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CAROLINY OLIVEIRA SILVA DE SANTANA ESTER SILVA BRITO GONÇALVES VITÓRIA CAROLINA DE OLIVEIRA BARBOSA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO AUXILIAR DE NECROPSIA SÃO VICENTE 2021 Caroliny Oliveira Silva de Santana Ester Silva Brito Gonçalves Vitória Carolina de Oliveira Barbosa TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO AUXILIAR DE NECROPSIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Auxiliar de Necropsia como exigência para obtenção do título de Auxiliar de Necropsia em Centro Politécnico Evolução. Orientador (a): Docente Airam Roggero SÃO VICENTE 2021 RESUMO Este trabalho tem como objetivo utilizar os conhecimentos técnicos-científicos de necropsia para examinar e descrever de modo detalhado e profissional os fatos ocorridos acerca do fenômeno de cinco homicídios triplamente qualificados e constatar o que foi evidenciado no caso proporcionando suporte para a compreensão da ocorrência. Palavras-chave: Necropsia; Massacre; Saudades; ABSTRACT This work aims to use the technical-scientific knowledge of necropsy toexamine and describe in detail the occurred facts about the phenomenon of five triple- qualified homicides and verify what has been evidenced in the case, providing support to the comprehension of the occurrence. Key words: Necropsy; Carnage; Saudades; SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 6 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 7 3. METODOLOGIA ...................................................................................................... 17 4. ANÁLISE DE DADOS ............................................................................................. 18 4.1. O ocorrido ................................................................................................................... 19 4.2. As mortes .................................................................................................................... 19 4.3. A arma ......................................................................................................................... 20 4.4. O local ......................................................................................................................... 20 4.5. O assassino ................................................................................................................ 21 4.6. O interrogatório .......................................................................................................... 22 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 23 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 25 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 26 6 1. INTRODUÇÃO Por volta das 10h da manhã do dia 04 de Maio de 2021, um rapaz de 18 anos entra armado com duas armas brancas em uma creche do município de Saudades (SC), localizado a cerca de 600 km da cidade de Florianópolis. A creche atendia crianças de 6 meses a 2 anos de idade, e no momento do ocorrido, haviam 20 crianças presentes no estabelecimento, sob os cuidados de 5 professoras. O assassino atacou primeiramente a professora Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos, em seguida atacando mais uma professora: Mirla Renner, de 20 anos, e 4 crianças: Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses; Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses; Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses; Henryque Hubler, de 1 ano e 8 meses. Das 6 vítimas atingidas, apenas Henryque Hubler foi socorrido com vida e teve alta do hospital alguns dias após o ataque. Todas as outras 5 vítimas vieram a óbito. Segundo a perícia, a arma utilizada para desferir os golpes foi uma “Katana”, espada milenar de origem japonesa. A professora Keli foi golpeada oito vezes com o objeto; Mirla Renner foi golpeada duas vezes; Quanto às crianças: uma delas recebeu oito golpes; já a segunda criança foi golpeada seis vezes; a terceira criança encontrada morta também recebeu seis golpes. Após atacar as professoras e crianças da creche, o assassino desferiu golpes contra si mesmo, tentando cortar seu pescoço, porém, foi socorrido e levado em estado grave até o Hospital Regional do Oeste (HRO), localizado no município de Chapecó (SC), onde foi interrogado dias depois pelo delegado responsável pelo caso. Após receber alta do hospital, o autor do crime foi levado ao Presídio Regional de Chapecó, onde permanece detido. O autor do massacre, Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, foi indiciado por cinco homicídios triplamente qualificados e uma tentativa de homicídio, com três qualificadores: motivo torpe, cruel e que impossibilitou a defesa das vítimas. 