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0 Wellington Alvim da Cunha Gisele Aparecida Bovolenta Raquel Raichelis Beatriz Paiva Mirella Rocha Dilceane Carraro Ieda Maria Nobre de Castro Ana Maria Corrêa Conegundes Rosilene Cristina Rocha Flávia Bortoleto Ortolani Giselle Lavinas Monnerat Rosimary Gonçalves de Souza SERVIÇO SOCIAL E ASSISTÊNCIA SOCIAL Edição revisada IESDE Brasil S.A. Curitiba 2018 1 © 2018 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ _____________________________________________________ S581g da Cunha, Wellington Alvim Bovolenta, Gisele Aparecida Raichelis, Raquel Paiva, Beatriz Rocha, Mirella Carraro, Dilceane de Castro, Ieda Maria Nobre Conegundes, Ana Maria Corrêa Rocha, Rosilene Cristina Ortolani, Flávia Bortoleto Monnerat, Giselle Lavinas de Souza, Rosimary Gonçalves Serviço Social e Assistência Social. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2018. 76p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3102-3 1. Escolas - Organização e administração. 2. Planejamento educacional. I. Título. 12-6948. CDD: 371.207 CDU: 37.014.5 24.10.18 10.10.18 039393 _____________________________________________________ Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 2 Sumário APRESENTAÇÃO |03 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: AVANÇOS E DESAFIOS NO PÓS-CONSITTUIÇÃO DE 1988|04 OS BENEFÍCIOS EVENTUAIS PREVISTOS NA LOAS: O QUE SÃO E COMO ESTÃO|23 INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL E AS CONDIÇÕES DE TRABALHO NO SUAS|43 INSTÂNCIAS DE ARTICULAÇÃO, PACTUAÇÃO E DELIBERAÇÃO NO ÂMBITO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL|63 FINANCIAMENTO E ORÇAMENTO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL|79 NOBRE OPERACIONAL BÁSICA 2012 E A CAPACIDADE INSTITUCIONAL DOS ENTES FEDERADOS PARA A EFETIVAÇÃO DO SUAS|102 NORMA OPERACIONAL BÁSICA DE RECURSOS HUMANOS DO SUAS (NOBRH/SUAS)|119 A INTERSETORIALIDADE DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL|127 3 Apresentação Olá! Nesta Unidade de Aprendizagem, estudaremos as principais características da política de assistência social na década de 1990 e 2000, buscando compreender os direcionamentos e a natureza dessa política. Bons estudos! Objetivos • Identificar as mudanças ocorridas na política de assistência social no Brasil na década de 1990 e 2000 • Reconhecer as principais normas e legislação que estabelecem as atribuições específicas da política de assistência social no Brasil. • Apontar as principais realizações nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. 4 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: AVANÇOS E DESAFIOS NO PÓS- CONSTITUIÇÃO DE 1988 Wellington Alvim da Cunha RESUMO Os últimos 25 anos no contexto brasileiro foram marcados por profundas transformações sociopolíticas, tendo como pano de fundo a democratização e a reforma do Estado. Este ensaio teórico busca compreender os direcionamentos e a natureza da política de assistência social nesse período, à partir da análise dos diferentes governos e o trato das questões sociais, objetivando compreender as opções adotadas pelo Estado brasileiro. Para tanto, buscou-se contextualizar as características centrais da política de assistência social nas décadas de 1990, 2000 e 2010. Nessa perspectiva, efetuou-se uma pesquisa bibliográfica apresentando o desenvolvimento da política de assistência social posterior a Constituição de 1988, destacando as contribuições e particularidades dos diferentes governos. Pode-se verificar que a gestão Política de Assistência Social obteve grandes avanços com leis, programas, projetos e serviços. Verificou-se, que alguns dos principais avanços nesses vinte e cinco anos são: l) maior participação social no controle das políticas sociais, II) institucionalização e regulamentação dos marcos da política de assistência social, de leis, decretos e normas; III) Criação de programas de transferência de renda IV) adoção de um Sistemas Único de gestão e organização da assistência social; V) maior disponibilidade de recursos orçamentários para as políticas sociais, de forma que estas possam ser suficientemente massivas frente ao contingente de pobreza a ser enfrentado; VI) intensificação de práticas intersetoriais, com a busca de uma integração cada vez maior de programas e ações; VII) realização sistemática de monitoramento e avaliação das políticas sociais. Por fim, percebeu-se que nessas duas décadas e meia, as ações do governo federal, estaduais e municipais envidaram esforços para a implementação, expansão e consolidação de uma ampla rede de proteção e promoção social, fato que 5 tem permitido o país avançar nos indicadores sociais, no enfrentamento da pobreza, da fome e da desigualdade, e também a incidência de vulnerabilidades e riscos sociais que atingem as famílias e indivíduos. Palavras chaves: Política Pública, Assistência Social, Constituição Federal INTRODUÇÃO Este artigo discute a trajetória recente da assistência social no Brasil pós Constituição Federal de 1988, buscando compreender os direcionamentos e a natureza dessa política. A partir de revisão bibliográfica busca-se analisar o trato das questões sociais nos diferentes governos, objetivando compreender as opções adotadas pelo Estado brasileiro. A preocupação que motivou este estudo deriva das recorrentes mudanças sociopolíticas ocorridos no Brasil nas últimas décadas do século XX e as consequências para a política de assistência social. O período foi marcado por profundas transformações, tendo como pano de fundo a defesa da democratização e a reforma do Estado, onde as políticas sociais tiveram sua trajetória marcada por grandes transformações e reformas responsáveis pela ampliação e universalização de direitos sociais. A política de assistência social até o final da década de 1980 era caracterizada pela fragmentação, com ações paralelas, descoordenadas e descontinuadas, perdendo-se num emaranhado de ações de base assistencialista, caridade e benesse. A promulgação da Constituição de 1988 promoveu uma importante reforma do sistema de proteção social no país estabelecendo um novo marco para a operacionalização das políticas sociais brasileiras, ao inserir a assistência social como política pública no tripé da seguridade social, junto com a saúde e a previdência social (IPEA, 2010). A política de assistência social no Brasil acompanhou o processo de reformas, intervenções e modernização da administração pública, apresentando características paradoxais. De um lado, a necessidade de racionalização dos gastos públicos, em resposta à necessidade imperiosa de garantir o equilíbrio orçamentário e fiscal, de outro, a ampliação da demanda por políticas sociais consagradas na Constituição de 1988 (RIBEIRO, 2005). Para debater sobre esses fatos, o presente artigo foi dividido em cinco seções além desta introdução; sendo que a segunda traça um panorama geral da política de Assistência Social pós Constituição de 1988; a terceira discute as mudanças ocorridas na política durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso, a quarta e quinta, respectivamente, foram traçadas a condução da política nos governos Lula e Dilma e por fim, na sexta seção, temos a conclusão. 6 ASSISTÊNCIA SOCIAL PÓS A PRIMEIRA METADE DA DÉCADA DE 1990 As políticas sociais são construídas como um conjunto de ações do Estado, na busca de diminuiçãodas desigualdades sociais (PASTORINI, 1997). No Brasil, a trajetória dessas políticas é marcada por grandes transformações e reformas responsáveis pela ampliação e universalização de direitos sociais expressos na Constituição da República de 1988. Essas reformas foram influenciadas por lutas democráticas de setores organizados, nos anos de 1970 e de 1980, introduzindo diretrizes importantes para a consolidação da democracia e avanços das políticas sociais. De fato, a Constituição de 1988 lançou as bases para uma expressiva alteração da intervenção social do Estado, alargando o arco dos direitos sociais e o campo da proteção social sob responsabilidade estatal, com impactos relevantes no que diz respeito ao desenho das políticas, à definição dos beneficiários e dos benefícios. A intervenção estatal (...) passou a referir-se a um terreno mais vasto da vida social, tanto com objetivos de equalizar o acesso a oportunidades como de enfrentar condições de destituição de direitos, riscos sociais e pobreza (CARDOSO JR.; JACCOUD, 2005, p. 182). A CF/88 trouxe uma nova concepção para a assistência social no Brasil, trazendo novos elementos da intervenção do Estado no campo social e no ano de 1993 adquire estatuto de política pública com aprovação da