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1-CARACTERIZAR O PRÈ NATAL E SUA IMPORTÂNCIA Programa de Humanização no pré natal e nascimento -PHPN: estruturado nos seguintes princípios: - toda gestante tem direito ao acesso a atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto e puerpério; - toda gestante tem direito de saber e ter assegurado o acesso à maternidade em que será atendida no momento do parto; - toda gestante tem direito à assistência ao parto e ao puerpério e que esta seja realizada de forma humanizada e segura, de acordo com os princípios gerais e condições estabelecidas na prática médica; - todo recém-nascido tem direito à assistência neonatal de forma humanizada e segura. Em relação ao adequado acompanhamento pré-natal e assistência à gestante e a puérpera deverão ser realizadas as seguintes atividades: 1. Primeira consulta de pré-natal até o 4° mês de gestação; 2. Garantir a realização de, no mínimo, seis consultas de acompanhamento pré-natal, sendo, preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no segundo trimestre e três no terceiro trimestre da gestação. Realização de uma consulta no puerpério, até quarenta e dois dias após o nascimento. Realização dos seguintes exames laboratoriais: - ABO-Rh, na primeira consulta; - VDRL, um exame na primeira consulta e outro na trigésima semana da gestação; - Urina, um exame na primeira consulta e outro na trigésima semana da gestação; - Glicemia de jejum, um exame na primeira consulta e outro na trigésima semana da gestação; - HB/Ht, na primeira consulta. D) Oferta de Testagem anti-HIV, com um exame na primeira consulta. E) Aplicação de vacina antitetânica dose imunizante, segunda, do esquema recomendado ou dose de reforço em mulheres já imunizadas. F) Realização de atividades educativas. G) Classificação de risco gestacional a ser realizada na primeira consulta e nas consultas subsequentes. H) Garantir às gestantes classificadas como de risco, atendimento ou acesso à unidade de referência para atendimento ambulatorial e/ou hospitalar à gestação de alto risco. Gravidez de alto risco: Na maioria dos casos a presença de um ou mais desses fatores não significa a necessidade imediata de recursos propedêuticos com tecnologia mais avançada do que os comumente oferecidos na assistência pré-natal de baixo risco, embora indiquem uma maior atenção da equipe de saúde a essas gestantes. Pode significar apenas uma frequência maior de consultas e visitas domiciliares, sendo o intervalo definido de acordo com o fator de risco identificado e a condição da gestante no momento. Além disso, atenta-se para uma necessidade maior de ações educativas dirigidas aos problemas específicos detectados nas gestantes. Em muitos casos, intervenções junto à família e à comunidade podem gerar impactos positivos. Os marcadores e fatores de risco gestacionais presentes anteriormente à gestação se dividem em: 1. Características individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis - idade >35 anos - idade <15 anos ou menarca há menos de 2 anos - ocupação: esforço físico, carga horária, rotatividade de - horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, estresse - situação conjugal insegura - conflitos familiares - anormalidades estruturais nos órgãos reprodutivos - baixa escolaridade - condições ambientais desfavoráveis - altura <145 cm - peso <45 kg e >75 kg (IMC<19 ou IMC>30) - dependência de drogas lícitas ou ilícitas 2. História reprodutiva anterior - morte perinatal explicada e inexplicada - RN com crescimento restrito, pré-termo ou malformado - abortamento habitual - esterilidade/infertilidade - intervalo interpartal <2 ou >5 anos - nuliparidade ou multiparidade - síndrome hemorrágica ou hipertensiva - cirurgia uterina anterior (incluindo duas ou mais cesáreas) 3. Condições clínicas preexistentes - cardiopatias - pneumopatias - nefropatias - endocrinopatias - hemopatias - HAS - epilepsia - doenças infecciosas - doenças autoimunes - ginecopatias - neoplasias Os outros grupos de fatores de risco referem-se a condições ou complicações que podem surgir no decorrer da gestação transformando-a em uma gestação de alto risco: 1. Exposição indevida ou acidental a fatores teratogênicos 2. Doença obstétrica na gravidez atual - desvio quanto ao crescimento uterino, número de fetos e volume de líquido amniótico - trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada - ganho ponderal inadequado - pré-eclâmpsia e eclâmpsia - diabetes gestacional - amniorrexe prematura - hemorragias da gestação - insuficiência istmo-cervical - aloimunização - óbito fetal 3. Intercorrências clínicas - doenças infectocontagiosas vividas durante a presente gestação (ITU, doenças do trato respiratório, rubéola, toxoplasmose etc.) - doenças clínicas diagnosticadas pela primeira vez nessa gestação (cardiopatias, endocrinopatias) Uma vez encaminhada para acompanhamento em um serviço especializado em pré-natal de alto risco é importante que a gestante seja orientada a não perder o vínculo com a equipe de atenção básica ou Saúde da Família que iniciou o acompanhamento. Por sua vez, esta equipe deve ser mantida informada a respeito da evolução da gravidez e tratamentos administrados à gestante por meio de contrarreferência e de busca ativa das gestantes em seu território de atuação, por meio da visita domiciliar. 2-DEFINIR O APGAR E INTERPRETAR SEUS CRITÈRIOS A escala de APGAR, também conhecida como índice ou escore APGAR, é um teste feito no recém-nascido logo após o nascimento que avalia seu estado geral e vitalidade, ajudando a identificar se é necessário qualquer tipo de tratamento ou cuidado médico extra após o nascimento. Esta avaliação é feita no primeiro minuto de nascimento e é repetida novamente 5 minutos após o parto, tendo em consideração características do bebê como atividade, batimento cardíaco, cor, respiração e reflexos naturais. Método de avaliação de Apgar – no primeiro minuto e aos 5 minutos de vida. Proceder à avaliação pelo método de Apgar, verificando batimentos cardíacos, respiração, tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor da pele, pontuando cada item de 0 a 2. O alcance de mais de 7 pontos tem um significado favorável, mas, idealmente, devem ser 9 ou 10. Não se deve esquecer de anotar o resultado observado na Caderneta de Saúde da Criança . O método deve ser aplicado em recém-nascido de baixo risco ou naquele que já foi reanimado, avaliando a condição do momento. 1. Atividade (tônus muscular): 0 = Músculos flácidos; 1 = Dobra os dedos e movimenta os braços ou pernas; 2 = Movimenta-se ativamente. 2. Batimento cardíaco 0 = Sem batimento cardíaco; 1 = Inferior a 100 batimentos por minuto; 2 = Superior a 100 batimentos por minuto. 3. Reflexos 0 = Não responde a estímulos; 1 = Faz caretas quando estimulado; 2 = Chora vigorosamente, tosse ou espirra. 4. Cor 0 = O corpo tem coloração pálida ou azul-acinzentada; 1 = Coloração rosada no corpo, mas azulada nos pés ou mãos; 2= Coloração rosada em todo o corpo. 