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FACULDADE DE DIREITO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO ATIVIDADE DE DIREITO CIVIL II INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES TURMA: 2 CD Paloma Estefani Avalos R A: 23754 Jean Carlos de Oliveira Farias R A: 23065 Do inadimplemento das obrigações RESUMO Trata-se de breve estudo destinado à investigação do tratamento dado pelo Direito Civil brasileiro ao sistema do inadimplemento das relações obrigacionais. Analisa-se, especificamente, quando o corre o inadimplemento de uma obrigação, apontando-se as suas consequências tanto quando se este se dá por parte do credor como quando ocorre por culpa do devedor. Em toda relação jurídica obrigacional, o devedor ao se obrigar, retira parcela de sua liberdade em favor de um credor. Nessas relações jurídicas que têm por objeto uma prestação do devedor ao credor, a regra é o seu adimplemento, ou seja, a satisfação do crédito pelo devedor. Entretanto, por diversos motivos pode ocorrer o não cumprimento da prestação acertada nessa relação jurídica pessoal. Tal fato pode se dar quando o devedor se recusa a satisfazer o seu débito, quando o faz com atraso ou quando cumpre a obrigação de forma diversa da prevista em um contrato. O inadimplemento das obrigações é um gênero do qual fazem parte o inadimplemento absoluto e a mora. O Código Civil de 2002 tratou deste assunto nos artigos 389 a 420. A topografia do assunto no código nos dá uma dimensão exata do sistema do inadimplemento das obrigações no Direito Civil brasileiro. Primeiro o legislador cuidou do inadimplemento absoluto das obrigações, em seguida tratou da mora e logo adiante abordou as consequências do inadimplemento (legais, judiciais e convencionais). CÓDIGO CIVIL LEI 10.406 de 10 de janeiro de 2002 TÍTULO IV Do inadimplemento das Obrigações CAPÍTULO I Disposições Gerais Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índice oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. CONCEITO: O inadimplemento da obrigação é a falta de prestação resultante de um ato de responsabilidade do devedor. O inadimplemento pode ser absoluto, quando, prestação tiver faltado completamente e não houver mais a possibilidade de ser executada, ou relativo, nos casos em que, embora o devedor não tenha cumprido oportunamente, a prestação, está ainda pode ser realizada (mora). Em ambos os casos, o devedor responderá pelas perdas e danos, acarretadas ao credor pelo descumprimento. No inadimplemento, da obrigação não se extingue. Há apenas sua transformação, com a alteração da prestação (mutação objetiva), impondo ao devedor o dever de ressarci os prejuízos gerados a contraparte. Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. CONCEITO: Nas obrigações negativas, pode haver determinação judicial tanto para o desfazimento do ato, quanto permitir ao credor que o desfaça ás expensas do devedor, com a cominação, em ambas as hipóteses, de multa para que o descumprimento não se repita. Não sendo possível o desfazimento, há a conversão em perdas e danos. Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. CONCEITO: Os bens do devedor são a garantia do crédito do credor, o que lhe permite promover sua expropriação judicial (penhora) e ulterior utilização para satisfação do seu direito, no caso de descumprimento da obrigação. Por se tratar de garantia do credor, eventual alienação irregular promovida pelo devedor será inquinada de defeito (fraude contra credores) e retornará à condição de garantia. O credor pode ainda destacar bens específicos de seu patrimônio, dando lhes em garantia de cumprimento de obrigações de sua titularidade ou de terceiros. Seriam os casos de penhor, hipoteca, anticrese, alienação fiduciária. “PROCESSO CIVIL. PENHORA. DEPÓSITO BANCÁRIO DECORRENTE DE PENSÃO. IMPOSSIBILIDADE. Os depósitos bancários provenientes exclusivamente da pensão paga pelo INSS e da respectiva complementação pela entidade de previdência privada são a própria pensão, por isso mesmo que absolutamente impenhoráveis quando destinados ao sustento do devedor ou da sua família. Recurso conhecido e provido” (STJ, 4ª T., Resp n.º563760 -SP, Rel Des. César Asfor Rocha, j. 7.10.20030) Art. 392. Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei. CONCEITO: O dispositivo em questão distingue o comportamento doloso e culposo, ao impor o dever de indenizar apenas ao devedor que, dolosamente, descumpra contrato benéfico de que não seja favorecido (exemplificativamente, contrato de doação pura). Doc. LEGJUR 103.3262.5009.69001 - Súmula 145/ST J - Responsabilidade civil. Transporte gratuito. Dolo ou culpa grave. Necessidade. CCB/1916, art. 1.057. “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave. ” Parte da doutrina rechaça o entendimento, compreendendo que se aplica a esse caso a regra do artigo 927 do código civil. Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maio r, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. PARAGRÁFO ÚNICO. O caso fortuito ou de força maior verifica -se no fato necessário, cujo efeitos não era possível evitar ou impedir. CONCEITO: A lei não distingue o caso fortuito (casus) da força maior (vis- maior) em razão do extenso debate doutrinário existente em torno da diferença entre ambos. Tradicionalmente, diz–se que o caso fortuito é “acontecimento natural, ou evento derivado da força da natureza, ou o fato das coisas como o raio do céu, a inundação, o terremoto” e a foça maior consiste em “fato de outrem, como a invasão do território, a guerra, a revolução, o ato emanado da autoridade (factum principis), a desaprovação, o furto, etc”. Em termos gerais, para que se verifique a inimputabilidade do devedor, a falta e prestação deve ocorrer de obstáculo intransponível ao cumprimento da obrigação, estranho ao poder do devedor e oriundo de acontecimento natural ou fato de terceiro. Assim, o caso fortuito ou de força maior representam excludentes de responsabilidade, vez que rompem com o nexo de causalidade. CAPÍTULO II Da Mora Art. 394. Considerando-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer. Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecido, e honorários de advogados. PARAGRÁFO ÚNICO. Se a prestação, devido á mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-lae exigir a satisfação das perdas e danos. Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora. Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e liquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. (Vide Lei n 13.105, de 2015) (Vigência) PARAGRÁFO ÚNICO. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial. Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou. (Vide Lei n 13.105, de 2015) ( Vigência) Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenh ada. Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação d a coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. Art. 401. Purga-se a mora: I - por parte do devedor, oferecendo este a prest ação, mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta; II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data. CONCEITO: destaca-se o elemento objetivo da mora que é o cumprimento, imperfeito da obrigação, ou seja, a obrigação não foi corretamente cumprida. Além desse elemento objetivo, para o devedor entrar em mora se faz necessário a presença de um elemento subjetivo que é a culpa. Assim, o devedor só entra em mora se ficar provado que ele foi culpado pelo atraso no adimplemento da obrigação. Essa é a inteligência do art. 396 do Código Civil, ao dispor que “não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora” ESPÉCIES: Mora do devedor (Solvendi ou debitoris); Mora do credor (accipiendi ou creditoris); Mora de ambos os contratantes CAPÍTULO III Das Perdas e Danos Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos, devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuí zo da pena convencional. Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar. Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial. CONCEITO: A Responsabilidade por Perdas e Danos Se essa violação culposa de um dever causa um dano, terá havido a prática de um ato ilícito (no caso da violação de um dever contratual, o ilícito será contratual). A prática do ato ilícito gera o dever de reparação (responsabilidade civil). Em resumo, quem infringe um dever ( legal ou contratual), causando danos a outrem, fica obrigado a reparar esse dano. Daqui se extrai que a simples violação culposa de um dever não pode gerar o dever de reparação. Deve ser correlacionada a um dano. A questão é saber se esse dano já se presume com o inadimplemento ou não: 1) Uns entendem que o próprio descumprimento do dever de prestar (o inadimplemento da obrigação) já caracterizaria o dano, ensejando a reparação; 2) Outros entendem que o dano não pode ser presumido. Há que ser provada a existência de danos emergentes (depreciação do ativo ou aumento do passivo) e lucros cessantes (frustração da expectativa de ganho), assim como se dá na responsabilidade extracontratual. É a corrente adotada entre nós. Além disso, há que estar presente o nexo de causalidade. A presença desses três elementos (culpa, dano e nexo causal) configura, em regra, a responsabilidade contratual. Mas essa regra comporta três importantes exceções. ABRAGÊNCIA: As perdas e danos devido ao credor abragem, além do que ele efetivamente perdeu (denominado de danos emergentes), o que razoavelmente deixou de lucrar (lucros cessantes). Salvo as exceções expressamente previstas em lei (art. 402 CC). CAPÍTULO IV Dos Juros Legais Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial arbitramento, ou acordo entre as partes. CONCEITO: São rendimentos do capital, considerados frutos covis da coisa. Representam o pagamento pela utilização de capital alheio e integram a classe das coisas acessórias (art. 96 CC). ESPÉCIES: Compensatórios, também chamados de remuneratórios ou juros- frutos, são os devidos como compensação pela utilização de capital pertencente a outrem. Resultam da utilização consentida de capital alheio. Moratórios, são os incidentes em caso de retardamento em sua restituição ou de descumprimento de obrigação. Podem ser convencionais (art. 406 CC) ou legais (art. 407 CC). Simples, são sempre calculados sobre inicial. Composto, são capitalizados anualmente, calculando-se os juros sobre juros. CAPÍTULO V Da Cláusula Penal Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora. Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora. Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor. Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio d e exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal. Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. Art. 414. Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; mas est a só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota. Parágrafo único. Aos não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena. Art. 415. Quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua partena obrigação. Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo. Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente. CONCEITO: É obrigação acessória pela qual se estipula pena ou multa destinada a evitar o inadimplemento da principal ou o retardamento de seu cumprimento. É também denominada pena convencional ou multa contratual. (Art. 400 CC). ESPÉCIES: Compensatória: Quando estipulada para hipótese de total inadimplemento da obrigação (art. 410 CC). Moratória: quando destinada a assegurar o cumprimento de outra cláusula determinada ou a evitar o retardamento, a mora (art. 411 CC). CAPÍTULO VI Das Arras ou Sinal Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der á outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal. Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado. Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização. Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar. CONCEITO: Sinal ou arras é á quantia ou coisa entregue por um dos contraentes ao outro como confirmação do acordo de vontades e princípios de pagamentos. As arras têm a natureza acessória, pois dependem do processo principal, e caráter real, pois se aperfeiçoam com a entrega do dinheiro ou de coisa fungível por um dos contratantes ao outro. ESPÉCIES: Confirmatórias, a principal função das arras é confirmar o contrato, que, se torna obrigatório após sua entrega (art. 420 CC). Penitenciais, são assim denominadas quando as partes convencionam o direito de arrependimento (art. 420). BIBLIOGRAFIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil esquematizado. V.1 São Paulo: Saraiva, 2011, p. 678. Bdine Jr.,Hamid Charaf. Comentário do artigo 391 do Código Civil. In Peluso, Cezar (coord). Código Civil Comentado, Barueri: Manole, 2015. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 2º volume. São Paulo: Saraiva, 2003. Victor Nunes Carvalho, Do inadimplemento das obrigações. Pesquisa Interrnet site: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/8821- 8820-1-PB.htm 15/04/2019.
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