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TCC auxiliar de necropsia caso massacre de Saudades

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CAROLINY OLIVEIRA SILVA DE SANTANA 
ESTER SILVA BRITO GONÇALVES 
VITÓRIA CAROLINA DE OLIVEIRA BARBOSA 
 
 
 
 
 
 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 
AUXILIAR DE NECROPSIA 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO VICENTE 
2021 
 
Caroliny Oliveira Silva de Santana 
Ester Silva Brito Gonçalves 
Vitória Carolina de Oliveira Barbosa 
 
 
 
 
 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 
AUXILIAR DE NECROPSIA 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de 
Curso apresentado ao Curso 
de Auxiliar de Necropsia 
como exigência para 
obtenção do título de Auxiliar 
de Necropsia em Centro 
Politécnico Evolução. 
 
Orientador (a): Docente Airam 
Roggero 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO VICENTE 
2021 
 
RESUMO 
Este trabalho tem como objetivo utilizar os conhecimentos técnicos-científicos 
de necropsia para examinar e descrever de modo detalhado e profissional os 
fatos ocorridos acerca do fenômeno de cinco homicídios triplamente 
qualificados e constatar o que foi evidenciado no caso proporcionando suporte 
para a compreensão da ocorrência. 
 
Palavras-chave: Necropsia; Massacre; Saudades; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
This work aims to use the technical-scientific knowledge of necropsy toexamine 
and describe in detail the occurred facts about the phenomenon of five triple-
qualified homicides and verify what has been evidenced in the case, providing 
support to the comprehension of the occurrence. 
 
Key words: Necropsy; Carnage; Saudades; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 6 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 7 
3. METODOLOGIA ...................................................................................................... 17 
4. ANÁLISE DE DADOS ............................................................................................. 18 
4.1. O ocorrido ................................................................................................................... 19 
4.2. As mortes .................................................................................................................... 19 
4.3. A arma ......................................................................................................................... 20 
4.4. O local ......................................................................................................................... 20 
4.5. O assassino ................................................................................................................ 21 
4.6. O interrogatório .......................................................................................................... 22 
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 23 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 25 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
1. INTRODUÇÃO 
Por volta das 10h da manhã do dia 04 de Maio de 2021, um rapaz de 18 
anos entra armado com duas armas brancas em uma creche do município de 
Saudades (SC), localizado a cerca de 600 km da cidade de Florianópolis. 
A creche atendia crianças de 6 meses a 2 anos de idade, e no momento 
do ocorrido, haviam 20 crianças presentes no estabelecimento, sob os 
cuidados de 5 professoras. 
O assassino atacou primeiramente a professora Keli Adriane Aniecevski, 
de 30 anos, em seguida atacando mais uma professora: Mirla Renner, de 20 
anos, e 4 crianças: Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses; Murilo 
Massing, de 1 ano e 9 meses; Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 
meses; Henryque Hubler, de 1 ano e 8 meses. 
Das 6 vítimas atingidas, apenas Henryque Hubler foi socorrido com vida 
e teve alta do hospital alguns dias após o ataque. Todas as outras 5 vítimas 
vieram a óbito. 
Segundo a perícia, a arma utilizada para desferir os golpes foi uma 
“Katana”, espada milenar de origem japonesa. A professora Keli foi golpeada 
oito vezes com o objeto; Mirla Renner foi golpeada duas vezes; Quanto às 
crianças: uma delas recebeu oito golpes; já a segunda criança foi golpeada 
seis vezes; a terceira criança encontrada morta também recebeu seis golpes. 
Após atacar as professoras e crianças da creche, o assassino desferiu 
golpes contra si mesmo, tentando cortar seu pescoço, porém, foi socorrido e 
levado em estado grave até o Hospital Regional do Oeste (HRO), localizado no 
município de Chapecó (SC), onde foi interrogado dias depois pelo delegado 
responsável pelo caso. Após receber alta do hospital, o autor do crime foi 
levado ao Presídio Regional de Chapecó, onde permanece detido. 
O autor do massacre, Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, foi indiciado por 
cinco homicídios triplamente qualificados e uma tentativa de homicídio, com 
três qualificadores: motivo torpe, cruel e que impossibilitou a defesa das 
vítimas. 
 
7 
 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
Os atentados a escolas tornaram-se famosos e vêm ganhando certa 
notoriedade desde o massacre em Columbine High School, em 20 de abril de 
1999, nos Estados Unidos, onde dois adolescentes entraram armados e 
atirando contra os alunos e professores da escola. Depois de matarem 13 
pessoas e ferirem mais de 30, os autores tiraram a própria vida. (VIEIRA; 
MENDES; GUIMARÃES, 2009) 
A repercussão do caso foi tamanha que não demorou muito para que 
outros massacres inspirados no de Columbine passassem a ocorrer. Um 
exemplo é o massacre à universidade Virginia Polytechnic Institute and State 
University, também nos Estados Unidos, em que um estudante sul-coreano 
atirou e matou 32 alunos e professores e, em seguida, tirou a própria vida. O 
caso aconteceu no dia 19 de abril de 2007 – véspera dos 8 anos ao massacre 
de Columbine. 
O fenômeno ficou conhecido como School Shooting (tiroteio em escola), 
e, apesar de ter se popularizado mais na América do Norte, – principalmente 
nos Estados Unidos – vários outros países ao redor do mundo – como o Brasil 
– passaram a registrar casos parecidos ou inspirados. (VIEIRA et al., 2009) 
Apesar de nem sempre os autores destes massacres utilizarem armas 
de fogo para atacar às vítimas, – como no caso do atentado a creche de 
Saudades, em que o assassino utilizou uma arma branca para cometer os 
crimes – a intenção é geralmente a mesma: o ataque a uma escola, deixando 
claro que o alvo é especificamente a instituição (MUSCHERT, 2007). 
Psicólogos, psiquiatras e sociólogos encontram certas dificuldades em 
caracterizar as motivações que levam um jovem a cometer tal ato, já que estes 
ataques ocorrem geralmente de forma aleatória, tendo como vítima qualquer 
pessoa que se encontre no local do atentado ou no caminho do assassino 
(LIMA, 2009). 
Porém, como ressalta o Psicólogo Raymundo de Lima (2009), existem 
alguns pontos coincidentes que ligam estes crimes e podem indicar um padrão: 
 