LOAS. [...] a assistência social brasileira deixou de ser, em tese, uma alternativa de direito, ou dever moral, para transformar-se em direito ativo ou positivo, da mesma forma que os demandantes dessa assistência deixaram de ser meros clientes de uma atenção assistencial espontânea – pública e privada - para transformar-se em sujeitos detentores do direito à proteção sistemática devida pelo Estado (PEREIRA, 1996, p.99-100). A assistência social conforme artigo 203 da Constituição Federal de 1988 tem como objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria 7 manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Todas essas ações são realizadas com recursos do orçamento da seguridade social e organizadas com bases nas diretrizes de descentralização político- administrativa, cabendo à coordenação geral à esfera federal e a coordenação e execução aos estados, municípios e entidades da rede socioassistencial. As políticas sociais após 1988 viveram o paradoxo da efetivação da ―Constituição Cidadã‖ em contraponto com o ajuste econômico e a minimização do Estado (CARDOSO JR., 2005; SOARES, 2001). Observa-se que o neoliberalismo teve forte influência na reforma de Estado de vários países, inclusive no Brasil. Os países que seguiram as ideias neoliberais adotaram cortes orçamentários de maior ou de menor relevância, privatizaram empresas estatais e certos serviços públicos além de criarem grandes programas de modernização da administração pública (CHANLAT, 2002). O governo Fernando Collor de Mello (1990-1992) adotou várias medidas neoliberais e as políticas sociais configuraram-se na desconstrução dos princípios universalizantes, distributivos e não-estigmatizadores da Seguridade Social, conquistados na CF/88 (PEREIRA, 2005). Na visão de Soares (2001), o período Collor significou o desmonte do padrão constitucional sem a substituição de um novo padrão de proteção social. Na realidade, presencia-se a adoção de estratégias que revelam, [...] a redução dos investimentos públicos estatais para as políticas sociais, através da privatização do financiamento e da produção dos serviços; cortes dos gastos sociais, eliminando-se programas e reduzindo-se benefícios; canalização dos gastos para os grupos carentes; e a descentralização em nível local (LAURELL, 1995, p.163). Em meio à pressão neoliberal frente às políticas sociais, foi aprovada no governo de Itamar Franco (1993) a Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (Lei 8.742/93), visando regulamentar os objetivos e diretrizes da política de assistência social. Na relação entre o Estado e a sociedade civil, a LOAS propõe um conjunto de ações integradas para garantir a proteção social, na qual o Estado assume a responsabilidade na condução política e a sociedade civil participa como parceira, fortalecendo a rede de assistência na complementação dos serviços socioassistenciais e principalmente no controle social. Essa lei deu início um novo processo de gestão participativa da política de assistência social através de conselhos deliberativos e paritários nas esferas federal, estadual e municipal. As instâncias deliberativas da assistência social compostas de forma paritária por representantes do 8 governo e sociedade civil, são os conselhos de assistência social: nacional, estaduais, do distrito federal e municípios. Pereira (2005) define a condução da política social do início da década de 1990 como seletiva, liberal e focal das obrigações sociais do Estado, e o seu objetivo primordial foi o combate à inflação e ajustes econômicos. As mudanças ocorridas na assistência social tiveram características ambíguas, havendo avanços e retrocessos no período. Nesta seção, procuramos estudar os direcionamentos da política de assistência social após a promulgação da Constituição de 1988, destacando o momento sociopolítico brasileiro nos governos Collor e Itamar Franco. A próxima seção busca traçar as mudanças ocorridas nessa política após a vitória de Fernando Henrique Cardoso, destacando os avanços e contradições em relação ao que a Constituição propunha. ASSISTÊNCIA SOCIAL NO GOVERNO DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a reforma do Estado brasileiro foi um dos principais focos de sua gestão (BRESSER-PEREIRA, 1999). Uma das primeiras ações do governo na área social foi extinguir, em janeiro de 1995, a Legião Brasileira de Assistência (LBA), devido aos desmandos políticos ocorridos no período Collor (SOARES, 2001). Também neste mesmo período, a assistência social é marcada por ações de incentivo à parceria com a sociedade civil através do apelo ao voluntariado, tendo como expoente deste processo a criação, em 1995, do Programa Comunidade Solidária (NOGUEIRA, 2011). Nesse momento, o governo FHC adotou uma política de transferência da responsabilidade Estatal para a sociedade civil. É também nesse contexto que as ONG‘s, o chamado Terceiro Setor se generaliza pelo país nos mais diversos segmentos, principalmente naqueles em que o Estado mais se ausenta. Como consequência, as políticas sociais, tomadas em nível amplo, apresentaram-se de maneira desarticulada e desconexa, resultando em programas e ações sobrepostos ou mesmo concorrentes (PELIANO, RESENDE, BEGHIN, 1995; IPEA, 2003). Com ampla participação da sociedade, em 1995, acontece em Brasília a 1ª Conferência Nacional de Assistência Social, e neste movimento a Política de Assistência ganha seus primeiros contornos como direito, em detrimento do assistencialismo (JACCOUD et al, 2008). Dentro desse contexto, reconhece-se que na Política de Assistência Social houve avanços, pois em 1996 a LOAS começa a ser implantada a partir da concessão do BPC para idosos e portadores de deficiência. Também neste período foi implementado o processo de descentralização, iniciado a partir da estadualização e 9 municipalização, ou seja, mecanismos em que a execução e responsabilidade das ações executivas da Política de Assistência Social foram delegadas aos estados e municípios. Em 1997, a primeira Norma Operacional Básica (NOB) daAssistência Social, colocava a centralidade das relações entre níveis de governo federal, estadual e municipal e propunha-se a criação de uma comissão intergestora. Em 1998, foi aprovada a primeira Política Nacional de Assistência Social – após quase dois anos desde que a primeira versão de texto, que fora apresentada ao Conselho Nacional de Assistência Social – e uma nova NOB (JACCOUD et al, 2008). O segundo mandato de FHC é marcado por ações na política de assistência social, que deram bases para muitas políticas sociais da primeira década do ano 2000, entre elas o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Esse programa foi criado em 2001, para apoiar os programas de transferência de renda criados no período, com a pretensão de constituir na única base de dados a ser utilizada por tais programas e também ações em âmbito estadual e municipal (BARTHOLO et al, 2010). A proposta do cadastro único é identificar potenciais beneficiários dos programas sociais, buscando unificar o cadastro e evitar a sobreposição de programas a um mesmo indivíduo e/ou família (MENEZES E SANTARELLI, 2011). Foram criados também o Bolsa Escola, vinculado ao Ministério da Educação, o Bolsa-Alimentação, do Ministério da Saúde, Auxílio Gás pelo Ministério de Minas e Energia, e Cartão Alimentação pelo Ministério da Integração, que posteriormente foram unificados no Programa Bolsa Família (PELIANO, 1995). O período em análise foi marcado por uma atuação difusa, na qual as ações interministeriais elaboraram e executaram programas e projetos com características compensatórias, voltados para o combate à pobreza. O governo de FHC fez algumas intervenções no tocante à assistência social, dando continuidade ao processo de consolidação da democracia e fortalecimento das instituições previstos na Constituição de 1988, que subsidiaram a evolução das ações nos anos posteriores. ASSISTÊNCIA SOCIAL NO GOVERNO LULA: AMPLIAÇÃO DE DIREITOS E REORGANIZAÇÃO DE POLÍTICAS DE COMBATE À FOME E À MISÉRIA Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, o Estado brasileiro passa a ter a agenda social como eixo estruturante do novo desenvolvimentismo brasileiro, adotando uma orientação genericamente participativa, que implicou em uma forte expansão do controle social (PAULA, 2007; OLIVA, 2010, AVRITZER, 2012). Algumas das ações e políticas de assistência social que antecederam ao governo Lula tinham caráter fragmentado e com reduzida utilização dos espaços de participação. No 1 0 entanto, o novo governo buscou ampliar as políticas sociais para enfrentamento da fome e pobreza. Segundo Oliva (2010, p.19), No governo Lula as políticas de distribuição de renda e de inclusão social ganham uma centralidade antes completamente inexistente. A visão anterior, segundo a qual os problemas sociais seriam resolvidos essencialmente pelo crescimento econômico e pelo mercado de trabalho, complementados marginalmente por políticas de caráter compensatório e pelo investimento isolado na universalização da educação, é substituída por uma ação sistemática e enfática na eliminação do já referido bloqueio do processo de habilitação. Em 2003, o Governo Federal substituiu a Secretaria de Estado de Assistência Social pelo Ministério de Assistência Social (MAS), desvinculando da Previdência Social, constituindo um Ministério específico e central para gestão dos programas sociais do governo. Ainda em 2003 aconteceu a IV Conferência Nacional de Assistência Social, que foi um importante marco ao estabelecer diretrizes para a política de Assistência Social para os próximos anos. Em 2004, o MAS muda de nome e é institucionalizado o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), iniciando assim uma nova trajetória na história da política de assistência social no Brasil, ganhando destaque inicial o processo de promulgação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em 2004, da criação e estruturação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em 2005 e da consolidação das transferências de renda não contributivas. Com a institucionalização do MDS, ocorrem mudanças significativas na política de assistência social brasileira, pois, historicamente, as ações para a área eram marcadas pelo voluntarismo e guiadas apenas por sentimentos nobres de ajuda ao próximo, não havendo estratégias nem coordenação das ações oferecidas às populações pobres, hoje identificadas por sua vulnerabilidade e risco social. Esse novo momento é marcado pela compreensão da assistência social como direito do cidadão e não como ―caridade‖ do Estado, onde os princípios de financiamento compartilhado entre município, estado e união, a participação ativa através dos conselhos municipais e a transparência nas decisões e avaliação sistemática do planejamento realizado marcam esse momento. Também é criado o Programa Bolsa Família, cujo enfoque foi a expansão de cobertura da transferência de renda condicionada, unificando os diversos programas de transferência de renda do governo Fernando Henrique Cardoso e também é promulgada a Política Nacional de Assistência Social (PNAS). 1 1 A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL APÓS 2004: REGULAÇÃO E ORGANIZAÇÃO A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), criada a partir de um amplo debate entre sociedade civil e Estado, teve o intuito de regular e organizar o sistema descentralizado e participativo que estabelece como funções básicas da assistência social a proteção social, que se especifica como básica e especial. Com a aprovação da PNAS em 2004, estabeleceu- se uma nova organização e orientação da assistência social no Brasil. Institui- se a igualdade de direitos no acesso ao atendimento, garantindo-se equivalência entre populações urbanas e rurais, divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, assim como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e também dos critérios para a concessão desses benefícios e serviços. O público a quem se destina a política são pessoas ou grupos em situação de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos afetivos, em desvantagem pessoal por deficiência, uso de substâncias psicoativas, em exclusão pela pobreza, violência, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho ou qualquer tipo de situação que possa representar risco pessoal e social. Dentro desta política, as proteções sociais afiançadas, hierarquizadas em básica e especial, devem garantir a segurança de: sobrevivência (rendimentos e autonomia), acolhida e convívio ou vivência familiar. As ações desenvolvidas buscam articular as transferências de renda com os serviços socioassistenciais na perspectiva de oferecer maiores oportunidades e mais possibilidades de desenvolvimento de indivíduos, famílias e comunidades (BRASIL, 2004). A proteção social básica tem caráter preventivo e de inclusão social, prevê o desenvolvimento de serviços, programas e projetos e também a concessão de benefícios de prestação continuada destinada a pessoas com deficiência e idosos que comprovem não possuir condições de prover sua manutenção e de sua família, e os benefícios de caráter eventual, providos em espécie ou em pecúnia, destinados à situações temporárias, prestada aos cidadãos e/ou famílias em virtude de nascimento, morte, calamidade pública. Tais benefícios estão previstos na LOAS, financiados na competência dos municípios e Distrito Federal, e cofinanciados pelos estados. Os serviços da proteção social básica são executados diretamente nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), localizados em áreas de vulnerabilidade, destinados à famílias e indivíduos, com ações de orientação e fortalecimento do convívio familiar e comunitário. O CRAS é responsável pela oferta do Programa de Atenção Integral a Família e sua funçãoé a proteção e socialização de seus membros, e ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o Estado, há 1 2 ainda outras atividades executadas pelos CRAS que estão previstas na PNAS/2004. Os serviços de proteção especial são divididos em média e alta complexidade, requerendo um acompanhamento individual e flexível nas soluções protetivas e têm uma estreita interface com o sistema de garantia de direitos. Na média complexidade os serviços são destinados à famílias e indivíduos cujos vínculos não foram rompidos, por isso a necessidade de um atendimento estruturado, com acompanhamento sistemático e monitorado, com orientação e apoio sociofamiliar, plantão social, abordagem de rua, atendimentos de menor em cumprimento de medidas socioeducativas, entre outros. Esses serviços são executados no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), onde são executados dois grandes programas de destaque, que são: Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e o Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Na alta complexidade, os serviços destinam-se a indivíduos que se encontram sem referência, situação de ameaça, devendo ser retirados do seu núcleo familiar e comunitário, nos quais as atenções prestadas a essas pessoas devem garantir proteção integral como moradia, alimentação, higienização e trabalho. O atendimento deve ser institucional e integral, em casa lar, república, casa de passagem, albergue, família substituta ou acolhedora, e também devem ser realizadas as ações de medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade, e o trabalho protegido. O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA NOVA FORMA DE GESTÃO Levando-se em conta a heterogeneidade e desigualdade sócio territorial entre os municípios brasileiros criou-se um sistema para operacionalizar as ações de proteção social sendo este o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), regulando a hierarquia, os vínculos e as responsabilidades do sistema de serviços, benefícios e ações da assistência social. Regulamentada pela PNAS 2004, o SUAS é uma ferramenta de gestão coordenado pelo MDS, que regula e organiza em todo território nacional a rede de serviços socioassistenciais que tem como foco primordial a atenção à família e tendo o território como base para sua organização, oferecendo serviços, programas, projetos e benefícios no âmbito da assistência social pelo poder público e por ONG‘s nas três esferas de governo. Os fundamentos desse sistema estão no reconhecimento da autonomia dos entes federados, com relevância fundamental ao processo de descentralização, articulando os esforços e recursos dos três níveis de governo para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social. Na execução da política de assistência social, o SUAS 1 3 define e organiza elementos essenciais possibilitando a normatização de padrões nos serviços, qualidade de atendimento, nomenclatura dos serviços e da rede socioassistencial, indicadores de avaliação de resultado, e tem como eixos estruturantes: matricialidade sociofamiliar, descentralização político-administrativa, financiamento partilhado entre os entes federados, fortalecimento da relação Estado-Sociedade Civil, valorização do controle social e da participação popular/cidadão usuário, qualificação de Recursos Humanos, Informação, monitoramento, avaliação e sistematização de resultados. A descentralização político-administrativa se expressa na