7 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Os atentados a escolas tornaram-se famosos e vêm ganhando certa notoriedade desde o massacre em Columbine High School, em 20 de abril de 1999, nos Estados Unidos, onde dois adolescentes entraram armados e atirando contra os alunos e professores da escola. Depois de matarem 13 pessoas e ferirem mais de 30, os autores tiraram a própria vida. (VIEIRA; MENDES; GUIMARÃES, 2009) A repercussão do caso foi tamanha que não demorou muito para que outros massacres inspirados no de Columbine passassem a ocorrer. Um exemplo é o massacre à universidade Virginia Polytechnic Institute and State University, também nos Estados Unidos, em que um estudante sul-coreano atirou e matou 32 alunos e professores e, em seguida, tirou a própria vida. O caso aconteceu no dia 19 de abril de 2007 – véspera dos 8 anos ao massacre de Columbine. O fenômeno ficou conhecido como School Shooting (tiroteio em escola), e, apesar de ter se popularizado mais na América do Norte, – principalmente nos Estados Unidos – vários outros países ao redor do mundo – como o Brasil – passaram a registrar casos parecidos ou inspirados. (VIEIRA et al., 2009) Apesar de nem sempre os autores destes massacres utilizarem armas de fogo para atacar às vítimas, – como no caso do atentado a creche de Saudades, em que o assassino utilizou uma arma branca para cometer os crimes – a intenção é geralmente a mesma: o ataque a uma escola, deixando claro que o alvo é especificamente a instituição (MUSCHERT, 2007). Psicólogos, psiquiatras e sociólogos encontram certas dificuldades em caracterizar as motivações que levam um jovem a cometer tal ato, já que estes ataques ocorrem geralmente de forma aleatória, tendo como vítima qualquer pessoa que se encontre no local do atentado ou no caminho do assassino (LIMA, 2009). Porém, como ressalta o Psicólogo Raymundo de Lima (2009), existem alguns pontos coincidentes que ligam estes crimes e podem indicar um padrão: 8 1. a maioria dos assassinos de escola são homens jovens, geralmente rotulados pelos estudos como “perdedores”; 2. estes geralmente são viciados em videogames e filmes violentos; 3. têm acesso fácil a armamento pesado; 4. são quietos, reservados, introspectivos, considerados “esquisitos”; 5. escolhem atacar ambientes escolares e, geralmente, suicidam-se posteriormente (ou tentam); 6. são jovens que não apresentam sinais de comportamentos desviantes antes do atentado, não possuem histórico de violência ou delinqüência, mas que possuem algum histórico familiar complicado. O Psicanalista Contardo Calligaris (2009) ressalta ainda mais um elemento sintomático deste tipo de assassino: “Estes gestos homicidas e suicidas são propositalmente públicos. Nãose trata de alvejar os passantes a partir de uma janela escondida: a matança é teatral.” (LIMA, 2009) Portanto, isto significa que esses assassinatos são planejados como um espetáculo no qual os autores são os protagonistas de um filme ou jogo violento, movidos pelo desejo de onipotência de “produzir remorso em escala global” (LIMA, 2009). Por isso a idéia de matar pessoas inocentes em ambientes vulneráveis como escolas, creches ou universidades: a intenção é chocar. Alguns estudos explicam que esse tipo de conduta pode estar relacionado a um mal-estar global produzido pelo capitalismo (LIMA, 2009), e que estes crimes estão ligados a um contexto maior de uma cultura interna de violência contra a sociedade, como cita Zizek (1999): “Esse “mal-estar” não traz os sinais clássicos de maldade, mas sim, é considerado efeito normal da diversão e gozos próprios da pós-modernidade: os jovens passam horas se ‘divertindo’ em videogames violentos, cujo efeito é a dessensibilização sobre a dor dos outros; inconscientemente, eles estão exercitando sua pulsão de morte para ser ato na realidade concreta.” (ZIZEK, 1999) Portanto, acredita-se que os jogos e filmes violentos – produtos do capitalismo ou pós-modernidade – com os quais os jovens têm grande contato nos dias atuais, podem ser umas das principais motivações de massacres desse tipo. 9 Porém, grande parte dos estudos acredita que tal comportamento pode estar associado a estruturas familiares e parentais problemáticas. Cecconello et al. (2003), por exemplo, falam sobre estilos parentais e práticas educativas que podem auxiliar ou prejudicar o desenvolvimento psicossocial de um indivíduo. “As práticas educativas se referem a estratégias que os pais utilizam para atingir objetivos específicos relacionados a diferentes domínios, tais como o social, afetivo, acadêmico, etc. Essas práticas estão relacionadas a circunstâncias e contextos mais específicos. Já o estilo parental se refere ao padrão global característico das interações dos pais com os filhos manifesto nas mais diversas situações, e ao clima emocional gerado por tais interações.” (VIEIRA et al., 2009) Cecconello et al. (2003) descrevem quatro estilos parentais: autoritário, indulgente, negligente e autoritativo. O modelo autoritário é caracterizado por pais que aplicam punições físicas e/ou outras medidas punitivas aos seus filhos. Tal modelo pode prejudicar o desenvolvimento de crianças e adolescentes, pois existe um alto nível de controle e pobreza de afeto nas interações. O modelo indulgente é caracterizado por um baixo nível de controle, combinado com alta responsividade. “Pais indulgentes são afetivos e comunicam-se bem com os filhos, porém não os monitoram e atendem prontamente às suas demandas, não estabelecendo regras e limites e estabelecendo pouca demanda de responsabilidade e maturidade.” (VIEIRA et al., 2009) No modelo negligente, existe uma forte falta de monitoramento e de imposição de limites por parte dos pais, bem como um baixo nível de interação e afetividade entre pais e filhos. “O estilo indulgente e o negligente são marcados por pais que permanecem à distância em relação à rotina dos filhos, falhando em orientá-los acerca de seus comportamentos, crenças, expectativas, emoções, etc.” (VIEIRA et al., 2009) Já o estilo autoritativo, em contrapartida, se diferencia completamente dos três modelos anteriores, pois é caracterizado pela alta participação dos pais na vida dos filhos, pela imposição de regras claras e limites, combinados a adequadas interações afetivas. 