8 
 
1. a maioria dos assassinos de escola são homens jovens, geralmente 
rotulados pelos estudos como “perdedores”; 
2. estes geralmente são viciados em videogames e filmes violentos; 
3. têm acesso fácil a armamento pesado; 
4. são quietos, reservados, introspectivos, considerados “esquisitos”; 
5. escolhem atacar ambientes escolares e, geralmente, suicidam-se 
posteriormente (ou tentam); 
6. são jovens que não apresentam sinais de comportamentos desviantes 
antes do atentado, não possuem histórico de violência ou delinqüência, 
mas que possuem algum histórico familiar complicado. 
O Psicanalista Contardo Calligaris (2009) ressalta ainda mais um 
elemento sintomático deste tipo de assassino: 
“Estes gestos homicidas e suicidas são propositalmente 
públicos. Nãose trata de alvejar os passantes a partir de uma 
janela escondida: a matança é teatral.” (LIMA, 2009) 
 
Portanto, isto significa que esses assassinatos são planejados como um 
espetáculo no qual os autores são os protagonistas de um filme ou jogo 
violento, movidos pelo desejo de onipotência de “produzir remorso em escala 
global” (LIMA, 2009). Por isso a idéia de matar pessoas inocentes em 
ambientes vulneráveis como escolas, creches ou universidades: a intenção é 
chocar. 
Alguns estudos explicam que esse tipo de conduta pode estar 
relacionado a um mal-estar global produzido pelo capitalismo (LIMA, 2009), e 
que estes crimes estão ligados a um contexto maior de uma cultura interna de 
violência contra a sociedade, como cita Zizek (1999): 
“Esse “mal-estar” não traz os sinais clássicos de maldade, mas 
sim, é considerado efeito normal da diversão e gozos próprios 
da pós-modernidade: os jovens passam horas se ‘divertindo’ 
em videogames violentos, cujo efeito é a dessensibilização 
sobre a dor dos outros; inconscientemente, eles estão 
exercitando sua pulsão de morte para ser ato na realidade 
concreta.” (ZIZEK, 1999) 
Portanto, acredita-se que os jogos e filmes violentos – produtos do 
capitalismo ou pós-modernidade – com os quais os jovens têm grande contato 
nos dias atuais, podem ser umas das principais motivações de massacres 
desse tipo. 
 
9 
 
Porém, grande parte dos estudos acredita que tal comportamento pode 
estar associado a estruturas familiares e parentais problemáticas. Cecconello 
et al. (2003), por exemplo, falam sobre estilos parentais e práticas educativas 
que podem auxiliar ou prejudicar o desenvolvimento psicossocial de um 
indivíduo. 
“As práticas educativas se referem a estratégias que os pais 
utilizam para atingir objetivos específicos relacionados a 
diferentes domínios, tais como o social, afetivo, acadêmico, etc. 
Essas práticas estão relacionadas a circunstâncias e contextos 
mais específicos. Já o estilo parental se refere ao padrão global 
característico das interações dos pais com os filhos manifesto 
nas mais diversas situações, e ao clima emocional gerado por 
tais interações.” (VIEIRA et al., 2009) 
Cecconello et al. (2003) descrevem quatro estilos parentais: autoritário, 
indulgente, negligente e autoritativo. 
O modelo autoritário é caracterizado por pais que aplicam punições 
físicas e/ou outras medidas punitivas aos seus filhos. Tal modelo pode 
prejudicar o desenvolvimento de crianças e adolescentes, pois existe um alto 
nível de controle e pobreza de afeto nas interações. 
O modelo indulgente é caracterizado por um baixo nível de controle, 
combinado com alta responsividade. 
“Pais indulgentes são afetivos e comunicam-se bem com os 
filhos, porém não os monitoram e atendem prontamente às 
suas demandas, não estabelecendo regras e limites e 
estabelecendo pouca demanda de responsabilidade e 
maturidade.” (VIEIRA et al., 2009) 
No modelo negligente, existe uma forte falta de monitoramento e de 
imposição de limites por parte dos pais, bem como um baixo nível de interação 
e afetividade entre pais e filhos. 
“O estilo indulgente e o negligente são marcados por pais que 
permanecem à distância em relação à rotina dos filhos, 
falhando em orientá-los acerca de seus comportamentos, 
crenças, expectativas, emoções, etc.” (VIEIRA et al., 2009) 
Já o estilo autoritativo, em contrapartida, se diferencia completamente 
dos três modelos anteriores, pois é caracterizado pela alta participação dos 
pais na vida dos filhos, pela imposição de regras claras e limites, combinados a 
adequadas interações afetivas. 
 