5. Respiração 0 = Não respira; 1 = Choro fraco com respiração irregular; 2 = Choro forte com respiração regular. Para cada grupo é dado o valor correspondente à resposta que melhor representa o estado do bebê no momento. No final, essa pontuação é somada para obter um valor único, que varia entre 0 e 10. A interpretação do valor que surge após somar a pontuação de todas as dimensões deve ser sempre feita por um médico, no entanto, o normal é que um bebê saudável nasça, no mínimo, com uma pontuação de 7 ao primeiro minuto. Este tipo de pontuação inferior a 10 no primeiro minuto de vida é bastante comum e acontece porque a maioria dos bebês precisa ser aspirado para retirar todo o líquido amniótico dos pulmões antes de conseguir respirar normalmente. No entanto, por volta dos 5 minutos é comum que o valor aumente para os 10. O surgimento de uma pontuação inferior que 7, ao 1º minuto, é mais comum em bebês que nasceram: Após uma gravidez de risco Por cesárea; Após uma complicação no parto; Antes das 37 semanas. Nestes casos, a pontuação inferior não é motivo de preocupação, no entanto,deve aumentar após 5 minutos. O valor baixo de APGAR não prediz qualquer tipo de resultado sobre inteligência, personalidade, saúde ou comportamento da criança no futuro. Significa, apenas, que precisou de mais ajuda na adaptação à vida fora do conforto do útero. É importante que o pediatra que acompanhará o bebê saiba dessas notas para que entenda o histórico do nascimento. Uma nota de 8 a 10, presente em cerca de 90% dos recém-nascidos, significa que o bebê nasceu em ótimas condições. Uma nota 7 significa que o bebê teve uma dificuldade leve. De 4 a 6, traduz uma dificuldade de grau moderado, e de 0 a 3 uma dificuldade de ordem grave. Nesses casos, é preciso tratamento rápido para evitar a anóxia, que é a falta de oxigenação. É normal que, na avaliação do primeiro minuto, a nota seja um ou dois pontos mais baixa do que a registrada no quinto minuto. Se no quinto minuto de vida se obter um Apgar menor do que sete, os médicos vão continuar calculando o índice de 5 em 5 minutos, até os 20 minutos. (SBP) 3-CARACTERIZAR O RN A TERMO QUANTO AO PESO, COMPRIMENTO E IDADE GESTACIONAL (PIG E GIG) Classificação do Recém-nascido A classificação permite definir grupos de riscos de morbimortalidade peri e neonatal para ações preventivas e terapêuticas. Os critérios utilizados são: peso ao nascer (PN), idade gestacional (IG), relação peso/idade gestacional e estado nutricional. Quanto ao peso ao nascer (PN) 1. RN de baixo peso (RNBP): PN inferior a 2.500g, independentemente da IG. O CID-10 (1995) classifica dois subgrupos: - RN de peso extremamente baixo ao nascer (PN < 1.000 g); - outros RN de baixo peso ao nascer (PN entre 1.000 g e 2.499 g). 2. RN de tamanho excessivamente grande: RN de PN igual ou superior a 4.500 g Quanto à idade gestacional (IG) 1. RN pré-termo ou prematuro: é o que tem IG inferior a 37 semanas. A prematuridade é fator de risco para síndromes asfixias, imaturidade pulmonar, hemorragia intraventricular, encefalopatia bilirrubínica, infecções, distúrbios metabólicos e nutricionais, retinopatia, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor e outros. O CID-10 classifica dois subgrupos: - imaturidade extrema: IG inferior a 28 semanas de gestação; - outros RN pré-termo: RN de 28 a 36 semanas de gestação. 2. RN a termo: IG entre 37 e 41 semanas. 3. RN pós-termo: IG igual ou superior a 42 semanas. Os eventos indesejáveis associados ao nascimento pós-termo decorrem da possibilidade da ocorrência de insuficiência placentária, principalmente síndromes asfíxicas. - RN pós-termo, não grande para a idade gestacional. A avaliação de IG pelo pediatra pode ser feita pelo método New Ballard e complementa a avaliação da IG estimada pelo obstetra por meio de ultrassonografia precoce ou data confiável da última menstruação. A estimativa da IG pelo método de New Ballard é mais precisa quando avaliada entre 12 e 20 horas de idade. A idade gestacional aproximada é estimada somando-se os índices de maturidade física e neuromuscular. Quanto à relação peso/idade gestacional Para cada período da gestação, existe uma variação de peso considerada normal, entre os percentis 10 e 90, para uma dada população. O RN pode ser classificado em: 1. grande para a idade gestacional (GIG), se acima do percentil 90; 2. apropriado para a idade gestacional (AIG), se entre o percentil 10 e 90; 3. pequeno para a idade gestacional (PIG), se abaixo do percentil 10. O grupo de RN PIG, conforme denominação do CID-10, compreende dois subgrupos: (RN PIG): com PN abaixo do percentil 10, porém com estatura acima do percentil 10 para a IG; (RN PIG): peso e estatura ao nascer abaixo do percentil 10. O CID-10 subdivide o grupo GIG em: outros RN GIG (exclui RN > 4.500 g); RN de mães com diabete gestacional; RN de mães diabéticas. 4-DESCREVER AS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS-ADAPTATIVAS DOS SISTEMAS CARDIOVASCULAR E RESPIRATÒRIO QUE OCORREM NO PERÌODO NEO NATAL Ajustes do Bebê à Vida Extrauterina O Início da Respiração- O efeito mais óbvio do nascimento no bebê é a perda da conexão placentária com a mãe e, portanto, a perda de seu meio de suporte metabólico. Um dos ajustes imediatos mais importantes necessários ao bebê é começar a respirar. A Causa da Respiração ao Nascimento: Depois do parto normal (mãe não deprimida por anestésicos), a criança começa a respirar dentro de segundos e atinge ritmo respiratório normal em menos de 1 minuto após o nascimento. A prontidão com que o feto começa a respirar indica que a respiração é iniciada pela repentina exposição ao mundo exterior, provavelmente resultante de estado levemente asfixiado, incidente ao processo do nascimento de impulsos sensoriais que se originam na pele subitamente resfriada. Em bebê que não respira imediatamente, o corpo fica progressivamente mais hipóxico e hipercápnico, o que representa estímulo adicional ao centro respiratório e, geralmente, provoca a respiração dentro de mais 1 minuto depois do nascimento. Retardo em Respirar ou Respiração Anormal ao Nascer — Risco de Hipóxia. Se a mãe tiver sido deprimida por anestésico geral durante o parto, o que parcialmente anestesia também o feto, o surgimento da respiração pode demorar alguns minutos, demonstrando, assim, a importância de usar o mínimo de anestesia possível. Além disso, muitos bebês que tiveram trauma cefálico durante a expulsão ou que foram submetidos a trabalho de parto muito prolongado custam a respirar e às vezes até não respiram por causar grande depressão do centro respiratório. A hipóxia, com frequência, ocorre durante o parto devido a: (1) compressão do cordão umbilical; (2) separação prematura da placenta; (3) contração excessiva do útero, que pode cortar o fluxo de sangue da mãe para a placenta; ou (4) anestesia excessiva da mãe, o que deprime a oxigenação de seu próprio sangue. Grau de Hipoxia que o Bebê Pode Tolerar. O adulto que não consegue respirar por apenas 4 minutos em geral falece, mas um recém-nascido, muitas vezes, sobrevive por até 10 minutos sem respirar depois de nascer. O comprometimento cerebral permanente é grave, em geral, ocorre se a respiração demorar mais de 8 a 10 minutos. Na verdade, lesões reais se desenvolvem principalmente no tálamo e em outras áreas do tronco encefálico, afetando, permanentemente, muitas das funções motoras corporais. Expansão dos pulmões ao nascimento: Quando o bebê nasce, as paredes dos alvéolos, primeiramente, estão colapsadas devido à tensão superficial do líquido viscoso em seu interior. Normalmente, é preciso mais de 25 mmHg de pressão inspiratória negativa nos pulmões para se opor aos efeitos dessa tensão superficial e abrir os alvéolos pela primeira vez. Mas, quando os alvéolos se abrem, a respiração pode ser realizada com movimentos respiratórios relativamente fracos. Felizmente, as primeiras inspirações do recém-nascido normal são muito potentes, geralmente capazes de criar até 60 mmHg de pressão negativa no espaço intrapleural. A Figura mostra as pressões intrapleurais muito negativas, necessárias para abrir os pulmões no início da respiração. Na primeira imagem, é exibida a curva de pressão-volume (curva de “complacência”) da primeira respiração após o nascimento. Observe, primeiramente, a parte inferior da curva, começando no ponto de pressão zero e movendo-se para a direita. A curva mostra que o volume de ar nos pulmões permanece quase exatamente zero, até ser atingida a pressão negativa de −40 centímetros de água (−30 mmHg). Em seguida, à medida que a pressão negativa aumenta para −60 centímetros de água, cerca de 40 mililitros de ar entram nos pulmões. Para desinflar os pulmões, é preciso que ocorra pressão positiva considerável, cerca de +40 centímetros de água, devido à resistência viscosa, oferecida pelo líquido nos bronquíolos. Observe que a segunda respiração é bem mais fácil, com demanda bem menor de pressões negativas e positivas. A respiração não se normaliza totalmente até cerca de 40 minutos após o nascimento, como mostrado pela terceira curva de complacência, cujo formato é comparável à curva de um adulto normal. ReajustesCirculatórios ao Nascimento: Os ajustes circulatórios imediatos permitem o fluxo sanguíneo adequado aos pulmões. Além disso, ajustes circulatórios durante as primeiras horas de vida fazem com que cada vez mais sangue flua pelo fígado