corresponsabilidade para cada esfera de governo na realização da política, onde as ações devem ser articuladas e operacionalizadas em rede com base em um território, organizadas em cada nível de governo na condição de comando único, com fundo, conselho, plano específico como elementos fundamentais para a gestão. Neste contexto, ocorre a territorialização, que tem o propósito de localização sócio espacial de vulnerabilidades e exclusão, caracterizando cada município e o grau de complexidade dos serviços, sendo os municípios classificados em: pequeno (1 e 2), médio e grande porte e metrópoles. A organização dos serviços no SUAS aponta para uma nova realidade que é a necessidade de qualificação dos profissionais, exigindo que estes estejam em consonância com os avanços da legislação que regula a Assistência Social, sendo esta capacitação prevista na política de recursos humanos definida de forma mais completa na Norma Operacional Básica/Recursos Humanos, trazendo princípios e diretrizes no âmbito nacional para a gestão do trabalho. Outra questão importante dentro do SUAS é a implantação de um sistema de informação, monitoramento e avaliação que permite mensurar a eficiência das ações, e realizar estudos e diagnósticos, contribuindo assim, para o desenvolvimento e readequações da Política de Assistência Social no Brasil. Uma das ferramentas utilizadas nesse contexto é a Rede SUAS, que registra e divulga dados referentes a recursos repassados, acompanhamento de programas, serviços e benefícios socioassistenciais e outras informações que estão ligadas à gestão de informação do SUAS. A implantação do SUAS vem ocorrendo nas diferentes instâncias governamentais, mas a realidade política, econômica, social e cultural brasileira se constitui num importante desafio para sua consolidação. Assim percebe-se a relevância da participação social no novo desenho da política de assistência social brasileira, uma vez que essa participação vem justamente suprir a lacuna do modelo gerencialista enquanto modelo de gestão democrática que não tem seu foco nas ações sociopolíticas. 1 4 Ainda no contexto de gestão, constituiu-se num primeiro momento a Norma Operacional Básica de 2005 para disciplinar e operacionalizar conforme a CF/88, LOAS. Em 2006, é aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos – NOB/RH para reestruturar e requalificar o setor público na gestão do trabalho e propor mecanismos reguladores da relação entre gestores e trabalhadores e os prestadores de serviços socioassistenciais. Por último, a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, que padroniza os Serviços em âmbito nacional, organizando-os por nível de proteção. GOVERNO DILMA E O PLANO BRASIL SEM MISÉRIA A partir dos dois mandatos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), o Brasil alcançou importantes resultados em termos da redução da pobreza e da mobilidade social. Em números absolutos, 28 milhões de brasileiros saíram da condição de pobreza, segundo estimativa do Governo Federal (IBGE, 2010, NERI, 2010). O êxito que se expressa nesses resultados foi creditado a um conjunto de fatores, desde crescimento real no valor do salário mínimo, controle da inflação, estimulo ao microcrédito, crescente incorporação de trabalhadores no mercado formal e relevante acréscimo na geração de empregos, ampliação de políticas sociais e aumento do mercado interno (MENEZES; SANTARELLI, 2011). Mesmo com esses avanços, o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou um número significativo de 16,2 milhões de pessoas ainda permanecendo na condição de extrema pobreza, o que sugere que as políticas públicas praticados pós 1988 não foram totalmente suficientes para erradicação da miséria e mostraram-se de difícil penetração em algumas áreas, principalmente a rural. Nesse contexto, a partir de 2011, o governo Dilma Rousseff reconheceu alguns desafios das políticas adotadas até então e em seu plano de governo declarou prioritárias as ações intersetoriais voltadas ao combate à extrema pobreza. Assim, o novo governo apresentou o Plano Brasil Sem Miséria (MENEZES; SANTARELLI, 2011). O Plano Brasil Sem Miséria foi criado com direcionamento aos brasileiros que vivem em lares cuja renda familiaré de até R$ 70,00 (setenta reais) por pessoa, ou seja, em situação de extrema pobreza (MDS, 2014). O Plano agrega ações de transferência de renda, acesso a serviços públicos nas áreas de educação, saúde, assistência social, saneamento, energia elétrica e inclusão produtiva. Com um conjunto de ações que envolvem a criação de novos programas e a ampliação de iniciativas já existentes, em parceria com estados, municípios, empresas públicas e privadas e organizações da sociedade civil, o Governo Federal 1 5 quer incluir a população mais pobre nas oportunidades geradas pelo forte crescimento econômico brasileiro (MDS, 2014). A expansão e a qualidade dos serviços públicos ofertados às pessoas em situação de extrema pobreza é um eixo norteador do Brasil Sem Miséria. Para isso, o plano prevê o aumento e o aprimoramento dos serviços ofertados aliados à sensibilização e mobilização, para a geração de ocupação, de renda e a melhoria da qualidade de vida. O Plano Brasil Sem Miséria é estruturado em três eixos de atuação: Acesso a Serviços: Área da Educação, Saúde, Assistência Social e Segurança Alimentar; Garantia de Renda: Programa Bolsa Família (PBF) e Benefício de Prestação Continuada (BPC); Inclusão Produtiva: Rural e Urbana. As ações do Plano vêm incorporar as outras ações já consolidadas na área de assistência social, como o Bolsa Família, programas de segurança alimentar e nutricional e outros programa, projetos e serviços inseridos dentro do Sistema Único de Assistência Social, contribuindo para a diminuição das desigualdades sociais, inclusão produtiva e acesso a serviços essenciais a população em situação de vulnerabilidade e risco social. ASSISTÊNCIA SOCIAL: AVANÇOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS A Constituição de 1988 apontou para um direcionamento democrático e participativo, colocando o controle social na agenda nacional, em um país com pouca tradição democrática. Ainda na década de 1990 houve muitos avanços na participação social, sendo criados muitos conselhos gestores e realizadas conferências em níveis municipais, estaduais e nacional. Os conselhos têm como principais atribuições a deliberação e fiscalização da execução da política e de seu financiamento, em consonância com as diretrizes propostas pela conferência; a aprovação do plano; a apreciação e aprovação da proposta orçamentária para a área e do plano de aplicação do fundo, com a definição dos critérios de partilha dos recursos, exercidos em cada instância em que estão estabelecidos. Os conselhos, ainda, normatizam, disciplinam, acompanham, avaliam e fiscalizam os serviços de assistência social, prestados pela rede socioassistencial, definindo os padrões de qualidade de atendimento e estabelecendo os critérios para o repasse de recursos financeiros (Art.°18, 2003). 1 6 A pesquisa de informações básicas do IBGE 2009, aferiu que 5.527 (99,3%) dos 5.565 municípios brasileiros possuíam Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), representando um acréscimo em relação a 2005, que tinha 98,8%. De acordo com a mesma pesquisa, todos os municípios com mais de 100.000 mil habitantes possuíam CMAS e os demais atingiram índices superiores de 97% de cobertura. Segundo a LOAS, possuir CMAS é critério para habilitação dos municípios quanto ao nível de gestão no SUAS e condição para os repasses, aos municípios, aos estados e ao Distrito Federal, dos recursos da Lei Orgânica da Assistência Social. As conferências nacionais de assistência social se efetivam por meio de espaços da participação popular em âmbito municipal, estadual e federal, garantindo o caráter democrático e descentralizado desta política. A LOAS considera que as conferências têm o papel de avaliar a situação da assistência social, definir diretrizes para a política, verificar os avanços ocorridos num espaço de tempo determinado (BRASIL. Lei 8.742, 1993). Observou-se que, a partir o governo Fernando Henrique, houve um adensamento do debate e da reflexão no sentido da consolidação do controle social, sendo realizadas 9 conferências em âmbito nacional (1995,1997,2001, 2003, 2005, 2007, 2009, 2011 e 2013) (JACCOUD et al, 2008). As conferências nacionais têm tido importante papel na estruturação de áreas de políticas públicas, catalisando a criação (ou reformulação) de conselhos setoriais, definindo diretrizes para o setor e até culminando na constituição de sistemas nacionais como o SUAS. (AVRITZER, 2012). Percebe-se que as instâncias de controle social e as políticas públicas de assistência social, têm evidenciado avanço para uma política democrática e participativa, porém é necessário um amplo processo de capacitação, investimentos, promoção de eventos e criação de ouvidorias para garantir a participação dos usuários como principais atores políticos enquanto sujeitos de direitos. AUMENTO COMPARTILHADO DO FINANCIAMENTO, SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS O financiamento da política de assistência social está previsto na CF/88 por meio da Seguridade Social é operacionalizado pelos Fundos de Assistência Social nas três esferas de governo. No âmbito do SUAS, o financiamento se dá de forma direta aos destinatários e o cofinanciamento da rede socioassistencial. Ocorre por meio de recursos próprios via unidade orçamentária e através de repasses fundo a fundo dos recursos do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), que são transferidos regular e automaticamente aos fundos regionais e locais (BRASIL, 2013). 