10 
 
“Há, neste estilo, alta demanda por responsabilidade e 
maturidade, além das demonstrações de afeto. Estudos 
apontam para bom nível de competência social, assertividade e 
comportamento independente de crianças; e também apontam 
melhores níveis de adaptação psicológica, competência social, 
auto-estima, autoconfiança e menores níveis de problemas 
comportamentais, ansiedade e depressão na adolescência, 
relacionados ao estilo autoritativo em comparação com os 
outros estilos.” (VIEIRA et al., 2009) 
Portanto, o modelo autoritativo seria, hipotéticamente, o modelo parental 
mais adequado e que gera menos riscos para o desenvolvimento destas 
formas de comportamentos violentos apresentados, por exemplo, por 
assassinos em série. 
Diversas outras pesquisas falam ainda sobre a influência dos modelos 
comportamentais apresentados pela mídia e também sobre o desenvolvimento 
psicossocial do indivíduo em ambientes sociais inadequados, o que pode 
influenciar o desenvolvimento de psicopatologias. (VIEIRA et al., 2009) 
Em seu livro “Why kids kill?” – “Por que crianças matam” – de 2009, o 
Psicólogo americano Peter Langman designa três categorias de “atiradores de 
escola” – ou assassinos de escola. Estas são: atiradores psicopatas, atiradores 
psicóticos e atiradores traumatizados. (LANGMAN, 2009) 
Os atiradores psicopatas são descritos pelo Psicólogo com as seguintes 
características: 
“Narcisismo extremo; rejeição pela moral; falta de empatia, 
culpa ou remorso; sadismo; gerenciamento de impressão; se 
sentem como a vítima: nada é culpa deles; facilmente irritados.” 
(LANGMAN, 2009) 
Os atiradores psicóticos são descritos pelo Psicólogo com as seguintes 
características: 
“Alucinações; delírios; discurso, escrita ou comportamento 
desorganizado; função social/emocional prejudicada; alienação 
profunda; invejam colegas de mais sucesso.” (LANGMAN, 
2009) 
Já os atiradores traumatizados são descritos com as seguintes 
características pelo Psicólogo: 
“Famílias instáveis, caóticas ou fragmentadas; abuso de 
substâncias pelos pais; pais com comportamento criminoso; 
 
11 
 
abuso físico, sexual ou psicológico; mudanças freqüentes; 
mudanças de cuidadores.” (LANGMAN, 2009) 
Portanto, ter em vista o contexto biopsicossocial no qual o assassino 
está inserido é de extrema importância para uma melhor compreensão das 
motivações do indivíduo e para uma melhor e mais completa perícia do caso. 
Quanto às questões específicas da profissão, estas devem, também, 
estar devidamente fundamentadas teoricamente. 
O ramo das ciências forenses que, partindo do exame do local, das 
informações acerca das circunstâncias da morte, e atendendo aos dados do 
exame necrópsico, procura estabelecer a identificação do cadáver; o 
mecanismo da morte; a causa da morte; o diagnóstico diferencial médico-legal 
(acidente, suicídio, homicídio ou morte de causa natural), é a Tanatologia 
Forense. Porém, nem sempre é possível estabelecer estas identificações. 
(SANTOS, 2018) 
A Necropsia, sendo parte deste ramo das ciências forenses e, ao 
contrário do que muitos pensam, não serve apenas para identificar a causa da 
morte, ela tem diversas outras importantes funções, como: controle de 
qualidade do diagnóstico e do tratamento, através do conhecimento; fonte de 
informação para a secretaria de saúde; material de ensino para médicos 
residentes, alunos e professores; material para pesquisa cientifica. (SANTOS, 
2018) 
Existem três principais tipos de necropsias: a Necropsia Forense, que 
tenta encontrar respostas para a causa da morte violenta ou suspeita como 
parte de uma investigação policial; (IML) Instituto Médico Legal a Clínica, que 
lida com mortes não violentas ou SVO (Serviço de verificação ao óbito); e a 
Autópsia Hospitalar, realizada em pacientes internados ou falecidos em 
decorrência de alguma patologia. As autópsias hospitalares e o SVO são 
realizados por um anato patologista. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE 
PATOLOGIA (SBP), 2015) 
A execução da necropsia é obrigatória em casos de morte e está 
regulada a partir do Código de Processo Penal, artigo 162: 
 
12 
 
““A autópsia será feita pelo menos seis (6) horas depois do 
óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, 
julgar que possa ser feita antes daquele prazo, o que declarará 
no auto”. Parágrafoúnico – nos casos de mortes violentas, 
bastará o simples exame do cadáver, quando não houver 
infração penal que apurar, ou quando a lesão externa 
permitirem precisar a causa da morte e não houver a 
necessidade de exame interno para a verificação de alguma 
circunstância relevante.” (IML-SSP-SP) 
O exame endonecroscópico é um exame muito importante na Necropsia, 
pois sua principal finalidade é identificar, em autópsias médico-legais, as lesões 
em determinados órgãos que provocaram a morte do indivíduo, tendo como 
objetivo esclarecer a causa da morte e as circunstâncias em que esta ocorreu 
nos casos de morte violenta ou de causa ignorada, estabelecendo-se o 
diagnóstico diferencial entre morte natural, suicídio, homicídio e acidente. 
(SANTOS, 2018) 
O auxiliar de Necropsia ou Necropsista é um profissional que presta 
serviços de nível mediano na cooperação em uma necrópsia ou autópsia, 
contribuindo na investigação da causa mortis de um indivíduo, também sendo 
muito encontrado em hospitais e funerárias. 
“A técnica da necropsia consiste em estudar as alterações de 
todos os órgãos após a morte a partir do exame macroscópico 
(observação a olho nu dos órgãos retirados), que fornece 
material para o exame microscópico, onde serão vistas as 
alterações a nível celular. Relacionando os achados macro e 
microscópicos com os dados da história do paciente, para 
então se estabelecer a causa da morte, doença de base ou 
outras patologias existentes.” (SANTOS, 2018) 
O auxiliar de Necropsia tem importantes atribuições, como: 
• identificação do cadáver; 
• manuseio do cadáver para possibilitar a observação de lesões 
externas; 
• higiene dos corpos; 
• execução e acompanhamento de exumações; 
• observação de lesões internas no cadáver; 
• colheitas de amostras viscerais para exames de laboratório; 
• limpeza de instrumentos utilizados nas necropsias; 
• recolhimento de ossadas, restos putrefatos e cadáveres inteiros 
para atender exigências legais; 
 
