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Introdução às Ciências Sociais e Políticas -

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INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS 
SOCIAIS E POLÍTICAS
 
“A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à 
geração, sistematização e disseminação do conhecimento, 
para formar profissionais empreendedores que promovam 
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e 
cultural da comunidade em que está inserida.
Missão da Faculdade Católica Paulista
 Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo.
 www.uca.edu.br
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma 
sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, 
salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a 
emissão de conceitos.
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior
Professor | Luiz Alberto Neves Filho
Sumário
UNIDADE 1 – O PENSAMENTO CIENTÍFICO E O CAMPO 
DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
INTRODUÇÃO ................................................................ 7
1. O conceito de sociedade e os objetivos das Ciências 
 Sociais ...................................................................... 7
1.1 Sociedade ................................................................ 7
1.1.1 Revoluções econômicas e sociais .............................. 9
1.2 Objetivos das Ciências Sociais ................................. 10
2. O que é ser cientista social hoje? ............................. 11
3. O histórico da consolidação das Ciências Sociais 
 como campo de pesquisa e conhecimento ................ 13
4. Os desafios para a compreensão do mundo 
 contemporâneo ....................................................... 18
CONCLUSÃO ............................................................... 20
ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 21
REFERÊNCIAS ................................................................ 22
UNIDADE 2 – A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE 
SOCIAL: RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO E SOCIEDADE
INTRODUÇÃO .............................................................. 24
1. O social no indivíduo: as marcas sociais que exibimos 
 nas formas de agir e pensar ..................................... 24
2. Memória e identidade social .................................... 27
3. Cultura e ideologia ................................................. 29
3.1 Conceito de cultura .................................................. 29
3.1.1 Cultura, Nação e Identidade Nacional .................... 31
3.2 Ideologia ................................................................ 31
4. A divisão social do trabalho ..................................... 32
5. Força, legitimidade, normas e poder ......................... 35
CONCLUSÃO ............................................................... 37
ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 38
REFERÊNCIAS ................................................................ 39
UNIDADE 3 – COMO A SOCIEDADE SE TRANSFORMA: 
O MUNDO DA POLÍTICA
INTRODUÇÃO .............................................................. 41
1. Da noção grega de pólis a Maquiavel: a construção 
 do pensamento político ........................................... 41
2. O Contratualismo de Hobbes, Locke e Rousseau ....... 44
2.1 Estado de Natureza em Hobbes, Locke e Rousseau .... 44
2.2 Propriedade Privada em Hobbes, Locke e Rousseau .. 45
3. Perspectivas e formas de poder ................................. 47
3.1 Aristocracia ............................................................. 47
3.2 Ditadura ................................................................. 48
3.3 Democracia ............................................................ 48
3.4 Revolucionária ........................................................ 50
4. O poder, a sociedade civil e o Estado .......................... 50
4.1 Poder ..................................................................... 50
4.2 Sociedade civil e Estado ........................................... 51
CONCLUSÃO ............................................................... 53
ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 53
REFERÊNCIAS ................................................................ 54
UNIDADE 4 – ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 
DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
INTRODUÇÃO .............................................................. 57
1. Metodologia em Ciências Sociais ............................. 57
2. Metodologia científica de caráter qualitativo: esforços 
 e proposições ......................................................... 60
3. Metodologia científica de caráter quantitativo: esforços 
 e proposições ......................................................... 62
CONCLUSÃO ............................................................... 65
ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 66
REFERÊNCIAS ................................................................ 67
Unidade
1
Objetivos de aprendizagem 
da unidade
• Definir o campo das Ciências Sociais, as diferenças com as 
ciências naturais e os objetivos das disciplinas que buscam 
compreender o mundo social
• Identificar os campos de atuação do cientista social e apresentar 
aplicações práticas e potenciais procedimentos
• Compreender o contexto histórico do período da origem das 
Ciências Sociais e a busca de reconhecimento no interior do 
campo científico
• Identificar vínculos entre o pensamento sociológico e questões 
contemporâneas
Professor Mestre Luiz Alberto Neves Filho
O PENSAMENTO CIENTÍFICO E O 
CAMPO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
7
Unidade
1
INTRODUÇÃO 
Nesta unidade apresentaremos a constituição, o desenvolvimento do pensamento cientifico e a 
definição do campo de atuação das Ciências Sociais. As Ciências Sociais e Políticas representam um 
ramo importante da vertente científica, responsável pela realização dos estudos acerca da sociedade 
e dos seus movimentos ao longo da história humana. As Ciências Sociais e Políticas são compostas 
pelas seguintes áreas: Antropologia, Ciência Política e Sociologia. A Antropologia é a área que realiza 
estudos sobre o Homem no seu meio social, analisando, assim, a humanidade na sua totalidade. A 
Ciência Política se incumbe da realização de estudos sobre a Política e todas as suas repercussões 
(sistemas políticos, organizações e processos políticos). A Sociologia é a área responsável por estudos 
científicos relacionados às sociedades humanas, desde a sua constituição até os desdobramentos 
modernos (transformações), que impactam diretamente no cotidiano dos indivíduos.
O desenvolvimento de métodos científicos foi necessário para a constituição das Ciências 
Sociais, primeiramente, como disciplina cientifica, e, posteriormente, como detentora de área de 
atuação própria, na realização de estudos sobre a sociedade moderna ocidental.
Bons estudos!
1. O CONCEITO DE SOCIEDADE E OS 
ObjETIvOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
A sociedade é o alvo de todas as pesquisas realizadas pelas Ciências Sociais – esta não existira 
sem a primeira. Em um primeiro momento, é necessário compreender o processo de formação das 
sociedades, suas características e sua face atual. Estudos que levem a definições conceituais, observações 
empíricas e também ao levantamento das características das sociedades constituem os objetivos das 
Ciências Sociais. Veremos alguns destes elementos a seguir.
1.1 Sociedade
Existe grande controvérsia quanto ao conceito de sociedade, entretanto é possível afirmar que 
todas as definições (aceitas e reconhecidas pelas Ciências Sociais) partem de um princípio de que a 
sociedade é, antes de tudo, uma abstração (não acabada e em transformação). É uma abstração, que 
possui características complexas e que é composta por diversos agrupamentos, e também diversas 
configurações que merecem ser estudadas (SIMMEL, 2004). 
O desenvolvimento das complexidades (característicasda abstração da sociedade) se originou 
do processo civilizatório e teve como consequência o surgimento de um modelo de sociedade que 
necessita de estudos sobre a sua estrutura e o seu funcionamento. Diversos acontecimentos históricos 
(por exemplo, Revolução Industrial, Revolução Francesa e Revolução Científica), juntamente com 
fatores epistemológicos (mudança na maneira de pensar e enfrentar a realidade) trouxeram uma nova 
perspectiva histórico-social para os homens, culminando no surgimento do modelo de sociedade 
existente ainda hoje: sociedade moderna (SELL, 2001). 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
8
As diversas transformações ocorridas no decorrer da história do homem moderno levaram, 
a partir do século XIX, ao surgimento da necessidade de desenvolvimento de uma área científica 
que seria responsável pela investigação das transformações presentes na sociedade moderna, ou 
seja, investigação científica dos elementos geradores de transformações no meio social do homem 
moderno: Sociologia.
A Sociologia surgiu como área científica responsável pela análise aprofundada dos 
desdobramentos e transformações da sociedade moderna, sendo possível também definir a Sociologia 
como Teoria da Modernidade (SELL, 2001). 
Augusto Comte, em 1839, alterou da ciência que estudava a sociedade, dando a ela o nome de 
Sociologia (do latim “socius” e do grego “lógos” – que significa estudo social) (SELL, 2001). 
A sociedade é composta por indivíduos em interação, e não uma coisa fixa ou acabada; portanto 
a Sociologia deve se preocupar em estudar os indivíduos em interação (SIMMEL,2004).
O ser humano é, por natureza, um ser social e sua sociabilidade se sustenta na interação 
dos indivíduos no mesmo meio social. Segundo Simmel (apud CASTRO, 2014), a interação entre 
os indivíduos pode ser observada na sociedade de várias formas, por exemplo, mediante conflitos, 
competição, submissão ou cooperação. A imagem, a seguir, demonstra um exemplo da socialização 
dos indivíduos:
Relações e interações sociais 
 
 Fonte: Pixabay.
O pensar sociologicamente deve ser crítico desde a sua origem, tendo em vista que o pensamento 
científico deve ser pautado sempre na dúvida, e o sociólogo (como homem da ciência) deverá apresentar 
essa atitude. A dúvida é a base para o pensar sociologicamente crítico, pois a Sociologia, na busca pela 
compreensão dos fenômenos sociais, deve duvidar de tudo, inclusive de si mesma (SOUTO, 1987).
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
9
Unidade
1
Os três principais pensadores das Ciências Sociais 
(Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber) apresentam 
conceitos teóricos e métodos científicos diferentes para 
a análise da sociedade, e isso é possível devido ao fato 
das Ciências Sociais não constituírem uma ciência 
exata, ou seja, nas Ciências Sociais é possibilitada 
existência de interpretações diferentes para um mesmo fato. 
Fonte: Elaborado pelo autor. 
1.1.1 Revoluções econômicas e sociais 
Três grandes revoluções (transformações profundas) abalaram completamente o modelo de 
sociedade que vigorava até o século XVIII e deram sustentação para o surgimento de um novo modelo 
se agrupamento social (sociedade moderna industrial): Revolução Francesa, Revolução Industrial e 
Revolução Científica.
