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UESPI – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ CAMPUS – DRª JOSEFINA DEMES CURSO: BACHARELADO EM DIREITO COMPONENTE CURRICULAR: HERMENÊUTICA JURÍDICA DOCENTE: PROF.DRº.JARDEL DE CARVALHO COSTA DISCENTE: JUAN PABLO ALMEIDA LOPES DATA: 24 / 09 / 2021 ENTREGA: 25 / 09 / 2021 2ª AVALIAÇÃO DENTRE AS QUESTÕES ABAIXO, ESCOLHA APENAS 2 (DUAS) E RESPONDA: 1 – ACERCA DA HERMENÊUTICA DE HANS-GEORG GADAMER, EXPLICITE: (5,0) A) O PROBLEMA QUE O AUTOR APONTA NO MÉTODO CIENTÍFICO Gadamer faz forte oposição ao fluxo geral do pensamento modernista e iluminista, questiona a condição do método e problematiza a superdependência da modernidade, sobre a qual, como uma matriz e um movimento procedural, surge a busca pelo conhecimento evidente. A dependência em métodos racionalmente autorizados, por todas suas vantagens progressivas e revolucionárias, incluindo a agenda modernista da liberdade política e autonomia, as aplicações da tecnologia e da ciência à medicina, se distancia do mundo que a precede. Apesar da descoberta do método apresentar algo como uma ruptura radical com o passado, o passo em si está, sob um determinado ponto de vista, junto e seria um erro esquecer que formações maiores, como a tradição por exemplo, estão sempre presentes e são o contexto apropriado, dentro do qual deve-se colocar o aparentemente radical, o revolucionário e o descontínuo. Gadamer procura questionar a auto segurança da era moderna e trabalha para reintegrar aspectos daquilo que se perdeu com a adoção das crenças iluministas. Principalmente, o que foi perdido não se tratou apenas da harmonia, o senso do mundo não dividido pelo velho e pelo novo, o clássico e o antigo, o filósofo da Idade Média e o moderno, mas sim parte de um arranjo mais unitário, a tradição. O estabelecimento de um novo método para fundamentar o conhecimento precisa sempre se reconciliar com a força mais fundamental da tradição, através da qual toda atividade cultural é apresentada e sustentada. A tradição, Gadamer diz, “tem uma justificativa que está além do fundamento racional e, em grande parte, determina as instituições e atitudes”. Contrário à ideia de que a tradição resiste ou cai diante de uma razão imparcial, Gadamer busca, em outra direção, o sentido original da tradição. Provém do latim, tradere, que significa “passar adiante”, a palavra se refere à atividade da transmissão, passar algo para a frente de geração em geração. A tradição desempenha um papel importante nos trabalhos de Gadamer, ela é sinônima de um outro elemento chave do mundo diário (o “mundo vida”), a linguagem: “a tradição não é simplesmente um processo que a experiência ensina saber e governar, é a linguagem”. Portanto, ignorar a tradição como um oposto da verdade, é ignorar que a razão pode, em si ser uma característica da tradição. A ideia de transformar a tradição em objeto de investigação sugere, erroneamente, que existe um espaço conceitual e crítico a ser encontrado fora da tradição, um ponto arquimediano a partir do qual acessa-se a racionalidade das atividades tradicionais. Nunca se consegue escapar da tradição, pois sempre se está nela. Se a tradição é um aspecto da vida social não aberto à investigação racional, então a suposição modernista de que o método orienta corretamente na revelação da verdade parece, repentinamente, totalmente questionável. Assim Gadamer faz sua crítica ao método moderno, em relação à posição e valoração que a tradição é colocada. B) A CONCEPÇÃO DE VERDADE (VERDADE SEM MÉTODO). O discurso de Gadamer sobre a verdade é uma área muito importante do seu trabalho, tanto que o nome de sua obra que trata sobre é: Verdade e Método. De acordo com Gadamer, há um problema que é a verdade se confunde com teorias filosóficas de verdade, uma das principais reivindicações de Gadamer é que o método obstrui a verdade ou, ao invés disso, um encontro básico e fundamental com a verdade é perdido quando se recorre à dependência do método, o título do trabalho mais importante de Gadamer poderia muito bem ter sido Verdade ou Método e Verdade e Método, como já citado, existe uma