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1 DOENÇAS INFECCIOSAS NA GESTAÇÃO SIFILIS DEFINIÇÃO: Doença infecciosa sistêmica sexualmente transmissível que possui evolução crônica com períodos de ativação, ocasionada pela bactéria gram negativo do grupo espiroqueta Treponema pallidum. Que durante a gestação está associada ao trabalho de parto prematuro, natimorto ou infecção congênita, sendo por isso uma doença pesquisada desde o primeiro atendimento pré-natal. EPIDEMIOLOGIA: Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 61 mil gestantes foram acometidas com sífilis em 2019, sendo que destas 24 mil resultaram em casos de sífilis congênita. Na última década, houve um aumento significativo da incidência de sífilis congênita em crianças, que reflete um aumento do número de casos de sífilis primária e secundária nas mulheres. CLASSIFICAÇÃO E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A sífilis pode ser classificada em congênita, quando proveniente da transmissão vertical (mãe-feto), e adquirida, que é proveniente a exposição à bactéria, sendo que a classificação de adquirida é subdividida. TUTORIAL 08 2 Sífilis Adquirida: Cerca de 30% das pessoas expostas ao treponema tornam-se infectadas, desenvolvendo três estágios distintos: 1. Sífilis Adquirida Primária: Ocorre entre 10 a 60 dias após a exposição, onde no local da infecção surge uma pápula indolor sensível ao toque que evolui para uma lesão ulcerada, denominada cancro, que desaparece após quatro a seis semanas. É no cancro que ocorre a replicação inicial da bactéria, sendo geralmente localizado no pênis, grandes ou pequenos lábios, região perianal ou ao redor da boca. 2. Sífilis Adquirida Secundária: Ocorre 2 a 8 semanas após o aparecimento do cancro, sendo caracterizado pelo aparecimento do rash cutâneo, que são lesões maculares de 3 a 10 mm de diâmetro disseminadas por todo o corpo, em especial palma das mãos e planta dos pés. Durante esse estágio da rápida multiplicação e disseminação, é comum alguns sintomas como febre, mal-estar, faringite, anorexia, artralgia e linfadenopatia generalizada, dor articular, perda de peso e cabelo. Na ausência de tratamento, esses sintomas da sífilis desaparecem após um a três meses, quando a doença entra em estágio de infecção latente, no qual não há sintomas específicos, mas os testes sorológicos permanecem positivos. 3. Sífilis Adquirida Terciária: Ocorre em 30 a 50% dos pacientes com sífilis latente, sendo comumente desenvolvida entre 2 a 40 anos após a infecção inicial, sendo caracterizada pelo comprometimento do aparelho cardiovascular e do SNC, que caso não tratada, ocasiona a destruição de tecidos moles e/ou ossos, levando a morte. DIAGNÓSTICO: Raramente é diagnosticada por isolamento do organismo causador da doença, já que o treponema não pode ser cultivado in vitro. Sendo assim, comumente o diagnóstico é realizado através de testes sorológicos, que são divididos em dois tipos Testes Não Específicos (Não Treponêmicos): Avaliam anticorpos IgM e IgG desenvolvidos contra lipídeos de células lesadas durante o estágio inicial da doença, sendo o antígeno utilizado a cardiolipina. Geralmente o VDRL (veneral disease research laboratory) é o teste não treponêmico mais utilizado, sendo quantitativo, com alta sensibilidade, utilizado tanto para rastreamento quanto para monitorização da doença após tratamento. Por ser um teste não específico pode ocorrer falso-positivos, sendo necessário a realização de um teste específico para confirmação diagnóstica. Principais causas de falso-positivos: gestação, outras infecções por espiroquetas (leptospirose), infecções virais (mononucleose), vacinação, infecções crônicas (hanseníase, tuberculose, malária), doenças autoimunes, uso de drogas injetáveis. 3 Testes Específicos (Treponêmicos): São testes que empregam anticorpos específicos, sendo utilizados para confirmação das reações positivas do VDRL. Esses testes treponêmicos podem se tornar positivos antes dos não treponêmicos na sífilis precoce. O teste mais utilizado é o FTA-ABs (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption), porém pode ser utilizado a micro-hemaglutinação e o teste rápido para sífilis também. O FTA-ABs é o teste confirmatório, sendo positivado antes do VDRL, porém não é utilizado em larga escala pois não reflete doença em atividade, servindo apenas em conjunto com o VDRL. SÍFILIS E A GESTAÇÃO A pesquisa de sífilis é obrigatória desde a primeira consulta pré-natal através do VDRL, sendo realizado uma repetição do exame entre 32 e 36 semanas de gestação em casos de gestantes com risco. Em casos de associação de sífilis e gestação, a transmissão vertical ocorre por via transplacentária em qualquer momento da gestação, ocorrendo geralmente após 16 semanas de gestação, quando se verifica a atrofia das células de langerhans no trofoblasto. O risco de transmissão está relacionado diretamente com o estágio da doença, de forma que quanto mais elevado for o número de treponemas circulantes, mais alto é o risco de infecção fetal, sendo extremamente alta nos primeiros 4 anos após a aquisição da infecção pela mãe. Na sífilis primária e secundária, geralmente ocorre uma contaminação fetal em mais de 90% dos casos, enquanto que na fase latente e tardia a taxa de transmissão vertical é de 80 a 30%. MANIFESTAÇÃO FETAL: Fetos infectados geralmente apresentam, inicialmente, uma disfunção hepática e alterações placentárias, que ficam comprometidas pelo processo infeccioso com aumento do volume, edema e coloração mais pálida. A medida que a doença evolui, desenvolvem-se alterações hematológicas e contaminação do líquido amniótico pelas espiroquetas, que progride para um desenvolvimento de ascite (barriga d’água) e formação de anticorpos IgM fetal em resposta à sífilis fetal. A evolução da infecção fetal não tratada varia, podendo se desenvolver uma sífilis congênita precoce ou uma sífilis congênita tardia, além de ocorrer morte intrauterina em cerca de 25% dos casos e morte perinatal em outros 25% das infecções não tratadas. Sífilis Congênita Precoce: Manifestada até o segundo ano de vida, através de um comprometimento cutâneo mucoso com presença de "pênfigos" palmoplantares, além de ocorrer também coriza hemorrágica rica em treponemas. Além disso, a hepato e a esplenomegalia evidenciam o comprometimento sistemático desse processo infeccioso, junto de uma linfadenopatia e hiperbilirrubinemia. 