• Revolução Francesa
A Revolução Francesa, ocorrida em 1789, provocou diversas transformações na forma de pensar 
o mundo (de maneira filosófica - Iluminismo), juntamente com o surgimento de novos ideais políticos 
e, também, com o desenvolvimento de novas formas de organização do poder.
A Revolução Francesa apresentou uma forma de rompimento com o regime antigo, trazendo 
novas perspectivas sociais, como é possível ver na imagem a seguir:
Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade
 
 Fonte: Pixabay.
A partir da promessa de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a Revolução Francesa trouxe 
impactos nas formas de organização do poder e na estrutura de funcionamento da sociedade, gerando 
o desenvolvimento de condições para o surgimento da sociedade moderna (SELL, 2001).
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
10
• Revolução Industrial 
Entre os séculos XVIII e XIX a sociedade passou por diversas transformações sociais rápidas e 
intensas, que tiveram origem em acontecimentos da ordem econômica (classificados posteriormente 
como Revolução Industrial). O desenvolvimento de equipamentos tecnológicos (máquinas) alterou 
toda a forma de relacionamento existente até então entre os indivíduos e trouxe como consequências 
diretas a elevação da produtividade e o surgimento de duas grandes classes sociais: burguesia e 
proletariado (SELL, 2001).
• Revolução Científica 
A busca por explicações lógico-racionais para os diversos fenômenos acompanha a humanidade 
desde o seu surgimento (acentuada pelo desenvolvimento de novas estruturas, por exemplo a 
sociedade). A elaboração de métodos racionais e rigorosos deixou de lado práticas pautadas em 
tradições populares e religiosas. O rompimento com a lógica não formal na busca pela “verdade” trouxe 
implicações profundas na sociedade (e nos seres humanos) com o surgimento da ciência moderna. 
As bases que deram origem à ciência moderna proporcionaram um novo olhar para o mundo, em 
que as explicações baseadas em métodos não lógicos não explicam de maneira satisfatória os diversos 
fenômenos que rodeiam o homem e a sociedade. O desenvolvimento de uma percepção crítica e 
questionadora se faz necessário nessa nova sociedade. Esse cenário deu origem às Ciências Sociais.
1.2 Objetivos das Ciências Sociais 
É necessário destacar, inicialmente, que cada uma das Ciências Sociais (Antropologia, Sociologia 
e Ciência Política) possui objetivos específicos próprios (que são convergentes). Entretanto, podemos 
afirmar que de maneira geral e integrada a finalidade das Ciências Sociais é buscar a compreensão, de 
maneira lógica, crítica e cientifica, das estruturas de funcionamento da sociedade em todas as suas esferas 
(política, cultural, social e econômica). A sociedade moderna (gerada pelas transformações política, 
econômica e social dos últimos séculos) é constituída por arcabouço de instituições que merecem 
serem estudadas, e as Ciências Sociais têm o objetivo (e a missão) de oferecer estudos científicos 
pautados em métodos reconhecidos e que apresentem panoramas lógicos sobre o funcionamento das 
instituições que compõem a sociedade moderna. 
O artigo “Sobre os obstáculos sociais ao desenvolvimento 
histórico da razão”, da pesquisadora Sylvia Gemiganni 
Garcia, repercute que a razão científica, aplicada à área 
de Ciências Sociais, pode ser avaliada em dois níveis de 
conhecimento: instrumental (usado para o controle técnico 
do mundo) e reflexivo (que estuda as várias dimensões de 
sentido das práticas humanas). O material está disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662014000400751& 
lang=pt>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
11
Unidade
1
2. O qUE é SER CIENTISTA SOCIAL HOjE?
A pergunta que circula o título deste tópico envolve, primeiramente, a compreensão de outros 
questionamentos prévios como: Quais são as características da sociedade em que vivemos hoje? Quais 
são as perspectivas sociais da sociedade atual? Existem diferenças da sociedade contemporânea (atual) 
para a sociedade analisada por Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber? 
Quais são as características da sociedade atual? Este será nosso ponto de partida.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos sociólogos contemporâneos mais reconhecidos 
(pela complexidade das suas obras), afirma que a modernidade assumiu uma esfera mutável (tornando 
o “mundo líquido” para ser mais literal) na qual a incerteza passa a ser um ator predominante na cena 
social (sociedade). Uma característica marcante dessa sociedade,marcada pela liquidez e pautada 
na incerteza, é que os indivíduos foram transformados em meros consumidores, e os consumidores 
foram transformados em mercadorias. Bauman (apud CASTRO, 2014, p. 121) afirma que:
Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar 
mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar 
e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria 
vendável. A “subjetividade” do “sujeito”, e a maior parte daquilo que essa subjetividade 
possibilita ao sujeito atingir, concentra-se num esforço sem fim para ela própria se tornar, e 
permanecer, uma mercadoria vendável. A característica mais proeminente da sociedade de 
consumidores – ainda que cuidadosamente disfarçada e encoberta – é a transformação dos 
consumidores em mercadorias [...]. 
Podemos perceber que, segundo Bauman, a sociedade moderna “evoluiu” para um modelo de 
sociedade marcado pelo consumo, pela incerteza e, principalmente, pela liquidez. Nesse cenário, ela 
se apresenta, de maneira objetiva, como opressora das vontades individuais, assumindo (de vez) um 
papel repressor e redutor dos indivíduos em consumidores, e os consumidores em mercadorias.
Neste ponto passaremos ao segundo questionamento: Quais são as perspectivas sociais da 
sociedade atual? As teorias presentes nas obras dos pensadores clássicos das ciências sociais (Émile 
Durkheim, Karl Marx e Max Weber) se mantêm atuais e, ainda hoje, são referências para a compreensão 
dos fenômenos sociais. A sociedade moderna industrial ainda vigora, em novos moldes, e as suas 
estruturas sociais (que ainda podem ser avaliadas pelos clássicos da sociologia) permanecem presentes 
no contexto social atual. Nesse cenário, podemos perceber que as preocupações e perspectivas sociais 
da sociedade moderna industrial fazem parte do cotidiano dos indivíduos nos dias de hoje. 
O pensamento sociológico é de fundamental importância para a análise da sociedade (meio 
social) e das transformações na qual ela passa de maneira cotidiana. Segundo Souto (1987), ele deve 
se adequar aos fatos sociais concretos. A construção teórica e metodológica deve seguir a realidade da 
sociedade, como podemos perceber ao analisar a seguinte afirmação:
Naturalmente, a própria construção teórica ex ante, sendo sociológica e, assim, científica, 
pressuporá algum grau de observação prévia informal da realidade. Essa construção será 
apenas anterior a uma comprovação fática por técnicas formais de pesquisa (observação, 
questionário, entrevista, experimento, etc.). (SOUTO, 1987, p. 50).
Como podemos perceber, o domínio metodológico (e das práticas sociológicas) permite a 
aplicação dos procedimentos mais adequados à realidade social e do objeto de pesquisa. Nesse cenário, 
o cientista social deve atualmente se moldar às necessidades metodológicas apresentadas pelos objetos 
de pesquisa. O pensar sociologicamente é de fundamental importância para a prática do cientista 
social hoje, tendo em vista que, segundo Souto (1987, p. 53):
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
12
Pensar sociologicamente não será algo que se esgote em um mero levantamento descritivo de 
dados. Se o fosse, então a atividade sociológica seria apenas atividade técnica. Seria somente 
atividade de aplicação de conhecimento, e não de crítica ao conhecimento estabelecido e 
tentativa de criação de conhecimento novo.
O pensar sociológico, característico das Ciências Sociais, não pode ser reduzido a atividades 
meramente técnicas, mas deve ser entendido como atividade crítica de questionamento ao 
conhecimento estabelecido, na busca pelo desenvolvimento de novos conhecimentos; ou seja, ainda 
hoje é uma atividade crítica e reflexiva. 
Como foi possível perceber neste tópico, a sociedade moderna, alvo de estudos das Ciências 
Sociais, passa por um processo de “mutação constante”, mas mantém as mesmas estruturas observadas 
pelos pensadores clássicos da Sociologia. Assim, o papel do cientista social se mostra centrado da 
busca pela construção de conhecimentos críticos, que atendam às expectativas de buscarem respostas 
para questionamentos sociais e também teóricos. O cientista social é o investigador social e usa suas 
técnicas (métodos científicos) como lupa social, buscando “enxergar melhor” a sociedade. 
Investigador social 
 Fonte: Pixabay.
As Ciências Sociais devem dar conta das lacunas criadas pela sociedade moderna e também das 
consequentes repercussões. Enfim, ser cientista social hoje é ser crítico dos conhecimentos existentes, 
observador da realidade social e, principalmente, entusiasta da busca pela liberdade das condicionantes 
criadas pela sociedade moderna industrial. 
O artigo da pesquisadora Lucie Tanguy publicado na 
Revista Educação e Sociedade – o título é “A sociologia: 
ciência e ofício” – aborda as atribuições dos profissionais da 
área de sociologia. A pesquisadora questiona se o sociólogo 
intelectual dos anos 1950-1960 estaria sendo substituído 
por um novo tipo de profissional, presente no papel de 
um consultor. O texto está disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-73302012000100003&lang=pt>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
13
Unidade
1
3. O HISTóRICO DA CONSOLIDAÇÃO 
DAS CIÊNCIAS SOCIAIS COMO CAMPO 
DE PESqUISA E CONHECIMENTO 
 
A análise da relação existente entre homem, sociedade e natureza no decorrer da história (Idade 
Antiga, Idade Média e Idade Moderna) constitui um elemento importante para análise da mudança 
social. Durante o período da Idade Antiga a filosofia clássica grega não separou o homem da sociedade 
e da natureza, convicção compartilhada em alguns estágios do desenvolvimento do pensamento 
moderno. Durante a Idade Média a ideia de unidade da razão, ligada aos primórdios da sociedade 
capitalista, foi uma característica da “luta” entre a Igreja e os poderes seculares.