do bebê, que até esse ponto tinha pouco fluxo sanguíneo. Para descrever esses ajustes, devemos, primeiro, considerar a estrutura anatômica da circulação fetal. Estrutura Anatômica Específica da Circulação Fetal: Uma vez que os pulmões são basicamente não funcionantes, durante a vida fetal, e o fígado é apenas parcialmente funcional, não é preciso que o coração do feto bombeie muito sangue pelos pulmões ou fígado. Entretanto, o coração do feto precisa bombear grande quantidade de sangue pela placenta. Portanto, disposições anatômicas especiais fazem com que o sistema circulatório fetal opere de modo bem diferente do de um recém-nascido. Circulação fetal: o sangue oxigenado chega da placenta através da veia umbilical. Ao se aproximar do fígado o sangue passa diretamente para o ducto venoso, um vaso fetal que comunica a veia umbilical com a veia cava inferior. Percorrendo a veia cava inferior, o sangue chega no átrio direito e é direcionado através do forame oval para o átrio esquerdo. Assim, neste compartimento o sangue com alto teor de oxigênio vindo da veia cava se mistura com o sangue pouco oxigenado vindo das veias pulmonares, já que os pulmões extraem oxigênio e não o fornece. O ducto arterial, ao desviar o sangue da artéria pulmonar para a artéria aorta, protege os pulmões da sobrecarga e permite que o ventrículo direito se fortaleça para a sua total capacidade funcional ao nascimento. Mudanças na Circulação Fetal ao Nascimento/Circulação neonatal de transição: após o nascimento o ducto arterial, o ducto venoso, o forame oval e os vasos umbilicais não são mais necessários. Dessa forma, ocorre o fechamento do forame oval e o ducto venoso e arterial se contraem. O fechamento do forame oval ocorre pelo aumento de pressão no átrio esquerdo que pressiona a sua válvula contra o septum secundum (divide incompletamente o átrio e a parte distal do septum primum funciona como uma válvula do forame oval). O fechamento do ducto arterial parece ser mediado pela bradicinina, uma substância liberada pelos pulmões durante a sua distensão inicial. Essa substância tem potentes efeitos contráteis na musculatura lisa, atuando na dependência do alto teor de oxigênio do sangue aórtico. Assim, quando a pressão de oxigênio for maior que 50 mmhg no sangue que passa através do ducto arterial promove a sua contração. O fechamento do ducto venoso ocorre pela contração do seu esfíncter, possibilitando que o sangue que entra no fígado percorra os sinusóides hepáticos. Porém, vale ressaltar que a mudança do padrão circulatório fetal para o padrão adulto não ocorre repentinamente. Algumas alterações ocorrem com a primeira respiração e outras após horas e dias Fechamento do Forame Oval. A baixa pressão atrial direita e a alta pressão atrial esquerda, que ocorrem secundariamente às mudanças das resistências pulmonar ao nascimento, fazem com que o sangue tente fluir de volta através do forame oval; ou seja, do átrio esquerdo para o átrio direito, em vez de na direção contrária, como ocorria durante a vida fetal. Consequentemente, a pequena válvula que repousa sobre o forame oval, no lado esquerdo do septo atrial, se fecha sobre essa abertura, evitando assim o fluxo de sangue através do forame oval. Em dois terços de todas as pessoas, a válvula adere-se ao forame oval, dentro de alguns meses a anos, produzindo um fechamento permanente. Mas, mesmo se não ocorrer o fechamento permanente, um estado patológico denominado forame oval patente, a pressão atrial esquerda durante toda a vida permanecerá, normalmente, entre 2 e 4 mmHg maior que a pressão atrial direita, e a pressão retrógrada manterá a válvula fechada. Fechamento do Ducto Arterioso: Em primeiro lugar, a resistência sistêmica elevada aumenta a pressão aórtica, enquanto a menor resistência pulmonar diminui a pressão arterial pulmonar. Consequentemente, depois do nascimento, o sangue começa a fluir de volta da aorta para a artéria pulmonar, através do ducto arterioso, em vez de na outra direção, como era na vida fetal. Entretanto, depois de algumas horas, a parede muscular do ducto arterioso se contrai de modo acentuado e, em 1 a 8 dias, a constrição é normalmente suficiente para interromper o fluxo sanguíneo. É o fechamento funcional do ducto arterioso. Então, durante o próximo período de 1 a 4 meses, o ducto arterioso em geral é anatomicamente ocluído pelo crescimento de tecido fibroso em seu lúmen. A causa do fechamento do ducto arterioso está relacionada com a maior oxigenação do sangue que flui pelo ducto, bem como a perda dos efeitos relaxantes vasculares da prostaglandina E2 (PGE2). Na vida fetal, a pressão parcial de oxigênio (PO2) do sangue no ducto é de apenas 15 a 20 mmHg, mas aumenta para cerca de 100 mmHg poucas horas após o nascimento. Ademais, muitos experimentos mostraram que o grau de contração do músculo liso, na parede do ducto, está altamente relacionado com a sua disponibilidade de oxigênio. Em um entre milhares de bebês, o ducto não se fecha, resultando em ducto arterioso patente. Já se postulou que o não fechamento se deve à dilatação excessiva do ducto, causada por prostaglandinas vasodilatadoras, especialmente a PGE2 , na parede do ducto. Na verdade, a administração do fármaco indometacina, que bloqueia a síntese de prostaglandinas, muitas vezes leva ao fechamento. Fechamento do Ducto Venoso. Na vida fetal, o sangue portal do abdome do feto junta-se ao sangue da veia umbilical, e, juntos, passam através do ducto venoso de modo direto para a veia cava, imediatamente acima do coração, mas abaixo do fígado, desviando-se, assim, do fígado. Imediatamente após o nascimento, o fluxo de sangue pela veia umbilical cessa, mas grande parte do sangue portal continua a fluir pelo ducto venoso, com pequena quantidade passando pelos canais do fígado. Entretanto, em 1 a 3 horas, a parede muscular do ducto venoso se contrai fortemente e fecha essa via de fluxo. Consequentemente, a pressão venosa portal aumenta de quase 0 a 6 para 10 mmHg, o que é suficiente para forçar o fluxo sanguíneo da veia porta pelos sinusóides hepáticos. Embora o ducto venoso raramente não se feche, não sabemos quase nada a respeito do que causa seu fechamento. (GUYTON) 5-IDENTIFICAR A IMPORTÂNCIA DA TRIAGEM NEONATAL A triagem neonatal é uma ação preventiva que permite fazer o diagnóstico de diversas doenças congênitas ou infecciosas, assintomáticas, no período neonatal a tempo de se interferir no curso da doença, permitindo, dessa forma, a instituição do tratamento precoce específico e a diminuição ou eliminação das sequelas associadas a cada doença. Toda criança nascida em território nacional tem o direito à triagem neonatal (Teste do Pezinho). Mas, para que este alcance seu objetivo primordial de detectar algumas doenças que podem causar sequelas graves ao desenvolvimento e crescimento, o teste deve ser feito no momento e da forma adequados. O momento para a coleta, preferencialmente, não deve ser inferior a 48 horas de alimentação proteica (amamentação) e nunca superior a 30 dias, sendo o ideal entre o 3º e o 5º dia de vida. As gestantes devem ser orientadas, ao final de sua gestação, sobre a importância do Teste do Pezinho e procurar um posto de coleta ou um laboratório indicado pelo pediatra dentro desse prazo. A triagem neonatal é uma ação preventiva de grande importância na busca da identificação de risco aumentado para o desenvolvimento de doenças raras de manifestação precoce e tratáveis em recém-nascidos assintomáticos. O diagnóstico precoce e o tratamento destas doenças, pode ser iniciado antes do início dos sinais e sintomas, reduzindo ou evitando as sequelas associadas às doenças e até mesmo o óbito. Ao nascer, todos os bebês brasileiros devem realizar pelo menos quatro testes de triagem neonatal: os testes do pezinho básico,do olhinho, da orelhinha e do coraçãozinho. Há ainda outros testes neonatais complementares que podem ser realizados logo após o nascimento. O Teste da Bochechinha, que analisa o DNA do bebê para identificar mais de 310 doenças, é o teste de triagem neonatal mais completo realizado no Brasil. Teste do Pezinho Ampliado ou Expandido- Assim como o Teste do Pezinho básico, as versões expandidas ou ampliadas