1 7 A Lei Orgânica da Assistência Social, estabelece fontes definidas e diversificadas de financiamento, criando os fundos específicos nas esferas governamentais e com recursos para serem aplicados exclusivamente nesta política (SALVADOR, 2012). Nessa perspectiva, o município assume papel central na oferta de bens e serviços de assistência social. Dessa forma, conhecer as características que diferem as cidades torna-se fundamental, de modo a possibilitar a emergência de ações que visem a ampliar os níveis de eficiência no planejamento de programas, projetos e serviços, promovendo o desenvolvimento descentralizado e consequentemente a diminuição das disparidades intermunicipais (DAVI et al., 2009). Esforços para o progressivo aumento do financiamento têm sido empreendidos por parte do governo federal e os estados. Na esfera federal, o financiamento da política de assistência social, constatam-se avanços significativos. Em 2012, a área de Assistência Social recebeu aporte total de R$ 54,1 bilhões para o setor (BRASIL, 2011). O crescimento de recursos alocados está associado principalmente à expansão da rede de proteção social, descentralizada, com recursos distribuídos aos municípios para construção e funcionamento da rede do Sistema Único de Assistência Social (ANFIP, 2012). Quanto à oferta de serviços e equipamentos públicos, a partir da promulgação do PNAS e do SUAS, houve consideráveis aumentos para os municípios brasileiros. De acordo com os resultados obtidos pelo Suplemento de Assistência Social da Munic (2013), 99,6% dos municípios brasileiros declararam realizar serviços socioassistenciais de proteção social básica. Foram contabilizadas 7.968 unidades de Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) distribuídas em 5.437 (97,6%) municípios brasileiros. Quanto aos serviços de proteção social especial, existem 1.239 Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) distribuídos em 1.116 municípios brasileiros. Também 29,0% dos municípios contavam com abrigos institucionais ou casas-lar para acolhimento de crianças e adolescentes e 175 Centros POP distribuídos em 154 municípios brasileiros. DESAFIOS E PERSPECTIVAS O grande desafio está em superar padrões assistencialistas como na lógica do favor, ainda observado em muitos espaços, principalmente no âmbito regional. Tem-se ainda quefortalecer a autonomia dos municípios por meio do orçamento da Assistência Social e otimizar as ações socioassistenciais, tendo a clareza das competências de cada esfera de governo, qualificando gestores e aperfeiçoando o sistema de informações 1 8 sobre famílias e rede socioassistencial para que assim tornem a gestão eficiente na consolidação do sistema nacional de Assistência Social. Deve-se buscar também uma maior participação dos Conselhos no planejamento democrático e participativo para, assim, exigir o reconhecimento desses espaços como de exercício efetivo de controle social da política pública de Assistência Social e permitir que os usuários participem como atores políticos dessa realidade. Um dos desafios enfrentados no controle social é a participação dos usuários como principais atores políticos e sujeitos de direitos. É necessário um amplo processo de capacitação, investimentos, promoção de eventos e criação de ouvidorias para garantir a participação e fomentar o protagonismo desses usuários. Outro desafio é a gestão do trabalho. A Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) 2013, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que dos 244.683 trabalhadores da assistência social no Brasil, 52,4% estão contratados sem vínculo empregatício permanentes ou em cargos comissionados. Quanto à escolaridade, o mesmo estudo apontou que 66,2% dos recursos humanos na área da assistência social no país tinham escolaridade até o ensino médio. Esses indicadores apontam que é necessário investir na qualificação no setor, pois podem acarretar problemas no planejamento, organização e nas relações de trabalho no âmbito dos municípios. CONSIDERAÇÕES FINAIS Buscou-se neste artigo chamar a atenção para as mudanças ocorridas na política de assistência social no período pós Constituição Federal de 1988. Antes o Estado Brasileiro tratava a Assistência Social com uma prática de favor e caridade, sob o viés clientelista, distanciando-se do seu verdadeiro objetivo em relação às necessidades da população. A Carta Magna de 1988, ao alçar a Assistência Social como política pública modificou a concepção em termos formais, concedendo a ela uma visão mais política e uma perspectiva de atuação na defesa dos direitos sociais aos cidadãos brasileiros. A mobilização e anseio dos atores sociais motivados a efetivar a Assistência Social como política pública de Estado possibilitou a promulgação da LOAS e a produção de novos documentos legais para regular e organizar a gestão das ações possibilitando novas práticas e assim a garantia efetiva de direitos. Nesse sentido, o modelo gerencial instituído no Brasil teve papel fundamental na reorganização e modernização do Estado, porém as políticas sociais viveram o paradoxo da efetivação da CF/88 em contraponto com o 1 9 ajuste econômico e a minimização do Estado. A política de assistência social brasileira apresentou características distintas após a redemocratização, onde as reformas administrativas e as diretrizes governamentais apresentam-se como fundamentais para o direcionamento das políticas sociais. Verifica-se, entretanto, que alguns dos principais avanços nesses vinte e cinco anos podemos destacar: I) a maior participação social no controle das políticas sociais, II) institucionalização e regulamentação dos marcos da política de assistência social, de leis, decretos e normas; III) Criação de programas de transferência de renda IV) adoção de um Sistemas Único de gestão e organização da assistência social; V) maior disponibilidade de recursos orçamentários para as políticas sociais, de forma a que estas possam ser suficientemente massivas frente ao contingente de pobreza a ser enfrentado; V) intensificação de práticas intersetoriais, com a busca de uma integração cada vez maior de programas e ações; VII) realização sistemática monitoramento e avaliação das políticas sociais. Nesta trajetória de 25 anos após a Constituição, é possível identificar importantes legados deixados pelos diferentes governos. A Política Pública da Assistência Social passou por diversos estágios marcados principalmente pelas iniciativas do Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), do Governo Lula (2003-2010) e por último do Governo Dilma (2010-2014). Foi possível identificar grandes avanços na política de assistência social, com a implantação de programas, projetos e serviços na área e instâncias democráticas de controle social. Porém, ainda restam muitos desafios diante ao elevado número de pobreza e exclusão social ainda existentes no contexto brasileiro, requerendo iniciativas efetivas governamentais e não-governamentais para consolidar a Assistência Social como política pública a quem dela necessitar. REFERÊNCIAS ANFIP. Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (Brasil) (Ed.). Análise da Seguridade Social 2012. 13. ed. Brasília, 2013. 131 p. AVRITZER, L. Conferências Nacionais: ampliando e redefinindo os padrões de participação social no Brasil. 