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E-Book 2 Pesquisa de MKT e Inteligência de Mercado Jeferson Mola NESTE E-BOOK: Introdução ������������������������3 o sIstema de Informações de marketIng e a construção da IntelIgêncIa de um negócIo ���������5 Da coleta à ação: o processo de inteligên- cia de mercado ����������������������������6 Compreendendo o ambiente de negócios � 11 Quais os benefícios da inteligência de mercado? ������������������������������� 23 consIderações fInaIs ������������� 29 síntese �������������������������� 30 2 Introdução Você já experimentou comida japonesa ou – co- mo algumas pessoas que conheço – “não come nada cru”? Não sei qual a sua opinião a respeito do assunto, mas estamos diante de um fato: goste-se ou não, a culinária japonesa é bastante popular no Brasil. A partir de tal constatação, vale a pena perguntar: até que ponto os pratos japoneses servidos em nosso país são iguais aos pratos servidos no Japão? Para elucidarmos essa questão, ultrapassaremos a barreira do peixe cru: você já provou o hot roll? (É um sushi – ou um bolinho de arroz – empanado, normalmente recheado com salmão e outros tipos de peixe). Se sua resposta for sim, terei certeza que sua experiência gastronômica aconteceu em um restaurante 100% nacional – pois hot rolls simplesmente inexistem no Japão! Eles são uma “invenção” desenvolvida para agradar o gosto e o paladar do consumidor brasileiro. Figura 1: Hot roll, uma invenção brasileira dentro da culinária japonesa Fonte: ig 3 http://i0.statig.com.br/bancodeimagens/86/je/o3/86jeo3tzc5tb2frs5qpor5zc5.jpg Assim como o hot roll, outros pratos da culinária japonesa foram “criados” em nosso país. Mes- mo pratos tradicionais dessa cozinha sofreram adaptações para melhor atender às demandas do mercado nacional: no Blog do Aeru, um guia de gastronomia japonesa da cidade de São Paulo, por exemplo, somos informados que o “sushi brasileiro” é menor que o original; que o peixe japonês – ao contrário do que vemos deste lado do Atlântico – chega quase à espessura de um dedo e que, lá, o arroz recebe menos temperos, por isso tem sabor mais equilibrado que o de um sushi “brazuca”. Atender o mercado naquilo que ele espera e deseja receber é condição para o sucesso de qualquer empreendimento, e as empresas que se propõem atuar sob essa orientação precisam contar com um sistema consistente de informações. 4 o sIstema de Informações de marketIng e a construção da IntelIgêncIa de um negócIo Segundo Kotler e Keller (2012, p. 71), “empresas com um nível superior de informações podem escolher melhor seus mercados, desenvolver melhores ofertas e executar um planejamento de marketing mais eficiente”. Isso gera vantagem competitiva. A inteligência de mercado – também denomi- nada business intelligence, ou simplesmente BI – é a estratégia de marketing por meio da qual uma empresa coleta dados do ambiente, produz informação e gera o conhecimento necessário para inovar (e desenvolver) seu negócio. Dados estão em todo lugar: no comportamen- to do consumidor, nas ações da concorrência, nas movimentações do setor, nas tendências mercadológicas. Por isso, cabe à organização sistematizar sua coleta e definir o aproveitamento das informações geradas. Há maneiras diversas de captar a informação e transformá-la em conhecimento estratégico: do treinamento da força de vendas (para que identifique e relate os acontecimentos de mer- cado mais relevantes) ao acompanhamento das 5 referências à empresa nas redes sociais, toda fonte de coleta de dados é importante. Mas a falta de sistematização na coleta desses dados pode representar um risco à empresa. Ao completar 80 anos, o hoje falecido pensador e romancista italiano Umberto Eco disse, em uma entrevista à revista Época, que “informação demais faz mal” (GIRON, 2012). Eco se referia, especificamente, à internet – segundo ele, “um mundo selvagem e perigoso”, onde “a quanti- dade de coisas que circula é pior que a falta de informação”. Na internet não existe filtro entre o que é real- mente importante e o que é irrelevante para o conhecimento. Daí que o ato de organizar um sistema de informação de mercado requer um objetivo claro, que permita cortar os excessos e selecionar apenas o que for necessário para a tomada de decisão. Da coleta à ação: o processo de inteligência de mercado Como verificamos, as fontes de informação so- bre o mercado são variadas. O primeiro passo para a organização de um sistema robusto de inteligência é definir a importância dessas fontes e estabelecer os métodos que, utilizados em cada uma, trarão não apenas quantidade, mas também qualidade de informações. 