4 Sífilis Congênita Tardia: Manifestada a partir do terceiro ano de vida, ocorrendo alterações ósseas e articulares, surdez, alterações dentárias, lesões oculares, perfuração do palato duro e nariz em sela, podendo ocorrer também comprometimento neurológico como tabes dorsalis, meningite, paralisia geral e nefrite subaguda. TRATAMENTO: É importante que qualquer titulação de VDRL, durante a gestação, seja considerada como infecção, a menos que haja uma história adequada de tratamento. Sendo assim, se o VDRL for alterado, deve-se iniciar um tratamento imediato. A droga de escolha para o tratamento é a Penicilina Benzatina, que é a única droga capaz de prevenir a transmissão vertical, uma vez que o treponema é um parasito extremamente sensível a penicilina, sem formas resistentes até o momento. ATENÇÃO: Gestantes que são alérgicas à penicilina devem ser submetidas a dessensibilização, que é realizada com administração de penicilina V oral em diluições gradativamente menores e em volumes inversamente maiores. Sendo que esse processo deve ser realizado em ambiente hospitalar com atendimento de urgência e observação por 30 minutos após cada dosagem. Após o tratamento, quase 45% das gestantes tratadas desenvolve a reação de Jarisch-Herxheimer 12 horas após a administração do medicamento, que é caracterizada por lesões cutâneas, febre, mal-estar, mialgia e cefaleia, ocasionada pela hipersensibilidadeà destruição dos treponemas e a liberação de substâncias tóxicas pelos mesmo, ocorrendo involução espontânea em 12 a 48 horas após o início dos sintomas. Obs: Os parceiros devem receber tratamento concomitante à gestante. O tratamento é considerado inadequado quando: o Realizado com qualquer medicamento que não a penicilina; o Incompleto, mesmo com uso de penicilina; o Dose não adequada para f ase clínica da doença; o Realizado menos de 30 dias antes do parto; o Elevação dos títulos do VDRL após tratamento; o Parceiros não tratados ou tratados inadequadamente; o Ausência de documentação ou queda dos títulos. Acompanhamento Após o Tratamento: Deve ser realizado um novo VDRL a cada 3 meses durante 1 ano, que deve evidenciar a queda progressiva, permanecendo negativos ou inferiores a ⅛. TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO DEFINIÇÃO: Trata-se de uma doença ocasionada pelo protozoário Toxoplasma gondii, que infecta humanos na forma de oocistos (presentes na superfície de verduras e fezes de gatos) ou de cistos (presente em músculos e vísceras de animais). 5 EPIDEMIOLOGIA: Trata-se de uma doença de distribuição mundial, com prevalência variando de acordo com fatores sociais, econômicos, culturais e climáticos das diferentes regiões, sendo que no Brasil a prevalência varia entre 40 a 80% dependendo do estado. Já em relação à incidência durante a gestação, varia entre 0,2 e 1%, sendo que a transmissão fetal encontra-se diretamente relacionada à idade gestacional na qual ocorre a infecção materna, enquanto que a gravidade é inversamente proporcional. AGENTE ETIOLÓGICO E CICLO DE VIDA: O Toxoplasma gondii é um parasito intracelular obrigatório que possui um ciclo de vida complexo, podendo ser encontrado na natureza sob três formas: 1. Taquizoíto: Forma observada na fase aguda da doença; 2. Bradizoíto: Forma cística encontrada na fase crônica, sendo que um cisto pode conter até 3 mil bradizoítos; 3. Oocisto: Forma encontrada no hospedeiro definitivo (gato), na terra e em vegetais. Infecção: A principal via de contaminação é oral, ocorrendo através da ingestão de cistos teciduais ou oocistos excretados pelo gato nas fezes. O oocisto pode ser encontrado na água ou solo contaminado, sendo, portanto, o inadequado saneamento ambiental associado a baixa instrução o responsável pela maior parte da contaminação, que se dá através do uso da água contaminada para ingestão ou higiene dos alimentos. Porém, pode ocorrer também a transmissão através da ingestão de formas císticas do parasito presentes na carne crua, leite não pasteurizado e ovos crus Uma vez na luz intestinal, os cistos se rompem liberando os parasitos, que rapidamente se multiplicam e invadem as células do epitélio intestinal, onde se transformam em taquizoítos, que se multiplicam sucessivamente até o rompimento celular. Com o rompimento, o parasita é liberado na corrente sanguínea, onde se dissemina por todo o organismo, estimulando a produção de anticorpos que inibe a multiplicação do parasita e estimula a formação de cistos teciduais, principalmente no músculo, retina e placenta, estando em equilíbrio imunológico com o hospedeiro, causando pouca ou nenhuma resposta inflamatória. Esses cistos têm caráter dinâmico, onde o parasito em seu interior fica em lenta e contínua multiplicação, aguardando uma eventual ruptura do cisto que permite a reativação da doença, ocasionando lesões graves. Essa reativação é favorecida principalmente por alterações no sistema i mune, sendo por isso que esse quadro de ruptura ocorre mais comumente em gestantes. 6 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Geralmente é uma doença assintomática em pacientes imunocompetentes, uma vez que com a ruptura do cisto e liberação dos parasitos, grande quantidade de macrófagos, imunoglobulinas específicas IgG e linfócitos dirigem-se ao local, com o objetivo de eliminá-los rapidamente para que não haja parasitemia. Quando ausente os mecanismos de defesa, normalmente a doença entra em fase aguda, sendo caracterizada por parasitemia importante, devido a intensa multiplicação, entretanto a manifestação é inespecífica, estando presente geralmente febre, sintomas gripais, rash cutâneo e linfadenopatia generalizada. Obs: No hemograma é possível visualizar a presença de linfócitos atípicos durante a infecção aguda. Manifestações Durante a Gestação: A gestação geralmente não interfere na evolução natural da doença, porém em alguns casos pode ocorrer um aumento na incidência de episódios com tromboflebite e asma brônquica. Além disso, para que ocorra a contaminação fetal é necessário que a primo-infecção pela toxoplasmose ocorra durante a gestação. Raramente pode ocorrer de mulheres previamente soropositivas para a doença transmitir ao feto, sendo que isso ocorre apenas em situações de imunocomprometimento. Já em relação aos danos ocasionados ao concepto, a toxoplasmose pode gerar abortamento, prematuridade e infecção congênita com ou sem malformações fetais. Essas manifestações congênitas geralmente são anemia, trombocitopenia, pneumonia, icterícia, coriorretinite, cegueira, encefalite, retardo mental, malformações do SNC (microcefalia, hidrocefalia ou calcificações intracranianas). A maioria dos recém-nascidos infectados são assintomáticos ao nascimento, surgindo efeitos da doença após meses ou anos do parto, de forma que 80% das crianças até 1 ano não apresentam sinais de infecção 7 DIAGNÓSTICO: É realizado através da pesquisa sorológica da presença de IgM e IgG específica para toxoplasmose, sendo solicitado já na primeira consulta pré- natal uma imunoglobulina ELFA. Caso seja evidenciado um teste IgM reagente, com ou sem valores crescentes de IgG, há uma infecção recente que necessita ser tratada. Porém, vale lembrar que os resultados de IgM positivos podem durar por 10 a 13 meses após uma infecção aguda, sendo que alguns indivíduos esse resultado perdura por anos. Sendo assim, a grande vantagem da realização do exame IgM é o seu resultado negativo, que afasta infecções recentes. Mulheres com IgG e IgM positivos com 13 semanas de gestação, a probabilidade de a infecção ter ocorrido após a concepção é de 1 a 3%. Caso uma detecção de IgM seja reagente, deve-se solicitar uma nova dosagem em 3 semanas, acompanhada de testes mais sofisticados como IgA e IgE específicos, além de um teste de avidez para IgG. IgA e IgE são detectados por menos tempo após a doença, garantindo uma detecção mais apurada sobre o tempo da infecção. Já o teste de avidez da IgG avalia a força de interação entre antígeno e anticorpo, sendo que a avidez é proporcional ao tempo de ocorrência da infecção, de forma que a medida que o hospedeiro reage com o antígeno, há um aumento da avidez pelo IgG. o Quando avidez for < 15%: Infecção nos últimos meses; o Quando avidez for entre 15 a 29%: Infecção de tempo duvidoso; o Quando a avidez for > 30%: Infecção há mais de 6 meses. ATENÇÃO: A baixa avidez de IgG também pode persistir por anos em algumas mulheres, sendo por isso que o teste tem mais valor quando apresenta alta avidez, que afasta a infecção recente. 