No decorrer da Idade Moderna, o poder foi secularizado e uma mudança social passou a ser 
necessária. Nesse cenário, o racionalismo passou a ser predominante, tendo como característica o 
desenvolvimento das teorias psicológica e sociológica. Existiam três tendências importantes na Idade 
Moderna: a otimista (evolução e progresso), a pessimista (rejeição ao progresso pacifico) e a não 
conformista/crítico (materialista, na direção da satisfação das necessidades materiais).
Nesse cenário, o distanciamento da teoria social da filosofia – como veremos nesta unidade 
–, com o desenvolvimento da sociologia moderna, transformou a teoria social em uma questão 
sociológica específica.
Até o século XIX a análise social era feita por historiadores e teóricos sociais – a teoria social 
foi posteriormente foi reclassificada por Augusto Comte como Sociologia –, e um pequeno conflito 
era aparente, pois grande parte dos historiadores demonstrava certa resistência à teoria social, a qual 
posteriormente deu origem às Ciências Sociais. No século XVIII não existia nenhum tipo de conflito ou 
controvérsia entre os dois tipos de profissionais, porque as Ciências Sociais (em especial a Sociologia) 
ainda não existiam como área científica independente, e teóricos sociais debatiam a sociedade civil de 
maneira sistemática (ainda sem métodos próprios). 
No final do século XVIII, com a formação dos Estados Nacionais, a historiografia passou a se 
concentrar nos estudos de registros oficiais (documentos), em vez de crônicas, e esse fato gerou uma 
revolução nos métodos utilizados. Nesse momento, a leitura do convívio social passou a ser um modo 
legítimo de produção de conhecimento, descartando a simples leitura de relatos descritos nas crônicas: as 
Ciências Sociais se constituíram como área científica e os cientistas sociais passaram a gerar os próprios 
dados para suas pesquisas (colocando o passado em segundo plano para compreendera sociedade).
Diversas correntes de pensamento nas Ciências Sociais surgiram com o mesmo propósito: 
conhecer de maneira aprofundada a sociedade e buscar explicações para os fenômenos que a rodeavam.
A primeira corrente de pensamento da Sociologia foi o positivismo, fundado por Augusto 
Comte, o primeiro “sociólogo”). O positivismo apresentava um enorme sentimento antimetafisico, 
ou seja, sustentava que todas as formas de produção de conhecimento não passíveis de comprovação 
(empírica) não possuíam sentido/significado. A sociedade passou a ser estudada por intermédio de 
uma forma de “microscópio social”, e diversos métodos foram desenvolvidos no processo de busca 
pela explicação racional para os diversos fenômenos sociais que surgiam na sociedade moderna.
Segundo Sell (2001), a ciência sociológica é centrada em três problemas fundamentais para 
o desenvolvimento das Ciências Sociais como confiável e racional. Eles estão vinculados às teorias 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
14
sociológica, da modernidade e política. A primeira é associada à dimensão teórico-analítica; a teoria 
da modernidade se liga à dimensão teórico-empírica; e a teoria política está relacionada à dimensão 
teórico-política.
Vamos conhecer os três principais pensadores da Sociologia Clássica. 
Émile Durkheim (1858-1917): importante sociólogo francês e principal expoente da corrente 
sociológica do positivismo (funcionalismo). Teve como contribuição o desenvolvimento das seguintes 
teorias:
•	 Teoria Sociológica: Método Funcionalista; 
•	 Teoria da Modernidade: Divisão Social do Trabalho; 
•	 Teoria Política: Culto do Indivíduo.
Émile Durkheim foi o primeiro grande pensador das Ciências Sociais e na sua teoria aponta que 
os diversos fenômenos sociais devem ser concebidos como “fatos sociais” e ser estudados de acordo 
com a sua natureza. Ele afirmava que os fatos sociais precisavam ser tratados como “coisas” e possuíam 
características próprias: coercitivos, gerais e externos. 
É fato social toda maneira de fazer, estabelecida ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo 
uma coerção externa; ou ainda, que ele é geral na extensão de determinada sociedade, embora 
tenha existência própria, independentemente de manifestações individuais. (DURKHEIM, 
apud CASTRO, 2014 p. 33).
Segundo Durkheim, os fatos sociais são coercitivos porque ocorrem independentemente 
da vontade dos indivíduos; são gerais, pois podem atingir a todos os indivíduos da sociedade; são 
externos, visto que as causas geradoras são externas aos indivíduos (não pertencendo a natureza 
humana – são “coisas sociais”). 
A sociologia, portanto, não é o anexo de nenhuma outra ciência, e sim, em si mesma, uma 
ciência distinta e autônoma, e a percepção do que a realidade social tem em específico é de tal 
forma necessária ao sociólogo que só uma cultura especificamente sociológica pode prepará-
lo para a compreensão dos fatos sociais. (DURKHEIM apud CASTRO, 2014 p. 36).
O método desenvolvido por Durkheim foi o funcionalista (comparativo) e tinha como objetivo 
buscar as explicações por meio da análise dos fatos sociais de maneira comparativa, buscando 
encontrar, de forma sistemática, similaridades presentes em diversos fatos sociais. Durkheim apresenta 
a Sociologia como uma ciência autônoma e independente, sendo a única capaz de explicar os fatos e 
fenômenos ocorridos na sociedade, e assim deve ser reconhecida: Ciência da Sociedade.
A série 13 Reasons Why  (exibida no Netflix) é 
baseada no livro Thirteen Reasons Why (2007), de Jay 
Asher, e adaptado por Brian Yorkey para a Netflix. A 
série cita um conjunto de situações cotidianas 
(sociais) que levaram uma jovem a cometer suicídio, 
demonstrando elementos práticos para a abordagem 
de Émile Durkheim em sua obra O Suicídio. Nela o 
autor afirma que o suicídio é um fato social – gerado por repercussões sociais externas a 
biologia dos seres humanos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
15
Unidade
1
Karl Marx (1818-1883): foi (e continua sendo até hoje) o principal expoente da sociologia crítica à 
sociedade moderna industrial e a todos os impactos causados aos indivíduos pelo surgimento das classes 
sociais (geradas pela sociedade moderna industrial). As principais contribuições teóricas foram: 
•	 Teoria Sociológica – Método Histórico-Dialético; 
•	 Teoria da Modernidade – Modo de Produção Capitalista; 
•	 Teoria Política – Revolução Comunismo.
A sociologia de Karl Marx tem como base a crítica às transformações geradas na sociedade pela 
Revolução Francesa e Revolução Industrial (transformações que deram origem à sociedade moderna 
capitalista – modelo atual da sociedade). Segundo Marx, os impactos sociais das revoluções podem 
ser observados mediante uma análise dialética da sociedade, ou seja, uma análise das promessas 
que sustentaram tais revoluções e as consequências reais delas. As condições objetivas de vida dos 
indivíduos pioraram após as Revoluções, e segundo Marx é justamente este fato que deve ser analisado 
pela sociologia. Marx (apud CASTRO, 2014, p. 12) afirma que:
As premissas de que partimos não são bases arbitrarias, dogmas; são bases reais que só 
podemos abstrair na imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais 
de existência, tanto as que eles já encontraram prontas, como aquelas engendradas de sua 
própria ação. Essas bases são, pois, verificáveis por via puramente empírica.
A Revolução Francesa, em sua essência, trouxe a expectativa de rompimento com o poder político 
dominado por um grupo por tradição (tradição religiosa – poder divino); entretanto, segundo Marx, 
ela possibilitou a ascensão ao poder a um grupo que não tinha poder político, mas tinha perspectiva e 
poder econômico: a burguesia. O desenvolvimento que a Revolução Industrial (tratada aqui de maneira 
una, mas que possuiu diversas fases distintas) possuía como objetivo foi obscurecido pela relação de 
exploração que acompanhou tal revolução. A burguesia, que tinha ascendido ao poder na Revolução 
Francesa, se constituiu como classe social dominante, buscando exclusivamente a concentração de 
capital no processo de desenvolvimento da Revolução Industrial (início da produção manufaturada 
com o surgimento das indústrias).
O surgimento de indústrias acelerou o processo de divisão do trabalho, cabendo à classe 
proletária os trabalhos repetitivos e sem intelectualidade (produção).
Trabalhadores na produção
 
 Fonte: Pixabay. 
Segundo a perspectiva marxista, a burguesia explorava o trabalho dos proletários, gerando, assim, 
o conflito social que sustenta o desenvolvimento da sociedade moderna até os dias atuais: burguesia X 
proletariado. Segundo Marx, a ciência deveria assumir um papel ativo na compreensão das condições 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
16
objetivas de vida dos indivíduos, que foram transformados em mercadorias descartáveis pela sociedade 
moderna (burguesa e industrial). Nesse cenário, Marx (apud CASTRO, 2014, p. 19) afirma que:
A reflexão sobre as formas da vida humana, e assim também a sua análise científica, segue 
em geral um caminho oposto ao do desenvolvimento efetivo. Começa um post festum e com 
resultados prontos do processo de desenvolvimento. As formas que marcam os produtos de 
trabalho como mercadorias e que são pressupostas, daí, na circulação de mercadorias, possuem 
já a firmeza de formas naturais de vida social, antes de os homens tentarem se dar conta do 
caráter histórico dessas formas, que valem para eles como já imutáveis, mas do seu teor. 