6 Kotler e Keller (2012, p. 74) entendem que uma empresa pode adotar oito medidas práticas para melhorar a inteligência do negócio. A nosso ver, essas oito medidas podem ser desmembradas em nove fontes relevantes de informação e, sob tal aspecto, uma empresa “mercadologicamente inteligente” deveria: • Contar com a força de vendas para identificar novas formas de uso de produtos, mudanças de comportamento dos consumidores ou movimen- tações específicas da concorrência. • Obter informações relevantes sobre o mer- cado (tendências, ações da concorrência ou sazonalidades, por exemplo) com distribuidores, revendedores e outros intermediários. • Contratar especialistas para a coleta de in- formações específicas (“clientes misteriosos” avaliam, por exemplo, os serviços prestados pela equipe de vendas, a limpeza das instalações, a qualidade de um produto, o tempo de espera para ser atendido etc.). • Acompanhar as ações de marketing realiza- das pelos concorrentes, ouvir o que dizem seus clientes e funcionários. • Ouvir o próprio funcionário, entender sua rela- ção com a empresa e aproveitar sua experiência para tomar decisões mais práticas. 7 • Fortalecer o relacionamento com o cliente – não apenas para acessá-lo e obter informações, mas para ser acessado por ele e, por meio das sugestões, dos comentários e questionamentos feitos, ampliar o conhecimento a respeito des- se (tão importante) público e encontrar novas oportunidades de negócios. • Usar fontes de dados governamentais, como os aspectos demográficos da população, por exemplo, para embasar melhor as tomadas de decisão. • Comprar informações de fornecedores e ins- titutos de pesquisa externos a fim de conhecer detalhes sobre participação de mercado, venda de produtos, audiência etc. • Usar a internet de forma estratégica, buscando informações sobre o mercado em sites de recla- mações de clientes (como o Reclame Aqui, por exemplo), mas também em blogs públicos, em sites que trazem o feedback de compradores a respeito de determinado produto, marca ou em- presa, em sites que trazem estudos e opiniões de especialistas etc. É fácil perceber que, com tantas fontes de coleta, a padronização de relatórios, a periodicidade de atualizações e a definição de responsabilidades (pela alimentação, análise e disponibilização das informações) são tarefas essenciais para a organização desse sistema. 8 É preciso disseminar a cultura de dados na organização: sabemos que uma boa gestão equivale à melhor decisão de uso dos recursos humanos, financeiros e estruturais de uma empresa, com o objetivo de chegar ao melhor resultado possível. Nenhum líder será um bom gestor, porém, se suas decisões forem tomadas a partir de suposições. Um ponto de vista pode ser importante – mas não pode direcionar a estratégia de um negócio. Neste artigo, a jornalista Daniela Schermann explica em detalhes o que é a cultura de dados e porque ela é importante para o crescimento organizacional: https://blog.opinionbox.com/ lideranca-nas-empresas. Já estudamos, no módulo anterior, que a coleta e a análise dos dados precedem sua comunica- ção. E vimos que essa comunicação pode ser realizada tanto de forma oral como escrita. Em um sistema de inteligência de mercado, o registro das informações é imprescindível, pois, umavez guardados, serão fontes de dados secundários para a realização de novas pesquisas e a tomada de decisões. Eis a importância de construir bons relatórios gerenciais. Mas o que caracteriza um bom relatório geren- cial? Segundo especialistas, a objetividade e SAIBA MAIS 9 a clareza são um ponto crucial: se não houver um fácil entendimento das informações ali dis- ponibilizadas, ou se o conteúdo do relatório for excessivamente prolixo, o material será pouco efetivo e, como você pode imaginar, se transfor- mará em mais um daqueles documentos que “ninguém lê” (e que, infelizmente, ainda são tão comuns no mundo corporativo). PODCAST 1 Um relatório claro e objetivo “conversa” com o leitor e, para isso, as informações que ele con- tém devem estar relacionadas aos interesses do público a que se destina – e aos objetivos que se espera alcançar a partir das informações que apresenta a esse público. Como se pode perceber, o relatório “inteligente” busca a assertividade. Muitas vezes, elementos gráficos podem contribuir de forma bastante positiva com essa proposta. Você certamente já ouviu a frase “uma imagem vale mais que mil palavras”. Talvez um pouco banalizada nos dias de hoje, essa ideia foi ori- ginalmente proferida pelo filósofo Confúcio, séculos atrás, e enaltece o poder da imagem na comunicação. Em um relatório gerencial, o uso desse tipo de recurso – mapas, tabelas, fotos, infográficos – é um aliado importante (e uma forma de facilitar a compreensão da mensagem). 