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Sua regulamentação procede da gestão municipal e estadual da política de assistência social, e esse translado, de uma política para outra, não garantiu a continuidade de concessão desse direito, pois estar legalmente instituído não foi (e não é) suficiente para estar devidamente implementado em todo o país, o que supõe empecilhos econômicos, políticos, sociais, culturais e mesmo pessoais. Palavras-chave: Benefícios eventuais. Regulamentação. Loas. Direito. INTRODUÇÃO Os benefícios eventuais constituem um direito social legalmente assegurado aos cidadãos brasileiros no âmbito da proteção social básica, conforme preconiza o Sistema Único de Assistência Social (Suas). Previstos desde 1993 pela Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), se inscrevem no rol de provisão procedente da gestão municipal e estadual da política de assistência social, cuja responsabilidade de sua regulação ficaram a cargo dos respectivos conselhos. Foi destacado como objeto de regulamentação e provisão o auxílio-natalidade e o auxílio-funeral, instituídos desde 1954 pela política previdenciária e ampliados a partir da Loas às demais atenções oriundas das situações de vulnerabilidade social e calamidade pública. É sabido que a concessão de auxílios e benefícios é uma prática inerente de atenção por parte da assistência social, a qual se construiu no campo do direito. A concessão do auxílio-natalidade, auxílio-funeral e da Renda Mensal Vitalícia (RMV) estavam até 1993 sob responsabilidade da política previden- ciária. O translado de uma política para outra gerou alguns impasses em relação à categoria dos benefícios eventuais (o 2 4 auxílio-natalidade e auxílio-funeral), os quais, na divisão de responsabilidades — conforme preconiza a própria Constituição Federal —, pertenceriam às esferas municipais, estaduais e do Distrito Federal. Assim, tão logo foram transferidos, deixaram de ser concedidos; o enquadramento dado à atenção limitou-se a 1/4 do salário mínimo, focalizando o direito a um público bem específico — àqueles extremamente pobres. Além disso, o que deveria ser um avanço, o fato de a regulação ocorrer a partir do município, estados federados e Distrito Federal, tornou-se um problema, face às diversas limitações existentes. Com isto, somente a RMV, que ficou sob responsabilidade da União, conseguiu, a partir de 1996, ser regulamentada na assistência social e passou a prestar atenção similar por meio do Benefício de Prestação Continuada (BPC), compondo a outra categoria de benefícios assegurados na Loas: os benefícios continuados. Em outras palavras, as legislações precedentes dividiram as tarefas: os benefícios continuados ficaram sob responsabilidade da União; os benefícioseventuais (no caso os auxílios-natalidade, funeral e demais provisões) ficaram a cargo dos estados, municípios e Distrito Federal, o que permanece sem regulação na maioria dos municípios até os dias atuais. Ao que parece, trata-se de uma parte da Loas deixada à margem da política pública de assistência social. Esta análise, a fim de contribuir para o debate acerca da condição na qual se encontram os benefícios eventuais, se divide em três partes: os benefícios antes da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas); os benefícios no contexto da Loas; e, por fim, os benefícios posterior à Lei Orgânica. A intenção, neste caso, é de mapear o caminho e o movimento misto pelo qual esses benefícios passaram, da previdência social para a assistência social e a situação em que se encontram atualmente. OS AUXÍLIOS-NATALIDADE E FUNERAL ANTES DA LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Os benefícios eventuais por morte e natalidade, descritos hoje no artigo 22 da Loas, já percorreram uma importante trajetória até se configurarem como benefícios socioassistenciais no âmbito da política pública de assistência social. Ao serem instituídos, por meio do Decreto n. 35.448, de 1/5/1954, sob a égide da política previdenciária, foram intitulados, primeiramente, como ―auxílio-maternidade‖ e ―auxílio-funeral‖. Nesse momento, estavam subordinados ao vínculo previdenciário e eram ofertados por meio do pagamento de um salário mínimo vigente à época. 2 5 Promulgado pelo então presidente — Getúlio Vargas —, esse documento era considerado de grande relevância, devendo ser estudado e também aprecia- do pelo Poder Legislativo da época, uma vez que se via necessário uniformizar o sistema previdenciário existente naquele momento. Com isto, esse decreto descrevia quem eram os beneficiários; quem estava excluído desse regulamento; quem eram os segurados facultativos; quem eram os dependentes; como deveria ocorrer a inscrição no Instituto e quais eram as prestações destinadas. A única exigência, no caso, era o fato de estar vinculado a algum Instituto e ter cumprido o período de carência de doze meses. Esses auxílios permaneceram até a década de 1960 com essa formatação. Quando ocorreu a instituição da Lei Orgânica da Previdência Social (Lops), promulgada em 26/1/1960 (Lei n. 3.807), voltou-se a fazer referência ao auxílio-maternidade e ao auxílio-funeral, propondo algumas mudanças. O auxílio-maternidade passou, a partir de então, a ser chamado auxílio-natalidade (terminologia utilizada até os dias atuais). A legislação não trouxe apenas a mudança de nomenclatura, mas ampliou o acesso, quando passou a considerar outros dependentes do segurado. A partir da Lops, tinha direito a este auxílio, além da esposa do segurado, a filha ou a irmã, maior de idade, solteira, viúva ou desquitada, ou ainda alguém designada pelo beneficiário, desde que essa pessoa estivesse sob sua dependência econômica. A exigência estabelecida era de que houvesse no mínimo doze contribuições ao seguro social da pessoa designada, além de sua inscrição no regime previdenciário de no mínimo trezentos dias antes do parto. A Lops também instituiu mudanças em relação ao auxílio-funeral, que passou de um para dois salários mínimos, sendo destinados aos dependentes do segurado falecido ou a quem executasse o funeral, desde que comprovadas as despesas. O horizonte da Lops, além de organizar e orientar a Previdência Social no país, era, também, unificar os diversos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) existentes desde 1930, de modo que passasse a existir uma legislação única que os orientasse, pois até o momento cada IAP funcionava conforme suas determinações específicas. Em outras palavras, a Lops propunha padronizar os benefícios previdenciários concedidos. No entanto, a unificação desses Institutos só ocorreu, de fato, em 1966, ou seja, seis anos após a promulgação da Lops. Por meio do Decreto-lei n. 72, de 21 de novembro de 1966, estabeleceu-se o Instituto Nacional de Previdência Social — INPS — o qual passou a coordenar e administrar os institutos então existentes de modo unificado. Além disto, a Lops imprimiu um contexto de ampliação ao acesso desses benefícios, pautado na perspectiva da 2 6 universalidade, embora orientado pela lógica do seguro social, e tendo o salário mínimo como base e referência. Tratava-se, portanto, esse rol de medidas introduzidas na Lops, de relativos avanços no esquema de proteção social brasileiro que não obstante ancorado na tradição contratual do seguro social, guiava-se pelo princípio da universalidade, no âmbito do sistema, e inaugurava a extensão ou o alargamento do leque de dependentes beneficiários, assim como do valor do pagamento dos auxílios, que tinha como parâmetro básico o salário mínimo. (Pereira, 2002a, p. 120) Não houve, na sequência, mudanças significativas referentes à concessão desses auxílios com a Lei n. 5.890, de 8 de junho de 1973, que alterava a legislação previdenciária e dava outras providências. Os auxílios-natalidade e funeral foram, por mais de duas décadas, executados desta forma: acessado por meio do vínculo previdenciário, garantido por meio das condições aqui apresentadas. No entanto, aos desprovidos do seguro social, não havia (legalmente) benefícios instituídos. No mais das vezes, a Legião Brasileira de Assistência (LBA) e alguns órgãos de cunho assistencial prestavam ou forneciam algum tipo de benefício (tipo eventual) dada à situação apresentada. Era comum (e talvez ainda seja), por exemplo, o fornecimento do enxovalzinho do bebê às gestantes tidas como carentes. Do mesmo modo, ocorria o fornecimento de caixão ao falecido, cuja família não possuísse meios de arcar com o ônus do funeral, entre outros auxílios categorizados em natalidade ou morte, além de tantos outros ofertados face à situação vulnerável, destinados diretamente à grande maioria da população, fora do sistema previdenciário. Com isto, a Previdência Social ministrava seus benefícios, entre eles os auxílios-natalidade e funeral aos seus segurados e dependentes, ficando os demais à mercê