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FARINGOAMIGDALITES As faringotonsilites são IVAS de ocorrência frequente e autolimitadas. Na maioria das vezes, as crianças e os adultos se recuperam rapidamente (3 a 4 dias) de uma infecção faringotonsilar, mas, ocasionalmente, podem desenvolver complicações. São mais costumeiramente de origem viral, mas podem ser causadas por bactérias, especialmente o estreptococo B-hemolítico do grupo A (EBHGA), responsável pela única faringotonsilite bacteriana para a qual o tratamento com antibióticos está definitivamente indicado, com o objetivo de prevenir sequelas supurativas e não supurativas. Apesar de a necessidade de tratamento com antibacterianos não estar presente na maioria das vezes, as faringotonsilites são exemplos típicos de prescrição inadequada de antibióticos. EPIDEMIOLOGIA Em crianças e adolescentes, em especial naqueles em que o contato e muito próximo, como nas escolas, a transmissão ocorre por meio de gotículas de saliva, com período de incubação de 1 a 4 dias. As infecções de origem viral correspondem a 75% dos casos em crianças menores de 3 anos e diminuem após a puberdade, tanto nos casos agudos quanto nos de recorrência. No Brasil, o EBHGA está presente em 24% das faringotonsilites em crianças entre 2 e 12 anos de idade ETIOLOGIA VIRAL Entre os vírus, os agentes mais comuns são adenovírus, influenza, parainfluenza, Coxsackie, vírus sincicial respiratório, herpes e vírus de Epstein-Barr. Aspectos da história e do exame físico podem sugerir a etiologia viral ou bacteriana, infelizmente com baixa especificidade e sensibilidade. Coriza, obstrução nasal, tosse, espirros, rouquidão, aftas (Coxsackie ou herpes) e sintomas gastrintestinais associam-se frequentemente a doenças virais, acompanhados ou não de elevações da temperatura corporal. Pode estar presente também exsudato na faringe e tonsilas; A base do tratamento é o alívio dos sintomas com analgésicos e/ou antitérmicos e hidratação, além de reavaliação clínica em 48-72 horas nos casos em que não houver remissão da febre. Mononucleose Infecciosa Pode ser causada por Epstein-Barr vírus (EBV), Citomegalovírus (CMV), toxoplasma, adenovírus ou vírus da hepatite. O principal é o EBV vírus, da família Herpesviriadae, que pode causar tonsilite aguda, recorrente ou hipertrofia tonsilar. Quanto mais jovem a aquisição do vírus, menos severos são os sintomas. A transmissão dos vírus ocorre por meio de troca de saliva durante o beijo ou contato próximo. O EBV infecta preferencialmente linfócitos B humanos. Após a contaminação, há um período de replicação e incubação de duas a sete semanas, com proliferação de células B infectadas. Esse processo é contido por uma consistente resposta celular imune, com aparecimento de linfócitos T citotóxicos “atípicos” no sangue. Em hospedeiro imunossuprimido, essa resposta pelos linfócitos T é limitada, e resulta em proliferação incontrolada de células B. Entre a segunda e quarta semanas, cerca de 50% dos pacientes apresenta esplenomegalia, e 30% a 50%, hepatomegalia, rash, petéquias palatais e dor abdominal. A febre e a faringite costumam durar até duas semanas, enquanto adenopatia, hepatoesplenomegalia e mal-estar podem se prolongar por até seis semanas. A infecção por EBV pode ser preditora de futuros episódios de tonsilites recorrentes e abscesso peritonsilar. O vírus pode persistir na faringe por meses ou anos como uma fonte potencial de reinfecções ou transmissão. O diagnóstico inclui: hemograma, reação de Paul-Bunnel-Davidson, pesquisa de anticorpos IgM e IgG contra antígenos do capsídeo viral (AntiVCA). IgM positivo após 10-20 dias tem alta sensibilidade e especificidade. O tratamento é baseado em suporte, hidratação e analgésicos. Repouso é importante pelo risco de ruptura esplênica. ETIOLOGIA BACTERIANA Antes dos 3 anos de idade, a prevalência das infecções bacterianas de orofaringe é