10 https://famonline.instructure.com/files/99175/download?download_frd=1 O receptor de uma mensagem tem seus deveres – mas o emissor também é responsável pela clareza da comunicação e, por isso, é preciso que as informações sejam repetidas periódica e frequentemente. Essa periodicidade varia de acordo com o objeto de análise: o nível de sa- tisfação dos clientes ou suas percepções em relação a determinado lançamento requerem, por exemplo, atualizações mais frequentes que a observação dos hábitos de consumo de uma população. O fato é que, coletados, controlados e qualificados os dados, estes se transformam em informa- ções. Analisadas à luz da visão e dos objetivos estratégicos da organização, estas informações deverão ser regularmente divulgadas, pois será a partir de sua divulgação que o conhecimento se estabelecerá, que a empresa construirá inte- ligência em relação ao mercado e, dessa forma, tenderá a tomar melhores decisões. Compreendendo o ambiente de negócios Não se pode falar de inteligência mercadológica sem tratar da gestão estratégica de uma organi- zação. Como você notou, por meio de pesquisas constantes e focadas, a empresa constrói uma base de dados consistente, usa esses dados como fonte de informações relevantes e, a partir daí, estabelece seus planos de atuação. 11 Até que chegássemos à gestão estratégica, porém, o planejamento administrativo passou por várias fases: • Entre as décadas de 1950-60, o enfoque do planejamento estava no controle financeiro. Sob essa diretriz, as empresas contavam com um orçamento anual e todas as ações de marketing estavam atreladas à disponibilidade de recursos financeiros dentro de determinado período. A ênfase, nesse momento, estava voltada ao cumprimento de orçamentos e os investimentos adquiriam caráter muito mais tático e operacional do que estratégico. • A partir dos anos 1970, mudanças sociocultu- rais, econômicas e políticas levaram as organiza- ções a enxergar o mercado sob outro prisma: se o planejamento financeiro era importante para a saúde da empresa, a capacidade de assumir riscos e buscar oportunidades era uma forma de ampliar essa saúde e investir em crescimento. A ênfase dos negócios passa da resolução dos assuntos do dia a dia para a projeção do que a empresa deverá fazer no futuro: é o planeja- mento a longo prazo, que estuda as tendências e privilegia a capacidade de criar projetos que preencham lacunas de mercado. Em relação ao planejamento financeiro das décadas anteriores, o planejamento a longo prazo é um avanço. Mesmo assim, ele possui limitações, pois – parte pela inexperiência dos executivos, parte 12 pela falta de tecnologias e técnicas de pesquisa mais avançadas – as mudanças são um grande enigma. Imprevistas, tornam-se surpreendentes e, causando surpresa, impedem os planos de evoluir dentro do esperado. • Foi a partir dos anos 1980, com o desenvol- vimento das tecnologias da informação, que o planejamento a longo prazo se transformou, efetivamente, em planejamento estratégico. Sob esse enfoque, a definição de uma estratégia se dá a partir da compreensão do ambiente e da influência que esse ambiente tem sobre o negócio. É a análise das competências organizacionais – e, também, das fragilidades da empresa – que impulsionará o pensamento estratégico, definirá os passos a seguir e levará à ação. Nos proces- sos de planejamento estratégico, a inteligência é fator chave para o sucesso do empreendimento, pois as decisões dependem de estudos críticos e detalhados, simulações, planos e alternativas. • Quando, na década seguinte, as organizações percebem que o planejamento só será “estraté- gico” quando toda a organização estiver integra- da – em relação aos processos, aos recursos e às pessoas – chegamos ao conceito exato de gestão estratégica. Gerir um negócio de forma estratégica significa entender a informação co- mo elemento primordial do processo decisório e aceitar o conhecimento como recurso funda- mental do bom desempenho. Gestão estratégica 13 envolve controle financeiro, visão de longo prazo, análise do ambiente... e comunicação integrada. Se, nos anos 1950-60, as decisões eram tomadas pela área financeira, nos anos 1970 passaram a ser atribuição da área de projetos e nos 1980 se tornaram bandeira do marketing, a partir dos anos 1990 elas passaram a ser percebidas como um processo abrangente, que dissemina o conhecimento por toda a empresa, fortalece seus atores e promove a flexibilização. Estratégia, tática e operação A partir dos ensinamentos