8 Diagnóstico de Infecção Fetal: Pode ser determinado pela pesquisa de IgM específica no sangue do cordão umbilical obtido através de cordocentese ou através de reação em cadeia da polimerase (PCR) do líquido amniótico para DNA do toxoplasma. A ultrassonografia também pode ser útil como diagnóstico, pois evidencia calcificação intracraniana e dilatação ventricular, mostrando o prognóstico da doença. RASTREAMENTO: Com base nos exames diagnósticos (IgM e IgG) é possível classificar as gestantes em: Gestantes IgG e IgM Negativas: Ocorre em cerca de 50% dos casos, tratando-se de uma gestante suscetível a se infectar. Nesses casos deve-se realizar um controlesorológico periódico durante a gestação, pelo menos trimestral, além de realizar as orientações de prevenção. Gestantes IgG Positiva e IgM Negativa: Cerca de 40% dos casos, tratando-se de gestantes imunes, sujeita a reativação da infecção. Em gestantes imunocompetentes, como não há risco de infecção fetal, não é necessário o acompanhamento sorológico. Em gestantes imunodeprimidas, o risco de contaminação fetal com lesões potencialmente graves exige rastreamento período da reativação. Gestantes IgG Negativo e IgM Positivas: Sendo o IgM detectado laboratorialmente entre 7 a 15 dias após a infecção, com diminuição progressiva até a negativação dos testes em três a seis meses (geralmente), a maioria dos pacientes não possui esse anticorpo durante a fase crônica/latente. Sendo assim é necessário a realização de uma nova sorologia junto com a pesquisa de IgA para avaliar se há uma infecção ativa ou um falso positivo IgM. - Casos de infecção aguda, deve-se realizar o tratamento da toxoplasmose; - Casos de falso positivo IgM, deve-se realizar uma sorologia trimestral. Gestantes IgG e IgM Positivas: Ocorre em aproximadamente 1% das gestantes, sendo necessário considerar a idade gestacional para realização da conduta. IG < 16 semanas, deve-se realizar a diferenciação entre infecção aguda e IgM residuais (casos onde IgM fica positivo por mais de 6 meses), sendo solicitado um teste de avidez da IgG. IG > 16 semanas, considera-se ifecção aguda, iniciando tratamento e encaminhamento da gestante para propedêutica fetal. 9 TRATAMENTO: O tratamento é dividido em duas etapas, sendo elas: 1. Primeira Etapa: toxoplasmose materna aguda confirmada Após a confirmação do diagnóstico da infecção materna, deve-se iniciar o uso de Espiramicina (3g/dia) até o final da gestação, que atinge altas concentrações na placenta e possui ação parasitostatica sobre o T. Gondii, de forma que caso ocorra uma ruptura de cisto placentário, o medicamento impede a replicação do taquizoíto, evitando a contaminação fetal em 50 a 60%. Obs: A espiramicina ajuda a prevenir a infecção fetal, mas não trata fetos já infectados. 2. Segunda Etapa: diagnóstico pré-natal da infecção fetal É realizado o diagnóstico da contaminação fetal através da análise do líquido amniótico, utilizando-se a técnica de PCR, que permite evidenciar: Feto Não Infectado (PCR Negativa): Nesse caso deve-se manter a espiramicina na mesma dose até o final da gestação, sendo realizado um controle ultrassonográfico mensal até o parto. Feto Infectado (PCR positiva): É realizada a substituição da terapia, suspendendo a espiramicina e iniciando o tratamento com Pirimetamina (50 mg/dia) + Sulfadiazina (3g/dia) + Ácido folínico (15 mg/semana) até a 36ª semana de gestação. Além disso, as pacientes devem ser acompanhadas quinzenalmente com hemograma completo por conta da pancitopenia induzida pelo tratamento. PROGNÓSTICO FETAL: A idade gestacional no momento da infecção materna é o principal fator determinante do prognóstico fetal. Fetos contaminados no primeiro trimestre geralmente desenvolve a doença na forma mais grave, apresentando comprometimento cerebral e ocular. Fetos contaminados no segundo trimestre normalmente não estão associados a distúrbios neurológicos, porém frequentemente se observa calcificações intracranianas. PREVENÇÃO: É realizada através de uma série de medidas orientadas, como: Lavar as mãos com água corrente e saponáceos ao manipular alimentos (principalmente crus); Lavar bem frutas, legumes e verduras; Evitar ingestão de carne crua, malcozida ou malpassada; Não consumir leite e seus derivados crus e não pasteurizados; Evitar manuseio direto com solo; 10 Evitar contato com fezes de gato, preferencialmente a caixa de areia dos gatos deve ser l impa por outra pessoa; Lavar bem as mãos após contato com animais. RUBÉOLA DEFINIÇÃO: Trata-se de uma infecção viral exantematosa ocasionada pelo vírus RNA da família Togaviridae, que apresenta alta infectividade através de aerossóis. Quando em não grávidas, raramente traz algum tipo de complicação, porém durante a gestação pode ocasionar anomalias congênitas. EPIDEMIOLOGIA: A incidência real é desconhecida, uma vez que 25 a 50% dos casos são subclínicos. Porém, sabe-se que durante a idade reprodutiva, aproximadamente 75% da população é imune à rubéola devido principalmente a infecções subclínicas durante a infância, onde ocorre o maior pico da doença. INFECÇÃO: A porta de entrada para o vírus é o trato respiratório superior, tendo uma transmissão através da inalação de partículas contaminadas. Após a exposição, o vírus se propaga através dos vasos linfáticos até os linfonodos onde ocorre a sua replicação, seguida pela viremia entre o 7º e 11º dia, onde o vírus atinge a corrente sanguínea, alcançando vários tecidos, inclusive a placenta. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Os primeiros sintomas da doença, quando presentes, surgem após o período de incubação (16 dias), com o aparecimento de rash cutâneo característico. O exantema, de aspecto máculo-papular, inicia-se principalmente na face e tórax sendo distribuído, durante 3 dias para membros, com desaparecimento no sentido inverso, acompanhado de prurido intenso, sendo acompanhado por febre baixa, cefaleia, anorexia, conjuntivite, odinofagia, artralgia, linfadenopática suboccipital, retroauricular e cervical. INFECÇÃO FETAL: O percentual de acometimento fetal é maior e mais grave em idades gestacionais precoces, sendo que tende a se tornar menos grave com idades gestacionais mais tardias durante a infecção. Em idade gestacional precoce a viremia materna leva a infecção placentária e fetal, ocasionando a lise celular e infecção crônica do feto. Porém, quando a infecção ocorre após 20 semanas de gestação, o risco de síndrome da rubéola congênita é muito baixo. Obs: No terceiro trimestre, o crescimento intrauterino restrito pode ser a única sequela ocasionada pela infecção. 