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membros de seus “braços”. Aqui de novo se demonstra brilhantemente o dogma do livre-cambismo de que, numa sociedade com interesses antagônicos, cada qual promove o bem comum mediante a busca de sua vantagem particular. Basta um exemplo. Sabe-se que, durante o último período de 20 anos, a indústria do linho e, com ela, as scutching mills (fábricas para bater e quebrar o linho) aumentaram muito na Irlanda. Em 1864, havia aí cerca de 1 800 dessas mills. Periodicamente, no outono e no inverno, pessoas jovens e mulheres principalmente, filhos, filhas e mulheres dos pequenos arrendatários das vizinhanças, pessoas que nada conhecem de maquinaria, são retiradas do trabalho do campo para alimentarem com linho os laminadores das scutching mills. Em dimensão e intensidade, os acidentes são totalmente sem similares na história da maquinaria. Uma única scutching mill em Kildinan (perto de Cork) registrou, de 1852 a 1856, 6 casos fatais e 60 mutilações graves, todos podendo ter sido evitados mediante dis- positivos dos mais simples, ao preço de poucos xelins. O Dr. W. White, o certifying surgeon das fábricas de Downpatrick, declara num relatório oficial de 16 de dezembro de 1865: “Os acidentes nas scutching mills são da espécie mais terrível. Em muitos casos, um quarto do corpo é arrancado do tronco. A morte ou um futuro de mísera incapacitação e sofrimentos são as conseqüências usuais dos ferimentos. A multiplicação das fá- bricas neste país naturalmente há de difundir esses resultados assustadores. Estou convicto de que, por meio de adequada fis- calização estatal das scutching mills, grandes sacrifícios de vidas e corpos podem ser evitados”.279 O que melhor poderia caracterizar o modo de produção capitalista do que a necessidade de que lhe sejam impostas, por meio de coação legal do Estado, as mais simples providências de higiene e saúde? “A Lei Fabril de 1864 caiou e limpou mais de 200 oficinas de cerâmica, depois de uma abstinência de 20 anos, ou total, de qualquer operação dessa espécie” (essa é a “abstinência” do ca- pital!) “em locais onde estão ocupados 27 878 trabalhadores e onde até agora, durante trabalho excessivo diurno e muitas vezes noturno, respiravam uma atmosfera mefítica que impregna uma atividade, fora isso, comparativamente inofensiva de doença e morte. A lei multiplicou muito os meios de ventilação.”280 Ao mesmo tempo, esse ramo da lei fabril mostra contundente- mente como o modo de produção capitalista a partir de certo ponto exclui, de acordo com sua essência, toda melhoria racional. Reiteradas OS ECONOMISTAS 110 279 Loc. cit., p. XV, nº 72 et seqs. 280 Reports of Insp. of Fact., 31st Oct. 1865. p. 127.
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