de Kotler, podemos definir planejamento estratégico como o processo que desenvolve e mantém o ajuste estratégico entre os objetivos, habilidades e recursos de uma organização, e as oportunidades e desafios que um mercado em contínua transformação apresenta a essa organização. Planejar (ou gerir uma empresa) estrategicamente ajuda a lidar com incertezas, concentrando es- forços nos objetivos do negócio e controlando seus resultados. A atenção às atividades e aos números empresariais permite que a empresa oriente suas ações para o mercado e, com isso, reveja e aprimore seus processos, identifique e persiga firmemente as oportunidades, pois, agin- do dessa forma, fortalecerá suas capacidades centrais e consolidará a vantagem competitiva. 14 As análises e decisões que permeiam esse processo se dividem em três níveis de atuação. Em cada nível, ocorre um tipo de planejamento. Tomemos uma empresa qualquer como exemplo e vejamos como esse planejamento se daria dentro da área de Marketing: NÍVEL ESTRATÉGICO Planejamento estratégico: • Aumentar a participação de mercado da empresa NÍVEL TÁTICO Planejamento mercadológico: • Desenvolver novos produtos e ampliar a rede de distribuição NÍVEL OPERACIONAL Plano de pesquisa de mercado Plano de pro- dutos e preços Plano de vendas •Plano de distribuição •Plano promocional Figura 2: Níveis estratégicos de decisão e seus objetivos de planejamento. Fonte: Elaboração Própria. Imaginemos que a área de Pessoas dessa mesma empresa estivesse realizando o seu planejamento. Estrategicamente, a meta organizacional seria a mesma: “aumentar a participação de mercado”. No nível tático, porém, o planejamento estaria focado nas atividades da própria área (poderí- amos pensar em algo como “contratar novos funcionários e capacitar a equipe interna”). Neste caso, o planejamento operacional consideraria planos relacionadosao “recrutamento e seleção de talentos”, ao “desenvolvimento dos progra- mas de treinamento”, à “revisão e atualização de cargos e salários” etc. 15 Gestão estratégica envolve a organização na to- talidade e exige que as decisões sejam tomadas com base no conhecimento: se é o conhecimento do ambiente de negócios que leva a diretoria a buscar maior participação em determinado mercado, é o conhecimento da dinâmica das áreas que direciona as gerências de Marketing e de Pessoas a definir “desenvolvimento de pro- dutos” ou “contratação de colaboradores” como táticas capazes de incrementar o market share. PODCAST 2 Da mesma maneira, é pelo conhecimento dos técnicos e supervisores que ações tão distintas quanto desenvolver um “plano de pesquisas de mercado” ou um “plano de recrutamento e sele- ção” poderão ser operacionalizadas – e contribuir efetivamente com o sucesso de todo o projeto. Conceitualmente, podemos definir estraté- gia como a arte de explorar as condições favoráveis do ambiente e usar com eficácia os recursos organizacionais a fim de atingir determinados objetivos. A tática, por sua vez, pode ser entendida como o método ou a ha- bilidade adotada para obter sucesso em um empreendimento ou situação. E a operação representa o conjunto de ações ou tarefas FIQUE ATENTO 16 https://famonline.instructure.com/files/99178/download?download_frd=1 em que se combinam os meios necessários à obtenção de determinado resultado. Sob essa ótica, podemos afirmar que a es- tratégia define um conjunto de táticas e que estas definem um conjunto de operações. Um negócio só será “inteligente” quando a relação entre as estratégias, as táticas e as operações que o conduzem for total e absolutamente integrada. Para cada nível de decisão, um nível de análise Já vimos e aprendemos: a administração de um negócio requer conhecimento. Nos âmbitos estratégico, tático e operacional, esse conheci- mento vem da captação correta e adequada de informações e das análises que, realizadas a partir dessas informações, apresentarão caminhos variados para a tomada de decisão. Entender a dinâmica do mercado e propor uma forma de atuação nesse ambiente é uma de- cisão de âmbito estratégico. Para auxiliar os gestores nessa tarefa, contamos com alguns tipos de estudo: • Análise SWOT. Com base no conhecimento das potencialidades e fragilidades da organização, na avaliação das oportunidades e ameaças que o ambiente externo representa à continuidade dos negócios, e na análise das relações entre 17 forças-fraquezas com oportunidades-ameaças, os gestores podem traçar diferentes cenários e desenvolver estratégias de atuação adequadas para cada um. • Análise das Forças Competitivas. É o estudo do microambiente externo e das relações que a empresa tem com seis grandes