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ou da semana pode ser posteriormente compensado por trabalho extra ou trabalho noturno, método que embrutece os trabalhadores adultos e arruína seus companheiros imaturos e do sexo feminino.268 Embora essa irregularidade no dispêndio da força de trabalho seja uma reação primitiva e natural contra o enfado de uma labuta monótona e maçante, ela se origina, no entanto, em grau incomparavelmente mais elevado, da anarquia da própria produção, que, por sua vez, pressupõe nova- mente exploração desenfreada da força de trabalho pelo capital. Além das variações periódicas gerais do ciclo industrial e das oscilações es- pecíficas de mercado, em cada ramo de produção, surge ainda a assim chamada temporada, com base quer na periodicidade das estações do ano mais favoráveis à navegação, quer na moda e na premência de grandes encomendas a serem atendidas no menor prazo. Esse costume se expande com as ferrovias e a telegrafia. “A expansão do sistema ferroviário”, diz, por exemplo, um fa- bricante londrino, “através de todo o país desenvolveu muito o hábito de encomenda urgente. Agora chegam compradores de Glasgow, Manchester e Edinburgh, uma vez a cada 14 dias ou, então, para compras no atacado nos estabelecimentos da City, aos quais fornecemos as mercadorias. Eles fazem encomendas que precisam ser atendidas imediatamente, ao invés de compra- rem do estoque como era costume. Em anos anteriores, estávamos sempre em condições de adiantar o serviço durante a estação baixa para a demanda da temporada seguinte, mas agora nin- guém pode prever qual será então a demanda.”269 Nas fábricas e manufaturas ainda não sujeitas à lei fabril, reina periodicamente o mais terrível excesso de trabalho durante a assim chamada temporada, em fluxos imprevisíveis devido a encomendas sú- bitas. No departamento externo da fábrica, da manufatura ou da casa comercial, na esfera do trabalho domiciliar, já por si totalmente irre- gular, completamente dependente dos caprichos do capitalista para a obtenção de matéria-prima e de encomendas, o qual aqui não está sujeito a nenhuma preocupação com a valorização de prédios, máquinas MARX 107 268 Nos altos-fornos, por exemplo, “o trabalho na parte final da semana em geral é muito prolongado em decorrência do hábito dos homens de folgarem às segundas-feiras e, ocasio- nalmente, em parte ou totalmente, na terça-feira”. (Child. Empl. Comm., III Report, p. VI.) “Os pequenos mestres geralmente têm horários de trabalho muito irregulares. Perdem 2 ou 3 dias e, então, trabalham a noite toda para compensar. (...) Eles sempre ocupam seus próprios filhos, caso os tenham.” (Loc. cit., p. VII.) “A falta de regularidade no começar o trabalho é encorajada pela possibilidade e pela prática de compensar o prejuízo mediante trabalho extra.” (Loc. cit., p. XVIII.) “Em Birmingham (...) perde-se um tempo enorme (...) folgando parte do tempo, se esfalfando durante o resto.” (Loc. cit., p. XI.) 269 Child. Empl. Comm., IV Rep., p. XXXII. “A expansão do sistema ferroviário contribuiu grandemente para esse costume de dar ordens súbitas; para os trabalhadores decorrem daí ritmo forçado, negligência quanto ao horário das refeições e horas extras.” (Loc. cit., p. XXXI.)
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