do teste rastreiam doenças graves que afetam crianças e que tem tratamento disponível. Há várias versões expandidas do teste que são oferecidas por laboratórios e hospitais da rede privada. As versões expandidas podem analisar até 60 doenças incluindo erros inatos do metabolismo e doenças infecciosas. Esse teste é realizado por meio de uma técnica chamada de espectrometria de massas em tandem (MS/MS). Resultados alterados precisam ser confirmados por exames complementares, como por exemplo, exames genéticos. Teste SCID e AGAMA- As imunodeficiências causam infecções graves, que se não tratadas, causam a morte no primeiro ano de vida. Por isso é fundamental que a doença seja identificada o mais cedo possível. As imunodeficiências congênitas são triadas em recém-nascidos em um teste oferecido pela rede privada chamado de “SCID e AGAMA”. Teste da Bochechinha- é uma triagem neonatal genética que investiga doenças que podem se manifestar na infância, todas com tratamento já disponível no Brasil. Para isso, a amostra do bebê é analisada com uma técnica chamada de Sequenciamento de Nova Geração, a mais moderna técnica de Genética. Essa abordagem inovadora rastreia simultaneamente várias regiões do genoma do bebê para identificar mais de 310 doenças. A análise feita direta no DNA apresenta uma grande vantagem, pois identifica o risco da doença antes mesmo de qualquer sinal clínico. A coleta do Teste da Bochechinha também é diferente dos outros testes de triagem neonatal. Ao invés do furinho do calcanhar do bebê que caracteriza a coleta do Teste do Pezinho, a coleta do teste é feita com um auxílio de um cotonete (swab) que é passado na parte interna da bochechinha do bebê. A coleta é rápida e indolor e pode ser feita assim que o bebê nasce, na maternidade ou em casa pelos próprios pais, sem um prazo máximo, diferentemente dos testes do pezinho que devem ser realizados idealmente entre o 3º e 5º dia após o nascimento. O Teste da Bochechinha identifica as doenças dos testes do pezinho básico e ampliado e SCID e AGAMA, e centenas de outras doenças que não são investigadas nesses testes Teste do olinho- Basicamente, o médico observa o reflexo da luz emitida pela lanterninha no fundo do olho do bebê. Se há alguma alteração na estrutura, esse reflexo ganhar uma cor diferente e pode não ser igual entre os dois globos oculares. Catarata congênita, hemorragias e retinoblastoma – um câncer mais comum na infância e que, se diagnosticado tardiamente, torna-se muito grave – estão entre os problemas detectáveis pelo teste do olhinho. Até graus muito elevados de miopia ou hipermetropia são perceptíveis com esse exame. Triagem básica (obrigatória pelo governo): É o exame obrigatório para todos os recém-nascidos do País, a fim de detectar duas doenças: a fenilcetonúria (PKU) e o hipotireoidismo congênito (HC). A fenilcetonúria, doença genética caracterizada pela ausência ou carência de uma enzima ligada ao metabolismo do aminoácido fenilalanina presente na proteína de vários alimentos, como carne, leite e ovos. Quando não é “quebrado” adequadamente pela enzima, gera um acúmulo excessivo no corpo, que pode levar a gravíssimas lesões no sistema nervoso central, com comprometimento no desenvolvimento neurológico da criança. No hipotireoidismo congênito, baixa produção dos hormônios da glândula tireóide, essenciais para o desenvolvimento, em especial do sistema nervoso. Triagem ampliada: Além das duas doenças descritas acima, alguns tipos de Teste do Pezinho incluem também o exame para outras doenças, que, se tratadas e controladas cedo, evitarão sérios problemas no futuro. O Teste do Pezinho Ampliado varia muito de cidade para cidade, dependendo da instituição, portanto, é necessário pedir informações na maternidade. Entre as doenças incluídas nesse tipo de exame estão a anemia falciforme e outras alterações de hemoglobina (chamadas de hemoglobinopatias), fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita, galactosemia, deficiência de biotinidase, deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) e toxoplasmose congênita. A anemia falciforme é hereditária onde hemoglobina assume formato de foice ou meia-lua, alterando também a forma do glóbulo vermelho e prejudicando sua passagem por veias e artérias. Essa dificuldade pode levar a uma oxigenação deficiente do organismo e gerar complicações em praticamente todos os órgãos e sistemas do corpo. Existem vários graus de anemia falciforme. A hiperplasia adrenal congênita, ou hiperplasia congênita de suprarrenais, compreende uma série de anormalidades das glândulas suprarrenais que não produzem quantidades suficientes dos hormônios cortisol e aldosterona e, por outro lado, têm quantidades excessivas de hormônios andrógenos. Em meninas, esse aumento pode deflagrar características sexuais masculinas, como pelos e aumento do clitóris; em meninos, no aumento do pênis e surgimento precoce de pelos. Em ambos os sexos, pode causar perda exagerada de sais e aumento de potássio, levando até à morte. Fibrose cística, doença genética, caracterizada pelo transporte deficiente do cloro e do sódio nas membranas celulares, o que leva à produção de um muco grosso e pegajoso que pode provocar entupimento nos pulmões, causando dificuldades respiratórias e facilitando a proliferação de bactérias. O suor apresenta altas concentrações de sódio e cloro, e há insuficiência no pâncreas, que afeta a digestão. O ideal é que o teste seja feito no primeiro mês de vida do bebê. Galactosemia, doença genética que leva à deficiência de uma enzima do metabolismo da galactose. Os sintomas aparecem nas primeiras semanas de vida, com vômitos, diarreia, icterícia, distúrbios do fígado e dos olhos. A criança corre risco de vida por insuficiência hepática e renal. Deficiência de biotinidase, doença genética que pode ser tratada com a suplementação com biotina, substância que é retirada dos alimentos pela enzima biotinidase, que não é produzida em quantidade suficiente. Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD que causa instabilidade na membrana das hemácias, podendo facilitar o surgimento de anemias hemolíticas (grande destruição de glóbulos vermelhos). A toxoplasmose congênita que existe a possibilidade de a criança ter inflamações na retina ou problemas neurológicos, que não têm sintomas evidentes. O diagnóstico precoce e o tratamento da infecção podem evitar ou diminuir as complicações futuras. 6-CITAR PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS DE ATENÇÃO A SAÙDE PERINATAL E INCENTIVO AO VÍNCULO FAMILIAR Segundo a Portaria Nº 569, DE 1º DE JUNHO DE 2000:” {...} todas as Unidades Integrantes do SUS têm como responsabilidades: {...}admitir a visita do pai sem restrição de horário.” REDE CEGONHA- estratégia do Ministério da Saúde que preconiza a organização de uma rede de cuidados materno-infantil, estabelecida pela Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Seu objetivo é que a mulher tenha acesso à atenção no planejamento sexual e reprodutivo na gestação, garantindo, atenção humanizada na gravidez, parto e puerpério, e ao recém-nascido até o segundo ano de vida, assegurando o direito ao nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento saudáveis. As ações são executadas pelos estados e municípios que aderem às estratégias nacionais para o recebimento dos recursos reservados pelo MS e, tanto nas ações da atenção primária como na rede hospitalar, principalmente, relacionada à qualificação de leitos. Há uma fomentação financeira por meio federal para a implementação de programas. A atenção às gestantes e aos bebês compreende a criação de novas estruturas de assistência e acompanhamento das mulheres,com medidas direcionadas a regiões com maior relevância epidemiológica e maior carência por serviços de assistência à mulher e à criança, como também em regiões com grande concentração populacional e em locais que já desenvolvem experiências de sucesso no atendimento humanizado e seguro a mulheres e crianças. Em Santa Catarina, o trabalho de implantação da Rede Cegonha teve início em 2011. PAIM- Em 1983, uma das maiores conquistas do movimento feminista foi a formulação, pelo MS, do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), sendo