de auxílios eventualmente fornecidos, quer seja pelo órgão público (quando disponível), quer seja pela rede de solidariedade, formada por entidades, pessoas físicas, órgãos religiosos etc. No entanto, com base na ideologia neoliberal, as políticas sociais passaram a sofrer um novo direcionamento em sua área de atuação, principalmente em suas prioridades, o que ocorreu a partir dos anos 1990. Em linhas gerais, isso se deu com cortes do gasto social, além da mencionada desativação direta dos programas sociais. Por último, mas não menos importante, à efetiva redução do papel do Estado no campo social, uma vez que, ―na base de tal ‗redireciona- mento‘ estava a vontade de quebrar a espinha dorsal dos sindicatos e dos movimentos organizados da sociedade‖ (Draibe, 1993, p. 92). Isto gera alterações nas provisões sociais existentes: nos benefícios sociais, juntamente nos programas sociais em geral e mesmo no sistema de 2 7 seguro social, no que tange à redução em seu caráter de universalidade e seu enfoque específico de desenvolvimento, tendo essa responsabilidade sido transferida, quando necessário e/ou possível, à iniciativa privada e à sociedade civil. Fazia-se necessário, a mando do sistema econômico e da ―nova‖ ideologia política em vigor, reformar o sistema de proteção social existente, em que a privatização, a descentralização e a focalização das atenções eram o pano de fundo de tal reforma. Em relação à política previdenciária existente, especificamente o auxílio-natalidade e o auxílio-funeral, a Lei n. 8.213, de 24/7/1991, que descrevia os ―Planos de Benefícios da Previdência Social‖, introduziu dentro do seguro social existente o princípio da seletividade e/ou corte de renda para acessar seusbenefícios. A partir desse momento, esses auxílios foram destinados aos segurados que recebiam até três salários mínimos vigentes na época. Em 1991, o salário-mínimo vigente era de Cr$ 17.000,00 (dezessete mil cruzeiros). As mudanças trazidas pela lei de benefícios da Previdência Social apontavam que somente quem tinha menos de três salários mínimos, isto é, até Cr$ 51.000,00 (cinquenta e um mil cruzeiros) da época, teria direito ao auxílio-natalidade. A partir daí introduziu-se, dentro de um sistema universal, princípios de seletividade. Houve também um achatamento do valor concedido, passando de um salário mínimo para a cota única (mesmo que o pai e a mãe do recém-nascido fossem assegurados) de 5 mil cruzeiros, o que equivalia a 29,41% do salário mínimo da época. Ou seja, o valor desse benefício passou a ser menor que a metade do salário mínimo existente. Em relação ao auxílio-funeral não foi diferente; prevalecia, do mesmo modo, a referência de até três salários mínimos, e a redução do valor do benefício, que passou de dois salários para apenas um salário mínimo vigente. Havia, nessa época, o entendimento de que se tratava de benefícios em transição, que iriam passar para esfera da política de assistência social assim que possível. Tanto que, na Lei n. 8.213/1991 esses auxílios se encontravam nas disposições finais e transitórias, e não no artigo 18, junto às demais prestações disponíveis aos segurados e dependentes. Ou seja, a provisão desses auxílios passou a sofrer restrição à medida que foi se tornando claro que eles transitariam do âmbito da Previdência para o da Assistência. Já durante o processo de regulamentação dos arts. 203 e 204 da Constituição Federal (que tratam da Assistência Social), a Previdência foi antecipando cortes na provisão desses auxílios e focalizando sua oferta. (Pereira, 2002b, p. 120) Os auxílios-natalidade e funeral mantiveram-se desse modo (seletivos dentre os segurados previdenciários) até deixar de ser 2 8 operacionalizados, de fato, pela Previdência Social, o que ocorreu ainda na década de 1990, quando a recém-reconhecida política pública de assistência social passa a referenciá-los no corpo de sua legislação. OS BENEFÍCIOS EVENTUAIS E A LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Com a promulgação da Loas, em 1993, os auxílios-natalidade, funeral e Renda Mensal Vitalícia (RMV) passaram a compor o rol de benefícios sócio-assistenciais, sob a denominação de benefícios eventuais e benefícios continuados. Não se trata apenas de uma mudança de nomenclatura, mas sim e também da desconstrução e redução que essas provisões sofreram ao migrar para a assistência social. Todavia, vale destacar que os benefícios eventuais foram ao mesmo tempo integrados na condição de benefícios destinados a outras eventualidades, o que ampliou suas possibilidades de atenção. Face à Loas, a Previdência Social (sem justificativas ou argumentos) deixou, simplesmente, de conceder o auxílio-natalidade e auxílio-funeral para o qual o trabalhador formal contribuiu e que vinha sendo reduzido desde 1991 pelo corte salarial. Do mesmo modo, até hoje eles não foram devidamente fixados no campo da assistência social, isto é, foram transferidos e tornaram-se por vezes esquecidos no conjunto dos municípios brasileiros. Sua trajetória mostra que são benefícios construídos historicamente e legalmente constituídos em legislações, destinados a priori à categoria formal de trabalho e ampliados a posteriori pela Lei Orgânica da Assistência Social aos usuários e/ou público-alvo dessa política pública. Os benefícios eventuais se apresentam no artigo 22 da Loas, fazendo referência aos auxílios por natalidade e morte, como se observa: Art. 22 Entende-se por benefícios eventuais aqueles que visam ao pagamento de auxílio por natalidade ou morte às famílias cuja renda mensal per capita seja inferior ¼ (um quarto) do salário mínimo. § 1º A concessão e o valor dos benefícios de que trata este artigo serão regulamentados pelos Conselhos de Assistência Social dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante critérios e prazos definidos pelo Conselho Nacional de Assistência Social — CNAS. § 2º Poderão ser estabelecidos outros benefícios eventuais para atender necessidades advindas de situações de vulnerabil idade temporária, com prioridade para criança, a família, o idoso, a pessoa portadora de deficiência, a gestante, a nutriz e nos casos de calamidade pública. § 3º O Conselho Nacional de Assistência Social — CNAS, ouvidas as respectivas representações de Estados e Municípios dele participantes, poderá propor, na medida das disponibil idades orçamentárias das três esferas de governo, a instituição de 25% (vinte e cinco por cento) do salário mínimo para cada criança de até 6 (seis) anos de idade, nos termos da renda mensal familiar estabelecida no caput. (Brasil, 1993). 2 9 De acordo com Pereira (2010), a Lei Orgânica, em seu artigo 22, prevê três tipos de benefícios eventuais: os compulsórios, sendo estes os auxílios-natalidade e funeral destinados às famílias com renda per capita de até um quarto do salário mínimo; os benefícios de caráter facultativo, instituídos conforme as necessidades oriundas das situações de vulnerabilidade social e calamidade pública; e os chamados benefícios subsidiários, descritos no § 3º do art. 22, como provisão às crianças de até seis anos de idade. Destes, Pereira (2010) aponta que somente os benefícios subsidiários não deveriam compor o campo de atenção por parte dos benefícios eventuais. Na realidade, enquadravam-se (e enquadram-se) muito mais na atenção continuada, conforme previa o primeiro Projeto de Lei5 que norteou a elaboração da Loas, o qual entendia a criança em processo contínuo de desenvolvimento. A concessão desses auxílios pela assistência social se deu, a partir de então, pelo corte de renda ―até 1/4 do salário mínimo‖, o que, de início, reconhece-se como uma perda para a sociedade na garantia e acesso aos seus direitos, pois no aparato previdenciário esses benefícios se destinavam ao conjunto de segurados, tendo sido, num segundo momento, destinados a um grupo específico de beneficiários. Essa focalização precisamente posta na Loas limitou o acesso e dificultou a regulamentação dos benefícios, conforme acrescenta Pereira (2010, p. 18), pois, Induziu, automaticamente, a focalização desses benefícios na pobreza extrema — ao contrário do que acontecia quando integravam a Previdência — ratificando, assim, a ideia equivocada de que a assistência social tem estreita relação com a indigência. Por isso, não é de estranhar o progressivo rebaixamento do valor dos benefícios por natalidade e morte e de sua focalização na pobreza extrema, tão logo foi anunciado que eles sairiam da esfera da Previdência para integrar a da Assistência Social. E mais: que deixariam de ser contributivos para ser distributivos. De fato a Loas amplia esses auxílios, não