11 Síndrome da Rubéola Congênita: É caracterizada pelo crescimento intrauterino restrito junto de uma infecção viral crônica, que pode acometer diversos sistemas orgânicos, ocasionando alterações auditivas, cardiopatia, retardo mental, microftalmia, miocardite, hepatite, púrpura, alterações ósseas e até óbito. Obs: Geralmente os danos ocasionados em áreas oculares, auditivas ou do SNC aparecem tardiamente, ocorrendo apenas no desenvolvimento da criança. DIAGNÓSTICO: É realizado através da pesquisa de anticorpos específicos, sendo que a presença de IgM específico para rubéola confirma o diagnóstico de fase aguda, já que ele fica presente por apenas 30 dias após a infecção. Quando IgM é negativa, o diagnóstico pode ser feito através dos níveis de IgG, que se houver um aumento quádruplo no título em um intervalo de duas semanas, trata-se de um quadro atual da doença. Caso seja identificado um exame IgM positivo durante as primeiras 18 semanas, o risco de anomalia fetal é alto, sendo a paciente encaminhada para o diagnóstico fetal da infecção. Diagnóstico Fetal: A pesquisa da infecção no feto pode ser feita através da biópsia de vilo coriônico, amniocentese e cordocentese, sendo realizado um PCR para identificação do vírus. Diante de um exame positivo, deve-se realizar ultrassonografia fetal em busca de alterações compatíveis com a síndrome da rubéola congênita. TRATAMENTO: Não há tratamento para a doença após a infecção, porém em mulheres grávidas suscetíveis (IgG e IgM negativas) que forem expostas ao vírus (entraram em contato com alguém doente), é discutível o uso de imunoglobulina em até 72 horas, a fim de diminuir o risco de infecção. A imunoglobulina pode diminuir os sintomas maternos decorrentes da contaminação, mas a sua ação na transmissão do vírus ao feto ainda não é definida. PREVENÇÃO:A prevenção da doença é realizada com a vacina com vírus atenuado, que é indicada para crianças e mulheres que não estejam grávidas (sendo por isso importante a realização do acompanhamento pré- concepção). No calendario vacinal há vacina para rubéola (tríplice viral), sendo feita uma dose aos 12 meses e outra aos 15 meses. CITOMEGALOVÍRUS DEFINIÇÃO: Trata-se de uma doença infecciosa ocasionada por um vírus DNA da família herpes, que leva ao aparecimento de células grandes, com inclusões intranucleares. Sendo que após a infecção primária pode se manter latente no hospedeiro sendo reativado periodicamente. 12 EPIDEMIOLOGIA: De forma geral, a soropositividade é alta em adultos, sendo que a prevalência da infecção materna varia entre 50 a 85% conforme o local de domicílio, nível socioeconômico e atividade profissional. A taxa de soroconversão na gestação é de aproximadamente 1,6%. No Brasil, não existem dados oficiais a respeito da infecção congênita ocasionada pelo CMV, porém, projeta-se uma incidência média de 0,5%, de forma que com uma taxa de nascimentos em 3 milhões por ano, estima-se que cerca de 15 mil crianças nascem anualmente com sintomas da infecção, das quase 12% (1,8 mil) morrem no primeiro ano de vida por conta da infecção. PATOGÊNESE: O CMV é um herpesvírus humano, também chamado de HHV-5, que possui o homem como seu único hospedeiro. Após uma infecção aguda, o vírus não é eliminado do organismo, permanecendo em seu interior na forma latente, que pode ser reativado em diferentes circunstâncias, sendo a principal a modificação da resposta imune, comum na gestação. Como a replicação do vírus é intranuclear, não é possível a utilização de anticorpos neutralizantes. No entanto, o CMV é um vírus frágil, facilmente inativado por numerosos agentes físico-químicos. Infecção: A contaminação ocorre principalmente através de contatos íntimos, onde as secreções biológicas como saliva, lágrimas, leite materno, secreções genitais e urina atuam como vetores, porém também pode ocorrer através da transfusão sanguínea e transplante. Já a transmissão vertical, ocorre durante a gestação por passagem transplacentária (30-40% dos casos), ou durante o nascimento em que a criança tem contato com secreção vaginal contaminada, ou após o nascimento, durante o período pós-natal, através do aleitamento materno. Em relação a transmissão placentária, acredita-se que ocorra por meio de leucócitos infectados que atravessam a placenta, levando o vírus ao feto, onde se aloja predominantemente no epitélio tubular renal, iniciando a replicação, sendo a carga viral no líquido amniótico o equivalente a carga viral na urina fetal e por consequência, equivalente a replicação viral nos rins fetais. O vírus pode ser encontrado em 13% do leite das gestantes, sendo que nesses casos a um risco de 58% de transmissão do vírus para a criança, mas mesmo assim a amamentação não deve ser suspensa, pois seus benefícios superam os riscos No recém-nascido o vírus muitas vezes é assintomático, tendo risco baixíssim. Problema está no vírus durante a gestação e não pós-nascimento Infecção Materna Aguda: A infecção aguda pelo CMV ocorre em 0,7 a 4,4% das gestantes, sendo que após o contato ocorre um período de incubação que varia de 28 a 60 dias, quando inicia-se os primeiros sintomas da doença, que persistem por vários dias ou semanas. 13 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Aproximadamente 50% das infecções primárias e quase a totalidade das recorrências são assintomáticas, porém quando sintomáticas, é comum a ocorrência de hipertermia, mal-estar, mialgias, artralgias, fadiga, diarreia, cefaleia, faringite e linfadenopatia. O sinal físico mais importante é a adenomegalia cervical. Manifestações Fetais: A infecção congênita pode ocorrer durante uma infecção primária ou durante recorrências, ocorrendo através da disseminação hematogênica através da placenta, seguida para o feto. Obs: É muito mais difícil a transmissão através de recorrências, uma vez que durante uma recorrência já há uma atividade imunológica materna. A idade gestacional não influencia no risco de transmissão intrauterina, porém as consequências clínicas para o feto são mais graves quando a infecção ocorre antes de 20 semanas de gestação. Infecções durante o primeiro trimestre tem um risco de sequelas neurossensoriais variando de 35 a 45%, enquanto que no segundo e terceiro trimestre esse risco varia para 8 a 25% e 0 a 7%, respectivamente. A maioria das crianças infectadas não apresenta sintomatologia ao nascer, porém mais tarde, parte delas (5 a 15%) desenvolvem surdez, retinocoroidite ou retardo mental. Obs: Essas sequelas tendem a ser mais graves e com aparecimento mais precoce em casos de infecção aguda materna. Já os recém-nascidos sintomáticos (cerca de 20%) apresentam a chamada “doença de inclusão citomegálica generalizada”, caracterizada por hepatoesplenomegalia, icterícia, petéquias, púrpura, baixo peso, prematuridade, pneumopatia intersticial, retinocoroidite, atrofia óptica e trombocitopenia. Sendo que nesses casos a mortalidade é de 33% em alguns dias, e quando sobrevivem, 90% das crianças evoluem com retardo mental, hipotonia, parestesia e/ou surdez. DIAGNÓSTICO: Na gestante é realizado através do isolamento do vírus por swab da orofaringe ou da urina, sendo que a infecção primária é acompanhada da presença de IgM específica. Porém, pode ser que a IgM persista por alguns meses, sendo necessário realizar a dosagem sérica de IgG e avidez de IgG para determinar a época em que ocorreu a doença (baixa avidez = doença recente). Diagnóstico Fetal: É realizado através da identificação do CMV no líquido amniótico, através de uma amniocentese. Porém, por ser um diagnóstico invasivo, é proposto apenas para as gestantes que apresentam infecção aguda primária. Embora a identificação do vírus no líquido amniótico seja o teste mais sensível e específico, ele não é capaz de identificar a gravidade da lesão fetal, sendo realizado uma ultrassonografia para fornecer informações adicionais a respeito da gravidade da lesão. 