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DEFINIÇÃO Apresentação das operações farmacêuticas de uso geral, como massa e volume, utilizadas no laboratório de Farmacotécnica para a manipulação de medicamentos. Operações de pesagem e volume: equipamentos, vidrarias e utensílios. Operações propriamente ditas de preparo e desenvolvimento das formulações farmacêuticas. Operações mecânicas e físicas: equipamentos, vidrarias e utensílios. PROPÓSITO Descrever as operações farmacêuticas de uso geral, pesagem e volume. Relacionar as operações propriamente ditas de separação e de divisão. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer as operações farmacêuticas de uso geral e suas aplicações para a manipulação de medicamentos MÓDULO 2 Identificar as operações farmacêuticas propriamente ditas e sua utilização no preparo e desenvolvimento das formulações farmacêuticas em escala artesanal e industrial INTRODUÇÃO Nossa jornada pela Farmacotécnica começará agora pelas operações farmacêuticas. Você sabe como triturar um pó? E filtrar uma solução? Você sabe preparar as plantas para a obtenção de uma tintura? Para a fabricação de um medicamento, é necessário grande conhecimento técnico, e isso envolve diversas fases: conhecer as características físico-químicas do fármaco, determinar a forma farmacêutica definida de acordo com a via de administração, realizar os cálculos necessários para o preparo da medicação e compreender as técnicas aplicadas para o desenvolvimento dessa forma farmacêutica. Essas técnicas são mais conhecidas como operações farmacêuticas. Neste tema, estudaremos como utilizá-las, quais os equipamentos e utensílios envolvidos em cada etapa de fabricação e as principais vantagens e desvantagens de cada técnica. As operações farmacêuticas estão divididas em dois grandes grupos: operações de uso geral e operações propriamente ditas. Como o próprio nome diz, as operações de uso geral envolvem várias técnicas relativamente comuns em laboratórios, como as de pesagem e volume. As operações propriamente ditas podem contemplar pequenas técnicas utilizadas em escala laboratorial ou artesanal, como a mistura de pós em um gral de porcelana, e técnicas industriais mais complexas, que envolvem associações de mais de uma etapa ao mesmo tempo, como a secagem em leito fluidizado ou o revestimento de comprimidos. Sigamos juntos nessa jornada de conhecimento, que irá ensiná-lo não somente o conhecimento das técnicas de preparo de um medicamento, mas o transformará em um farmacêutico completo. MÓDULO 1 Reconhecer as operações farmacêuticas de uso geral e suas aplicações para a manipulação de medicamentos OPERAÇÕES FARMACÊUTICAS O preparo dos medicamentos envolve algumas técnicas denominadas de operações farmacêuticas. Elas são necessárias para transformar o fármaco em uma forma farmacêutica definida, garantindo a qualidade da preparação final e a eficácia do medicamento. Essas operações estão divididas em dois grandes grupos: Operações de uso geral, que incluem a pesagem e as medições de volumes. Operações propriamente ditas, que contemplam as operações mecânicas e as operações físicas. As operações mecânicas são ainda subdividas em outros dois grupos: as operações de separação e as operações de divisão. Essas operações consistem em mudar o aspecto do fármaco sem modificar o seu estado físico ou sua constituição química, como, por exemplo, a pulverização. As operações físicas são aquelas que alteram o estado físico do fármaco, como quando um fármaco na forma sólida é dissolvido em um veículo líquido. Essas operações também se subdividem em dois grupos, as que envolvem alteração com temperatura e as com a intervenção de um líquido (PRISTA, 1995). A Figura 1 apresenta um esquema com um breve resumo dessas operações. Figura 1: Esquema das principais operações farmacêuticas OPERAÇÕES DE USO GERAL Conforme já visto anteriormente, as operações de uso geral são de uso comum nos laboratórios mais diversos. Elas incluem as operações de pesagem e as medições de volume. PESAGEM A pesagem é uma operação muito simples e rotineira dentro de um laboratório de farmácia, mas, para que tudo funcione bem e as pesagens sejam corretas e precisas, uma série de cuidados e procedimentos técnicos devem ser respeitados e realizados diariamente, como a manutenção e a calibração dos instrumentos de medição. É fácil compreender que esta técnica depende exclusivamente de um instrumento de medida chamado balança. A sexta edição da Farmacopeia Brasileira (2019) apresenta, em seu Volume I, todas as observações, os cuidados e as normas técnicas para se efetuar uma determinação de massa com qualidade, precisão e exatidão (BRASIL, 2019). RELEMBRANDO Vamos recordar os conceitos de precisão e exatidão? Para os leigos, essas duas palavras acabam tendo o mesmo significado e são usadas com o mesmo objetivo. Porém, para profissionais das áreas técnicas como nós, farmacêuticos, engenheiros, químicos e cientistas, esse conceito é diferente, de acordo com o Inmetro, para a operação de pesagem e demais outras atividades científicas em laboratório. Precisão – parâmetro que analisa a proximidade ou concordância entre várias medidas efetuadas em equipamentos iguais ou similares, sob determinadas condições. Exatidão – parâmetro que analisa o grau de concordância entre determinado valor medido e o valor real de uma amostra. A melhor forma de entendermos isso é analisando a figura a seguir: Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamenta as Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos (BPF) e as Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano. Com essas regulamentações, as balanças de precisão são consideradas equipamentos mínimos de exigência para os laboratórios das farmácias magistrais e de controle de qualidade (BRASIL, 2007). A pesagem é uma operação farmacêutica de uso geral para verificar a massa das matérias- primas que serão utilizadas na preparação de uma forma farmacêutica (Figura 2). Figura 2: Exemplo de pesagem A balança é um instrumento de medida utilizado para determinar as massas das mais diversas substâncias. Elas podem ser de vários tipos, classificadas de acordo com sua capacidade, sensibilidade