tensão inesgotável entre os dois, se a verdade for considerada o produto final de um método. O tratamento de Gadamer da verdade começa com o pensamento de que a mesma não pode ser capturada dentro da estrutura histórica, não pode ser algo observado de uma certa distância ou de maneira objetiva e reivindicado como sendo científica, a verdade deve ser participada ou encontrada: algo experienciado, a experiência é uma palavra escorregadia e, na filosofia, é prudente trilhar ela com cuidado, Gadamer quando discute experiência alerta para os muitos sentidos do termo posse, o que pode vir a gerar confusões. Para Gadamer, a experiência da verdade é hermenêutica até onde a parte modifica o todo, portanto, a experiência da verdade encontrada no novo, a novidade, o inesperado, está numa situação de tensão com aquilo que já foi entendido. É com o desejo de assimilar ou entender a novidade, de acordo com aquilo que já foi experenciado, que a verdade adota essa dimensão hermenêutica. A verdade, como o acúmulo dos fatos científicos e das propostas, como era o sonho dos iluministas, com a totalidade da sabedoria humana entre as capas de livro, é uma impossibilidade, pois ignora a contribuição à verdade, feita por aquele que questiona. Gadamer rejeita a ideia modernista de que a verdade é o acúmulo de experiências sob o controle do método, ele substitui isso com um discurso da verdade, como abertura à experiência, a experiência é sim uma forma de entendimento, mas o entendimento não produz conhecimento individual disso ou daquilo, ele é principalmente, auto entendimento do si para o si. Assim, o filósofo alemão, defende que a verdade não pode ser absorvida dentro de uma estrutura teórica, ela deve ser encontrada por meio de experiências, que não se configuram em repetições, mas sim por possuírem caráter único, não repetitivo, “o caráter essencial da experiência foi sua primazia, não repetitividade” esse tipo de experiência que Gadamer denomina experiência hermenêutica. Em razão disso, distancia-se do caráter experimental proveniente das ciências naturais onde algo de diferente é percebido é modificada toda a visão que se havia antes. Logo, entende-se que Gadamer deixa de lado o método na sua definição de verdade e pauta-se na já citada experiência hermenêutica para que seja entendida. C) ALGUMAS DAS CONTRIBUIÇÕES DE GADAMER PARA O DIREITO O Filósofo alemão Hans-Georg Gadamer é considerado um dos maiores expoentes da hermenêutica e possibilitou uma reestruturação no processo interpretativo, principalmente com sua obra: Verdade e Método. Assim como Sócrates, Gadamer colocou grande ênfase na filosofia como atividade prática, conversação viva, resultando em muita tolerância em entrevistas e diálogos. Contribuiu para o Direito com a atribuição de sentido, já que a intenção da hermenêutica jurídica não é extrair o sentido da letra da lei, mas atribuir um sentido determinado de acordo com que o ser é no mundo, os benefícios dessa atribuição de sentido alcançam bem as interpretações jurídicas atuais. Outra contribuição de suma importância jurídica que veio de Gadamer foi a interpretação contextualizada, já que lançou a distinção entre a interpretação prática da norma (seca) e a interpretação contextualizada, a última seguindo características da tradição do intérprete, “em que interpretar permite ser compreendido progressivamente como uma autocompreensão de quem interpreta”. Além disso, suas contribuições para a hermenêutica no geral também são relevantes, sendo: os conceitos sobre tradição, preconceito, autoridade, a verdade sem métodos e a fusão de horizontes, o diálogo e a linguagem. 2 – ACERCA DA HERMENÊUTICA JURÍDICA EM HABERMAS, EXPLICITE: (5,0) A) O PAPEL DA ÉTICA DO DISCURSO NA FORMAÇÃO DA VONTADE POLÍTICA.B) O PAPEL DA ESFERA PÚBLICA PARA O DIREITO. C) OS PERIGOS DE UMA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA CENTRADA EXCLUSIVAMENTE NO JUDICIÁRIO. 