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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PEDIÁTRICA DISCIPLINA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE NEONATAL Karolina Souza Lima m: 139864 Relatório: Estudo de Caso Clínico sobre Distúrbios Metabólicos e Hiperbilirrubinemia UC: Enfermagem em Saúde Neonatal SÃO PAULO MAIO/2021 2 SUMÁRIO Caso clínico ……………………………………………………………………………….. 03 Problemas Identificados …………………………………………………………………. 04 Diagnóstico de Enfermagem ……………………………………………………………..05 Intervenções de Enfermagem …………………………………………………..………. 09 Referências Consultadas ………………………………...……………………………… 13 2 3 Caso Clínico Dados maternos: Mãe, com Gestação 3, 2 Parto (com o atual), Aborto 1, realizou 9 consultas de pré-natal. Apresentou com 22 semanas de gestação diabetes gestacional que foi controlada por dieta, mas manteve glicemia alterada, mesmo com dieta regular durante a gestação. Dados do nascimento: RN de sexo masculino, nasceu de 37 semanas, de parto vaginal com trabalho de parto prolongado, bolsa rota 2 horas antes do parto e líquido amniótico claro. O Apgar foi de 8 e 9, peso de nascimento de 3850 gramas. RN mamou ainda na sala de parto e foi encaminhado para alojamento conjunto com a mãe. Na primeira hora de vida a glicemia capilar foi de 62mg/dl. Com 24 horas de vida a mãe chamou a enfermeira, pois estava com dificuldade na amamentação, o RN estava sonolento e apresentava tremores finos de extremidades. A mãe demonstrou-se apreensiva, pois os mamilos estavam fissurados e doloridos, ela temia que o RN não estivesse mamando o suficiente. Informou, ainda, que percebeu um "caroço na cabeça do filho" e cor amarelada em face do RN. A enfermeira verificou a tipagem sanguínea e identificou que a mãe era do grupo sanguíneo B positivo e o recém-nascido A positivo. Ao verificar a glicemia capilar, a enfermeira constatou o valor de 55 mg/dl, Ao exame físico foram detectados tremores finos, icterícia em zona II, dificuldade de amamentação e presença de cefalematoma em região occipital. A enfermeira solicitou a avaliação médica, que prescreveu coleta de exames (Glicemia, Ca total, Ca ionizado, P, Mg, PTH e vitamina D). Ao checar os resultados, verificou-se que o Cálcio total era 8,5 mg/dL e o Cálcio ionizado de 4,5mg/dl, Glicemia de 60mg/dL e Bilirrubina total de 9 mg/dl, o médico prescreveu a fototerapia com radiância de 30 microwatts/cm2 e solicitou tomografia de crânio. 3 4 ❖ Principais problemas Identificados a partir do caso clínico proposto: ➢ Hiperbilirrubinemia no recém-nascido; ➢ Risco para a glicemia instável no recém-nascido; ➢ Incompatibilidade sanguínea entre o binômio mãe-bebê; ➢ Comprometimento da amamentação por lesão mamilar; ➢ Risco de comprometimento do vínculo entre o binômio mãe-bebê. 4 5 ❖ Diagnósticos de enfermagem e fatores relacionados: 1. Amamentação ineficaz (Domínio 2: Nutrição/ Classe 1: Ingestão) Refere-se à dificuldade de estabelecer o aleitamento, sendo capaz de comprometer o estado nutricional do lactente ou criança. Podemos considerar como critério diagnóstico a incapacidade do lactente de apreender a região areolar-mamilar materna corretamente, ou manter a sucção da mama não sustentada, visto que, a mãe apresenta fissuras e dor mamilar, sendo ambos indicativos de pega incorreta. 2. Risco de glicemia instável (Domínio 2: Nutrição/ Classe 4: Metabolismo) Refere-se a susceptibilidade a possíveis variações dos níveis séricos de glicemia, em relação ao padrão de normalidade, capaz de comprometer a saúde. Sendo esse fator exacerbado quando o recém-nascido (RN) é grande para a idade gestacional (GIG) por possuir percentil acima de 95, além de possuir mãe diabética. Isso acontece porque durante o período intra útero o feto é exposto a altos níveis de glicose materna e, concomitantemente, o órgão fetal pâncreas passa a produzir insulina proporcional a essa quantidade, para diminuir os níveis de glicose. E assim, após o nascimento o RN apesar de não receber mais o aporte de glicose materna, mantém os altos níveis de insulina (hiperinsulinemia), causando o risco de episódios de hipoglicemia. 