13 
 
• limpeza de ossos; 
• limpeza e higiene dos instrumentos e equipamentos e da sala de 
exame após cada exame de necropsia ser realizado; 
• zelar pela guarda, conservação e limpeza dos materiais e 
instrumentais utilizados em seu local de trabalho. 
O auxiliar de Necropsia deverá estar psicológica e fisicamente 
preparado, pois, além de trabalhar com corpos sem vidas o estado destes 
corpos poderá já estar em estado de decomposição e o odor é outro obstáculo 
que esse profissional deverá adquirir habilidades para gerenciar. No entanto, o 
uso de EPI’s é de extrema importância no cotidiano de trabalho deste 
profissional para lidar com tais questões (como máscaras cirúrgicas ou com 
filtro, óculos de proteção, gorro descartável, avental de manga longa, macacão, 
luvas de borracha, botas de borracha de preferência brancas, etc). (SANTOS, 
2018) 
Já em relação aos aspectos médico-legais dos corpos das vítimas, mais 
relacionados à área da Necropsia, algumas questões de extrema relevância 
devem ser levadas em consideração na presente fundamentação. 
A espada Katana é classificada como um instrumento perfuro-cortante. 
Este tipo de instrumento produz lesões conhecidas como “perfuro-incisas”, e 
estas, dependendo de vários fatores, – como a quantidade de lesões, a 
profundidade destas, a força aplicada para desferir os golpes, a posição da 
vítima e do agressor, os órgãos e tecidos atingidos, etc – geralmente são letais. 
(SILVA, 2009) 
Os instrumentos perfuro-cortantes são dotados de lâmina e 
gume afiado que, munidos de ponta fina, actuam por um 
mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam 
com o bordo afiado os planos superficiais e/ou profundos do 
corpo da vítima. Agem por pressão e secção. Estes 
instrumentos podem possuir mais do que um gume, por 
exemplo: instrumentos com um gume podem ser representados 
por uma espada, canivete ou faca-peixeira; instrumentos com 
dois gumes como o punhal; e instrumentos de três gumes ou 
traingulares afigurados por uma lima. (SILVA, 2009) 
Sabe-se, através de informações da perícia do caso, que a arma 
utilizada por Fabiano para desferir os golpes foi uma espada Katana, portanto, 
um instrumento perfuro-cortante de um único gume. 
 
14 
 
Ao se deparar com uma vítima fatal de ferimentos por arma branca, uma 
das principais tarefas que o profissional de Necropsia deve realizar é a 
classificação das feridas traumáticas encontradas no corpo. 
Segundo Silva (2009), estas feridas são classificadas de acordo com os 
seguintes aspectos gerais: integridade cutânea, profundidade dos tecidos 
lesados e tipos de lesão. 
Quanto à integridade cutânea: pode-se aferir dois tipos de feridas: as 
feridas abertas e as feridas fechadas. Tendo em vista o caso que está em 
discussão na presente pesquisa, sabe-se que todas as vítimas de Fabiano 
foram encontradas com feridas abertas, portanto: 
“Feridas abertas caracterizam-se por alteração da solução de 
continuidade da pele, ou seja, quando a pele ou revestimento 
da mucosa são seccionados, por meio de instrumentos sobre e 
superfície corporal [...] Pode ainda este trauma causar 
destruição e exposição de estruturas internas.” (SILVA, 2009) 
Quanto à profundidade dos tecidos lesados: existem dois tipos de 
classificação quanto à profundidade das lesões por arma branca. O primeiro 
tipo classifica as lesões como: superficiais, profundas e transfixantes. As lesões 
superficiais envolvem apenas as camadas mais superficiais da pele; as lesões 
profundas envolvem estruturas mais profundas, como tecido adiposo, 
músculos, órgãos, etc; já as lesões transfixantes transpassam todas as 
estruturas subjacentes de um lado ao outro. 
O segundo tipo classifica essas lesões como: superficiais, espessura 
parcial, espessura total e espessura total com comprometimento do tecido 
subcutâneo. As lesões superficiais são aquelas em que o dano ocorre apenas 
na epiderme; as lesões de espessura parcial são aquelas em que ocorrem 
danos na epiderme que chegam até a derme (um pouco mais profundas); nas 
lesões de espessura total, os danos são causados nas duas estruturas (derme 
e epiderme), além de poder danificar também estruturas adjacentes e tecido 
subcutâneo. (SILVA, 2009) 
Porém, segundo Baranoski e Ayello (2006), é importante que o 
profissional tenha em mente que nem sempre é possível identificar a 
profundidade dos cortes. 
 