10 “Há, neste estilo, alta demanda por responsabilidade e maturidade, além das demonstrações de afeto. Estudos apontam para bom nível de competência social, assertividade e comportamento independente de crianças; e também apontam melhores níveis de adaptação psicológica, competência social, auto-estima, autoconfiança e menores níveis de problemas comportamentais, ansiedade e depressão na adolescência, relacionados ao estilo autoritativo em comparação com os outros estilos.” (VIEIRA et al., 2009) Portanto, o modelo autoritativo seria, hipotéticamente, o modelo parental mais adequado e que gera menos riscos para o desenvolvimento destas formas de comportamentos violentos apresentados, por exemplo, por assassinos em série. Diversas outras pesquisas falam ainda sobre a influência dos modelos comportamentais apresentados pela mídia e também sobre o desenvolvimento psicossocial do indivíduo em ambientes sociais inadequados, o que pode influenciar o desenvolvimento de psicopatologias. (VIEIRA et al., 2009) Em seu livro “Why kids kill?” – “Por que crianças matam” – de 2009, o Psicólogo americano Peter Langman designa três categorias de “atiradores de escola” – ou assassinos de escola. Estas são: atiradores psicopatas, atiradores psicóticos e atiradores traumatizados. (LANGMAN, 2009) Os atiradores psicopatas são descritos pelo Psicólogo com as seguintes características: “Narcisismo extremo; rejeição pela moral; falta de empatia, culpa ou remorso; sadismo; gerenciamento de impressão; se sentem como a vítima: nada é culpa deles; facilmente irritados.” (LANGMAN, 2009) Os atiradores psicóticos são descritos pelo Psicólogo com as seguintes características: “Alucinações; delírios; discurso, escrita ou comportamento desorganizado; função social/emocional prejudicada; alienação profunda; invejam colegas de mais sucesso.” (LANGMAN, 2009) Já os atiradores traumatizados são descritos com as seguintes características pelo Psicólogo: “Famílias instáveis, caóticas ou fragmentadas; abuso de substâncias pelos pais; pais com comportamento criminoso; 11 abuso físico, sexual ou psicológico; mudanças freqüentes; mudanças de cuidadores.” (LANGMAN, 2009) Portanto, ter em vista o contexto biopsicossocial no qual o assassino está inserido é de extrema importância para uma melhor compreensão das motivações do indivíduo e para uma melhor e mais completa perícia do caso. Quanto às questões específicas da profissão, estas devem, também, estar devidamente fundamentadas teoricamente. O ramo das ciências forenses que, partindo do exame do local, das informações acerca das circunstâncias da morte, e atendendo aos dados do exame necrópsico, procura estabelecer a identificação do cadáver; o mecanismo da morte; a causa da morte; o diagnóstico diferencial médico-legal (acidente, suicídio, homicídio ou morte de causa natural), é a Tanatologia Forense. Porém, nem sempre é possível estabelecer estas identificações. (SANTOS, 2018) A Necropsia, sendo parte deste ramo das ciências forenses e, ao contrário do que muitos pensam, não serve apenas para identificar a causa da morte, ela tem diversas outras importantes funções, como: controle de qualidade do diagnóstico e do tratamento, através do conhecimento; fonte de informação para a secretaria de saúde; material de ensino para médicos residentes, alunos e professores; material para pesquisa cientifica. (SANTOS, 2018) Existem três principais tipos de necropsias: a Necropsia Forense, que tenta encontrar respostas para a causa da morte violenta ou suspeita como parte de uma investigação policial; (IML) Instituto Médico Legal a Clínica, que lida com mortes não violentas ou SVO (Serviço de verificação ao óbito); e a Autópsia Hospitalar, realizada em pacientes internados ou falecidos em decorrência de alguma patologia. As autópsias hospitalares e o SVO são realizados por um anato patologista. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA (SBP), 2015) A execução da necropsia é obrigatória em casos de morte e está regulada a partir do Código de Processo Penal, artigo 162: 12 ““A autópsia será feita pelo menos seis (6) horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgar que possa ser feita antes daquele prazo, o que declarará no auto”. Parágrafoúnico – nos casos de mortes violentas, bastará o simples exame do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando a lesão externa permitirem precisar a causa da morte e não houver a necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.” (IML-SSP-SP) O exame endonecroscópico é um exame muito importante na Necropsia, pois sua principal finalidade é identificar, em autópsias médico-legais, as lesões em determinados órgãos que provocaram a morte do indivíduo, tendo como objetivo esclarecer a causa da morte e as circunstâncias em que esta ocorreu nos casos de morte violenta ou de causa ignorada, estabelecendo-se o diagnóstico diferencial entre morte natural, suicídio, homicídio e acidente. (SANTOS, 2018) O auxiliar de Necropsia ou Necropsista é um profissional que presta serviços de nível mediano na cooperação em uma necrópsia ou autópsia, contribuindo na investigação da causa mortis de um indivíduo, também sendo muito encontrado em hospitais e funerárias. “A técnica da necropsia consiste em estudar as alterações de todos os órgãos após a morte a partir do exame macroscópico (observação a olho nu dos órgãos retirados), que fornece material para o exame microscópico, onde serão vistas as alterações a nível celular. Relacionando os achados macro e microscópicos com os dados da história do paciente, para então se estabelecer a causa da morte, doença de base ou outras patologias existentes.” (SANTOS, 2018) O auxiliar de Necropsia tem importantes atribuições, como: • identificação do cadáver; • manuseio do cadáver para possibilitar a observação de lesões externas; • higiene dos corpos; • execução e acompanhamento de exumações; • observação de lesões internas no cadáver; • colheitas de amostras viscerais para exames de laboratório; • limpeza de instrumentos utilizados nas necropsias; • recolhimento de ossadas, restos putrefatos e cadáveres inteiros para atender exigências legais; 13 • limpeza de ossos; • limpeza e higiene dos instrumentos e equipamentos e da sala de exame após cada exame de necropsia ser realizado; • zelar pela guarda, conservação e limpeza dos materiais e instrumentais utilizados em seu local de trabalho. O auxiliar de Necropsia deverá estar psicológica e fisicamente preparado, pois, além de trabalhar com corpos sem vidas o estado destes corpos poderá já estar em estado de decomposição e o odor é outro obstáculo que esse profissional deverá adquirir habilidades para gerenciar. No entanto, o uso de EPI’s é de extrema importância no cotidiano de trabalho deste profissional para lidar com tais questões (como máscaras cirúrgicas ou com filtro, óculos de proteção, gorro descartável, avental de manga longa, macacão, luvas de borracha, botas de borracha de preferência brancas, etc). (SANTOS, 2018) Já em relação aos aspectos médico-legais dos corpos das vítimas, mais relacionados à área da Necropsia, algumas questões de extrema relevância devem ser levadas em consideração na presente fundamentação. A espada Katana é classificada como um instrumento perfuro-cortante. Este tipo de instrumento produz lesões conhecidas como “perfuro-incisas”, e estas, dependendo de vários fatores, – como a quantidade de lesões, a profundidade destas, a força aplicada para desferir os golpes, a posição da vítima e do agressor, os órgãos e tecidos atingidos, etc – geralmente são letais. (SILVA, 2009) Os instrumentos perfuro-cortantes são dotados de lâmina e gume afiado que, munidos de ponta fina, actuam por um mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com o bordo afiado os planos superficiais e/ou profundos do corpo da vítima. Agem por pressão e secção. Estes instrumentos podem possuir mais do que um gume, por exemplo: instrumentos com um gume podem ser representados por uma espada, canivete ou faca-peixeira; instrumentos com dois gumes como o punhal; e instrumentos de três gumes ou traingulares afigurados por uma lima. (SILVA, 2009) Sabe-se, através de informações da perícia do caso, que a arma utilizada por Fabiano para desferir os golpes foi uma espada Katana, portanto, um instrumento perfuro-cortante de um único gume. 14 Ao se deparar com uma vítima fatal de ferimentos por arma branca, uma das principais tarefas que o profissional de Necropsia deve realizar é a classificação das feridas traumáticas encontradas no corpo. Segundo Silva (2009), estas feridas são classificadas de acordo com os seguintes aspectos gerais: integridade cutânea, profundidade dos tecidos lesados e tipos de lesão. Quanto à integridade cutânea: pode-se aferir dois tipos de feridas: as feridas abertas e as feridas fechadas. Tendo em vista o caso que está em discussão na presente pesquisa, sabe-se que todas as vítimas de Fabiano foram encontradas com feridas abertas, portanto: “Feridas abertas caracterizam-se por alteração da solução de continuidade da pele, ou seja, quando a pele ou revestimento da mucosa são seccionados, por meio de instrumentos sobre e superfície corporal [...] Pode ainda este trauma causar destruição e exposição de estruturas internas.” (SILVA, 2009) Quanto à profundidade dos tecidos lesados: existem dois tipos de classificação quanto à profundidade das lesões por arma branca. O primeiro tipo classifica as lesões como: superficiais, profundas e transfixantes. As lesões superficiais envolvem apenas as camadas mais superficiais da pele; as lesões profundas envolvem estruturas mais profundas, como tecido adiposo, músculos, órgãos, etc; já as lesões transfixantes transpassam todas as estruturas subjacentes de um lado ao outro. O segundo tipo classifica essas lesões como: superficiais, espessura parcial, espessura total e espessura total com comprometimento do tecido subcutâneo. As lesões superficiais são aquelas em que o dano ocorre apenas na epiderme; as lesões de espessura parcial são aquelas em que ocorrem danos na epiderme que chegam até a derme (um pouco mais profundas); nas lesões de espessura total, os danos são causados nas duas estruturas (derme e epiderme), além de poder danificar também estruturas adjacentes e tecido subcutâneo. (SILVA, 2009) Porém, segundo Baranoski e Ayello (2006), é importante que o profissional tenha em mente que nem sempre é possível identificar a profundidade dos cortes. 