um programa inédito até então, não apenas voltado ao binômio mãe-filho, mas à atenção à saúde da mulher em sua totalidade e abrangência. O PAISM nasceu no processo de discussão do movimento sanitário, fundamentado na necessidade de reestruturação do Sistema Nacional de Saúde, tendo como prioridade a atenção primária e a integralidade da atenção à saúde. Nesse sentido, a proposta do PAISM considerava a necessidade de articulação das ações de pré-natal, a assistência ao parto e ao puerpério, além da prevenção ao câncer e às infecções sexualmente transmissíveis, a assistência à adolescente, assim como assistência específica às mulheres que vivenciavam a menopausa e a anticoncepção. Em 1990, com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o recém-nascido passou a integrar as preocupações no âmbito das políticas, especialmente por se beneficiar da atenção em saúde voltada à sua genitora. Conforme vigência até os dias atuais, o ECA pretende assegurar à gestante, através do SUS, o atendimento antes e após o parto, proporcionar condições adequadas ao aleitamento materno, aos filhos de mães submetidas à medida privativa de liberdade, e também, a implantação de alojamentos conjuntos nas instituições de saúde, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe. PROASP - Programa de Assistência à Saúde Perinatal- Em 1991, a atenção perinatal, enquanto responsável pelos cuidados à unidade mãe-feto e ao recém-nascido, foi definida, pela primeira vez, como área programática nas diretrizes governamentais de atenção à saúde no Brasil. Esta proposta possibilitou a organização da assistência perinatal de forma hierarquizada e regionalizada; a melhoria da qualidade da assistência ao parto; o incremento da qualidade da assistência ao recém-nascido, promovendo o alojamento conjunto e reservando os berçários para os neonatos de risco; o incentivo ao aleitamento materno; orientações voltadas para o planejamento familiar e a supervisão e avaliação do atendimento, através de um sistema de informação perinatal. Foi neste período que as políticas, finalmente, iniciaram o esboço de ações que buscam contemplar o recém-nascido como sujeito do cuidado, na sua integralidade, considerando a sua individualidade e especificidade, ainda que, de forma incipiente. HOSPITAIS AMIGOS DA CRIANÇA- iniciativa para incentivar o aleitamento materno, favorecendo o relacionamento mãe-filho e o desenvolvimento de programas educacionais. Havia o pagamento de 10% a mais sobre assistência ao parto a Hospitais Amigos da Criança vinculados ao SUS caso houvesse a implantação do alojamento conjunto durante o período de internação da gestante e do recém-nascido. PNHPN- foi criado e implantado através da Portaria nº.569 de 1/6/2000, com o objetivo primordial de reduzir as altas taxas de morbimortalidade materna, perinatal e neonatal no país. Baseia-se no direito inalienável da cidadania, portanto, direito ao acesso, por parte das gestantes e dos recém-nascidos, à assistência à saúde nos períodos pré-natal, parto, puerpério e neonatal, tanto na gestação de baixo como de alto risco, através da organização adequada dos serviços de saúde, assegurando a integralidade da assistência e com investimentos e custeios necessários. A principal estratégia deste programa é a reorganização da assistência através da vinculação pré-natal, parto e puerpério, fazendo com que a assistência prestada à gestante e ao recém-nascido seja realizada com qualidade e sob os trilhos da humanização. 7-RECONHECER AS CAUSAS DE ICTERÍCIA NO RN, TRATAMENTO E DIAGNÓSTICO A icterícia na infância é um achado comum. Em geral, as crianças normais por ocasião do nascimento, não estão ictéricas graças à capacidade da placenta em remover a bilirrubina da circulação fetal. Mas a grande maioria dos recém-nascidos desenvolve icterícia transitória na primeira semana de vida. Essa situação expressa pela hiperbilirrubinemia não conjugada é consequência de fatores que envolvem produção aumentada de bilirrubina, imaturidade do sistema enzimático responsável pela glicuronidação e pela diminuição de excreção do pigmento biliar. Tem evolução benigna e é conhecida como “icterícia fisiológica’’, “hiperbilirrubinemia fisiológica’’ e “icterícia própria do recém-nascido’’, por se constituir na causa mais comum da icterícia neonatal. A icterícia é um dos problemas mais frequentes no período neonatal e corresponde à expressão clínica da hiperbilirrubinemia, que é definida como concentração sérica de bilirrubina indireta maior que 1,3 a 1,5 mg/dL ou de biA icterícia na infância é um achado comum. Em geral, as crianças normais por ocasião do nascimento, não estão ictéricas graças à capacidade da placenta em remover a bilirrubina da circulação fetal. Mas a grande maioria dos recém-nascidos desenvolve icterícia transitória na primeira semana de vida. Essa situação expressa pela hiperbilirrubinemia não conjugada é consequência de fatores que envolvem produção aumentada de bilirrubina, imaturidade do sistema enzimático responsável pela glicuronidação e pela diminuição de excreção do pigmento biliar. Tem evolução benigna e é conhecida como “icterícia fisiológica’’, “hiperbilirrubinemia fisiológica’’ e “icterícia própria do recém-nascido’’, por se constituir na causa mais comum da icterícia neonatal.lirrubina direta superior a 1,5 mg/dL, desde que esta represente mais do que 10% do valor de bilirrubina total. Na prática, 98% dos recém-nascidos apresentam níveis séricos de BI acima de 1 mg/dL durante a primeira semana de vida. Na maioria das vezes, a icterícia reflete uma adaptação neonatal ao metabolismo da bilirrubina e é denominada de “fisiológica” que surge devido à incapacidade do fígado de metabolizar e eliminar a bilirrubina, por estar ainda pouco desenvolvido. Por outras vezes, decorre de um processo patológico, podendo alcançar concentrações elevadas e ser lesiva ao cérebro, instalando-se o quadro de encefalopatia bilirrubínica. Os RN de termo ictéricos com doença neurológica evoluem inicialmente com hipotonia, debilidade de sucção, recusa alimentar e convulsões, progredindo em 3 a 4 dias para hipertonia, opistótono, hipertermia e choro com tonalidade aguda. Nessa fase, 70% dos pacientes podem evoluir para óbito em decorrência de parada respiratória. No Brasil, desde o ano 2000, a icterícia, doença hemolítica e/ou kernicterus têm sido notificados a cada ano como causa básica de óbito em cerca de 250 RN. Desses óbitos, entre 100 e 130 neonatos são de termo. Várias são as limitações do metabolismo da bilirrubina que explicam a icterícia no RN de termo saudável, tais como a sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito e a menor capacidade de captação, conjugação e excreção hepática da bilirrubina. A sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito decorre da produção e da circulação êntero-hepática aumentadas de BI. O neonato produz 2 a 3 vezes mais bilirrubina do que o adulto, em razão da menor vida média das hemácias, que é de 70 a 90 dias, e da maior quantidade de hemoglobina. Uma vez que o catabolismo de 1 g de hemoglobina fornece 34 mg de bilirrubina, a produção diária de bilirrubina no RN é de 8 a 10 mg/kg, sendo 75% derivada do catabolismo dos eritrócitos e 25% do heme livre, das proteínas hepáticas e da destruição de eritrócitos imaturos. A circulação êntero-hepática elevada de bilirrubina decorre da escassa flora intestinal e da maior atividade da enzima beta-glicorunidase na mucosa intestinal. Existe diminuição da conversão de mono e diglicuronídeosde bilirrubina em urobilinogênio por causa da pequena quantidade de bactérias intestinais, tornando os glicuronídeos suscetíveis à desconjugação pela beta-glicuronidase. Isso se reflete na entrada da bilirrubina não conjugada pela circulação êntero-hepática e na sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito. O RN apresenta captação hepática limitada da bilirrubina nos primeiros 3 a 4 dias em razão da deficiência de ligandina, principal proteína carreadora da bilirrubina dentro do hepatócito. Além disso, a conjugação hepática deficiente decorre da atividade diminuída da glicuronil-transferase. Ao nascimento, a atividade é inferior a 