15 
 
Quanto aos tipos de lesão: o tipo de lesão irá depender do tipo de 
arma branca que foi utilizada para desferir os golpes. Existem seis tipos de 
lesão: as feridas incisas (originadas por instrumentos cortantes); as feridas 
contusas (originadas por instrumentos contundentes); as feridas perfurantes 
(originadas por instrumentos perfurantes); as feridas perfuro-incisas (originadas 
por instrumentos perfuro-cortantes); as feridas corto-contundentes (originadas 
por instrumentos pesados e com lâmina com gume afiado); e as feridas 
perfuro-contusas (originadas por instrumentos capazes de perfurar e contundir, 
simultaneamente). (SILVA, 2009) 
“A descrição das características da lesão depende da relação 
existente entre o tipo de arma utilizado, e particularidades da 
mesma, como o gume, o tipo de ponta e as suas dimensões, 
paralelamente, a profundidade, a direção, a inclinação, os 
movimentos dentro dos tecidos, a extração da arma bem como 
as propriedades da pele nos diferentes locais anatômicos.” 
(SILVA, 2009) 
Tendo em vista a arma que foi utilizada no caso do massacre de 
Saudades, – um instrumento perfuro-cortante – sabemos, portanto, que o tipo 
de lesões apresentadas nos corpos das vítimas eram do tipo “perfuro-incisas”, 
que, segundo Silva (2009), caracterizam-se pelo predomínio da profundidade 
sobre as dimensões externas, podendo, também, atingir o interior das 
cavidades naturais, como os órgãos vitais. 
Estas lesões podem ser: penetrantes; perfurantes; transfixantes; em 
fundo-de-saco; em harmônio. 
As lesões perfuro-incisaspenetrantes caracterizam-se por entrar em 
contato com cavidades pré-existentes, como pleura, peritoneu, pericárdio, etc. 
“A extensão da penetração é proporcional à superfície da área 
do ponto de impacto, à densidade dos tecidos atingidos e à 
velocidade do objeto no momento do impacto. Noventa e sete 
porcento destas lesões são devidas a projeteis de armas de 
fogo e armas brancas.” (SILVA, 2009) 
As lesões perfuro-incisas perfurantes caracterizam-se por penetrar em 
partes maciças do corpo, sem saída; as lesões perfuro-incisas transfixantes 
caracterizam-se por atravessar um órgão ou uma parte do corpo de um lado ao 
outro; já as lesões perfuro-incisas em fundo-de-saco são lesões que, quando o 
instrumento perfura, se depara com um obstáculo resistente (como ossos) e 
 
16 
 
não penetram mais a fundo; as lesões perfuro-incisas em harmônio são lesões 
nas quais a lâmina do instrumento produz uma lesão mais profunda que o seu 
próprio comprimento, isto ocorre quando a superfície do corpo atingida é 
depressível – como a parede do abdome. (SILVA, 2009) 
“Classificar uma ferida traumática é um processo complexo, 
onde subdividir apenas nestes tipos de classificação torna-se 
limitado. Requer minucioso senso de observação tendo em 
conta outras evidências, como as várias características 
próprias da lesão (bordos, extensão, cor, perda de tecido, 
forma), o mecanismo causador e a localização precisa na área 
corporal.” (JORGE; DANTAS, 2003) 
Segundo França (2008), Saukko e Knight (2004) e DiMaio (2001), as 
lesões perfuro-incisas são geralmente descritas como as mais associadas a 
homicídios, já que estas tornam-se facilmente fatais quando órgãos vitais são 
atingidos. (SILVA, 2009) 
Os corpos de vítimas encontrados com ferimentos causados por arma 
branca geralmente apresentam múltiplos golpes, dispersos por todo o corpo. 
Porém, os golpes realmente fatais por arma branca são geralmente desferidos 
no tórax e no abdome (SILVA, 2009). Em outros locais do corpo, os golpes 
geralmente são superficiais ou não atingem órgãos vitais. 
Segundo DiMaio e DiMaio (2001), a morte por arma branca costuma ser 
extremamente rápida, por conta da hemorragia abundante. 
Os golpes desferidos na região torácica levam à uma morte mais 
imediata do que na região abdominal, já que no tórax encontram-se órgãos 
como o pulmão, coração, artérias importantes, etc. Já na região abdominal, 
segundo DiMaio (2001): 
“Ocasionalmente, nas lesões no abdome, a morte não é 
imediata. Pelo contrário, a vítima desenvolve peritonite devido a 
um ferimento do intestino. Assim, no que diz respeito a facadas 
no abdome, dois terços entram na cavidade abdominal e 
menos da metade desses, infligem danos significativos para as 
vísceras.” (SILVA, 2009) 
Este dado se confirma ao analisarmos a situação da educadora Mirla 
Renner, – uma das vítimas de Fabiano – que foi golpeada duas vezes apenas 
no abdome. Segundo informações da polícia, Mirla ainda foi socorrida e levada 
ao hospital com vida, vindo a óbito momentos depois, não tendo uma morte 
 
17 
 
imediata como a das outras 4 vítimas – todas com pelo menos um golpe na 
região torácica. 
“A interpretação das lesões pode ser realizada através da 
revisão de alguns documentos, entre os quais, os registros 
clínicos, os anagramas corporais e a fotografia.” (SILVA, 2009) 
Segundo Silva (2009), a fotografia ainda é o melhor meio para uma 
verdadeira documentação – e conseqüente interpretação – da lesão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. METODOLOGIA 
O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica, onde houve 
um levantamento de referenciais teóricos relacionados ao tema central da 
pesquisa através de notícias e informações periciais sobre o caso em 
discussão, seguido de uma análise acerca do tema discutido e sobre os 
referenciais obtidos. Nesse processo, serão utilizadas bases de dados online, 
via internet, como periódicos, livros, artigos e sites com conteúdo e produções 
das mais diversas áreas das Ciências Humanas, bem como noticiários e 
informações midiáticas. 
 