15 Quanto aos tipos de lesão: o tipo de lesão irá depender do tipo de arma branca que foi utilizada para desferir os golpes. Existem seis tipos de lesão: as feridas incisas (originadas por instrumentos cortantes); as feridas contusas (originadas por instrumentos contundentes); as feridas perfurantes (originadas por instrumentos perfurantes); as feridas perfuro-incisas (originadas por instrumentos perfuro-cortantes); as feridas corto-contundentes (originadas por instrumentos pesados e com lâmina com gume afiado); e as feridas perfuro-contusas (originadas por instrumentos capazes de perfurar e contundir, simultaneamente). (SILVA, 2009) “A descrição das características da lesão depende da relação existente entre o tipo de arma utilizado, e particularidades da mesma, como o gume, o tipo de ponta e as suas dimensões, paralelamente, a profundidade, a direção, a inclinação, os movimentos dentro dos tecidos, a extração da arma bem como as propriedades da pele nos diferentes locais anatômicos.” (SILVA, 2009) Tendo em vista a arma que foi utilizada no caso do massacre de Saudades, – um instrumento perfuro-cortante – sabemos, portanto, que o tipo de lesões apresentadas nos corpos das vítimas eram do tipo “perfuro-incisas”, que, segundo Silva (2009), caracterizam-se pelo predomínio da profundidade sobre as dimensões externas, podendo, também, atingir o interior das cavidades naturais, como os órgãos vitais. Estas lesões podem ser: penetrantes; perfurantes; transfixantes; em fundo-de-saco; em harmônio. As lesões perfuro-incisaspenetrantes caracterizam-se por entrar em contato com cavidades pré-existentes, como pleura, peritoneu, pericárdio, etc. “A extensão da penetração é proporcional à superfície da área do ponto de impacto, à densidade dos tecidos atingidos e à velocidade do objeto no momento do impacto. Noventa e sete porcento destas lesões são devidas a projeteis de armas de fogo e armas brancas.” (SILVA, 2009) As lesões perfuro-incisas perfurantes caracterizam-se por penetrar em partes maciças do corpo, sem saída; as lesões perfuro-incisas transfixantes caracterizam-se por atravessar um órgão ou uma parte do corpo de um lado ao outro; já as lesões perfuro-incisas em fundo-de-saco são lesões que, quando o instrumento perfura, se depara com um obstáculo resistente (como ossos) e 16 não penetram mais a fundo; as lesões perfuro-incisas em harmônio são lesões nas quais a lâmina do instrumento produz uma lesão mais profunda que o seu próprio comprimento, isto ocorre quando a superfície do corpo atingida é depressível – como a parede do abdome. (SILVA, 2009) “Classificar uma ferida traumática é um processo complexo, onde subdividir apenas nestes tipos de classificação torna-se limitado. Requer minucioso senso de observação tendo em conta outras evidências, como as várias características próprias da lesão (bordos, extensão, cor, perda de tecido, forma), o mecanismo causador e a localização precisa na área corporal.” (JORGE; DANTAS, 2003) Segundo França (2008), Saukko e Knight (2004) e DiMaio (2001), as lesões perfuro-incisas são geralmente descritas como as mais associadas a homicídios, já que estas tornam-se facilmente fatais quando órgãos vitais são atingidos. (SILVA, 2009) Os corpos de vítimas encontrados com ferimentos causados por arma branca geralmente apresentam múltiplos golpes, dispersos por todo o corpo. Porém, os golpes realmente fatais por arma branca são geralmente desferidos no tórax e no abdome (SILVA, 2009). Em outros locais do corpo, os golpes geralmente são superficiais ou não atingem órgãos vitais. Segundo DiMaio e DiMaio (2001), a morte por arma branca costuma ser extremamente rápida, por conta da hemorragia abundante. Os golpes desferidos na região torácica levam à uma morte mais imediata do que na região abdominal, já que no tórax encontram-se órgãos como o pulmão, coração, artérias importantes, etc. Já na região abdominal, segundo DiMaio (2001): “Ocasionalmente, nas lesões no abdome, a morte não é imediata. Pelo contrário, a vítima desenvolve peritonite devido a um ferimento do intestino. Assim, no que diz respeito a facadas no abdome, dois terços entram na cavidade abdominal e menos da metade desses, infligem danos significativos para as vísceras.” (SILVA, 2009) Este dado se confirma ao analisarmos a situação da educadora Mirla Renner, – uma das vítimas de Fabiano – que foi golpeada duas vezes apenas no abdome. Segundo informações da polícia, Mirla ainda foi socorrida e levada ao hospital com vida, vindo a óbito momentos depois, não tendo uma morte 17 imediata como a das outras 4 vítimas – todas com pelo menos um golpe na região torácica. “A interpretação das lesões pode ser realizada através da revisão de alguns documentos, entre os quais, os registros clínicos, os anagramas corporais e a fotografia.” (SILVA, 2009) Segundo Silva (2009), a fotografia ainda é o melhor meio para uma verdadeira documentação – e conseqüente interpretação – da lesão. 