grupos de stakeholders: os concorrentes diretos, atuais e futuros; os concorrentes indiretos; fornecedores; clientes e a opinião pública. PODCAST 3 • Análise de Portfólio. Que unidades de negócio merecem maior atenção? Em que investir... e em que desinvestir? A análise do portfólio ajuda a entender a situação de cada negócio operado pela empresa e indica as ações mais adequa- das para eles. Relacionando a atratividade do mercado de interesse (tamanho e concentração desse mercado, taxa de crescimento, lucratividade média do setor, barreiras de entrada e saída, por exemplo) com a competitividade do negócio em si (poder de marca, imagem, posicionamento, competência tecnológica e operacional, força de distribuição, excelência na prestação de serviços e atendimento ao cliente etc.), essa avaliação analítica permite que os gestores tomem deci- sões mais assertivas e mantenham a saúde da organização. Dentre os modelos de análise de 18 https://famonline.instructure.com/files/99181/download?download_frd=1 portfólio adotados no mundo empresarial, dois se destacam: � Análise BCG. Desenvolvida nos anos 1970 pela consultoria Boston Consulting Group – daí seu nome – a matriz BCG avalia a relação entre as taxas de crescimento de determinado setor e a participação relativa da empresa nesse setor, comparativamente à concorrência. A combinação desses dois fatores indicará se a unidade de negócio sob análise se enquadra na categoria “vaca leiteira” (uma espécie de líder em um mercado estável), por exemplo, ou em outra (“estrelas”, “abacaxis” e “crianças problema” são algumas das nomenclaturas adotadas para designar as demais catego- rias). Intimamente ligada ao fluxo de caixa, a análise BCG indica não apenas a situação do portfólio empresarial, mas também que negócios merecem maior investimento, quais precisam de ações defensivas para manter sua participação de mercado, em que negócios a empresa precisa apostar e quais poderiam ser descontinuados. � Análise GE. Parente próxima da BCG, a matriz GE (de General Electric, a empresa que a criou e implementou) também relaciona a atratividade do mercado à posição competi- tiva do negócio analisado e, por meio de um trabalho que envolve o consenso entre muitas opiniões, transforma as percepções de cada 19 área da organização em dados objetivos, numéricos. Dispostos na matriz (que se com- põe de nove quadrantes com características próprias), esses dados permitem aos gestores decidir tanto por uma estratégia de proteção da posição de mercado de um negócio quanto por sua expansão mais ou menos acelerada, ou mesmo por seu abandono. PODCAST 4 Uma empresa saudável não possui apenas uma fonte de receitas: é importante que ela atenda – dentro de seu escopo de atuação, obviamente – aos interesses do(s) público(s) a que se destina. Isso pode significar que a empresa atua em frentes distintas (como o Google, que – com foco na informação – oferece de serviços de busca a assistência pessoal, passando por redes de relaciona- mento, serviços de compra, arquivamento em nuvem, estudos científicos...) ou em uma frente única (como o McDonald’s, por exem- plo, que, dos Estados Unidos à China, atua exclusivamente no setor da alimentação). Tomando por base o que acabamos de ler sobre as análises estratégicas, como você avaliaria Google e McDonald’s sob o aspecto dos cenários macroambientais (análise SWOT), REFLITA 20 https://famonline.instructure.com/files/99182/download?download_frd=1 microambientais externo (análise das forças competitivas) e interno (análise de portfólio)? Sem dúvida, são análises complexas – por isso, nossa sugestão é que você apenas reflita a respeito de cada uma e procure enxergar a situação de cada empresa sob uma nova perspectiva. PODCAST 5 E, se as análises do âmbito estratégico ajudam a organização a definir seus rumos, as análises do âmbito tático contribuem para o estabelecimento das tarefas a cumprir e das rotinas de trabalho. A matriz de crescimento de Ansoff apresenta essas possibilidades de uma forma clara: por meio dela, um gerente de produto pode definir se a equipe concentrará esforços no lançamento de novos produtos ou na expansão da rede de distribuição, por exemplo; pode avaliar o impacto de um aumento de preço ou de uma oferta no ponto de venda. Basicamente, a matriz de Ansoff permite definir ações estratégicas de • Crescimento integrativo: ampliando e diver- sificando não só o portfólio, mas também a participação da empresa (no mercado atual e/ou em mercados ainda não explorados) por meio de associações com outras empresas. Uma empresa especializada em reformas que 21 https://famonline.instructure.com/files/99185/download?download_frd=1 