18 
 
Portanto, a pesquisa será bibliográfica, com análise qualitativa dos 
dados obtidos através da Literatura Científica e das informações obtidas 
através da imprensa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. ANÁLISE DE DADOS 
O caso da creche de Saudades (SC) é só mais um exemplo de 
massacres brasileiros em ambientes escolares. Podemos citar outros casos 
recentes do tipo, como o massacre de Realengo (RJ) – ocorrido em abril de 
2011 – e o massacre de Suzano (SP) – ocorrido em março de 2019. 
Em Realengo, o assassino entrou em uma escola municipal e matou 
doze alunos com idades entre 13 e 15 anos, feriu 22 pessoas, e suicidou-se 
posteriormente. Tudo ocorreu no dia 7 de abril de 2011. 
 
19 
 
Em Suzano, dois atiradores entraram em uma escola estadual e 
mataram 5 alunos e 2 funcionárias, além de terem matado também o tio de um 
dos assassinos momentos antes da chacina. 11 pessoas ficaram feridas e, 
posteriormente, um dos assassinos matou o outro e suicidou-se. Tudo ocorreu 
no dia 13 de março de 2019. 
E estes são apenas alguns exemplos, já que antes do massacre de 
Realengo, 7 outros crimes parecidos ocorreram em escolas brasileiras. 
Portanto, nota-se que esse tipo de atentado vem se tornando, 
infelizmente, extremamente comum em nosso país – e ao redor do mundo. 
Tendo em vista este panorama geral, focaremos agora na análise 
qualitativa dos dados que envolvem o massacre de Saudades. 
4.1. O ocorrido 
Como já explicitado anteriormente, o crime ocorreu no dia 4 de maio de 
2021. O massacre foi planejado por meses e executado unicamente por 
Fabiano Kipper Mai – estudante de 18 anos do ensino médio – segundo as 
informações da polícia. 
A partir da apuração de depoimentos das outras vítimas presentes no 
local, – como as outras professoras que conseguiram trancar as portas das 
salas de aula e protegerem-se com as crianças – notou-se que a intenção de 
Fabiano era matar o máximo de pessoas possível, já que ele tentou forçar a 
entrada em todas as outras salas da creche, porém, quando se deparava com 
uma porta trancada, corria imediatamente para a próxima, como se estivesse 
com pressa para conseguir cometer o máximo de assassinatos possíveis antes 
da chegada das autoridades. Isto indica que o número de vítimas poderia ter 
sido bem maior. 
4.2. As mortes 
No local, Fabiano matou 5 pessoas, incluindo 3 crianças menores de 2 
anos, de forma extremamente violenta, desferindo múltiplos golpes de espada 
contra as vítimas. 
 
20 
 
 Segundo o IGP (Instituto Geral de Perícia), as 5 vítimas mortas pelo 
assassino foram encontradas da seguinte forma: 
• A professora Keli recebeu oito golpes, sendo dois na perna direita, um 
na perna esquerda, quatro nas costas e um no braço esquerdo; 
• Mirla Renner foi golpeada duas vezes no abdome. 
• A primeira criança recebeu oito golpes, sendo cinco deles nas costas, 
dois na cabeça e um no tórax; 
• A segunda criança foi golpeada seis vezes, sendo três no abdome, duas 
no tórax e uma nas costas; 
• A terceira criança também recebeu seis golpes, sendo dois nas costas, 
dois no tórax, um no abdome e um no glúteo. 
4.3. A arma 
Foram encontradas duas armas brancas com o assassino: uma espada 
Katana e uma faca menor. Apenas a espada foi utilizada para desferir os 
golpes. 
A espada do estilo Katana é um objeto milenar e cultural, de origem 
japonesa. Sua lâmina possui cerca de 60 cm e é conhecida por ser 
extremamente afiada. É geralmente um objeto adquirido por colecionadores e 
não é facilmente encontrada no Brasil. A compra e venda de armas brancas 
não se configura como crime. 
Segundo a investigação e a perícia realizada em seu computador, 
descobriu-se que Fabiano tentou por diversas vezes comprar armas de fogo, e 
que seu alvo inicial era a escola na qual ele cursava o 3° ano do ensino médio. 
Porém, por não ter conseguidoacesso ao armamento mais pesado, Fabiano 
mudou seu alvo, indo em busca de um local em que houvesse maior 
vulnerabilidade das vítimas. 
4.4. O local 
O local onde ocorreu o massacre foi a escola infantil Pró-Infância 
Aquarela, localizada no município de Saudades (SC). A escola atendia alunos 
de 6 meses a 2 anos de idade. No momento do crime, havia pelo menos 20 
crianças no local sob os cuidados de 5 professoras. 
 