3. METODOLOGIA O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica, onde houve um levantamento de referenciais teóricos relacionados ao tema central da pesquisa através de notícias e informações periciais sobre o caso em discussão, seguido de uma análise acerca do tema discutido e sobre os referenciais obtidos. Nesse processo, serão utilizadas bases de dados online, via internet, como periódicos, livros, artigos e sites com conteúdo e produções das mais diversas áreas das Ciências Humanas, bem como noticiários e informações midiáticas. 18 Portanto, a pesquisa será bibliográfica, com análise qualitativa dos dados obtidos através da Literatura Científica e das informações obtidas através da imprensa. 4. ANÁLISE DE DADOS O caso da creche de Saudades (SC) é só mais um exemplo de massacres brasileiros em ambientes escolares. Podemos citar outros casos recentes do tipo, como o massacre de Realengo (RJ) – ocorrido em abril de 2011 – e o massacre de Suzano (SP) – ocorrido em março de 2019. Em Realengo, o assassino entrou em uma escola municipal e matou doze alunos com idades entre 13 e 15 anos, feriu 22 pessoas, e suicidou-se posteriormente. Tudo ocorreu no dia 7 de abril de 2011. 19 Em Suzano, dois atiradores entraram em uma escola estadual e mataram 5 alunos e 2 funcionárias, além de terem matado também o tio de um dos assassinos momentos antes da chacina. 11 pessoas ficaram feridas e, posteriormente, um dos assassinos matou o outro e suicidou-se. Tudo ocorreu no dia 13 de março de 2019. E estes são apenas alguns exemplos, já que antes do massacre de Realengo, 7 outros crimes parecidos ocorreram em escolas brasileiras. Portanto, nota-se que esse tipo de atentado vem se tornando, infelizmente, extremamente comum em nosso país – e ao redor do mundo. Tendo em vista este panorama geral, focaremos agora na análise qualitativa dos dados que envolvem o massacre de Saudades. 4.1. O ocorrido Como já explicitado anteriormente, o crime ocorreu no dia 4 de maio de 2021. O massacre foi planejado por meses e executado unicamente por Fabiano Kipper Mai – estudante de 18 anos do ensino médio – segundo as informações da polícia. A partir da apuração de depoimentos das outras vítimas presentes no local, – como as outras professoras que conseguiram trancar as portas das salas de aula e protegerem-se com as crianças – notou-se que a intenção de Fabiano era matar o máximo de pessoas possível, já que ele tentou forçar a entrada em todas as outras salas da creche, porém, quando se deparava com uma porta trancada, corria imediatamente para a próxima, como se estivesse com pressa para conseguir cometer o máximo de assassinatos possíveis antes da chegada das autoridades. Isto indica que o número de vítimas poderia ter sido bem maior. 4.2. As mortes No local, Fabiano matou 5 pessoas, incluindo 3 crianças menores de 2 anos, de forma extremamente violenta, desferindo múltiplos golpes de espada contra as vítimas. 20 Segundo o IGP (Instituto Geral de Perícia), as 5 vítimas mortas pelo assassino foram encontradas da seguinte forma: • A professora Keli recebeu oito golpes, sendo dois na perna direita, um na perna esquerda, quatro nas costas e um no braço esquerdo; • Mirla Renner foi golpeada duas vezes no abdome. • A primeira criança recebeu oito golpes, sendo cinco deles nas costas, dois na cabeça e um no tórax; • A segunda criança foi golpeada seis vezes, sendo três no abdome, duas no tórax e uma nas costas; • A terceira criança também recebeu seis golpes, sendo dois nas costas, dois no tórax, um no abdome e um no glúteo. 4.3. A arma Foram encontradas duas armas brancas com o assassino: uma espada Katana e uma faca menor. Apenas a espada foi utilizada para desferir os golpes. A espada do estilo Katana é um objeto milenar e cultural, de origem japonesa. Sua lâmina possui cerca de 60 cm e é conhecida por ser extremamente afiada. É geralmente um objeto adquirido por colecionadores e não é facilmente encontrada no Brasil. A compra e venda de armas brancas não se configura como crime. Segundo a investigação e a perícia realizada em seu computador, descobriu-se que Fabiano tentou por diversas vezes comprar armas de fogo, e que seu alvo inicial era a escola na qual ele cursava o 3° ano do ensino médio. Porém, por não ter conseguidoacesso ao armamento mais pesado, Fabiano mudou seu alvo, indo em busca de um local em que houvesse maior vulnerabilidade das vítimas. 4.4. O local O local onde ocorreu o massacre foi a escola infantil Pró-Infância Aquarela, localizada no município de Saudades (SC). A escola atendia alunos de 6 meses a 2 anos de idade. No momento do crime, havia pelo menos 20 crianças no local sob os cuidados de 5 professoras. 