seio cavernoso. Já a motilidade intrínseca do olho pode ser avaliada por meio da contração pupilar, ação essa que necessita da plena integridade dos tratos nervosos que desencadeiam o reflexo pupilar. 46EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Comissura posterior Corpo geniculado lateral Mesencéfalo Trato óptico Quiasma óptico Nervos ciliares curtos Esfíncter pupilar Nervos ópticos Aferência pupilar Gânglio ciliar Nervo oculomotor Núcleo de Edinger- Westphal Figura 49. Esquema do reflexo pupilar. Fonte: DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. O reflexo fotomotor tem como via aferente o II nervo e como eferente, o III nervo. O estímulo luminoso direto leva a uma constrição pupilar (mio- se), tanto no olho estimulado (direto) quanto no contralateral (indireto ou consensual). No caso de um compro- metimento do nervo óptico, o estímu- lo luminoso direto não causa constri- ção pupilar diretae nem consensual. Apesar disso, a pupila referente ao nervo afetado responde ao reflexo consensual por estímulo luminoso contralateral. A técnica básica para realizar esse exame consiste na aproximação da luz do olho do paciente, preferindo-se vir lateralmente, a fim de propiciar uma visão melhor do evento. Observa-se 47EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO a contração da pupila estimulada e da contralateral. SE LIGA! Quando o III nervo está lesio- nado, a resposta pupilar é ausente tanto no estímulo direto quanto no consensual. SE LIGA! Como o componente paras- simpático do nervo oculomotor (núcleo de Edinger-Westphal) se encontra no mesencéfalo, a realização desse exame consiste em uma boa técnica para ava- liar a integridade dessa porção do tronco encefálico. Ao realizar o exame e testar o reflexo pupilar, podemos ter achados como os que descreveremos e ilustraremos a seguir: • Pupilas normais (circulares, cen- tradas e com diâmetros normais); • Anisocoria (pupilas com tamanhos diferentes) com miose à direita; • Isocoria e midríase ou miose bilateral; • Discoria (alteração do formato da pupila). Pupilas normais (circulares, centradas e diâmetros normais Anisocoria com miose à direita Isocoria e midríase bilateral Discoria à esquerda Figura 50. Alterações pupilares. Fonte: Sanarflix. 48EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Nervo trigêmeo O nervo trigêmeo possui uma raiz motora localizada na ponte, relacio- nada à musculatura mastigatória e outra sensitiva, que se localiza na ponte e no núcleo do trato espinal até a medula na região cervical superior, subdividida em três ramos (V1, V2 e V3). A porção sensitiva é responsável por toda a sensibilidade somatossen- sitiva da face e da cavidade oral, in- clusive da língua. Para testar a porção motora do ner- vo trigêmeo, pode-se avaliar as fun- ções dos músculos da mastigação, solicitando ao paciente que lateralize sua mandíbula, de modo a podermos examinar a motilidade. Também po- de-se pedir para que o paciente feche a boca com força, sendo que o exami- nador pode apalpar a sua mandíbula verificando a contração do masseter e do músculo temporal. Figura 51. Possíveis achados dos reflexos pupilares (adaptado de DeJong’s the neurologic examination, Wolters Kluwer. Figura 52. Avaliação do componente motor do nervo trigêmeo. Fonte: Bates, Propedêutica Médica. Guanabara Koogan. 49EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Como já mencionado, a principal fun- ção do nervo trigêmeo consiste na sensibilidade da face, dada por meio dos seus três ramos: oftálmico (V1), maxilar (V2) e mandibular (V3). Você pode verificar a abrangência da iner- vação de cada um desses ramos pela ilustração a seguir: Figura 53. Inervação trigeminal sensitiva. Fonte: Sanarflix. Para testar esse componente, basta tocar cada uma das regiões inerva- das pelos ramos trigeminais, sempre comparando uma hemiface com a ou- tra, verificando se o paciente percebe diferenças quanto à sensibilidade. 50EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO O reflexo corneano também é de responsabilidade do nervo trigêmeo e é desencadeado pelo leve toque na córnea, na porção mais lateral, com algodão ou gaze estéril, originando um reflexo de piscamento (aferência de V1 e eferência do VII nervo). Figura 54. Exame do componente trigeminal sensitivo. Fonte: Bates, Propedêutica Médica. Guanabara Koogan. Figura 55. Reflexo corneano. Fonte: Bates, Propedêutica Médica. Guanabara Koogan. 51EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Nervo facial O nervo facial consiste em um nervo majoritariamente motor, com núcleo localizado na ponte, inervando a mus- culatura da mímica facial, bem como músculos do couro cabeludo, estapé- dio, platisma etc. Também inerva as glândulas salivares submandibular e sublingual, bem como a glândula la- crimal, sendo também responsável pelo paladar dos dois terços anterio- res da língua. Para avaliar a mímica facial, pode-se solicitar ao paciente para que faça caretas, movimentando os diversos músculos que movimentam a face, como enrugar a testa, franzir os su- percílios, cerrar as pálpebras, mostrar os dentes, inflar a boca, contrair o pla- tisma etc. Deve-se observar se há si- metria entre os lados da face, se há apagamento dos sulcos nasolabiais apenas (sugere comprometimento supranuclear central) ou associação às rugas da região frontal (compro- metimento periférico). Lembre-se de examinar a motricidade do andar superior e inferior da face, a fim de permitir diferenciar o tipo de acome- timento do nervo, se central ou peri- férica, como mostra a imagem. Nesse caso, devemos lembrar que lesões supranucleares (corticais) cursam com paralisia de apenas um quadran- te facial, enquanto lesões periféricas cursam com paralisia de uma hemifa- ce completa. Figura 56. Exame da mímica facial. Fonte: Bates, Propedêutica Médica. Guanabara Koogan. 52EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Observar a fissura palpebral, que está alargada no comprometimento peri- férico do nervo, com sinal de Bell, na tentativa de fechamento do olho, com desvio do globo ocular para cima. Pode-se avaliar a sensibilidade gus- tativa com açúcar ou sal, colocando- -se essas substâncias nos dois terços anteriores da língua do paciente com esse de olhos fechados, questionan- do-se o que foi colocado em sua lín- gua, comparando os lados, a fim de verificar possíveis alterações. Nervo vestibulococlear A parte coclear do VIII nervo possui relação com a acuidade auditiva, que pode ser verificada ao se observar se o paciente simplesmente escuta ade- quadamente, se há queixas ou regis- tro de surdez ou de perda progressi- va da audição. Após isso, devemos verificar a condução sonora, pela via aérea e pela via óssea. Para isso, re- corremos ao Teste de Weber no qual coloca-se um diapasão vibrando no ápice da cabeça, na linha média, sen- do que, em geral, o som se propaga igualmente para os dois ouvidos. Na alteração de condução, o som é bem mais ouvido no lado acometido, en- quanto que na neurossensorial, é no lado normal. Lesão supranuclearLesão do nervo facial Lesão supranuclear Nervo facial Lesão no nervo facial Lesão do nervo facial Figura 57. Tipos de paralisia facial. Fonte: Sanarflix. 53EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO O Teste de Rinne consiste em co- locar o diapasão vibrando sobre a mastoide e, posteriormente, junto ao ouvido. Solicita-se ao paciente para falar imediatamente quando parar de ouvir o som na mastoide e se ainda continua ouvindo-o junto ao ouvido. Normalmente, a condução aérea é melhor do que a condução óssea. Quando a condução óssea é melhor do que a aérea, o teste é considerado negativo e refere-se a perda de acui- dade auditiva condutiva. Figura 58. Teste de Weber. Fonte: Sanarflix. Figura 59. Teste de Rinne. Fonte: Sanarflix. 54EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO A porção vestibular está relacionada ao equilíbrio. Essa função pode ser testada pela avaliação da marcha já citada anteriormente, mas pode-se pedir para que ele ande em linha reta e volte até você. Outra manobra con- siste no Teste de Romberg, no qual se pede para o paciente em pé unir os dois pés, relaxar os braços e fechar os olhos. Então, observa-se a estabi- lidade postural do paciente, avaliando se ele pende para algum lado. É im- portante se lembrar de resguardar o paciente com os braços caso ele ceda o equilíbrio. O lado para o qual o pa- ciente pode pender consiste no lado cujo vestíbulo está acometido. Figura 60. Teste de Romberg. Fonte: Sanarflix. 55EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Outro teste a ser realizado consiste na verificação do Reflexo oculocefá- lico no qual em um paciente em coma com as vias vestibulares central e pe- riférica intactas, o desvio da cabeça em uma direção provoca a movimen- tação do olhar conjugado no sentido oposto. A sua ausência significa com- prometimento do tronco cerebral. SE LIGA! No caso de neurites do VIII nervo, pode-se ter lesões que se as- semelham a sintomas cerebelares. No caso de nistagmo com tontura, as de- mais provascerebelares sem alterações, suspeita-se da lesão da aferência do si- nal que envia a posição dos olhos para o cerebelo. Nervos glossofaríngeo e vago Esses nervos são estudados em con- junto, pois possuem funções seme- lhantes tanto motoras quanto au- tonômicas. Ambos têm função na musculatura da deglutição e reflexas, como vômito e inervação laríngea, além da inervação vagal cardíaca e da gustação do terço posterior da lín- gua pelo nervo glossofaríngeo. O exame dos IX e X nervos começa pela inspeção, na qual se observa a elevação do véu palatino com a úvu- la centrada em indivíduos normais, mas com fraqueza no véu palatino do lado comprometido e desvio da úvula contralateral. Pilar palatoglosso sem elevação Úvula desviada para a esquerda Figura 61. Inspeção do palato. Fonte: Sanarflix. 56EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO Pode-se escutar a voz do paciente, a qual pode parecer nasalada ou rou- ca (alteração denominada de disfo- nia) por comprometimento do nervo laríngeo recorrente, que é um ramo do nervo vago. Pode ser observado algum distúrbio da deglutição (deno- minado de disfagia), com ênfase para líquidos, com possível regurgitação nasal. Pode-se testar com cuidado o reflexo do vômito, sendo que a ausência ou diminuição desse reflexo é ipsilateral ao lado comprometido. Nervo acessório O nervo acessório possui o seu nú- cleo no bulbo, com raízes na medu- la cervical superior. A sua função é eminentemente motora, inervando o esternocleidomastoideo e a porção superior do trapézio. Avalia-se uma possível fraqueza desses músculos por meio da elevação dos ombros contra resistência e da rotação da ca- beça mediante força contrária. Figura 62. Exame do XI nervo. Fonte: Bates, Propedêutica Médica, Guanabara Koogan. Nervo hipoglosso O nervo hipoglosso consiste em um nervo exclusivamente motor relacio- nado à motricidade da língua, com núcleo localizado no bulbo. O com- prometimento da língua pode ser avaliado por meio de sua movimen- tação, testando-se a sua força em- purrando os dedos do examinador na porção externa da bochecha, com protusão da língua para fora da boca e em repouso dentro. Deve ser ava- liada a lateralização da lesão, que se manifestará por meio de um desvio da língua contralateral ao lado da le- são, enquanto que comprometimen- tos bilaterais cursarão com paralisia da língua. 57EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO SE LIGA! Na protrusão, a língua irá se desviar em direção ao lado comprometido, enquanto, no repouso, dentro da boca, a boca irá se desviar para o lado normal. Tal alteração pode cursar com disartria, que consiste na dificuldade em falar, bem como com déficits quanto à mastiga- ção à deglutição. Figura 63. Exame do XII nervo. Fonte: Sanarflix. 58EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO MAPA MENTAL: NERVOS CRANIANOS NERVOS CRANIANOS Trigêmeo Hipoglosso Vestibulococlear Acessório Oculomotor Olfatório Glossofaríngeo Vago Facial Troclear Óptico Abducente Campimetria Fundoscopia Odores conhecidos Um para cada narina Musculatura da deglutição e reflexos autonômicos Mímica facial Gustação Musculatura oscular extrínseca Reflexo fotomotor Esternocleidomastoideo Trapézio Audição e equilíbrio Motilidade da língua Sensibilidade da face Músculos da mastigação 59EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO 10. EXAME DA LINGUAGEM A linguagem consiste em um méto- do sistemático de comunicação de ideias ou sentimentos por meio de sinais convencionais, sonoros, gráfi- cos, gestuais etc. Já a fala consiste em apenas uma das formas de manifes- tação da linguagem. HORA DA REVISÃO! A área de Broca é responsável pela expressão da linguagem, enquanto que a sua per- cepção está a cargo da área de Wernicke, sendo que ambas as áreas são conectadas pelo fascículo arqueado. Lesões em uma dessas estruturas, com ênfase no hemisfério esquerdo, podem ter como consequência as afasias. Os principais distúrbios da linguagem são: Afasia de Broca (expressão ou motora) Esse quadro, o paciente não conse- gue expressar a linguagem, apesar de compreendê-la. Logo, o paciente pode parar de falar, pode emitir sons incom- preensíveis, falar exclusivamente uma ou poucas palavras, perder a capa- cidade de nomear objetos (anomia), podendo ocorrer também a agrafia. Pacientes com esse quadro não apre- sentam déficits de motricidade primá- ria, com a movimentação oromandi- bular e glossofaríngea preservadas. Afasia de Wernicke (percepção ou sensitiva) Nela, o paciente não compreende o có- digo utilizado na linguagem. Apesar de conseguir se expressar, quando algo lhe é falado, ou quando lê um texto, a comunicação apresenta falha, sendo impossibilitada. Mesmo sinais e dese- nhos podem não ser suficientes para que haja compreensão do paciente acerca do que está sendo comunica- do a ele. Nesse quadro, não há déficit auditivo ou visual, ocorrendo exclusi- vamente a perda da capacidade de in- terpretar o código de comunicação. Afasia de condução Pode ocorrer quando da lesão do fas- cículo arqueado. Nesse caso, tanto a compreensão como a expressão da linguagem estão mantidas, mas não ocorre a integração entre essas áreas para a perfeita comunicação. O pa- ciente é capaz de compreender o que lhe é comunicado, mas muitas vezes não conseguirá expressar adequada- mente algo a respeito do que acaba de perceber. Ocorre o uso incorreto de palavras ou parafasias (omissão de partes das palavras, substituição por sons incorretos). 60EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO As alterações da linguagem podem ser classificadas em: • Não fluentes: há dificuldade para ex- pressão da fala, utilizando-se esforço; • Fluente: facilmente articulada, de forma clara e sem esforço, por ve- zes aumentada. MAPA MENTAL EXAME DA LINGUAGEM Afasia de Broca Área de Broca LINGUAGEM Área de Wernicke Fascículo arqueado Sem déficits motores primários Paciente compreende a linguagem Não consegue falar Afasia de Wernicke Afasia de condução Paciente não compreende códigos Sem déficits auditivos ou visuais Paciente compreende linguagem Uso incorreto de palavras Sem integração entre as áreas da linguagem 61EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO MAPA MENTAL GERAL Tátil Térmica Consciência EXAME NEUROLÓGICO Coluna Reflexos Motricidade Cerebelo Sensibilidade Nervos cranianos Coordenação Marcha Diadococinesia Superficiais Profundos Força muscular Tônus muscular Testar suas funções Mini exame do estado mental Escala de Glasgow Mobilidade Meningismo Superficial Profunda Propriocepção Vibratória Dolorosa 62EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS Guia de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da UNIFESP-EPM; Neurologia – Manole; Porto, Celmo Celeno, Semiologia médica Celmo Celeno Porto; co-editor Arnaldo Lemos Por- to. 7. ed.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014; Bickley, Lynn S. Bates, propedêutica médica / Lynn S. Bickley; Peter G. Szilagyi; tradução Maria de Fátima Azevedo. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. DeJong’s the neurologic examination / William W. Campbell, Richard J. Barohn. 8th Ed. Phi- ladelphia: Wolters Kluwer, 2020. 63EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO https://www.instagram.com/sanarflix/ https://www.youtube.com/sanarflix https://twitter.com/sanarflix