Segundo Marx, o Estado (Estado Nacional – base para o desenvolvimento da sociedade moderna) 
assumiu um papel de aparato técnico-burocrático (ideológico) pela manutenção da ordem contra a 
revolução proletária (todos contra o proletariado); a disputa política no âmbito do Estado não ocorria por 
princípios e sim por interesses(o Estado passa a se constituir a partir de um horizonte de modernidade).
O filme Tempos Modernos (1936), de Charlie 
Chaplin, apresenta a perspectiva de um proletário 
no desenvolvimento do mundo moderno e 
industrializado. Relata a trajetória de um trabalhador 
no mundo industrial e as formas como a exploração 
burguesa era realmente constituída. O filme se 
torna uma das bandeiras na crítica às condições de trabalho presentes após a Revolução 
Industrial.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Max Weber (1864-1920): pensador alemão que teve um papel importante na consolidação das 
Ciências Sociais como disciplina científica. As suas principais contribuições teóricas foram: 
•	 Teoria Sociológica – Método Compreensivo; 
•	 Teoria da Modernidade – Método Racionalismo da Dominação do Mundo; 
•	 Teoria Política – Liderança Carismática e Ética da convicção e da responsabilidade.
No início do século XX, Max Weber apresentou novas perspectivas para a sociologia na busca pela 
compreensão dos diversos fenômenos sociais que rodeavam a sociedade em pleno desenvolvimento. 
Ele defendia que a sociologia deveria estabelecer-se de maneira científica a partir das conexões dos 
problemas, como podemos perceber na seguinte afirmação:
O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões “objetivas” entre as “coisas” 
mas as conexões conceituais entre os problemas. Só quando se estuda um novo problema com 
o auxílio de um método e se descobrem verdades que abrem novas e importantes perspectivas 
é que nasce uma nova ciência. (WEBER, apud CASTRO, 2014, p. 55).
Max Weber afirmava também que o indivíduo e a sua subjetividade deviam estar no centro dos 
estudos da sociologia, e os tipos ideais precisavam percorrer o caminho para a compreensão do papel 
dos sujeitos na sociedade (tais como todas as suas formas de influência). Ele ressaltava ainda que era 
necessária a construção sociológica de determinada forma de organização social que servisse como 
modelo para análise de ações sociais e que esse modelo não seria existente na realidade (servindo 
apenas como ferramenta metodológica racional – para a compreensão da realidade): tipos sociais ou 
tipo ideal. Como destacou o pensador alemão:
As construções da teoria abstrata só na aparência são “deduções” a partir de motivos psicológicos 
fundamentais. Na realidade, trata-se antes do caso especial de uma forma da construção de conceitos, 
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
17
Unidade
1
própria das ciências da cultura humana e, em certo grau, indispensável... Pelo seu conteúdo, essa construção 
reveste-se do caráter de utopia, obtida mediante a acentuação mental de determinados elementos da 
realidade. A sua relação com os fatos empiricamente dados consiste apenas em que, onde quer que se 
comprove, ou suspeite de que determinadas relações – tipo das representadas de modo abstrato naquela 
construção, a saber, as dos acontecimentos dependentes do “mercado” – chegam a atuar em algum grau 
da realidade, podemos representar e tornar compreensivo pragmaticamente a natureza particular dessas 
relações mediante um tipo ideal. Esta possibilidade pode ser valiosa, e mesmo indispensável, tanto para 
a investigação como para a exposição.” (WEBER, apud CASTRO, 2014, p. 56).
O filme “A Onda” (2008) retrata o pensamento de 
Weber de que a sociedade e a história devem ser 
entendidas pela ação intencional de um indivíduo 
sobre o outro. A relação social na sociedade se dá entre 
indivíduos. As coisas (situações) são tão-somente os 
meios pelos quais os indivíduos se inter-relacionam. O 
filme foi inspirado no livro homônimo de 1981 do pensador americano Todd Strasser e 
também no experimento social da  Terceira Onda, realizado pelo professor de história 
norte-americano Ron Jones. 
Fonte: Elaborado pelo autor.
Para Weber, o tipo ideal decorre da concepção acerca da infinita complexidade do real, diante do 
alcance limitado dos conceitos elaborados pela mente humana; nenhum dos tipos ideais construídos 
deve ser considerado mais que um instrumento limitado e provisório de investigação. Weber afirmava 
que a sociologia deveria construir elementos metodológicos para compreender os fenômenos que 
rodeavam os indivíduos na sociedade moderna. Um exemplo metodológico abordado por ele por 
meio da construção de um tipo ideal foi a burocracia. Para o pensador, no mundo moderno trata-
se do exemplo mais típico do domínio legal, nos limites da legitimidade. A definição desse tipo 
ideal de burocracia é relacionada a uma série de dimensões, cada qual na forma de um contínuo; 
quando se mede cada contínuo, nenhuma variação concomitante é encontrada entre as dimensões. A 
utilização desse modelo inibe que a avaliação das organizações seja feita a partir de não burocráticas 
e burocráticas.
Além dos pensadores clássicos da Sociologia (Émile 
Durkheim, Karl Marx e Max Weber), podemos 
também destacar importância das contribuições do 
sociólogo austríaco Alfred Schutz (1899-1959) para o 
desenvolvimento da Ciências Sociais. Segundo ele, as 
Ciências Sociais deveriam desenvolver dispositivos 
metodológicos diferentes dos utilizados nas ciências 
naturais: “Uma teoria que visa explicar a realidade social tem de desenvolver dispositivos 
particulares, estranhos às ciências naturais, a fim de acompanhar a experiência do senso 
comum do mundo social. Isso foi, de fato, o que fizeram todas as ciências teóricas das 
coisas humanas – economia, sociologia, direito linguística, antropologia cultural etc.” 
(SCHUTZ, apud CASTRO, 2014, p. 52).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
18
4. OS DESAFIOS PARA A COMPREENSÃO DO 
MUNDO CONTEMPORâNEO
Como já apresentamos, o mundo contemporâneo passa por diversas transformações contínuas, 
sem alterar a estrutura da sociedade moderna industrial. A compreensão da conjuntura na qual tais 
mudanças ocorrem se tornou um desafio de grande importância para a área das Ciências Sociais. As 
transformações sociais estão vinculadas a diversos fatores: geográficos, socioeconômicos, tecnológicos, 
políticos e, principalmente, humanos (que englobam todos os anteriores). Neste tópico abordaremos 
de maneira sistemática os fatores humanos.
Um questionamento importante a se fazer para a compreensão das transformações ocorridas na 
sociedade moderna industrial é sobre o apreço dos indivíduos ao novo. Simmel (2004, p. 45) afirma 
que “a razão do apreço pelo novo e pelo excepcional reside na ‘sensibilidade para a diferença’ que há na 
constituição pelo espírito”. Ainda segundo Simmel (2004), o ser humano tem seu significado prático 
determinado por meio das suas semelhanças e diferenças.
As transformações sociais são geradas por uma necessidade dos indivíduos, de maneira coletiva, 
na busca pelo novo, por novas experiências e por novas vivências. No decorrer da Idade Média essa 
busca era oprimida pela realidade religiosa e pela perseguição a todos que questionavam a realidade 
existente, regrada por dogmas, padronizações e convicções rígidas – antagônicas à liquidez e à 
flexibilidade características da sociedade moderna).
Nesse cenário, podemos especular que as mudanças ocorridas no cotidiano da sociedade 
moderna são alimentadas por uma necessidade natural dos seres humanos, que anseiam por 
novidades e por transformações. Podemos perceber esse fato em nosso cotidiano, ao compreender o 
porquê a realidade de cinco anos atrás não dá conta das demandas de hoje. Atualmente, os indivíduos 
são dependentes das tecnologias que criaram para satisfazer suas necessidades. A imagem, a seguir, 
apresenta um recurso tecnológico que transformou a sociedade contemporânea e, ao mesmo tempo, 
tornou o seu detentor dependente.
Dependência da tecnologia 
 Fonte: Pixabay.
O mundo líquido, descrito por Bauman, possibilita que o ser humano se reconheça e se realize nas 
necessidades (ou pseudonecessidades) mais profundas, mas também o aprisiona nelasao transformá-
lo em simples mercadorias (BAUMAN, apud CASTRO, 2014).
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
19
Unidade
1
O maior desafio das Ciências Sociais na compreensão do mundo contemporâneo é, justamente, 
explicar as implicações geradas pela busca desenfreada dos seres humanos pela satisfação das suas 
necessidades, que os tornou simples indivíduos que agem por interesse próprio. Podemos perceber 
que a sociedade moderna não teve as estruturas alteradas na contemporaneidade, mas os seres 
humanos se tornaram individualistas na busca por atingir os anseios particulares. Assim, ela apenas 
se adaptou para transformá-los no que mais buscavam para saciar as suas necessidades: mercadorias. 
Para compreender esse fenômeno, podemos buscar, novamente, refúgio nos pensadores clássicos 
das Ciências Sociais: Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Os desafios são novos, mas as bases 
teóricas dos clássicos se mantêm atualizadas para desvendar os novos questionamentos que surgem 
todos os dias.