e precisão. O quadro a seguir exemplifica um pouco melhor isso (PRISTA, 1995). QUADRO 1: CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS TIPOS DE BALANÇA Categorias Refere-se ao peso máximo e mínimo de uma balança. Sensibilidade Refere-se à mudança mínima no marcador digital da balança digital, indicando que o último dígito é um algarismo não confiável. Precisão Refere-se à reprodutibilidade da escala de uma balança. Fonte: Anvisa, 2019 (adaptado) javascript:void(0) REPRODUTIBILIDADE Reprodutibilidade de um método ou uma análise pode ser considerada um sinônimo de precisão. É a capacidade de concordância entre os resultados encontrados em determinada medição. A balança de precisão (Figura 3) é um item indispensável para qualquer farmácia de manipulação ou laboratório de controle de qualidade. Deve também apresentar capacidade e sensibilidade de acordo com essa precisão e conter certificado de calibração atualizado anualmente, conforme a legislação vigente. De acordo com a capacidade e sensibilidade apresentadas, as balanças também podem ser definidas como analíticas e semianalíticas (Figura 4). Como regra geral, portanto, comercialmente, existem três tipos de balanças: de precisão, semianalíticas e analíticas. A diferença principal entre elas é justamente a faixa de precisão (LE HIR, 1997). PRECISÃO Balanças que apresentam precisão ou capacidade de reprodutibilidade bem definidas. SEMIANALÍTICAS Três casas decimais. Exemplo: 0,001g. ANALÍTICAS Quatro ou cinco casas decimais. Exemplo: 0,0001g ou 0,00001g. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Figura 3: Balança digital eletrônica de precisão Figura 4: Balança digital eletrônica semianalítica Ainda de acordo com a sexta edição da Farmacopeia Brasileia (2019), para pesagensque não exijam tanta precisão, pode-se usar as balanças mais comuns de precisão ou as semianalíticas, respeitando sempre as suas respectivas capacidades. Já para medidas mais exatas na determinação de massas iguais ou maiores a 50mg, deve-se utilizar balança analítica de 100 a 200g de capacidade e 0,1mg de sensibilidade. Agora, para quantidades inferiores a 50mg, deve-se utilizar balança analítica de 20g de capacidade e 0,01mg de sensibilidade (Figura 5). Figura 5: Balança digital eletrônica analítica Observe melhor na tabela a seguir: TABELA 1: DETERMINAÇÃO DE MASSAS E CAPACIDADE DAS BALANÇAS Medidas Balanças Sensibilidade > ou = 50mg Capacidade de 100 a 200g 0,1mg < 50mg Capacidade até 20g 0,01mg Atualmente, com o desenvolvimento tecnológico, as balanças digitais eletrônicas são as mais indicadas para uso em laboratórios de farmácia devido à facilidade de manuseio, ao menor custo e à precisão. No passado, este procedimento era muito mais complexo e dependia da técnica e do conhecimento do operador, uma vez que as balanças eram muito mais rudimentares e bem menos precisas, conhecidas como balanças de dois pratos (Figura 6). Figura 6: Balança antiga de dois pratos. Mesmo assim, uma série de cuidados deve ser observada em relação ao método de pesagem e à localização de instalação das balanças. Elas devem ser colocadas, preferencialmente, em salas específicas para a pesagem com controle de temperatura e umidade, livres de correntes de ar, em bancadas com sistema amortecedor que evitem a trepidação e niveladas (Figura 7) (BRASIL, 2019). Figura 7: Mesa antivibratória. MEDIDAS DE VOLUME DE LÍQUIDOS As medidas de volume nos laboratórios de farmácia, química e de controle de qualidade são operações de uso geral, muito utilizadas e comuns em suas rotinas diárias. Essas medidas podem ser divididas de duas formas, em grandes quantidades e pequenas quantidades. Os instrumentos e utensílios para essas atividades podem ser de vidro ou de plástico. Os instrumentos de vidro apresentam maior qualidade, precisão e exatidão frente aos de plástico, mas têm a desvantagem de quebrarem. Conheça, a seguir, os instrumentos mais utilizados para as medidas de volume em um laboratório. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO DE VOLUME MICROPIPETAS Instrumento de alto rigor e alta precisão nas medidas de volume. Podem apresentar volume fixo ou variável. Utilizado para: pequenas quantidades PIPETA VOLUMÉTRICA Instrumento de maior rigor na medida. Volume fixo. Utilizado para: pequenas quantidades PIPETA GRADUADA Instrumento de rigor na medida. Inferior à pipeta volumétrica. Volume variável. Utilizado para: pequenas quantidades PROVETA Instrumento de medida de volume de menor rigor. Volume variável. Utilizado para: grandes quantidades BALÕES VOLUMÉTRICOS Instrumento utilizado para o preparo de soluções com precisão. Volume fixo. Utilizado para: pequenas e grandes quantidades Fonte: PRISTA, 1995 (adaptado) OBSERVE QUE O QUADRO ANTERIOR NÃO APRESENTA UMA VIDRARIA DE USO EXTREMAMENTE COMUM NOS LABORATÓRIOS EM GERAL, QUE É O BÉQUER (FIGURA 8). POR QUE ISSO ACONTECE? Figura 8: Béqueres Apesar de ser uma vidraria muito comum nos laboratórios e apresentar, em alguns casos, até uma graduação impressa, o béquer não pode ser considerado um instrumento de medição de volume e só deve ser utilizado para atividades mais gerais dentro dos laboratórios, como pesagem e mistura de líquidos, por exemplo (PRISTA, 1995). MENISCO Nas medições de volume, uma técnica muito importante deve ser conhecida, que é a determinação do menisco (Figura 9). Todos os recipientes utilizados para as medicações de volume, de vidro ou plástico são graduados através da técnica do menisco (PRISTA, 1995). O menisco consiste na porção côncava formada na superfície de um líquido em um recipiente graduado por conta das forças de superfície que o líquido exerce. Identifique melhor essa situação na figura a seguir: Figura 9: Menisco Para as medidas de volume serem exatas, é preciso levar em consideração o ajuste correto do menisco, no qual a curva mais baixa deve tangenciar a borda superior da marca de volume. Os erros mais comuns podem ser observados na figura a seguir. Figura 10: Erros comuns na determinação do menisco Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre a balança analítica e não analítica e como utilizar a vidraçaria. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Identificar as operações farmacêuticas propriamente ditas e sua utilização no preparo e desenvolvimento das formulações farmacêuticas em escala artesanal e industrial OPERAÇÕES FARMACÊUTICAS PROPRIAMENTE DITAS As operações farmacêuticas propriamente ditas são aquelas efetivamente utilizadas para a transformação de um fármaco em um medicamento. Geralmente, mais de uma operação é necessária para a finalização deste processo. Essas operações são divididas de acordo com a sua natureza em: preliminares, principais e acessórias (Figura 11). Figura 11: Esquema das operações farmacêuticas propriamente ditas De acordo com o processo de fabricação, uma mesma operação pode ser classificada de mais de uma maneira, como é o caso da tamisação, que pode ser uma operação principal ou acessória. Porém, vamos compreender isso melhor nos próximos itens. Iniciaremos com as operações mecânicas de separação. OPERAÇÕES MECÂNICAS Anteriormente, verificamos que as operações mecânicas são aquelas que modificam o aspecto exterior das drogas sem alterar o seu estado físico ou a sua constituição química. Elas podem ser subdivididas em operações mecânicas de separação e operações mecânicas de divisão. O esquema a seguir apresenta um resumo para que você possa verificar as operações mecânicas (Figura 12). Começaremos a estudar agora as operações mecânicas de separação. Figura 12: Esquema das operações farmacêuticas mecânicas OPERAÇÕES MECÂNICAS DE SEPARAÇÃO SEPARAÇÃO DE CORPOS SÓLIDOS O OBJETIVO DA OPERAÇÃO MECÂNICA DE SEPARAÇÃO DE CORPOS SÓLIDOS É AFASTAR PARTES INERTES OU ALTERADAS QUE ACOMPANHAM AS DROGAS, PRINCIPALMENTE AS DE ORIGEM VEGETAL, OU PARA ELIMINAR SUBSTÂNCIAS ESTRANHAS. PRISTA, 1995. TRIAGEM OU MONDA Trata-se de uma operação preliminar mais comum para drogas de origem vegetal. Tem por objetivo eliminar todos os materiais contaminantes e as substâncias estranhas que possam alterar ou interferir na qualidade da droga. Pode ser realizada de quatro formas distintas (PRISTA, 1995): À MÃO Limpeza e retirada de resíduos e tegumentos de forma manual. Por exemplo, as amêndoas utilizadas para o preparo do óleo de amêndoas doce. Os tegumentos (pele) que envolvem as amêndoas precisam ser retirados, pois são ricos em taninos, que causam o efeito de adstringência sobre a pele. POR CRIVO OU TAMIS Técnica de peneiração manual, com o objetivo de retirar, por exemplo, partículas de terra presentes nas raízes de uma droga vegetal. POR VENTILAÇÃO Utilizada para separar poeira e resíduos leves presentes, por exemplo, em sementes. Essas partículas se soltam facilmente sob ventilação. POR LAVAGEM Processo mais específico, no qual se utiliza água ou álcool para proceder as lavagens. Por exemplo, no caso do sulfato ferroso, para manter a qualidade do produto, deve ser lavado com álcool, a fim de eliminar o excesso de sesquióxido de ferro e sulfato férrico formados em contato com o ar. TAMISAÇÃO A tamisação, utilizando um instrumento chamado tamis (Figura 13), tem por objetivo separar partículas sólidas de diferentes tamanhos. TAMIS Tamis (plural tamises) é um tipo de peneira de tamanho padronizado e malhas bem definidas. São constituídos geralmente por um aro de metal, de diâmetro variável, com uma das extremidades fechadas por tecido bem tenso. No passado, diversos materiais podiam ser utilizados para fabricar esse tecido, como nylon, latão e seda. Porém, hoje em dia, os tamises para uso farmacêutico devem ser fabricados em aço inoxidável, para garantir qualidade na limpezae evitar a contaminação cruzada. NA PRÁTICA FARMACÊUTICA, A TAMISAÇÃO PODE TER DUAS FINALIDADES IMPORTANTES (AULTON, 2005). ELA PODE SER CONSIDERADA: Uma operação principal, como na separação geral de corpos sólidos; Uma operação acessória, para se estabelecer as dimensões de partículas de drogas ou fármacos, garantido maior uniformidade no tamanho dessas partículas. Esta última finalidade se torna mais importante, pois o tamanho das partículas influencia diretamente em propriedades significativas na fabricação de medicamentos, como a fluidez dos pós, o grau de solubilidade e até a biodisponibilidade do fármaco. Vamos entender agora a razão de os tamises não serem considerados simples peneiras. javascript:void(0) Figura 13: Tamises CLASSIFICAÇÃO DOS TAMISES Os tamises são classificados de acordo com o número de malhas por unidade de superfície existente, independentemente do seu diâmetro. A definição de malha pode ser considerada um pouco complexa, mas veja a Figura 14; assim, você compreenderá bem como essas medidas são estabelecidas. A representação esquemática demonstra que a malha é igual à soma do diâmetro dos fios e a distância que separa dois fios consecutivos, que é conhecida como lúmen (PRISTA, 1995). Figura 14: Determinação do tamanho da malha ATENÇÃO É importante compreender que a malha não é representada apenas pelo “buraquinho” ou pela abertura do tamis, que tecnicamente é chamado de lúmen, mas pela soma dele e do diâmetro dos fios. Isso é importante, pois, de acordo com a Figura 15, caso isso não seja levado em consideração, uma variação significativa seria encontrada entre o tamanho nas malhas. Observem, na Figura 15, que existem dois quadrados A e B, os quais possuem exatamente o mesmo número de lúmens, mas com malhas distintas, em função da diferença entre os diâmetros dos fios. Isso acarretará tamanhos diferentes das partículas, e A terá tamanhos maiores do que B (Figura 15) (PRISTA, 1995). Figura 15: Esquema comparativo do tamanho da malha Dessa forma, é possível compreender a necessidade de padronização do tamanho das malhas dos tamises. Uma vez que a globalização e o avanço tecnológico interferiram também no segmento farmacêutico, essa necessidade evoluiu para uma padronização internacional (Figura 16). Figura 16: Esquema comparativo do tamanho da malha Os tamises são, portanto, classificados internacionalmente através do número de malhas numa unidade denominada MESH. E O QUE SÃO MESH? MESH = número de malhas por polegada linear Polegada linear = 2,54cm ou 25,4mm PORTANTO, UM TAMIS QUE TENHA A CLASSIFICAÇÃO DE 20 MESH, APRESENTA 20 MALHAS EM UMA POLEGADA LINEAR OU 20 MALHAS EM 2,54CM. NESSE CASO, CADA MALHA POSSUI 0,850MM OU 850ΜM. A Figura 