21 
 
Segundo o delegado responsável pelo caso, a escolha do local foi 
propositalmente pela vulnerabilidade das vítimas, já que era uma escola 
pequena, com poucos alunos, – todos menores de 2 anos de idade – que 
ficavam sob a responsabilidade de poucas funcionárias, – todas mulheres – e 
que podem ser considerados alvos fáceis para esse tipo de crime. 
As investigações concluíram também que Fabiano não possuía qualquer 
relação com a creche ou com as vítimas, demonstrando, portanto, que seu 
“ódio” era generalizado, não havendo um alvo específico. 
4.5. O assassino 
Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, cursava o 3° ano do ensino médio em 
uma escola do município de Saudades (SC). Segundo a família, o jovem sofria 
bullying na escola. 
Fabiano apresentava certos comportamentos preocupantes, como 
maltratar animais e passar horas isolado em seu quarto sem se comunicar com 
ninguém, tanto que nem mesmo sentava-se à mesa para realizar as refeições 
com a família. Alguns familiares relatam que, nos poucos momentos que viam 
Fabiano fora de seu quarto, ele mantinha-se calado em todo momento. 
Conforme os resultados da investigação, Fabiano era um jovem 
extremamente introspectivo e que possuía problemas de relacionamento em 
um nível “muito acima do comum”. 
Após ter sido realizada a perícia em seu computador, descobriu-se que 
Fabiano acessava diversos conteúdos e jogos violentos na internet, além de 
manter contato com pessoas que compartilhavam com ele comportamentos, 
ideologias e pensamentos violentos, o que pode ter agravado ou instigado 
estes pensamentos já existentes no jovem. 
Segundo os colegas de trabalho, Fabiano era considerado um jovem 
calmo e que jamais deu sinais de que cometeria tal crime. Não há relatos de 
comportamentos inadequados ou reclamações quanto ao jovem no seu 
ambiente de trabalho. 
 
22 
 
O coordenador regional de Educação do município de Saudades (SC) – 
onde Fabiano estudava – afirmou que ao longo do ano ele seguiu entregando 
os trabalhos pedidos em aula normalmente. Ele também afirma que Fabiano 
era um aluno normal, quieto e que nunca apresentou problemas de disciplina. 
Ainda segundo o coordenador: “Nunca se percebeu nada. Nenhum sinal. Foi 
uma grande surpresa e algo inacreditável”. 
Quanto à sua vida social, a família afirma que Fabiano, nos últimos 
tempos, se afastou dos poucos amigos que possuía e passou a isolar-se cada 
vez mais no mundo virtual. 
4.6. O interrogatório 
Após o ocorrido, com Fabiano ainda no hospital, o delegado responsável 
pelo caso realizou um interrogatório com o rapaz, que durou cerca de uma 
hora. Segundo palavras do próprio delegado em relação a Fabiano: 
“Ele começou a ter contato com muitos materiais e ideias 
violentas, com pessoas sentimentos e pensamentos ruins. 
Tinha acesso a muito conteúdo inapropriado e contato com 
pessoas que pensavam como ele. Começou a alimentar este 
ódio a ponto de querer descarregar em alguém. Não era 
alguém específico...era um ódio generalizado [...] Nos últimos 
tempos, ele cada vez mais foi se isolando no mundo dele [...] 
Família, colegas de escola e trabalho... ninguém tinha ideia, 
ninguém sabia o que se passava na cabeça dele e o que ia 
acontecer... Ele nunca demonstrou, nunca exteriorizou…” 
(Jerônimo Marçal Ferreira, Delegado responsável pelo caso) 
Portanto, mostra-se que Fabiano não era um jovem considerado 
problemático ou indisciplinado. Algumas pessoas apenas o descrevem como 
“estranho”, por ser quieto e isolado demais. Porém, o jovem nunca apresentou 
indícios de violência até a realização do massacre à creche. 
Após o interrogatório, o delegado Ferreira afirmou que Fabiano agiu o 
tempo todo sozinho, desde o planejamento até a execução da chacina. 
Também foi concluído que o atentado já vinha sendo planejado por Fabiano 
desde o ano anterior, o que se caracteriza como um crime premeditado, 
demonstrando, portanto, que Fabiano possuía total controle da situação, bem 
como uma boa capacidade de raciocínio e plena consciência dos seus atos, 
não indicando qualquer incapacidade ou deficiência que pudesse prejudicar 
sua conduta. Segundo palavras do próprio delegado: 
 
23 
 
“Ele tinha consciência do que fez e de que foi errado. Isto 
mostra também que era uma pessoa normal. Ele agiu 
consciente do que fez o tempo todo. Foi um crime 
premeditado.” (Jerônimo Marçal Ferreira, Delegado 
responsável pelo caso) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Tendo em vista os dados obtidos através de todas as informações 
extraídas da mídia, em conjunto com a fundamentação teórica obtida na 
presente pesquisa, é pertinente uma discussão acerca da análise destes 
dados. 
Através destes, foi possível perceber que as motivações que levam um 
indivíduo a cometer um massacre como o de Saudades são diversas, o que 
dificulta traçar um padrão para esse tipo de crime. 
Através dos dados obtidos pela perícia, nota-se que Fabiano foi 
extremamente violento ao cometer os assassinatos, tendo em vista o estado 
em que foram encontradas as vítimas, segundo o IGP. 
Considerando o que foi apurado no interrogatório e nos depoimentos de 
familiares, o jovem não tinha uma natureza violenta, portanto, tal sentimento 
 