Começaremos por Émile Durkheim. A busca pelo novo é geral e coletiva – todos os “indivíduos” 
estão inseridos nela –, e, segundo Durkheim, “é um estado de grupo, que se repete nos indivíduos 
por impor-se a eles” (DURKHEIM, apud CASTRO, 2014, p. 31). Os indivíduos são condicionados 
pelo pensamento coletivo, e a sociedade moderna, ao se tornar “flexível e líquida”, os condiciona a 
seguirem os padrões coletivos. Por mais que faça parte da natureza humana, a busca pelo novo na 
sociedade moderna enseja, segundo Durkheim, um pensamento coletivo, ou seja, não é meramente 
uma necessidade individual, e sim uma imposição coletiva. 
Já Karl Max e Friedrich Engels, ao questionarem a submissão dos homens às mercadorias, 
afirmaram: “Até agora, os homens sempre tiveram ideias falsas a respeito de si mesmos, daquilo que 
são ou deveriam ser.... Criadores inclinaram-se diante de suas próprias criações.” (MARX; ENGELS, 
apud CASTRO, 2014. p. 11). As mercadorias são criaturas dos seres humanos, mas na sociedade 
moderna estes se transformaram em criaturas das suas criações. Podemos perceber que, ao assumir 
o papel de mercadorias, passam a fazer parte de uma falsa realidade na qual se inclinaram diante das 
próprias criações, como se as mercadorias fizessem parte dos seres humanos ou fossem eles próprios.
A tecnologia trouxe diversos exemplos práticos dessas situações: um smartphone (e todas as 
suas aplicações e aplicativos) hoje é mais importante que um órgão fisiológico para grande parte dos 
seres humanos; eles podem deixar de realizar as necessidades fisiológicas (ou atrasá-las para horários 
mais convenientes) mas “quase nunca” esquece o dispositivo em casa ou no trabalho – quando isso 
ocorre se sentem incompletos, como se um pedaço de si próprios estivesse faltando). Nesse cenário, é 
completamente factível a afirmação de Marx e Engels de que os seres humanos se tornaram criaturas 
das próprias criações; nos tornamos criaturas da tecnologia e reduzidos a perfis de aplicativos e sites 
de relacionamento.
Em outubro de 2017, perto de 241 milhões de linhas 
de telefone móvel estavam ativas no Brasil, informou 
a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). 
De acordo com a Agência, as linhas 4G cresceram 
4,27% (3,9 milhões de novas unidades entre setembro 
e outubro. Se levarmos em conta os últimos 12 meses, 
esse aumento foi de 81,23%, o que equivale a 42,7 milhões de unidades.
Fonte: GOVERNO DO BRASIL, 2017.
A dominação à qual os homens se submeteram pode ser compreendida pela análise da sociologia 
compreensiva de Max Weber. Ele afirma que: 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
20
A dominação, ou seja, a probabilidade de encontrar obediência a um determinado comando, 
pode fundar-se em diversos motivos de submissão. Pode depender diretamente de uma 
situação de interesse, ou seja, de considerações utilitárias de vantagens e inconvenientes por 
parte daquele que obedece. Pode também depender de mero “costume”, do hábito obtuso 
de um comportamento inveterado. Ou pode fundar-se, finalmente, no puro afeto, na mera 
inclinação pessoal do dominado. (WEBER, apud CASTRO, 2014, p. 58).
Podemos perceber que, segundo Weber, a dominação que sofremos do mundo das mercadorias 
na sociedade moderna é fruto dos nossos costumes e das nossas situações de interesse. O interesse 
não faz parte da natureza humana, mas das necessidades coletivas criadas e da adaptação (pelas 
vantagens e conveniências criadas por elas); sendo assim, não é possível afirmar que ela é consciente e 
dotada de crítica. Ou seja, simplesmente os homens se condicionaram aos seus interesses, vantagens 
e conveniências para se submeter à obediência a um comando que não percebem nem sequer a 
existência dele. 
Segundo Demo (1985), o poder embutido nesse processo não deveria ser eliminado, mas sim 
democratizado, buscando, na sua essência, a geração de benefícios para a maioria. Entretanto, na 
sociedade moderna industrial, os benefícios são restritos a uma minoria em detrimento da maioria e 
assim os interesses e vantagens atingem apenas uma pequena parcela dos indivíduos pertencentes à 
classe econômica dominante: burguesia. 
Esses são os desafios existentes para a compreensão do mundo contemporâneo: perceber o que 
está além dos olhos, lutar contra as formas de dominação e se imaginar além das suas criações. As 
Ciências Sociais (e seus clássicos pensadores) ainda possuem um papel de destaque na busca por 
respostas aos questionamentos gerados pela sociedade moderna e pelo mundo contemporâneo. 
CONCLUSÃO
O principal objetivo desta unidade foi apresentar elementos palpáveis para uma compreensão 
inicial da área de atuação das Ciências Sociais. O conteúdo proposto buscou abordar o panorama de 
surgimento das Ciências Sociais e também a sua constituição como disciplina científica (metódica, 
sistemática e rigorosa). Desde a sua origem, com a “criação” da sociologia por Augusto Comte no 
século XVIII, o pensamento sociológico foi profundamente influenciado por diversos pensadores, 
tendo como destaque Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber, que deram às Ciências Sociais um 
caráter científico e transformaram-nas em uma ciência completa (mas não exata). As contribuições 
de sociólogo polonês Zygmunt Bauman também foram destacadas – principalmente a percepção dele 
acerca da liquidez do mundo contemporâneo –, além dos componentes teóricos apresentados por 
Alfred Schutz para o desenvolvimento da Ciências Sociais.
Vimos que as transformações cotidianas vivenciadas pela sociedade moderna industrial 
(fase atual da sociedade) apresentam diversas novas perspectivas para a área das Ciências Sociais, 
principalmente para o campo de atuação dos cientistas sociais contemporâneos.
Por fim, entendemos que as Ciências Sociais possuem um papel de relativa importância no 
processo de compreensão do mundo, das relações humanas e das perspectivas sociais (do presente 
e do futuro), devendo apresentar a crítica aos conhecimentos desenvolvidos e também se manter 
neutras e distantes das influências que podem contaminar as respectivas análises sociais.
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
21
Unidade
1
ELEMENTOS COMPLEMENTARES
#LIVRO#
Título: Raízes do Brasil 
Autor: Sérgio Buarque de Holanda
Editora: Companhia das Letras 
Sinopse: Estudo histórico e sociológico do processo de desenvolvimento 
da sociedade brasileira. O autor apresenta um conjunto de características 
do povo brasileiro que, na sua interpretação, influenciaram e continuam 
influenciando a sociedade brasileira. 
 #FILME#
 
Título: Tempos Modernos
Ano: 1936
Sinopse: Filme relata a rotina de um empregado de uma linha de 
montagem no início do século XX e os impactos causados a sua 
vida profissional e pessoal por conta do ritmo acelerado.
#FILME#
Título: A Onda
Ano: 2008 
Sinopse: O filme foi inspirado no livro homônimo 
de 1981 do pensador americano Todd Strasser e também 
no experimento social da  Terceira Onda, realizadopelo 
professor de história norte-americano Ron Jones. Retrata o 
pensamento de Weber de que a sociedade e a história devem 
ser entendidas pela ação intencional de um indivíduo 
sobre o outro. A relação social na sociedade se dá entre 
indivíduos. As coisas (situações) são tão somente os meios 
pelos quais os indivíduos se inter-relacionam. 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
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Título: 13 Reasons Why
Ano: 2017
Sinopse: A série 13 Reasons Why é baseada no 
livro  Thirteen Reasons Why  (2007), de Jay Asher, e 
adaptada por Brian Yorkey para a Netflix. Apresenta 
um conjunto de situações cotidianas (sociais) que 
levaram uma jovem a cometer suicídio, demonstrando 
elementos práticos para a abordagem de Émile 
Durkheim na sua obra “O Suicídio” (quando o autor afirma que o suicídio é um fato social 
– gerado por repercussões sociais externas a biologia dos seres humanos).
REFERÊNCIAS
CASTRO, C. (Org.) Textos básicos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
DEMO, P. Sociologia. São Paulo: Atlas, 1985.
GARCIA, S. Sobre os obstáculos sociais ao desenvolvimento histórico da razão. Sci. stud.,  São 
Paulo, v. 12,  n. 4, out./dez. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1678-31662014000400751&lang=pt>. Acesso em: 14 jan. 2018.
GOVERNO DO BRASIL. Brasil tem mais de 240 milhões de linhas de celular ativas, 6 dez. 2017. 
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2017/12/brasil-tem-mais-de-240-milhoes-
de-linhas-de-celular-ativas>. Acesso em: 14 jan. 2018.
SELL, C. E. Sociologia Clássica: Marx, Durkheim e Weber. São Paulo: Editora Vozes, 2001.
SIMMEL, G. Questões fundamentais da Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. 
SOUTO, C. O que é pensar sociologicamente. São Paulo: EPU, 1987.
TANGUY, L. A sociologia: ciência e ofício. Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 118, jan./mar. 2012.