se associe a um fabricante de tintas e passe a comercializar também esse tipo de produto em suas obras estará, de alguma maneira, praticando uma tática de crescimento integrativo. • Crescimento intensivo: ampliando a venda de produtos regulares ou criando produtos em mercados já conquistados, mas também am- pliando a distribuição de produtos regulares em mercados ainda não explorados. Criar uma açãopromocional no ponto de venda, com distribuição de brindes atrelada à compra de um produto, é uma forma de intensificar o crescimento. • Crescimento por diversificação: investindo em negócios complementares ao atual, que potencializem o uso de tecnologias já insta- ladas, ou em negócios que, mesmo distintos do atual, atendam aos interesses de clientes já estabelecidos são maneiras de diversificar as linhas de atuação da empresa e perseguir o crescimento. No primeiro caso, a diversificação se denomina concêntrica e, de modo geral, im- plica na modernização e melhoria de processos e sistemas já existentes. Uma padaria que se adapte para produzir produtos de pastelaria e massas seria um bom exemplo de diversifi- cação concêntrica. Já o dono de uma padaria que percebesse grande demanda por produtos in natura e investisse em uma quitanda ao lado de seu estabelecimento, estaria apostando em uma oportunidade indiretamente relacionada 22 ao seu negócio e optando pela segunda forma de diversificação, que – exatamente por isso – recebe o nome de heterogênea. As análises do âmbito operacional estão intima- mente ligadas ao cotidiano e têm um caráter de auditoria. Operacionalmente, é preciso realizar a tarefa – mas, também, controlar seus resul- tados, avaliar a manutenção do processo ou a necessidade de implementar melhorias a ele, tornar pública a decisão, aplicar as eventuais mudanças... e repetir todo o ciclo (quantas vezes for preciso). Quais os benefícios da inteligência de mercado? Provavelmente você já percebeu que a coleta de dados, a organização e análise desses dados e as ações estratégicas e de controle originadas dessas análises fundamentam a inteligência empresarial. E, se percebeu essa característica, deve ter percebido, também, que inteligência requer disciplina: de que nos adianta acumular informação se, depois, não sabemos como ou em quê utilizá-la? Em artigo sobre o conceito e as oportunidades geradas por BI, a jornalista Daniella Doyle elenca dez benefícios importantes que um processo de inteligência empresarial bem desenhado pode trazer à organização: 23 1. Ajuda você a conhecer o seu negócio; 2. Melhora o processo de tomada de decisão, baseando-a em evidências; 3. Facilita o acesso e o compartilhamento de informações que darão suporte à gestão; 4. Permite análise em tempo real com navegação rápida; 5. Ajuda a identificar perdas no sistema; 6. Reduz o risco de problemas e obstáculos; 7. Entrega resultados corretos, no tempo certo, para a pessoa exata; 8. Identifica oportunidades de vendas cruzadas e de vendas diretas; 9. Possibilita respostas rápidas a qual- quer consulta de negócios; 10. Obtém informações valiosas sobre o comportamento de seus clientes (DOYLE, 2018). Sem dúvida, são benefícios importantes para qualquer negócio – por isso, a criação de um sistema de informações que alimente de forma regular um banco de dados robusto, e a organi- zação das informações nesse banco de dados de modo a proporcionar fácil (e rápido) acesso, são essenciais para a construção de uma cultura de inteligência na organização. 24 Big data e inteligência de mercado Para a empresa de tecnologia SAS, Big Data é o termo que descreve um “grande volume de dados – tanto estruturados quanto não-estruturados – que sobrecarrega as empresas diariamente”. A partir dessa definição, a empresa entende que “não é a quantidade de dados disponíveis que importa; é o que as organizações fazem com eles”. Big Data “pode ser analisado para obter insights que levam a decisões melhores e ações estratégicas de negócio” (SAS, 2019). Oracle, outra empresa de tecnologia, define Big Data como um conjunto de dados [...] tão volu- mosos que o software tradicional de processa- mento de dados simplesmente não consegue gerenciá-los”, mas que “podem ser usados para resolver problemas de negócios que você não conseguiria resolver antes” (ORACLE, 2019). Vamos imaginar uma situação para entender como esse imenso volume de dados pode ser obtido e de que maneira(s) pode ser utilizado: suponha que você acaba de comprar um tênis de corrida. Era hora de investir um pouco mais na saúde e correr sempre lhe pareceu uma ati- vidade prática, simples e agradável. Você não pagou