14 Os sinais de gravidade da infecção congênita por CMV incluem o crescimento intrauterino restrito, ascite, anasarca, dilatação ventricular, polidrâmnio ou oligodrâmnio, calcificações hepáticas, microcefalia, espessamento placentário, calcificações periventriculares, óbito intrauterino, hiperecogenicidade intestinal. TRATAMENTO: Não há tratamento para CMV durante a gestação. Entretanto, em casos de infecção em imunodeprimidos com complicações maternas graves, recomenda-se a utilização de ganciclovir, entretanto, sua utilização para o tratamento da infecção congênita ainda não é definida. Em gestantes saudáveis não se administra antivirais nem imunomoduladores, sendo realizado apenas o tratamento dos sintomas quando necessário. Não há restrição de aleitamento em recém-nascidos a termo, pois nesses casos a doença costuma ser assintomática, pois além do vírus há também anticorpos no leite materno. Porém caso a mãe adquira a infecção ao longo da amamentação é recomendada a suspensão imediata do aleitamento. HERPES DEFINIÇÃO: Trata-se de uma infecção ocasionada por vírus DNA de dois tipos, com múltiplas cepas HSV-1 (infecções orofaríngeas) e HSV-2 (infecções genitais e neonatais) que tem como característica persistir latente após a primo-infecção com reativações periódicas. Sendo que durante a gestação, pode ser conceitualmente dividida em: Herpes Congênito: Forma rara de infecção fetal, adquirida intra-útero ascendente no momento da parasitemia materna Herpes Neonatal: Ocorre quando o recém-nascido é exposto ao vírus do trato genital materno no momento do parto, através da passagem vaginal infectada Herpes Pós-natal: Infecção do recém-nascido que ocorre por contato direto com lesões orais e genitais. Obs:O HSV-1 tem preferência pelo trato orofaríngeo, porém ele também pode estar presente em genitais, assim como o HSV-2 também pode estar presente no trato orofaríngeo. EPIDEMIOLOGIA: A prevalência da infecção genital pelo herpes simples t em aumentado em t odo o mundo, tendo como consequência direta um aumento na incidência da herpes neonatal e congênita. Estima-se que a prevalência de anticorpos para HSV-1 varia entre 60 a 80% na população mundial, enquanto que para o HSV-2 a prevalência varia de 9 a 32%. INFECÇÃO MATERNA: Ocorre por meio do contato direto entre as vesículas características da infecção com a mucosa ou pele lesada durante o período de incubação que varia de 2 a 10 dias em casos de infecção primária. 15 Após a infecção primária, tem-se formação de anticorpos, que segue por um período de latência viral durante o qual o vírus permanece nos gânglios nervosos, sendo reativados após estímulos variáveis, ocasionando os quadros de recorrências. INFECÇÃO FETAL E NEONATAL: A maioria (70%) das crianças que desenvolvem herpes neonatal são filhos de gestantes assintomáticas que desconhecem serem portadoras da doença. A transmissão geralmente ocorre no momento do parto, através do contato direto do recém-nascido com as lesões presente no trato genital, sendo que em casos de lesões por recorrência, o risco de infecção é de 3% por conta do efeito protetor dos anticorpos IgG maternos transmitidos ao feto pela via transplacentária. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A manifestação clínica típica da infecção herpética ocorre durante o período de incubação, que inicia com um quadro de queimação, prurido e parestesia local, seguido pelo aparecimento de lesões bolhosas uni ou bilaterais, com base eritematosa, que evoluem para pústulas, depois úlceras dolorosas com remissão espontânea em até três semanas, geralmente 10 dias. Geralmente o quadro é localizado, sem manifestações sistêmicas, porém quando ocorre o envolvimento sistêmico é comum a ocorrência de febre, cefaleia, mal-estar e mialgia. Obs: Em gestantes sabidamente portadoras de HSV-2, 84% apresentam episódios de recorrência durante a gestação, porém geralmente esse quadro t em resolução mais rápida do que o comum. Manifestações no Feto: A infecção congênita por ruptura prematura de membrana é incomum, ocorrendo geralmente na primo-infecção herpética, sendo assim a principal causa de transmissão viral é através da via hematogênica. Quando a infecção ocorre no início da gestação, ela é geralmente fatal, ocasionando o abortamento, entretanto quando mais tardia, é associada a uma mortalidade fetal aumentada, trabalho de parto pré-termo, crescimento intrauterino restrito e malformações que em geral são de difícil observação no USG. A doença no neonato geralmente se apresenta disseminada, com predominância de alterações neurológicas, sendo que 70% morrem de 6 a 10 dias caso não sejam tratados, enquanto o restante sobrevive com sequelas. Obs: Crianças que nascem por parto vaginal de mulheres que apresentaram a primo-infecção no momento do parto têm maiores chances de desenvolver herpes neonatal (33%) quando comparadas com mulheres que têm quadros de recorrência durante o parto (3%). DIAGNÓSTICO: O diagnóstico clínico de herpes genital é pouco sensível e inespecífico, de forma que apenas 20% das pessoas infectadas possuem antecedentes de herpes genital, com sinais e sintomas característico da infecção, enquanto que 60% apresenta forma clínica não reconhecida (oligosintomáticos). Os 20% restantes são totalmente assintomáticas. Sendo assim, o diagnóstico laboratorial é fundamental para confirmação do quadro infeccioso, sendo realizado diversos métodos para confirmação diagnóstica da infecção pelo vírus herpes 1 e 2, sendo destacado as seguintes formas: 16 Isolamento do Vírus por Cultura: É o método de diagnóstico de escolha, sendo ideal para confirmação da infecção. A coleta do líquido deve ser feita antes da eclosão da vesícula, sendo, portanto, necessário a presença da lesão para realização do meio de cultura adequado. Exame Citológico: É um estudo de células obtidas a partir do raspado da lesão, consistindo na identificação de células gigantes multinucleadas com inclusões intranucleares específicas. Testes Sorológicos: Auxiliam na diferenciação entre infecção primária e recorrente, sendo geralmente feito por imunofluorescência indireta e ELISA. Reação em Cadeia da Polimerase (PCR): Essa técnica permite um estudo de líquor, material de biopsia, Swab de vesículas, sangue, líquido amniótico e raspado de lesões, apresentando alta sensibilidade e alta especificidade, porém com alto custo. TRATAMENTO: O objetivo principal do tratamento na gestante é evitar a primo-infecção ou a recorrência da doença para prevenir a transmissão perinatal do vírus ao feto. Na maioria dos casos não há necessidade de intervenção, porém em casos mais graves pode ser utilizado um tratamento com aciclovir 400mg três vezes ao dia por 10 dias. O uso de aciclovir supressivo em mulheres com herpes genital recorrente perto do termo reduz a recorrência clínica no parto e diminui herpes genital clínico, sendo utilizado aciclovir sistematicamente 15 dias antes da data prevista do parto. PREVENÇÃO: A escolha da via de parto é peça fundamental na profilaxia da infecção pelo herpes, sendo realizada apenas após o exame clínico detalhado no momento do parto. Pacientes com sintomas e sinais prodrômicos é indicado a cesariana. HEPATITES VIRAIS DEFINIÇÃO: Trata-se de uma inflamação hepática ocasionada por uma diversidade de vírus que tem distribuição mundial com alta morbidade, sendo a principal causa de icterícia em gestantes. Por muito tempo foi uma doença subestimada em gestantes, pois os danos ao recém-nascidos muitas vezes só eram percebidos décadas após o nascimento. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: O quadro clínico da hepatite viral tem uma variação considerável, podendo muitas vezes se manifestar de forma assintomática, tendo apenas alterações laboratoriais isoladas, como também pode se manifestar de forma fulminante, com coma hepático e morte. 