Unidade
2
Objetivos de aprendizagem 
da unidade
•	 Analisar	as	distinções	dadas	ao	indivíduo	e	ao	ser	social	a	partir	
do	estudo	do	processo	de	socialização	
•	 Discorrer	sobre	a	categoria	de	memória	relacionando-o	com	o	
conceito	de	identidade	social
•	 Conceituar	cultura	e	ideologia	e	identificar	os	componentes	da	
cultura	que	influenciam	a	posição	política
•	 Compreender	a	consolidação	da	divisão	social	do	trabalho	e	a	
solidariedade	social	dentro	de	sociedades	complexas
•	 Apresentar	 os	 conceitos	 de	 poder,	 dominação,	 coerção,	
legitimidade,	legalidade	e	norma	a	partir	do	contexto	sociológico	
e	político
Professor	Mestre	Luiz	Alberto	Neves	Filho
A	CoNstrução	DA	iDeNtiDADe	soCiAL:	
reLAção	eNtre	iNDivíDuo	e	soCieDADe	
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
24
iNtroDução	
Esta unidade pretende apresentar, de maneira clara, como ocorre o processo de construção da 
identidade social dos indivíduos na sociedade moderna industrial. A compreensão dessa construção 
tem um caminho a ser percorrido que, necessariamente, depende da compreensão de alguns elementos 
constitutivos. São eles: a presença do social no indivíduo; a construção e preservação da memória e da 
identidade social; o desenvolvimento cultural da sociedade (e as suas implicações); o papel exercido 
pela ideologia na produção cultural e na sociedade; a importância do trabalho (e da sua divisão social) 
na formação do indivíduo e da sociedade; a força do Estado e da sociedade que se organizam e se 
legitimam por meio de normas e leis para exercer o seu poder sobre os indivíduos.
Podemos perceber, inicialmente, que a construção da identidade social depende de fatores 
externos aos indivíduos, muitas vezes contrários a própria natureza humana.
Bons estudos!
1.	o	soCiAL	No	iNDivíDuo:	As	MArCAs	
soCiAis	que	exibiMos	NAs	ForMAs	De	
Agir	e	PeNsAr
A natureza dos seres humanos sempre foi a aproximação com o outro (formação de coletividade), 
mesmo o homem não nascendo social ele adquire essa característica na relação com o outro. A história 
da humanidade demonstra que os seres humanos sempre possuíram a tendência de viverem em grupo 
e de se socializarem. Segundo Vila Nova (2000, p. 51), socialização significa “transmissão e assimilação 
de padrões de comportamento, normas, valores e crenças, bem como desenvolvimento de atitudes e 
sentimentos coletivos”.
Nesse cenário, é natural conseguir perceber a influência da socialização nas nossas ações, 
comportamentos, hábitos e atitudes cotidianas. Nós não nascemos indivíduos sociais, mas 
incorporamos características comportamentais típicas de humanos no processo de socialização e, 
consequentemente, nos tornamos indivíduos sociais. 
Nesse mesmo caminho, Aron (1982, p. 301) afirma que, Durkheim já apontava que os indivíduos 
nascem da sociedade e não o contrário: “[...] Durkheim deduz uma ideia que manteve por toda a sua 
vida, e que ocupa o centro de toda sua sociologia: a que pretende que o indivíduo nasce da sociedade, 
e não que a sociedade nasce dos indivíduos”.
A aceitação de que o indivíduo é fruto da sociedade nos permitirá ter uma compreensão prática 
sobre a presença do social nele. Como herdamos nossos valores, nossas crenças, nossa linguagem, nossos 
hábitos e nossa cultura? Compreender as repercussões desse questionamento será de fundamental 
importância para o entendimento sobre a formação dos indivíduos por meio do social. Buscaremos 
nas teorias de Émile Durkheim elementos importantes para esse esforço. O pensador afirma que o 
domínio da sociedade sobre os indivíduos tem dois sentidos: prioridade histórica e prioridade lógica 
(DURKHEIM apud ARON, 1982).
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
25
Unidade
2
Segundo Durkheim (apud ARON, 1982), as sociedades em que os indivíduos se assemelham 
– aquelas com solidariedade mecânica – surgiram primeiro (prioridade histórica); ou seja, se as 
sociedades coletivistas apareceram primeiro, não faz sentido tentar explicar a sociedade a partir dos 
indivíduos (prioridade lógica). As sociedades coletivistas possuem prioridade histórica por terem 
surgido primeiro; assim, de maneira lógica, a explicação dos fenômenos da diferenciação social deve 
ocorrer a partir dos indivíduos (prioridade lógica). Resumindo: não podemos explicar o indivíduo de 
maneira descontextualizada, pois foi precedido por uma sociedade coletivista; ele deve ser entendido 
a partir das características apresentadas pela coletividade, pois ela surgiu primeiro. 
O filme “O garoto selvagem” (1969) relata a história de 
um garoto que foi encontrado por caçadores em uma 
área de selva, e no momento em que isso ocorreu, 
ele não andava como um bípede, se alimentava de 
grãos e raízes, não falava nem escrevia, não tinha 
contato com a sociedade e com as suas respectivas 
linguagens, costumes, práticas etc. Um professor de 
medicina se interessou pela história do garoto e passou a estudá-lo e também a ajudá-lo a 
se inserir na sociedade.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Neste momento, uma dúvida importante pode ter surgido: a sociedade moderna industrial 
é coletivista? A resposta é simples, mas paradoxal: não, a sociedade moderna industrial é baseada 
na diferenciação, portanto não é coletivista (na qual cada indivíduo se assemelha a todos), mas 
derivou diretamente de sociedades coletivistas. Assim, a prioridade lógica apresentada por Durkheim 
determina que todos os fenômenos sociais que envolvam os indivíduos tenham como referência as 
sociedades coletivistas, pois estas possuem prioridade histórica (surgiram antes) sobre as sociedades 
baseadas na diferenciação. 
É necessário destacar que, segundo Durkheim, algumas instituições presentes na sociedade, como 
família, religião, escola etc., exercem um papel fundamental na construção social dos indivíduos, pois 
disseminam valores, crenças, costumes, linguagens existentes antes do nascimento deles. O homem, 
ao nascer, é desprovido de todos os valores e costumes sociais que o circulam, mas com o crescimento 
passa a incorporar aqueles que lhe são interessantes;assim, inicia-se a construção do indivíduo como 
ser social (DURKHEIM apud ARON, 1982).
No artigo “A particularidade do processo de socialização 
contemporâneo”, publicado em novembro de 2005 
na revista Tempo Social, a pesquisadora Maria da 
Graça Jacintho Setton aborda de maneira objetiva o 
processo de socialização no mundo contemporâneo e 
também suas implicações concretas no cotidiano dos 
indivíduos. O material está disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-20702005000200015&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
26
Nossas formas de agir e pensar são influenciadas pelo contexto social no qual estamos inseridos; 
assim, podemos afirmar que somos fruto da socialização e que o social está em nós. Entretanto, como 
vivemos em uma sociedade baseada na diferenciação, a socialização apresenta “diversos caminhos”, 
todos determinados pelo contexto social. O indivíduo até pode acreditar que está percorrendo um 
caminho próprio, diferente da sua realidade social concreta, com escolhas próprias, com pensamentos 
e formas de agir autônomas. Entretanto, não podemos esquecer que o ser social está inserido nas 
raízes dos indivíduos, e justamente por esse fato esses “novos caminhos” percorridos estão inseridos 
na dinâmica social da nossa sociedade (sustentada na diferenciação). 
Nas imagens a seguir, poderemos perceber a força da socialização no nosso cotidiano e também 
nas nossas ações. A primeira apresenta um indivíduo, sem rosto e sem marcas pessoais, inserido no 
meio de uma coletividade que o levou à socialização. Ele busca se tornar iluminado (diferenciado) em 
relação aos outros, mas, ainda assim, apresenta as marcas da coletividade e da socialização (seguindo 
padrões determinados – está em uma fila organizada). 
Já a segunda imagem demonstra que os seres humanos nascem com características impares, 
são seres únicos, mas a socialização os transforma em indivíduos no meio de uma coletividade e 
impactados pelo processo de socialização. Nascemos com características próprias e incorporamos 
características comuns a todos mediante o processo de socialização.
Indivíduo inserido no coletivo
 Fonte: Pixabay.
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
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Unidade
2
Os indivíduos nascem com características únicas 
 Fonte: Pixabay.
Para facilitar a compreensão, utilizaremos o exemplo de um jovem filho de um carpinteiro que 
deseja cursar Medicina. Nesse caso, existe um claro distanciamento entre a realidade social, cultural e 
econômica apresentada pelos seus pais e as ambições, expectativas sociais e profissionais. Ainda assim, 
a busca por uma profissão que possui o respeito social e que gera melhor perspectiva econômica se 
enquadra na realidade social já existente e desejada por muitos. Isso porque, mesmo que esse jovem 
venha a atingir o seu objetivo (cursar Medicina e se tornar um respeitável profissional), ele não 
estará rompendo com a estrutura social da sociedade, mas estará se aproximando de outro grupo na 
sociedade baseada na diferenciação (diferenciando-se da realidade vivida pelos pais).
2.	MeMóriA	e	iDeNtiDADe	soCiAL
A memória e a identidade social constituem pilares importantes para o reconhecimento do 
indivíduo na sociedade e também para a preservação da história dele, dos costumes, dos valores e da 
própria sociedade de maneira geral. 
Como veremos no Tópico 3 (Cultura e Ideologia), a cultura exerce um papel de grande relevância 
na vida dos indivíduos e nos seus respectivos processos de socialização. Ela é um produto coletivo dos 
seres humanos, mas é construída de maneira histórica. Santos (2006, p. 45) afirma que “cultura é uma 
construção histórica, seja na concepção, seja como dimensão do processo social”. A construção histórica 
dela e também dos diversos processos sociais presentes na sociedade cria elementos constitutivos do 
indivíduo, da sociedade e da identidade social. Como podemos preservar a história desses elementos 
constitutivos dos indivíduos? A preservação da memória é a resposta para esse questionamento.