0,1% em relação à do adulto, atingindo seu nível entre 6 e 14 semanas. A excreção hepática de bilirrubina também é limitada, ocorrendo contra o gradiente de concentração, uma vez que o nível biliar é muito superior ao citoplasmático no hepatócito. Assim, o RN apresenta várias limitações no metabolismo da bilirrubina que culminam com a fração indireta aumentada. Classicamente, a hiperbilirrubinemia “fisiológica” é definida em RN de termo norte-americanos alimentados com fórmula láctea como um nível de BT sérica que aumenta após o nascimento, atinge seu pico médio ao redor de 6 mg/dL no 3º dia de vida e, então, declina em uma semana. Porém, valores médios de BT variam conforme a população estudada e o tipo de alimentação oferecida ao RN. Icterícia fisiológica: causa mais comum, surge após 24 a 36 horas do nascimento, pois o fígado do bebê está pouco desenvolvido e pode apresentar dificuldades em transformar e eliminar a bilirrubina; Destruição aumentada das células do sangue: causa grave de icterícia, que acontece devido a doenças sanguíneas como anemia falciforme, esferocitose ou anemia hemolítica, que pode ser provocada pela incompatibilidade do sangue do bebê com o da mãe. Icterícia do leite materno: surge em bebês que estão em amamentação exclusiva, geralmente, após cerca de 10 dias do nascimento, surge devido ao aumento de hormônios ou substâncias do sangue que elevam a reabsorção de bilirrubina no intestino e dificultam a sua eliminação, apesar de suas causas ainda não estarem totalmente esclarecidas; Doenças do fígado: costumam ser doenças hereditárias, como síndrome de Crigler-Najjar, síndrome de Gilber e doença de Gaucher, por exemplo; Doenças congênitas: que podem ser provocadas durante a gravidez, como rubéola ou hipotireoidismo congênito; Deformidades nas vias biliares; Infecções por vírus ou bactérias. Geralmente, a icterícia surge no segundo dia de vida do bebê mas em bebês prematuros tende a aparecer no 5º dia de vida. A coloração amarelada da pele avança da cabeça em direção aos pés, sendo observada primeiramente no rosto, depois no tronco e posteriormente nos pés. Pressionar ligeiramente o peito do bebê é uma boa forma de identificar a icterícia fora do hospital. Se a região pressionada ficar amarelada deve-se entrar em contato com o médico para iniciar o tratamento. Diagnóstico: Em um primeiro momento, é necessário fazer o diagnóstico da icterícia propriamente dita. Esse diagnóstico pode ser feito pelo exame físico, pela mensuração da bilirrubina transcutânea e pela mensuração da bilirrubina sérica. No exame físico, a icterícia pode ser visualmente detectada por meio da digitopressão da pele do RN, sendo que a alteração passa a ser percebida com níveis de bilirrubina maiores que 4-8mg/dL. No entanto, impressão visual não apresenta relação direta com o nível sérico de bilirrubina. A icterícia apresenta progressão craniocaudal e pode ser detectada visualmente por meio da digitopressão na pele do RN. É classificada de acordo com cinco zonas de Kramer (zonas dérmicas), a saber: presença de icterícia na cabeça e pescoço (zona 1), da cabeça até a cicatriz umbilical (zona 2), até os joelhos e cotovelos (zona 3), nos braços, antebraços e pernas (zona 4) e nas mãos e pés (zona 5). Quanto maior o número de áreas atingidas, maiores os níveis séricos de bilirrubina. A mensuração da bilirrubina transcutânea é uma maneira não invasiva de estimar os níveis séricos de bilirrubina através do bilirrubinômetro e deve ser feita na face e no esterno do RN. Esse método ainda é considerado uma ferramenta de triagem, a partir do qual se define quais RN terãos seus níveis séricos de bilirrubina dosados. É considerado importante, pois, por meio dele, diminui-se o número de bebês puncionados. Já a mensuração da bilirrubina sérica é feita para confirmar o aumento dos níveis de bilirrubina evidenciados através do exame percutaneo ou da avaliação clínica. A hiperbilirrubinemia pode ser classificada como indireta, quando apresenta níveis de bilirrubina indireta maior que 1,5 mg/dl, ou direta, quando há valores da bilirrubina direta maior que 1,5 mg/dl, sendo que ela deve representar mais que 10% do valor da bilirrubina total. Posteriormente, em um segundo momento, em determinado grupo de RN, é necessário fazer um diagnóstico etiológico, para um diagnóstico da causa da icterícia. Ela deve ser feita nos RN que apresentam icterícia nas primeiras 24 horas de vida ou valores de BT maiores que 15 mg/dl, independentemente da idade. É feito por meio de exames laboratoriais, sendo esses: a) Hemoglobina, hematócrito, reticulócitos; b) Tipagem sanguínea da mãe e do RN – sistema ABO e Rh (antígeno D); c) Coombs direto no sangue do cordão ou do RN; d) Coombs indireto se mãe Rh negativo; e) Teste de função hepática – TGO, TGP; f) Sorologias para STORCH; g) Avaliação para sepse; h) Dosagem sanguínea quantitativa de glicose-6-fosfato desidrogenase; i) Dosagem sanguínea de hormônio tireoidiano e TSH (teste do pezinho). Dentro das possíveis etiologias patológicas, as hiperbilirrubinemia indireta pode ser devido sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito (doenças hemolíticas, coleções sanguíneas extravasculares, policitemia), deficiência ou inibição da conjugação de bilirrubina. Já a hiperbilirrubinemia direta, poderia ser hepatite neonatal, atresia biliar, infecções congênitas e erros inatos do metabolismo. Tratamento com fototerapia: é feita com a colocação do bebê num pequeno bercinho onde fica completamente nu, usando somente fralda, ficando exposto a uma luz especial. Enquanto o bebê estiver exposto a esta luz fluorescente ele deve permanecer com os olhos vendados com uma máscara protetora. Nos casos mais leves o pediatra pode recomendar que o bebê fique exposto ao sol diariamente, de manhã, quando o sol ainda está fraco, sempre antes das 10 e depois das 16 horas. O tratamento pode durar 2 dias e o tempo de exposição à luz pode variar de 15 a 30 minutos de cada vez. O principal objetivo do tratamento da hiperbilirrubinemia é a prevenção da impregnação cerebral pelo pigmento amarelo e suas complicações neurológicas graves, como o kernicterus. Os fatores que determinam a eficácia da fototerapia são: – espectro da luz emitida; – irradiância da fonte de luz (distância do paciente); – área da superfície corporal do bebê exposta à luz; – distância entre o bebê e a fonte de luz; – concentração inicial da bilirrubina. Devido às propriedades da bilirrubina e da pele, a luz mais efetiva é aquela com comprimento de onda predominantemente no espectro azul O princípio básico da ação da fototerapia é a transformação fotoquímica da estrutura da molécula da bilirrubina em produtos hidrossolúveis, passíveis de eliminação renal e hepática. Somente a bilirrubina que está próxima à superfície da pele será alterada diretamente pela luz. A exsanguineotransfusão é reservada para as situações onde há risco maior de neurotoxicidade e é capaz de remover até 40% da bilirrubina pré-existente ou reservada para casos graves de falha da fototerapia ou como primeira escolha em casos selecionados. (procedimento médico pelo qual o sangue do bebê é removido e substituído por outro, de um doador compatível, para tratar condições clínicas determinadas). Já o tratamento da hiperbilirrubinemia direta dependerá da etiologia causadora. 8-DESCREVER OS MECANISMOS DE TERMORREGULAÇÃO DO RN E MECANISMOS DE MANUTENÇÃOA temperatura corporal é regulada e mantida estável pelo “centro termorregulador”, um conjunto de neurônios localizados na área pré-óptica do hipotálamo, que, por sua capacidade de integrar as informações das variações da temperatura interna e do meio ambiente, tem função de termostato, fazendo o equilíbrio fino entre a produção e a perda de calor. Os mecanismos que controlam o aumento de produção ou a conservação de calor são controlados pelo hipotálamo posterior, enquanto o hipotálamo anterior controla a perda de calor. A produção de calor no organismo é contínua, pois a principal fonte de produção de calor é o metabolismo basal, representado pela energia cinética armazenada nas ligações de fosfato de alta energia (adenosina trifosfato – ATP) derivada do metabolismo das gorduras, das proteínas e dos carboidratos. Assim, a produção de calor não é constante, sofrendo variação na dependência do tipo de alimentação e, em menor grau, pela função hormonal e pela atuação da adrenalina e do próprio metabolismo celular A estabilidade da temperatura corporal requer mecanismos de perda de calor, pois, de outra maneira, ela tenderia a elevar-se continuamente. Em ordem decrescente de importância, os mecanismos envolvidos na perda contínua de calor são: radiação: é a emissão de calor ao meio ambiente pelas ondas infravermelhas.