17 exemplifica isso, e você pode observar um tamis de 400 MESH com abertura de malha de 38µm ou 0,038mm (Figura 17). Figura 17: Tamis 400 MESH LEVIGAÇÃO Esta operação bastante antiga também é conhecida como elutriação. Neste processo, um sólido insolúvel é suspenso em um líquido, geralmente a água, e as partículas são separadas por sedimentação pela diferença de densidades. As partículas mais pesadas apresentarão uma velocidade de sedimentação maior que a velocidade ascendente do líquido e se depositarão no fundo do recipiente, enquanto as partículas mais leves tenderão a subir para a superfície. A melhor forma de se exemplificar esta técnica é a extração do ouro, que utiliza justamente este método para separar as pepitas da areia e dos demais resíduos sólidos (Figura 18). Figura 18: Técnica de levigação no garimpo de ouro SEPARAÇÃO DE SÓLIDO-LÍQUIDO OU DE LÍQUIDO IMISCÍVEIS Estas operações têm como objetivo principal separar as substâncias sólidas das líquidas ou separar duas substâncias líquidas imiscíveis entre si. Podem estar divididas em cinco tipos, conforme foi observado no esquema da Figura 12. São eles: decantação, expressão, centrifugação, filtração e clarificação. DECANTAÇÃO A operação de decantação é uma técnica utilizada para separar um sólido de um líquido ou para a separação de dois líquidos imiscíveis. É bastante comum em laboratórios de química e farmácia, mas é menos aplicada para escalas industriais, sendo utilizada, nesses últimos casos, somente através de sifões. A separação de um sólido de um líquido por decantação ocorre usualmente por escoamento ou por auxílio de pipeta, conforme representado na Figura 19. javascript:void(0) SIFÕES Utensílios em formato de cano usados no processo de separação por sifonação, em que ocorre a separação de uma mistura heterogênea sólido-líquido ou líquido-líquido imiscível, utilizando o sifão para escoar o líquido de um recipiente mais alto para um recipiente mais baixo, promovendo a separação da mistura. Para que a decantação possa ser realizada, o sólido deve estar completamente depositado no fundo do recipiente e o líquido deve ser o mais transparente possível. É comum as pessoas confundirem sedimentação com decantação, mas são duas etapas distintas, primeiro o sólido deve sedimentar para, em seguida, ser decantado. Figura 19: Decantação Para a separação de dois líquidos imiscíveis, utiliza-se o funil de decantação. Os líquidos são separados por diferença de densidade, ou seja, o de maior densidade encontra-se no fundo e o de menor densidade acima dele. Dessa forma, eles podem ser separados por escoamento, conforme representado na Figura 20. Figura 20: Funil de decantação EXPRESSÃO A operação de expressão tem como objetivo separar os líquidos presentes em um corpo sólido ou de consistência mole. É muito utilizada na indústria de alimentos para a fabricação de sucos. Figura 21: Prensa hidráulica NA PRÁTICA FARMACÊUTICA, ELA É UTILIZADA NA PREPARAÇÃO DE ÓLEOS E DE ALGUNS EXTRATOS VEGETAIS. PODE SER REALIZADA EM PEQUENA ESCALA DE FORMA MANUAL, UTILIZANDO UM TECIDO APROPRIADO, OU, PARA MAIORES ESCALAS, APLICA-SE UMA EXPRESSÃO MECÂNICA USANDO PRENSAS, SENDO AS MAIS COMUNS AS PRENSAS HIDRÁULICAS (FIGURA 21) (PRISTA, 1995). CLARIFICAÇÃO A clarificação é um processo que envolve a separação ou remoção de um sólido a partir de um fluido ou de um fluido a partir de outro fluido. Entende-se como fluidos tanto substâncias líquidas como gasosas. Algumas técnicas são descritas na literatura científica para auxiliar o processo de filtração; elas estão resumidas no Quadro 3. Entretanto, atualmente, as duas técnicas mais importantes para alcançar a clarificação de um produto são a filtração e a centrifugação (Figura 21) (PRISTA,1995). MÉTODOS AUXILIARES DE CLARIFICAÇÃO POR AÇÃO DO CALOR Método mais utilizado para líquidos viscosos ou que contenham substâncias proteicas. O calor reduz a viscosidade do líquido, facilitando a sedimentação das partículas sólidas. No caso das proteínas, o calor desnatura essas substâncias, formando um coagulado que sedimenta mais rapidamente. POR AÇÃO DO CALOR APÓS A ADIÇÃO DE SUBSTÂNCIAS PROTEICAS A adição da albumina ou da clara de ovo auxilia o processo, pois, seguida da ação do calor, funciona como a primeira alternativa, coagulando a albumina e levando as demais substâncias a se depositarem no fundo do recipiente, o que facilita a separação. PELA AÇÃO DA GELATINA Muito utilizada nas concentrações de 1 a 2% em preparações ricas em taninos, a gelatina reage com essas substâncias, auxiliando sua precipitação. POR COAGULANTES SINTÉTICOS Funcionam como agentes floculantes. PELA AÇÃO DO LEITE O leite contém caseína, uma proteína que funciona com o mesmo princípio da albumina. Fonte: Prista, 1995 (adaptado) O OBJETIVO PRINCIPAL DA CLARIFICAÇÃO É AUXILIAR A SEPARAÇÃO, QUE PODE ACONTECER PARA ISOLAR E APROVEITAR OS SÓLIDOS EM SUSPENSÃO EM UM LÍQUIDO OU PARA OBTER FILTRADOS LÍMPIDOS E ALTAMENTE CLARIFICADOS. PRISTA, 1995. Vamos estudar, a seguir, os principais métodos de clarificação. Figura 22: Principais métodos de clarificação CENTRIFUGAÇÃO A centrifugação é uma operação farmacêutica de separação de sólidos de líquidos oude líquidos imiscíveis, baseada na força centrífuga de substâncias de diferentes densidades, na qual uma delas deve obrigatoriamente ser um líquido. Esta técnica é muito útil nos casos em que não se pode utilizar a decantação, por exemplo, com coloides ou partículas de tamanho muito pequeno, menores que 1µm, em que a velocidade de sedimentação é muito lenta ou ausente (AULTON, 2005). Existem vários tipos de centrífugas, mas todos eles utilizam o mesmo princípio: substituir a força gravitacional pela força centrífuga para acelerar o processo de sedimentação (Figura 23). Essa força centrífuga é gerada por um rotor e depende de alguns fatores, tais como: Raio; Densidade do material; Velocidade de rotação; Tamanho das partículas; Viscosidade. Figura 23: Tipos de centrífuga É POSSÍVEL AFIRMAR QUE A FORÇA CENTRÍFUGA ESTÁ DIRETAMENTE RELACIONADA À VELOCIDADE DE ROTAÇÃO. PRISTA, 1995. FILTRAÇÃO De todas as operações farmacêuticas estudadas até agora, é possível que a filtração seja a mais conhecida. É uma