barato pelo produto, mas, ao experimentá- -lo, sentiu que era o item de que precisava para iniciar seus treinos. Treinos iniciados, você tem se sentido melhor, mais leve e mais disposta/disposto. Num sábado, 25 após correr doze quilômetros e enquanto prova- va o suco de uma rede de lanchonetes recém inaugurada em seu bairro, você posta uma sel- fie no Instagram com a seguinte mensagem: “aproveitando para relaxar depois do treino com o tênis X”. A ação viraliza entre sua rede de re- lacionamentos e amigos que ainda não sabiam dessa sua guinada para um “modo de vida mais esportivo” entram em contato, enviam mensa- gens, dão likes na imagem. Na semana seguinte, você tem uma reunião fora do escritório e decide ir de carro. Só que não conhece muito bem a região onde o evento acontecerá e coloca o endereço em um aplica- tivo específico. Curiosamente, durante o trajeto, unidades da tal rede de lanchonetes que você conhecera no sábado passam a ser indicadas na tela de seu smartphone – o que até desperta seu apetite! Ao chegar ao local da reunião, você é direciona- do a uma sala e, antes que as outras pessoas cheguem, aproveita para acessar sua caixa de correio eletrônico. Com surpresa, vê que a loja onde comprou seus tênis acaba de enviar um e-mail marketing com uma excelente oferta de produtos específicos para corrida. No mesmo instante, um aviso sonoro indica que seu perfil nas redes sociais passou a ser seguido pela empresa que fabrica os tênis recém comprados, e uma pesquisa de satisfação surge na tela, pedindo sua opinião sobre os tênis, a loja, a lanchonete... 26 Talvez você já tenha vivido algo parecido (se não viveu situações exatamente iguais à descrita!). A Ciência de Dados – ou Data Science – permite que dados dispersos, sem estrutura definida ou qualquer relação entre si, sejam coletados de fontes variadas. A inteligência de mercado surge como o passo seguinte e, ao estruturar esses dados em um banco lógico e acessível, gera informação – nova e útil – para a tomada de decisões. Para Daniella Doyle (2019), a inte- ligência (ou o BI) “estrutura as informações [...], refina, avalia e as orienta estrategicamente para aumentar a competitividade”. Kotler e Keller (2012, p. 72) lembram que “as empresas organizam suas informações sobre clientes, produtos e força de vendas em bancos de dados – e, depois, combinam essas diferentes informações”. As informações de que a empresa dispõe a respeito de seus clientes, por exemplo – de nome, endereço e histórico de transações até comportamentos, interesses e opiniões –, permite que ela os classifique e, a partir dessa classificação, desenvolva estratégias de abor- dagem mais assertivas. Tecnologia, portanto, é outro pilar estratégico para que a inteligência de mercado se desenvolva com eficácia. E o sistema de informações de marketing é a fonte para que essa inteligência se consolide. As principais ferramentas (tecnológicas) de um sistema de informações de marketing podem ser observadas a seguir: 27 • ERP (Enterprise Resource Planning) é um sis- tema integrado de gestão que ajusta e automatiza os processos organizacionais sob perspectiva funcional (sistemas de finanças, contabilidade, produção, recursos humanos, marketing, ven- das, compras etc.) ou sistêmica (sistemas de processamento de transações, de informações gerenciais, de apoio à decisão etc.). • CRM (Customer Relationship Management) designa o sistema de informações que automatiza as funções de contato com o cliente, de modo a melhor conhecer seus hábitos e comporta- mentos e, com isso, estreitar o relacionamento – atendendo suas necessidades, antecipando-se a elas e gerando fidelização. • Data Miningdefine a atividade de “traduzir” as informações contidas em complexos bancos de dados para uma linguagem mais “acessível”. Conceitualmente, é o processo de explorar gran- des quantidades de dados à procura de padrões e variáveis que, uma vez relacionados, detectem novas combinações e ajudem a construir novos subconjuntos de dados. • Data Warehouse é uma espécie de “armazém” (warehouse, em inglês) utilizado para armazenar informações em diversos bancos de dados, po- rém de forma consolidada (ou seja, os relatórios gerados em cada banco de dados “conversam” entre si e as informações de um banco de da- dos podem ser fundidas a outro, gerando novas informações). 