17 Apesar da quantidade de vírus (7) que podem ocasionar a hepatite e a variação do prognóstico, a sintomatologia é semelhante entre eles, de forma que apenas é possível diferenciar o tipo viral através de testes sorológicos específicos. Na fase inicial da doença, é comum o aparecimento de coriza, tosse, fotofobia, cefaleia e mialgias, sendo geralmente sintomas insidiosos e tendem a diminuir ou desaparecer com o surgimento da icterícia e do prurido. Obs: Os sintomas muitas vezes são inespecíficos e em muitos casos podem ser confundidos com queixas comuns da própria gestação, como fadiga, mal-estar, inapetência, náuseas e vômitos. Complicações Mais Frequentes: Septicemia, insuficiência renal e pulmonar, edema cerebral e coagulação intravascular disseminada. Obs: Não há efeito teratogênico sobre o feto em qualquer tipo de hepatite viral. DIAGNÓSTICO: Em relação ao exame físico, normalmente ele é pouco expressivo, pois normalmente o fígado é deslocado cranial e posteriormente pelo útero gravídico, dificultando a palpação. Sempre que conseguir palpar o fígado em uma grávida, deve-se investigar processo hepático patológico. Laboratorialmente, a principal alteração é o aumento das transaminases hepáticas, que variam de 500 a 5.000 UI/L mesmo durante a gravidez. O aumento sérico das bilirrubinas e da fosfatase alcalina se visto isolado deve ser com cuidado, pois em cerca de 10% das gestantes hígidas (sem hepatite) eles se encontram elevados. Sempre que houver a desconfiança de um quadro de hepatite, deve ser realizado os testes sorológicos, que são a única forma de realizar a confirmação diagnóstica e diferenciação viral. 18 TRATAMENTO GERAL: O manejo da pacientecom hepatite é similar para grávidas ou não grávidas, sendo que na maioria das vezes não há necessidade de hospitalização da gestante, que pode permanecer em casa, em repouso e com alimentação e ingesta de líquidos adequados. A hospitalização é indicada em casos onde ocorre desidratação ou indicativos de hepatite fulminante, onde a mortalidade materna chega a 80-90% dos casos. Obs: Nos casos de hepatite fulminante, a interrupção da gestação não piora o prognóstico materno e melhora a chance de sobrevida do feto. HEPATITE B Agente Etiológico: É causada por um vírus envelopado, com fita de DNA dupla incompleta da família Hepadnaviridae. Epidemiologia: Representa a principal causa de hepatite aguda. Infecção: A transmissão da doença ocorre através da inoculação de sangue infectado ou através de contato direto com saliva, secreção vaginal e sêmen contaminados, sendo, portanto, transmitido por relações sexuais desprotegidas. Após a contaminação com o vírus, o período de incubação varia entre 30 a 180 dias, sendo possível a forma crônica. Em recém-nascidos geralmente a forma crônica atinge 90%, em crianças 20 a 50% e em adultos, geralmente, só 5 a 10% desenvolvem a forma crônica. Obs: Uma vez que o paciente desenvolve a forma crônica, há um risco de 25 a 40% de desenvolver cirrose e carcinoma hepatocelular. Transmissão Vertical: Pode ser intrauterina (antes do parto), sendo incomum, acontecendo em 5 a 10% dos casos de transmissão vertical ou perinatal (durante o parto), que acontece por microtransfusões de sangue materno durante as contrações uterinas, pela ruptura da membrana amniótica que expõe o feto ao sangue contaminado e por contato das mucosas fetais com o sangue e secreções contaminadas do canal vaginal. A importância da transmissão vertical reside no fato de que a chance de cronificação da doença é inversamente proporcional à idade, isto é, recém-nascidos infectados de forma “vertical” constituem o grupo com maior probabilidade de evoluir para hepatite B crônica e suas complicações, como cirrose hepática e hepatocarcinoma, que geralmente só vão aparecer na idade adulta. Manifestação Clínica: Após a infecção aguda, cerca de 30% dos pacientes apresentam icterícia e entre 0,5 a 1% evolui para forma fulminante, com sintomatologia sistêmica (poliarterite nodosa, glomerulonefrite e acrodermatite papular). 19 Em 95% dos casos a infecção apresenta resolução espontânea, tendo o desaparecimento do HBsAg e o surgimento dos anticorpos anti-HBs. Porém em torno de 5% dos pacientes evolui para forma infecciosa crônica. Entre os portadores crônicos, 50 a 75% são replicantes virais (HBeAg positivos) e desenvolverão doença crônica que evolui para cirrose e carcinoma hepatocelular. Manifestações Fetais: A transmissão via placentária é rara, sendo que a infecção do feto ou recém-nascido ocorre por meio da ingestão de material infectado durante o parto ou exposição subsequente ao nascimento pela amamentação. Os recém-nascidos podem ser assintomáticos ou desenvolver doença fulminante, sendo que a maioria ira se tornar doente crônico com risco de desenvolvimento de cirrose e carcinoma futuro. Caso não sejam tratados, 90% dos recém-nascidos de mulheres com vírus da hepatite B serão portadores crônicos do vírus. Diagnóstico: Todas as gestantes devem ser rastreadas rotineiramente para HBsAg no pré-natal, sendo avaliado 6 testes diagnósticos para definir a situação da infecção, sendo eles: HBsAg: Partícula do próprio vírus, é o principal marcador. Aparece no soro antes do desenvolvimento de qualquer sintoma. Sua positividade indica existência de hepatite B aguda ou crônica. HBeAg: Produzido durante a replicação viral. Traduz replicação ativa e infectividade. Anti-HBe: Indica baixa replicação viral, pouca infectividade. Anti-HBc IgM: Diagnostica hepatite B aguda. Anti-HBc IgG: Após quadro de hepatite, permanece no soro por tempo indeterminado. Pode ser uma cicatriz sorológica de hepatite B curada ou presente na hepatite B crônica. 20 Anti-HBs: Neutraliza o HBsAg, indica evolução para cura. Tratamento: Em mães portadoras da forma crônica é necessário realizar a administração de imunoglobulina e da primeira dose da vacina com vírus recombinante logo após o nascimento para que seja diminuído o risco de transmissão via leite materno. Obs: A realização de cesárea não diminui o risco de transmissão, sendo o parto vaginal não contraindicado. Caso seja confirmado a suscetibilidade da paciente em contrair hepatite B durante a gestação, deve ser realizada a vacinação imediatamente, mesmo com a gestação em curso. HEPATITE C Agente Etiológico: É uma doença causada pelo vírus RNA de fita simples, com polaridade positiva, da família flaviviridae. Infecção: A transmissão da doença é semelhante à hepatite B, sendo que ocorre em menor parte pela via sexual, tendo a maioria dos casos relacionados ao uso de drogas injetáveis e contato com sangue contaminado. Após a contaminação com o vírus, o período de incubação varia de 15 a 150 dias, sendo que tem menos casos de doença aguda do que a hepatite B, porém com maior mortalidade. Cerca de 80% dos casos de contaminação desenvolvem hepatite C crônica, com cirrose em 20 a 30 anos em 20-35% desses casos. Obs: Gestantes expostas a material contaminado devem receber imunoglobulina sérica. Manifestações Clínicas: Possui quadros agudos mais brandos, sendo muitas vezes (80% dos casos) assintomáticos na fase aguda, desenvolvendo sintomas apenas em quadros crônicos com cirrose hepática. 