técnica muito utilizada não somente nos laboratórios de farmácia, mas também no dia a dia na casa das pessoas. Afinal, todos os dias, quando preparamos o nosso cafezinho, utilizamos a técnica de filtração. TRATA-SE DE UMA TÉCNICA BASTANTE SIMPLES EM ESCALA PEQUENA, MAS QUE PODE SE TORNAR ALTAMENTE COMPLEXA EM ESCALA INDUSTRIAL. A filtração é uma operação de separação de sólidos insolúveis em determinado fluido, que pode ser um líquido ou um gás, por meio da utilização de um material poroso com capacidade de reter o sólido e permitir a passagem do fluido. Existem algumas variações nos tipos de filtração; usaremos aqui o conceito de Aulton (2005), que utiliza dois tipos de filtração: Filtração sólido-fluido; Filtração fluido-fluido. FILTRAÇÃO SÓLIDO-FLUIDO Este tipo de filtração pode ainda ser divido em dois subtipos: filtração sólido-líquido e filtração sólido-gás. Filtração sólido-líquido: esta é a técnica mais utilizada na prática farmacêutica e apresenta inúmeras aplicações no setor. Veja, a seguir, as principais: Clarificação do produto – melhoria da aparência das soluções, aspecto mais límpido; Remoção das partículas que possam causar irritação; Recuperação de um fármaco – recristalização; Remoção de substâncias coloidais durante a extração de drogas vegetais; Esterilização de produtos líquidos e semissólidos; Detecção de microrganismos presentes em líquidos – estimar a eficiência dos conservantes. Figura 24: Filtração simples Filtração sólido-gás: esta técnica de filtração consiste na separação de poeira ou outros materiais particulados presentes em um fluido gasoso, ou seja, o ar (Figura 24). Existem duas principais aplicações da filtração sólido/gás com maior interesse na indústria farmacêutica. São elas: Remoção das partículas sólidas do ar para garantir o suprimento de ar com padrões de qualidade requeridos, tanto para equipamentos de processamento quanto para as áreas de produção; Remoção de material particulado gerado durante o processo de produção para evitar o lançamento destes materiais na atmosfera. Figura 25: Filtros de ar utilizados para a filtração sólido-gás FILTRAÇÃO FLUIDO-FLUIDO Esta técnica consiste na separação de duas substâncias líquidas, compostas por macropartículas, a partir da exclusão por tamanho ou adsorção. Pode ser líquido-líquido ou líquido-gás. As filtrações líquido-gás já citadas têm a mesma finalidade das filtrações sólido-gás no caso de equipamentos que precisam garantir a qualidade do ar, livre de partículas sólidas e de gotículas de óleo ou água que possam contaminar a qualidade do ar que entra nesses equipamentos. ATENÇÃO Vale destacar que a aplicação das filtrações líquido-líquido, no segmento farmacêutico, está mais voltada, por exemplo, à preparação de óleos aromáticos, os quais passam por um processo de filtração para remover partículas residuais de óleo e garantir um produto com melhor aparência (AULTON, 2005). FATORES QUE AFETAM A RAZÃO DE FILTRAÇÃO O processo de filtração de pequenos volumes é relativamente mais simples que um processo de filtração de grandes volumes. Mesmo assim, em ambos os métodos, uma velocidade de filtração suficientemente rápida e relativamente econômica para a escala industrial é o objetivo principal para a eficiência da filtração (AULTON, 2005). Alguns fatores interferem na velocidade de filtração e, para que possamos compreendê-los e discuti-los melhor, usaremos a equação de Darcy (Figura 26). A razão de filtração é o volume de material filtrado (V em m³) obtido por unidade de tempo (t em s): Portanto: Onde: A = Área disponível para filtração (A, m2) AP = Diferença de pressão (∆P, Pa) η = Viscosidade do fluido (η, Pas) L = Espessura do meio filtrante e qualquer depósito de material (L, m) K = constante de proporcionalidade (permeabilidade do material e do meio filtrante) Figura 26: Equação de Darcy VEJA MAIS DETALHADAMENTE OS FATORES QUE AFETAM A VELOCIDADE DE FILTRAÇÃO OU RAZÃO DE FILTRAÇÃO. 1 A velocidade de filtração é a relação entre o volume a ser filtrado, em metros cúbicos, por unidade de tempo em segundos. 2 A velocidade de filtração é diretamente proporcional à área de filtração, ou seja, um aumento na superfície efetiva de filtração aumentará a velocidade de filtração. 3 A diferença de pressão entre o meio filtrante e o material a ser filtrado pode ser aumentada mediante a aplicação de vácuo. Um exemplo disso é o funil de Büchner associado a um frasco a vácuo. 4 A viscosidade do material a ser filtrado é inversamente proporcional à velocidade de filtração. Assim, quanto maior for a viscosidade, menor será a velocidade de filtração. Uma alternativa para este inconveniente é o aquecimento brando do material, quando possível, a fim de reduzir a viscosidade do filtrado. 5 A espessura do meio filtrante afetará a velocidade de filtração, uma vez que, quanto maior for a quantidade de material filtrado retido no meio filtrante, maior será a espessura do meio filtrante, o que reduzirá a velocidade de filtração. 6 A constante de proporcionalidade poderá ser aumentada através do crescimento da porosidade do meio filtrante ao material filtrado. FATORES QUE INTERFEREM NA SELEÇÃO DO FILTRO A velocidade de filtração é certamente o fator mais importante ao longo do processo de filtração. O segundo fator é a escolha correta do tipo de filtro. Vimos que um dos fatores que interferem na velocidade de filtração é a constante de proporcionalidade, que está relacionada à permeabilidade do material a ser filtrado com o meio filtrante. Um crescimento nessa relação afeta a constante e pode aumentar a velocidade de filtração. A ESCOLHA DO MEIO FILTRANTE É, PORTANTO, UM FATOR DECISIVO PARA O PROCESSO DE FILTRAÇÃO E DEVE OBSERVAR ALGUNS FATORES LISTADOS ABAIXO (AULTON, 2005). FATOR 01 A natureza química do produto, evitando interações agressivas entre o material filtrado e o meio filtrante; FATOR 02 O volume a ser filtrado e a velocidade de filtração necessária; FATOR 03 A pressão de operação necessária interfere na velocidade de filtração; FATOR 04 javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) A quantidade de material a ser removido, podendo haver necessidade de utilizar pré-filtros; FATOR 05 O grau de filtração