os tratando somente como auxílio-natalidade e como auxílio-funeral, o que ocorria quando estes se encontravam sob responsabilidade da política previdenciária. É garantido em lei que outros benefícios eventuais possam ser estabelecidos se advindos de situações de vulnerabilidade ou em casos de calamidade pública. Ao que parece, há certa dificuldade na conceituação — do que seja, a que e a quem atenda — desses novos contextos reconhecidos. A Loas reconhece dois benefícios (ambos oriundos da política previdenciária e categorizados em eventuais e continuados): os eventuais (artigo 22) e o Benefício de Prestação Continuada — BPC, (artigo 20), de modo que este último refere-se ao reconhecimento constitucional do artigo 203 em seu quinto item da Carta Magna, que prevê: ―[...] a garantia de um 3 0 salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência eao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei‖ (Brasil, 1988). O BPC foi regulamentado pelo Decreto n. 1744, de 8 de dezembro de 1995, tendo entrado em vigor em 1/1/1996, momento em que a RMV deixou de ser operacionalizada, isto é, a assistência social passa, a partir dessa data, a responder pela concessão desse benefício e a Previdência Social deixa de provê-los. Os auxílios-natalidade e funeral também foram suspensos, mas não foram devidamente regulamentados como a RMV. O artigo 39 do referido Decreto co- loca que: ―A partir de 1º de janeiro de 1996, ficam extintos o auxílio-natalidade, o auxílio-funeral e a renda mensal vitalícia‖. Na realidade, os três benefícios foram transferidos da Previdência Social para a assistência social, mas somente a Renda Mensal Vitalícia foi devidamente regulamentada. Os benefícios eventuais e o Benefício de Prestação Continuada compõem, assim, o escopo de provisão à atenção básica, afiançados na Loas em benefícios socioassistenciais. No entanto, são distintos, pois ―apresentam substanciais diferenças normativas, institucionais, de financiamento e de competência esta- tal‖ (Pereira, 2010, p. 12). Além disto, ―a provisão isolada do BPC, como vem ocorrendo, sem a coadjuvância dos benefícios eventuais e sem a relação otimizadora com os serviços, programas e projetos de assistência, torna-se frágil e insuficiente como medida de atenção à pobreza‖ (Pereira, 2002b, p. 1114). A Constituição Federal de 1988, após 24 anos de regime militar, foi promulgada como o documento à liberdade, à democracia e à justiça social, conforme declarou Ulysses Guimarães, relator desse documento. Por isso, pautou-se em princípios como a descentralização político-administrativa e participação da sociedade brasileira, dividindo responsabilidade e reconhecendo as competências dos entes federados: município, estado, União e Distrito Federal. Assim, a partir da CF/88, foi reconhecida a autonomia de cada esfera pública no cumprimento dos preceitos legais, após um período de 24 anos de centrali- zação na esfera federal. É possível, conforme defende Pereira (2010), que seja em virtude dessa descentralização que os benefícios eventuais ficaram a cargo dos municípios, dos estados e do Distrito Federal, enquanto o BPC, antiga RMV, ficou sob incumbência da União, pois entende-se tratar de provisão que, pelo caráter eventual e dada sua urgência e emergência de atenção, estariam mais próximos do cotidiano dos cidadãos brasileiros e justamente por isso deveriam estar regulados, pois ―não se trata mais de praticar a caridade diante dos infortúnios ou calamidades sofridos [...], mas de prever e programar respostas políticas consistentes para fazer frente, como dever de cidadania, a esses aconteci- mentos‖ (Pereira, 2010, p. 14). 3 1 O mesmo deveria ter ocorrido com os benefícios eventuais também presentes no corpo da Loas, posterior regulamentação em território nacional e continuidade de atenção no acesso a esses benefícios, de modo a não prejudicar ou cessar a atenção, principalmente durante a transição de uma política para outra, conforme prevê o inciso 1º do artigo 40 da Loas: ―A transferência dos beneficiários do sistema previdenciário para a assistência social deve ser estabelecida de forma que o atendimento à população não sofra solução de continuidade‖ (Brasil, 1993). Face a isso, Pereira (2010, p. 18) acrescenta que: Contra todas as prescrições éticas e preceituações legais relacionadas à matéria, a distribuição desses benefícios foi sustada sem nenhuma explicação, comoção social ou aplicação de penalidades. Simplesmente, a política de Previdência deixou de provê-los, em 1996, tão logo o BPC foi regulamentado, e a política de Assistência — cuja atenção majoritária centrou-se neste Benefício — postergou-se de forma injustificada a sua regulamentação para a devida operacionalização. Enquanto isso, vários cidadãos antes contemplados com os auxílios-natalidade e funeral da Previdência Social foram excluídos do seu acesso; e, outros tantos, que deveriam ser contemplados com esses e outros auxílios eventuais, no contexto da Assistência Social, estão sendo, por mais de uma década, lesados em seus direitos e desasistidos em suas legítimas necessidades. Ou seja, não deveria ter havido cortes na atenção durante o translado de uma política para outra, o que na realidade ocorreu, nem os cidadãos no campo previdenciário poderiam ter sido penalizados como foram. Fato é que tais benefícios deixaram simplesmente de ser ofertados junto ao sistema previdenciário e se soma a isso que, ao irem para a assistência social, não foram qualificados, formatados e implementados, mas sim esquecidos e tratados à margem da Loas. Quando muito são operacionalizados ao acaso, sem nenhum tipo de regulação que os implementasse de fato. OS BENEFÍCIOS EVENTUAIS POSTERIORES À LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL A política de assistência social avançou ao reconhecer benefícios enquanto direitos socioassistenciais. Auxílios e benefícios eram concessões presentes, porém não legitimadas. Desde 1993, quando o auxílio-natalidade e o auxílio-funeral foram trazidos para o âmbito da assistência social, sua provisão junto aos municípios tem se mostrado desregulada. Embora não estejam explicitamente definidos na Loas, os Benefícios Eventuais constituem, na história da política social moderna, a distribuição pública de pro- visões materiais ou financeiras a grupos específicos que não podem, com recursos 3 2 próprios, satisfazerem suas necessidades básicas. Trata-se de um instrumento protetor diferenciado sob a responsabilidade do Estado que, nos termos da Loas, não tem um fim em si mesmo, posto que inscreve em um espectro mais amplo e duradouro de proteção social, do qual constitui a providência mais urgente. (Pereira, 2010, p. 11). Algumas iniciativas estatais já se fizeram presente no intuito de regulamentá-los, mas a situação ainda não se concretizou plenamente no conjunto dos municípios brasileiros. Por mais de uma década esses benefícios ficaram meio esquecidos, o que contribuiu para que ainda hoje a situação irregular permaneça. Embora antecipado por algumas iniciativas de regulamentação desses benefícios, foi, na verdade, a partir de 2006 que se deu maior visibilidade a esse assunto, promovendo alguns avanços rumo à regulamentação desse direito: em atenção ao que a Loas preconizava no artigo 22, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) editou a Resolução n. 212, em 19 de outubro daquele ano e, no ano seguinte, o governo federal instituiu o Decreto n. 6.307, em 14 de dezembro de 2007. Dois documentos importantes e fundamentais que merecem, aqui, ser analisados e que provavelmente serviram de base para a pro- moção de algumas regulações ocorridas no país a partir de então. 3 3 Os documentos emitidos em âmbito federal — a Resolução n. 212/06 do CNAS e o Decreto Federal n. 6.307/07 — foram norteadores e 3 4 auxiliam os municípios a regulamentar sua situação na execução e concessão de auxílios e benefícios, em geral operacionalizada ao acaso por meio dos plantões sociais. Ao que parece, o governo federal foi até onde a legislação permitia, uma vez que, por se tratar de benefícios oriundos das esferas municipais, estaduais e do Distrito Federal, a União não poderia regulamentá-los, apenas orientá-los. Isto é colocado na própria Loas quando o artigo 22 diz ser responsabilidade municipal, estadual e distrital sua gestão e execução. Ao editar a Resolução n. 212, o CNAS reconheceu uma de suas compe- tências (colocadas no artigo 18 da Loas) e considerou o benefício eventual como direito garantido em lei e de longo alcance social. A importância e impacto desses documentos
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