baixa em virtude da proteção fornecida pela lgG materna. As faringotonsilites por EBHGA são mais frequentes na faixa de 3-15 anos de idade, e a preocupação em relação a essa etiologia deve-se ao seu potencial de causar infecções purulentas e invasivas, escarlatina, glomerulonefrite e febre reumática, sendo altamente transmissível e capaz de disseminar-se rapidamente em creches e escola. O estreptococo b-hemolítico do grupo (AEBHGA) é responsável por 20- 30% das etiologias bacterianas, haemophilus (15%), moraxela (15%), estafilococo dourado (20%), pneumococo (1 %), germes anaeróbios, clamídia e micoplasma são as bactérias envolvidas na gênese das infecções faringotonsilares. Com exceção de situações individuais, aparentemente não há necessidade de diagnóstico e tratamento de faringotonsilites causadas por bactérias que não o EBHGA. O Streptococcus viridans é a bactéria mais encontrada nas tonsilas de indivíduos sem infecção aguda, corroborando a importância da flora normal da cavidade orofaríngea para a interferência bacteriana, que é a ação de certas bactérias em relação à inibição do crescimento ou aderência de outras, potencialmente patogênicas. Nunca é demais lembrar que o uso repetido de antibióticos pode levar a um desequilíbrio dessa flora, além de contribuir para o aparecimento de resistência bacteriana. O período de incubação é em torno de quatro dias. Já a infecção por EBHGA costuma ter início súbito, febre maior ou igual a 38°C, dor de garganta e achados no exame físico que incluem hiperemia, hipertrofia e exsudato tonsilar, gânglios submandibulares aumentados de volume e dolorosos à palpação, achados mais frequentes, além de eventualmente, náuseas e vômitos, dor abdominal e cefaleia. O exame físico mostra toda a orofaringe hiperemiada, mucosa edemaciada, tonsilas palatinas com exsudato e criptas com pontos purulentos ou recobertos por secreções. Sinais de envolvimento mais extenso das vias aéreas superiores (coriza, espirros, etc.) não costumam estar presentes nas infecções pelo estreptococo. A patogenicidade estreptocócica é determinada pela proteína M, com mais de 120 sorotipos M identificados. As cepas que causam faringite em um indivíduo podem causar doença invasiva quando transmitidas a outros. As complicações da infecção pelo EBHGA resultam dos mecanismos supurativos mediados por toxinas ou imunomediadores. O EBHGA é capaz de elaborar pelo menos 20 substâncias extracelulares que afetam o tecido do hospedeiro. Entre as mais importantes estão a estreptolisina O e a S, que lisam eritrócitos e danificam outras células, como as do miocárdio. O EBHGA também produz toxinas eritrogênicas ou piogênicas, cuja atividade é similar a da endotoxina bacteriana, responsável pela apresentação clínica da escarlatina. A exotoxina A pode estar associada à síndrome do choque tóxico, e as bactericinas destroem outros microrganismos gram-positivos. As complicações das infecções por EBHGA são classificadas em supurativas e não supurativas. Febre reumática (rara em adultos) e glomerulonefrite aguda são as principais complicações não supurativas, geralmente presentes 1 a 3 semanas após a infecção. Já as complicações supurativas incluem abscesso peritonsilar, abscesso retrofaríngeo e adenite/abscesso cervical. DIAGNÓSTICO É consenso que o diagnóstico da faringotonsilite estreptocócica deve ser suspeitado conforme dados clínicos e epidemiológicos e confirmado por exame cultural (padrão ouro) ou pelo teste rápido de detecção do antígeno estreptocócico (teste rápido). Diagnostico baseado exclusivamente em sinais clínicos, é tido como impreciso e não recomendado. No exame cultural é necessário cuidado para que o material seja obtido das duas tonsilas e da parede da faringe, sem tocar em outros locais da cavidade oral. A maior desvantagem do método reside no tempo necessário para a obtenção do resultado. O teste rápido de detecção do antígeno