A memória é a forma de se conservarem e recordarem fatos, situações e produções humanas 
vinculadas à criação do estado de consciência dos indivíduos. Ou seja, significa registrar e relembrar 
todos elementos que fazem parte da história da sociedade e, consequentemente, dos grupos sociais 
e indivíduos que dela fazem parte. Não existe cultura sem memória, pois a cultura é construída 
historicamente, e a história deve ser preservada e registrada. Todas as ações e obras da humanidade 
devem ser preservadas, pois influenciam de maneira direta a construção da identidade e dos próprios 
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A construção da identidade social:
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indivíduos. A memória é constitutiva das identidades cultural e social, ou seja, sem a preservação dela 
não existe nenhuma forma de identidade (cultural, social e política). Assim, não existe identidade sem 
preservação da história e, consequentemente, sem registro e preservação da memória. 
Preservação da memória
 
 Fonte: Pixabay. 
Existem diversas formas de preservar a memória, como registros oficiais verdadeiros, manutenção 
e preservação dos objetos da construção humana, registros fotográficos, crônicas verídicas etc. 
Segundo Berger e Luckmann (2003), a identidade tem a sua raiz de formação nos processos 
sociais, e após ser cristalizada pode ser mantida, modificada ou remodelada pelas relações sociais 
cotidianas presentes nos processos sociais. Já os processos sociais (geradores da identidade) são 
determinados pela estrutura social da sociedade. 
O filme “Eu, mamãe e os meninos” (2013), dirigido 
por Guillaume Gallienne, é uma comédia que conta 
a história de um personagem que busca a construção 
da sua identidade, mesmo diante de imposições e 
contrariedades da sociedade e da própria família.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Segundo Aron (1982), o indivíduo nasce da sociedade, fato que já denuncia o processo de formação 
de identidades na sociedade. Ou seja, se ele é construção direta das relações sociais, logo a construção da 
sua identidade depende das relações sociais presentes no cotidiano e vivenciadas por ele.
Um indivíduo desenvolve sua identidade social por meio dos processos sociais de que participa, 
os quais, por sua vez, aproximam tal indivíduo de valores (políticos, religiosos, sociais, morais etc.), 
crenças, pensamentos, atitudes e de espelhamentos que admira e/ou compartilha. A identidade social 
é formada mediante o tempo e possui um caráter flexível, pois pode ser modificada e/ou remodelada 
pela incorporação de novas características (valores, crenças, pensamentos, atitudes etc.) por parte do 
indivíduo em novas relações sociais cotidianas. 
É importante destacar que, muitas vezes, os processos históricos que dão origem à construção 
cultural (e a identidade também) são frutos de ações não planejadas de indivíduos. Ou seja, o 
desenvolvimento cultural e histórico também é fruto de ações particulares, cujas repercussões se 
tornam coletivas e sociais. 
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relação entre indivíduo e sociedade 
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Nesse cenário, Elias (1993, p. 17) afirma que:
[...] a questão de como todos esses processos, que consistem em nada mais do que ações 
de pessoas isoladas, apesar disso dão origem a instituições e formações que nem foram 
pretendidas nem planejadas por qualquer indivíduo singular na forma que concretamente 
assumem. 
Ou seja, mesmo em um ambiente de construção social padronizada, as ações individuais ainda 
são importantes para o processo de desenvolvimento de instituições e outras formações que impactam 
a formação culturale de identidade social. Ainda que não consciente, a natureza humana ainda 
sobrevive, mesmo em um ambiente de geração coletiva de valores, crenças, costumes e padrões de 
comportamento. 
O artigo “Documento, história e memória: a importância 
da preservação do patrimônio documental para o 
acesso à informação”, desenvolvido pelas pesquisadoras 
Franciele Merlo e Glaucia Vieira Ramos Konrad, aborda 
a importância do patrimônio documental no processo de 
preservação da história e da memória. Confira o texto em: 
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/viewFile/18705/pdf_43>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
3.	CuLturA	e	iDeoLogiA
Neste tópico, serão abordados os conceitos de cultura e ideologia, e também todas as suas 
repercussões na formação dos indivíduos, da coletividade e das identidades (nacional, social e política). 
3.1	Conceito	de	cultura
Segundo Vila Nova (2000), cultura, no sentido sociológico, é tudo o que resulta da criação 
humana, sendo assim, compreende ideias e artefatos. Nesse cenário, podemos perceber que o conceito 
de cultura para as Ciências Sociais possui diferenças básicas em relação à definição proposta pelo 
senso comum. No cotidiano, o termo se refere a erudição, conhecimentos, construções humanas 
(arte e ciência) etc. O sentido sociológico não exclui as definições de cultura para o senso comum, 
entretanto não se limita a elas. Nota-se que erudição, conhecimentos diversos, arte, ciência e filosofia 
fazem parte da cultura, mas não se limita a elas (na perspectiva sociológica). Edward B. Tyler (apud 
VILA NOVA, 2000, p. 53) afirma que cultura pode ser entendida como: “Um todo complexo que 
abarca conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes, e outras capacidades adquiridas pelos 
pelo homem como integrante da sociedade”. 
Portanto, resumidamente, cultura é todo o resultado atingido em processos que se sustentam 
na criação humana (VILA NOVA, 2000). Podemos dividi-la em material e não material. A cultura 
material é representada por objetos e artefatos em geral, e a imaterial é se expressa pelo domínio das 
ideias (linguagem, crenças, ética, valores morais, normas, técnicas etc.). Na perspectiva das Ciências 
Sociais, não existe hierarquia entre as culturas, ou seja, não há cultura superior e cultura inferior; 
existem, simplesmente, culturas diferentes (VILA NOVA, 2000).
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A cultura material representada por objetos e artefatos
 Fonte: Visualhunt.
Berger e Luckmann (2003) afirmam que a linguagem é o mais importante sistema de sinais 
das sociedades humanas, sendo a vida cotidiana fruto direto da linguagem (inserida no escopo da 
cultura). Podemos, assim, entender que compreender a linguagem é fundamental para a compreensão 
da vida cotidiana; ou seja, a vida circula por meio da linguagem (expressão direta da cultura). 
A cultura está presente em todos os nossos atos e em todas as nossas produções, e a própria 
expressão da linguagem é uma expressão direta da cultura. Berger e Luckmann (2003, p. 57) 
descrevem que:
A linguagem tem origem e encontra sua referência primária na vida cotidiana, referindo-se 
sobretudo à realidade que experimento na consciência e estado de vigília, que é dominada 
por motivos pragmáticos (isto é, o aglomerado de significados diretamente referentes as ações 
presentes ou futuras) e que partilho com os outros de maneira suposta evidente.
A cultura, em geral, faz referência a um passado comum a um povo, que seria base e também o 
portador da cultura (OLIVEN apud MICELI, 2002). A cultura está ligada a um povo, e a identidade 
nacional, a uma nação. Não podemos confundir cultura com identidade: a cultura é expressa por 
meio de toda a produção humana, consequentemente um povo expressa a sua cultura pelas produções 
sociais e das produções humanas individuais (produção de um ou mais integrantes, mas compartilhada 
por todos). 
Segundo Santos (2006), nas sociedades contemporâneas a cultura apresenta uma grande 
diversidade; o nosso país, por exemplo, possui uma grande diversidade cultural, ou seja, grandes 
variações dentro de uma mesma cultura. A afirmação Santos é convergente com a perspectiva 
sociológica de Émile Durkheim, segundo o qual a sociedade complexa (como a nossa sociedade 
contemporânea) se sustenta na diferenciação dos indivíduos mesmo apresentando um processo de 
socialização coercitivo. Em nossa sociedade, a diferenciação se apresenta na forma de diversidade. 
Santos (2006, p. 51-52) afirma: “A diferenciação é, no entanto, mais complexa, pois não se pode dizer 
que as maneiras de viver sejam homogêneas nem dentro da classe trabalhadora nem dentro da classe 
proprietária”. 
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relação entre indivíduo e sociedade 
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A cultura não é homogênea, mesmo em sociedades pautadas por um grande processo de 
socialização dos indivíduos (sociedade contemporânea), e deve ser observada e analisada a partir 
da sua diversidade. Ou seja, a aceitação da diversidade cultural é de fundamental importância para o 
respeito de culturas diversas das nossas, tendo em vista que não existe superioridade ou inferioridade 
de culturas, apenas processos históricos que estabelecem marcas diferentes em determinados grupos 
(SANTOS, 2006).
3.1.1	Cultura,	Nação	e	identidade	Nacional
Em sua definição moderna, Nação está ligado um território no qual os indivíduos compartilham 
características culturais, linguísticas e sociais comuns e desenvolvem um espirito de pertencimento. Já 
Identidade Nacional está vinculado ao grupo de indivíduos que compartilham esses valores culturais, 
linguísticos e sociais presentes em uma nação, sendo que esses indivíduos possuem um sentimento 
de ser parte de uma sociedade e/ou país. Resumindo, a nação não é, simplesmente, um território que 
tem todos os poderes concentrados em um Estado, mais, sim, um território no qual os indivíduos são 
vinculados por valores culturais, linguísticos e sociais, desenvolvendo, assim, a identidade nacional. 
Atualmente, temos diversos exemplos de nações que não constituídas em Estados burocráticos, mas 
por valores (e espírito nacionalista) que integram os seus componentes. (por exemplo, Catalunha, 
território localizado na Espanha, e País Basco, situado entre a Espanha e a França). 