que determinará a porosidade do filtro; ETAPA 06 A viscosidade do produto e a temperatura de filtração. OPERAÇÕES MECÂNICAS DE DIVISÃO As operações mecânicas de divisão têm por objetivo reduzir, mecanicamente, os corpos sólidos a partículas ou fragmentos menores. De forma mais simples, sua finalidade é diminuir o tamanho das partículas. A principal técnica utilizada para isto é a pulverização (PRISTA, 1995). ATENÇÃO O tamanho de partícula de um sólido tem papel de extrema importância na manipulação farmacêutica. É um fator que interfere em diversas aplicações, como, por exemplo, na solubilidade de um fármaco, na mistura de pós, no processoextrativo de drogas vegetais, na dissolução de comprimidos e na biodisponibilidade do fármaco. Ao longo do estudo da Farmacotécnica, você conseguirá perceber a importância de conhecer e controlar o tamanho da partícula dos sólidos que compõem um medicamento e como isso interfere diretamente na eficácia de um medicamento. A Figura 27 apresenta o esquema completo das operações farmacêuticas de divisão mecânica de sólidos e líquidos. Vamos conhecer um pouco melhor as mais importantes. javascript:void(0) javascript:void(0) Figura 27: Esquema das operações mecânicas de divisão OPERAÇÕES DE DIVISÃO DE LÍQUIDOS As operações mecânicas de divisão servem para sólidos e líquidos. Como a grande maioria das preparações farmacêuticas encontra-se na forma sólida, esta apresentação tem maior importância. As formas líquidas, todavia, podem ter suas gotículas reduzidas, formando o que chamamos de um sistema disperso. Esses sistemas podem apresentar-se de três formas: Sistema sólido-líquido. Exemplo: suspensões; Sistema líquido-líquido. Exemplo: emulsões; Sistema sólido-gás ou líquido-gás. Exemplo: aerossóis. Conforme visto, a operação de divisão de líquidos pode gerar dois tipos de sistemas dispersos representados no setor farmacêuticos: as emulsões e os aerossóis (PRISTA, 1995). OPERAÇÕES DE DIVISÃO DE SÓLIDOS A principal operação de divisão de sólidos é a pulverização. Entretanto, nem sempre as matérias-primas que dão origem aos fármacos podem passar diretamente por esse processo. Uma série de técnicas preliminares são necessárias a fim de preparar a matéria-prima para o processo de pulverização propriamente dito. Essas técnicas geralmente são mais aplicadas em matérias-primas de origem vegetal (PRISTA, 1995). PULVERIZAÇÃO É a técnica de transformar uma substância sólida em um pó. Estudaremos algumas delas a seguir. TRIAGEM OU MONDA Toda a droga deve passar por uma triagem. Esta operação destina-se à separação das partes inúteis ou estranhas da droga. DIVISÃO GROSSEIRA Trata-se de uma técnica preliminar de fragmentação das drogas com o objetivo de auxiliar o processo de pulverização. Exemplos: secção, contusão, rasuração, granulação e extinção. SECÇÃO Uso de um instrumento cortante para drogas vegetais. Ex: tesoura, faca, corta-raízes. CONTUSÃO Por meio de choques repetidos. Ex: gral e pistilo ou martelo para escalas laboratoriais. Esmagador de maxilas e cilindros canelados para escala industrial. Ex: drogas vegetais, raízes, sementes. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) RASURAÇÃO Atrito contra uma superfície áspera, como uma lima ou um raspador. Ex: metais e noz-vômica. GRANULAÇÃO Apenas para metais. Fundição dos metais e passagem por uma peneira, seguido de resfriamento em água fria. Ex: zinco, prata, ouro. EXTINÇÃO Para substâncias argilosas e siliciosas. Aquecimento ao rubro e brusco arrefecimento em água fria. Provoca desagregação dos materiais e uma facilidade de pulverização. Ex: sílicas. CONHEÇA MAIS ALGUMAS DAS TÉCNICAS QUE PODEMOS UTILIZAR: SECAGEM Corresponde a uma das operações preliminares de divisão mais importante, que deve ser executada em substâncias com certo grau de umidade. Isso se faz necessário porque a umidade presente dificulta o processo de pulverização, gerando aderência dos materiais aos equipamentos. Esta operação será mais bem estudada nas operações físicas de transferência de calor. Exemplo: estufas de secagem e dessecadores. AMOLECIMENTO Esta técnica é utilizada para substâncias muito compactas ou com alta resistência. Deixa-se o material em contato com vapor d’água ou água por longo período e, em seguida, o material é seco. Exemplo: noz-vômica. ESTABILIZAÇÃO É uma operação que visa manter inalterável a composição química das drogas vegetais, melhorando sua conservação e estabilidade. Utiliza-se geralmente um processo de desnaturação enzimática, como o Método Bourquelot. ÉMILE BOURQUELOT Químico francês que desenvolveu, com outros farmacêuticos, um método para estabilizar glicosídeos dos vegetais em solução e detectá-los enzimaticamente. Uma vez que a matéria-prima passou pelas etapas preliminares que auxiliam no processo principal, o material encontra-se pronto para a etapa de pulverização. É possível observar na Figura 27 certa variedade nos métodos de pulverização, como a pulverização por almofariz e a pulverização por moinhos. PULVERIZAÇÃO POR ALMOFARIZ O almofariz é mais conhecido atualmente por gral e pistilo (Figura 28). Trata-se de um utensílio universalmente utilizado nos laboratórios para pequenas escalas que pode ser considerado praticamente um símbolo da farmácia de manipulação. Existem vários tipos de grais e pistilos que variam quanto à forma e ao material, porém o mais conhecido é o de porcelana. A técnica de pulverização em almofarizes pode ser feita por meio de contusão ou trituração (PRISTA, 1995). javascript:void(0) Figura 28: Gral e pistilo de porcelana PULVERIZAÇÃO POR MOINHOS A PULVERIZAÇÃO POR MOINHOS É A MAIS UTILIZADA NA ESCALA INDUSTRIAL. TODAVIA, COM O AVANÇO TECNOLÓGICO E O ACESSO AO DESENVOLVIMENTO, ALTERNATIVAS TÊM SIDO CRIADAS PARA A UTILIZAÇÃO DE MOINHOS TAMBÉM EM PEQUENA ESCALA E COM CUSTO ACESSÍVEL, TORNANDO DETERMINADAS TÉCNICAS ANTERIORMENTE UTILIZADAS OBSOLETAS E DESCONHECIDAS. PRISTA, 1995. Existem no mercado uma enorme variedade de tipos de moinhos, mas, nesses casos, alguns modelos tendem a ser mais utilizados na prática farmacêutica. Os tipos de moinhos baseiam- se em seus princípios de funcionamento, que podem ser observados na tabela a seguir. TABELA 2: PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DOS MOINHOS Princípio de funcionamento Descrição Moinhos Atrito Também conhecido por fricção. Pulverizam as substâncias por atrito ou fricção entre duas superfícies. Moinhos de mós, constituídos de pedras ou aço. Laminagem Possuem uma peça rolante pesada para esmagar o material. Moinhos de rolo. Cilindros metálicos. Impacto Exercem sua ação por impacto através de barras, facas ou martelos, que fazem o material colidir entre si e contra as paredes dos equipamentos. Moinhos de facas, martelo e bolas. A Figura 29 apresenta alguns desses moinhos para que você possa conhecê-los melhor. a) b) c) Figura 29: Principais modelos de moinhos: (a) moinho de bolas, (b) moinho de martelos e (c) moinho de pedras. Apesar de os moinhos dos tipos facas ou martelos serem largamente utilizados na indústria farmacêutica e em áreas afins, a preocupação e a necessidade da redução do tamanho das partículas dos fármacos requerem dimensões cada vez menores. Paralelamente, a evolução tecnológica das formas farmacêuticas para administração de medicamentos desenvolveu-se de tal maneira que exige a necessidade de micronização das partículas dos fármacos. Desta forma, atualmente, a utilização de micronizadores por ar comprimido (Figura 30) tem se demonstrado mais eficiente em promover a divisão do fármaco e a calibração de suas partículas no tamanho desejado pela indústria farmacêutica (AULTON, 2005). Figura 30: Micronizadores industriais CLASSIFICAÇÃO DE PÓS – DETERMINAÇÃO DO GRAU DE TENUIDADE DOS PÓS Vimos, anteriormente, que a tamisação pode ser uma operação principal de separação, mas ela também pode ser uma operação acessória ao processo de pulverização. Nesse caso, é conhecida como uma técnica de calibração de pós. Essa operação acessória é de grande importância para classificar o tamanho das partículas sólidas após o processo de pulverização (Figura 31) (PRISTA, 1995). Descrição dos pós Abertura nominal da malha do tamis Quantidade máxima retida Pó grosso 100% - 1,70mm 60% - 0,355mm Pó moderadamente grosso 100% - 0,71mm 60% - 0,25mm Descrição dos pós Abertura nominal da malha do tamis Quantidade máxima retida Pó semifino 100% - 0,355mm 60% - 0,180mm Pó fino 100% - 0,180mm --- Pó finíssimo 100% - 0,125mm --- Figura 31: Tabela de granulometria dos pósEmbora seja uma técnica simples, de fácil operação e relativamente barata, a tamisação tem uma limitação de uso quanto ao tamanho das partículas, uma vez que existe a dificuldade de se fabricar tamises com abertura de malhas menores que 75µm. Entretanto, você pode observar, na Tabela 3, que, segundo a sexta edição da Farmacopeia Brasileira (2019), existem tamises de até 20µm. Na prática, porém, não é bem isso que acontece. TABELA 3: ABERTURA DE MALHA DOS TAMISES Número do tamis (ABNT/ASTM) Orifício do tamis 2 9,5mm 3,5 5,6mm 4 4,75mm 8 2,36mm 10 2mm Número do tamis (ABNT/ASTM) Orifício do tamis 20 850µm 30 600µm 40 425µm 50 300µm 60 250µm 70 212µm 80 180µm 100 150µm 120 125µm 200 75µm 230 63µm 270 53µm 325 45µm 400 38µm Número do tamis (ABNT/ASTM) Orifício do tamis 500 25µm 635 20µm Fonte: Adaptado de Farmacopeia Brasileira (2019) Uma vez que o interesse em utilizar fármacos com tamanho de partícula cada vez mais reduzido vem aumentando, a utilização da técnica de tamisação por distribuição acumulativa tem se tornado cada vez mais obsoleta e descartada. TAMISAÇÃO POR DISTRIBUIÇÃO ACUMULATIVA Esta técnica consiste em sobrepor diversos tamises de tamanhos diferentes em ordem do maior para o menor e utilizar uma base vibratória. Observe a figura a seguir. Atualmente, técnicas mais rápidas e modernas têm sido utilizadas para a classificação dos pós, principalmente para aqueles que precisem ser micronizados, com partículas muito finas (< 20µm), que não podem ser classificadas pelos tamises. Essas técnicas requerem equipamentos mais sofisticados, de alta tecnologia, que utilizam a dispersão dos pós para a determinação da granulometria. Esses métodos são mais conhecidos como caracterização de partículas sólidas por dispersão de luz. É possível encontrarmos equipamentos que realizem a determinação do grau de tenuidade dos pós por quatro técnicas distintas (Figura 32): Peneirador; Difração a laser; Análise dinâmica de imagem; Espalhamento dinâmico de luz; javascript:void(0) Figura 32: Principais técnicas de determinação da granulometria dos pós OPERAÇÕES FÍSICAS QUE ENVOLVAM TRANSFERÊNCIA DE FRIO OU CALOR Estudamos até o momento uma série de operações farmacêuticas que nos auxiliam na fabricação dos medicamentos. Todavia, essas técnicas abordadas não interferiam nem modificavam o estado físico das substâncias. A partir de agora, iniciaremos o estudo das operações farmacêuticas físicas que alteram de forma transitória ou permanente o estado físico das substâncias, sem modificarem, porém, a sua composição química (Figura 33). Uma vez que essas operações podem se tornar bastante complexas e são aplicadas nas mais diversas áreas da engenharia, envolvendo muitos parâmetros físicos, citaremos todas elas, mas nos aprofundaremos apenas naquelas que possuem maior importância no segmento farmacêutico. Essas operações, geralmente, exigem a intervenção ou transferência de frio ou calor (Quadro 4) (PRISTA, 1995). Figura 33: Esquema das operações físicas por transferências de frio ou calor Observe ainda, no quadro 4, as operações físicas de transferência de frio ou calor. QUADRO 4: OPERAÇÕES FÍSICAS DE TRANSFERÊNCIA DE FRIO OU CALOR 1. Refrigeração 2. Evaporação 3. Secagem 4. Liofilização 5. Sublimação 6. Torrefação 7. Carbonização 8. Calcinação 9. Cristalização 10. Fusão 11. Destilação REFRIGERAÇÃO Esta técnica consiste em diminuir a temperatura de uma substância ou um produto e é largamente difundida nos mais diversos laboratórios (PRISTA, 1995). Pode ser utilizada para diversas aplicações, tais como: Conservação de medicamentos ou agentes biológicos (geladeira ou refrigerador); Condensação de vapores (condensadores simples ou fracionados); Secagem pelo frio (liofilização); Resfriamento de reações exotérmicas (banho de gelo); Aumento da solubilidade dos gases na água (banho de gelo ou geladeira). Existem muitas técnicas para o processo de