(SBP) O calor dissipa-se do neonato para um objeto mais frio no ambiente. (MN) evaporação: é a perda de calor produzida no organismo pelo processo de evaporação da sudorese, retirando, assim, calor do corpo. (SBP) O grau de perda depende principalmente da velocidade e da umidade relativa do ar. Recém-nascidos molhados na sala de parto são especialmente suscetíveis à perda de calor evaporativa. (MN) convecção: é a transferência de calor ao meio ambiente e depende das correntes de ar que circulam em torno do corpo; (SBP) O calor é perdido da pele para o ar em movimento. A perda depende da velocidade e da temperatura do ar (MN) condução: é a troca de calor entre o corpo no contato direto com outra superfície de apoio. (SBP) Este é um mecanismo leve de perda de calor que ocorre do neonato para a superfície sobre a qual ele repousa(MN) As glândulas sudoríparas desenvolvem-se funcionalmente no sentido crânio-caudal, sendo, portanto, menor sua capacidade como fontes efetivas de perda de calor em lactentes jovens. Por outro lado, como eles permanecem a maior parte do tempo deitados, é maior a área de troca de calor por condução. Vale lembrar, ainda, que as vestes funcionam como barreira para a dispersão do calor pelas ondas infravermelhas (radiação). Por esses fatores, é mais frequente a ocorrência de hipertermia nessa faixa etária. A regulação térmica é um dos fatores críticos na sobrevida e estabilidade do recém-nascido. Em 1907, foi observado uma diminuição da mortalidade de 98% para 23%, quando os recém nascidos foram colocados em incubadoras. Normotermia • Temperatura axilar ≥ 36°C (Ministério da Saúde) • Temperatura axilar entre 36,5°C - 37,5°C (OMS, 1997) Hipotermia conforme a gravidade • Leve (potencial estresse do frio): temperatura entre 36,0 e 36,4°C • Moderada: temperatura entre 32,0 e 35,9°C • Grave: temperatura menor que 32,0°C Os neonatos a termo têm uma fonte de termogênese na gordura marrom, que é altamente vascularizada e inervada por neurônios simpáticos. Quando enfrentam estresse do frio, os níveis de norepinefrina aumentam e atuam no tecido adiposo marrom estimulando a lipólise. A maioria dos ácidos graxos livres (AGL) é reesterificada ou oxidada; ambas as reações produzem calor. A hipoxia ou o bloqueio beta-adrenérgico reduz essa resposta. Para cada 1°C de queda da temperatura corporal do recém-nascido há aumento de 28% na mortalidade neonatal. Por que o recém-nascido tem dificuldade em manter a temperatura corporal? Superfície relativamente grande em comparação ao peso, Queratinização inadequada da pele, Capacidade metabólica limitada para a produção de calor, Pequena camada subcutânea de gordura (gordura marrom), Isolamento térmico inadequado Os neonatos prematuros apresentam exacerbação dos mecanismos de perda de calor combinada com redução da capacidade de produção de calor. Esses problemas especiais na manutenção da temperatura os deixam em desvantagem em comparação com neonatos a termo; neonatos prematuros apresentam: Razão área de superfície cutânea/peso mais alta Pele extremamente permeável, o que acarreta maior perda transepidérmica de água Redução da gordura subcutânea, com menos capacidade isolante Reservas menos desenvolvidas de gordura marrom Redução da reserva de glicogênio Incapacidade de receber calorias suficientes para prover nutrientes para a termogênese e o crescimento Limitação do consumo de oxigênio quando há problemas pulmonares. Repercussões clínicas da hipotermia no recém-nascido: Medidas para evitar perda de calor Recém-nascido a termo sadio As diretrizes de cuidado térmico padrão incluem: (i) manutenção da temperatura da sala de parto em 25°C (OMS); (ii) secar imediatamente o recém-nascido (sobretudo a cabeça); (iii) retirar mantas molhadas e (iv) enrolar o recém-nascido em mantas pré aquecidas. Também é importante pré-aquecer superfícies e minimizar correntes de ar. Um gorro é útil para evitar perda significativa de calor pelo couro cabeludo, embora as evidências sugiram que apenas gorros de lã são efetivos. O exame físico na sala de parto deve ser realizado com o neonato sob aquecedor radiante. Durante exames prolongados, deve-se utilizar uma sonda cutânea servo controlada para manter a temperatura cutânea em 36,5°C. 9-RECONHECER A PERDA DE PESO EM NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS Todos os recém-nascidos perdem peso ao nascer, os bebês costumam perder até 10% do peso em função da eliminação de líquidos, principalmente água, até o sexto dia. O peso do nascimento retorna entre o 10° e o 12° dia. Mudanças perinatais na Água corporal total: Uma parcela da diurese, em recém-nascidos a termo e pré termo durante os primeiros dias de vida, deve ser considerada fisiológica. Essa diurese leva à perda ponderal de 5 a 10% em neonatos a termo e de até 15% em neonatos pré-termo. Em idades gestacionais inferiores, o líquido extracelular representa maior proporção do peso ao nascer. Portanto, os neonatos de muito baixo peso ao nascer (MBPN) devem perder maior porcentagem para manter as proporções do líquido extracelular equivalentes às de neonatos a termo. A perda de peso aumentada é possivelmente benéfica para o recém-nascido pré-termo, pois a administração excessiva de líquido e sódio (Na) aumenta o risco de doença pulmonar crônica (DPC) e persistência do canal arterial (PCA). Fontes de perda de água Perdas renais. A função renal amadurece com o aumento da idade gestacional (IG). A homeostase 0imatura de Na e água é comum nos neonatos pré-termo. Os fatores que contribuem para perdas urinárias variáveis de água e eletrólitos incluem: a. Taxa de filtração glomerular (TFG) reduzida b. Menor reabsorção de Na nos túbulos proximais e distais c. Redução da capacidade de concentrar ou diluir a urina d. Redução da secreção de íons potássio (K) e hidrogênio. Perdas extra renais. Em recém-nascidos de MBPN, a Perda hídrica insensível pode ultrapassar 150 mℓ/kg/dia devido a elevadas temperaturas ambiente e corporal, soluções de continuidade na pele, aquecedores radiantes, fototerapia e prematuridade extrema. A perda hídrica respiratória aumenta inversamente com a IG e diretamente com a frequência respiratória; em neonatos intubados, a umidificação inadequada do gás inspirado aumenta a perda hídrica insensível. Outras perdas hídricas que devem ser repostas se o volume for considerado significativo incluem fezes (diarréia ou drenagem por ostomia), líquido cefalorraquidiano (por ventriculostomia ou punções lombares seriadas) e drenagem por tubo nasogástrico ou toracostomia. Manejo hidroeletrolítico. O objetivo do manejo precoce é tornar possível a perda inicial de LEC durante os primeiros 5 a 6 dias que se reflete em perda ponderal, enquanto mantém atonicidade e o volume intravascular normais, os quais se refletem na pressão arterial, na frequência cardíaca, no débito urinário, nos níveis séricos de eletrólitos e no pH. O manejo hídrico subsequente deve manter o equilíbrio hidreletrolítico, incluindo as necessidades de crescimento corporal. Recém-nascido a termo. O peso corporal diminui 3 a 5% durante os primeiros 5 a 6 dias. Subsequentemente, os líquidos devem ser ajustados de modo que as alterações do peso corporal sejam coerentes com o aporte calórico. Deve-se monitorar o estado clínico quanto à má distribuição de água. A suplementação de Na costuma ser desnecessária nas primeiras 24 horas, a menos que haja necessidade de expansão do LEC. Os neonatos a termo pequenos para a idade gestacional (PIG) podem precisar de suplementação precoce de Na para manter um volume de LEC adequado. Recém-nascido prematuro. Deve ocorrer uma perda ponderal de 5 a 15% nos primeiros 5 a 6 