estreptocócico é um método adequado, com especificidade de 95% e sensibilidade de 75%. Assim,um resultado positivo no teste rápido não exige confirmação por cultura e aponta para o tratamento imediato. Em crianças e adolescentes, havendo forte suspeita de infecção bacteriana, um resultado negativo com o teste rápido não exclui a etiologia estreptocócica e indica a necessidade de exame cultural. Já em adultos, em razão da incidência baixa de faringotonsilite por EBHGA e do risco muito baixo de febre reumática subsequente, o resultado do teste rápido negativo costuma ser suficiente. Essa técnica oferece extrema rapidez na obtenção do resultado (na própria consulta), mas seu custo pode ser um fator limitante. O hemograma na fase aguda pode sinalizar se a infecção é viral ou bacteriana. Nas infecções bacterianas haverá leucocitose, com desvio à esquerda e neutrofilia. Na infecção pelo Epstein-Barr vírus (Mononucleose infecciosa) se destacam os linfócitos atípicos. TRATAMENTO A antibioticoterapia suprime rapidamente a infecção, e a criança pode retornar à escola 36 a 48 horas após o início do tratamento. O tratamento com antimicrobianos encurta a fase aguda da doença, diminui o potencial de transmissão e reduz o risco de sequelas supurativas e não supurativas associadas às infecções por EBHGA. O emprego correto de antibacterianos até nove dias após o início do quadro infeccioso é capaz de impedir a febre reumática. Dessa forma, na impossibilidade de efetuar exame cultural ou teste rápido de detecção do antígeno estreptocócico (conduta ideal), recomenda-se reavaliar em 48 a 72 horas todo o paciente com quadro clínico de faringotonsilite aguda. Os antibióticos de 1 ª escolha são a penicilina e a amoxicilina. Para prevenir a febre reumática, a penicilina ou a amoxicilina devem ser administradas oralmente por 10dias, inclusive quando o paciente ficar assintomático após os primeiros dias de tratamento. A penicilina G benzatina por via intramuscular está indicada para os que não aderem ao tratamento oral pelo prazo recomendado Os novos macrolídeos (claritromicina e azitromicina) são efetivos no tratamento da doença, havendo inclusive; estudos demonstrando superioridade na erradicação do EBHGA, quando comparados à penicilina. Por outro lado, evidências recentes sobre o aparecimento de EBHGA resistentes aos macrolídeos devem restringir seu uso aos pacientes com história de hipersensibilidade à penicilina. Cefalosporinas orais de 1 ª geração (cefalexina ou cefadroxila) tomadas durante 10 dias são alternativas aceitáveis, principalmente em pessoas alérgicas à penicilina, devendo-se lembrar que até 20% dos indivíduos sensíveis à penicilina também o são às cefalosporinas. Pacientes com hipersensibilidade imediata (anafilática ou do tipo 1) à penicilina não devem ser tratados com cefalosporinas TRATAMENTO CIRURGICO A escolha entre o acompanhamento clínico continuado e a tonsilectomia no manejo das faringotonsilites recorrentes também exige uma atenção individualizada, com a definição dos aspectos positivos e negativos de cada uma das opções. Diretrizes atualizadas recomendam o procedimento para crianças que atendam os critérios de Paradise, que são: infecções recorrentes, que se repetem mais que sete vezes ao ano, ou cinco vezes por ano nos últimos dois anos, ou três vezes anuais nos últimos três anos e que se acompanharam de uma ou mais das seguintes manifestações ou testes: febre > 38ºC, adenopatia cervical dolorosa, exsudato tonsilar ou teste positivo para EBHGA, seja ele teste rápido ou exame cultural. A tonsilectomia também pode ser útil nas crianças com faringotonsilites recorrentes que não atendam os critérios de Paradise, mas que apresentam determinadas condições como febre periódica, estomatite aftosa, intolerância ou hipersensibilidade a vários antibióticos ou história de abscesso peritonsilar.
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