5 6 3. Hiperbilirrubinemia neonatal (Domínio 2: Nutrição/ Classe 4: Metabolismo) É caracterizado pelo acúmulo de bilirrubina não conjugada na circulação (menos de 15 mL/dL) que ocorre após 24 horas de vida. Possui como características definidoras: a. Pele amarelo-alaranjada b. Hematomas e equimoses na pele c. Membranas mucosas amareladas O recém-nascido exposto pelo caso apresenta o principal sinal de hiperbilirrubinemia, a icterícia, caracterizada pela coloração amarelada da pele e mucosas. Ademais, o RN possui fatores de risco para o desenvolvimento da hiperbilirrubinemia neonatal elencados a seguir: a. Diabetes melito materno; b. Idade < ou igual a 7 dias; c. Incompatibilidade de grupo sanguíneo ABO entre a mãe e o lactente. A mãe possui tipagem sanguínea B + enquanto o RN A+. Desse modo, a mãe ao receber os antígenos A do bebê, passa a desenvolver anticorpos anti-A. Esses anticorpos retornam a corrente sanguínea provocando hemólise das hemácias do bebê e consequentemente um aumento da bilirrubina, visto que, a mesma é um produto final da hemólise. d. Presença de hematomas/equimoses durante o nascimento, tal como cefalohematoma, caracterizado como uma coleção de eritrócitos extravasculares, decorrente do trauma sofrido. Posteriormente, os eritrócitos serão absorvidos e a hemoglobina metabolizada, sendo transformada em outros compostos como a biliverdina e posteriormente a bilirrubina indireta. 6 7 Além disso, o principal fator para o desenvolvimento da hiperbilirrubinemia corresponde a imaturidade do trato gastrointestinal (TGI) e sistema biliar do RN. Durante o período fetal a bilirrubina indireta (BI) é excretada por meio da placenta, enquanto após o nascimento o neonato necessita transformar a bilirrubina indireta (BI) em bilirrubina direta (BD) para realizar a excreção. Isso acontece quando a BI é acoplada a proteína albumina na corrente sanguínea, para deslocar-se até os hepatócitos (células do fígado) sendo nesse órgão a BI conjugada ao ácido glucurônico, transformando-se em BD, passível de excreção pelo sistema biliar e transformação em urobilinogênio, por meio de bactérias da flora intestinal e ser posteriormente excretada nas fezes. Entretanto, o intestino do RN é estéril e impossibilita a transformação da bilirrubina direta em urobilinogênio, por isso a BD retorna aos hepatócitos, desconjugando-se do ácido glucurônico (por meio das enzimas glucuronidases) e retornando a forma de BI inicial (ciclo-enterohepático). A BI é lipofílica e acumula-se nos tecidos, ocasionando a coloração amarelada na pele e mucosas. De modo geral o recém-nascido possui maior susceptibilidade a icterícia por ter maior carga de BI para o hepatócito, seja pelo maior volume eritrocitário, menor meia vida das hemácias, como também a possibilidade de possuir doenças hemolíticas, sendo a redução do clearance hepático e entérico de bilirrubina como mais um fator adjuvante, causado pela menor capacidade de captação e conjugação hepática e aumento da circulação entero-hepática. 7 8 4. Risco de vínculo prejudicado (Domínio 7: Papéis e Relacionamentos/ Classe 2: Relações Familiares) Caracterizado como a suscetibilidade à ruptura do processo interativo, entre pais ou pessoa significativa e a criança, que promove o desenvolvimento de uma relação recíproca de proteção e cuidado. Quando pensamos na amamentação, é necessário enfatizar que trata-se além de uma necessidade fisiológica do RN, é nesse momento que o vínculo do binômio mãe-bebê é estabelecido, uma vez que, o processo envolve sensações de prazer, proteção e segurança para ao bebê. Desse modo, quando coexistem problemáticas, assim como dor ao amamentar representado no caso clínico, que impedem a amamentação ou torna a mesma desfavorável para o bebê ou para a mãe, transcorre um comprometimento do vínculo, trazendo prejuízo para o estabelecimento da relaçãoafetiva entre a mãe e o bebê. 8 9 ❖ Intervenções de Enfermagem: 1. Aconselhamento para Lactação Trata-se de uma intervenção relacionada às dificuldades que a puérpera apresenta no estabelecimento e manutenção da amamentação. Consiste em auxiliar a puérpera e o recém-nascido no alcance do aleitamento materno efetivo. Atividades a. Auxiliar na forma como segurar de forma adequada para amamentar (i.e., monitorar o alinhamento adequado do bebê, forma de segurar e de comprimir a aréola e deglutição audível); b. Demonstrar o treino de sucção, se necessário ( exemplo: usar um dedo limpo para estimular o reflexo da sucção e bloqueio); c. Orientar a mãe sobre os cuidados com o mamilo; d. Monitorar a dor do mamilo e integridade da pele dos mamilos. 2. Cuidados com Lesões: Trata-se de uma intervenção relacionada às lesões mamilares, que a puérpera apresenta no caso e tem por objetivo prevenir as complicações e promover a cicatrização de lesões. Atividades: a. Monitorar as características da lesão mamilar, incluindo drenagem, cor, tamanho e odor (com a finalidade de identificar processos infecciosos); b. Comparar e registrar regularmente todas as mudanças na lesão (garantindo a evolução correta); c. Aplicar pomada apropriada na pele/lesão, conforme apropriado ou prescrito pelo profissional médico. 