dias. Depois, deve-se ajustar o aporte de líquido para manter o peso estável, até que um estado anabólico seja alcançado e ocorra crescimento. Deve-se avaliar frequentemente a resposta à terapia hidroeletrolítica durante os 2 primeiros dias de vida. Pode ser necessário repetir o exame físico, o débito e a densidade urinários e os níveis séricos de eletrólitos a intervalos tão frequentes quanto 6/6 a 8/8 horas em neonatos < 1.000 g (ver VIII.A.). A perda hídrica por meio da pele e da urina pode ultrapassar 200 mℓ/kg/dia, o que representa até um terço da água corporal total. (MN) 10-REFLETIR A RESPEITO DA IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ANTES E PÓS PARTO E DA RELAÇÃO MÃE E FILHO Do ponto de vista do desenvolvimento global da criança, as relações afetivas entre mãe e bebê, possuem grande destaque nas pesquisas realizadas por vários autores que se dedicam ao estudo do binômio mãe-bebê. O afeto é essencial na infância. Sua importância é maior nessa idade que nos períodos posteriores. A atitude emocional da mãe e seu afeto orientam o bebê, conferindo qualidade de vida à sua experiência, já que o seu aparelho perceptivo e discriminação sensorial não estão maduros. A ligação afetiva é o vínculo que uma pessoa forma com outro indivíduo específico, sendo a formação das primeiras relações entre mãe e bebê os protótipos de todas as relações sociais futuras. O apego dos pais para com seu novo bebê não é instantâneo e automático com o nascimento. Ele não é instintivo, como é difundido popularmente; o vínculo deve ser visto como um processo contínuo para que exista a conscientização de suas complexidades e possíveis armadilhas, como por exemplo: o nascimento de um bebê prematuro e/ou com patologias que possam levar a quebra desse processo, acarretando dificuldades no relacionamento pais e filhos. Os nove meses da gestação são um período útil para que ocorra uma transformação importante na mulher, de forma que ela passe de um tipo de egoísmo para outro. A preocupação por si mesma estende-se para um outro ser, que em alguns meses estará sob sua responsabilidade. Depois do nascimento, os pais irão conhecendo o seu bebê à medida que cuidam dele e o bebê, por sua vez, também responde aos estímulos dos pais. Esse intercâmbio é adquirido de diferentes modos e de forma altamente individualizada. O período de tempo para a formação do apego íntimo e recompensador varia de pais para filhos. O melhor recurso para o papel de pai ou mãe é seguindo as próprias inclinações, e o bebê sinaliza se o caminho está certo ou não. Para ser capaz de conhecer as sutilezas das necessidades do bebê é preciso cuidar da criança como um indivíduo que possui características, gestos e preferências próprias. Isso só ocorre quando há uma relação afetiva entre a pessoa que cuida e a criança, processo que começa na gravidez com a regressão, quando a mulher se prepara para receber o bebê. Um fato importante para a relação afetiva mãe-bebê é o momento em que o feto mexe pela primeira vez. Os movimentos do feto desde a décima segunda semana são precoces, bruscos em flexões e extensões, contudo a mãe só sente os movimentos do filho mais tarde e a aceitação dessa percepção é o reconhecimento da realidade do filho. Uma figura importante para a mulher durante a gestação é o seu companheiro, que também pode vivenciar sentimentos ambíguos, quando fica ciente da gravidez da mulher. Diante da situação da gravidez, os fatores emocionais vividos pelo homem são resultados de mecanismos psíquicos, que estão relacionados com experiências anteriores ao seu desenvolvimento, como também da sua (trans)formação da identidade de homem, podendo ampliar ou bloquear as emoções expressas ou negadas. , 11-DISCUTIR A IMPORTÂNCIA DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO CUIDADO COM A MÃE E BEBE Nos serviços de saúde, a prática interprofissional pode problematizar o cuidado e por consequência diminuir a reconhecida fragmentação das ações de saúde. Este movimento, por sua vez, tende a aumentar a resolubilidade dos serviços e a qualidade da atenção à saúde, pois possibilita evitar omissões ou duplicações de cuidados, evita esperas e adiamentos desnecessários, amplia e melhora a comunicação entre os profissionais, bem como o reconhecimento das contribuições específicas de cada área e de suas fronteiras sobrepostas, com a flexibilização dos papéis profissionais. Contribuindo para uma prática assistencial efetiva, a Organização Mundial da Saúde (OMS) defende que a educação interprofissional (EIP) ocorre “quando estudantes de duas ou mais profissões aprendem sobre os outros, como outros e entre si para possibilitar a colaboração eficaz e melhorar os resultados na saúde. A nova Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) de 2017 traz a equipe de Saúde da Família (eSF) como a estratégia prioritária de atenção à saúde, a qual visa à reorganização da ABS no país, seguindo os preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS). Favorece uma reorientação do processo de trabalho, com maior potencial de ampliar a resolutividade e impactar na situação de saúde das pessoas e coletividades. Composta no mínimo por médico, preferencialmente da especialidade medicina de família e comunidade, enfermeiro, preferencialmente especialista em saúde da família, auxiliar e/ou técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde (ACS). Também podem fazer parte da equipe o agente de combate às endemias (ACE) e os profissionais de saúde bucal: cirurgião-dentista, preferencialmente especialista em saúde da família e auxiliar ou técnico em saúde bucal. Equipes multiprofissionais contribuem para a integralidade da atenção pré-natal, aprimorando a qualidade do atendimento. Um desafio a falta de comunicação entre profissionais da mesma equipe e processo de atendimentos tecnicistas, atendimento centrado no modelo biologicista. Esse fator consiste em uma barreira para um atendimento de qualidade, que mesmo realizado por equipe multiprofissional, se não abranger a mulher em sua integralidade, não irá impactar nos resultados positivamente. Durante a gestação, a mulher precisa de assistência especializada e de qualidade, visando o desenvolvimento adequado da gravidez, um parto sem complicações e o nascimento de uma criança saudável. O acompanhamento pré-natal, como preconizado pelo Ministério da Saúde (MS), deve ser realizado em consultas intercaladas entre os profissionais enfermeiro e médico, sendo necessárias, no mínimo, seis consultas durante a gestação, que podem ser realizadas na UBS ou durante visitas domiciliares. O atendimento compartilhado durante o acompanhamento pré-natal apareceu nos estudos como uma alternativa para um atendimento mais humanizado e integral. A assistência multiprofissional capacitada e com cobertura ampliada é uma estratégia para qualificar a atenção à saúde e favorecer a articulação intersetorial, pois é possível detectar as necessidades individuais de cada gestante, proporcionando um atendimento holístico e humanizado. A equipe multiprofissional possibilita um pré-natal mais humanizado e amplia o olhar frente às singularidades das mulheres, assim, é necessário reconhecera gestante como um sujeito de direitos, que tem família, vivências e cultura, e que esses fatores são norteadores na adesão aos cuidados de saúde. A APS deve fortalecer seu papel como porta de entrada, garantindo o acesso e a continuidade do pré-natal, e principalmente ser mediadora do empoderamento das mulheres, a fim de que estas sejam protagonistas de suas próprias histórias. O ideal seria que os profissionais atendessem a gestante de forma integrada, em consultas conjuntas, atendimentos em turnos específicos, atividades de educação em saúde, por exemplo. Assim, o processo assistencial deve ser capaz de suprir a gestante em sua totalidade, sem a fragmentação do cuidado. É importante a capacitação dos profissionais para um processo assistencial compartilhado e uso de estratégias grupais como recursos para transmitir orientações e socializar experiências, uma vez que é restrito o período de tempo disponível do profissional de saúde para cada gestante. Anotações:
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