3 – ACERCA DA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL DE PETER HABERLE, EXPLICITE: (5,0) A) QUEM DETÉM A LEGITIMIDADE DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL No entendimento de Haberle é impossível que exista uma Constituição democrática que esteja desvinculada de uma interpretação pública nutrida pelas mais diversificadas esferas sociais, o que implica dizer que qualquer interpretação constitucional só terá legitimidade, se traduzir a pluralidade da esfera pública e da realidade. Sendo assim, o conceito de interpretação constitucional deve ser entendido, da forma mais ampla possível já que engloba em sentido estrito não só os processos jurídicos correntes, ou melhor, os ventilados diante dos tribunais, mas, os mais amplos, em que os cidadãos se fazem presentes de forma ativa e passiva, especialmente no tocante aos atos da comunidade política. Emerge uma concepção de interpretação jurídica em que cidadania e os órgãos judiciais especializados estão entrelaçados de maneira forte, algo que além de democratizar o próprio direito, também reduz os riscos do tecnicismo, tal preocupação centra-se no fato de que “uma Constituição só poderá adquirir um significado adequado para seu tempo, se suas mutações forem resultado do diálogo entre Tribunais, opinião pública e outras instituições sociais”. Levando em conta o que Haberle entende, para a legitimidade é necessário também que a linguagem jurídica esteja acessível a todos os cidadãos, uma Constituição democrática deverá conter elementos procedimentais que assegurem aos seus cidadãos a participação nos processos de interpretação constitucional, sempre havendo a preocupação com a manutenção do pluralismo, como também de uma democracia plural. Para Haberle, os parlamentares devem ser entendidos como intérpretes da Constituição na medida em que fomentam o processo, provocando mudanças e renovações, algo que abre a estes, um maior campo de possibilidades em relação ao juiz constitucional que se encontra limitado em muitos pontos, pelo tecnicismo inerente às normas jurídicas. Haberle pensa um legislador esclarecido e pautado na ética, alguém compromissado a um diálogo honesto e voltado para um equilíbrio de interesses. De acordo com o jurista alemão, um legislador deverá trabalhar pela tolerância, pelo respeito às liberdades, no intuito de fortalecer o bem comum. Sendo assim, o parlamento também tem sua cota de contribuição para o aperfeiçoamento da Constituição. Ainda argumenta Haberle que é dever da Corte Constitucional “interpretar a Constituição em correspondência com a sua atualização”. Órgãos estatais e esfera pública devem estar em conexão sendo papel central da Corte Constitucional “controlar a participação dos diferentes grupos na interpretação da Constituição, de forma que, na sua decisão, se levem em conta, interpretativamente, os interesses daqueles que não participam do processo ativamente (interesses não representados ou não representáveis)”. Então deve surgir uma plataforma altamente horizontal permitindo a participação de todos não importando a esfera social, o que significa que as pressões públicas e “influências sociais” a que estão submetidos os juízes, por exemplo, devem ser lidas não apenas como uma ameaça a independência funcional deles, mas sim, como elementos fiscalizadores que evitam em grande medida, o livre-arbítrio dos magistrados, como também propõem soluções, refinando a Constituição. Por fim, Haberle expõe seu entendimento de quem deve interpretar e a maneira, para que assim haja legitimidade, destacando veementemente que todos devem ter seus interesses representados, seja de forma direta ou não, havendo a manutenção do pluralismo, e uma interpretação plural. B) COMO É FEITA UMA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ABERTA É importante de início, partir do pressuposto que o tempo tem que ser levado em consideração, se o tempo for deixado de lado a interpretação constitucional pode ficar obsoleta e perder a sintonia com problemas a esfera pública, ter entendimento que os fatores sociais são importantíssimos para uma interpretação constitucional aberta. Uma teoria constitucional aberta deve integrar automaticamente o possível, ou seja, deve se perguntar acerca de como pessoas e grupos concretos podem efetivar seus projetos no âmbito do Estado constitucional, isso significa