21 Segundo o delegado responsável pelo caso, a escolha do local foi propositalmente pela vulnerabilidade das vítimas, já que era uma escola pequena, com poucos alunos, – todos menores de 2 anos de idade – que ficavam sob a responsabilidade de poucas funcionárias, – todas mulheres – e que podem ser considerados alvos fáceis para esse tipo de crime. As investigações concluíram também que Fabiano não possuía qualquer relação com a creche ou com as vítimas, demonstrando, portanto, que seu “ódio” era generalizado, não havendo um alvo específico. 4.5. O assassino Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, cursava o 3° ano do ensino médio em uma escola do município de Saudades (SC). Segundo a família, o jovem sofria bullying na escola. Fabiano apresentava certos comportamentos preocupantes, como maltratar animais e passar horas isolado em seu quarto sem se comunicar com ninguém, tanto que nem mesmo sentava-se à mesa para realizar as refeições com a família. Alguns familiares relatam que, nos poucos momentos que viam Fabiano fora de seu quarto, ele mantinha-se calado em todo momento. Conforme os resultados da investigação, Fabiano era um jovem extremamente introspectivo e que possuía problemas de relacionamento em um nível “muito acima do comum”. Após ter sido realizada a perícia em seu computador, descobriu-se que Fabiano acessava diversos conteúdos e jogos violentos na internet, além de manter contato com pessoas que compartilhavam com ele comportamentos, ideologias e pensamentos violentos, o que pode ter agravado ou instigado estes pensamentos já existentes no jovem. Segundo os colegas de trabalho, Fabiano era considerado um jovem calmo e que jamais deu sinais de que cometeria tal crime. Não há relatos de comportamentos inadequados ou reclamações quanto ao jovem no seu ambiente de trabalho. 22 O coordenador regional de Educação do município de Saudades (SC) – onde Fabiano estudava – afirmou que ao longo do ano ele seguiu entregando os trabalhos pedidos em aula normalmente. Ele também afirma que Fabiano era um aluno normal, quieto e que nunca apresentou problemas de disciplina. Ainda segundo o coordenador: “Nunca se percebeu nada. Nenhum sinal. Foi uma grande surpresa e algo inacreditável”. Quanto à sua vida social, a família afirma que Fabiano, nos últimos tempos, se afastou dos poucos amigos que possuía e passou a isolar-se cada vez mais no mundo virtual. 4.6. O interrogatório Após o ocorrido, com Fabiano ainda no hospital, o delegado responsável pelo caso realizou um interrogatório com o rapaz, que durou cerca de uma hora. Segundo palavras do próprio delegado em relação a Fabiano: “Ele começou a ter contato com muitos materiais e ideias violentas, com pessoas sentimentos e pensamentos ruins. Tinha acesso a muito conteúdo inapropriado e contato com pessoas que pensavam como ele. Começou a alimentar este ódio a ponto de querer descarregar em alguém. Não era alguém específico...era um ódio generalizado [...] Nos últimos tempos, ele cada vez mais foi se isolando no mundo dele [...] Família, colegas de escola e trabalho... ninguém tinha ideia, ninguém sabia o que se passava na cabeça dele e o que ia acontecer... Ele nunca demonstrou, nunca exteriorizou…” (Jerônimo Marçal Ferreira, Delegado responsável pelo caso) Portanto, mostra-se que Fabiano não era um jovem considerado problemático ou indisciplinado. Algumas pessoas apenas o descrevem como “estranho”, por ser quieto e isolado demais. Porém, o jovem nunca apresentou indícios de violência até a realização do massacre à creche. Após o interrogatório, o delegado Ferreira afirmou que Fabiano agiu o tempo todo sozinho, desde o planejamento até a execução da chacina. Também foi concluído que o atentado já vinha sendo planejado por Fabiano desde o ano anterior, o que se caracteriza como um crime premeditado, demonstrando, portanto, que Fabiano possuía total controle da situação, bem como uma boa capacidade de raciocínio e plena consciência dos seus atos, não indicando qualquer incapacidade ou deficiência que pudesse prejudicar sua conduta. Segundo palavras do próprio delegado: 23 “Ele tinha consciência do que fez e de que foi errado. Isto mostra também que era uma pessoa normal. Ele agiu consciente do que fez o tempo todo. Foi um crime premeditado.” (Jerônimo Marçal Ferreira, Delegado responsável pelo caso) 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tendo em vista os dados obtidos através de todas as informações extraídas da mídia, em conjunto com a fundamentação teórica obtida na presente pesquisa, é pertinente uma discussão acerca da análise destes dados. Através destes, foi possível perceber que as motivações que levam um indivíduo a cometer um massacre como o de Saudades são diversas, o que dificulta traçar um padrão para esse tipo de crime. Através dos dados obtidos pela perícia, nota-se que Fabiano foi extremamente violento ao cometer os assassinatos, tendo em vista o estado em que foram encontradas as vítimas, segundo o IGP. Considerando o que foi apurado no interrogatório e nos depoimentos de familiares, o jovem não tinha uma natureza violenta, portanto, tal sentimento 