21 Manifestações Fetais: Estima-se que a transmissão materno-fetal do vírus ocorra em 85% das gestações com HCV, sendo que a transmissão intrauterina do vírus da hepatite C é 50% mais alta que na hepatite B. Geralmente, quando uma criança é infectada pela transmissão materno-fetal, grande parte desenvolve hepatopatia crônica. Obs: Perdas fetais e neonatais estão associadas com a ocorrência de hepatite fulminante e morte materna Geralmente a hepatite C não é causa de crescimento intrauterino restrito e nem abortamento, porém quando presente no terceiro trimestre, causa um aumento de 2 a 3 vezes na incidência de prematuridade. Diagnóstico: Nos que apresentam sintomas, em 80% dos casos o diagnóstico é confirmado pela presença de anti- HCV no soro. Entretanto, como o anti-HCV leva cerca de 8 a 12 semanas para se tornar positivo, em situações onde há uma forte suspeita de transmissão num indivíduo assintomático, deve ser feito uma dosagem direta do HCV-RNA para confirmar diagnóstico, através de um exame de PCR. Tratamento: O tratamento utilizado fora da gestação (ribavirina e alfa interferona) não é indicado para gestantes por falta de estudos sobre seus efeitos teratogênicos. VARICELA DEFINIÇÃO: Doença causada pelo vírus Varicela-Zoster, um herpes vírus altamente contagioso. EPIDEMIOLOGIA: É uma doença típica da infância, que acomete mais de 90% das crianças antes da chegada na adolescência, sendo assim, rara em idade reprodutiva. Quando ocorre em adultos, a doença costuma ser mais grave. INFECTOLOGIA: A transmissão do vírus ocorre por meio de partículas infectantes ou contato direto com lesões infectadas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Geralmente tem início como um estado gripal, sendo comum febre e mal-estar associado, com evolução para rash cutâneo pruriginoso, com evolução rápida para máculas e pápulas e vesículas crostosas na região do dermatomo do nervo acometido. Caracterizada pela presença simultânea de lesões em estágios diferentes, tendo normalmente uma distribuição centrípeta. Obs: Em mulheres grávidas, a complicação mais grave é a pneumonia intersticial, que eleva a mortalidade em 20%. 22 ACOMETIMENTO FETAL: O vírus, ser transmitido para o feto, podegerar uma síndrome congênita ou uma infecção perinatal. A síndrome pode incluir complicações como: crescimento intrauterino restrito, microcefalia, coriorretinite, microftalmia e membros hipotróficos. Obs: Recém-nascidos que não apresentam malformações ao nascimento, geralmente desenvolvem herpes- zoster no primeiro ano de vida. Casos de contaminação periparto trazem uma transmissão em 25%, sendo que essa infecção costuma ser grave normalmente, com piora em casos de prematuridade associada. DIAGNÓSTICO: Geralmente é realizado de forma clínica, mas caso necessário pode ser realizado a pesquisa de IgM para confirmação da doença. No feto, pode ser realizada a cordocentese para identificar fetos contaminados quando a doença ocorre longe do t ermo. TRATAMENTO: Inicialmente as gestantes contaminadas devem ser isoladas até que as lesões desapareçam, com ou sem tratamento. Em relação a medicação, pode ser administrado fármacos para alívio dos sintomas como febre e prurido quando presente. Para a terapia antiviral, é indicado o uso de aciclovir sistematicamente. Em gestantes soronegativas expostas ao vírus ou imunocomprometidas recomenda-se o uso de Ig específica. PREVENÇÃO: Pode ser realizado a vacinação da mulher que não tiver confirmação da doença na infância, porém não pode ser usado durante a gestação. ZIKA VÍRUS DEFINIÇÃO: É uma doença ocasionada pelo vírus Zika, que é uma arbovirose (transmitida por insetos) que causa infecção exantematosa, com tropismo pelo SNC em conceptos durante a gestação. TRANSMISSÃO: O vírus é transmitido de forma congênita e através do mosquito Aedes aegypti fêmea, que se contamina ao picar um ser vivo com o vírus e transmite para outros através da picada contaminada. Ocorre também transmissão via sexual, porém com menos frequência. 23 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Aproximadamente 80% das pessoas infectadas pelo vírus são assintomáticas, porém quando presentes, os sinais e sintomas são parecidos com os da dengue e Chikungunya, porém de forma mais branda. Ocorre a formação de manchas vermelhas na pele (com aspecto rendilhado) com áreas normais, coceira moderada a intensa, febre baixa intermitente, conjuntivite (em 50 a 90% dos casos), cefaleia, dor nas articulações, inchaço das articulações, edema no corpo, dor de garganta, tosse e vômitos. ACOMETIMENTO FETAL: O maior problema da Zika está na doença em gestantes, que quando acomete o feto, gera riscos de microcefalia e outras malformações congênitas. A doença é mais grave quando acomete a gestante no primeiro trimestre ou início do segundo, porém pode prejudicar o feto em qualquer período da gravidez, sendo que infecções em períodos tardios são relacionadas a CIUR e morte fetal. Sabe-se que o vírus possui tropismo pelo tecido nervoso, sendo que quando ocorre a passagem do vírus através da barreira placentária, ele acomete o tecido cerebral do feto, causando diminuição do crescimento de neurônios e células nervosas em geral. Progressivamente ocorre calcificações que impedem o desenvolvimento e o crescimento do cérebro, levando ao quadro de microcefalia característico da doença. Microcefalia é uma malformação congênita rara, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Nesses casos os conceptos possuem o perímetro cefálico menor que o normal, sendo assim o diagnóstico é realizado através do perímetro cefálico, tanto no decorrer da gestação através de exames de imagens, como após o nascimento. Obs: Em 90% dos casos, a microcefalia está associada ao retardo mental, sendo o tipo e nível da gravidade variável conforme o grau de microcefalia. Em recém-nascidos, é comum ocorrer perda do tônus muscular, crises epilépticas e graves retardos neuromotores quando infectados, além da microcefalia, pode ser ocasionado também a ventriculomegalia, calcificações graves, artrogripose (deformidade de articulaçẽos da mão e do pé), doenças oculares, atrofia de retina e anormalidades de nervo óptico. DIAGNÓSTICO: Em relação a zika, inicialmente é realizado de forma clínica através da exclusão de outras doenças. Podendo ser realizado comprovação através de testes de detecção do zika vírus, porém como não se tem tratamento específico para a doença, deve ser realizado a pesquisa do vírus apenas em grupos prioritários (gestantes e recém-nascidos) para que haja orientação profissional, condução do pré-natal e preparação da gestante e familiares. Os testes laboratoriais que podem ser realizados são o PCR e a sorologia IgM e IgG específicos. Obs: A gestante só é considerada sintomática para realização dos testes laboratoriais de confirmação quando apresentar exantema maculopapular pruriginoso acompanhado de febre, hiperemia conjuntival, poliartralgia ou edema periarticular. Em relação a microcefalia, o diagnóstico é realizado através do perímetro cefálico do concepto. 24 TRATAMENTO: Não existe tratamento específico para a doença, sendo assim o tratamento é apenas sintomático para melhorar a qualidade de vida da gestante durante a doença que dura geralmente de 3 a 7 dias. A dor na articulação pode persistir por aproximadamente 1 mês. Obs: Não é indicado o uso de AAS e drogas anti-inflamatórias devido aumento do risco de complicações hemorrágicas. PREVENÇÃO: Evitar ser picada por mosquito. ESTREPTOCOCOS DO GRUPO B DEFINIÇÃO: Trata-se de uma infecção bacteriana do trato urogenital feminino muito comum ocasionada por bactérias Streptococcus agalactiae (cocos gram-positivos), que geralmente é assintomática, mas que traz importantes efeitos patológicos durante a gestação, podendo ser transmitido ao feto durante o parto. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Geralmente a infecção materna é assintomática, porém quando presentes é comum apresentar-se como uma infecção urinária, bacteriúria, pielonefrite, endometrite e/ou corioamnionite. Em casos graves pode ocorrer bacteremia, meningite, endocardite, abscesso abdominal e ascite. ACOMETIMENTO FETAL: Mais de 50% das gestantes colonizadas não são adequadamente tratadas, o que ocasiona um quadro de aproximadamente 2% dos recém-nascidos dessas gestantes com complicações graves da bacteremia, ocorrendo sepse, pneumonia e meningite. A sepse neonatal por estrepto pode ser precoce, ocorrendo em até 1 semana de vida, ou tardia, ocorrendo entre os 90 primeiros dias de vida. Fatores de Risco Associados a Sepse Neonatal: Febre intraparto, gestação anterior com filho infectado por EGB, idade materna menor que 20 anos, etnia negra, pré-natal inadequado, bacteriúria por EBG, parto pré-termo e rupreme com mais de 18 horas. DIAGNÓSTICO: Por ser uma doença importante geralmente assintomática, é necessário realizar o rastreamento laboratorial em todas as gestantes, realizando testes de cultura com swab vaginal para estreptococo do grupo B ao final do terceiro trimestre (35 a 37 semanas), para garantir que não ocorra a presença da bactéria durante o parto. TRATAMENTO: Após confirmado a presença de strepto do grupo B na gestante, o tratamento antibiótico é reservado para o período intraparto, sendo administrado ampicilina EV para a mãe e penicilina G cristalina EV para o recém-nascido logo após nascimento. 25 Obs: A presença de colônias de strepto do grupo B na gestante não é contra indicativo de parto vaginal. Caso necessário pode ser realizado um tratamento profilático intraparto, administrado penicilina G de 4/4 horas até o parto. HIV INTRODUÇÃO: Sabe-se que aproximadamente 68% das mulheres HIV-positivo se encontram em idade reprodutiva, e que mais de 90% das crianças infectadas pelo HIV foram contaminadas em função da transmissão vertical, sendo importante a pesquisa de HIV durante a gestação, para reduzir as taxas de transmissão vertical da doença sempre que possível. Quando não é realizado intervenção, a transmissão vertical do HIV ocorre em cerca de 20a 25% dos casos, sendo que em gestantes sintomáticas, com SIDA a taxa é de 50%. EPIDEMIOLOGIA: No Brasil a região sudeste é onde há o menor número de crianças infectadas, sendo inferior a 4%. Essa porcentagem se deve ao controle da transmissão vertical associado a qualidade do pré-natal, à profilaxia antirretroviral periparto e à suspensão do aleitamento materno. ETIOPATOGENIA: A transmissão vertical do HIV está relacionada a múltiplos fatores como: Fatores Virais: - Carga viral; - Genótipo viral; - Fenótipo viral. Fatores Maternos: - Estado clínico e imunológico; - Presença de outras DSTs; - Presença de outras coinfecções; - Estado nutricional; - Tempo de uso de antirretroviral. Fatores Comportamentais - Uso de drogas ilícitas; - Prática sexual desprotegida. Fatores Obstétricos: - Via de parto; - Presença de hemorragia intraparto; - Duração da rotura das membranas ovulares. Fatores Inerentes ao Recém-nascido: - Prematuridade; - Baixo peso ao nascer; 26 - Aleitamento materno contaminado. Obs: Cerca de ⅔ dos casos de transmissão vertical ocorrem durante o trabalho de parto e parto, enquanto que o ⅓ restante ocorre intra-útero, principalmente nas últimas semanas de gestação. TRIAGEM SOROLÓGICA E DIAGNÓSTICO: Deve ser realizado o teste anti-HIV em todas as gestantes desde a primeira consulta pré-natal, e caso seja uma gestante em situações de exposição constante ao HIV deve ser realizado sorologia antes do parto, ao final da gestação. A sorologia pode ser realizada através de teste rápido, sendo os possíveis resultados: Primeiro Teste Rápido Realizado: Negativo: descarta HIV na gestante e realiza-se orientações. Positivo: realiza-se um segundo teste rápido de outra marca e empresa. Segundo Teste Rápido Realizado: Negativo: realizar um teste ELISA e Western blot para confirmação. Positivo: confirmação do diagnóstico de HIV na gestante. TRATAMENTO: Após a confirmação do HIV, é necessário realizar uma terapia antirretroviral na gestante para diminuir a carga viral, levando a diminuição da transmissão vertical. A terapia é indicada a partir de 14 semanas de gestação ou antes caso a paciente já tenha diagnóstico e uso de terapia antirretroviral antes da gestação. O esquema preferido na gestação é: AZT + lamivudina (3TC) + nevirapina Caso não seja possível, pode ser utilizado também: AZT + lamivudina (3TC) + associação lopinavir/ritonavir. A partir da publicação do protocolo 076, ficou evidente que o uso de zidovudina (AZT) durante a gestação, durante o parto e para o recém-nascido por 6 semanas, causa uma redução de 67,5% na taxa de transmissão vertical. O uso de AZT mesmo que tardiamente ou apenas para o recém-nascido também leva a uma diminuição da transmissão vertical. Obs: efavirenz e hidroxiureia não devem ser usados por conta do risco teratogênico. Assim como o didanosina (ddi) + estavudina (d4t) também não devem ser usados no período gestacional, por conta do aumento na incidência de acidose lática fetal. ATENÇÃO: Gestantes com CD4 menor que 350 células/mm³ devem receber terapia antirretroviral associada a profilaxia primária para infecções oportunistas. 27 ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL: Após a confirmação do HIV+ é necessário um seguimento pré-natal com consultas quinzenais ou semanais, sendo realizado exames de rotina antenatal, junto de uma investigação para infecções dos diversos sistemas para identificar possíveis complicações do uso de antirretrovirais, sendo os exames recomendados: Urina tipo 1, realizado na primeira consulta e repetido com 30 semanas de gestação; Urocultura, realizado na primeira consulta e repetido com 30 semanas de gestação; Protoparasitológico de fezes, realizado na primeira consulta; Sorologias padrão (storch), repetidas com 30 semanas de gestação; Hemograma mensal; Enzimas hepáticas mensal; Pesquisa para infecções de trato genital inferior, mensal e sempre que houver queixa pertinente; Teste de Whiff e fita de pH vaginal; Contagem de CD4 e CD8 junto com dosagem da carga viral, realizado na primeira consulta, 4 ou 6 semanas após o início da terapia e após 34 semanas de gestação; Teste de mantoux; Colpocitologia oncótica e colposcopia Além disso, é necessário um exame físico completo e detalhado em toda consulta, além de uma anamnese rigorosa para identificar possíveis infecções. VIA DE PARTO: Gestantes com carga viral menor que 1000 cópias/mL ou carga viral indetectável tem poucas chances de transmitir o vírus durante a passagem do concepto pelo canal vaginal, e os riscos de cesárea ultrapassam seus benefícios, sendo por isso indicado parto vaginal. A cesárea eletiva está indicada apenas as gestantes com carga viral superior a 1000 cópias/mL, sendo feito o parto com 38 a 39 semanas, para evitar a ocorrência de trabalho de parto espontâneo. Obs: No recém-nascido deve ser feito aplicação do AZT preferencialmente em até 2 horas após o nascimento, sendo realizado um hemograma para avaliar o risco de anemia induzida pelo AZT. ATENÇÃO: O aleitamento materno deve ser suspenso, sendo realizado seguimento médico ambulatorial para puérpera e para o neonato.
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