A Identidade é fruto direto do autorreconhecimento de um indivíduo como integrante de um 
grupo no qual ele possui valores comuns (culturais, religiosos, políticos, sociais etc.). Entretanto, 
segundo Santos (2006), é importante ressaltar que para compreender as características culturais de 
um país devemos considerar a existência da diversidade cultural. Ou seja, mesmo em países que 
apresentam elevados níveis de rigidez cultural, ela existe e deve ser analisada e respeitada.
3.2	ideologia
O conceito de ideologia pode ser compreendido de diversas formas, entretanto partiremos da 
definição crítica utilizada nas Ciências Sociais. Segundo Marx e Engels (apud ARON, 1982), a ideologia 
está vinculada a um conjunto de ideias cujo objetivo é deixar de maneira obscura (escondida) a própria 
origem por interesses sociais de determinado grupo social. Portanto, a ideologia tem como característica 
influenciar os indivíduos (de todas as formas) na defesa dos interesses de dado grupo social. A 
adulteração da realidade objetiva (realidade que vivemos) é prática comum em nossa sociedade, situação 
que podemos perceber facilmente ao acompanhar um simples noticiário na televisão. 
As notícias são transmitidas, em grande parte, de acordo com os interesses do grupo de 
transmissão na qual ela está sendo reproduzida, ou seja, um mesmo fato pode ser descrito de diversas 
formas diferentes, conforme os interesses particulares de quem o está apresentando.
Portanto, podemos compreender a ideologia como um conjunto de ideias não verdadeiras que 
adulteram a realidade dos fatos, com o objetivo de alinhá-los aos interesses de determinadogrupo 
social, visando a gerar eventuais ganhos (econômicos, políticos, sociais etc.). Essa “verdade criada” 
tem sustentação nos modelos de Estado e de sociedade contemporâneos: Estado de direito e sociedade 
moderna industrial. Michel Foucault (2008, p. 179) afirma que: “[...] as regras do direito que delimitam 
formalmente o poder e, por outro, os efeitos da verdade que este poder produz, transmite e que por 
sua vez reproduzem-no. Um triângulo, portanto: poder, direito e verdade”.
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A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
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A ideologia está diretamente ligada ao conjunto de ideias que os grupos que estão no poder 
apresentam como verdades objetivas concretas. Segundo Foucault (2008), a verdade criada e, 
consequentemente, transmitida tem como finalidade a adulteração da realidade objetiva, mesmo que 
de maneira coercitiva exercida por meio do poder). Assim, a verdade criada assume um papel de 
verdade objetiva, encobrindo as mazelas deixadas pelo Estado de direito e pela sociedade moderna 
industrial. A ideologia é uma ferramenta de opressão dos grupos dominantes sobre os grupos 
dominados na sociedade.
O filme “Cidadão Kane” (1941), escrito, dirigido 
produzido e estrelado por  Orson Welles, conta 
a história de um magnata da indústria da 
comunicação, que criou um império por meio do 
mercado da informação, e esta foi transformada em 
um produto mercadológico – servindo assim aos 
interesses de grupos específicos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.	A	Divisão	soCiAL	Do	trAbALho
O primeiro grande trabalho de Émile Durkheim foi a obra Da Divisão do Trabalho Social (1893), 
título também da sua tese de doutoramento. É justamente nesse livro que o pensador assume de maneira 
clara as influências de Augusto Comte, e da sociologia positivista, estabelecendo de maneira clara um 
dos principais objetos dos seus estudos: as relações existentes entre os indivíduos e a coletividade 
(ARON, 1982). 
Na busca por explicar essas relações, mais precisamente sobre a divisão do trabalho social, 
Durkheim descreve a existência de duas formas de “solidariedade” (geradoras de integração ou coesão 
social) na sociedade: mecânica e orgânica. Começaremos descrevendo cada uma das solidariedades 
observadas e descritas por Durkheim (1999):
•	 Solidariedade mecânica: solidariedade por semelhança; quando essa forma se sobrepõe 
na sociedade, a tendência é que os indivíduos tenham características semelhantes, ou seja, 
pouco diferem entre si. As semelhanças são baseadas no fato de os indivíduos carregarem 
os mesmos valores, possuírem os mesmos sentimentos e reconhecerem os mesmos objetos 
sagrados.
•	 Solidariedade orgânica: a diferenciação está presente, ou seja, a unidade que une a coletividade 
resulta de uma diferenciação. Trata-se da solidariedade baseada na diferenciação dos 
indivíduos.
Aron (1982) afirma que as solidariedades descritas por Durkheim apresentam uma oposição 
entre si, se combinando com a oposição entre as sociedades segmentárias e aquelas com moderna 
divisão do trabalho (ARON, 1982). Ou seja, segundo Aron, Durkheim dá um passo importante para 
conhecer a sociedade moderna industrial ao criar elementos metodológicos (próprios da sociologia) 
para diferenciá-la de outros modelos de sociedades. 
Primeiramente, é necessário compreender o conceito de sociedades segmentárias utilizado 
por Durkheim para descrever as sociedades opositoras àquelas com uma moderna divisão do 
trabalho social. Segundo Durkheim (1999), um segmento pode ser concebido como um grupo 
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relação entre indivíduo e sociedade 
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social no qual os membros estão integrados entre si, mas também separados do mundo exterior. Ou 
seja, as sociedades segmentárias possuem semelhanças com a solidariedade mecânica, entretanto a 
solidariedade mecânica não descarta a comunicação com o mundo exterior (DURKHEIM, 1999). É 
importante destacar que por mais que existam singularidades entre as sociedades segmentárias e a 
solidariedade por semelhanças, a estrutura segmentária não pode ser confundida com a solidariedade 
por semelhanças (ARON, 1982). 
Apresentadas as diferenças básicas entre as formas de solidariedade descritas por Durkheim, 
tentaremos compreender como ocorre a divisão do trabalho social nas sociedades caracterizadas pela 
solidariedade orgânica (inclusive a sociedade moderna ocidental). Durkheim (1999) afirma que a 
diferenciação das diversas profissões e a multiplicação das atividades industriais são expressões de 
uma diferenciação social, características de sociedades com solidariedade orgânica. Ou seja, não 
seria possível o desenvolvimento das diversas atividades industriais (que deram origem a diversas 
novas profissões – fenômeno que ocorre até os dias atuais) e a diferenciação das profissões se não 
tivesse ocorrido uma ruptura com as estruturas das sociedades com base na solidariedade mecânica e 
sociedades com estruturas segmentárias. 
Neste momento, surge um questionamento importante: segundo Durkheim, como ocorre a 
divisão do trabalho nas sociedades que apresentam solidariedade orgânica? O pensador deduz que 
a divisão do trabalho se apresenta como “uma certa estrutura de toda a sociedade, de que a divisão 
técnica ou econômica do trabalho não passa de uma manifestação” (DURKHEIM apud ARON, 
1982, p. 302). O domínio da coletividade sobre os indivíduos explica a manifestação apresentada, ou 
seja, a divisão do trabalho não está distante dos demais fenômenos sociais existentes nas sociedades 
complexas, nas quais o indivíduo é um fruto da sociedade e não o contrário.
Nesse cenário, podemos perceber que o processo de divisão do trabalho não ocorre ao acaso, 
mas, sim, de maneira objetiva, a sustentar a organização social da sociedade. Trata-se de algo muito 
maior que um mero fenômeno econômico, é um fenômeno social que sustenta as condições essenciais 
para a existência da vida social. As sociedades complexas (como a sociedade moderna industrial) 
se mantêm em equilíbrio por causa, justamente, da divisão de tarefas, e assim a divisão do trabalho 
exerce um papel fundamental na geração de solidariedade social.
É importante ressaltar que nas sociedades que apresentam solidariedade orgânica (por 
diferenciação) o elemento que faz a ligação entre os indivíduos é a solidariedade social, que, na nossa 
sociedade, é gerada pela divisão do trabalho social; ou seja, a solidariedade social contribui para a 
integração da sociedade que possui solidariedade orgânica (DURKHEIM, 1999). 
Já, segundo Weber (2004), a falta de uma profissão fixa (estabelecida na divisão social do 
trabalho) gera ao indivíduo uma perpétua confusão, pois não sabe o que fazer ou quando fazer. Weber 
(2004, p. 147) afirma que: 
O trabalho instável a qual se vê obrigado o homem comum que trabalha por dia é um 
estado precário, muitas vezes inevitável, sempre indesejável. Falta justamente à vida de quem 
não tem profissão o caráter metódico-sistemático que, como vimos, é exigido pela ascese 
intramundana.
Podemos perceber que Weber destaca a necessidade de uma ascese ao trabalho, identificada por 
ele em alguns agrupamentos religiosos protestantes, e que a falta dessa ascese (consequentemente de 
uma profissão) faz com que o indivíduo se sinta perdido (ficando preso em uma perpétua confusão). Se, 
por um lado, Durkheim observa que a divisão do trabalho – e a geração de solidariedade social – gera 
uma forma de integração nas sociedades que apresentam solidariedade orgânica (como a sociedade 
moderna industrial – sociedade contemporânea), por outro lado, Weber diz que essa ligação deixa os 
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indivíduos em estado de confusão caso não exista a ascese ao trabalho. A ascese ao trabalho, segundo 
Weber, é gerada pela existência de vocação profissional, e não para que o indivíduo ocupe um lugar na 
sociedade, visando a gerar integração social e também coesão social.

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