24 
 
pode ter sido reprimido ao longo dos anos, e ao ter começado a entrar em 
contato com pessoas, jogos e conteúdos violentos, pode ter sido instigado a 
exteriorizar sua raiva generalizada. 
Quanto à arma encontrada no local utilizada por Fabiano para desferir os 
golpes nas vítimas: a espada Katana é um objeto de colecionador, tendo, 
geralmente, um alto valor de compra. Isto indica que o jovem quis investir seu 
dinheiro em um objeto que ele teria certeza que seria capaz de causar lesões 
letais, já que ele não teve êxito na tentativa de comprar armas de fogo. Tal 
dado demonstra que Fabiano realmente queria desferir golpes letais às vítimas, 
demonstrando – de acordo com a teoria proposta por Peter Langman (2009) – 
fortes traços de sadismo. 
A personalidade do rapaz já demonstrava traços preocupantes, como o 
isolamento excessivo e a forte atração por conteúdos violentos. Porém, 
ninguém do convívio de Fabiano imaginava que ele fosse cometer o crime. 
Este dado é de extrema importância para a prevenção de possíveis 
futuros ataques, já que nos indica que, não necessariamente um assassino que 
comete este tipo de massacre apresentará antecedentes de violência ou 
comportamentos criminosos – segundo a polícia, Fabiano não possuía 
qualquer antecedente criminal. 
Portanto, tendo em vista não só o exemplo de Fabiano, como de outros 
assassinos de escola, pode-se presumir que o comportamento anti-social, 
muitas vezes, indica tanto risco quanto comportamentos violentos quando se 
trata de atentados desse tipo. 
Quanto às lesões encontradas nos corpos das vítimas: todas foram 
encontradas com, no mínimo, 6 cortes de extrema profundidade – exceto a 
educadora Mirla Renner, que recebeu 2 golpes no abdome apenas. Os golpes 
em sua maioria foram desferidos, principalmente, na região do tórax e do 
abdome. Confrontando tal informação com parte da fundamentação teórica 
contida na presente pesquisa, pode-se presumir que Fabiano tinha o 
conhecimento dos locais do corpo que ele deveria atacar para que pudesse 
causar lesões realmente letais às vítimas – já que, segundo Silva (2009), os 
 
25 
 
ferimentos por arma branca perfuro-cortante só costumam ser fatais quando 
desferidos, justamente, nas regiões torácica e abdominal.O caso do massacre de Saudades, por se tratar de um caso em que não 
foram necessárias investigações para descobrir a causa da morte das vítimas, 
qual foi a arma utilizada no crime ou para localizar o assassino – já que o 
mesmo foi autuado em flagrante pela polícia no local, admitindo tudo dias 
depois, e a arma do crime foi encontrada também no local – a função dos 
profissionais de Necropsia foi mais voltada à identificação dos locais dos 
corpos das vítimas que foram golpeados pela espada, a profundidade das 
lesões, se a causa da morte foi resultante de hemorragia pelos múltiplos cortes, 
ou se foi por danos letais a órgãos vitais, etc, com o intuito da realização do 
atestado de óbito e de todos os trâmites médico-legais que envolvem um 
homicídio, já que nesses casos é de extrema importância uma abordagem 
multiprofissional e interdisciplinar, na intenção de solucionar o caso, junto à 
justiça, com maior agilidade e completude. Portanto, este dado demonstra que 
a presença destes profissionais em investigações de homicídios dessa 
categoria é de extrema importância. 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Massacres em escolas têm ocorrido com cada vez mais freqüência nos 
últimos tempos no Brasil, fato este que vem preocupando as autoridades e a 
sociedade num geral. 
As pesquisas em relação ao assunto ainda não trazem muitas respostas, 
o que dificulta o estabelecimento de um padrão para esse tipo de atentado, já 
que estes ocorrem por motivações e formas diversas. 
O caso do massacre à creche em Saudades (SC) choca ainda mais que 
outros, tendo em vista a tamanha crueldade do assassino em relação à escolha 
do tipo de arma e à idade das vítimas – em sua maioria, bebês. 
Portanto, é de extrema importância que se estendam as pesquisas em 
relação ao assunto, para que, desta forma, tais atos e comportamentos 
violentos possam ser previstos e evitados futuramente. 
 
26 
 
A presente pesquisa foi de extrema importância para nossa formação 
acadêmica, pois, através desta, pudemos perceber a tamanha importância do 
profissional auxiliar de Necropsia em casos como este. 
O auxiliar de Necropsia, nesses tipos de crimes, acaba sendo uma peça 
fundamental para a agilidade da resolução do caso, já que este conseguirá 
passar todas as informações à justiça em relação à causa da morte das 
vítimas, o nível de força e violência empregada pelo assassino, etc. Estes 
elementos são cruciais para a condução e conseqüente resolução do caso em 
questão. 
Portanto, através da presente pesquisa, foi possível adquirirmos 
conhecimentos de suma importância para nossa futura prática profissional. 
 
 
 
 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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https://semanaacademica.com.br/artigo/lidando-com-morte-o-papel-do-auxiliar-de-necropsia-em-um-exame-necroscopico
https://semanaacademica.com.br/artigo/lidando-com-morte-o-papel-do-auxiliar-de-necropsia-em-um-exame-necroscopico
	1. INTRODUÇÃO
	2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
	3. METODOLOGIA
	4. ANÁLISE DE DADOS
	4.2. As mortes
	4.3. A arma
	4.4. O local
	4.5. O assassino
	4.6. O interrogatório
	5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
	6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
	7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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