24 pode ter sido reprimido ao longo dos anos, e ao ter começado a entrar em contato com pessoas, jogos e conteúdos violentos, pode ter sido instigado a exteriorizar sua raiva generalizada. Quanto à arma encontrada no local utilizada por Fabiano para desferir os golpes nas vítimas: a espada Katana é um objeto de colecionador, tendo, geralmente, um alto valor de compra. Isto indica que o jovem quis investir seu dinheiro em um objeto que ele teria certeza que seria capaz de causar lesões letais, já que ele não teve êxito na tentativa de comprar armas de fogo. Tal dado demonstra que Fabiano realmente queria desferir golpes letais às vítimas, demonstrando – de acordo com a teoria proposta por Peter Langman (2009) – fortes traços de sadismo. A personalidade do rapaz já demonstrava traços preocupantes, como o isolamento excessivo e a forte atração por conteúdos violentos. Porém, ninguém do convívio de Fabiano imaginava que ele fosse cometer o crime. Este dado é de extrema importância para a prevenção de possíveis futuros ataques, já que nos indica que, não necessariamente um assassino que comete este tipo de massacre apresentará antecedentes de violência ou comportamentos criminosos – segundo a polícia, Fabiano não possuía qualquer antecedente criminal. Portanto, tendo em vista não só o exemplo de Fabiano, como de outros assassinos de escola, pode-se presumir que o comportamento anti-social, muitas vezes, indica tanto risco quanto comportamentos violentos quando se trata de atentados desse tipo. Quanto às lesões encontradas nos corpos das vítimas: todas foram encontradas com, no mínimo, 6 cortes de extrema profundidade – exceto a educadora Mirla Renner, que recebeu 2 golpes no abdome apenas. Os golpes em sua maioria foram desferidos, principalmente, na região do tórax e do abdome. Confrontando tal informação com parte da fundamentação teórica contida na presente pesquisa, pode-se presumir que Fabiano tinha o conhecimento dos locais do corpo que ele deveria atacar para que pudesse causar lesões realmente letais às vítimas – já que, segundo Silva (2009), os 25 ferimentos por arma branca perfuro-cortante só costumam ser fatais quando desferidos, justamente, nas regiões torácica e abdominal.O caso do massacre de Saudades, por se tratar de um caso em que não foram necessárias investigações para descobrir a causa da morte das vítimas, qual foi a arma utilizada no crime ou para localizar o assassino – já que o mesmo foi autuado em flagrante pela polícia no local, admitindo tudo dias depois, e a arma do crime foi encontrada também no local – a função dos profissionais de Necropsia foi mais voltada à identificação dos locais dos corpos das vítimas que foram golpeados pela espada, a profundidade das lesões, se a causa da morte foi resultante de hemorragia pelos múltiplos cortes, ou se foi por danos letais a órgãos vitais, etc, com o intuito da realização do atestado de óbito e de todos os trâmites médico-legais que envolvem um homicídio, já que nesses casos é de extrema importância uma abordagem multiprofissional e interdisciplinar, na intenção de solucionar o caso, junto à justiça, com maior agilidade e completude. Portanto, este dado demonstra que a presença destes profissionais em investigações de homicídios dessa categoria é de extrema importância. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Massacres em escolas têm ocorrido com cada vez mais freqüência nos últimos tempos no Brasil, fato este que vem preocupando as autoridades e a sociedade num geral. As pesquisas em relação ao assunto ainda não trazem muitas respostas, o que dificulta o estabelecimento de um padrão para esse tipo de atentado, já que estes ocorrem por motivações e formas diversas. O caso do massacre à creche em Saudades (SC) choca ainda mais que outros, tendo em vista a tamanha crueldade do assassino em relação à escolha do tipo de arma e à idade das vítimas – em sua maioria, bebês. Portanto, é de extrema importância que se estendam as pesquisas em relação ao assunto, para que, desta forma, tais atos e comportamentos violentos possam ser previstos e evitados futuramente. 26 A presente pesquisa foi de extrema importância para nossa formação acadêmica, pois, através desta, pudemos perceber a tamanha importância do profissional auxiliar de Necropsia em casos como este. O auxiliar de Necropsia, nesses tipos de crimes, acaba sendo uma peça fundamental para a agilidade da resolução do caso, já que este conseguirá passar todas as informações à justiça em relação à causa da morte das vítimas, o nível de força e violência empregada pelo assassino, etc. Estes elementos são cruciais para a condução e conseqüente resolução do caso em questão. Portanto, através da presente pesquisa, foi possível adquirirmos conhecimentos de suma importância para nossa futura prática profissional. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARANOSKI, S. ; AYELLO, E. A. (2006). 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ANÁLISE DE DADOS 4.2. As mortes 4.3. A arma 4.4. O local 4.5. O assassino 4.6. O interrogatório 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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