9 10 3. Fototerapia: Recém-Nascido Trata-se de uma intervenção relacionada a resolução da hiperbilirrubinemia e icterícia neonatal, consistem em utilizar a terapia com luz, com a finalidade de reduzir os níveis de bilirrubina em recém nascidos. Atividades: a. Colocar o lactente em incubadora e mudar a posição do RN a cada 4 horas; b. Orientar a família sobre os procedimentos de fototerapia e cuidados; c. Aplicar protetores para cobrir ambos os olhos, evitando pressão excessiva; d. Remover protetores oculares a cada quatro horas ou quando as luzes estão desligadas para contato dos pais ou alimentação; e. Colocar as luzes de fototerapia acima do do bebê em uma posição apropriada, com a finalidade de evitar queimaduras no RN; f. Encorajar a família a participar na fototerapia. 4. Risco para a Integridade da Pele Prejudicada Trata-se de uma intervenção estabelecida quando ocorre risco de epiderme e/ou derme alteradas, nesse caso o risco é apresentado em razão da fototerapia. Atividades: a. Inspecionar a pele e membranas mucosas para rubor, calor extremo e drenagem; b. Monitorar quanto a alterações na integridade da pele e tratá-las apropriadamente; c. Evitar o uso de fitas adesivas e outras substâncias que possam irritar a pele 10 11 5. Risco de Hipotermia Trata-se de uma intervenção direcionada a manutenção da temperatura corporal do recém-nascido com a finalidade de evitar temperatura corporal abaixo dos parâmetros normais (<36,6ºC). Durante a fototerapia é necessário despir o RN, desse modo há maior exposição de pele e consequentemente ele está sujeito a perda de calor por radiação, convecção, condução e evaporação. Atividades: a. Ajustar a temperatura do quarto para o mais próximo da temperatura basal do RN (36,6ºC-37,3ºC) com a finalidade de diminuir o gasto calórico necessário para manter a temperatura normal do corpo; 6. Controle da Hipoglicemia Trata-se de uma intervenção voltada ao controle da glicemia instável e consiste na prevenção e tratamento da hipoglicemia (níveis baixos do normal de glicose sanguínea). Atividades: a. Monitorar os níveis de glicose no sangue, conforme indicado; b. Monitorar sinais e sintomas de hipoglicemia, entretanto os sinais e sintomas de hipoglicemia no período neonatal tendem a ser inespecíficos, mas podem incluir tremores, irritabilidade, reflexo de moro exacerbado, sucção débil, letargia, taquipneia, cianose e hipotermia; c. Administrar infusão de glicose endovenosa ou glucagon (caso o RN não tenha hiperinsulinismo), conforme indicado. 11 12 7. Melhora do Enfrentamento Trata-se de uma intervenção destinada à ansiedade e dificuldades que a puérpera apresenta sobre o aleitamento e cuidados com o recém-nascido. Tem por objetivo facilitar os esforços cognitivos e comportamentais para controlar estressores, mudanças ou ameaças percebidos que interfiram no atendimento às demandas da vida e papéis, sobretudo da maternidade. Atividade: a. Proporcionar um ambiente de aceitação, validando os sentimentos que a puérpera expressa sobre a dificuldade em amamentar; b. Encorajar a paciência no desenvolvimento de relações, expor para a puérpera que o processo de amamentação vai ser construído aos poucos e que existem alternativas para corrigir a pega e diminuir a dor; c. Encorajar a verbalização de sentimentos, percepções, dúvidas e medos a respeito do recém-nascido e amamentação; d. Encorajar o paciente a identificar seus pontos fortes e habilidades no cuidado ao recém-nascido, objetivando o fortalecimento do vínculo mãe-bebê e autoeficácia parental. 12 13 Referências Herdman TH, Kamitsuru S. NANDA International Nursing Diagnoses: definitions and classification 2018-2020. 11ª Ed.Oxford: Wiley-Blackwell; 2018. Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM, Wagner CM. NIC Classificação das Intervenções de Enfermagem. 6ª Ed. Elsevier 2016. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria / organizadores Dioclécio Campos Júnior, Dennis Alexander Rabelo Burns. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. Ministério da Saúde. Atenção à Saúde do Recém-Nascido, Guia para profissionais da saúde, intervenções comuns, icterícia e infecções. 2º Edição. Brasília – DF, 2014. 167p 13
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