28 consIderações fInaIs Estudamos, neste capítulo, como os sistemas de informação de marketing são importantes para a construção de uma cultura de dados e de que maneira esses dados precisam ser organizados para que a informação gerada a partir deles tenha utilidade no desenvolvimento de estratégias que levem ao sucesso. A inteligência de mercado é um processo – sis- temático e ético – de coletar, tratar, analisar e disseminar a informação estratégica, de modo que o processo decisório seja viabilizado. Para que aconteça, gestão e tecnologia precisam caminhar juntas: Figura 3: Inteligência de mercado = Integração entre a gestão e a tecnologia do negócio Fonte: Elaboração Própria 29 síntese Pesquisa de Marketing e Inteligência de Mercado INTELIGÊNCIA DE MERCADO (ou BUSINESS INTELIGENCE – BI) é a estratégia de marketing por meio da qual uma empresa coleta dados do ambiente, produz informação e gera conheci- mento. Funciona como um processo sistemáti- co e ético que coleta, trata, analisa e dissemina a informação estratégica, de modo a viabilizar a tomada de decisão. Uma organização conta com diversas FONTES DE INFORMAÇÃO: A inteligência de mercado será mais efetiva quanto maior for a CULTURA E DADOS de uma organização. A gestão (e, também, a decisão) ocorre em três níveis: Por essa razão, as análises gerenciais seguem, também, uma hierarquização: • Força de vendas. • Intermediários (fornecedores e distribuidores). • Especialistas (especialmente contratados para esse fim). • Concorrentes. • Funcionários. • Clientes. • Governo. • Institutos de pesquisa. • Internet. Contar com um sistema de informações que pro- porcione inteligência ao negócio: • Ajuda a conhecer melhor o negócio. • Melhora o processo de tomada de decisão. • Facilita o acesso às informações de suporte à gestão. • Permite análises ágeis. • Ajuda a identificar problemas e perdas. • Reduz o risco de que problemas aconteçam ou se repitam. • Entrega resultados assertivamente. • Identifica oportunidades de negócios. • Permite a agilização de respostas. • Ajuda a compreender o comportamento do cliente. • Nível ESTRATÉGICO • Nível TÁTICO • Nível OPERACIONAL • Análises estratégicas: SWOT, Forças Competiti- vas, Portfólio. • Análises táticas: Crescimento (integrativo, intensivo e por diversificação). • Análises operacionais: ligadas ao cotidiano, têm caráter auditor. Gestão estratégica é o processo administrativo que envolve controle financeiro, visão de longo prazo, análise do ambiente... e comunicação integrada: DADOS + EVIDÊNCIAS = DECISÃO ESTRATÉGICA Tudo isto gera um grande volume de dados – muitas vezes, dispersos e não estruturados. DATA SCIENCE é a ciência que permite coletar dados sem relação aparente entre si e orga- nizá-los de forma lógica, acessível, estratégica. Algumas ferramentas tecnológicas contribuem fortemente para a construção, a manutenção e a utilização de bancos de dados gigantes: • ERP (ENTERPRISE RESOURCE PLANNING) – ou Planejamento de Recursos Empresariais. • CRM (CUSTOMER RELATIONSHIP MANAGE- MENT) – ou Gestão do Relacionamento com o Cliente. • DATA MINING – ou Mineração de Dados. • DATA WAREHOUSE – ou Armazenamento de Dados. referêncIas AERU. Comida japonesa – as diferenças dos pratos servidos no Brasil e no Japão. Blog do Aeru – Guia de Gastronomia Japonesa. Disponível em: http://blog.aeru.com.br/comida-japonesa- -as-diferencas-dos-pratos-servidos-no-brasil- -e-no-japao. Acesso em: 25 jun. 2019. DOYLE, Daniella. O que é BI – Business Intelligen- ce? Siteware. 2 mai. 2018. Disponível em: https:// www.siteware.com.br/gestao-estrategica/o- -que-e-bi-business-intelligence. Acesso em: 27 jun. 2019. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Adminis- tração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. GIRON, Luís Antônio. Umberto Eco: “informação demais faz mal”. Época. 6 jan. 2012. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/ideias/noti- cia/2011/12/umberto-eco-informacao-demais- -faz-mal.html. Acesso em: 26 jun. 2019. ORACLE. O que é Big Data? Oracle. Disponível em: https://www.oracle.com/br/big-data/guide/ what-is-big-data.html. Acesso em: 27 jun. 2019. SAS. Big Data – o que é e qual sua importância? SAS Insights. 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Blog Opinion Box. 4 ago. 2017. Disponível em: https://blog.opinionbox. com/lideranca-nas-empresas. Acesso em: 26 jun. 2019. https://www.sas.com/pt_br/insights/big-data/what-is-big-data.html https://www.sas.com/pt_br/insights/big-data/what-is-big-data.html https://blog.opinionbox.com/lideranca-nas-empresas/ https://blog.opinionbox.com/lideranca-nas-empresas/ _GoBack Introdução O sistema de informações de marketing e a construção da inteligência de um negócio Da coleta à ação: o processo de inteligência de mercado Compreendendo o ambiente de negócios Quais os benefícios da inteligência de mercado? Considerações finais Síntese bt_fwd 4:
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