ter de levar em conta as inúmeras possibilidades que podem emergir no âmbito de uma democracia pluralista, de forma que não há ninguém com a verdade final, pois isso implicaria engessar o pensamento e a vida social. O pensamento possibilista tem uma enorme contribuição para o Direito, bem como para uma interpretação aberta da constituição, pois seu grau de abertura e pluralidade capacita e fortalece a ciência jurídica auxiliando a reelaborar e aperfeiçoar seus conceitos, como tolerância, respeito, representatividade de interesses, direitos sociais, culturais básicos e das minorias. Assim, todas as perspectivas devem ser colocadas sob o crivo da racionalidade, não importa se são propostas de um tempo mais antigo. Todos devem ser ouvidos, independentemente da esfera social ou cultural. Isso implica dizer que “esta forma de filosofia alternativo-possibilista pressupõe um modelo de Constituição sempre aberto, como também deve ser o modelo de Estado, o de sociedade, de pensamento e do filosofar, de modo a criar por si mesma uma abertura”. Enfim, uma teoria constitucional pluralista deve criar, os meios para conservar e recriar continuamente condições de liberdade para todos os cidadãos em vistas à consecução de um justo e razoável equilíbrio de interesses, assim como para a salvaguarda da Constituição através dos tempos e para poder desenvolver os bens públicos de todo ser humano em relação ao seu próprio bem e em benefício da comunidade. Logo, uma teoria constitucional aberta deve procurar entrelaçar interpretação constitucional e teoria democrática de forma a evitar os perigos do tecnicismo, autoritarismos e a tirania. Em uma última análise para que se ocorra uma interpretação constitucional aberta é indispensável partir da observação de fatores relevantes, importantes para toda a comunidade e variados grupos sociais, sendo observado o tempo e a situação, instrumentos que evitem o engessamento da Constituição tornando-a obsoleta, valorar o pressuposto de que ninguém detém o monopólio da interpretação constitucional, Haberle amplia o círculo de intérpretes de forma que todos sejam chamados a darem suas contribuições, o que integra de imediato, o que ele intitula de pensamento possibilista, já que ninguém possui verdade ou interpretação absoluta todos os pontos devem ser observados e valorados, tendo representação de forma direta ou indireta, desde que haja a abertura para que venham a estar presentes no debate. C) A RELEVÂNCIA DE UMA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL DEMOCRÁTICA É tamanha a relevância de uma interpretação democrática, e no caso do Estado Democrático de Direito mais presente nas sociedades ocidentais, é indispensável, uma interpretação constitucional democrática para que todos tenham seus direitos representados e debatidos, esse tipo de interpretação humaniza e flexibiliza as interpretações e aplicações, ao mesmo tempo que potencializa a participação cívica, há um compromisso com uma esfera pública atuante, na medida que o cidadão não é visto como ser passivo, mas sim, ativo diante dos problemas da sociedade civil, neste sentido, quanto mais esferas sociais fornecendo novas interpretações, mais democrática sejam as interpretações, mais ricas haverão de ser as possibilidades de interpretação da Constituição. Portanto, mais viável de evitar que a interpretação e consequentemente a Constituição fique engessada, ou obsoleta, como também evitar “egoísmos” e interpretaçõesque não respeitem os direitos alheios, a interpretação quanto mais democrática, mais plural e assim respeitando mais e visualizando melhor todos os agentes e instituições sociais, bem como a população individual e coletivamente, deverá haver a potencialização do processo de interpretação da Constituição gerando novas possibilidades para além das instituições formais pautadas em grande medida, no monismo e tecnicismo jurídico, em vez dos Tribunais Constitucionais renovarem a Constituição a partir de um solipsismo pueril, devem é criar formas plurais de interpretação que ajude-os a resolver os dilemas sociais e políticos.
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