refrigeração que podem utilizar água, ar ou gelo ou ainda as misturas frigoríficas. EVAPORAÇÃO Esta técnica é utilizada, principalmente, quando se deseja concentrar uma solução, como ocorre com a obtenção de extratos de origem vegetal. Uma alternativa interessante é utilizar pressão reduzida no sistema, pois, dessa forma, o líquido entrará em ebulição em uma temperatura menor, protegendo drogas mais sensíveis à temperatura (Figura 34). Figura 34: Rota-evaporador SECAGEM Dentre as operações físicas por transferência de calor, a secagem é, provavelmente, a mais utilizada para as preparações sólidas. Esta técnica consiste na retirada da umidade presente nas partículas sólidas de pós e grânulos. Isso se faz necessário, pois esta umidade interfere diretamente no fluxo e na compactação dos pós durante a fabricação de cápsulas e comprimidos, por exemplo. ATENÇÃO Existem várias técnicas diferentes de secagem de sólidos. Alguns fatores precisam ser observados a fim de se escolher o método mais adequado para cada sólido (AULTON, 2005): Características físicas do material; Sensibilidade ao calor; Natureza do solvente; Capacidade do equipamento. Observe alguns dos métodos de secagem mais utilizados: DESSECADOR Para pequenas escalas, é comum proceder a secagem em temperatura ambiente seguida de armazenamento em dessecadores, os quais utilizam substâncias higroscópicas, como a sílica, para absorver a umidade (Figura 35). Figura 35: Dessecador SECAGEM POR AR QUENTE Este é o tipo de processo mais comum. A secagem por ar quente utiliza dois princípios diferentes: as estufas de secagem e os leitos fluidizados. A grande diferença entre eles está na movimentação do ar quente pelo equipamento (Figura 36). Enquanto na estufa a troca de calor ocorre por convecção estática e o ar quente circula entre as prateleiras nas quais estão distribuídos o material a ser seco, nos secadores do tipo leitos fluidizados, essa troca de calor ocorre por convecção dinâmica através da fluidização dos pós. Esta última, portanto, é uma técnica muito mais rápida que a primeira, embora dependa de alto investimento para a obtenção dos equipamentos (AULTON, 2005). Existem ainda outras técnicas de secagem, como por radiação e por aspersão, porém menos aplicadas nos processos farmacêuticos. Figura 36: Estufas de secagem LIOFILIZAÇÃO O processo de liofilização consiste em uma técnica de secagem por congelamento que visa a secagem de substâncias sensíveis ao calor, como, por exemplo, proteínas, enzimas e substâncias biológicas. Nesta técnica, a secagem ocorre, em primeiro lugar, através do congelamento da água presente no material, seguida por sua sublimação, sem que ela retorne ao seu estado líquido (AULTON, 2005). É muito utilizada pela indústria alimentícia. A grande desvantagem do uso da liofilização é o alto custo operacional e seu baixo rendimento, o que faz com que sua aplicação seja restrita às grandes indústrias farmacêuticas (Figura 37). Figura 37: Liofilizadores. CRISTALIZAÇÃO Esta técnica é mais utilizada na indústria farmoquímica para a síntese de fármacos. A cristalização tem como principal objetivo a purificação das substâncias. Está baseada na diferença de solubilidade entre os solventes. Trata-se de um processo relativamente complexo e que depende das características físico-químicas entre sólidos e líquidos (PRISTA, 1995). Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre a técnica de pulverização e filtração a vácuo. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste tema, você aprendeu a respeito das principais operações farmacêuticas utilizadas para o preparo e a fabricação dos medicamentos. Dominar as técnicas e os conhecimentos sobre essas operações é fundamental para garantir a qualidade, eficácia e segurança dos medicamentos preparados. Apesar de existirem outras operações unitárias, você foi apresentado às que são mais utilizadas no dia a dia do profissional farmacêutico. Você compreendeu melhor as operaçõesde uso geral, mais simples e rotineiras dentro de um laboratório de farmácia ou química, como as operações de pesagem e medidas de volume. Além disso, conheceu técnicas sofisticadas de secagem utilizadas nas indústrias, como o leito fluidizado e a liofilização. Foi possível compreender que os fatores que influenciam a escolha dos melhores métodos operacionais dependem principalmente da escala de fabricação. Em pequenas escalas laboratoriais, o impacto das operações farmacêuticas é menor do que em grandes escalas industriais. Isso fica claro quando observamos a filtração em pequenos volumes e as filtrações em grandes volumes, que precisam utilizar um sistema de vácuo a fim de acelerar o processo. PODCAST AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 67. Publicada em: 8 out. 2007. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 298. Publicada em: 12 ago. 2019. AULTON, M. Delineamento de formas farmacêuticas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. LE HIR, A. Noções de farmácia galênica. 6. ed. São Paulo: Organização Andrei, 1997. PRISTA, L. N.; ALVES, A. C.; MORGADO, R. Técnica farmacêutica e farmácia galênica. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. EXPLORE+ Leia o texto A evolução da balança analítica, de Júlio Carlos Afonso e Raquel Medeiros da Silva, para conhecer um pouco mais sobre as técnicas de pesagem e a evolução das balanças. Procure o texto Operações unitárias I: introdução a operações unitárias, publicado no site da BetaEQ. Consulte a sexta edição da Farmacopeia Brasileira publicada no site da Anvisa. Pesquise o texto publicado na página do Centro Científico Conhecer chamado Medidas de massa nas rotinas farmacêuticas. Leia os seguintes trabalhos: Estudo comparativo de métodos de determinação do tamanho de partícula, de Claudemir Papini. Análise granulométrica de pós-metálicos por difração de laser via seca, de Claudemir Papini e Ricardo Mendes Neto. Efeito da liofilização sobre a estrutura e mudanças de fase da albumina bovina modificada por reação com metoxi – polietilenoglicol, de Virgilio Tattini Junior. CONTEUDISTA Jordana Ruffier Pagani CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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